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Igreja e Educação na Reforma Luterana

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dia (IELB): igreja e escola juntos
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O passado
Em 1517, acontecimento já visto em tópi-co anterior, os fatos não se sucederam ao acaso, e isso por duas razões. Uma, e fun-
damental, é a compreensão de que no universo, 
como na vida, as coisas não acontecem ao acaso. 
Deus, o criador e o mantenedor, é quem conduz 
a bom fim todas as coisas. Outra, decorrente des-
ta, é que os acontecimentos que cercaram aquela 
data prepararam o evento atualmente denomina-
do Reforma.
Lutero, hoje o reformador, com a publicação 
de suas 95 Teses, desejava à época sustentar que 
a libertação das almas do purgatório dava-se por 
obra e graça divina, em Cristo Jesus, e que ne-
nhum valor em dinheiro era capaz de fazer isso. 
Os fatos foram sendo desencadeados à medi-
da que as discussões ocorriam. Inevitável, veio à 
tona o debate sobre o poder do papa e dos bispos 
sobre o sacramento da penitência. Acirraram-se 
as divergências.
Para Lutero, a situação teológica definiu-se 
com a compreensão de que o justo é salvo pela fé 
nas promessas e nas realizações divinas já garan-
tidas. A justiça é ato divino e sem nenhum me-
recimento por parte do ser humano. Se assim é, 
como ficam as boas obras?
Boas obras não obtêm a sal-
vação. Elas são agradecimen-
to pela salvação já dada na 
promessa divina.
Num escrito de 1520, Sobre as boas obras, 
Lutero define o novo rumo do agir humano. A 
IGREJA LUTERANA 
E EDUCAÇÃO
Discorrer sobre o vínculo existente entre a Igreja Luterana e a educação re-
quer, inicialmente, uma volta ao passado – buscar as raízes, compreender o pre-
sente e vislumbrar a caminhada futura. 
Por Prof. Ronaldo Steffen
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fé é certeza de que a promessa divina de salva-
ção será cumprida, e Deus faz isso como favor 
aos seres humanos. Receber um presente dessa 
natureza, ser considerado justo e salvo sem me-
recer, provoca uma reação de agradecimento, a 
única possível: amar a quem nos presenteou e aos 
outros presenteados, também tornados justos por 
puro favor. Não é preciso mandar agradecer. É 
espontâneo, a partir do amor que Deus teve com 
a humanidade. Para agradar, o beneficiado não se 
eximirá de esforços agradecidos.
Numa sociedade fortemente regulada pelas 
orientações emanadas das autoridades religio-
sas, e por vezes cumpridas ou à força, ou contra 
a vontade, as implicações sociais e políticas de-
correntes da idéia de que as boas obras não são 
definidoras nem da justiça, nem da salvação logo 
se evidenciam. 
Em outro escrito, também de 1520, À no-
breza cristã da nação alemã sobre a reforma da 
Cristandade, Lutero propõe reformas no corpo 
cristão composto por todos os cristãos, indepen-
dente dos papéis que desempenham. Príncipes, 
senhores, artesãos, camponeses, clérigos, todos, 
pelo batismo, fazem parte do corpo de Cristo, 
nele integrados pelo mesmo favor divino.
Todos, religiosos ou clérigos, 
receberam a graça da salvação 
e podem agir, também na vida 
da cidade, por agradecimento.
Todos estão no mesmo barco e na mesma di-
reção: agem por agradecimento. As autoridades 
religiosas, cuja competência é veicular a Palavra 
de Deus e aplicar os sacramentos, agem com 
amor por terem sido amadas primeiro. As auto-
ridades seculares, cuja competência é manter em 
boa ordem o corpo cristão, agem igualmente com 
amor por terem sido amadas primeiro. Quando 
uma parte falha, é preciso que a outra intervenha. 
Naquele momento, Lutero entendia que as auto-
ridades religiosas estavam falhando e as autori-
dades seculares deveriam intervir, empreenden-
do as necessárias reformas, movidos por amor ao 
corpo de Cristo.
Reflita:Diante de Deus, auto-
ridades religiosas e civis têm a 
mesma direção: agir por agra-
decimento. Quando uma falha, 
a outra deve intervir. Qual sua 
opinião?
Entre as reformas necessárias, insere-se a 
das universidades e escolas. Lutero sugere que a 
Sagrada Escritura constitua a matriz do currícu-
lo. Nas séries iniciais, meninos e meninas estuda-
riam o Evangelho, em latim ou alemão. Continu-
ariam os estudos superiores aqueles alunos que 
se destacassem nesse período, escolhidos pelos 
príncipes e conselhos das cidades. Nas escolas 
intermediárias, deveriam ser realizados estudos 
que remetessem à reflexão e à observação da na-
tureza, além do estudo das línguas (latim, grego, 
hebraico), da matemática e da história. Em rela-
ção aos cursos superiores de Direito, seria neces-
sário dar ênfase ao direito civil e, quanto aos de 
Teologia, as Escrituras deveriam ser enfatizadas 
como objeto principal dos estudos.
A dimensão política do amor seria amplia-
da em outro escrito, de 1523, Sobre a autoridade 
secular. Lutero torna mais transparente que exis-
tem dois reinos ou regimes, o de Deus e o do 
mundo. O reino de Deus é integrado por todos 
aqueles que, agradecidos pelo favor recebido, já 
atuam movidos por amor. Em tese, não preci-
sam do regime secular, mas submetem-se a ele 
e preservam-no a fim de que seu próximo seja 
beneficiado. O reino do mundo é integrado por 
todos aqueles que também receberam o favor, 
muito embora alguns ainda ajam movidos pelo 
egoísmo e precisem ser controlados para que no 
corpo cristão haja dignidade.
Em tese, o cristão não precisa 
das regras do mundo secular, 
mas a elas se submete devi-
do aos não-cristãos, a fim de 
manter a boa ordem do mundo. 
Analise essa afirmação tendo 
em vista a questão do aborto.
 
Cabe à educação, nos diferentes níveis, um 
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papel relevante. Orientar as consciências para 
que as pessoas saibam como se conduzirem é 
tarefa que cabe não somente aos religiosos, mas 
também às autoridades e aos pais.
À medida que se aprofundam as diferenças 
entre Lutero e seus seguidores e a Igreja Católica 
Apostólica Romana, também seus escritos com 
referência à educação vão se tornando mais espe-
cíficos. É assim na carta aberta Aos prefeitos das 
cidades alemãs, escrita em 1524.
A Reforma provocara um desestímulo à 
entrada nos mosteiros, justamente onde se en-
contravam as escolas. Sozinhos, os pais não 
conseguiriam educar seus filhos. Lutero apela 
às autoridades civis cristãs para que tomem a 
si a responsabilidade da educação, movidas por 
amor. Zelar pelo bem-estar da cidade inclui a 
formação de cidadãos instruídos, hábeis e sábios, 
que tenham condições de adquirir e aumentar 
terras e propriedades. Daí que investir em edu-
cação e na formação de cidadãos é concretizar a 
ética do amor.
No que se refere ao reino do mundo, Lutero 
entende que o estudo das artes e das línguas é 
que proporciona a formação de homens capazes 
de reger domínios e mulheres habilitadas para 
governar filhos e empregados. No tocante ao rei-
no de Deus, entende que, igualmente, é preciso 
estudar as artes e as línguas a fim de melhor en-
tender as Escrituras e saber conduzir os negócios 
seculares.
Educação por amor, na vida 
secular, habilita homens e mu-
lheres ao governo das cidades 
e das famílias. Educação por 
amor, na vida religiosa, habilita 
a uma melhor compreensão das 
Escrituras.
Lutero recomenda, ainda, que, ao criarem 
escolas, os conselhos municipais deveriam ter o 
cuidado de formar boas bibliotecas em torno das 
Escrituras, das línguas e das artes.
A preocupação de Lutero com a educação 
não se limita às autoridades civis. Ele defende 
que, se estas realizarem a sua parte, resta, ain-
da, aos pais fazerem a sua enviando seus filhos 
à escola. Em 1530, numa pregação conhecida 
como Sermãosobre o dever de mandar os filhos 
à escola, Lutero faz um alerta aos pais que pre-
feriam colocar seus filhos no trabalho ao invés 
de enviá-los às escolas criadas pelas autoridades 
civis. Ele entende que há proveito ou prejuízo em 
educar ou deixar de educar os filhos. Em ambos 
os casos, os pais estão beneficiando ou prejudi-
cando o próprio Deus, que rege o mundo, o qual 
precisa de pessoas que se apliquem ao estudo e 
ao ensino das Escrituras, bem como de pessoas 
que se apliquem ao estudo a fim de assegurarem 
a sobrevivência e a harmonia da sociedade tanto 
com relação às leis como com relação à medicina 
e às artes liberais.
Este é o entendimento teocêntrico da edu-
cação: é meio e instrumento de Deus. Mais uma 
vez é a ética do amor decorrente da fé que funda-
menta a responsabilidade dos pais pela educação 
cristã das novas gerações, a fim de realizarem 
Deus em dois seguimentos: um buscando a sal-
vação de todos os homens e outro construindo a 
paz no mundo.
A educação, dever dos pais e 
do Estado, e o progresso dela 
decorrente devem assegurar a 
sobrevivência e a harmonia da 
sociedade. A compreensão está 
na direção do bem-estar coletivo.
O que impele Lutero a escrever sobre educa-
ção? Esta foi a indagação que motivou as refle-
xões que seguem, desenvolvidas pelo Dr. Martin 
N. Dreher no 1º Fórum de Lutero, na Ulbra – Ca-
noas, sob o título Lutero, Teólogo para a Univer-
sidade.
O desencadeamento do movimento re-
formatório tornara evidente a necessida-
de de uma reforma educacional. O sistema 
educacional medieval estava em crise em 
virtude das transformações pelas quais pas-
sava a sociedade, em especial o surgimento 
do mercantilismo. Estava surgindo um novo 
tipo de sociedade, na qual o comércio come-
çava a ter uma importância muito grande. 
As escolas, nas quais se estudava Filosofia 
e Teologia em altíssimo nível, eram escolas 
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monásticas. A educação superior era toda 
ela eclesiástica. Mas o novo tipo de socie-
dade que surgia estava a exigir novo tipo de 
educação.
Necessário se fazia que houvesse forma-
ção para as áreas do comércio, para a dire-
ção dos negócios do Estado, pois também um 
novo tipo de Estado, mais centralizado, esta-
va surgindo. Era necessário que se formas-
sem conselheiros, administradores e juristas. 
O crescimento do comércio, principalmente, 
requeria economistas.
Havia, porém, outro motivo que reque-
ria a reforma do ensino. Até agora, o ensino 
fora religioso; seu alvo era o céu. Pais que 
optassem pelo “estudo” para seus filhos 
faziam-no no sentido de garantir e alcançar 
méritos para si e para seus filhos. O filho ia 
“estudar” para se tornar sacerdote e, assim, 
garantir sua própria salvação e a salvação 
dos pais. A salvação do mundo pouco ou 
nada importava. Quando Lutero descobriu a 
salvação gratuita, a justificação por graça e 
fé, esse tipo de educação não tinha mais fun-
damento e ruiu. O alvo da ética não era mais 
o céu, mas a terra, a preservação das coisas 
criadas por Deus. A descoberta da justifica-
ção por graça colocaria, além disso, a ênfase 
do estudo teológico na pregação e no estudo 
da Bíblia, e não mais no aspecto sacerdotal. 
Outros, pois, deveriam ser os conteúdos pre-
paratórios para o ensino superior.
Os príncipes haviam aproveitado o mo-
vimento reformatório para se apossarem dos 
bens eclesiásticos. Ora, das rendas dos bens 
eclesiásticos havia sido mantida até então a 
educação dos sacerdotes. Agora, não havia 
mais recursos para manter a educação. A 
educação fora privilégio de minorias religio-
sas. Lutero, em contraposição, vai anunciar 
a necessidade de um sistema educacional 
que esteja ao alcance de toda a população. 
Daí vem seu apelo para que as cidades criem 
e mantenham escolas. Se antes se gastava di-
nheiro com a salvação, é necessário que ago-
ra se use o dinheiro para a educação, consi-
derada por ele a atividade mais importante. 
Fundamentalmente, para ele, a educação é 
de responsabilidade da autoridade civil e 
não da autoridade eclesiástica.
A argumentação de Lutero vai mais lon-
ge. Centro da Reforma é a redescoberta do 
Evangelho. Essa redescoberta não deveria 
ser deixada de lado na reforma educacional. 
Aliás, assim pensa Lutero, se não acontecer 
uma reforma educacional que dê acesso ao 
ensino para toda a população, a redescober-
ta do Evangelho estará sendo posta em peri-
go! Caso a população não puder se educar, 
ter acesso à leitura do Evangelho, em pouco 
tempo o Evangelho estará encoberto nova-
mente. 
Interessante é a fundamentação de Lu-
tero. A educação é, para ele, uma ordem de 
Deus. Deus quer que existam e sejam criadas 
escolas, pois é nelas que poderão ser apre-
endidas as profissões e Lutero entende que é 
através da profissão que Deus chama as pes-
soas para o Sacerdócio Universal de Todos 
os Crentes. Essa é a base para a educação 
universal. (...)
Resta a pergunta: Quem será o sujeito 
da reforma educacional? Segundo Lutero, 
é dever dos pais enviar os filhos à escola. 
As pessoas com recursos nas cidades são 
por ele convocadas a financiar e a manter 
escolas. Mas não só elas. A educação deve 
ser tarefa política. Quem deve, então, criar 
e manter escolas? Poder-se-ia pensar nos 
príncipes. No governador, para usar uma pa-
lavra de nossos dias. Lutero não pensa neles. 
Ele propõe que os conselheiros das cidades, 
os vereadores, assumam essa tarefa. Educa-
ção é tarefa do Estado. Segundo Lutero, sem-
pre que for investido um florim em gastos mi-
litares, devem ser investidos cem florins em 
educação. Os conselhos municipais devem 
obrigar os pais a enviarem os filhos à escola. 
Aqui a exigência da obrigatoriedade escolar, 
As 95 Teses deflagram a pregação da salvação pela fé
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mas também a orientação precisa quanto às 
prioridades da política. Para Lutero está cla-
ro que governar é criar escolas e mantê-las. 
Fica a pergunta: quem é que se bene-
ficia com a educação, segundo Lutero? A 
resposta é simples: a Igreja e o Estado. A 
Igreja se beneficia em sua tarefa de prega-
ção. É necessário que se formem pregadores 
que anunciem o Evangelho. Os pais devem 
enviar os filhos à escola para que sejam pas-
tores ou professores. Ambos dedicar-se-ão à 
tarefa mais nobre: a de pregar o Evangelho. 
Lutero pensa, em seu tempo, que se deve en-
sinar as línguas bíblicas, para que todos te-
nham acesso à Bíblia no original. A Bíblia é, 
aliás, o livro escolar mais importante. Além 
das línguas deve-se estudar a história, pois 
se aprende das experiências, dos êxitos e dos 
erros do passado. Estudando história, evita-
se a repetição dos erros do passado.
O outro beneficiário da educação é o 
Estado. Vai ter cidadãos preparados para 
assumir as tarefas na sociedade. O Estado 
necessita de funcionários (homens e mu-
lheres). É verdade que Lutero ainda limita 
a função pública da mulher ao magistério. 
As professoras ensinarão nas escolas de me-
ninas. Mas ele cria espaços para os estudos 
da mulher. O Estado, pensa Lutero, precisa, 
ainda, de juristas e médicos.
Como deve ser a educação? Lutero nega 
a educação repressiva (surras, pressão...). 
A educação deve ser lúdica, isso é, deve-se 
aprender, jogando, cantando e dançando. 
Mas a escola também deve estar vinculada 
ao trabalho. Ao lado das matérias comuns a 
todos os alunos, deveria haver aprendizado 
artesanal. Nas escolas devem existir boas bi-
bliotecas que deveriam ter a Bíblia e outras 
obras básicas. Finalmente, Lutero propõe 
uma escola cristã, gratuita e obrigatória. Os 
professores não são apenas funcionários pú-
blicos,mas também pessoas que exercem um 
ofício espiritual. Quais os valores da propos-
ta de Lutero? Fundamental na proposta de 
Lutero é que com a educação se mantenha 
a liberdade evangélica. Através da educa-
ção se tem acesso à verdade do Evangelho 
e a liberdade dele decorrente. É a liberda-
de evangélica que possibilita a participação 
crítica na sociedade. Depois, Lutero advoga-
va a popularização da educação. Ela não é 
questão de elite leiga ou religiosa. É direito 
fundamental de todo cristão. Finalmente, é 
importante ver que Lutero propõe um novo 
tipo de pedagogia: aprender brincando. 
(...) Lutero considera que a atividade do(a) 
professor(a) é, ao lado do ministério da pre-
gação, a atividade “mais útil, maior e me-
lhor” que existe. O mundo é dádiva de Deus, 
mas, para que haja paz e ordem na terra, é 
necessário que existam muitos professores e 
cientistas crentes e sérios. Esta necessidade 
é para ele uma das razões de se enviar filhos 
à escola. Ao mencionar esta razão, está fa-
lando dos professores destas escolas que são 
pessoas crentes e sérias a exercer a maior 
função que existe. São eles que levam seres 
humanos a Cristo. Educar é levar a Cristo. 
Por isso, educação é dádiva de Deus, ofereci-
da através dos pro fessores, nas escolas.
É verdade que Lutero falava em tempos 
de regime de cristandade. É, também, verda-
de que seus ideais eram humanísticos. Não 
vivemos mais em regime de cristandade; os 
ideais humanísticos também foram abando-
nados. A tarefa do educador cristão, porém, 
continua: preparar pessoas para a salvação 
do mundo; preparar cidadãos capazes de re-
mar contra a correnteza, bons políticos, bons 
administradores, pessoas capazes de tornar 
o mundo mais humano.
Fonte: DREHER, 2004.
Compare:
O percentual do Produto Interno Bruto (PIB) que os países 
desenvolvidos investem em educação em relação ao que se 
aplica na mesma área no Brasil.
Profissão é sacerdócio!
A afirmação enquadra-se na idéia do sacerdócio universal de 
todos os crentes. Proveitosa é a leitura de “A ética protestante 
e o espírito do capitalismo”, de Max Weber.
Confira:
A educação não garante a vida eterna. A educação garante 
a preservação das coisas criadas por Deus. A finalidade da 
educação se cumpre no cuidado com o mundo e com tudo o 
que nele há.
Discuta:
Escola cristã, gratuita e obrigatória.
Reflita e discuta:
Qual o valor que se atribui ao magistério hoje?
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O presente
Quase 500 anos nos separam de Lutero. Em-
bora o mundo tenha mudado, a Igreja Luterana 
ainda mantém sua perspectiva histórica sobre a 
educação e dela não se tem descuidado. O pre-
sente da educação luterana pode reportar-se ao 
início do luteranismo no Brasil.
Quando chegaram ao País em 1824, os imi-
grantes alemães trouxeram tanto a marca do 
clima cultural que se respirava na Europa como 
uma história de ensino dentro da própria Igreja 
em que cresceram.
Tradição escolar entre imi-
grantes alemães
Por ocasião dos 170 anos da imigração ale-
mã no Rio Grande do Sul (1994), o Dr. Lúcio 
Kreutz publicou o artigo Escolas da imigração 
alemã no Rio Grande do Sul: perspectiva histó-
rica, em livro editado pela Ulbra (Os alemães no 
Sul do Brasil) e do qual extraímos boa parte do 
texto deste tópico.
Até meados do século XVIII, predominou na 
Alemanha o motivo religioso na educação. A es-
cola era concebida como uma instância de apoio 
à formação religiosa. É nela que ocorriam os pri-
meiros passos para a formação do cristão. A es-
cola e o professor eram paroquiais. Ao professor 
atribuía-se importante ação pastoral, pois, além 
do magistério, deveria exercer ampla liderança 
social e religiosa. O ensino religioso ocupava lu-
gar central em todo o processo educacional.
O professor era responsável 
pela transmissão do conheci-
mento e pela formação religiosa 
e moral.
Na segunda metade do século XVIII, houve 
um avanço na compreensão da educação, realçan-
do-se a responsabilidade do Estado na educação. 
Entendia-se que a prosperidade e a estabilidade 
nacionais dependiam da educação geral do povo. 
Assim, a partir de 1763, a freqüência à escola 
tornou-se obrigatória, estipulou-se remuneração 
adequada aos professores, organizaram-se livros 
didáticos e implantou-se a inspeção escolar.
No início do século XIX, novos avanços. 
Implantaram-se escolas normais para melhor 
formação dos professores, e um novo pressupos-
to tomava conta da educação: reforma social e 
política só é possível pela educação.
Essa cultura os alemães trouxeram para o 
Brasil. É assim que podemos entender o empe-
nho dos imigrantes em implantar uma escola ao 
lado da igreja. A escola seria um mecanismo 
tanto para a melhor formação religiosa de seus 
filhos quanto para despertá-los para a vivência 
da cidadania. 
Ao lado da igreja, uma escola: 
formação cristã e de cidadania.
Para termos uma idéia do valor atribuído à 
educação pelos alemães, basta recordar que nas 
décadas de 1920/30 já havia, só no Rio Grande 
do Sul, uma rede de 1.041 escolas comunitárias 
(evangélicas e católicas) com 1.200 professores.
É essa cultura de educação que vai pautar o 
fazer religioso da Igreja Evangélica Luterana do 
Brasil, criada em 1900 com a vinda de um mis-
sionário americano ao Sul do Brasil.
A Igreja Evangélica Luterana 
do Brasil (IELB)
A Ielb tem sua origem, no Brasil, em 1900 
e a partir do trabalho desenvolvido pela The Lu-
theran Church – Missouri Synod. Esse grupo foi 
fundado em 1847, em terras norte-americanas, a 
partir da iniciativa de um pastor que sai da Ale-
manha por razões de consciência religiosa. Ocor-
rera que em 1817 o rei da Prússia, Frederico Gui-
lherme III, decretara em seus domínios a união 
da Igreja Luterana com a Igreja Reformada em 
razão de disputas religiosas. A decretada união 
resultara na Igreja Evangélica Unida. Evangéli-
cos luteranos, inconformados com a ingerência 
do Estado nas questões da Igreja, além de pro-
testarem contra o racionalismo que invadira a 
teologia, emigraram para os Estados Unidos na 
esperança de desfrutarem liberdade de culto sem 
a interferência do Estado. É desse grupo que re-
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sulta o Missouri Synod e a Igreja Evangélica Lu-
terana do Brasil.
Oficialmente a fundação ocorreu apenas em 
1904, muito embora já desde 1900 houvesse con-
gregações organizadas no interior do Rio Grande 
do Sul.
A herança religiosa e escolar que se trans-
ferira da Alemanha para os Estados Unidos se 
manteve. Escolas eram criadas e mantidas junto 
com as congregações religiosas. No Brasil não 
foi diferente. Acabou se consagrando o ditado 
“ao lado de cada congregação, uma escola”. Essa 
era uma estratégia empregada entre os imigrantes 
alemães a fim de fixá-los nos locais que ocupa-
ram e não apenas expandir a mensagem religiosa, 
mas também dar-lhes o conhecimento e a educa-
ção necessários a fim de progredirem.
À medida que avançava o trabalho religioso, 
ampliava-se, na mesma medida, a fundação de 
escolas. Assim, em 1907 já havia 13 escolas e, 
em 1924, 68 com mais de 2.000 alunos. Na dé-
cada de 1970, o número de escolas chegou a 130.
Problemas é que não faltaram. Em 1922, 
uma corrente política pretendia eliminar as es-
colas particulares. Em 1938, o Brasil foi toma-
do por uma onda de nacionalismo, motivando a 
proibição do uso de línguas estrangeiras nas es-
colas primárias. Isso sem levar em conta os pro-
blemas decorrentes de duas guerras mundiais em 
que a Alemanha esteve envolvida, ocasionando 
reflexos nos imigrantes aqui residentes e em suas 
instituições, quer religiosas, quer educacionais.
É dentro desse quadro geral que se encon-
tram as origensda Universidade Luterana do 
Brasil (Ulbra).
A Universidade Luterana do 
Brasil (ULBRA)
A chegada da Igre-
ja Luterana – Sínodo de 
Missouri em Canoas dá-
se em 1905, com o atendi-
mento religioso feito pelo 
pastor de São Leopoldo 
(RS), recebendo a deno-
minação de Comunidade 
Evangélica Luterana São 
Paulo. Com a expansão do 
trabalho religioso duas medidas se faziam neces-
sárias: uma capela para as atividades religiosas e 
uma escola para ensinar os filhos dos seus con-
gregados.
A primeira capela e, ao mesmo tempo, a pri-
meira escola foram inauguradas em 1911. Após 
Vista aérea do Campus ULBRA Canoas
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a Primeira Guerra, passadas as hostilidades con-
tra os alemães, a comunidade religiosa sentiu a 
necessidade de ampliar a capela e a escola. A 
inauguração dá-se em 1925 e, no mesmo ano, é 
oficialmente criada a Escola Evangélica Lutera-
na São Paulo.
A Segunda Guerra sobrevém e com ela uma 
série de efeitos desastrosos para as colônias ale-
mãs, como perseguições e entraves burocráticos. 
A Comunidade Evangélica Luterana São Paulo 
também foi afetada nesse período. Seu pastor foi 
aprisionado em 1942, e o professor responsável 
pela escola teve de fugir a fim de não ter o mes-
mo fim. A escola, que até então ministrava suas 
aulas em alemão, passou a fazê-lo em português.
Alunos da ULBRA
No pós-guerra, as atividades gradativamente 
foram sendo retomadas. A Comunidade São Pau-
lo ampliou-se, e a terceira capela foi inaugura-
da em 1965. Em 1966, a Comunidade tornara-se 
independente e recebeu seu primeiro pastor re-
sidente, o reverendo Ruben Eugen Becker, que, 
além das obrigações religiosas, deveria dedicar 
um turno de suas atividades à escola da comu-
nidade. A situação financeira da escola era um 
grande problema, a ponto de pensar-se em fechá-
la.
Elaborou-se, para continuarem abertas as 
portas da escola, um projeto de reformulação 
com vistas a expandir a escola, aproveitando-se 
o momento histórico de forte empenho governa-
mental na educação. O projeto visava à criação 
de um ginásio orientado ao trabalho, um giná-
sio profissionalizante. Daí para diante não parou 
mais o avanço da escola.
Em 1968, lança-se a pedra angular que daria 
origem ao Colégio Cristo Redentor, e tornava-se 
realidade o ensino profissionalizante de segundo 
grau. A cerimônia oficial de inauguração de fun-
cionamento do Colégio Cristo Redentor ocorre 
em 7 de maio de 1969.
Implantado o projeto de ensino profissio-
nalizante no segundo grau, tornou-se inevitável 
pensar em nova expansão, desta vez em direção 
ao terceiro grau. Já desde 1970 se pensava nessa 
direção. Encaminhadas as questões burocráti-
cas, em janeiro de 1972, foi aprovado o funcio-
namento da Faculdade Canoense de Ciências 
Administrativas, com aulas iniciadas em março 
do mesmo ano. Logo a seguir, vieram os cursos 
de Arquitetura, Ciências Contábeis e Educação 
Física, todos funcionando nas dependências do 
Colégio Cristo Redentor. Em 1976, novos cursos 
eram pensados. O projeto para uma universidade 
estava em andamento e, para tanto, adquiriu-se 
em 1978 a área onde hoje se encontra o campus 
central da Universidade.
A caminhada foi premiada, em janeiro de 
1988, com a autorização da criação da Univer-
sidade Luterana do Brasil (Ulbra). Os cursos fo-
ram ampliados, a pós-graduação foi implantada, 
os espaços físicos aumentaram, e novas unidades 
foram abertas em todo o País, fazendo da Ulbra 
uma referência nacional.
ULBRA - Comprometimento 
com sua confissão
O jeito de ser da Ulbra é reflexo do jeito de 
ser de sua mantenedora, a Comunidade Evangé-
lica Luterana São Paulo. A Ulbra confessa, a par-
tir de sua mantenedora, que o mundo é obra de 
Deus e por Ele regido, e não fruto do acaso ou do 
arbítrio. Confessa, igualmente, que Jesus Cristo 
se entregou à morte como sacrifício pela culpa 
humana e ressuscitou para reger as criaturas, bem 
como os corações dos crentes, pelo seu Espírito.
Entende a Ulbra, como parte da Igreja, que 
esta se apresenta como assembléia de todos os 
fiéis que o Senhor congregou pelo evangelho, 
para o fim específico de proclamar a salvação a 
todos os homens. A vocação própria da Igreja é, 
pois, anunciar o evangelho e exercer a caridade à 
imagem de Jesus Cristo, construindo o reino de 
Deus. No entanto, ainda vive no reino do mun-
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do em expectativa pelo reino divino e, por isso, 
não pode a Igreja nem seus seguidores se man-
ter indiferentes às necessidades dos homens e de 
todas as criaturas. O mesmo amor que salva é o 
que constrange a Igreja a assistir todo ser huma-
no, minorando sofrimentos, suprindo carências, 
abrindo novas perspectivas de vida.
Embora confessional, a Ulbra 
respeita a liberdade religiosa e 
rejeita todo e qualquer tipo de 
preconceito.
Essa é uma tarefa a ser construída historica-
mente, e a educação é um desses meios históricos 
disponíveis para chamar o ser humano à comu-
nhão com Deus e habilitá-lo à busca de uma so-
ciedade melhor. Assim a Ulbra confessa.
É em razão de sua visão de Deus, do mundo 
e do ser humano que a Ulbra, embora transparen-
temente luterana, respeita a liberdade religiosa e 
rejeita preconceitos de qualquer natureza. Ciente 
de que não é Igreja, a Universidade vê na educa-
ção um instrumento para promover a formação 
integral do ser humano com intuito de construir 
uma sociedade mais justa e menos carente, sem 
perder de vista, contudo, que a perfeição e a ide-
alidade serão obtidas por obra e graça de Deus, 
quando um novo céu e uma nova terra serão pre-
senteados.
A Ulbra não apenas confessa, mas também 
estimula a vivência diária e constante nas rela-
ções decorrentes das atividades educacionais 
fundamentadas nos preceitos teológicos que as 
regem e motivam. Para isso, zela e cultiva a práti-
ca de virtudes espirituais e rejeita todos os valores 
negativos da natureza humana. Com isso, o que 
pretende é formar profissionais capazes, honra-
dos, honestos, sábios e humanos, que respeitam 
os valores morais e éticos, ainda que numa socie-
dade marcada pela competitividade. Dos egres-
sos da Universidade espera-se o comportamento 
de guias e líderes humanos e altruístas.
Para chegar a esse resultado, a Universidade 
está ciente de que seus alunos precisam de mo-
delos. As pessoas que ocupam qualquer cargo e 
função na Universidade precisam conhecer, com-
preender e defender a qualidade acadêmica e a 
personalidade confessional da instituição. Em es-
pecial, a Ulbra rejeita o comportamento dos ba-
juladores, dos confidentes, dos fofoqueiros e dos 
interessados – que se apresentam como pessoas 
amigas e de confiança, mas que no íntimo apenas 
usam a instituição para benefício e proveito pró-
prio e egoísta. 
O futuro
Teologicamente, educação não é uma opção, 
mas um imperativo. Como imperativo, é impen-
sável deixar de fazê-la, não apenas no âmbito re-
ligioso, apontando diretamente para o reino de 
Deus, mas também no âmbito secular, apontando 
para o reino do mundo.
O cristianismo e a Igreja Evangélica Lu-
terana do Brasil têm ainda muito a oferecer na 
construção de uma sociedade mais justa, espe-
cialmente de uma sociedade, como a brasileira, 
marcada por tantas e profundas diferenças e desi-
gualdades de toda ordem.
Enfatizamos, no tópico anterior, a Ulbra 
como o lugar onde estamos cumprindo a vontade 
divina. No entanto, a educação na Ielb não é feita 
apenas pela Ulbra. Seguindo sua historicidade, a 
Ielb continua a enfatizar a necessidade de escolas 
cristãs, hoje espalhadas por todoo Brasil, com 
o mesmo propósito de formar religiosos que se 
apliquem ao serviço da construção do reino de 
Deus, educar e preparar bons cristãos para a Igre-
ja e o exercício da cidadania, bem como educar e 
preparar cidadãos livres e altruístas.
Incentivo às práticas religiosas na Universidade
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