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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E eLEARNING NA WEB SOCIAL J. ANTÓNIO MOREIRA DANIELA MELARÉ BARROS ANGÉLICA MONTEIRO WH!TEBOOKS Autores J. ANTÓNIO MOREIRA Doutorado e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra. Curso de Mestrado em Multimédia pela Universidade do Porto. Diretor da Delegação do Porto da Universidade Aberta, Portugal e Professor Auxiliar no Departamento de Educação e Ensino a Distância da mesma universidade. Investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra e no Laboratório de Educação a Distância e eLearning (LE@D) da UAb. DANIELA MELARÉ BARROS Doutorada em Educação pela UNESP- Brasil e pela UNED- Madrid. Professora Auxiliar no Departamento de Educação e Ensino a Distância da Universidade Aberta. Investigadora no Laboratório de Educação a Distância e eLearning (LE@D) da mesma Universidade. Colaboradora na Open University no projeto Colearn. Coordenadora da Rede de Estilos de Aprendizagem e editora da revista Estilos de Aprendizage. ANGÉLICA MONTEIRO Doutorada em Ciências da Educação e Mestre em Educação Multimédia pela Universidade do Porto. Professora na Escola Superior de Educação Jean Piaget de Arcozelo. Investigadora no CIIE, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Índice Autores PREFÁCIO Adriana Rocha Bruno APRESENTAÇÃO J. António Moreira; Daniela melaré Barros; Angélica Monteiro CAPÍTULO I EDUCAR NA REDE SOCIAL J. António Moreira; Susana Januário; Angélica Monteiro CAPÍTULO II REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO Maria Teresa Miceli Kerbauy; Vanessa Matos dos Santos CAPÍTULO III REDES SOCIAIS NA APRENDIZAGEM: MOTIVAÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR Luísa Miranda; Carlos Morais; Paulo Alves; Paulo Dias CAPÍTULO IV REDES SOCIAIS EM EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE: O CASO DA PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS Susana Henriques; Filipa Seabra CAPÍTULO V MULHERES EMPREENDEDORAS EM CONTEXTOS RURAIS E APRENDIZAGEM INFORMAL NAS REDES SOCIAIS Ana Catarina Lima; Luísa Aires; José Azevedo; M. Ángeles Rebollo; Rafael García-Perez CAPÍTULO VI RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA: ESTRATÉGIAS, ESTILOS E AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM Maria de Fátima Goulão; Daniela Melaré Barros CAPÍTULO VII RECURSOS EDUCATIVOS EN ABIERTO EN EDUCACIÓN A DISTANCIA María Luz Cacheiro González CAPÍTULO VIII MÍDIAS SOCIAIS E RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS MÓVEIS NA PESQUISA ACADÊMICA DO SÉCULO XXI Alexandra Okada; Antonio Roberto Serra; Claudia Machado CAPÍTULO IX MOOCS: MODELOS PEDAGÓGICOS INOVADORES OU AMEAÇAS PARA A EDUCAÇÃO ABERTA? João Mattar CAPÍTULO X AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ONLINE: A POTENCIALIDADE DIALÓGICA DO FÓRUM EM CONSONÂNCIA COM A INTERATIVIDADE PRÓPRIA DA WEB 2.0 Susan Kratochwil; Marco Silva PREFÁCIO Prefaciar esta importante obra, organizada pelos professores J. António Moreira, Daniela Melaré Barros e Angélica Monteiro, admiráveis pesquisadores e docentes, dedicados incansáveis aos estudos e práticas da Educação a Distância e eLearning em toda a sua capilaridade, é não somente uma honra, mas também uma oportunidade de apresentar-compor-integrar um outro olhar para os olhares e vivências ora registrados pelos autores. Num momento historicamente marcado por intensas transformações mundiais, este livro traz elementos, ideias, conceitos e expressões- manifestações atuais para o campo educacional e, fundamentalmente, faz um convite ao diálogo sobre a Educação contemporânea. Somos cocriadores de um mundo em que as relações humanas são mediadas intensamente pelas tecnologias digitais. Habitamos espaços e produzimos lugares que se revelam como outras possibilidades de existir. As questões e inquietações da contemporaneidade que são apresentadas hoje, em nossos percursos cotidianos, sejam eles online ou não, estão impregnadas de uma cultura que busca acolher a todos como coprodutores, colaboradores, fomentadores, corresponsáveis pelas informações veiculadas e pelas ideias, recursos e produtos cocriados-desenvolvidos-explorados-modificados- consumidos-socializados. Formamos sociedades em que as misturas, a mestiçagem, a (re)mixagem, não são apenas bem vindas, mas fundamentais para sua existência- (im)permanência. Se, por um lado, o ser humano tem no meio social a potência de vida para a sua individuação – no sentido junguiano, e sua singularidade – no sentido deleuziano, por outro lado, as sociedades se fazem, cotidianamente, como mutantes, preservando a potência do (de cada) ser humano como sujeito antropológico de si mesmo e cocriador de mundos múltiplos. Trata-se da integração do ser com o meio e do meio com o ser por obra de movimentos que geram lugares e redes habitados por seres (humanos e pós- humanos) em devir(es), que tendem a questionar (quiçá romper) cada vez mais com os guarda-chuvas hegemônicos (Apple, 1999) que ainda insistem em cobrir nossas cabeças, dificultando tanto nossa mobilidade quanto nossos olhares. As pesquisas vêm registrando mudanças na Educação e, como desdobramento, nos processos de ensino e de aprendizagem. A Educação a Distância e as práticas de eLearning, se disseminam vorazmente e cocriam, provocam e alimentam outras reflexões e possibilidades para a educação, na medida em que as experiências promovidas e vivenciadas pelo online instigam os educadores e pesquisadores a revisitarem, cotidianamente, as ações e o pensamento pedagógico. Tal cenário traz mais e mais experiências, potências, recursos e estratégias para a Educação como um todo. Temos, então, hoje, uma Educação que tende à hibridização – como integração, mistura, articulação de ambientes, recursos, práticas e teorias – em que os espaços e lugares não mais são delimitados, mas redimensionados na contemporaneidade. As tendências recheiam-se de artefatos e espaços ideias: gameficação, plataformas digitais, comunicação por nuvem, celulares, smartphones, tablets e paredes holográficas, inteligência artificial, redes sociais, dispositivos móveis; geolocalização, conteúdo aberto, REA (Recursos Educacionais Abertos), MOOCs (Massive Open Online Courses), POMAR (Percursos Online Massivos Abertos e Rizomáticos), aplicações semânticas, software livre, hibridização, Educação Aberta, aprendizagem do adulto, docência online, redes rizomáticas, linguagem emocional, mediação partilhada, interatividade etc., nomeiam e sinalizam as transformações socioeducacionais. A Educação contemporânea compreende que o nomadismo e a clandestinidade são possibilidades legítimas para a aprendizagem na cultura digital. Somos instigados à prática da caça. Somos caçadores e produtores de inovações. Farejamos pistas que nos levem a lugares desconhecidos ou mesmo proibidos. Tendemos a não aceitar não como resposta. Assumimos a docência e a discência como apropriações de informações, estejam elas onde estiverem. A clandestinidade hoje se configura como espaços a serem desvelados, questionados e invadidos. Docentes caçadores. Somos braconniers. O termo braconagem, palavra aportuguesada do francês braconnage, é trazida por Michel de Certeau (Harel, 2005) em referência à caça ou pesca ilícita, em tempos ou lugares proibidos. Significa adentrar (ou invadir) espaços-lugares do outro, ou que estão com o outro. É questionar a apropriação e a propriedade e, portanto, os processos hegemônicos que concentram territórios nas mãos de uns e não de outros ou ainda de todos. Fazer braconagem é resgatar o que não deveria ser só de um ou de alguém. Ser docente braconier (ou braconeiro) é criar redes rizomáticas. Redes que não se criam de forma estruturada e fechada e, nesta direção, não se permitem aprisionar, não se deixam territorializar. Neste turbilhão sociocultural de gente, de emoções-sentimentos, de informações, de criações, de conhecimentos, de correlações, este livro traztextos que permitirão novas apropriações dos espaços potencialmente multiespacializados da Educação em nosso cenário topsecular. A presente obra, que é multirreferencial, focaliza com maior intensidade alguns temas atuais implicados na Educação a Distância e no eLearning, nomeadamente, as redes sociais digitais e os recursos educacionais abertos. Os cinco primeiros capítulos abordam as redes sociais em suas diversas nuances. Com o capítulo Educar na (Sociedade em) Rede Social, J. António Moreira, Susana Januário e Angélica Monteiro analisam o desenho de um novo paradigma social, refletindo acerca das potencialidades pedagógicas e das limitações de uma rede social como o Facebook. O resgate das discussões acerca das tecnologias digitais nos espaços educacionais sob a perspetiva das redes sociais é realizada pelas autoras Maria Teresa Miceli Kerbauy e Vanessa Matos dos Santos no segundo capítulo intitulado Redes Sociais e Educação. Tais discussões, que questionam a noções de comunidade, identidade e cultura, são profícuas na sociedade hodierna, notadamente marcada pelas mudanças e reconfigurações de um cenário sociotécnico. No terceiro capítulo Redes Sociais na Aprendizagem: Motivação e Utilização dos Estudantes do Ensino Superior, os autores Luísa Miranda, Carlos Morais, Paulo Alves e Paulo Dias mapeiam, junto aos estudantes do Ensino Superior, quais as redes sociais mais utilizadas por eles, bem como o que os leva a tal utilização, e os desdobramentos destas experiências para a aprendizagem. As redes sociais e a aprendizagem colaborativa são temáticas trazidas no artigo Redes Sociais em Educação para a Saúde- O Caso da Prevenção do Consumo de Substâncias Psicoativas, da autoria de Susana Henriques e Filipa Seabra. A partir da análise de blogues que integram assuntos sobre Educação e Saúde, as discussões apontam para a importância das redes sociais para a constituição de comunidades que fomentem discussões de temas nevrálgicos, como a prevenção do consumo de substâncias psicoativas. No capítulo V Mulheres Empreendedoras em Contextos Rurais e a Aprendizagem Informal nas Redes Sociais, proposto por Ana Catarina Lima, Luísa Aires, José Azevedo, M. Ángeles Rebollo e Rafael García-Perez procura-se compreender os principais desafios que a inclusão digital e, mais concretamente, o uso das redes sociais, podem exercer no âmbito do empreendedorismo feminino, em contextos rurais em Portugal. Os três capítulos seguintes tratam dos Recursos Educacionais Abertos. O capítulo intitulado Recursos Educacionais Abertos na Prática Pedagógica: Estratégias, Estilos e Autorregulação da Aprendizagem, de Maria de Fátima Goulão e Daniela Barros, alinha convergências agenciadas pelos REA, como potenciais disparadores da autonomia dos sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem. A investigação acerca das perspetivas erigidas, bem como das novas estratégias fundantes da nova lógica docente, mais dispersa e não mais concentrada na figura majestática do mediador, trazem uma contribuição definitiva para os estudos nesse campo. Maria Luz Cacheiro González traz, no capítulo intitulado Recursos Educativos en Abierto en Educación a Distancia, a experiência da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), cujo objetivo é oferecer serviços online, partindo de um modelo de oferta e complementariedade de mídias visando sua disponibilização em regime aberto ao incorporar as ferramentas da web 2.0. Os REA, alinhados com as mídias sociais, formam o núcleo de investigação do artigo seguinte, Mídias Sociais e Recursos Educacionais Abertos Móveis na Pesquisa Acadêmica do Século XXI, da autoria de Alexandra Okada, António Roberto Serra e Cláudia Machado. Partindo desse ponto de vista, o texto aponta estratégias a serem adotadas no uso das mídias sociais, entendendo-as como ferramentas auxiliares ao processo formador de coautorias e interlocuções, tão necessárias à dissipação de saberes atualmente exigida. Se recursos, estratégias e ambientes, tratados nos capítulos que antecederam, são imprescindíveis para uma Educação a distância de qualidade, o livro não poderia deixar de tratar dos cursos massivos – MOOC. João Mattar, em seu capítulo intitulado MOOCs: Modelos Pedagógicos Inovadores ou Ameaças para a Educação Aberta?, analisa o fenômeno dos MOOCs e questiona se estes cursos serão realmente abertos. A fechar a obra Susan Kratochwil e Marco Silva apresentam o capítulo X, Avaliação da Aprendizagem na Educação Online: a Potencialidade Dialógica do Fórum em Consonância com a Interatividade Própria da Web 2.0, onde discutem a avaliação das aprendizagens em ambientes virtuais de aprendizagem. Fica evidente, portanto, que as temáticas tratadas neste livro refletem a necessidade de estudos e pesquisas, com potencialização para o debate. As vias abertas pelo período atualmente vivido dão a entender que estamos próximos de um ponto de virada epistemológico, e que metodologicamente teremos que igualmente fazer ajustes em nossas ações. Tais transformações passam necessariamente pela forma com que entendemos a mediação, seja ela presencial ou não. Entretanto, urge compreender que não há transformação no fora sem outra, desta vez no dentro. Isto é, as mudanças hoje exigidas não devem se bastar sendo exteriores aos atores do campo mediacional: a interiorização de tais procedimentos nos fará pertencentes a esse tempo, e dele cúmplices fieis. Aproveitem e, como braconeiros, invadam esta deliciosa e instigante obra. ADRIANA ROCHA BRUNO Departamento de Educação Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)-Brasil REFERÊNCIAS Apple, M. (1999). Políticas culturais e educação. Porto: Porto. Harel, S. (2005). Braconagem: um novo modo de apropriação do lugar? Interfaces Brasil/Canadá, Rio Grande, 5. Disponível no endereço: http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/interfaces/article/view/775 Acessado em 15/05/2014. APRESENTAÇÃO Com a atual publicação que intitulámos de Educação a Distância e eLearning na Web Social pretendemos reconcetualizar, redesenhar e repensar o uso de ambientes educativos abertos na web social, quer sejam espaços de aprendizagem formal ou informal. Com efeito, hoje, a aprendizagem em espaços informais na web, como as redes sociais, constitui um desafio para a sociedade em rede, na medida em que estes ambientes reúnem as experiências de vida e as aprendizagens autênticas, as quais constituem o núcleo das experiências em contexto que alimentam a rede de conhecimento. Assim, os textos que a seguir se apresentam, redigidos maioritariamente em português europeu e do Brasil, compõem uma obra que reúne um conjunto de abordagens concetuais e empíricas reportadas a aspetos distintos no domínio do ensinar e do aprender na web social, pretendendo aprofundar a reflexão nesta área em contextos de aprendizagem formal e informal, combinando sinergias de investigadores e profissionais, de diferentes nacionalidades, que vêm desenvolvendo atividades e conhecimento nestes espaços de aprendizagem abertos. A educação aberta colaborativa em rede tem sido considerada uma filosofia educacional importante para enriquecer a aprendizagem ao longo da vida e tem proporcionado a oportunidade de aceder e de construir conhecimento através das redes sociais. O rápido crescimento dos Recursos Educacionais Abertos (REA) na web 2.0, promovendo o acesso e uso livre de conteúdos e tecnologias tem favorecido a construção coletiva do conhecimento com base numa reconstrução colaborativa e redistribuição partilhada. A transição da web 1.0 para o que se designou como web 2.0 tem proporcionado mudanças de práticas e formas de aprender que visam a autonomia, a coautoria e a socialização (Okada, 2012). No entanto, apesar da evolução da web 1.0 para a web 2.0, o simples uso de interfaces desta segunda geração da web não garantem, só por si, avanços ou inovações nas práticas educativas. Muitas interfacesda web 2.0 são subutilizadas quando os referenciais adotados são baseados ainda nas práticas adquiridas na web 1.0, que se caracterizou, essencialmente, pelas interfaces de acesso e navegação e pela aprendizagem eletrónica (e-learning) restrita ao “uso” e “consumo” de recursos digitais. A web 2.0, que surge, pois, para romper com este paradigma de “transmissão” e “passividade”, caracteriza-se pela utilização dos REA e das redes sociais com interfaces abertas para a colaboração, a coconstrução, a coautoria, a coparceria, e o conhecimento coletivo (Okada, 2012). A aprendizagem na web social com REA ou nas redes sociais já ocorre de modo informal, com um número limitado de professores entusiastas que acreditam que a linha de separação entre os espaços de aprendizagem formal e informal é ténue, e tem tendência a diluir-se. Esta diluição, no entanto, não significa esvaziar o sentido e a missão da escola mas, pelo contrário, parece reforçar a necessidade de expansão da intervenção e ação da escola orientada, agora, também, para as redes de conhecimento que se desenvolvem no espaço virtual. Urge, pois, consciencializar os professores e as instituições para esta realidade. Se, antes, se postulou que uma abordagem centrada na alfabetização informática seria o primeiro passo para aproximar o docente de novos ambientes facilitadores do seu trabalho, hoje, com o amadurecimento e reflexão em torno da sociedade digital, sabemos que a utilização das ferramentas informáticas deve ser integrada, também, nestes novos espaços de aprendizagem. Para tal, devem observar-se mais e mais expressivos resultados da utilização das tecnologias nos diversos níveis de ensino, em conformidade com os investimentos em formação que têm sido feitos. Mas, tal como tudo o que julgamos defensável para promover educação, será indispensável, além da (in)formação, o envolvimento ativo, pessoal e a perspetiva de um trabalho de equipa. Centrando-se, sobretudo, na análise do processo de ensinar e aprender a distância esta é, pois, uma obra que nos permite encarar a educação do século XXI como aberta, flexível e inclusiva. Aberta, porque permite-nos ampliar a aprendizagem em larga escala, recorrendo para o efeito 1) aos REA, que incluem materiais, software e aplicativos com fins educacionais e com licenças abertas; 2) a cursos online massivos abertos (MOOCs) baseados em rede, atividades e conteúdo; 3) a eventos online abertos, como as I Jornadas Internacionais Online de Educação, Tecnologia e Inovação, organizadas recentemente pela Universidade Aberta de Portugal, com centenas de participantes de diferentes nacionalidades. Flexível, porque a aprendizagem realiza-se com dispositivos móveis e recursos integrados e distribuídos, que permitem que esta ocorra a qualquer hora e em qualquer lugar com smartphones, tablets ou laptops. E inclusiva, porque as redes sociais têm-se assumido como espaços de aprendizagem informal inclusivos onde todos os cidadãos, têm a possibilidade de reutilizar, reconstruír e redistribuír conhecimento. O capítulo I, da autoria de J. António Moreira, Susana Januário e Angélica Monteiro intitulado Educar na (Sociedade em) Rede Social, abre este livro, e esta secção, analisando o desenho do novo modelo ou do novo paradigma social, enunciado por Castells, e as suas possibilidades educacionais e educativas, colocando no epicentro analítico a revolução tecnológica emergente. No texto, os autores refletem acerca das potencialidades pedagógicas e das limitações de uma rede social como o Facebook em diferentes contextos de aprendizagem. No segundo capítulo, Maria Teresa Kerbauy e Vanessa Santos, traçando um quadro histórico e concetual das redes sociais apresentam-nos o texto Redes Sociais e Educação retomando a discussão sobre as tecnologias digitais nos ambientes educativos sob a perspetiva destas mesmas redes. Nos capítulos seguintes são apresentados alguns estudos que demonstram o impacto crescente das redes sociais no desenvolvimento dos processos de interação, formação de grupos de interesse e partilha, bem como a motivação para a sua utilização nos processos de aprendizagem formal e informal. No capítulo III, intitulado Redes Sociais na Aprendizagem: Motivação e Utilização dos Estudantes do Ensino Superior da autoria de Luísa Miranda, Carlos Morais, Paulo Alves e Paulo Dias é apresentado um trabalho que procura identificar as principais razões que levam os estudantes do ensino superior a utilizarem as redes sociais, assim como as que utilizam com maior frequência, as ações que desenvolvem e as principais potencialidades que lhes reconhecem para a aprendizagem. Por sua vez, no capítulo IV, Redes Sociais em Educação para a Saúde: O Caso da Prevenção do Consumo de Substâncias Psicoativas, Susana Henriques e Filipa Seabra, procurando analisar uma das ferramentas mais populares da web 2.0, o blogue, cujos conteúdos permitem promover competências de educação para a saúde dirigidas a públicos diversificados, afirmam que este pode constituir uma base adequada para o desenvolvimento da aprendizagem colaborativa em ambientes quer formais, quer não formais ou informais. O diálogo entre as redes sociais e a inclusão desenvolve-se no capítulo V Mulheres Empreendedoras em Contextos Rurais e a Aprendizagem Informal nas Redes Sociais, proposto por Ana Catarina Lima, Luísa Aires, José Azevedo, M. Ángeles Rebollo e Rafael García-Perez que procura compreender e analisar as dinâmicas e os desafios que a inclusão digital e, mais concretamente, o uso das redes sociais, podem exercer no âmbito do empreendedorismo feminino, em contextos rurais. Neste estudo evidencia-se a necessidade de formação mais aprofundada a nível destas ferramentas digitais; o valor relacional das redes sociais no quotidiano deste grupo de mulheres; e, ainda, a importância da aprendizagem em rede enquanto meio fundamental para o desenvolvimento e crescimento dos negócios online, criados por mulheres empreendedoras em contextos rurais. O primeiro contributo da segunda secção da obra, centrado sobretudo nos REA intitulado Recursos Educacionais Abertos na Prática Pedagógica: Estratégias, Estilos e Autorregulação da Aprendizagem é da autoria de Fátima Goulão e Daniela Barros. Neste sexto capítulo, as autoras apresentam uma análise descritiva sobre os recursos abertos suportada por referenciais bibliográficos, reflexões e discussões retiradas das práticas pedagógicas vivenciadas. Os resultados trazem, um contributo para as tendências de aprendizagem e estratégias pedagógicas emergentes para a educação tanto formal, como informal realizadas nos espaços de aprendizagem virtuais. Por sua vez, Maria Luz González, no capítulo VII intitulado Recursos Educativos en Abierto en Educacion a Distância, centrando-se na realidade da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), apresenta-nos um retrato referente à política da criação de recursos digitais abertos nesta instituição em Espanha. Aprofundando a temática dos REA, Alexandra Okada, António Serra e Cláudia Machado, escrevem o capítulo VIII, Mídias Sociais e Recursos Educacionais Abertos Móveis na Pesquisa Académica do Século 21, abordando o contexto da era digital marcada pela ascensão das redes sociais, dos REA e da aprendizagem aberta colaborativa móvel. Nesta perspetiva, apresentam algumas estratégias para aplicação das mídias sociais para coconstrução de REA móveis na pesquisa académica, descrevendo o estudo desenvolvido pela rede de pesquisa Colearn sobre a produção colaborativa da obra multimidiática aberta “REA e Redes Sociais”, organizada pelo Knowledge Media Institute - Open University UK durante o projeto europeu OpenScout. Os dois capítulos finais abordam temáticas no âmbito da educação aberta. João Mattar com o capítulo IX, MOOCs: Modelos Pedagógicos Inovadores ou Ameaças para a Educação Aberta?, analisa diferentes modelos de MOOCs, fundamentados em teoriasde ensino e aprendizagem online distintas. O capítulo realiza uma revisão da bibliografia atual sobre o tema e apresenta alguns MOOCs, em língua portuguesa como o MOOC EaD, MOOC-LP e MOOC Tutoria, concluindo que para a compreensão adequada do fenómeno dos MOOCs, é necessário ampliar o conceito de interação em educação a distância, não o restringindo às relações aluno-professor e aluno- aluno. Finalmente, Susan Kratochwil e Marco Silva apresentam o capítulo X, Avaliação da Aprendizagem na Educação Online: a Potencialidade Dialógica do Fórum em Consonância com a Interatividade Própria da Web 2.0, onde discutem a avaliação das aprendizagens de caráter dialógico na interface fórum de discussão de uma plataforma de elearning. De acordo com os autores existe uma necessidade premente destes espaços de comunicação se adaptarem à dinâmica comunicacional da cibercultura, dos blogues, wikis e redes sociais online. O uso tradicional do fórum baseado apenas na interação sem colaboração, será considerado subutilização da web 2.0 se não contemplar colaboração e interatividade. Do conjunto destes contributos resulta, pois, um menu de possibilidades que se pretende sejam ilustrativas dos desafios da aprendizagem formal e informal na web social, no sentido de uma educação aberta, flexível e inclusiva e num regime autorregulado da gestão dos conteúdos e recursos educacionais. Os organizadores J. ANTÓNIO MOREIRA; DANIELA MELARÉ BARROS; ANGÉLICA MONTEIRO REFERÊNCIAS Okada, A. (2012). Open Educational Resources and Social Networks: Co- Learning and Professional Development. London: Scholio Educational Research & Publishing. CAPÍTULO I EDUCAR NA REDE SOCIAL J. ANTÓNIO MOREIRA; Departamento de Educação e Ensino a Distância Universidade Aberta, Portugal jmoreira@uab.pt SUSANA JANUÁRIO; Doutoranda Sociologia, Universidade do Porto, Portugal spjanuario@gmail.com ANGÉLICA MONTEIRO CIIE, Universidade do Porto, Portugal armonteiro@fpce.up.pt 1. INTRODUÇÃO O mundo globalizado em que vivemos atualmente originou uma “nova” sociedade com múltiplas denominações na literatura, como seja a de “sociedade de informação”, a de “sociedade de aprendizagem”, a de “sociedade do conhecimento” ou a de “sociedade em rede” em que o denominador comum é o reconhecimento do papel das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) na reconfiguração dos processos educativos (Monteiro & Moreira, 2012). Os avanços das TIC, e em particular da Internet, têm estimulado de forma decisiva a aprendizagem, para além das estruturas educativas formais. Com a web 2.0 e o elearning 2.0, a ênfase tem sido colocada na aprendizagem em rede e nas potencialidades do designado software social para acesso à informação e ao conhecimento, bem como na capacidade para trabalhar e aprender com os outros numa colaboração global criativa fora das estruturas educacionais, exigindo uma nova ecologia da aprendizagem (Downes, 2005). Ecologia esta marcada, por um lado, pelo desejo de ligar os mundos da aprendizagem formal e informal, e por outro lado, pelo domínio crescente de formas de software social e os novos paradigmas da rede. Neste contexto de networking social com novas estruturas e novos ambientes as possibilidades de aprendizagem têm-se incrementado e diversificado exponencialmente, surgindo novos e estimulantes desafios para os sistemas educativos e para os seus profissionais. Atualmente, os profissionais da educação discutem muito a utilização das tecnologias da Web 2.0 e os serviços de software social (blogs, wikis, mundos virtuais, social bookmarking,...) em contexto educativo, no entanto a utilização das redes sociais nestes contextos ainda encontra bastantes resistências, talvez por ser uma tecnologia recente e ainda incompreendida como ambiente de aprendizagem. Não obstante, não podemos escamotear o facto das redes sociais serem o habitat das gerações que, atualmente, recebemos nas nossas escolas. E por isso, incorporar as redes sociais na escola parece-nos um passo inevitável para mantermos a proximidade com os nossos estudantes. Recentemente têm surgido bastantes trabalhos que procuram identificar e explorar o potencial educativo de redes sociais, como o MySpace, Orkut, Ning, e sobretudo o Facebook, que referem que estas redes podem potenciar a comunicação e a partilha de informação e conhecimento, e pode permitir o desenvolvimento de capacidades e estratégias de ensino/aprendizagem mais dinâmicas e interativas, abertas e criativas, possibilitando uma maior participação dos intervenientes, um melhor aproveitamento dos recursos e mais mobilidade de informação e conhecimento. Perante esta realidade, parece-nos, pois, que faz cada vez menos sentido manter modelos de organização curricular “pré-digitais” centrados numa organização rigidamente hierárquica de conteúdos estáticos sob o controlo do professor. Pelo contrário as questões que agora se colocam terão de se relacionar com a melhor forma de desenvolver currículos inspirados na web 2.0, que possam ser negociados em vez de prescritos, e que proporcionem o desenvolvimento de competências para acederem ao conhecimento (Selwin, 2011). Propomo-nos, pois, neste capítulo, refletir sobre a aplicabilidade pedagógica de uma rede social como o Facebook, procurando analisar possibilidades e limites de utilização da mesma em diferentes contextos de aprendizagem. 2. A SOCIEDADE EM REDE E OS NOVOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO A tarefa de concetualização sobre o tempo e espaço que vivenciamos não deixa de afigurar-se como uma tarefa árdua, não só porque estamos perante a existência de inúmeras e diversificadas perspetivas, como também devido ao facto de muito já se ter pensado, escrito e partilhado sobre a nossa contemporaneidade. Por seu turno, quando intentamos arriscar uma designação ou atributo nominativo ao modelo social atual, o desafio torna-se não só difícil como, eventualmente, arriscado, uma vez estarmos perante inúmeras propostas, cujas bases concetuais e estruturantes não serão, porventura, tão díspares entre si, tendo em conta a realidade que têm em comum. Ainda, e invocando uma vez mais o nosso argumento inicial, não podemos ignorar o facto de que a base para adiantar uma designação sobre modelos e processos sociais implica o estudo histórico e sociológico dos mesmos e nem sempre as designações acautelam esta necessidade, mormente as que se criam por (uma espécie de) decreto. Não obstante, será nossa intenção apresentar algumas características da sociedade atual, sobre o nosso tempo e os processos que aí imbricam, entroncadas sobretudo na análise de Manuel Castells, a qual não só procura dar conta das mudanças sociais ocorridas no final do século XX e as que marcaram a transição para este século, como também pretende analisar os desafios e processos que as referidas mudanças implicarão. Uma das explicações subjacente àquelas transformações prende-se com o que o autor designa de “revolução tecnológica, centrada nas tecnologias da informação” (Castells, 2007: 1). A esta junta-se um conjunto de processos mais ou menos precedentes e mais ou menos concomitantes, tais como a globalização da economia, a tendencial homogeneização cultural e política - estas explicadas pelo colapso do regime soviético e a hegemonia do sistema capitalista, ainda que reestruturado -, um novo sistema de comunicação, desta feita global e digital, etc. Antes de prosseguirmos e de esmiuçarmos um pouco mais as questões e caraterísticas inerentes aos processos sociais anunciados, não podemos deixar, porém, de notar algo que nos parece de relevante importância: o facto de não podermos, e na senda do autor em destaque, Castells, de atribuir à tal revolução tecnológica, caraterizada por novos processos comunicacionais, assentes sobretudo nas novas tecnologias de informação e comunicação, razão suficiente para o desenho de um novo modelo social e/ou de um novo paradigmasocial; antes, devemos ter em conta que a este processo tecnológico, por um lado, subjazem razões sociais que o justificam e o possibilitam e que, por outro lado, existem, em simultâneo, outros tantos processos que, estes sim e em conjunto com o primeiro, poderão explicar o novo modelo ou paradigma social e, inclusive, epistemológico. Não obstante, “embora por si mesma não determine a evolução histórica e a mudança social, a tecnologia (ou a sua ausência) molda a capacidade de transformação das sociedades, assim como os usos que aquelas, através de um processo conflitual, resolvem dar ao seu potencial tecnológico” (Castells, 2007:8). Por seu turno, não podemos dissociar a revolução tecnológica em questão do “processo reestruturação do sistema capitalista” (Idem: 15), este sim crucial para percebermos o novo modelo social. Ainda, e sobretudo, tendo em conta o assunto que pretendemos desenvolver, que se prende principalmente com as possibilidades educacionais e educativas que são desenhadas neste novo modelo/paradigma, não pode deixar-se de colocar no epicentro analítico a mudança tecnológica (revolução, se quisermos) assinalada. Castells designa por informacionalismo o atual modelo de desenvolvimento, assente no princípio de que o sistema produtivo das sociedades informacionais está organizado de modo a que a produtividade seja maximizada através do conhecimento e da proliferação das tecnologias de informação. Por conseguinte, “o informacionalismo visa (...) a acumulação de conhecimentos e maiores níveis de complexidade do processamento da informação” (2007:21). Esta “nova sociedade” informacional é uma sociedade em rede, tendo em conta que “as funções e os [atuais] processos dominantes (...) organizam-se, cada vez mais, em torno de redes e isto representa o auge de uma tendência histórica. As redes constituem a nova morfologia das sociedades e a difusão da sua lógica modifica substancialmente as operações e os resultados dos processos de produção, experiência, poder e cultura. (...) o novo paradigma das tecnologias da informação fornece as bases materiais para a expansão da sua [das redes] penetrabilidade em toda a estrutura social” (Castells, 2007: 605). Na verdade, considerar a estrutura social atual implica o reconhecimento das redes e processos sociais complexos, dada a sua natureza dinâmica, aberta, complexa e constante reestruturação e inovação. Esta configuração social, dependente, como vimos, das tecnologias de informação e comunicação e, sobretudo, de um modo diferenciado de comunicar, não só potencia a irreversível globalização económica, como também, pela forma rápida em que as designadas redes se constituem, reformulam e cessam, consolidam processos localizados que configuram novas pertenças, reforçando identidades. Ou seja, cada indivíduo vai operando sociabilidades diferenciadas ao conectar-se/desconectar-se de diversas redes (grupos) sociais, reformulando, deste modo, as suas vivências em várias esferas da vida. Este mundo imbricado a larga escala, dado que o tempo e o espaço se comprimem (Castells, 2007), pela força da mediatização tecnológica e pela forma como comunicamos hoje, exige novas habilidades e competências ao nível pessoal e ao nível da esfera do trabalho. Uma economia global e estruturada na inovação exige, em primeira instância, novas competências por parte dos trabalhadores e, inevitavelmente, uma reconversão do sistema educativo (tomado aqui em geral). Assim, partindo-se de pressuposto de que o novo trabalhador terá de ser flexível, adaptável às mudanças de forma permanente (ao longo da vida) e autónomo mas envolvido, “requer[-se] uma reconversão total do sistema educativo, em todos os seus níveis e domínios. Isto refere-se, certamente, a novas formas de tecnologia e pedagogia, mas também aos conteúdos e organização do processo de aprendizagem. (...) A política educacional é central em todos os aspectos. Mas não é qualquer tipo de educação ou qualquer tipo de política: educação baseada no modo de aprender a aprender, ao longo da vida, e preparada para estimular a criatividade e a inovação de forma - e com o objectivo de – aplicar esta capacidade de aprendizagem a todos os domínios da vida social e profissional” (Castells, 2005: 27). De facto, o sistema educativo e o subsistema social da aprendizagem não pode ser entendido como alheio aos (novos) processos produtivos dos (novos) processos sociais. Inevitavelmente, a nova cultura em rede estende-se ao sistema de ensino, e, em paralelo ao que foi dito quanto à estrutura (aprendizagem responsável, ao longo da vida para garantir a adaptabilidade e flexibilidade exigidas), a extensão das redes como processo e meio educativos equivalerá a integrar no quotidiano dos indivíduos os próprios processos de aprendizagem. Por seu turno, esta extensão e comunhão das sociabilidades no espaço e tempo parecem configurar um caráter inevitável. 3. REDES SOCIAIS: O FACEBOOK EM CONTEXTO EDUCATIVO As redes sociais não são um fenómeno recente, nem tão pouco surgiram com a web, sempre existiram na sociedade, motivadas pela necessidade que os indivíduos têm de partilhar entre si conhecimentos, informações ou preferências. Porém, como afirma Recuero (2009) as mais recentes descobertas tecnológicas, que propiciaram o surgimento do ciberespaço, permitiram a sua emergência como uma forma dominante de organização social. A este respeito, e recuperando o pensamento de Castells, as redes constituem: “uma nova morfologia social das nossas sociedades e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para a sua expansão penetrante em toda a estrutura social (1999: 565). Por seu turno, Franco define redes sociais como “um processo de socialização, algum tipo de interação coletiva e social, presencial ou virtual, que pressupõe a partilha de informações, conhecimentos, desejos e interesses” (2012: 117). Assim, e sendo as redes sociais espaços coletivos e colaborativos de comunicação e de troca de informação, podem facilitar a criação e desenvolvimento de comunidades de prática ou de aprendizagem desde que exista uma intencionalidade educativa explícita. Estas comunidades virtuais têm-se afirmado como uma importante alternativa à aprendizagem e aos contextos organizacionais tradicionais e, ao serem suportadas pelas tecnologias, tornaram-se na atualidade mais visíveis. Representam ambientes intelectuais, culturais, sociais e psicológicos que facilitam e sustentam a aprendizagem, enquanto promovem a interação, a colaboração e o desenvolvimento de um sentimento de pertença dos seus membros. Neste âmbito se aceitarmos que os ambientes virtuais são ferramentas inovadoras para a criação de comunidades de aprendizagem é crucial reconhecer a necessidade de uma nova perspetiva na criação de contextos de aprendizagem. Assim, perceber como se pode ensinar e aprender, formal ou informalmente, em espaços abertos e de aprendizagem colaborativa, em redes sociais na internet (RSI) é um dos grandes desafios que se colocam a todos os educadores. Como sabemos, atualmente, as redes sociais são parte integrante da vida dos nossos estudantes e entre estas destaca-se o Facebook que é uma das redes sociais mais utilizadas em todo o mundo como espaço de partilha, de interação e de discussão de ideias. O Facebook agrega uma significativa quantidade de recursos, funcionalidades e aplicativos que permitem ações interativas na web, tendo- se tornado, hoje em dia, um espaço inovador no qual se criam e desenvolvem interações, sociabilidades e aprendizagens, estas colaborativas em rede, por meio do diálogo e da construção coletiva de saberes (Educause, 2007). O Facebookfoi criado em 2004 por Mark Zuckerberg, como rede privada universitária, sendo que no início só podiam criar perfis os alunos das universidades admitidas na rede. Em 2006, com a abertura da rede social a todos os internautas, o Facebook experimentou um período de expansão e, depois de algum tempo de maturação, o seu poder atrativo e catalisador veio a contribuir para que cada vez mais jovens adiram a esta rede social. Tirando partido desta crescente popularidade junto dos jovens, os professores têm procurado explorar as potencialidades educativas desta rede. No entanto, tem-se revelado um desafio complexo, porque é necessário que os professores dominem os recursos e aplicativos e os utilizem de forma adequada, sem fazer da rede social apenas um repositório de informação digital estático. Não tendo sido criada com objetivos educativos, o desafio é, pois, aproveitar esta tecnologia da web 2.0 para construir novos ambientes de aprendizagem estimulantes. Para isso, os professores precisam de otimizar a rede promovendo uma forma de aprender com objetivos bem delineados, metodologias e avaliações bem claras e coerentes com os princípios de uma aprendizagem que se deseja colaborativa e construtivista. É inegável que o Facebook, na atualidade, se apresenta como um recurso de desenvolvimento profissional docente importante e como um cenário privilegiado para aprender a conviver virtualmente num processo interativo e comunicacional no ciberespaço. Com efeito, com um perfil e com os recursos básicos disponíveis, é possível construir um espaço de aprendizagem estimulante. O Facebook como recurso ou como ambiente virtual de aprendizagem possibilita que o professor reinterprete a forma de ensinar e de aprender num contexto mais interativo e participativo. É interessante notar que alguns estudos que compararam o uso do Facebook com sistemas de gestão de aprendizagem, como o Moodle, o Blackboard ou o WebCT têm revelado que os estudantes preferem comunicar pelo Facebook (Chu & Meulemans, 2008; Schroeder & Greenbowe, 2009). Recentemente têm surgido ainda mais estudos, em diferentes países, que têm procurado aprofundar a questão da validade da utilização do Facebook nos processos de ensino-aprendizagem. É exemplo disso o projeto Educare desenvolvido pela Universidade de Buenos Aires (UBA), em parceria com a Fundação Telefónica da Argentina, que teve como objetivo estudar as potencialidades pedagógicas desta rede social. Desta experiência resultou o livro El Proyecto Facebook y la posuniversidad: sistemas operativos sociales y entornos abiertos de aprendizage que apresenta relatos de experiências da utilização do Facebook promotoras de uma aprendizagem colaborativa. Também em Portugal, Patrício e Gonçalves (2010) procuraram analisar o potencial educativo do Facebook e concluíram que a rede fomenta uma participação mais ativa dos estudantes na sua própria aprendizagem, na partilha de informação e na geração de conhecimento. As investigações de Menon (2012), Pellizzari (2012) e Alias et al. (2013) sublinham estes resultados com graus de envolvimento e participação muito elevados. Por sua vez, Llorens e Capdeferr (2011) concluem que o Facebook tem um enorme potencial do ponto de vista da aprendizagem colaborativa porque: favorece a cultura de comunidade que se fundamenta em valores à volta de um objetivo comum e que gera sentimentos de pertença e de aprendizagem social; permite abordagens inovadores de aprendizagem, possibilitando, por um lado, a construção do conhecimento e o desenvolvimento de competências, e por outro, a aprendizagem ao longo da vida e atualização profissional mediante a colaboração entre pares; e permite a apresentação de conteúdos com recursos integrantes da rede social, como vídeos, produtos multimédia, blogues,... O guia Facebook Guide for Educators (The Education Foundation, 2013) sistematiza algumas das potencialidades educativas do facebook (Quadro 1). QUADRO 1: POTENCIALIDADES DO FACEBOOK (retirado e adaptado de The Education Foundation, 2013: 5) Contextos educativos formais Contextos educativos não formais Aplicações mais amplas Criação de uma Timeline ou um grupo do Facebook de apoio ao ensino de qualquer disciplina curricular; Criação de um espaço para a submissão de trabalhos de casa e para a revisão de conteúdos; Estímulo a debates sobre temas da atualidade relacionados com os conteúdos disciplinares; Promoção de tutoria e apoio entre pares; Partilha de ideias, vídeos e recursos; Criação de grupos de escolas para tornar a vida mais fácil aos professores e ao pessoal administrativo. Organização de um clube ou uma equipa desportiva; Promoção da integração social de novos alunos; Conceção e criação de conteúdos digitais, incluindo Apps; Organização de simpósios e conferências para os professores; Apoio informal de amigos (gostos) para projetos e outras atividades; Divulgação de podcasts para os estudantes e pares; Criação de grupos privados para professores de escolas, agrupamentos e universidades. Uma ferramenta de comunicação e de difusão com os encarregados de educação e toda a comunidade; Possibilita que os estudantes de línguas conversem com outras pessoas de diferentes países; Permite uma maior aproximação ao estudante com mais dificuldade através da aprendizagem online; Inspiração para o desenvolvimento de competências transversais e enriquecimento pessoal; Ensinar competências digitais a jovens e adultos; Envolver os jovens em ambientes comunitários; Favorece a socialização e criação de novas amizades por parte dos estudantes. Perante estes resultados, ficamos com poucas dúvidas relativamente às potencialidades educativas das redes sociais. Com efeito, estas redes que se desenvolvem no ciberespaço constituem um meio privilegiado para pensar, criar, comunicar e intervir sobre numerosas situações fomentando não só a aprendizagem formal, mas também a aprendizagem informal e não formal. A existência destes espaços não estruturados, afirma-se, pois, como uma oportunidade para a integração das diferentes aprendizagens, concebendo desta forma a educação como um todo. Esta perspetiva deve, de futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto a nível da elaboração de programas como na definição de novas políticas pedagógicas (UNESCO, 2003). Contudo, é importante notar que a rede social Facebook não foi criada para ser utilizada como um ambiente virtual de aprendizagem, embora esta e outras redes estejam a ser utilizadas como tal. E sendo assim, um dos desafios que se coloca ao professor é perceber como poderá utilizar pedagogicamente esta plataforma, porque é necessário também estar consciente de que a sua utilização pressupõe alguns riscos, e por isso há que estabelecer previamente regras e códigos de conduta, tal como em qualquer ambiente de aprendizagem, quer seja presencial, quer seja online. Neste sentido, consideramos igualmente pertinente chamarmos a atenção para algumas dificuldades, limitações ou problemas que podem surgir aquando da sua utilização educativa em contextos formais e/ou não formais. Dificuldades de ordem cognitiva: o overloading de informações a circular no facebook e a exigência crescente de resposta num menor tempo possível, pode fazer que haja um deficit da capacidade de atenção, concentração e de reflexão mais aprofundada sobre determinados conteúdos. Questões de segurança: é preciso ter em consideração alguns aspetos relativos aos conteúdos veiculados pelos membros das redes sociais. Nomeadamente, a garantia da qualidade, da pertinência, da privacidade e dos direitos de autor. Relativamente à qualidade e pertinência, a facilidade que se tem em tornar algo público, sem revisão ou qualquer verificação da sua fundamentação científica permite que circulem informações incorretas ou inadequadas, que, por vezes, tornam-se virais, provocando a sensação de familiaridadecom algo que, na sua essência, legitima falsas conceções científicas, éticas ou morais. Em outros casos, a informação é correta, mas não é adequada aos objetivos educativos ou às características do público-alvo. Relativamente à privacidade, apesar de ser possível definir o nível de privacidade, muitas vezes as pessoas expõem a sua privacidade através da permissão de visualização de informações pessoais, fotografias e conteúdos privados a qualquer utilizador da rede. Quanto aos direitos de autor, o fato de se publicar textos, fotos ou vídeos no facebook não os torna livres dos direitos de autor. Hoje em dia há muita “leveza” na forma de lidar com a apropriação ilegal da propriedade intelectual através da cópia, adulteração ou pirataria de conteúdos. A utilização educativa do facebook exige, pois, que estas questões sejam trabalhadas e respeitadas por todos, professores e alunos. Estamos, pois, perante uma tecnologia da web 2.0 com um imenso potencial pedagógico e perante novos cenários educativos onde predominam espaços de aprendizagem colaborativos e interativos, onde existe autonomia e flexibilidade, assumindo-se o cibernauta como um sujeito ativo que vai construindo o seu próprio conhecimento em ambientes personalizados de aprendizagem. Resumindo, podemos afirmar, e concordando com Basso et al. (2013), que o Facebook, apresenta, por um lado, um enorme potencial nos processos de aprendizagem, e por outro lado, um desafio à educação, na medida em que pode proporcionar um processo dinâmico de ensino-aprendizagem do qual os estudantes se sentem parte integrante. Ao fazerem parte desse processo, revelam-se estudantes com ações mais autónomas e responsáveis pela construção do seu próprio conhecimento. 4. COMENTÁRIOS FINAIS Conceber a educação, hoje, remete-nos para os novos e atuais processos sociais, sustentados significativamente numa cultura em rede, implicando-nos na inevitabilidade de integrar o processo de ensino-aprendizagem no quotidiano dos indivíduo e de potenciar as sociabilidades aí existentes. De facto, nos últimos anos, o uso das redes sociais tem-se intensificado, e na área da educação as experiências proliferam. Como tivemos oportunidade de verificar, o Facebook tem sido alvo de várias experiências exploratórias no campo educativo, em especial no que diz respeito aos processos de ensino- aprendizagem. Os resultados destas investigações indicam-nos, claramente, que as redes sociais apresentam um enorme potencial permitindo, atualmente, equacionar o processo pedagógico de forma diferente. Esta potencialidade torna-se evidente quando o professor utiliza, por exemplo, aplicativos educacionais que promovem experiências de aprendizagem interativa e colaborativa, reforçando assim o sentimento de pertença a uma comunidade virtual de aprendizagem. Tratando-se do uso das possibilidades da web 2.0, é certo que qualquer conclusão que se tire tem de ser considerada transitória e momentânea, pois as frequentes evoluções destes espaços geram mudanças muito rápidas. No entanto, e apesar deste fluxo constante nos impelir para a relatividade dessas conclusões, os resultados de alguns destes estudos permitem-nos afirmar que as redes sociais, como o Facebook, configuram-se como ambientes com potencial técnico e funcional que favorece as conexões entre os participantes na rede e aprendizagens interativas; que possibilitam que os conteúdos sejam organizados em nós da rede para acesso rápido; e que facilitam a partilha de materiais, de conhecimento e de experiências de aprendizagem colaborativa e participativa (Allegreti et al., 2012; Basso et al., 2013; Lisboa & Coutinho, 2012). Efetivamente, podemos afirmar que as redes sociais permitem, atualmente, equacionar o processo pedagógico de forma diferente. No entanto, a mudança não deve ser vista só do ponto de vista tecnológico, mas sobretudo em termos de mentalidade e de prática. Esta realidade implica uma alteração cultural, pois obriga a repensar os papéis dos professores e dos estudantes, e a relação existente entre eles, para além das implicações a nível da planificação de cursos e currículos, sistemas de avaliação, formas de ensinar e aprender, metas a atingir... Na verdade, o papel do professor está em mudança e aproxima-se, com o apoio digital, ainda mais, dum e-moderador, ou seja, de um orientador de aprendizagens. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alias, N., Siraj, S., Khairul, A. & Hussin, Z. (2013). Effectiveness of Facebook based learning to enhance creativity among islamic studies students by employng Isman instructional design model. The Turkish Online Journal of Educational Technology, 12, (1), 60-67. Allegretti, S., Hessel, A., Hardagh, C. & Silva, J. (2012). Aprendizagem nas redes sociais virtuais: o potencial da conectividade em dois cenários. Revista Contemporaneidade, Educação e Tecnologia, 1 (2), 54-60. Basso, M., Bona, A., Pescador, C., Koelher, C. & Fagundes, L. (2013) Redes sociais: espaço de aprendizagem digital cooperativo. Conjectura: Filosofia e Educação, 18, (1), 135-149. Castells, M. (1999). Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra. Castells, M. (2001). La Galaxia Internet. Barcelona: Areté. Castells, M. (2005). A sociedade em rede. Do conhecimento à política (pp. 17-30). In M. Castells; G. Cardoso. A sociedade em rede. Do conhecimento à Acção Política. Debates – Presidência da República, disponível em http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/Sociedade_em_Rede_CC.pdf (cons.17/02/2014). Castells, M. (2007). A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Volume 1. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Chu, M. & Meulemans, Y. (2008). The problems and potencial of Myspace and Facebook usage in academic libraries. Internet Reference Services Quarterly, 13, (1), 69-76. Downes, S. (2005) Semantic networks and social Networks. 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CAPÍTULO II REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO MARIA TERESA MICELI KERBAUY;Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar UNESP, Araraquara, Brasil kerbauy@travelnet.com.br VANESSA MATOS DOS SANTOS Doutora em Educação Escolar pela UNESP, Araraquara, Brasil vanmatos.santos@gmail.com 1. SOCIEDADE, FRONTEIRAS E AMBIGUIDADES A configuração de uma sociedade mundializada a partir do século XX é resultado do processo de internacionalização dos mercados e das economias, alavancado pela globalização num primeiro momento e, posteriormente, pelas tecnologias digitais. O sistema de produção é engendrado por uma matéria- prima completamente diferente do motor a vapor de outrora: a informação. Segundo Castells (2003) vivemos num sistema classificado como capitalismo informacional, pois as trocas comerciais características do sistema capitalista são as mesmas, ainda que estejamos tratando de uma nova matéria-prima. O entendimento de que o próximo passo é a mercantilização do saber e a disputa por informações estratégicas, auxilia na compreensão da leitura de Lyotard (1986: 5) de que do mesmo modo que “[...] os Estados-nações se bateram para dominar territórios e, com isso dominar o acesso e a exploração das matérias-primas e da mão-de-obra barata, é concebível que eles se batam no futuro para dominar as informações”. Mais de duas décadas após a afirmação de Lyotard (1986), a leitura do cenário que hoje se evidencia é baseada na formação de uma nova geopolítica pautada pela capacidade de produção e processamento informacional pelas sociedades. As transformações não ficam circunscritas apenas ao aspecto econômico, mas alcançam a cultura e estruturas da organização social, permitindo novas formas de ser e estar em novos espaços. Com a chegada das redes telemáticas impulsionando o processo de globalização, a noção de espaço e tempo foi subvertida, apresentando novas concepções. A globalização foi alavancada pelas novas tecnologias à medida que a segunda permite que a primeira se expanda a velocidades surpreendentes e que, ao tecer a economia e a política, a empresa e o mercado, as tecnologias delimitam também os espaços e os tempos, as nações e o continente (Ianni, 1999). O espaço agora é deslocalizado, devido à flexibilidade proporcionada pelas tecnologias digitais (Ortiz, 1999). A globalização ganha terreno como novo modelo mercantil econômico em que, mais uma vez, impera a lógica da exploração. Alguns movimentos surgem na luta pelo não-sufocamento das nações menores; afloram os sentimentos de patriotismo, nacionalismo, identidade, comunidade e pertencimento. Enquanto fenômeno, a globalização merece ser especialmente destacada, uma vez que foi através dela que alguns valores passaram a ser padronizados e, em consequência disso, adotou-se também novas concepções de tempo e espaço, inseridos na lógica do acúmulo de capital. A globalização é resultado de um processo que se desenvolveu de maneira lenta, quase imperceptível. Com o enfraquecimento das fronteiras que separavam os três mundos, novos significados começam a surgir para designar as nações de norte a sul, leste a oeste. Enquanto expansão de um novo ciclo do capitalismo, a globalização também traz à cena de debate uma nova sociedade, de caráter global. Embora esta sociedade ainda esteja sendo construída, seu alcance é de ordem planetária, movendo-se sobre nações, impérios, fronteiras geopolíticas etc. O grande desafio está em entender quais as novas significações adotadas pelo local, o regional, o nacional e global no contexto mundial. O espaço desterritorializado – ou, de sua raiz, territorialmente desenraizado passa a envolver a todos e a fazer parte do cotidiano como algo intrínseco. Assim, o local é o cotidiano; é a busca pela identificação com iguais – o pertencimento a um grupo. Neste contexto, laços sociais mais abrangentes são entendidos no domínio do distante. O local torna-se plural – locais – vez que a diferença entre local, global e nacional só acontece na abstração; segundo a ótica de Ortiz (1999: 58): “cada lugar é uma entidade particular, uma descontinuidade espacial”. O local, nacional e global não se opõem, derivando daí, a noção de territorialidades desvinculadas do meio físico (geográfico). O modo de vida dos indivíduos – compreendidos aqui como sujeitos – é desterritorializado e a mundialização da cultura circula livremente em redes desconectadas deste ou daquele lugar (Ortiz, 1999). A cultura torna-se, portanto, mundializada. O espaço, no entanto, não se torna mundializado por si só. Mundial não quer significar, necessariamente, global. Enquanto o primeiro está mais voltado para uma reflexão mental desprovida de limites fronteiriços, o segundo está voltado para o ponto cartográfico no sentido de englobar o mundo. Santos (1997: 31) destaca que “o espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo, senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há espaço mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares”. As possibilidades proporcionadas por novas espacialidades e temporalidades oferecem novas formas de sociabilidade, tornando necessário entender o desenvolvimento de novas formas de agregação social neste novo contexto. Os princípios mecanicistas que balizaram a sociedade industrial e influenciaram sobremaneira a educação já não conseguem mais explicar as transformações pelas quais passa o homem deste novo século. A realidade organizacional da sociedade industrial inspirava o sistema escolar, visto que aquela escola formava sujeitos que iriam viver naquele tipo específico de sociedade. Naquele momento, a metáfora máquina servia como representação da sociedade e, como não podia deixar de ser, a escola reproduzia estas características quer fosse em sua estrutura física (filas de carteiras, sinos para definir horários a serem cumpridos etc), quer fosse nos procedimentos adotados (instrução de ouvir e responder, memorização de textos desprovidos de contexto, disciplinas artificialmente separadas). Ainda hoje adotamos estruturas e procedimentos oriundos daquela época que, conforme as mudanças ocorrem, tem se mostrado cada vez mais obsoletos (Figueiredo, 2002). Potencializada pelas tecnologias telemáticas, a sociedade da informação pressupõe uma nova metáfora para o sistema escolar: a rede. Em contraposição ao modelo individualista e solitário de aprendizagem, a rede valoriza a interação, os contextos, a complexidade, o fluxo e a mudança permanente. A metáfora rede encontra expressão nas novas tecnologias, mas principalmente em novos espaços e tempos, proporcionados pela experiência do ciberespaço. Com a expansão da Internet, este espaço consagrou-se como uma nova dimensão espaço-temporal no interior da qual toda a economia, cultura, política e saber do século XXI vão ocorrer. É possível entender o ciberespaço, segundo Lemos (2004), a partir de duas perspectivas: primeiro, como local em que nos encontramos quando estamos num ambiente virtual (visto que a experiência palpável da virtualidade faz com que seja experimentada uma nova ambiência); segundo, como conjunto das redes de computadores, podendo estes estarem interligados ou não. A tendência é que exista uma união das duas perspectivas com a interligação das redes. O ciberespaço - ou ambiente virtual - caracteriza-se também pela sua configuração em rede. Neste contexto, é comum ouvirmos a expressão “redes sociais” para designar plataformas que possibilitam a interação entre os sujeitos no interior desse novo espaço. É importante destacar que as redes sociais não são dependentes do ciberespaço, sendo que este representa apenas um dos espaços em que essas agregações sociais podem ocorrer. Partindo dessa constatação, entendemos que é preciso apresentar um breve histórico do estudo das redes sociais para, em seguida, situar a expressão atual que elas assumem, numa articulação com a educação. 2. REDES SOCIAIS A relação que o sujeito estabelece com a sociedade é de suma importânciapara a compreensão da formação das redes sociais. No escopo deste artigo, compreendemos que a sociedade deve ser entendida como uma rede de indivíduos em constante transformação. Este fenômeno ocorre por meio da atribuição de funções sociais e da verificação da natureza das relações desempenhadas pelos próprios indivíduos, num processo de contínua interdependência (Elias, 1994). E, assim, esses indivíduos formam uma rede social com características específicas: Numa rede, muitos fios isolados ligam-se uns aos outros. No entanto, nem a totalidade da rede nem a forma assumida por cada um de seus fios podem ser compreendidas em termos de um único fio, ou mesmo de todos eles, isoladamente considerados; a rede só é compreensível em termos da maneira como eles de ligam, de sua relação recíproca (Elias, 1994: 35). Ainda assim, quando tratamos do tema redes, entramos em contato com variadas concepções que, por sua vez, resgatam idéias que vão desde o senso comum até formulações teórico-conceituais acabadas provenientes de campos específicos do saber, notadamente das Ciências Sociais, Antropologia e, mais recentemente, da Comunicação. De uma forma geral, todas as concepções parecem ter um ponto em comum: falar em redes pressupõe um trabalho articulado com a noção de troca de informações. Loiola e Moura (1997: 54) destacam que, com relação à imagem mental que formamos das redes, “a presença de um ponto central, de uma fonte geradora/propulsora, não figura no significado popular de rede”. Fica claro que a noção inicial de redes faz referência à algo desprovido de núcleo central ou diretivo; neste caso, as redes não são hierárquicas. O estado da arte dos estudos em redes sociais, no que se refere especificamente ao campo das Ciências Sociais, pode ser expresso por meio de duas vertentes, quais sejam: 1) a rede enquanto elemento capaz de explicar a estrutura social (teoria da explicação da realidade) e, 2) a rede como uma forma de descrever as relações sociais presentes no cotidiano. Essa descrição buscava a constatação empírica de diferentes relações sociais num campo social circunscrito (Scherer-Warren, 2007). No que se refere às sociedades modernas, torna-se importante fazer a diferenciação entre redes de relações sociais e um “conjunto de ação” das redes que se origina em contexto específico para executar uma determinada tarefa. Mesmo assim, a análise das redes sociais ainda enfrenta questões emblemáticas das mais variadas naturezas por conta das ambiguidades presentes em um mundo cada vez mais conectado por processos informacionais. Porquanto seja possível uma multiplicidade de enfoques, depreende-se que é necessário, antes, traçar um breve histórico sobre os estudos de redes sociais para que, posteriormente, articulem-se o conceito às novas possibilidades educacionais. 2.1. BREVE HISTÓRICO DOS ESTUDOS DAS REDES SOCIAIS A origem das primeiras articulações rumo à formulação de uma teoria das redes sociais remonta às décadas de 1930 e 1940, porém numa forma bastante incipiente. Segundo Lozares (1996), a teoria de redes sociais sofreu diversas influências provenientes da Sociologia, Psicologia, Antropologia e da Matemática. Ancorada na Psicologia, a Teoria Gestalt influenciou a forma como concebemos a Teoria de Redes à medida que resgatava a forma e percepção de um objeto. Para a Gestalt, percepção de um objeto ocorre dentro de uma totalidade organizada e complexa em que, esta mesma totalidade, apresenta propriedades específicas que diferem da soma das propriedades das partes (Scott, 1991 apud Lozares, 1996). Ainda referenciando o estudo documentado por Lozares (1996), Kur Lewin (1936, apud Lozares, 1996) também deu uma importante contribuição ao analisar que a percepção e o comportamento dos indivíduos a de um mesmo grupo estão relacionados ao espaço social formado pelo próprio grupo e seu entorno que resulta, em última instância, em um campo de relações. As relações construídas neste campo social podem ser estudadas e analisadas por meio de procedimentos matemáticos. Nessa mesma linha conceitual podemos destacar os estudos de Moreno (1934) e sua análise das relações sociais por meio da sociometria que buscava compreender, com base na Sociologia, os pontos de interação entre os sujeitos envolvidos em um determinado processo e contexto. Trata-se, portanto, de uma análise de redes sociais que ocorre numa perspectiva nomotética, ou seja, uma análise que busca descobrir e descrever padrões da estrutura social (Scherer-Warren, 2007: 32). Os estudos de Lewin e Moreno foram formalizados por meio dos estudos matemáticos da teoria de Grafos criado pelo matemático Ëuler no século XVII (Newman, 2003). Um grafo é uma representação matemática de um conjunto de nós que se encontram conectados por arestas, resultando em uma rede (Recuero, 2005). No cerne dessas pesquisas sociológicas estava a idéia de focalizar os pequenos grupos com o intuito de explicar como se constituiria sua estrutura, bem como buscar parâmetros para compreender de que forma esta mesma estrutura poderia afetar comportamentos individuais. Nesse sentido, Barnes (1954) realizou um estudo numa pequena comunidade de pescadores em que foi possível constatar a importância da amizade e do parentesco como relações informais e interpessoais na produção do sentimento de integração social. Em sua concepção, a totalidade da vida social deveria ser vista como um conjunto de alguns pontos – os chamados nós – que seriam ligados por linhas para formar redes totais de relações. Embora ressalte esta nova concepção de totalidade social, o que Barnes (1954) propõe é apenas uma metáfora. Ainda assim, ele foi, sem dúvida, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da idéia de redes como recurso de análise oferecendo, inclusive, alguns critérios para o procedimento, tais como: o tamanho da rede e atenção dada aos efeitos da relação entre dois indivíduos. No entanto, enquanto metáfora, Mitchell (1969) explica que tal concepção não valoriza importantes aspectos das redes sociais, quais sejam: status, papel social e a intensidade dos laços relacionais. Uma forma de valorizar tais aspectos seria a utilização de uma concepção mais analítica em detrimento de uma abordagem metafórica que, embora tenha sua importância ao abordar a questão filosófica das redes, não consegue comprovar sua eficiência do ponto de vista de um instrumento de análise das relações sociais. No entanto, o próprio Mitchell (1969) reconhece a limitação de uma abordagem analítica das redes porquanto os sujeitos seriam representados apenas como “nós” e os relacionamentos como “linhas e elos”. Desta forma, fica claro compreender porque Mitchell defende que a análise de redes sociais só teria validade se utilizada de forma complementar a outros métodos, provenientes da Sociologia e da Antropologia. A idéia de rede enquanto uma ferramenta de análise dos relacionamentos pessoais, seus elos e o contexto em que se inscreve foi utilizada por Elizabeth Both (1971) em uma de suas pesquisas, o que a tornou uma das primeiras antropólogas a utilizar e documentar os resultados obtidos com base na análise de redes sociais. É importante destacar que, entre a década de 1950 e 1960 poucos sociólogos trabalharam com a perspectiva das redes sociais. No entanto, entre as décadas de 1970 e 1980, um salto foi dado e, a partir daí, proliferaram as pesquisas que se utilizavam da perspectiva e dos métodos das redes sociais como instrumentos de análise. Lozares (1996) chega a afirmar que este é o período em que estudos de redes sociais atingem a maioridade. Com isso, muito do aparato conceitual e metodológico ligado à Teoria de Redes é construído e, consequentemente, os procedimentos de análise ganham sofisticação e respeitabilidade ao longo dos anos. Para Scherer-Warren (2007), a abordagem idiográfica (baseada em estudos históricos e etnográficos) tornou- se relevante a partir domomento em que as redes sociais passaram a ser utilizadas para a pesquisa de ações coletivas e movimentos sociais. Vale destacar aqui o importante impulso inicial dado pelos estudos conduzidos por Granovetter (1973). Em suas pesquisas com redes sociais, o sociólogo identificou dois padrões interacionais: laços fracos e laços fortes. Diferentemente do que se acreditava até então, Granovetter descobriu que padrões interacionais que representavam laços fracos eram mais importantes na manutenção de uma rede social que os laços fortes, pois eles seriam os responsáveis por fazer a ponte com vários grupos sociais. A explicação está justamente no fato de que indivíduos que estabelecem laços mais fortes geralmente estão circunscritos aos mesmos círculos sociais, não variando as relações. Em contrapartida, geralmente, os indivíduos com que se estabelecem laços mais fracos estão presentes em outros círculos, permitindo a variabilidade de grupos sociais. A década de 1990 é marcada por estudos mais robustos que expressam uma Teoria de Redes Sociais mais lapidada por conta de pesquisas anteriormente desenvolvidas e da emergência de uma nova concepção de espaço fomentada pelas tecnologias digitais. Nesse sentido, Scherer-Warren (2007) destaca a questão das redes sociais na sociedade da informação por meio de novas abordagens e movimentos societários, porém com viés voltado para as Ciências Sociais. Paralelamente, desenvolve-se também o detalhamento dos estudos voltados para a Análise de Redes Sociais (ARS) – campo que se desenvolve notadamente no final dos anos 90. 2.2. REDES E CIÊNCIAS SOCIAIS Do ponto de vista das Ciências Sociais, o conceito de rede social é algo acabado. Na tentativa de tornar mais claros os estudos das dinâmicas das relações sociais, muitos estudos recorreram à Matemática, Antropologia, Biologia, Geografia, entre outras áreas do saber. A temática atravessa a questão espaço-temporal, uma vez que permite novas leituras da realidade em função de fronteiras que já não são mais determinadas por mapas cartográficos. Em essência, o debate se faz em torno de novas possibilidades de compreensão das interações sociais nestes contextos. A resultante do novo contexto pode ser expressa por mapas recortados, culturas hibridizadas e o espaço geográfico atravessado por quatro grandes fluxos que determinam as dinâmicas das interações sociais: movimento de pessoas ou fluxos migratórios, movimentos comerciais ou fluxos de mercadorias, movimentos de informações ou fluxos informacionais e, por fim, movimentos de capitais ou fluxos financeiros. Estes fluxos, que antes estavam circunscritos aos limites geográficos dos territórios nacionais, hoje ultrapassam essas fronteiras e acentuam culturas e padrões transnacionais de sociedades mundializadas (Dias, 2007). O estudo das redes sociais também precisa ser pensado a partir de uma articulação destas no contexto da sociedade da informação com base em uma tripla dimensão: social, espacial e temporal. Estas dimensões, por sua vez, expressam conflitos de naturezas diversas, quais sejam: o tradicional e o moderno (ou pós-moderno), o local e o global, o indivíduo e o coletivo (Scherer-Warren, 2007). A relação que se estabelece entre as redes e o tempo reside, antes, na possibilidade de comunicação em tempo real. O diferencial desta comunicação está no fato de que ela permite uma conexão de tempos sociais distintos. Vale a pena lembrar que a comunicação em tempo real ganhou relevo principalmente em decorrência do progresso tecnológico, que trouxe consigo o uso de suportes que permitem a comunicação em tempo real, ainda que os sujeitos estejam em espaços diferentes, com temporalidades históricas próprias. Retomando a história da humanidade, pela primeira vez, cria-se “...um potencial para uma dialógica entre culturas com raízes históricas diversificadas e, quiçá, um laboratório para a construção de relações interculturais de reconhecimento, respeito, solidariedade entre o tradicional e o moderno...” (Scherer-Warren, 2007: 37-38). Os tempos sociais são distintos, mas é possível que co-existam e partilhem pontos semelhantes e divergentes, mas experimentando uma nova experiência calcada na sinergia entre o virtual e o presencial. Isso ocorre como resultado do progresso tecnológico e da hibridização das culturas que se fazem presentes nas redes informatizadas. Em que pese existirem variadas críticas nesse sentido, deve-se lembrar que este movimento abre possibilidades que nenhuma das partes alcançaria isoladamente; trata-se de uma complementação entre o virtual e o presencial. O debate agora se desloca para a questão do território enquanto expressão de uma área demarcada geograficamente. Sobre as diferenças entre as redes, Scherer-Warren (2007) esclarece-nos que as redes primárias, quer sejam individuais ou coletivas, são geralmente presenciais. As redes virtuais, por outro lado, ultrapassam essa fronteira e criam verdadeiros territórios virtuais em que a adesão dos sujeitos não se faz em função da proximidade geográfica, mas sim por afinidade política, cultural e ideológica. Embora essas redes se expressem sob diferentes formas de existência, a influência de uma sobre a outra é latente. Isto é, os objetivos podem ser partilhados, ainda que de diferentes formas, em diferentes territórios. As fronteiras tradicionais são deslocadas e, desta forma, o local torna-se global. Os sujeitos globais podem re-revisitar o plano local, demonstrando que é possível realizar o caminho inverso. As razão deste movimento pode estar no fato de que as redes sociais têm se tornado mais globais e mais locais, num movimento que ocorre de forma simultânea e paralela. Estes movimentos ocorrem ainda, conforme ressalta Scherer-Warren (2007: 39), na medida em que “há cada vez mais conexões do espaço mundial com os assuntos dos espaços domésticos”. Em essência, não é a forma (virtual ou presencial) que garante a existência da rede, mas sim as dinâmicas interacionais por ela suportadas, a sociabilidade presente nas conexões. As formas de sociabilidade possíveis nas redes podem ser analisadas de acordo com as categorias propostas por Scherer-Warren (2007), quais sejam: reciprocidade, solidariedade, estratégia e cognição. A concepção de reciprocidade faz referência à noção de proximidade – entendida aqui no sentido de vizinhança – e está diretamente relacionada à idéia de sobrevivência cultural. A dimensão de solidariedade expressa relações de ajuda mútua e são desveladas principalmente nos movimentos sociais – situações em que extrapolam os limites locais e podem chegar a escalas planetárias. A dimensão estratégica, por sua vez, tem sido utilizada na compreensão das dinâmicas políticas dos movimentos sociais. Enquanto estratégia de ação, a rede (como forma de organização) traz a possibilidade de relações mais horizontais e, portanto, mais democráticas. Neste sentido, a difusão de informações de forma mais ampla e rápida torna possível a conexão de iniciativas locais e globais, resultando num processo de fortificação das lutas; trata-se de uma única voz, ainda que os corpos biológicos estejam fixos em um determinado espaço geográfico. Ainda com relação à categoria solidariedade, a dimensão cognitiva lança especial atenção para as novas narrativas presentes na sociedade da informação. Para descortinar esta questão, torna-se importante destacar que, se antes se privilegiava o sujeito da transformação social, a narrativa das redes concebe o sujeito como expressão de múltiplas identidades, em constante transformação. A dicotomização das classes cede lugar ao reconhecimento do outro por meio da identificação de seus pontos de concordância e divergência. A coexistência de múltiplas linguagens, formatos, vivências, etc, resulta em conflitos que são, por sua vez, benéficos. Compreendemos, portanto, que o conflito possibilita o reconhecimento do outro com o exercício
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