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São 2h41min da madrugada. Para não dormir no teclado, falarei hoje sobre uma das peças mais legais da prática penal: a apelação. Na época da faculdade, o meu professor de prática penal fez a seguinte afirmação: "O recurso em sentido estrito é o 'agravo' do processo penal, pois é cabível em decisões interlocutórias. Contra a sentença, devemos sempre recorrer com a apelação". Mas será que isso é verdade? De forma alguma! Veja, por exemplo, a hipótese do artigo 581, IV, que prevê recurso em sentido estrito para atacar a sentença de pronúncia (obs.: boa parte da doutrina classifica a pronúncia como decisão interlocutória mista, e não como sentença). Mas, se cabe "rese" de algumas espécies de sentença, quando é cabível a apelação? É simples: se a hipótese estiver prevista no art. 581, é "rese". Senão, é apelação. O cabimento da apelação, portanto, é residual. Se não for o caso de "rese", será o de apelação. Aliás, falando em pronúncia, o inciso IV demonstra bem o que foi dito acima, pois diz que, contra a decisão de pronúncia, cabe "rese". E se a decisão for de impronúncia? Como não está prevista no art. 581, apelação. Por isso, ainda que a decisão seja definitiva, ou tenha força de definitiva, se estiver dentre as situações previstas no art. 581, utilize "rese". Contudo, atenção! O artigo 593, § 4o, traz uma exceção. Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra. Não entendeu? É simples! Imagine uma sentença condenatória por furto. Não está entre as hipóteses de "rese", né? Portanto, é o caso de apelação. Entretanto, nessa mesma decisão que condena por furto, o juiz nega o sursis, que é objeto de "rese" (581, XI). Como resolver essa situação? Recorra com apelação, por força do que diz o art. 593, § 4o. O princípio aplicado é o da unirrecorribilidade. Quanto às demais hipóteses, não tem erro: falou em sentença, apele. Vejamos quando a apelação é cabível: a) art. 593, I: das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular. É a hipótese mais comum, e, provavelmente, é a que cairá no Exame de Ordem. Ocorrida a condenação ou a absolvição, ainda que parcialmente, cabe apelação. O recurso será julgado pelo Tribunal, sendo vedada ao juiz a retratação (ao contrário do "rese") b) art. 593, II: das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior. O "capítulo anterior" é do recurso em sentido estrito. É aquilo que já vimos: a apelação é residual. Quando não cabível "rese", apele! Sobre a distinção de sentença e decisão interlocutória mista, uma breve explicação: 1. Decisão interlocutória mista: pode ser terminativa, quando põe fim à relação jurídica (ex.: impronúncia), ou não terminativa, quando encerra uma fase do processo (para a maioria, é o caso da pronúncia). Ainda que seja interlocutória, tanto a apelação quanto o "rese" são cabíveis; 2. Sentença: pode ser absolutória ou condenatória, ou terminativa de mérito, quando encerra o processo principal ou o incidente sem que o réu seja condenado ou absolvido (ex.: reconhecimento da prescrição). Também pode ser o caso de apelação, de forma residual, ou de recurso em sentido estrito, quando houver previsão legal. Para encerrar o tema do recurso em sentido estrito e da apelação, a dica é: sempre veja se a decisão do problema não se encaixa em um dos incisos do art. 581. Somente após essa análise, faça a apelação.
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