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ARTIGO ESTUPRO DE VULNERÁVEL 01062018

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DISCIPLINA PRATICAS INTEGRADORAS II
PROF. MARÍLIA MENDONÇA MORAIS SANTANNA
ESTUPRO DE VULNERÁVEL FRENTE AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
MICHELINE TAIANNE ISMERIM DA SILVEIRA
EDILMA FERREIRA DE SOUZA
GIULIA RAFAELA OLIVEIRA DEVIDES
JACQUELINE I. CORRÊA
ARACAJU
2018
ESTUPRO DE VULNERÁVEL FRENTE AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO; 2 DESENVOLVIMENTO; 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTUPRO; 2.2 O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE REGIDO PELA CFRB/88 E O ECA; 2.3 O ADVENTO DA LEI 12.015/2009; 2.4 DIFERENÇA DO ESTUPRO COMUM PARA O ESTUPRO DE VULNERÁVEL; 2.5 CONSEQUÊNCIAS DO ESTUPRO DE VULNERÁVEL; 2.6 A TUTELA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA; 3 CONCLUSÃO e 4 REFERENCIAS.
1 INTRODUÇÃO
O estupro acompanha a sociedade desde décadas, até os dias atuais, tem sido uma preocupação de ordem mundial. Desde da antiguidade as penas aplicadas eram cruéis. E para que o crime fosse considerado, um crime de estupro se fazia necessário, que fossem preenchidos alguns requisitos para a qualificação do ato libidinoso.
Com a evolução da sociedade e as reformas e emendas à Constituição Federal e ao Código Penal brasileiro de 1940, que por ventura é um código da antiguidade, houve à necessidade da mudança da tipificação do crime de estupro. Uma das principais mudanças é que hoje as penas não são mais severas e cruéis, mas a mudança mais significativa é que o estupro não está restrito hoje somente a classe feminina, mas a qualquer ser humano, sem distinção de gênero, fazendo-se necessária a proteção da dignidade sexual independente do sexo e mais ainda dos vulneráveis, que se faz necessária uma proteção maior.
Esse é um tema recorrente pois mesmo com a evolução da sociedade, do Direito e dentre outras áreas, o número de denúncias e de vítimas cresce a cada dia, a cada ano, sem falar que existe um número oculto de vítimas que não prestam queixas por sofrerem ameaças no seio familiar, ameaças do agressor ou para se protegerem da visão preconceituosa da sociedade contemporânea, que apesar de hoje ser classificada com uma sociedade evoluída, ainda traz consigo características de intolerância dos seus antepassados.
A evolução do Direito, infelizmente não foi capaz de acompanhar o avanço dos costumes sociais, não qual ficaram estagnados no tempo, e a cultura do estupro advém da sociedade escravocrata, na qual os senhores de engenho, mantinha forçadamente a intimidade sexual com escravas, qualquer que fosse a idade, alegando que assim agiam por serem donos dos escravos. 
	Com o advento da Lei 12.015/2009, foi introduzido ao Código Penal uma nova denominação jurídica do estupro de vulnerável, sendo esse caracterizado como um tipo autônomo. O conceito de vulnerabilidade passou a ser caracterizado como sendo uma pessoa que não apresenta condições mínimas psíquicas para se manifestar livremente em relação aos seus desejos em quanto a prática sexual. Expondo que a pessoa vulnerável é o elo mais fraco, ou seja, aquela que terá mais facilidade de ser atacada, sem condições mínimas de repelir a agressão.
Nota-se que com o fenômeno da mutação legislativa, o enfoque da proteção mudou, o legislador no art. 227 da CFBR diz respeito ao dever do Estado de assegurar a criança e ao adolescente à dignidade, os protegendo da exploração, da violência e da crueldade. O legislador, ao tutelar a dignidade sexual como sendo um bem jurídico, traz essa abordagem com base no princípio da dignidade da pessoa humana, onde cada pessoa tem direitos que devem ser tutelados, como a liberdade de escolha, o desenvolvimento intelectual e sexual. Trata-se, portanto, da violação da dignidade daqueles que não possuem completo discernimento para se protegerem. 
Com a alteração de grande significado do Código Penal, na qual substitui o art.224 pelo art.217-A do CP. Reafirmando, com mais intensidade, a proteção rigorosa a criança e ao adolescente face ao abuso sexual.
Segundo Guilherme de Souza Nucci, a vulnerabilidade contida no artigo.217-A do CP: “trata-se da capacidade de compreensão e aquiescência do tocante ao ato sexual. Por isso, continua, na essência, existindo a presunção de que determinadas pessoas não têm a referida capacidade para consentir.”
O legislador quis extinguir qualquer referência no quis diz respeito ao ato, ou seja, a circunstância fática, ter ou não o consentimento da vítima, para que seja caracterizado o delito. A vulnerabilidade caracteriza ausência de maturidade sexual ou desenvolvimento mental para consentir a prática do ato sexual.
Com a extinção na nomenclatura do título VI do Código Penal “Dos Crimes contra Costumes”, que passou a ser conhecido como “Dos Crimes contra a Dignidade Sexual” passando a incorporar também os crimes sexuais (estupro de vulnerável - art. 217-A, corrupção de menores - art. 218, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente - art. 218-A e favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável – art. 218-B) os crimes contra indefesos passaram a ser tutelados de forma clara e rigída pelo ordenamento jurídico.
Em virtude disso, o presente artigo tem como objetivo geral analisar o enfoque atual acerca do estupro de vulnerável. E, especificamente, almeja-se apresentar as consequências do estupro de vulnerável no cenário familiar e discutir a lei nº 12.015/2009. Em síntese por se tratar de um tema de grande relevância social, na qual agride tantos princípios constitucionais, na qual devem ser mais observados, e em especial o princípio da dignidade da pessoa humana, analisaremos também ao desrespeito aos Direitos Humanos que tutela os direitos dos vulneráveis.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTUPRO
A violência sexual sempre se fez presente na sociedade, desde o princípio passando por todas as civilizações, sempre houve a necessidade de penas para o crime de estupro. As penas eram severas e cruéis, empregava-se até mesmo a pena de morte. Como as mulheres eram regidas pelo poder patriarcal, as moças deveriam ser virgens, honestas e estarem sempre submetidas ao poder patriarcal, a vítima deveria preencher esses requisitos, caso contrário supostamente, a mesma não estaria apta para alegar ser vítima de um crime de estupro.
No decorrer da evolução da sociedade, as penas foram se tornando mais humanizadas, mas não perderam a sua finalidade de punir a violência sexual. Tendo em vista que as mudanças foram sendo feitas no decorrer dos anos, no que diz respeito a tutela legal, que não estava mais se restringindo a proteção a mulher, mas a todo ser humano, independente do sexo, gênero ou idade. O principal objetivo da tutela jurisdicional é proteger a dignidade sexual, a liberdade sexual, a dignidade da pessoa humana, e as vítimas vulneráveis que com mutação ao Código Penal no art.217-A, classifica-se como vulneráveis os menores de 14 anos.
Com a modernização dos costumes da sociedade e a moralidade sexual, a legislação penal que entrou em vigor no Brasil no ano de 1940, foi obrigada a evoluir, para acompanhar as tendências de uma nova sociedade, com costumes muito diferentes da época em que o então Código Penal Brasileiro tinha sido criado. O crime de estupro, sofreu muitas alterações no decorrer dos anos, e com o objetivo de atender a nova realidade social, as penas também evoluíram, deixando de serem desumanas, mas mantendo a rigidez característica de uma punição que visa a não reincidência do ato. 
O direito canônico, falava obrigatoriamente que a mulher deveria ser virgem, pois se a mesma não fosse, não seriam satisfeitos os requisitos do estupro, e a mulher casada não era considerada vítima de estupro, pois está já fora desflorada.
O Código Criminal do Império de 1830, no que versava sobre o delito de estupro, tipificou vários tipos de delitos sexuais. No art.222 foi definido pelo legislador como o crime de estupro propriamente dito, ou seja, era obrigatório para tipificar comocrime, que houvesse a conjunção carnal, por meio de violência ou ameaça com qualquer “mulher honesta”. A pena era de 3 à 12 anos, havendo também a possibilidades do agressor casar com a vítima, ficando este livre da pena (Prado, 2011).
No Código Penal de 1980, em seu artigo 269, ficou definido como delito do estupro a violência com o fim de satisfação sexual, sendo assim, o ato violento no qual o homem abusava da mulher virgem ou não. Nesse artigo ficou englobado a violência física, moral e psicológica, na qual privava a mulher de suas faculdades psíquicas impossibilitando-a de resistir, ou até mesmo lutar contra o agressor. (Prado, 2011).
No Código Penal de 1940, o art.213 usou o termo constranger a mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça, com pena de reclusão de 6 à 10 anos. O objetivo do artigo era proteger a liberdade sexual da mulher, o direito de dispor do corpo e da sua liberdade de escolher seus parceiros. (Prado, 2011).
Se o delito resultasse em lesão corporal de natureza grave, à pena aplicada seria de 8 à 12 anos, se o resultado fosse a morte da vítima a pena seria de 12 anos. Sendo a vítima menor de 14 anos e essa fosse incapaz de praticar qualquer ato, ou se a mesma não pudesse oferecer resistência ao agressor, a violência seria presumida e a pena agravada pela metade.
Com a promulgação da lei 12.015/2009, o Código Penal brasileiro, teve seu Título VI modificado, passando a ser intitulado como “Dos Crimes contra a dignidade sexual”, deixando de ser “Dos Crimes dos Costumes”, anteriormente esse capítulo do Código Penal tutelava o comportamento ético sexual de uma sociedade, hoje o bem tutelado é a dignidade sexual, ou seja, a dignidade da pessoa humana e o respeito à vida sexual de cada indivíduo. (NUCCI, 2013)
Um dos grandes avanços trazidos com as alterações realizadas pela Lei 12.015/2009, foi o fim da presunção de violência em razão da idade e o surgimento da vítima vulnerável. Aquele que estuprasse um adolescente ou uma criança menor de 14 anos praticava o delito de estupro, que era anteriormente disciplinado pelo art. 213 do Código Penal elencado com o art. 224, alínea “a”, que presumia a suposta existência da violência, pois a vítima era considerada inexperiente sexual.
A presunção violava vários princípios constitucionais, dentre eles, o princípio da presunção de inocência e do contraditório e ampla defesa, uma vez que ao acusado, não era ofertada a defesa, o acusado era punido pela ficção e não pela agressão com resultado causado a vítima. Com o passar dos anos os legisladores viram a necessidade da proteção a esses princípios, pois a própria Constituição Federal versa que ninguém poderá ser punido por um delito até que seja provado a sua responsabilidade, ou seja, até o trânsito do julgado.
Surgiu também a necessidade da proteção sexual dos que não possuíam capacidade para consentir a prática do ato sexual, e aos menores de 14 anos considerados os vulneráveis, que pelos legisladores seriam incapazes de compreender e avaliar as consequências doa atos sexuais, faltando a eles maturidade fisiológica e psicológica para entender o ato. A proteção ao grupo de vulneráveis adentrou no ordenamento jurídico no art.217-A do Código Penal.
Segundo Guilherme Souza Nucci, a vulnerabilidade contida no artigo 217-A: “trata-se da capacidade de compreensão e aquiescência no tocante ao ato sexual. Por isso, continua, na essência, existindo a presunção de que determinadas pessoas não têm a referida capacidade para consentir.” (NUCCI,2011).
2.2 O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE REGIDO PELA CFRB/88 E O ECA
	O direito à vida, significa um direito fundamental e encontra-se inserido pela constituição Federal de 1988, como um direito indispensável à pessoa humana, necessário para assegurar uma existência digna, livre e igual para todos. Não bastando o estado reconhecê-los formalmente, devendo concretizar essa tutela, e incorporá-los no dia a dia dos cidadãos.
A declaração universal dos direitos do homem de 1948, na sua primeira geração se preocupou com: o direito à vida, à liberdade e a segurança, que são chamados os direitos pessoais do indivíduo. O direito à vida é o principal direito garantido a todas as pessoas, sem distinção de gênero, cor, raça, idade e sexo. O bem maior a ser tutelado não implica somente às necessidades fisiológicas, mas ao direito a uma vida digna, onde o ser humano possa ter condições de exercer uma vivência coletiva, e que seja assegurado todos os seus direitos, em especial a sua integridade física e sexual.
Todas as crianças e adolescente já nascem com direitos, estes, previstos na Constituição Federal e no ECA, podemos dizer que essas leis são regras que definem o que cada pessoa deve fazer para garantir o cumprimento destes direitos. Com essa vertente, não é só o Estado que deve ser o detentor e garantidor de tais prerrogativas, pois garantir a proteção destes vulneráveis é obrigação de todos os cidadãos. 
	Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, o Estado Brasileiro foi obrigado a dar maior proteção aos direitos humanos e fundamentais, pois como signatário da Declaração dos Direitos Humanos, onde o seu fundamento central é a “dignidade da pessoa humana” Art.1º, III CFBR/88, tendo como base a construção de que todo direito humano é fundamental. Advindo, o dever do Estado, da família e a sociedade como um todo dar maior proteção aos grupos vulneráveis, estando previsto no art.227, §4º da CF/88 onde diz:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana.
A constituição Federal CFBR/88, traz no referido Art.227:
 Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
 § 4.º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.
	O Estatuto da Criança e Adolescente, traz nessa legislação especial promulgada sob a Luz da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança aprovado pela Organização das Nações Unidas(ONU) em 1989. Mesmo tendo reflexos internacionais, o Brasil tardou em dar cumprimento aos compromissos assumidos ao promulgar formalmente em 1990. 
	Com a obrigação por ser signatário do tratado, o Estado brasileiro foi se adequando com o passar dos anos, mas dentre seus artigos de suma importância para a proteção da criança e do adolescente, Art.5 do ECA, Art. 240, 241, 241-A, 241- B, 241-C, 241-D, 241-E do ECA, onde em cada um destes, os legisladores tiveram cuidados específicos em tipificar vários tipos de condutas, dando maior proteção aos grupos vulneráveis.
Como exposto no art. 5º do ECA, onde diz:
Art. 5° - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
2.3 O ADVENTO DA LEI 12.015/2009
A Lei 12.015/09 promoveu importantes alterações no Código Penal brasileiro, naquilo que diz respeito aos delitos sexuais, a começar pela própria nomenclatura desses delitos. A partir de então, as condutas tipificadas no Título VI do citado código não configuram mais “crimes contra os costumes”; constituem, outrossim, “crimes contra a dignidade sexual”, espécies do gênero “dignidade da pessoa humana”,
Referida alteração de nomenclatura indica, desde logo, que a preocupação do legislador não se limita ao sentimento de repulsa social a esse tipo de conduta, como acontecia nas décadas anteriores, mas sim à efetiva lesão ao bem jurídico em questão,ou seja, à dignidade sexual de quem é vítima deste tipo de infração.
Uma das mais importantes alterações trazidas pela Lei 12.015/09, foi à junção, em um único tipo penal, dos antigos artigos 213 e 214 combinados com o art. 224, ambos do Código Penal, receberam tipificação exclusiva através das alterações provenientes da Lei 12.015 de 10 de agosto de 2009, estando agora previstas no artigo art. 217-A.
O Crime de estupro de vulnerável, antes inexistente, abrange não só a conjunção carnal, como quaisquer outros atos libidinosos, em consonância com a atual definição de estupro da nova Lei, trazida pelo artigo 213, conferindo-lhe maior alcance e amplitude. 
Divergem opiniões entre os estudiosos do direito penal quanto à opção terminológica utilizada, identificando como bem jurídico-penal tutelado a dignidade sexual do ser humano. Guilherme de Souza Nucci defende a nova nomenclatura, entendendo que a anterior se achava inadequada, porquanto lastreada em modelos de observação comportamental da sexualidade na sociedade em geral, ocasião em que os costumes representavam visão vetusta dos hábitos medianos, e até mesmo puritanos da moral vigente, inexistindo critérios a estabelecer parâmetros comuns e denominadores abrangentes para nortear o foco dos costumes na sociedade brasileira. (NUCCI, 2009, p. 16-18)
Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 37) registra que o antigo título era impróprio, na medida em que não correspondia aos bens jurídicos que o mesmo pretendia tutelar, ao passo que Julio Fabbrini Mirabete (2011, p. 384) frisa que o legislador de 2009 eliminou anacronismos existentes até então, oriundos de preconceitos e moralismos arraigados na sociedade à época da elaboração do Código Penal ora vigente. Rogério Greco (2011, p. 449) arremata, enfim, que com a modificação legislativa, percebeu-se que o foco de proteção já não era mais a forma como as pessoas deveriam se comportar sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas sim a tutela da sua dignidade sexual.
2.4 DIFERENÇA DO ESTUPRO COMUM PARA O ESTUPRO DE VULNERÁVEL
A figura típica do estupro, do artigo 213, do Código Penal, apresenta como elementos caracterizadores: a conduta de constranger alguém, a finalidade de praticar com ele conjunção carnal ou outro ato libidinoso, e, ainda, o uso da violência ou grave ameaça. O núcleo do tipo, conforme ensina Rogério Greco, é o verbo constranger, que no dispositivo legal é utilizado no sentido de obrigar a vítima a praticar o ato sexual. 
Antes da referida Lei, o crime de estupro só se consumaria com a conjunção carnal, realizada por um homem com uma mulher, sendo que hoje, com a substituição da legislação em apreço, há a possibilidade de se falar em uma lei que abrange, não só o gênero feminino, mas também o masculino. Conclui-se que a mulher pode ser autora de um crime de estupro. Ressalta-se também que, na antiga redação da lei, o crime de estupro só se consumaria caso houvesse a cópula vagínica e não apenas com a prática de qualquer ato libidinoso, que surgiu com a nova redação 
Já o denominado estupro de vulnerável, tipificado no artigo 217-A do Código Penal, é o crime praticado contra vítima que não possa oferecer resistência, em face do estado físico ou mental da vítima. Em decorrência da pouca idade, a presunção da insuficiência de discernimento ou inaptidão física é absoluta, cujo critério é estritamente biológico. Propõe-se justamente a punir de maneira mais severa aqueles que atentem ou violem contra a dignidade sexual das pessoas que são consideradas vulneráveis. 
Para configurar o estupro é necessário o não consentimento sincero e positivo da vítima durante todo o ato sexual, ou seja, uma reação efetiva à vontade do agente de com ele ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ela se pratique outro ato libidinoso. Assim, não há falar-se em estupro quando a negativa não é sincera, ou se a vítima de início resistiu, mas, iniciada a conduta, consentiu o contato sexual. Para comprovar o dissenso não se exige que a vítima pratique atos heroicos. 
Na lição de Cesar Roberto Bitencourt, “não é necessário que se esgote toda a capacidade de resistência da vítima, a ponto de colocar em risco a própria vida, para reconhecer a violência ou grave ameaça”. Tratando-se de vítimas vulneráveis, com ou sem o seu consentimento, o crime será o de estupro de vulnerável. 
O estupro de vulnerável é um fenômeno universal que atinge, indistintamente, todas as classes sociais, etnias, religiões e culturas. Sua verdadeira incidência é desconhecida, acreditando-se ser uma das condições de maior subnotificação e sub-registro em todo o mundo (FERREIRA, 2000). 
As consequências do abuso sexual podem afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental, podendo variar desde efeitos menores até transtornos psicopatológicos de alta gravidade. 
2.5 CONSEQUÊNCIAS DO ESTUPRO DE VULNERÁVEL
As consequências são múltiplas sendo psicológicas e físicas. A maioria das vítimas de estupro sofre de uma série de sintomas. Existem efeitos psicológicos e físicos decorrentes de um estupro ou de uma agressão sexual. Essas consequências do abuso sexual podem afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental, podendo variar desde efeitos menores até transtornos psicopatológicos de alta gravidade. 
A psicopatologia mais citada, de acordo com o DSM-IV-TR (2002), Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, como decorrente de abuso sexual é o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), que se caracteriza por experiência contínua do evento traumático; evitação e entorpecimento de pensamentos e lembranças de trauma; amnésia psicogênica e desligamento; excitação aumentada, verificada por meio de transtornos do sono, irritabilidade, raiva, dificuldade de concentração, hipervigilância, resposta exagerada de sobressalto e resposta autônoma a lembranças traumáticas.
 Podendo também ocasionar outras consequências advindas desses atos, tais como, uma gravidez indesejada, o aborto como consequência da gravidez, as doenças sexualmente transmissíveis, também chamadas de DST. 
	Isso ocorre porque, as pessoas descritas no artigo 217-A, não têm capacidade de consentir com o ato e muito menos de pensar sobre quais seriam as consequências destes mesmos e suas possíveis prevenções, por isso são protegidas pelo referido artigo.
 Segundo diz a Assistente Social Salete Laurici Marques Dias (200): 
 
É sabido que as sequelas da violência podem ser atenuadas se a vítima dispor de tratamento especializado e possuir uma consistente rede de apoio (pessoas que compreendam sua dor, não atribuam culpa à vítima pelo ocorrido, e procuram fomentar sua autoestima). Contudo, considerando que as estatísticas apontam que apenas 10% das vítimas buscam apoio podemos concluir que via de regra a vítima de violência sexual silencia sua dor e a sufoca internamente. Daí, termos o saldo desconhecido de crianças, adolescentes e adultos que apresentam diversos comprometimentos ao nível de saúde física, mental e emocional; onde além de anônimos, tornam-se incompreendidos. 
 Portanto, sabemos que é de extrema importância analisar as consequências advindas dos crimes sexuais, pois elas podem deixar traumas, que se não forem tratados de forma devida, poderão gerar sequelas irreparáveis. 
 
2.6 A TUTELA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade sexual da pessoa humana é um princípio de maior abrangência, princípio esse consagrado na nossa constituição federal, integrando o rol de direitos fundamentais, direito este com valor moral, espiritual elevado à sua magnitude máxima tanto que não se admite discussão acerca deles, uma vez, que é cláusula pétrea e inerente a pessoa humana.
A Constituição Federal de 1988, traz o referido princípio codificado no artigo 1°, Inciso III, que dispõe:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)
III – A dignidade da pessoahumana;
	
	Podemos considerar que a dignidade da pessoa humana se adequar aos moldes da sociedade ao passo de sua evolução, atendendo as próprias necessidades do ser humano. Ao conceituar a dignidade da pessoa humana Ingo Wolfgang Sarlet, (2007, p. 62) preceitua:
[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
	Desse postulado nascem desdobramentos e princípios constitucionais que tutelam valores específicos, como espécie do gênero tratado. No entanto, até esse princípio maior não é absoluto pode ser limitado, pois ele encontra sua limitação na medida em que a dignidade de outrem começa a ser assegurada, em outras palavras, a dignidade da pessoa humana é absoluta até o momento que os meios para preservá-la não confronte com a dignidade de outrem.
	Rizzatto Nunes trata da dignidade da pessoa humana como um supraprincípio constitucional, partindo da ótica que este está acima dos demais princípios, pois todos os princípios que se seguem e as normas editadas que integram nosso ordenamento jurídico respeitam a dignidade da pessoa humana como um princípio maior. (NUNES, 2009)
	Acerca da subjetividade em relação ao princípio, Pietro Alarcón de Jesús (2004, p. 244-256) diz ainda que trazer o princípio para os ensinamentos constitucionais é reconhecer e valorizar o ser humano como base e o topo do direito.
	Por esse viés, é possível denotar que o princípio, ou melhor, postulado normativo da dignidade da pessoa humana, possui uma importância ímpar e se apresenta como gênero no qual dignidade sexual é espécie. Nesse contexto, ao cometer qualquer delito contra a dignidade sexual, está ferindo não só a liberdade e dignidade sexual da vítima, mas também a sua dignidade humana, e diante disso, cabe ao Estado oferecer proteção eficiente ao cidadão a tal ameaça de direito.
2.7 CONCLUSÃO
	O fato incontroverso é que o estupro de vulnerável se expandiu, ganhando proporções imensas. Agindo de forma destrutiva, causando às crianças e adolescentes, vítimas de atos que vão de simples práticas obscenas até o efetivo abuso, causando-lhe danos irreparáveis, danos que vão desde físicos a psicológicos, gerando graves transtornos por toda a vida. O trabalho em conjunto com operadores do Direito, Psicólogos, Assistentes sociais, dentre outras autoridades legislativas, poderiam criar mecanismos eficazes na prevenção, na investigação e na repressão de redes de exploração sexual infantil, e na repressão do abuso intrafamiliar que é um dos mais recorrentes.
	No trabalho apresentado procuramos demonstrar que o direito a dignidade sexual de crianças e adolescentes no Brasil foi sendo adquirida ao longo dos séculos, onde conseguimos identificar alguns avanços e retrocessos na legislação, e nos costumes de uma sociedade ainda machista.
	Percebe-se que a dignidade sexual das crianças e adolescentes foi reconhecida tardiamente, no ordenamento jurídico brasileiro, fazendo várias adequações, a reforma do Código Penal e do ECA, amparam-se mutuamente, adequando-se as convenções internacionais. 
	Nota-se que a legislação brasileira evolui na proteção da dignidade sexual dos vulneráveis, pois quando o abusador pratica crime sexual, esse recebe uma punição adequada, fazendo com que a sociedade tenha o sentimento de que realmente a justiça está sendo cumprida. Contudo no que diz respeito a vítima, o ordenamento jurídico brasileiro ainda não conseguiu alcançar o ponto crucial para que fosse criada medidas protetivas e de tratamento para que essas vítimas pudessem reagir de uma outra forma, para que possam ter um futuro melhor, pelo menos com traumas menores, pois a marca causada com o abuso sexual infelizmente não é possível de ser esquecida, ou ao menos tempo mensurada. Mas que as práticas de um grupo intradisciplinar Estatal pudesse agir de forma a melhorar a vida dos grupos vulneráveis.
	Mas ao mesmo tempo nota-se que com a evolução da legislação, o número de abusos sexuais cresce a cada dia. No ano de 2014 o número de crianças e adolescentes violentados sexualmente foi de 25%, 47% das vítimas são meninas, a faixa etária com maior incidência é de 8 à 14 anos com 40% o número de abusos, não ficando atrás as crianças da faixa etária de 0 à 7 anos com 34%, sendo 65% os suspeitos pertencem ao grupo familiar, quando 72% dos abusos acontecem na casa da vítima ou do suspeito. O que tem melhorado nesses casos são as denúncias que tem aumentado significativamente, no ano de 2017 foram de 30,3%, quando em 2014 era de 25%.
	Concluímos que apesar de a legislação ter demorado a evoluir, e a sociedade ser ainda retrógrada, as pessoas hoje conseguem ter mais voz ativa, fazendo com que esses direitos sejam tutelados, resultando na preservação do bem maior, que é a vida digna, pois não há como se falar em existência digna, sabendo-se que um menor está sendo violentado dia a pós dia, e ver-se impossibilitado de defender esse vulnerável. Hoje o nosso Estado de Direito é mais amplo graças a Convenção Americana de Direitos Humanos, a Constituição Federal de 1988, as mutações e emendas Constitucionais e a Reforma do Código Penal no qual atualmente foi feito buscando-se acompanhar a evolução da sociedade atual.
 
REFERÊNCIAS 
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