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Disciplina: Psicologia do Relacionamento Humano Profa: Maria Luisa Carvalho O CICLO VITAL 1- A INFÂNCIA 1.1 – Primeira infância (0 a 3 anos) A) O nascimento: A experiência do nascimento é de grande importância tanto para a mãe quanto para o/a filho/a. Para a mulher, o parto está associado à separação e a dor (física e psíquica). O nascimento do filho/a requer que a mãe passe a reconhecê-lo/a como outro sujeito e como alguém diferente do bebê por ela imaginado. Tal confrontação com a realidade fere o sentimento narcisista da mãe, que se defronta com o fato de que o bebê não é uma fonte inesgotável de felicidade, mas exige-lhe atenção, cuidados e gera- lhe preocupações (Griffa e Moreno, 2008). Com o nascimento, o bebê rompe com a situação de equilíbrio, segurança e dependência total vivenciada no útero materno e passa a ter que enfrentar e se adaptar a diversidade e imprevisibilidade do meio externo. Otto Rank chegou a afirmar que há um trauma do nascimento, ou seja, uma situação geradora de angústia, que terá repercussões sobre as vivências posteriores (Griffa e Moreno, 2008). B) Desenvolvimento físico Não se pretende aqui esgotar todos os aspectos do desenvolvimento físico durante a primeira infância, mas destacar aqueles que se julgam mais relevantes à prática do tecnólogo em radiologia. O recém-nascido começa a ter que enfrentar e adaptar-se ao meio externo, porém, é ainda muito frágil e dependente. Ao contrário dos demais animais, o ser humano não dispõe de instintos (esquemas comportamentais herdados), mas de pulsões que são moldadas pela cultura. Isso exige uma situação de simbiose psicológica com a mãe (ou um cuidador que a substitua) para garantir sua sobrevivência (Papalia e Olds, 2000). O bebê recém-nascido apresenta reflexos primitivos como o de sucção; preensão (agarram um dedo colocado na palma de sua mão); natação (quando colocado de bruços na água faz movimentos natatórias com boa coordenação); retorce o pé se acariciado, apoio plantar (retira o pé quando os calcanhares são friccionados contra a borda de uma superfície plana) (Papalia e Olds, 2000). Dormem em média 16 hrs por dia, divididos em intervalos de 2 a 3 horas. A partir dos três meses, as horas do sono começam a diminuir e se concentrar no período da noite. É claro que aqui temos que considerar os fatores ambientais como os hábitos da família: se a criança for deixada em um ambiente cheio de estímulos, independente da idade, o sono será afetado (Papalia e Olds, 2000). O crescimento e o ganho de peso, em condições adequadas, também são acelerados nos primeiros meses de vida: o bebê passa de cerca de 3,4 kg para 6,8 kg no 5º mês. A altura aumenta de 25 a 30 cm durante o primeiro ano (Papalia e Olds, 2000). Antigamente, considerava-se que nos primeiros meses, o bebê tinha os sentidos e a percepção nulos ou pouco desenvolvidos, por exemplo, que nasciam cegos e surdos. Essas informações, porém, foram sendo superadas à medida que as pesquisas avançaram. Em relação aos sentidos, o tato parece ser o primeiro a ser desenvolvido, já estando presente na vida intra-uterina (com sete semanas de gestação, a pele já reage à estimulação). A falta de conhecimentos a esse respeito levaram a práticas errôneas de não administra analgésicos em cirurgias com bebês recém-nascidos, o que não acontece hoje (Papalia e Olds, 2000). O olfato também já está presente no recém-nascido, já sendo capazes de distinguir odores (após cerca de uma semana já distinguem o cheiro da mãe). Quanto ao paladar, eles preferem sabores doces (Papalia e Olds, 2000). A audição já se faz presente no útero materno. Pesquisas indicam que os bebês recém-nascidos (3 dias) reagem a histórias que lhe foram contadas enquanto estavam no útero, bem como distinguem a voz da mãe com maior facilidade do que do pai. No 7º mês, o bebê já percebe, pela entonação, as mudanças emocionais de quem fala, no 10º mês já reconhece diferentes palavras, incluindo seu nome (Papalia e Olds, 2000). A visão é o sentido menos desenvolvido no nascimento, uma vez que a estrutura da retina e o nervo óptico ainda estão em desenvolvimento. Porém, a distinção de cores inicia-se a partir dos 2 meses (diferença entre verde e vermelho). Os bebês com 4 à 6 semanas também já conseguem distinguir o rosto da mãe do de outra pessoa, baseados nos limites entre a fronte e os cabelos, e após os 3 meses independente da aparência. Em ambos os casos, isso acontece caso a mãe seja a principal cuidadora da criança. Um aspecto importante, é que a partir do 5º - 6º mês, o bebê é capaz de discriminar expressões faciais, também reagindo diferentemente aos vários tons emocionais. Dá-se o fenômeno de referencia social: o bebê olhará o rosto do pai/mãe e de acordo com a expressão do mesmo reagirá à situação. Por exemplo: se a mãe estiver com uma expressão tranqüila diante de um estranho ou do médico, a criança manterá a tranqüilidade (Papalia e Olds, 2000). C) Desenvolvimento motor: Os bebês recém-nascidos são ativos: movimento cabeças, braços, pernas. Desenvolvem habilidades motoras em uma sequência, geralmente considerada geneticamente programada. Tem- se alguns marcos no desenvolvimento motor, que são utilizados inclusive para avaliar se a criança e, está se desenvolvendo normalmente (Papalia e Olds, 2000): a) Controle da cabeça: a maioria dos recém-nascidos vira a cabeça de um lado para outro quando deitados de costas. Alguns conseguem fazê-lo também quando de bruço. A partir dos dois meses, levantam a cabeça, gradativamente, numa altura mais alta. b) Controle da mão: conforme apontados tem reflexos natos como agarrar, fechar a mão quando acariciada sua palma. Por volta dos três meses, já conseguem segurar objetos como chocalhos. Entre o 7º e o 11º mês conseguem fazer o movimento de pinça. Gradativamente adquire mais controle motor, passando a comer sozinha. c) Locomoção: aos três meses começa a rolar intencionalmente. A partir dos 6 meses começam a sentar com apoio e dois meses depois sem. A partir dos 10 meses, movimentam-se com facilidade, engatinhando, embora já com 7, com o auxilio de alguém pode se locomover de pé. Próximo aos 12 meses, costumam já ficar em pé sozinhos. . Por volta, de 1 ano e meio, a maioria já dá os primeiros passos sozinho. A partir dos dois já movimentam-se com autonomia e aos três já pulam em um pé só. A capacidade de locomoção é de grande importância para o processo de independência da criança que agora já não dependerá de outros para alcançar objetos e para deslocar-se. Por volta dos 18 a 24 meses, quando os esfíncteres já estão maduros inicia-se o treino ao toillet, ou seja, ensina-se a criança a controlar a evacuação e micção. O amadurecimento físico e psíquico permitem o inicio da formação de hábitos de ordem e higiene pessoal, que mobilizam dimensões emocionais relacionadas a sentimentos de autonomia, vergonha e dúvida (Papalia e Olds, 2000). D) Desenvolvimento cognitivo: Um dos principais estudiosos do desenvolvimento cognitivo humano é sem dúvida Jean Piaget, que identificou que o mesmo passa por estágios diferentes até chegar ao pensamento abstrato, na fase adulta. Suas descobertas trouxeram modificações importantes para pedagogia infantil. Para Piaget, até os 2 anos, o bebê se encontra no estágio sensório-motor. É pelas sensações e movimentos que ele conhece o mundo, passando, gradativamente de uma interação meramente reativa e reflexa à atuação, movimentando-se para interagir e modificar o meio a sua volta. Um outro fator importante nesse período é o desenvolvimento do conceito do objeto. Do 1º ao 4 mês, o bebê pode seguir uma pessoa ou objeto com os olhos desde que estejam presentes no seu campo de visão. Quando os mesmo saem deste, para o bebê é como se os mesmos deixassem de existir.Dos 4 ou 8 meses, caso ele esteja brincando com um objeto e o mesmo cair, ele pode olhar em volta, na direção que o mesmo caiu, mas ainda considera que o mesmo “sumiu”, caso saia totalmente do seu campo de visão. Posteriormente, dos 8 aos 12 meses, se você cobrir o brinquedo com um tecido, ele será capaz de descobri-lo, gostando das brincadeiras de esconder o rosto, etc. Pesquisas recentes, consideram que as idades em que esse desenvolvimento ocorre pode ser mais prematura do que a apresentadas por Piaget, o que também é indicado por experiências envolvendo diferenças culturais nos cuidados com as crianças. No final desse estágio (entre o 18º e 24º mês) inicia-se o pensamento representativo (o bebê consegue representar mentalmente os acontecimentos) com o desenvolvimento de símbolos para representar objetos e eventos, realizando a imitação tardia. Estudos recentes, questionaram as idades nas quais as habilidades apresentadas por Piaget aparecem. Com relação a linguagem, o choro é o único modo de comunicação do recém-nascido. Os pais e cuidadores podem distinguir os tipos de choro (dor, fome, etc). Os balbucios iniciam-se por volta dos 6 meses, e por volta dos 10 imitam som, embora não reconheçam seu significado. As primeiras palavras ocorrem aos 12 meses, geralmente associada a pessoas e objetos. O desenvolvimento da linguagem ocorre de maneira rápida dos 2 aos 3 anos, sendo que a criança começa a formar frases com duas palavras passando a frases mais complexas e completas. Assim, durante essa fase, a criança tem uma linguagem verbal limitada, sendo preciso que o adulto esteja atento as formas não-verbais de comunicação (choro, expressões faciais, etc). D) Desenvolvimento da personalidade, afetivo e social Baseado na teoria psicanalítica, Rene Sptiz que dedicou-se ao estudo dos bebês, assinala que não há diferenciação entre o ego e o id, entre consciente e inconsciente durante os primeiros meses de vida. A mãe funciona como o ego da criança, mediando a relação dele com o meio externo. O esboço do ego, surge por volta do terceiro mês quando o bebê sorri diante das pessoas, indicando uma interação com o meio externo. Embora anteriormente observe-se o sorriso da criança, inclusive quando a mesma dorme, o mesmo não é resultado da interação com os demais, mas de sensações agradáveis internas. À medida que há um maior desenvolvimento psicomotor e o bebê passa a interagir mais com o meio, o ego vai se estruturando, e estabelecendo-se a diferença entre o consciente e o inconsciente. Assim, gradativamente, ao longo do primeiro ano de vida, o ego diferencia-se do id e começa a regular as descargas pulsionais (Griffa e Moreno, 2008). São inúmeros os estudos que indicam a importância do estabelecimento de vinculo afetivo duradouro, que transmita segurança e conforto entre o bebê e os pais (cuidadores) para o desenvolvimento emocional do ser humano, seu sentimento de segurança, auto-estima e desenvolvimento de habilidades sociais. O bebê passa a adquirir confiança e a se sentir seguro a medida que é cuidado quando sente fome, frio, sede. Ele vai assim, aprendendo que pode suportar a frustração e a demora na satisfação pois a gratificação, pois o cuidado virá. Erik Erickson denomina esse período de estágio da confiança básica x desconfiança básica devido aos fatores mencionados, ou seja, quando o bebê recebe os cuidados adequados desenvolverá um sentimento de confiança em relação aos outros, caso contrário, tornar-sea uma criança e um adulto que desconfiará dos vínculos afetivos (Papalia e Olds, , 2000). Spitz realizou diversos estudos com bebês institucionalizados, concluindo que, embora em condições favoráveis de higiene e alimentação, a ausência do contato físico e do vínculo afetivo trazia conseqüências negativas sobre o desenvolvimento afetivo das crianças, sendo mais intenso quanto maior o período de privação, podendo chegar a um caso de depressão e marasmo emocional profundos, podendo até mesmo levar ao óbito. Daí decorrem vários estudos que destacam a importância da convivência e do contato do bebê com os pais o que, por exemplo, levou a mudança em procedimentos em maternidades: deixar o bebê o tempo todo com a mãe e não somente nos horários de amamentação, projeto mãe-canguru para bebês prematuros. Muitos desses procedimentos não são ainda seguidos seja pela ignorância desses estudos seja devido a alegações tecnicistas, burocráticas, por vezes, disfarçadas em alegações “científicas”, como de combate a infecção hospitalar (Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008). Até os três meses, o bebê costuma emitir comportamentos de apego de maneira não direcionada. É a partir do terceiro mês, que ele passa a dirigi-los aqueles que mais cuidam dele, por exemplo, sorrindo mais para alguém que cuida deles do que para um estranho. Entre o 6º e 8º mês que ele desenvolve um apego definido que pode ser dirigido aos pais, a um dos pais, a uma babá, a avó, etc. Ainda nessa idade, a criança passa a reconhecer sua imagem no espelho, sentindo alegria ao fazê-lo, pois percebe-se como um ser diferenciado. Nesse período costuma ocorre a chamada angústia do 8º mês, quando a criança passa a chorar diante de pessoas desconhecidas e a evitar o contato com as mesmas. Isso indica que diferencia o rosto da mãe dos demais, atribuindo-lhe um significado especial. Assim, estabelece-se a relação com a mãe, que é vista como um ser distinto. A partir do 10º mês, surgem o medo diante de estranhos e a angústia da separação, que possui variações de intensidade individuais. O bebê também gradativamente vai aprendendo a lidar com seus impulsos destrutivos, e a partir da permanência do objeto, dos jogos de esconde, lida com sentimentos de frustração, com a angustia da perda e elabora suas fantasias de onipotência em relação a destruição do objeto amado (mãe). Durante a primeira dentição, há uma fase oral-agressiva, sendo importante oferecer a criança diferentes objetos para que possa explorá-los, desmontá-los e reconstruí-los para que assim possa internalizar e elaborar os sentimentos de culpa e a depressão, percebendo que pode reparar o que faz (Griffa e Moreno, 2008). Já no período dos 2 ao 3 anos, Erik Erikson identifica a crise entre “autonomia x vergonha e dúvida”. Devido a maior mobilidade gerada pela capacidade de andar, a criança passa a explorar mais o ambiente, iniciando um processo de independência. Gradativamente, sente menos necessidade de uma presença constante dos pais. Nesse processo de independência, ela passa pela fase do “não” (por volta dos dois anos) em que se nega a fazer o que os pais lhe dizem. No caso de apegos frágeis, observa-se mais a postura do desafio, quando ao “não”, seguem-se comportamentos agressivos, lamúrias. Porém, começam aqui pequenas interdições: “não mexa”, “não quebre”, “cuidado”, etc. Desse modo, ao mesmo tempo que se sente gratificada pela autonomia de caminhar, explorar o meio, sente-se envergonhada ou culpada quando os pais lhe impõe os limites. Assim, embora seja importante a delimitação dos limites, os pais devem estar atentos para não tolher a autonomia da criança em nome da organização da casa, de evitar sujeiras ou pelo medo excessivo de que a criança se machuque, bem como não censurar a criança de maneira exagerada, expondo-a em situações de humilhação. Conforme já apontado, na fase dos 2 anos realiza-se o treino ao toilete. Para a psicanálise, esse período é conhecido como fase anal, uma vez que a criança obtém prazer através da retenção e evacuação. Conseguir o autocontrole representa a luta da criança pela autonomia, e ao obtê-lo a criança aumenta sua auto-estima e a confiança na capacidade do ego de controle. Esse fortalecimento do ego pode se percebido na obstinação da criança entre os 2 e 3 anos em querer fazer tudo sozinha. É importante aqui a postura dos pais quenão pode ser de restrição rígida nem de passividade, que reforçam respectivamente os sentimentos de vergonha e dúvida e as fantasias de onipotência. É importante que os pais estabeleçam limites a criança fortalecendo seu auto-controle. A mãe estabelece as normas de limpeza e higiene corporea, enfatizando o permitido e o proibido, premiando ou castigando a criança. Assim, a criança percebe que ao reter e evacuar nos momentos e locais definidos garante a afeição da mãe, enquanto o contrário pode ser uma expressão de rebeldia e de mostrar sua obstinação. A criança tem interesse pelas fezes, experenciando-as como uma produção própria, brincando com as mesmas, oferecendo-a como um presente aos pais. Gradativamente é que a educação a associação a algo repulsivo e desloca-se para outras atividades socialmente aceitáveis como brincar com areia, barro, massas de modelar e tintas. Segundo a psicanálise, a sublimação das pulsões anais é fundamental para o desenvolvimento da criatividade e produção artística. Devido a suas repercussões emocionais é importante que o treino ao toalete respeite o desenvolvido motor da criança, sendo que se for precoce e coercitivo favorece a formação de uma postura de submissão e rigidez de hábitos. Por outro lado, a iniciação tardia ou permissiva, favorece condutas de falta de asseio, desordem e falta de responsabilidade. A partir dos 2 anos, a criança começa a interagir mais com os demais, fazendo amizades, e demonstrando comportamentos altruístas de cuidado com o outro. A locomação lhe dá maior autonomia, havendo um movimento de separação em relação a mãe. Porém, nesse processo é comum a utilização de um objeto transacional (os conhecidos “cheirinhos”, um bichinho de pelúcia) que serve para a criança como uma representação da mãe na ausência da mesma, sendo uma etapa importante para o desenvolvimento do pensamento simbólico. Paradoxalmente, o objeto transitório defendem a criança tanto da ausência da mãe quanto da fusão a ela. 1.2 – Segunda infância (3 a 6 anos) a) Desenvolvimento físico e motor: O crescimento é mais lento do que na fase anterior, mas o desenvolvimento motor é intenso, permitindo a criança realizar uma gama maior de atividades (correr, pular, saltar, arremessar, amarrar cadarços, abotoar, etc.) e começam a demonstrar preferência pela mão direito ou esquerda (Papalia e Olds, 2000). As formas arredondas, a barriga pretuberante começam a diminuir, o tórax, os braços e pernas tornam-se mais longos. O crescimento muscular e esquelético tornam a criança mais forte. Aos três anos, a primeira dentição está completa, permitindo a criança alimentar-se variadamente (Papalia e Olds, 2000). A quantidade de sono diminui em relação ao período anterior, e o sono é contínuo a noite. Porém, até o 5 anos, as crianças ainda precisam de uma soneca a tarde. Algumas crianças só adormecem com a luz acesa, um ursinho, um cobertor, denominados de objetos transacionais, que auxiliam a criança na transição entre a fase anterior (de maior dependência) para essa fase (de maior independência). Não há motivos de preocupação dos pais, pois gradativamente, ao desenvolver sua auto-confiança, a criança os abandonará. Em relação ao sono, é importante comentar alguns transtornos que podem fazer-se presentes (Papalia e Olds, 2000): - Terror noturno: é um severo distúrbio do sono, consistindo de ataques de terror agudo emergindo do sono profundo sem sonhos. É acompanhado por violentos movimentos corporais, agitação extrema, gritos, gemidos, falta de ar, suor, confusão, e em alguns casos, fuga da cama ou do quarto, comportamento destrutivo e agressão dirigida a objetos ou contra eles mesmos ou outras pessoas. O paciente geralmente é incapaz de se lembrar de qualquer coisa após o acontecido. As causas do terror noturno ainda são desconhecidas, mas é acreditado ser fisiológico e não psicológico. Ansiedade extrema, estresse e conflitos, conscientes ou subconcientes são fatores facilitadores. Em crianças, a precipitação de eventos traumáticos, febre e distúrbio emocional pode exibir um papel. Tratamento medicamentoso e psicoterápico. Acomete a adultos também. - Enurese: na maioria das vezes é causado pela falta de um hormônio chamado desmoprecina, atraso no desenvolvimento no sistema nervoso central. É preciso que os pais busquem tratamento para a criança e não tenham comportamento de puni-la ou humilha-la, uma vez que não se trata de um ato voluntário. - Bruxismo: é o conhecido hábito de ranger os dentes durante o sono. Pesquisas revelam que crianças bruxômanas tem alguma das seguintes características: ansiedade; hiperatividade; alergias respiratórias. Em grande parte dos casos, o bruxismo infantil está relacionado com alguma alteração de rotina da criança. Os aspectos psicológicos tais como agressão reprimida, frustrações,problemas escolares, familiares ou com amigos são objetos de uma atenção particular pois observa-se um aumento considerável da tensão e pode estar relacionado a dificuldades psicológicas da criança em assimilar e exteriorizar o problema. Ao movimentar-se mais e ter maior liberdade, as chances de acidentes tornam-se maiores, o que requer cuidado redobrado. b) Desenvolvimento cognitivo: Destaca-se o grande desenvolvimento da linguagem, onde gradativamente a criança passa de palavras a frases, denominando também objetos e pessoas ausentes (Papalia e Olds, 2000). Segundo Piaget (apud Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008), a criança, nessa faixa etária, encontra-se no estágio pré-operatório, caracterizado pela maior sofisticação em termos de pensamento simbólico, compreensão de identidades, de causa e efeito, porém, ainda sem a capacidade de pensar logicamente. Dimensão Significado Exemplo Uso de símbolos Pode pensar sobre um objeto que se encontra ausente, que não vê. Aprende que as palavras representam objetos. Pode falar sobre Ana, sua irmã, Bob, seu cão, sem que eles esteja presentes. Compreensão de identidades O mundo é organizado e previsível, mudanças superficiais não alteram a natureza das coisas. Veste uma cãozinho com suas roupas, mas sabe que isso não a torna gente. Compreensão de causa e efeito Percebem que podem fazer os efeitos acontecerem. Sabe que se pisar em uma poça, molhará os pés. Compreensão dos números Contar e lidar com quantidades Capacidade de classificar Organiza objetos, eventos, pessoas em categorias Separa os brinquedos por tipo, cor, tamanho. Empatia Começa a ser capaz de imaginar como os outros se sentem. Empresta um brinquedo para que o colega fique feliz. Incapacidade de se descentrar Não consegue prestar atencao em dois aspectos ao mesmo tempo. Se a bolacha de Raquel cai no chao e se parte em duas, ele julga que ficou com menos alimento. Se passa o liquido de um copo menor para maior, pensa que agora há menos suco. Irreversibilidade A criança não compreende que algumas ações podem ser revertidas. Que se juntar as duas metades da bolacha, terá de novo a bolacha inteira. Raciocinio transdutivo Vë causas onde não existem Se sente raiva do irmão e esse adoece, julga que e por sua culpa. Egocentrismo Considera que todo mundo pensa como ela. Comenta com sua tia sobre uma amiguinha da escola. Se a tia comenta que não a conhece, a criança insiste. Diz que a mãe/pai gosta de algo (brinquedo) ou não gosta de uma comida, a partir de seus gostos proprios. Animismo Da vida aos seres inanimados. Tem certa dificuldade em separar realidade de fantasia. Desenha o sol com rosto, diz que a nuvem e viva pois se movimenta. Fala privada Expressa seus pensamentos em voz alta. Pedro diz, após encerrar um desenho : Agora vou guardar meus lápis e ir brincar de bola. c) Desenvolvimento psicossocialNesse período, a criança desenvolve sua identidade, vendo-se como um ser distinto dos demais. Trata-se de um processo psicossocial, a medida que a identidade é construída a partir da compreensão de como os outros a vêem. A criança pode fazer breves apresentações de si própria: nome, nome dos pais, onde mora, o que gosta de fazer, destaca suas habilidades motoras, sua aparência física, etc. Aos 3 anos usa habitualmente a palavra “eu”, grande sinalizador de que se percebe como ser distinto dos demais. A criança expressa suas emoções: diz “eu te amo” e também “eu te odeio”, porém tem dificuldade em lidar com essas contradições (Papalia e Olds,2000). Trata-se, segundo Erikson (apud Papalia e Olds, 2000), do estágio do desenvolvimento denominado de “iniciativa x culpa”, na qual a criança avança no sentido de intervir no meio, busca testar os limites, na busca de alcançar sua independência. Percebe-se que a medida que vai desenvolvendo- se em todos os aspectos (motor, linguagem, físico, emocional), a criança vai buscando, gradativamente superar sua posição de total dependência do início da vida, para a conquista de sua singularidade e identidade própria. Os pais podem novamente ser muito punitivos, gerando culpa excessiva. Aqui não se trata de não impor limites, mas de não fazê-lo em demasia, tolhendo a autonomia da criança. Por volta dos 6 anos, os comportamentos de desafiar os limites tornam-se mais raros. No início da segunda infância, também é comum o “amigo imaginário” que deve ser entendido como um fenômeno normal e saudável, podendo atender vários objetivos infantis: servir como companhia, oferece mecanismos para realização de desejos (“Tinha um mostro no quarto, mas ele o assustou...”), como bode expiatório (Foi X quem quebrou o vaso), porta-voz de seus sentimentos (X está muito triste porque o gatinho morreu). Os adultos devem agir com naturalidade e não ficar testando a criança (Papalia e Olds, 2000). Um aspecto importante é falar das questões de abuso e negligência em relação a criança. Não que em fases anteriores eles não possam estar presentes, mas costumam se agravar e tornarem-se mais freqüentes nesse período pela criança estar maior, com maior autonomia o que pode levar o adulto a comportamentos de agressão para controlá-la, bem como os casos de abuso sexual. Tem-se assim os casos de violência física (espancamento), abuso emocional (agressões verbais, isolamento, ameaças de abandono), negligência (falta de cuidados em relação a alimentação, sono, segurança). Em relação ao abuso sexual, é importante estar atento a seus sinais (Papalia e Olds, 2000): - crianças pré-escolares: ansiedade, pesadelos, comportamento sexual inapropriado, dores nas áreas genitais. - crianças em idade escolar: medo, doença mental, agressão, pesadelos, dificuldades na escola, hiperatividade, comportamento regressivo. - Adolescentes: depressão, comportamento retraído, suicida ou autodestrutivo, queixas físicas, fuga, abuso de substância (drogas). Embora iniciado aos 2 anos, nessa fase intensifica-se a questão dos jogos de papeis, ou seja, a criança brinca, desempenhando alguns papeis dos adultos (por exemplo, a menina brinca que é mãe, cuida das bonecas), envolvendo-se intensamente nessa atividade. Os jogos cumprem a função de socialização e superação do egocentrismo, fazendo com que a criança introjete normas e regras sociais, bem como também servem como uma formada criança comunicar e elaborar suas emoções e vivencias, uma vez que a linguagem verbal ainda não é plenamente dominada. Daí os psicólogos utilizarem a ludoterapia para o tratamento de crianças: oferece-se uma caixa de brinquedos e observa-se e interpreta-se o brincar da criança. Aos 3 anos as crianças preferem brincar sozinhas, mesmo quando compartilham o mesmo espaço, sendo comum as disputas por brinquedos. È a partir dos 4 anos, que ela começa a interagir com outros e começa a separar as brincadeiras “de menino e as de menina” (apud Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008). Para psicanálise essa é a fase fálica. Nessa fase rompe-se o vinculo simbiótico psicológico com a mãe. Surgem o interesse e as fantasias a respeito das diferenças sexuais e origem dos bebês. A criança demonstra curiosidade a respeito do seu corpo e do corpo dos demais, em especial em relação aos órgãos genitais. A postura dos pais é importante, novamente devendo-se fugir aos extremos da permissividade e exposição precoce da criança a sexualidade, bem como as reações punitivas. É preciso oferecer-lhe explicações conforme sua capacidade de entendimento (Griffa e Moreno, 2008. Nesse período estabelece-se também o conflito edípico. A criança estabelece inicialmente uma relação simbiótica com a mãe, amando-a porque projeta na mesma a fantasia de que ela é capaz de realizar todos os seus desejos. É uma relação narcisista em que se fantasia igualmente que o filho pode oferecer tudo para satisfação da mãe, ou seja, como se ambos se bastassem nessa relação. Trata-se de uma relação na qual o sujeito aliena-se de si, uma vez que confunde-se com o outro, o que gera angústia do medo da fusão total. A mãe é o primeiro objeto de amor da criança e nessa fase essa erotiza esse vinculo. É preciso então a intervenção de um terceiro, o pai, a fim de que a criança possa realizar a cisão e construir sua identidade independente, além de barrar as fantasias incestuosas, marcando a diferença entre mãe e filho, entre homem e mulher, adulto e criança. A resolução da relação triangular permite com a criança rompa com a centralização em relação ao meio familiar e se abra para a sociedade (Griffa e Moreno, 2008). Há uma diferença entre como meninos e meninas vivenciam e resolvem o conflito edípico. Conforme apontado, o primeiro objeto de amor é a mãe. Nesse período, o menino passa a demonstrar comportamentos de proteção e típicos de um companheiro: diz que vai casar com a mãe, sente ciúmes do pai. Esse é visto ao mesmo tempo como um rival, sendo temido, mas também admirado, e visto como representante da sociedade e suas normas. Esse temor e ódio do pai é projetado, sendo comum nesse período as fobias de animais, do escuro. Os pais devem ter uma postura serena frente aos medos da criança, não procurando acentuá-los nem tratando-os com desdém. O medo desempenha um papel central no Édipo masculino. Ao observar as diferenças anatômicas genitais entre os sexos, as crianças fantasiam que ouve uma castração no corpo feminino. Assim, o menino, pelo temor da castração, renuncia a mãe como fonte de gratificação sexual e passa tomar o pai como modelo de identificação do papel masculino. A postura dos pais é fundamental para resolução do Édipo, ou seja, é importante que demonstrem afeto entre si, que a mãe não perpetue a simbiose e que o pai exerça sua autoridade. Já a menina, também tem como objeto de amor inicial a mãe. Mas se no menino é o complexo de castração que põe fim ao Édipo, na menina é o que o desencadeia. Ou seja, a menina vê-se como incompleta e culpa a mãe por sua situação, hostilizando-a e passando a direcionar suas pulsões para o pai. Observa-se nesse período um apego da menina ao pai, chamando-o de namorado, ao mesmo tempo que sente ciúmes da mãe. Para a psicanálise, não há um corte tão forte na relação incestuosa no Édipo feminino como no masculino. Pode ocorrer uma negação da castração, e o não rompimento com a mãe, fazendo com que na idade adulta, renuncie ao relacionamento com o sexo oposto, ou a inveja do penis seja tão intensa que a menina passa por uma identificação com a figura masculina. Esse período tem portanto uma força muito importante na formação da identidade sexual. Entre os 4 e 7 anos, a criança abandona gradualmente a perspectiva egocêntrica para dar lugar ao outro, dizendo “meus amigos”, “meus irmãos”. 1.3 – Terceira Infância (7 aos 12 anos) A) Desenvolvimento físico emotor: O crescimento físico ocorre de maneira uniforme, sendo mais lento. A criança está mais desenvolvida física e motoramente, gostando de atividades corporais: conseguem se equilibrar em barras e outras superfícies estreitas, tem mais força e velocidade. A imagem corporal ganha importância e no caso de serem detectadas deficiências, mesmo que pequenos como uma dificuldade visual que possa ser corrigida com óculos, pode-se afetar a auto-estima da criança (Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008). B) Desenvolvimento cognitivo: Segundo Piaget (apud Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008), nessa fase a criança ingressa no estágio operacional concreto. Elas se tornam menos egocêntricas e podem usar o pensamento para resolver problemas concretos (reais). Elas desenvolvem a capacidade de conservação, ou seja, de reconhecerem que a quantidade de alguma coisa continua igual, mesmo que seja realocado em outro lugar (maior ou menor). Tem também a capacidade de reversibilidade e de descentralização (observar mais de uma característica ao mesmo tempo). Nesse período, a capacidade de separar fantasia de realidade torna-se maior. Devido a esse desenvolvimento cognitivo, para Piaget, a criança é capaz de julgamentos morais mais consistentes. Até os 7 anos a criança tem o que Piaget denominou de moralidade de restrição: considera que todas as pessoas partilham da mesma concepção do que é certo e errado (que corresponde ao seu ponto de vista); julga os fatos pelas conseqüências e não pelas intenção (se um colega esbarrou nela sem querer, julga que fez algo errado, que não foi um acidente), segue as regras rigidamente, considera que um ato é errado se ele provoca punição, e que qualquer infortúnio ou acidente que ocorrer após uma ação vista como errada é uma punição provocada por uma força sobrenatural. Após os 7 anos, a criança desenvolve a moralidade de cooperação: são capazes de se colocar no lugar do outros, vendo mais de um ponto de vista, julga os atos pelas intenções e não pelas conseqüências; que as regras são criadas pelas pessoas e podem ser mudadas; é mais eficaz a reparação do que a punição; não confunde mais infortúnio com punição. C) Desenvolvimento psicossocial: Embora ultimamente a criança tenha ingressado anteriormente na escola, é a partir desse período que o contexto escolar torna-se mais central em sua vida, até mesmo porque se iniciam as exigências por aprendizagem socialmente relevantes como a alfabetização. Segundo Erickson, nessa fase a criança passa pela crise da produtividade x inferioridade, justamente porque passa a aprender habilidades e conhecimentos valorizados socialmente, temendo não atender as expectativas alheias. Ela deseja ser vista como competente para receber o reconhecimento social. Para tanto, gosta de destacar suas habilidades e teme o fracasso. A criança forma uma auto-conceito mais realista a respeito de si mesmo, embora há que se destacar a importância dos pais, amigos e professores nesse processo, a medida que exercem grande influencia sobre a auto-estima da criança. Para psicanálise, denomina-se essa fase de latência, uma vez que as pulsões sexuais passam por um período de abrandamento após a resolução do Édipo, sendo intensamente canalizadas para atividades sociais (jogos, estudos, etc). É comum nesse período uma clara divisão entre os grupos de meninos e os grupos de meninas (Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008). A criança atinge um grande grau de autonomia e autodeterminação, tem uma visão mais realística da realidade, da natureza e perde a ingenuidade infantil, o que faz com que mascare seus estados de ânimo, sendo importante os adultos estarem atentos, pois pode esconder situações de angustia e sofrimento que possa estar vivenciando em seus vínculos sociais. Tem entretanto uma maior estabilidade emocional: diminui-se os medos, chora raramente (Papalia e Olds, 2000; Griffa e Moreno, 2008). 1.4 – Adolescência Talvez a adolescência seja o período mais difícil de se delimitar em termos de inicio e término, principalmente em relação a esse último. Assim, o inicio da adolescência está associado as mudanças corporais iniciadas com a puberdade, em especial ao aparecimento das características sexuais primárias (aumento do pênis e dos ovários, menarca) e secundários (crescimento dos seios nas meninas, crescimento dos pelos pubianos, da barba nos meninos). Há um aumento tanto do peso (4 a 5 kg ano) quanto da estatura (7 a 10 cm ano). O crescimento acelerado e desproporcional do inicio da adolescência gera mudanças no esquema corporal e inseguranças no adolescente em relação a seu corpo e domínio sobre o mesmo (Griffa e Moreno, 2008). Seu término porém, não é tão claro, sendo fortemente influenciada pelas questões psicológicas e culturais. Assim, nas sociedades tribais, a adolescência era breve e quase inexistente, ou seja, tão logo iniciava-se a puberdade, o adolescente passava por ritos de passagem que o introduziam no mundo adulto. Já em nossa sociedade, observa-se que a puberdade tem inicio mais precoce, segundo alguns especialistas devido a alimentação mais rica em gordura e até mesmo a erotização precoce da infância. A menarca hoje já ocorre a partir dos 9 anos. Observa-se também a precocidade em relação ao inicio da vida sexual. Entretanto, a entrada definitiva no mundo adulto acaba ocorrendo mais tardiamente, principalmente no que se refere a entrada no mundo do trabalho e independência emocional e econômica dos pais. É claro, porém, que essa questão se faz mais presente entre as camadas sociais média e alta. Enquanto nos jovens de classe baixa, a questão da sobrevivência os leva a cedo, quando não já na infância, a ingressarem no mercado de trabalho (Griffa e Moreno, 2008). A adolescência está intimamente relacionada a essas mudanças corporais e consiste na transição do mundo infantil para o mundo adulto, que segundo Aberastury (apud Griffa e Moreno, 2008) implica na passagem por três lutos: a) Luto do corpo infantil: como já comentado é a mudança mais evidente e que desencadeia as demais. O corpo sofre transformações e em certo momento, o adolescente vê-se com um corpo que não é mais aquele da infância, mas também não é ainda um corpo adulto. O adolescente sente o próprio corpo como algo que lhe é estranho, gerando angústia. Essas transformações do corpo não estão sobre o controle do adolescente e o põe diante da inevitabilidade da transição sobre a qual passará. As mudanças são vivenciadas de formas distintas e por vezes contraditória, num misto de vergonha (sente-se desengonçado, desproporcional) e orgulho (por exemplo em relação ao desenvolvimento dos seios nas meninas, da barba nos meninos). b) Luto dos pais da infância: a imagem idealizada dos pais começa a ser questionada. Conforme visto, na infância, os pais são figuras centrais para a criança, sendo dependentes dos mesmos tanto para a sobrevivência, como também no que se refere a dimensão afetiva e para construção da identidade. O luto dos pais da infância, ou seja, uma visão mais realista das figuras paternas, com suas contradições e limitações é fundamental para a construção da identidade adulta. Para elaboração desse luto surgem as reações de conflito e contestação. Porém, com uma evolução normal da adolescência, esse luto consiste em uma etapa saudável no processo de afirmação e independência, não implicando em uma ruptura total em relação a família, ou seja, trata-se de uma ruptura interna, da relação de dependência, e não de uma ruptura externa e afetiva. c) Luto da identidade infantil: devido às mudanças anteriores, o adolescente agora terá que construir uma nova identidade: a de adulto. Para isso, busca novos referenciais fora do âmbito familiar, sendo que se destaca o papel do grupo e de ídolos como fonte de referência para a novaidentidade. O adolescente quer ser reconhecido em sua singularidade e não mais como filho/a de alguém. Nessa mudança na identidade, ele busca o outro porém, não o reconhece como ser distinto. Ao contrário, o outro funciona como um espelho, ele se aproxima de alguém com quem deseja se assemelhar. A relação com o outro consiste na busca de si mesmo. No namoro costuma haver uma idealização, fruto de projeções daquilo que o adolescente deseja ser, mas que projeta no outro. O adolescente questiona o “quem eu sou” ao mesmo tempo que busca definir “quem quero ser”, o que envolve, por exemplo, a escolha da profissão. Vive uma contradição pois ora quer a independência do adulto, porém, tem receio de assumir as responsabilidades. Um dos riscos é a confusão de papel, quando não há um estabelecimento correto da nova identidade. A formação da nova identidade é que permite que se chegue a intimidade sem que haja o medo e o risco da despersonalização. Outro rumo patológico do processo de identificação pode ocorrer quando o adolescente não encontra tanto no âmbito familiar quanto social figuras positivas, passando-se a identificar com figuras negativas (agressores, marginais, etc). A atitude dos pais é muito importante para que o processo da adolescência ocorra de forma saudável. Muitos pais negam a adolescência dos filhos devido aos temores que essa lhes desperta (temor de perder o afeto do filho, de não ter mais autoridade sobre os mesmos, e temor pelo próprio envelhecimento), superprotegendo-os e impedindo seu amadurecimento. Acabam sufocando os filhos que reagem de forma agressiva ou então com submissão. Outra forma de negar a adolescência dos filhos consiste em intensificar a autoridade, caindo num autoritarismo (humilham e ridicularizam os filhos), como forma de cercear a busca por autonomia dos adolescentes. Outro equívoco dos pais consiste em tomar uma atitude oposta, ou seja, tornam-se permissivos sob a justificativa de proporcionar-lhes liberdade, mas que pode esconder uma insegurança sobre como lidar com essa fase do filho, bem como comodismo e omissão em exercer a função paterna e materna. Conforme apontado, a adolescência é um período de crise, que gera angustia e insegurança, assim, é preciso que o adolescente saiba que nesse processo de transição para fase adulta e de autonomia possa contar com o apoio e segurança dos pais, uma vez que ainda não dispõe de todos os recursos emocionais para lidar com as novas situações que enfrenta (Griffa e Moreno, 2008). Freud não se centrou no estudo da adolescência. Para ele, esse período é visto como uma recapitulação dos períodos anteriores, em especial do Complexo de Édipo, sendo que se espera que haja uma elaboração dos conflitos não resolvidos nas etapas anteriores, a fim de que se possa entrar de maneira saudável na fase adulta. Ana Freud, filha de Freud, que se dedicou mais ao estudo da adolescência, destacou o egocentrismo, as oscilações de humor e contradições no comportamento presentes nessa fase (isolamento x agrupamento; egoísmo x solidariedade; submissão x rebeldia, etc) (Griffa e Moreno, 2008). Maurício Knobel destaca as seguintes características da adolescência normal: - Busca de si mesmo: volta-se para si, buscando compreender o sentido de sua existência. Nesse sentido, são normais, desde que não exclusivos, os momentos de reclusão e isolamento. Costuma escrever diários, que funcionam como uma expressão do diálogo interno, dos conflitos interiores por quais passa. - Tendência grupal, com preocupação para agradar os demais: a fusão existente em relação ao grupo (mesmo modo de vestir, vocabulário, hábitos) está relacionada a já comentada busca de identidade: assim, prefere-se ter uma identidade homogênea, igual ao do grupo, a não ter nenhuma. Busca no grupo a aceitação e a segurança antes obtida na familia; - necessidade de fantasiar e intelectualizar; - crise religiosa e preocupações morais e éticas; - desorientação temporal; - passagem do auto-erotismo para a heterosexualidade; - rebeldia juvenil: relacionada à busca de autonomia e auto-afirmação. Ao contrário da criança que negava e rebelava-se quando algo não lhe agradava, a oposição do adolescente é fruto de sua busca por independência. Assim, passa a questionar a autoridade adulta, em especial a dos pais; - tendência a ação; - separação progressiva dos pais; - oscilações do humor. Para o psicólogo Erick Erickson (apud Griffa e Moreno, 2008), a adolescência é uma época de moratória social, ou seja, o sujeito pode preparar-se para a autonomia da vida adulta, experimentando novas identidades, ao mesmo tempo que ainda conta com a proteção e orientação da família.Para o autor, a crise vivenciada nesse período é a da identidade x confusão de identidade. Embora, segundo a psicanálise, a sexualidade, esteja presente durante todo os estágios da vida, na adolescência, as mudanças hormonais, a possibilidade de procriação, o desejo sexual intensificam, sendo fonte de curiosidade e angústia (Griffa e Moreno, 2008). A crise presente na adolescência envolve vários riscos: ter dificuldade em lidar com a autonomia permanecendo em um dos extremos submissão ou rebeldia; fuga da sexualidade e da afetividade x promiscuidade e dificuldade de estabelecimento de vínculos afetivos (Griffa e Moreno, 2008). Com relação ao desenvolvimento do pensamento, é a partir da adolescência que o ser humano adquire a capacidade de pensar e raciocinar além dos limites do próprio mundo e das realidades próximas, possibilitando, por exemplo, elaborar teorias, hipóteses, ou seja, atinge o pensamento abstrato. É capaz de considerar diferentes possibilidades e variáveis ao mesmo tempo e de refletir (Griffa e Moreno, 2008). Embora legalmente, a partir dos 16, 18 e 21 anos, respectivamente, o jovem já pode votar, dirigir automóveis e se casar sem autorização dos pais, as exigências para o mercado de trabalho requerem um tempo de preparação maior, além do que conseqüências de uma educação permissiva, por vezes, comprometem a maturidade afetiva e emocional dos mesmos, retardando o ingresso definitivo no mundo adulto (Griffa e Moreno, 2008). Como visto, a adolescência é um período de grandes transformações físicas e psicológicas. Assim, o adoecimento nesse período tem implicações particulares. De acordo com a gravidade e seqüelas da doença pode surgir o temor da morte (o que gera a frustração dos sonhos construídos e do futuro que se anunciava) e de deficiências e marcas físicas, abalando a auto-estima e a identidade do adolescente. Na adolescência podem surgir transtornos alimentares, sendo os mais conhecidos a bulemia e a anorexia. A bulemia é rara antes dos 12 anos, e consiste na compulsão em comer associada a situações que geram ansiedade, tristeza, frustração, tédio e solidão. Em seguida induz-se o vômito, mecanicamente ou por uso de medicamentos. O comportamento ocorre às escondidas e é acompanhado de sentimento de vergonha, culpa e desejo de auto-punição. Ao contrário da anorexia, a pessoa mantém o peso normal. Além da dimensão psicológica, a bulemia, devido ao vômito constante e forçado pode gerar lesões na faringe e erosão nos dentes. Sua origem é multi-causal, o que implica em um tratamento que inclui tanto medicamentos (ansiolíticos e antidepressivos) como psicoterapia. Na anorexia há uma distorção da imagem corporal, sendo que a pessoa se vê como estando sempre acima do peso, mesmo diante de uma imagem esquelética refletida no espelho. Sente-se obesa e tem medo de engordar. Ao contrário da bulemia, pode iniciar-se na infância (a partir dos 7 anos). A pessoa começa com uma restrição alimentar progressiva: elimina inicialmente alimentos mais gordurosos ou ricos em açúcar e gradativamente reduz a ingestão de todos os alimentos. Passam a viver em função de dietas e do corpo e se isolam dos demais. Além da restriçãoalimentar, também pode induzir o vômito e fazer uso de laxantes, praticar exercícios físicos de forma excessiva. Além das conseqüências psicológicas, pode conduzir a anemia, disfunção endócrina, osteoporose, arritmia cardíaca e até o óbito. Também possui origem multifatorial, e requer tratamento multidisciplinar. Outra questão importante ao se tratar de adolescência em nosso contexto é a questão da gravidez na adolescência. Estudos indicam que a informação sobre métodos contraceptivos são fundamentais, mas não suficientes, uma vez que mesmo adolescentes que tem acesso a essas informações acabam engravidando. Assim pesquisas indicam a influência dos fatores emocionais e inconsciente no fenômeno: desejo de renascimento, carência afetiva, dificuldades de relacionamento coma mãe; considerar a gravidez como um ingresso no mundo adulto (exercer a sexualidade é vista como associada a ter um filho). Muitas adolescentes, mesmo com informações, não utilizam métodos contraceptivos, pois não assumem sua sexualidade e por isso não se preparam para a vida sexual. Há também a questão da onipotência, acreditando que podem arriscar-se pois nada de ruim ou que elas não possam “controlar” vai acontecer. Há estudos também que indicam que adolescentes que não faziam uso de métodos contraceptivos tinha uma tendência ao fatalismo, a assumir riscos e evitar enfrentar conflitos. Observa-se também que os índices de gravidez são maiores no inicio da adolescência e em adolescentes com menor grau de escolaridade. Nesse ultimo caso, pode-se entender tanto pela questão de menor acesso á informação, mas também menor poder aquisitivo o que pode fazer do “papel de mãe” a única ou “melhor” perspectiva de futuro para a adolescente. Como a gravidez costuma ser escondida no início, o pré-natal costuma iniciar-se tardiamente. As conseqüências da gravidez na adolescência são: abortos (1/3 dos praticados no mundo ocorrem nessa fase); mortalidade materna, abandono dos estudos, degradação familiar, bebês prematuros, de baixo peso e com maior risco de infecções. A adolescência é caracterizada como uma fase em que se busca a independência. Assim, o adoecimento grave, a hospitalização coloca o adolescente em uma posição de dependência. O conflito de independência em relação às figuras parentais é estendido a outros adultos: assim, o adolescente pode mostrar-se agressivo, questionador e hostil em relação à equipe de saúde. A hospitalização também se torna difícil para aqueles que tem mais de 12 anos e precisam ir para a UTI, pois ficam sem acompanhantes e num ambiente de adultos. Os adolescente adoecidos podem fazer uso da regressão com forma de lidar com a doença. 1.5 – Idade adulta A vida adulta inicia-se por volta dos 18 anos e vai até os 65 anos, sendo caracterizada pela independência do sujeito em relação a família original, busca da construção de uma identidade e plano de vida independentes, ingresso na vida profissional e, em geral, constituição da própria família. Nesta fase atinge-se o auge do desenvolvimento físico, ao mesmo tempo que ao seu final, inicia-se seu declínio, o que contundo é grandemente influenciado pelo estilo de vida pregresso. Segundo os autores, embora em termos de resistência física haja um declínio, no que se refere a trabalhos que não envolvem força física não há diferença em relação a uma pessoa de 20 e 60 anos (Griffa e Moreno, 2008). A vida adulta pode ser subdivida em etapas, uma vez que envolvem vivências distintas: juventude (18 aos 25 anos); adulto jovem (25 a 30 anos), adulto médio (30 aos 50 anos) e segunda vida adulta (50 aos 65 anos) (Griffa e Moreno, 2008). A juventude também é chamada de segunda adolescência uma vez que ainda permanece o estado de “moratória social”, ou seja, não se atinge ainda um estágio pleno de independência. Nesta fase há uma diminuição das mudanças fisiológicas, estabilização afetiva, ingresso na vida social plena, inicio do trabalho ou dos estudos em preparação para o mesmo e costuma ser o inicio da vida matrimonial (embora ultimamente a mesma tenha sido adiada). Os autores afirmam que nesse período a pessoa atinge o auto-sustento social, psicológico e econômico. Porém, em nosso país percebe-se que a independência econômica costuma ocorrer mais tarde (Griffa e Moreno, 2008). As doenças são menos freqüentes na juventude, sendo que a maioria das mortes são frutos da violência e de acidentes, principalmente no que se refere aos homens (Griffa e Moreno, 2008). O adulto busca concretizar a estrutura da vida formada na juventude e vida adulta jovem. Tal estrutura envolve dimensões externas (trabalho, vida social, família, etc) e internas (valores, vida afetiva, etc). Para Erik Erikson (apud Griffa e Moreno, 2008), o adulto jovem passa pela crise da intimidade x isolamento. Ou seja, se o desenvolvimento transcorre normalmente, espera-se que nessa etapa a pessoa seja capaz de estabelecer vínculos afetivos duradouros, caso contrário cairá no isolamento ou em relações efêmeras. Entre os 35 e 45 anos dá-se a chamada “crise da meia idade”. Chegado o ápice do desenvolvimento biológico inicia-se a fase de degradação. Há um luto pela juventude perdida. O sujeito começa a já fazer uma avaliação do que alcançou até o momento em sua vida até então, sabendo que lhe restam ainda um período mais breve de construção, e as opções de escolha tornam-se mais restritas. É comum uma reflexão e questionamento sobre os valores que regem sua existência, os objetivos de vida traçados. O falecimento dos pais durante esse período aumenta a sensação de envelhecimento. Trata-se de uma crise depressiva a ser elaborada através da superação das fantasias narcisistas e de onipotência e aceitação das limitações e finitude (Griffa e Moreno, 2008). O adulto maduro, fase iniciada a partir dos 50 anos, é aquela em que se espera que o sujeito já tenha concretizado a trajetória de sua vida e alcançado uma estabilidade no que se refere aos diversos aspectos: afetivo, familiar, profissional, econômico. O ímpeto da juventude é substituído pela serenidade e perseverança. A pessoa alcança o ápice da maturidade, tem uma visão realística a respeito de si e do mundo. Erikson denomina a crise vivenciada nesse período de generatividade x estagnação para apontar que pode ser vivenciada como uma fase de conquista, de uma avaliação positiva da vida e desejo de compartilhar sua experiência com os mais jovens ou de estagnação e decepção diante da avaliação que o projeto de vida ficou muito aquém do desejado (Griffa e Moreno, 2008). A mulher passa pelo menopausa que além dos sintomas físicos (ondas de calor, etc) há também implicações psicológicas como depressão.O fim da fase reprodutiva, principalmente, em épocas em que a mulher limita sua importância social ao papel de mãe, representava uma crise na identidade feminina, aliada ainda, ao que se comentará abaixo sobre a saída dos filhos da casa (Griffa e Moreno, 2008). Para aqueles que constituíram família, não raro, nessa época ocorre o fenômeno de “ninho vazio” ou seja, os filhos estão na idade de sair da casa dos pais. Tal situação pode ser vivenciada de forma conflitiva. Como comentado no tópico sobre adolescência, muitos pais podem se sentir angustiados diante do crescimento dos filhos, que os coloca diante do próprio envelhecimento e finitude. Além disso, o casal que despendeu individual e coletivamente grande parte de sua energia, afeto e recursos para a criação dos filhos agora vê-se novamente “a sós”. Podem aproveitar esse período ou, caso tenham esquecido de vivenciar a relação de casal, podem agora, ao ter em segundo plano o papel de pais, depararem-se com um/a estranho/a a seu lado. Não raro ocorrem separações nesse momento devido à dificuldade em se adaptar a nova fase (Griffa e Moreno, 2008). A etapa do adulto maduro pode ser vivenciada com angustiaquando o sujeito avalia que pouco realizou de seus planos de juventude, podendo gerar um sentimento de fracasso, bem como por aqueles que cultivaram a ilusão da juventude eterna. Nesse caso, podem negar a fase da vida e passarem a se vestirem e comportarem como jovens. Ou então, desenvolverem sentimentos de hostilidade em relação aos jovens, muitas vezes sob um discurso de defesa dos valores morais que esconde um sentimento de inveja. Para aqueles que não possuem um companheiro e/ou não constituíram família e tem poucos vínculos sociais e afetivo, podem ser acometidos do temor de uma velhice solitária (Griffa e Moreno, 2008). Pode ocorrer uma busca pela dimensão espiritual como forma de lidar com os sentimentos de finitude (Griffa e Moreno, 2008). Os traços de personalidade estão solidificados sendo mais difíceis mudanças (Griffa e Moreno, 2008). Em relação à questão da saúde, nesta fase pode-se dizer que o adulto colherá os frutos de seu estilo de vida nas etapas anteriores. Assim, uma vida saudável ao longo da infância, adolescência e juventude implicará em uma adultez e posterior velhice com menores riscos de doenças crônicas. O próprio declínio natural do corpo pode levar a mudanças de hábitos, espontâneas ou por prescrição médica. Embora não sejam exclusivas dessa etapa da vida, a fim de se discutir a questão do adoecimento durante essa etapa da vida, serão apresentadas de forma breve as dimensões psicológicas presentes nas doenças cardíacas e no câncer. Em nossa cultura, o coração está associado simbolicamente à vida e ao afeto. Assim, pacientes que são diagnosticados com doenças graves e têm que se submeter a cirurgias cardíacas são tomados de grande angústia e temor da morte. O período após a cirurgia, no qual tem que permanecer na UTI também é muito difícil: sentem-se sozinhos (por não poderem ter acompanhantes) no meio da máquinas; os contatos são raros, não podem se movimentar muito e estão ligados a vários aparelhos que causam mal estar físico e psicológico (sensação de impotência/dependência). No caso daqueles que tem que se submeter a transplantes pode surgir a fantasia de mudança de identidade, como se fossem incorporar a personalidade e sentimentos do doador. No que se refere ao câncer, apesar dos avanços da medicina e das maiores possibilidades de cura, principalmente nos casos de diagnostico precoce, sem dúvida trata-se de outra doença envolta em tabus. Muitos evitam até mesmo pronunciar seu nome. O diagnóstico do câncer estão associados a temores da morte e de sofrer amputações. Pode inicialmente haver uma negação do diagnóstico, com busca de outros médicos. 1.6 - Velhice A velhice foi o último estágio do ciclo vital a ser pesquisado pelos psicólogos, sendo os primeiros estudos realizados a partir de 1960. Dentre as justificativas para isso, pode-se entender a própria representação social desse período da vida, sendo considerado como uma simples “espera do fim”. O aumento da expectativa de vida e consequente aumento da população nessa faixa etária promoveram o crescimento do interesse e numero de estudos (Griffa e Moreno, 2008). A velhice inicia-se a partir dos 65 anos, sendo atualmente denominada de terceira idade, sendo que se costuma denominar de quarta idade a população acima dos 80 anos. As principais modificações corporais ocorrem entre os 75 e 80 anos: a uma curvatura do corpo, enrijecimento das articulações, diminuição das capacidades metabólicas e respiratórias, diminuição dos reflexos. Como conseqüência há menor mobilidade. Os sentidos também se tornam menos acurados (Griffa e Moreno, 2008). Embora nos últimos anos tenha-se observado uma busca pelo resgate das pessoas idosas, em nossa sociedade ainda prevalece uma visão negativa das mesmas. Numa sociedade baseada no trabalho e no poder econômico, os aposentados, em sua maioria com baixo poder aquisitivo são vistos como um peso social. A aceleração do conhecimento e a mudança radical dos costumes e valores parecem reforçar a idéia de que tal população não tem nada a contribuir para com os mais jovens, sendo segregados e condenados a uma morte social nos asilos. Estudos indicam que, embora com condições de higiene e alimentação adequadas, grande parte dos idosos falece no primeiro ano de institucionalização nos asilos devido a depressão e degradação da saúde física em função do desgaste emocional. (Griffa e Moreno, 2008). Tem-se buscado também quebrar a associação entre velhice a adoecimento. Para tanto, usa-se o termo senescência para designar o envelhecimento e senilidade para indicar o envelhecimento patológico. Embora não se possa negar que o corpo já não goza mais do mesmo vigor, a velhice não se restringe a limitações e dimensões negativas. Percebe-se que os efeitos negativos prevalecem quando há doenças conseqüentes de estilos de vida não saudáveis nas fases anteriores, falta de uma atividade ocupacional; diminuição e exclusão de atividades prazerosas e medo diante da aproximação da morte. O envelhecimento, as limitações com as quais tem que se deparar podem minar a auto-estima do idoso, sendo que alguns tentam negá-las (por exemplo, recusa-se a usar um aparelho auditivo mesmo diante da evidente dificuldade em ouvir), bem como a projetar no outro sua angustia e raiva, atribuindo ao ambiente externo a causa de seus males. (Griffa e Moreno, 2008). Seguindo o modelo de Aberastury, Marta Mendez (apud Griffa e Moreno, 2008) estabelece também os lutos pelos quais o idoso passa: - luto pela perda do corpo potente, envolvendo a tomada de consciência do declínio físico. - luto pelo papel paternal, uma vez que a relação de dependência costuma se inverter, bem como porque passa a assumir a identidade de avô. - luto pelo papel social, geralmente decorrente da aposentadoria. - luto pela perda das relações afetivas significativas devido ao falecimento de entes queridos, sejam familiares ou amigos. O processo de diminuição das funções e enfraquecimento do ego gera insegurança e coloca o idoso em uma posição defensiva em relação ao mundo externo, tornando-se “desconfiado”.Os mecanismos de defesa mais empregados são a regressão, a retração para o mundo interno e a negação (Griffa e Moreno, 2008). Em relação ao papel dos avós, estudos indicam que a convivência freqüente dos netos com ao menos um dos avós tem efeitos positivos como a geração de um sentimento de pertença a família, melhor socialização e menor preconceito em relação aos idosos e redução do medo em relação à velhice. Os avós podem também auxiliar os pais na criação dos filhos, seja diretamente, cuidando da criança bem como partilhando sua experiência. Os avós costumam ser mais flexíveis com os netos do que como agiram quando eram pais, o que leva alguns filhos a afirmarem que eles “deseducam as crianças”. È importante porém, não cair nos extremos, seja a negação do papel de avós (“já criei meus filhos, não vou tomar conta dos filhos dos outros) seja a competição e intromissão excessiva na educação dos netos (Griffa e Moreno, 2008). Assim como acontece em relação à infância, costuma-se também negar a sexualidade do idoso. Não raro há ridicularizações ou até mesmo se considera como depravação a atividade sexual nessa idade. Acontece que a sexualidade é vivenciada de uma maneira diferente, sendo menos freqüente e intensa a atividade sexual. Muitas vezes a vida sexual é abandonada por medo do fracasso ou de causar algum dano físico a si mesmo ou ao parceiro (Griffa e Moreno, 2008). Em relação a inteligência e a capacidade de aprendizagem, percebe-se que na velhice as mesmas sofrem modificações. Algumas pesquisas indicam que a capacidade intelectual tem mudanças qualitativas, adqurindo-se modos mais complexos de pensar. Por sua vez, a aprendizagem requer mais tempo e que o material seja mais organizado e menos complexo, não sendoindicadas muitas pausas nem a divisão em partes (Griffa e Moreno, 2008). No que se refere a questão da doença e da morte, a mesma é enfrentada em uma relação que envolve o idoso, sua família e o médico (e demais profissionais da saúde). Tal relação pode configurar- se de maneiras diversas. A doença repentina requer uma modificação e adaptação rápida da família a nova situação, enquanto a doença crônica possibilita uma adaptação gradativa. A família pode organizar- se de maneira diversa, podendo ir aos extremos da disputa pelo cuidado do idoso a luta por desvencilhar-se dessa responsabilidade. É importante que o idoso possa-se confrontar-se com a doença e com a morte como etapas naturais da vida. O modo como será afetado e lidará com a situação dependerá de fatores como o apoio dos familiares, sua postura diante da vida, os sentimentos de apoio ou de solidão (Griffa e Moreno, 2008). A doença reativa o conflito entre dependência-independencia e muitos temem ficar totalmente dependentes dos cuidados alheios, enquanto outros adotam uma postura de submissão e resignação. Costuma ser muito sensível a pequenas demonstrações de atenção e cuidado, sendo que a ausência das mesmas costuma gerar depressão. Tanto o idoso quanto os familiares costumam projetar no médico uma figura de onipotência, salvadora (Griffa e Moreno, 2008). O desenvolvimento das tecnologias na área da saúde aumentaram a possibilidade de sobrevida, porém, muitas vezes acaba fazendo com que a pessoa passe seus últimos momentos de vida na companhia de estranhos ou até mesmo sozinha, cercada apenas de aparelhos (Griffa e Moreno, 2008). Erikson (Griffa e Moreno, 2008) denomina a crise final de integridade x desespero.Com a aproximação do término, há uma avaliação da vida, cujo o resultado pode ser positivo, percebendo-se que teve uma vida feliz, tendo um sentimento de orgulho e integridade em relação a sua existência. A crise terá um resultado difícil caso a pessoa perceba que sua vida foi um fracasso, que pouco tem do que se orgulhar e que agora já não lhe resta tempo. Ao término desse texto, percebe-se a riqueza e a importância de cada etapa da vida e que cada uma deve ser vivida em sua plenitude, respeitando suas vivências próprias. Antes de concluir é importante destacar que essa caracterização e divisão do ciclo vital é dinâmica, uma vez que são fruto de interações entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Assim, não se pode esquecer a dimensão cultural e histórica que impactam sobre o significado e vivência de cada uma delas. Referências bibliográficas: GRIFFA, M. C. e MORENO, J. E. Chaves para a Psicologia do Desenvolvimento. (tomos 1 e 2). São Paulo: Paulinas, 2009. PAPALIA, E. D e OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artemed, 2000.
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