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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ESTUDO DIRIGIDO Sistemática vegetal Curso: Farmácia Disciplina: Farmacobotânica Prof. Ionaldo J. L. Diniz Basílio Data: Ano: 2012.2 O objetivo desta aula capítulo é introduzir o básico: O que é uma planta? O que é sistemática? Porque devemos estudar a sistemática de plantas na disciplina de Farmacobotânica? O que é uma planta? Esta pergunta pode ser respondida conceitualmente de duas formas. (1) De forma tradicional, as plantas podem ser incluídas nos organismos que realizam fotossíntese e possuam paredes celulares, esporos, dentre outros caracteres. Este grupo tradicional abrange uma variedade de organismos microscópicos, todas as algas e as espécies vegetais que vivem na terra. (2) Outra maneira para responder à pergunta é avaliar a história evolutiva da vida para delimitar grupos de seres vivos. Sabe-se agora que os organismos fotossintetizantes evoluíram de forma independente uns dos outros e não são estreitamente relacionadas. Assim, o significado ou a definição da palavra planta pode ser ambíguo e variar de pessoa para pessoa. Alguns ainda gostam de tratar as plantas como um conjunto natural, definido por características em comum (mas que evoluíram independentemente). No entanto, os grupos de organismos delimitados, baseados na história evolutiva, tem uma aceitação quase universal. Este último tipo de classificação reflete os padrões da história evolutiva e pode ser usado para testar hipóteses evolutivas. Uma compreensão de que são as plantas, requer uma explicação da evolução da vida. Plantas e a evolução da vida A vida é atualmente classificada em três grandes grupos (algumas vezes chamado de domínios) de organismos: (1) Archaea (também chamado Arqueobactérias), (2) bactérias (também chamados Eubacteria) e (3) Eucariontes. As relações evolucionárias destes grupos encontram-se resumidos na árvore evolutiva ou cladograma a seguir. Figura. Cladograma simplificado (árvore evolutiva) da vida (modificado de Sogin, 1994, Kumar & Rzhetsky 1996, e Yoon et al. 2002), ilustrando a origem independente dos cloroplastos via endossimbiose (setas) nos Euglenófitos, Dinoflagelados, Plantas marrons, algas vermelhas, e plantas verdes. Grupos eucariotas fotossintetizantes, contendo cloroplastos (organismos em negrito). A ordem relativa dos acontecimentos evolutivos é desconhecida. Archaea e bactérias são pequenos, organismos unicelulares que na maioria possuem DNA circular e ausência de organelas ligados à membrana. Os dois grupos diferem um do outro na estrutura química de certos componentes celulares. Eucariontes são organismos unicelulares ou multicelulares que possuem DNA linear, organelas ligadas à membrana, estruturas de citoesqueleto, estrutura contrátil e mitocôndrias, em quase todas as espécies. Algumas das bactérias unicelulares (incluindo, por exemplo, as Cianobactérias) realizam a fotossíntese. Este processo físico-químico utiliza o dióxido de carbono e água na obtenção de glicose, através da energia da luz. Estas bactérias fotossintetizantes possuem um sistema de membranas internas chamadas tilacóides, dentro do qual estão incorporados pigmentos fotossintéticos, compostos que convertem a energia da luz em energia química. Os grupos dos Eucariontes que são fotossintetizantes têm organelas especializadas chamadas cloroplastos, que se assemelham aos pigmentos contidos nas membranas dos tilacóides das bactérias fotossintéticas. Como evoluíram os cloroplastos? É amplamente aceito que os cloroplastos dos Eucariontes foram originados pela imersão de uma bactéria fotossintética ancestral (provavelmente uma cianobactéria) em uma célula eucariótica ancestral, de tal forma que a bactéria fotossintetizante continuou a viver e, finalmente, multiplicar-se no interior da célula eucariótica. A prova disso é o fato de que os cloroplastos, como as bactérias de hoje (a) têm o seu próprio DNA de cadeia simples, circular; (b) têm tamanho menor, ribossomo 70S. Estas bactérias fotossintetizantes passaram a produzir uma grande quantidade de energia para a célula eucariótica do hospedeiro; a célula eucariótica proporcionou assim, um ambiente favorável para as bactérias fotossintéticas. A condição de duas espécies viverem juntas em contato próximo é chamada de simbiose, e o processo de imersão resultado da simbiose de uma célula por outra é denominada endossimbiose. Ao longo do tempo, estes endossimbióticos, bactérias fotossintetizantes transformaram-se estrutural e UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS funcionalmente, mantendo seu DNA próprio e a capacidade de se replicar, mas perdeu a capacidade de viver de forma independente da célula hospedeira. De fato, ao longo do tempo, tem havido uma transferência de alguns genes do DNA do cloroplasto para o DNA nuclear da célula hospedeira eucariótica, fazendo dos dois indivíduos bioquimicamente interdependentes. As plantas terrestres As plantas verdes incluem tanto as algas verdes, predominantemente aquáticas e, um grupo conhecido como embriófitos (formalmente, Embriofita) são geralmente referidas como as plantas terrestres (Figura a seguir). As plantas terrestres estão unidas por várias novidades evolutivas, adaptações que ocorreram na transição de ambiente aquático e terrestre. Estes incluem: (1) cutícula externa, que auxilia na proteção de tecidos, contra a dessecação; (2) órgãos reprodutores, que têm uma camada exterior de proteção, formada de células estéreis, e (3) formação do embrião, em uma fase da vida. Assim como, as plantas terrestres estão incluídas nas plantas verdes, as plantas vasculares estão inseridas nas plantas terrestres (Figura a seguir), sendo estas últimas unidas pela evolução independente dos esporófitos e a presença de tecidos vasculares condutores, xilema e floema. As plantas vasculares incluem as plantas com sementes, que são unidos pela evolução (formação) da madeira e das sementes. Por fim, as plantas com sementes incluem as angiospermas, grupo de maior interesse na Farmacobotânica, unidas pela evolução das flores, incluindo estames 1 e carpelos 2 (órgãos reprodutores), além de um grande número de estruturas especializadas. 1. O estame é o órgão masculino das plantas que produzem flores: Angiospermas (fanerógamas). 2. Carpelo é uma estrutura presente em todas as Angiospermas, sendo a unidade fundamental do pistilo, ou gineceu. Figura. Cladograma simplificado (árvore evolutiva) das plantas verdes, ilustrando grandes grupos existentes e eventos evolutivos. Por que devemos estudar as plantas? A importância tremenda de plantas não pode ser desprezada. Sem elas, a maioria das espécies de animais (e muitos outros grupos de organismos) não iria estar aqui. Plantas Fotossintetizantes e outros organismos fotossintéticos transformou a vida na terra de duas maneiras principais. Em primeiro lugar, a oxidação de dióxido de carbono e a libertação de oxigênio molecular na fotossíntese alterou a atmosfera da terra ao longo de bilhões de anos. O que costumava ser uma atmosfera deficiente de oxigênio sofreu uma mudança gradual. Como o acumulo de oxigênio na atmosfera, a respiração é dependente de oxigênio (via fosforilação oxidativa nas mitocôndrias), o qual pode ter sido um precursor necessário na evolução de muitos organismos multicelulares, incluindo todos os animais. Além disso, uma atmosfera rica em oxigêniopermitiu o estabelecimento da camada de ozônio na atmosfera superior, protegendo a vida da radiação ultravioleta, em excesso. Estes organismos passaram a habitar locais mais expostas à luz solar, antes inacessíveis. Em segundo lugar, os compostos que espécies fotossintetizantes produzem são utilizadas, direta ou indiretamente, por organismos heterotróficos. Praticamente todas as indivíduos terrestres e muitos aquáticos, bem como, as plantas terrestres fazem parte dos produtos primários na cadeia alimentar, a fonte de compostos de alta energia, tais como: carboidratos, alguns aminoácidos e outros compostos essenciais para o metabolismo de alguns organismos heterotróficos. Assim, a maioria das espécies que habitam a terra hoje, incluindo milhões de espécies de animais é absolutamente dependente das plantas para a sua sobrevivência. Como produtores primários, as plantas são os principais componentes de muitas comunidades e ecossistemas. A sobrevivência das plantas é, portanto, essencial para a manutenção da saúde desses ecossistemas e sua perturbação pode ocasionar problemas, como mudanças bruscas do clima e falta d’água. Aos seres humanos, as plantas também são monumentalmente importantes (figuras a seguir). Plantas de interesse agrícola, a maioria dos quais são nossa principal fonte de alimento. Utilizamos todas as partes da planta como produtos alimentares: raízes (batata doce e cenouras); caules (inhame, mandioca e batata); folhas (repolho e alface); flores (brócolos); frutos e sementes, incluindo os grãos, como arroz, trigo, milho, centeio, cevada e aveia, leguminosas, como feijão e ervilhas, e uma infinidade de frutas, como bananas, tomates, pimentas, abacaxi, maçãs, cerejas, pêssegos, melões, kiwis e azeitonas. Outras plantas são usadas como agentes flavorizantes (ervas e especiarias), como bebidas estimulantes (chocolate, café, chá e cola) ou bebidas alcoólicas (cerveja, vinhos e licores). Plantas lenhosas são usadas na obtenção de madeira e produtos de celulose, como papel. Em regiões tropicais, bambus, palmeiras e uma variedade de outras espécies são utilizados na construção de habitações. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Em muitas culturas, plantas ou produtos derivados de vegetais são utilizados como alucinógenos (legalmente ou ilegalmente), tais como: maconha, ópio, cocaína e uma grande variedade de espécies usadas em rituais indígenas. As plantas são importantes na Indústria de Cosmético e no cultivo de plantas ornamentais. Finalmente, as plantas têm grande importância medicinal, no tratamento de uma variedade de doenças. Produtos vegetais são muito importantes na Indústria Farmacêutica; seus compostos são usados como modelos na síntese novos fármacos, extraído ou através de semissíntese. Muitos medicamentos modernos, como a aspirina (derivada originalmente da casca das árvores de salgueiro), vincristina e vinblastina, obtido a partir de Catharanthus roseus “bom-dia, boa-noite” (espécie nativo de Madagascar), usado no tratamento de leucemia em crianças. Além disso, partes de plantas integras, rasuradas ou trituradas são utilizadas pela população na forma de chás medicinais. Figura. Exemplos de plantas economicamente importantes. A–E. Legumes. A. Ipomoea batatas, batata-doce (raiz). B. Daucus carota, cenoura (raiz). C. Solanum tuberosum, batata (caule). D. Lactuca sativa, alface (folhas). E. Brassica oleracea, brócolis (botões florais). F–I. Frutos, seco (grãos). F. Oryza sativa, arroz. G. Triticum aestivum, pão de trigo. H. Zea mays, milho. I. Semente (leguminosas), de cima, para a direita para o centro: Glycine max, soja; Lens culinaris, lentilha; Phaseolus aureus, Phaseolus vulgaris, feijão; Cicer areitinum, grão de bico; Vigna unguiculata; Phaseolus lunatus, feijão. J–M. frutos, frescos. J. Musa paradisiaca, banana. K. Ananas comosus, abacaxi. L. Malus pumila, maça. M. Olea europaea, azeitona. Figura. Exemplos de outras plantas economicamente importantes. A–D. Ervas. A. Petroselinum crispum, salsa. B. Salvia sp. .C. Rosmarinus sp., alecrim. D. Thymus vulgaris, tomilho. E. Espécies e ervas, superior esquerda: Cinnamomum cássia / C. zeylanicum, canela (casca); Baunilha planifolia; baunilha (fruta); Laurus nobilis, louro (folhas); Syzygium aromaticum, cravo; Myristica fragrans, noz-moscada (semente); Carum carvi, alcaravia (fruta); Anethum graveolens, endro (fruta); Pimenta dioica, pimenta da Jamaica (semente); Piper nigrum, pimenta (semente). F. Plantas condimentares, de superior à esquerda, no sentido horário. Theobroma cacau, chocolate (sementes); Coffea arabica, café (sementes); Thea sinensis, chá (folhas). G. Produtos da madeira: madeira e serrado (Sequoia sempervirens, Pau-Brasil), papel e derivados de celulose. H. Fibras. Gossypium sp., algodão (tricomas de sementes). I. Drogas alucinógenas. Cannibis sativa, maconha, contêm o tetrahidrocanabinol. J. Planta medicinal. Catharanthus roseus, da qual é derivada a vincristina e a vinblastina, usado no tratamento de leucemia em crianças. Questões 1. O que é uma planta? Quais são as duas formas conceituais que podemos responder a esta questão? 2. Quais são os três principais grupos de vida atualmente aceitos? 3. Descreva de forma sucinta o mecanismo de evolução dos cloroplastos. 4. Cite alguns grupos de organismos clorofilados que têm sido tradicionalmente chamados de plantas, mas que apresentam cloroplastos que evoluíram independentemente. 5. Quais são os principais fatores que mostram a importância do conhecimento das plantas, principalmente no contexto das Ciências Farmacêuticas? UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Nomenclatura botânica, classificação e identificação de plantas medicinais. Introdução Levando-se em conta o grande número de espécies de seres vivos existentes na natureza (cerca de 1,5 milhões de espécies, das quais 300 mil pertencem ao reino Plantae), se tornou necessário à criação de um sistema de classificação desses seres. A dificuldade de criar um sistema desse porte fica claro ao se analisar os números acima. É difícil para os biólogos reconhecer todas as entidades de seres vivos e classificá-las em sistemas que reflitam a sua real posição hierárquica na natureza. Sistemas de classificação Os gregos tentaram reunir e organizar o conhecimento empírico acumulado, porém basearam-se apenas nos caracteres mais facilmente observados. Ao longo do tempo, foram surgindo numerosos sistemas de classificação que consistiam em reunir um conjunto de unidades taxonômicas nas quais as plantas eram ordenadas, e por ordem cronológica esses sistemas costumam ser agrupados da seguinte forma: 1. Sistema baseado no hábito – primeiro que se tem conhecimento. Criado por Theophrastus entre 380- 278 a.C., fez a classificação pelo hábito, ou seja, árvores, arbustos, ervas, cultivadas e selvagens. Também se destacam cientistas como Dioscórides, Albertus Magnus e Andrea Caesalpino (1519- 1603), este último foi considerado o primeiro taxonomista vegetal. 2. Sistemas artificiais baseados em características numéricas – sistema sexual criado por Linnaeus em 1753 e publicado em seu livro Species Plantarum, o qual evidencia as características florais. Baseando na presença e ausência de flores e principalmente no número e posição dos estames dividiu o Reino Vegetal em 24 classes. 3. Sistemas Naturais – classificaçãopor semelhanças, ou seja, por compartilhar caracteres em comum. Um dos principais sistemas publicados neste período foi o de Antoine de Jussieu (1686-1758), que reconheceu 15 classes e 100 ordens. Esse autor sugeriu a classificação em Acotiledônea, Monocotiledônea e Dicotiledônea. Considerando a presença e ausência de pétalas e a soldadura destas reconheceu três grupos, denominando-os de Apetalae, Monopetalae e Polypetalae. Outro cientista importante foi Augustin P. de Candolle (1778-1841), que em seu sistema fez a distinção entre plantas vascularizadas e talófitas, porém houve a inclusão de Pteridófitas como Monocotiledôneas. 4. Sistemas baseados em filogenia – baseados na teoria da evolução das espécies de Darwin (1859), relacionando-a com afinidades em relação à ancestralidade e descendência. Os sistemas mais conhecidos dentro da filogenética são os trabalhos de Engler (1964), Cronquist (1968, 1981 e 1988) e Dahglgren (1985). Este último mostrou uma preocupação maior com as abordagens filogenéticas e construiu um tratamento cladístico para Monocotiledôneas. Já a sistemática filogenética criada por Willi Henning (1950), considera que a história evolutiva da relação ancestralidade-descendência dos organismos pode ser reconstruída e representada através de um cladograma, e que para a construção deste diagrama hipotético deve ser levada em consideração pelo menos uma característica monofilética. A partir da década de 90 destacam-se os trabalhos produzidos por Walter Judd (1999), que utilizou também técnicas moleculares para a construção de cladogramas. Desde a metade do século XVIII, os nomes das plantas eram formados por diversas palavras, porém em 1753, Linnaeus propôs o sistema Binomial no qual a primeira palavra seria usada para indicar o gênero e a segunda seria o epíteto específico. Todavia, com a descoberta de novas espécies, tornou-se necessário a elaboração de algum documento que pudesse organizar de forma adequada os binomes e as categorias taxonômicas. Assim, em 1867, Alphonse de Candolle sugeriu algumas normas de organização da nomenclatura botânica. Após muitas revisões e discussões o “Código de Paris de 1867” foi criado e desde então são realizados periodicamente congressos internacionais com o objetivo de consolidar um Código Internacional de Nomenclatura Botânica, estabelecendo e universalizando os nomes referentes a cada categoria taxonômica. Este Código está organizado de acordo com Princípios, Recomendações e Regras. Classificação e identificação Antes de qualquer coisa é necessário estabelecer a diferença entre classificação e identificação. Classificação: processo de se agrupar um ser vivo em uma categoria específica dentro de uma hierarquia. Esse processo é feito apenas uma vez, a não ser que seja necessária uma recolocação devido ao surgimento de evidências que indicam erro na classificação anterior. Identificação: consiste em comparar dados de uma espécie a ser analisada, com uma espécie já descrita. Essa comparação é feita cada vez que se deseja conhecer o nome de um ser coletado ou encontrado na natureza. Pode-se basear também com dados de um espécime existente em uma coleção (em caso de plantas – um herbário), ou ainda com dados e ilustrações da literatura. Coleta, herborização e catalogação de amostras vegetais Uma das principiais preocupações de um cientista trabalhando com plantas, é a reprodutibilidade do seu trabalho. Para tanto, é necessário que de todas as coletas feitas para estudo, se mantenha uma amostra desse material, UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS não apenas para identificação ou classificação correta do mesmo, bem como para comprovação de que o trabalho se realizou com a espécie correta. Esse exemplar do material botânico se chama exsicata e será estudado com detalhes a seguir. Cuidados são necessários em todas as etapas envolvidas na coleta. Coleta Detalhes essenciais devem ser levados em conta ao se proceder a coleta de plantas inteiras ou de partes de plantas da natureza. Um dos primeiros cuidados deve ser o de observar a quantidade de espécimes do vegetal em questão na região, isto para evitar que seja coletado e consequentemente eliminado, um exemplar de uma espécie em risco de extinção. Um exemplo clássico de devastação de uma espécie foi a quase extinção da árvore Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo (= T. avellanedae Lorentz ex Griseb.), conhecido popularmente como ipê roxo, que após ter se tornado famosa por resultados interessantes no tratamento de câncer passou a ser coletada, indiscriminadamente pela população. A coleta deve sempre contar com a presença de um botânico e/ou de um mateiro experiente (de preferência, os dois). Para coletas que visem simplesmente identificar um determinado vegetal, se faz necessário pouco material (coletar exemplar com flores é essencial). Caso a coleta seja para estudos fitoquímicos, devem ser coletados em média 10 Kg de material para obter um rendimento final de 1 Kg de planta seca. Herborização Herborização é o processo de preparação de um exemplar vegetal para conservação em uma coleção de plantas denominada herbário. Ao exemplar devidamente preparado (herborizado) para fazer parte de um herbário, chama-se exsicata (do latim exsicco, significando secar). Normalmente, essas exsicatas são acondicionadas em pastas de papel. Os cuidados para a preparação de uma boa exsicata se iniciam na coleta, onde se deve ter o cuidado de coletar um exemplar que contenha seus órgãos reprodutivos (flores ou frutos), o que facilitará sobremaneira a identificação. Plantas que meçam entre 40 e 80 cm podem ser coletadas inteiras, já arbustos ou árvores utilizam-se as porções terminais dos ramos (cerca de 30 cm), onde se encontram as flores e/ou frutos. A herborização é feita prensando-se o material coletado entre folhas de papel absorvente (jornal, por exemplo), seguidos de papelão e finalmente madeira. Todos esses material devem ser colocados em uma estufa com ar circulante por um período que pode variar, de acordo com a umidade do vegetal. A etiquetação do material em estudo é outro fator de extrema importância para que sejam evitados enganos. Existe ainda uma regra para o tamanho de uma exsicata, a pasta deve ser do tamanho de um jornal tablóide. Na etiqueta de coleta deve constar o número de referência da coleta e dados da mesma, tais como: local, data, hora, etc. Deve ainda constar nome popular, nome botânico, família botânica, nome do coletor e também o nome do botânico que identificou a espécie e dados que não mais são visíveis na planta, tais como: cor das flores e folhas, aroma, etc. O número de referência de uma exsicata em um determinado herbário é de suma importância, pois, muitos jornais científicos exigem esse número quando se publica um artigo com o estudo fitoquímico e farmacológico de uma determinada espécie. Figura. Exemplo de etiqueta. Identificação de espécies Tanto a planta coletada recentemente como uma exsicata pode ser usada para se proceder à identificação. A presença de flores e/ou frutos na amostra é quase indispensável na análise da amostra vegetal, pois, neles estão presentes caracteres específicos levados em conta no trabalho do botânico. A falta desses caracteres pode induzir o erro na identificação. Quanto maior a biodiversidade do local onde a planta foi coletada, mais difícil será a identificação da mesma, sendo o inversoverdadeiro. A identificação correta de uma espécie implica na comparação com material previamente herborizado e extensa revisão bibliográfica. As monografias de cada gênero constituem a literatura mais confiável para esse fim. Na ausência dessas, pode-se partir para as floras da região, estado ou mesmo reserva biológica onde foi feita a coleta. No Brasil é escasso o número de publicações dessa natureza, podendo-se consultar, no entanto a Flora Neotrópica, publicação que inclui dados de plantas brasileiras e dissertações diversas que geralmente descrevem a flora de pequenas regiões. Essas publicações contem normalmente as chaves de identificação das espécies e também descrições e ilustrações que facilitam a determinação do vegetal. Conceito de espécie O termo espécie denomina os grupos de indivíduos idênticos, diferindo de outros grupos populacionais menos semelhantes. Quando em uma espécie, existirem dois ou mais grupos de plantas com uma ou mais características constantes em cada grupo, a mesma pode ser dividida em subespécies. As espécies, principalmente aquelas de importância econômica, também podem ser divididas em variedades, cultivares e formas. Variedades São entidades infraespecíficas que ocorrem na natureza. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Cultivares São produtos de cruzamentos entre plantas, com a finalidade de se obter descendências com determinadas características de interesse. Formas As formas são populações dentro de uma espécie que diferem entre si em apenas um caráter constante. Nem sempre são consideradas por taxonomistas. Categorias taxonômicas Cada unidade taxonômica supragenérica tem um sufixo próprio que indica em que grau o grupo está incluído dentro do sistema. Na tabela a seguir, observa-se um exemplo baseado no sistema de classificação de Cronquist (1988), lista hierarquicamente as diferentes unidades taxonômicas e é ilustrado com duas espécies bem conhecidas, a batata inglesa (Solanum tuberosum L.), da classe Magnoliopsida e o milho (Zea mays L.), da classe Liliopsida. A batata inglesa pertence a um gênero que é formado por cerca de 1500 espécies e por isso é dividido em subgêneros e seções, enquanto que o milho pertence a um gênero monoespecífico, não necessitando, portanto, de divisões infragenéricas. Tabela. Classificação de Solanum tuberosum L. e Zea mays L. segundo Cronquist (1988). Categoria taxonômica Sufixo Batata inglesa Milho Divisão phyta Magnoliophyta Magnoliophyta Classe opsida Magnoliopsida Liliopsida Subclasse idae Asteridae Commelinidae Ordem ales Solanales Cyperales Família aceae Solanaceae Poaceae Subfamília oideae Solanoideae Panicoideae Tribo eae Solaneae Andropogoneae Subtribo inae Solaninae Tripsacinae Gênero Solanum Zea Subgênero Solanum Seção Petota Espécie Solanum tuberosum L. Zea mays L. Nomenclatura científica A espécie é a entidade base nos sistemas de classificação. Cada espécie tem um nome científico, formado por um binômio, que deve obedecer às regras do Código Internacional de Nomenclatura Botânica. Esse código sofre modificações por decisão do Comitê Permanente de Nomenclatura, em seções plenárias nos Congressos Internacionais de Botânica. A nomenclatura binomial foi estabelecida por Linnaeus em 1753. As Principais regras são: 1 – O nome Científico é sempre um binômio escrito em latim ou em palavras ou nomes latinizados. 2 – A primeira palavra do binômio científico corresponde ao gênero e deve ser escrito com letra inicial maiúscula. A segunda palavra corresponde ao epíteto específico, para uma espécie determinada, o qual deve concordar gramaticalmente com o nome do gênero e ser escrito com letra inicial minúscula. 3 – O binômio científico deve ser acompanhado do nome do autor do mesmo, ou seja, daquela pessoa que descreveu a espécie. Nomes de autores podem ser abreviados, sendo recomendado que as abreviaturas não sejam aleatórias. 4 – Sempre que houver mais de um epíteto específico para nominar uma espécie, vale o princípio da prioridade, devendo ser utilizado o nome mais antigo, sendo os demais considerados sinônimos. Essa regra vale pra todos os nomes publicados a partir de 1753. Estes dados podem ser confirmados no site a seguir: http://www.ipni.org/ 5 – O binômio científico deve ser grifado no texto (o grifo em itálico é o usual; quando manuscrito deve ser sublinhado). 6 – As principais categorias dos taxa em sequência descendente são: Reino, Divisão, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie; 7 – As categorias secundárias em sequência descendente são: tribo (entre família e gênero), seção e série (entre gênero e espécie) e variedade e forma (abaixo de espécie); 8 – Caso um maior número de categorias de taxa seja necessário, basta acrescentar o prefixo sub aos termos que indicam as categorias principais ou secundárias: subclasse, subfamília, subgênero e subespécie; UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS 9 – Nomes de híbridos são precedidos pelo sinal “x”. Por exemplo: Mentha x piperita L. 10 – Epítetos descriptivos: Relacionados com a cor: albus, aureus, luteus, niger, virens (verde), viridis (verde). Relacionados com a origem: australis, borealis, meridionalis, orientalis. Relacionados com a distribuição geográfica: africanus, alpinus, alpestris (Alpes), hispanicus, ibericus. Relacionados com o hábito: arborescens. Relacionados com o hábitat: arvensis, campestris, lacustris. Relacionados com o tamanho: minor, major, robustus. Nomes populares Nomes populares, vulgares ou vernaculares são regionais e não recebem importância, de modo geral, em um trabalho científico. Por outro lado, são úteis e importantes em trabalhos etnobotânicos, como fonte de informação sobre a cultura ou vocabulário de uma população, podendo dar indícios sobre a utilização popular de uma espécie. Em geral, pra cada região de um mesmo país, o nome popular de uma determinada espécie pode variar grandemente. Questões 1. Considerando o princípio da prioridade, indique os nomes válidos para as espécies abaixo, as quais possuem as seguintes sinonímias: a. Aristolochia gardens Lineu (1856) Aristolochia glabra Benton (1873) b. Gaudinia hispanica Stace & Tutin (1967) Gaudinia holosica Moore (1952) c. Omphalobium ovatifolius Martius (1817) Omphalobium glabratum A. DC. (1978) d. Combretum Loefl (1758) (Nomina conservanda) Crislea Lineu (1753) e. Viburnum fragrans Bunge (1831) Viburnum fragrans Lorsel. (1824) 2. Analise a nomenclatura empregada para as espécies, indicando: gênero, epíteto, autor(es) do nome(s) e características taxonômicas que o nome está evidenciando. a. Vulpia ciliata Dumort. b. Gaudinia hispanica Stace & Tutin, sp. nov. c. Cordia hermanniifolia var. calycina Cham. f. Silene dioica subsp. zetlandia var. alba 3. Das citações abaixo, indique: Autor do nome, autor que validou o nome da espécie e ano da publicação válida. a. Viburnum ternatum Rehder in Sargent, Trees and Scrubs 2:37. 1907 b. Teucrium chademii Sadwich in Lacaita, Cavanillesia 3:38. 1930 4. A espécie Iridophycus splendens Stech et Gardner foi coletada por Gardner 7781 (Registro de Herbário: UC 539565), sendo posteriormente modificada para: Iridaea splendens (Stech et Gardner) Papenf. O descrito acima é um exemplo de : ( ) sinonímia; ( )parátipos; ( ) basinômio; ( ) autônimo 5. A espécie Melochia cordata Burm. 1768 foi revisada por Borssum em 1966, que chegou a conclusão de que esta pertencia ao gênero Sida, modificando seu nome. Qual será a atual nomenclatura desta espécie? 7. Leia a informação abaixo e responda as perguntas: “Panicum maximum Poir. in Lam., Encycl., suppl. 4: 281. 1816. Planta herbácea, estolonífera ...... cariopses amarelo-avermelhados. Material selecionado: BRASIL. Rio Grande do Sul: Cachoeirinha, 3/II/1999, Mattos 2233 (SP, RB, UEC); São José dos Pinhais, Roseira, 5/XI/1961, Hatschbach 8444 (MBM, US)”. a. Quem foi o primeiro autor a descrever esta espécie? b. Qual o autor e o ano da publicação válida? c. O que significa “Mattos 2233”?
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