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Cultura da Convergência

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/
DEFINIÇÃO
Formação de comunidades em rede, configuração das redes sociais e de novas formas de
participação e interação do sujeito.
PROPÓSITO
Refletir sobre como a cultura da convergência permite a compreensão das transformações sociais,
culturais, políticas e tecnológicas nos cenários comunicacional e informacional.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o novo paradigma da transformação midiática no âmbito das inovações tecnológicas e
de suas repercussões na sociabilidade
MÓDULO 2
Aplicar os conceitos de mobilização social, ágora digital e transpolítica no presente contexto
socioinformacional
/
INTRODUÇÃO
Pense sobre o papel das redes sociais na sua vida e, principalmente, os contextos, as situações e
as motivações de uso de cada uma delas. Depois de compreender as suas especificidades,
analise como a cultura da convergência permite que você poste, curta, compartilhe, comente e
transite por entre assuntos − dos mais leves aos mais complexos.
Vivemos em uma sociedade que, aparentemente, não consegue mais se desfazer da internet, com
todos os benefícios (e malefícios?) trazidos por ela. As convergências chegaram a tal ponto que
não basta ter todas as informações na palma da mão e a um clique de distância. Atualmente,
acompanhamos os debates político-partidários acalorados nas comunidades virtuais e os
compartilhamentos de múltiplas ideologias nas redes sociais.
É NECESSÁRIO, PORTANTO, QUE NOS QUESTIONEMOS: COMO
OCORREM ESSES PROCESSOS DE PARTICIPAÇÃO? QUAIS SÃO
AS ESTRUTURAS E OS AGENCIAMENTOS ENVOLVIDOS
NESSAS QUESTÕES? DE QUE MODO PASSAMOS DE USUÁRIOS
A ATORES SOCIAIS PARTICIPANTES DE UMA
CIBERDEMOCRACIA?
MÓDULO 1
/
 Identificar o novo paradigma da transformação midiática no âmbito 
das inovações tecnológicas e de suas repercussões na sociabilidade
A cultura da convergência é um novo paradigma no cenário comunicacional, não apenas pelas
inovações tecnológicas que a acompanham, mas pela forma como reelabora as relações sociais,
políticas, culturais e econômicas em ambientes que integram a vida online com a vida offline.
É, portanto, um propulsor das muitas transformações midiáticas que acompanhamos
cotidianamente pelas redes sociais, pelo acesso em plataformas de streaming ou mesmo pelo
consumo em comércios eletrônicos.
CULTURA DA CONVERGÊNCIA
TALVEZ VOCÊ CONHEÇA O TERMO CONVERGÊNCIA, MAS
SABERIA DETERMINAR O QUE FAZ DELE UMA CULTURA QUE
JÁ É PARTE DA VIDA MATERIAL, INTELECTUAL, PROFISSIONAL
/
E SOCIAL DE UM NÚMERO IMENSO DE PESSOAS AO REDOR
DO MUNDO?
Uma resposta possível para isso, especialmente em contextos comunicacionais e informacionais,
está em Henry Jenkins. Ele afirma que ao falar em convergência se refere:
(...) AO FLUXO DE CONTEÚDOS ATRAVÉS DE
MÚLTIPLAS PLATAFORMAS DE MÍDIA, À COOPERAÇÃO
ENTRE MÚLTIPLOS MERCADOS MIDIÁTICOS E AO
COMPORTAMENTO MIGRATÓRIO DOS PÚBLICOS DOS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO, QUE VÃO A QUASE
QUALQUER PARTE EM BUSCA DAS EXPERIÊNCIAS DE
ENTRETENIMENTO QUE DESEJAM.
(JENKINS, 2008)
Em outros termos, à cultura da convergência corresponderiam não apenas transformações
tecnológicas, mas também transformações culturais em escala global. Logo, estamos falando de
consumidores (usuários ou prosumers) instigados a procurar informação, fazer conexões, criar
inter-relações e, assim, buscar ligações implícitas ou explícitas entre os meios de comunicação
colocados em dispersão e variabilidade.
Segundo Jenkins (2008), pensar a cultura da convergência é refletir sobre como ela ocorre
dentro dos cérebros dos consumidores individuais e em suas interações sociais com
outros.
PROSUMERS
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/
Termo em inglês que une as palavras producer (produtor) e consumer (consumidor),
caracterizando esse papel duplo.
MIGRAÇÃO DIGITAL
Acompanhando as múltiplas transformações causadas pela cultura de convergência, temos o
crescimento da chamada migração digital. Tal expressão conceitual encontra guarida nas
explicações do intelectual espanhol Lorenzo Vilches que, de forma pioneira, estabeleceu que
existe uma migração das maneiras de se fazer economia e consumir conectadas às lógicas dos
meios de comunicação e da sociedade da informação.
De acordo com Vilches (2001), a migração digital diz respeito, acima de tudo, a sujeitos
interconectados que chegam à nova fronteira da comunicação e do real. Uma fronteira que
não separa mais geograficamente o globo, mas redefine, inclusive, o conceito de globalização. Um
cruzamento não apenas de limites geográficos, mas também dos (citados) limites comunicacionais
e reais.
Dessa maneira, vale a pena pensar como as novas conformações dos meios digitais aproximam
as pessoas, as corporações, os espaços culturais, os ambientes educacionais etc. Como tudo,
porém, essa não é uma posição consensual: há posicionamentos críticos que apontam justamente
o oposto − como as relações sociais são afetadas por essa migração que, ao fim, acaba por
produzir distanciamento, isolamento social e exclusão digital.
/
NESSE SENTIDO, SOMOS TODOS EMIGRANTES DE UMA
NOVA ECONOMIA CRIADA PELAS TECNOLOGIAS DO
CONHECIMENTO, QUE SUPÕE O DESLOCAMENTO
PARA UM PLANETA ALTAMENTE TECNIFICADO.
(VILCHES, 2001)
Por fim, de acordo com o autor, a migração digital nos mostra que novos serviços e novas formas
de informação artística, cultural, audiovisual e estética começam a fazer parte de metassistemas
de informação interconectados, ou seja, que são parte de uma cultura da convergência que se
moderniza diariamente.
METASSISTEMAS
Metassistema é um conjunto de elementos/engrenagens, dentro de outro sistema maior. Tem por
função a descrição, a modelação e a análise de outros sistemas com os quais se vinculam.
METASSISTEMAS DE INFORMAÇÃO
Pautados pela cultura da convergência e pela migração digital, os metassistemas de informação
podem ser entendidos como parte de uma sociedade em rede, na qual existe a necessidade de
interconectar os modelos comunicacionais tradicionais e emergentes.
Caracterizados pela fusão da comunicação interpessoal com a de massa, segundo Cardoso
(2007), eles possibilitam a conexão entre receptores e emissores em uma nova matriz de
conhecimento informacional. Essa matriz parte de vinculações hipertextuais e as interliga aos mais
variados dispositivos de mídia usados pelas pessoas no mundo todo.
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/
SOCIEDADE EM REDE
Sociedade interconectada não apenas pela internet, mas também por outras redes informacionais,
como de informação financeiras ou governamentais.
Em consequência aos processos de convergência, os metassistemas de informação passam por
uma complexificação progressiva de suas estruturas internas, tornando essencial a geração de
códigos informacionais auto-organizadores.
SÃO OS CHAMADOS PROCESSOS DE MACHINE LEARNING,
ISTO É, OS PROCESSOS DE APRENDIZADO DAS MÁQUINAS
COMO FORMA DE COMPREENSÃO DOS ALGORITMOS E DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL QUE MELHORAM AS EXPERIÊNCIAS
DOS USUÁRIOS CONECTADOS EM REDE.
Como a migração digital possibilita não apenas uma amplitude de acesso aos seus usuários, mas
um processo de automatização, atualização, aprimoramento e aprendizado contínuo interno a
esses metassistemas, os processos ocorrem por meio das próprias máquinas que fazem parte dos
metassistemas (daí a ideia de “meta” = aquele ou aquilo que produz reflexão sobre si).
/
Mesmo em um cenário de mutações tecnológicas constantes, é preciso lembrar a importância dos
meios de comunicação tidos como tradicionais (a imprensa, a TV, o rádio, entre outros). A
justificativa para essa posição é assinalada por Cardoso (2007) ao afirmar que os metassistemas
de informação também são constituídos por ambientes do mundo offline.
POR ISSO TEMOS DE QUESTIONAR SOBRE COMO A
TELEVISÃO, O RÁDIO E OS JORNAIS MUDARAM OS
SEUS CONTEÚDOS, AS FORMAS DE JORNALISMO E AS
ESTRATÉGIAS ECONÔMICAS COM A CHEGADA DA
INTERNET.
(CARDOSO, 2007)
Afinal, a cultura da convergência postula justamente a integração entre as muitas formas do fazer
comunicacional e não apenas entre aquelasjá nascidas nos ambientes online.
/
CENÁRIO E HISTÓRICO DAS REDES SOCIAIS
Na atualidade, com os usos das redes sociais expandidos para além de um mero entretenimento,
torna-se impossível ignorar o papel das sociabilidades digitais desenvolvidas por meio das redes,
das comunidades virtuais e dos espaços criados originalmente na Web e que, logicamente, não se
restringem somente a ela. Assim, como resultado direto dos processos de convergência e
migração digital, é possível vislumbrar, nas redes sociais e nas comunidades virtuais, a
representação mais nítida de como as transformações midiáticas afetam a vida cotidiana dos
sujeitos. Pessoas e marcas desejam estar visíveis.
As redes sociais na internet constroem formas de interação que são únicas do ponto de vista de
ruptura com as noções de proximidade física. Algo que, na visão de alguns teóricos, promove,
além da mobilidade simbólica no campo das ideias, uma mobilidade muito mais objetiva a partir da
ascensão e da estabilidade dos celulares (smartphones) e de outros dispositivos móveis como
parte da vida ordinária.
/
 As funcionalidades de um smartphone condensam várias das nossas atividades cotidianas e
produzem, ao fim, processos de mobilidade extremamente significativos.
Observa-se que a própria dinâmica da industrialização e da urbanização da era moderna é
responsável por introduzir a noção de que precisamos estar sempre em movimento, em ação.
Então, nas palavras de André Lemos (2007), as mídias reconfiguram os espaços urbanos (dos
subúrbios aos centros) e as zonas rurais, já que o uso de celulares, o acesso à internet, a
participação em redes sociais e a construção de comunidades virtuais não se restringem apenas
ao espaço das urbes.
 EXEMPLO
Essa reconfiguração de espaços rurais, assim como do alcance e das potencialidades da mídia
digital, é retratada no premiado filme Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho. Nele, uma
comunidade do interior no Nordeste se mobiliza através das redes e dos dispositivos móveis para
se defender. Enquanto drones passeiam pelos céus, e estrangeiros chegam à cidade, os
habitantes do pequeno povoado percebem que ele não consta mais no Google Earth. Diante das
ameaças que surgem, os habitantes identificam os inimigos e criam coletivamente um meio de
defesa.
/
Tal fenômeno (conectando as discussões sobre mobilidade e redes sociais) também avança ao
terreno acadêmico que busca por definições para entender o que se passa na sociedade.
A ATUAL INTERCONEXÃO GENERALIZADA ENTRE AS
PESSOAS TEM CHAMADO A ATENÇÃO (...) SOBRE
SEUS EFEITOS NO QUADRO DAS RELAÇÕES
INDIVIDUAIS E IGUALMENTE NA FORMA COMO OS
COLETIVOS SE COMPORTAM QUANDO SE
CONSTITUEM COMO REDES DE ALTA DENSIDADE.
(COSTA, 2005)
Por essa ótica de leitura comunicacional, é relevante observar o exercício coletivo de construção
da informação providenciado nas comunidades virtuais. No campo do jornalismo, por exemplo,
acrescentam-se comentários e novas análises nas redes sociais, envolvendo usuários e
produtores das informações. Recuero (2009) afirma que as redes sociais, em última análise,
acrescentam valor às notícias.

/
1969
Em termos históricos, os primeiros relatos de serviços que permitiam algum de tipo de
compartilhamento ou socialização de dados entre os usuários de um sistema informatizado
surgiram a partir de 1969. Isso se deu com o desenvolvimento da tecnologia dial-up e, por fim,
segundo D’Aquino (2012), com o lançamento do CompuServe (Serviço comercial de conexão à
internet em nível internacional muito propagado nos EUA).
1971
Segundo D’Aquino (2012), outro passo importante nessa evolução foi o envio do primeiro e-mail
em 1971, sendo seguido sete anos mais tarde pela criação do Bulletin Board System (BBS), um
sistema criado por dois entusiastas de Chicago para convidar seus amigos para eventos e realizar
anúncios pessoais. Essa tecnologia usava linhas telefônicas e um modem para transmitir os
dados.
/


/
1985
O fato mais marcante que compõe o surgimento das redes sociais e a possibilidade de
comunidades virtuais se dá a partir da America Online (AOL), em 1985, quando as pessoas
podiam criar perfis virtuais e comunidades para trocar informações e promover discussões sobre
assuntos diversos.
1990
De acordo com D’Aquino (2012), até o início da década de 1990, houve um grande avanço na
infraestrutura dos recursos de comunicação. Por exemplo, em 1984 surgiu um serviço chamado
Prodigy para desbancar o CompuServe — feito alcançado uma década depois.
/


/
2020
O uso das redes sociais cresceu a ponto de alguns estudiosos postularem que o termo
comunidade demonstra peculiaridades nunca antes vistas ou mesmo que tenha mudado de
sentido. Há quem fale da falência das comunidades e do desgaste desse termo, enquanto outros
miram as possibilidades e mesmo os focos de resistência.
A SENSAÇÃO DE PERTENCIMENTO NAS
COMUNIDADES VIRTUAIS
A busca pelo senso de comunidade é algo que, obviamente, antecede e muito o advento das
redes sociais.
Como muito bem explica Zygmunt Bauman (2003), atualizando O mal-estar na civilização de
Freud, fazer ou não fazer parte de um grupo é algo que a evolução humana apresenta em toda a
sua trajetória biopolítica e social.
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/
ZYGMUNT BAUMAN
Zygmunt Bauman foi um sociólogo polonês de origem judaica nascido em 1925. Ele teve de se
refugiar com sua família na então União Soviética quando os nazistas invadiram a Polônia em
1939. Após o término da Segunda Guerra, Bauman se formou em Sociologia pela Universidade de
Varsóvia, onde posteriormente passou a lecionar. Em 1971, ele recebeu uma cátedra em
Sociologia na Universidade de Leeds, Inglaterra, ocupando-a até 1990. Bauman continuou
vivendo em Leeds como professor emérito e nesse período escreveu suas principais obras e
manteve influente presença no debate público até sua morte, em 2017.
/
 As comunidades eram o forte da rede social mais popular dos anos 2000.
Algo que é, muitas vezes, complexo e contraditório, pois, como lembra Bauman, não ter
comunidade significa não ter proteção, ainda que a vida em comunidade dependa do cerceamento
de algumas liberdades.
No universo digital, muitas são as semelhanças que acompanham as constituições sociais,
identitárias, políticas e culturais por entre as comunidades pré-redes sociais até a criação das
virtuais.
Estamos em um momento no qual a figura do prosumer que atua nas redes sociais ganha novos
contornos, especialmente quando o tema da vez são as produções jornalísticas.
/
 Prosumers
Isso se dá, entre outros pontos, porque participantes de comunidades virtuais vão atuar nas redes
sociais com um papel informativo em diferentes vetores; segundo Recuero (2009), como fontes,
como filtros ou como espaço de reverberação das informações.
SÃO RELAÇÕES EXTREMAMENTE RELEVANTES PARA O
JORNALISMO NO ESPECTRO DO ESTUDO DAS REDES SOCIAIS.
Logo, as consequências práticas (no continuum da vida online e offline) são vistas, por exemplo,
no papel das redes sociais e das comunidades virtuais na construção ou deposição de figuras
políticas, de regimes de governo, de manifestações sociais e uma infinitude de outras práticas de
atuação que não se prendem mais única e somente ao ciberespaço.
ESTRUTURA E AGENCIAMENTO DAS REDES
SOCIAIS
A estrutura das redes sociais permite que ocorram conexões por um ou vários tipos de relações,
além de compartilhamento de valores e de objetivos comuns entre pessoas, organizações,
instituições e mesmo inteligência artificial das mais variadas naturezas.
/
Como é o caso dos chatbots, programas de computador cada vez mais aperfeiçoados que
emulam conversas, tons e linguagem coloquial com usuários de várias plataformas.
Sob essa lente de análise, Elizabeth Saad ainda mostra que as redes sociais colocam como a
base de sua estrutura, necessariamente, um termo que se tornou a palavra-chave das relações
sociais hodiernas: a visibilidade.
COM O PREDOMÍNIO DE PLATAFORMAS SOCIAIS E DOS
APPSQUE INCENTIVAM A MOBILIDADE PARTICIPATIVA,
PERSONALIZADA, GEOLOCALIZADA E OPORTUNIZADA
DE QUEM POSSUI ALGUM DISPOSITIVO CONECTADO À
REDE, ASSISTIMOS A UM EXERCÍCIO (E QUASE UMA
BATALHA) COLETIVO DE CAPTURA DAS ATENÇÕES.
/
(SAAD, 2016)
As formas de agenciamento produzidas pelas redes sociais digitais tangenciam a compreensão de
que os sujeitos que se movem nesses espaços de comunidades virtuais são lidos como atores
sociais.
Em outros termos, o “agir” não está reservado unicamente a uma dimensão moral das escolhas
voluntárias. Ao contrário, o agenciamento é também uma forma de demonstração de como se
pode agir de maneira nem sempre consciente ou proposital, ainda mais tratando-se do agir
coletivo nas comunidades virtuais, visto como um reflexo que só é possível pela própria estrutura
participativa das redes sociais.
A discussão sobre o coletivo e o individual dentro da estrutura e do agenciamento das redes
sociais passa por um processo de negociação entre as preferências, os valores e as crenças dos
atores que fazem parte dessas comunidades virtuais. A interconexão deixa mais evidente como
nossas preferências se relacionam e podem ser moldadas pelas preferências dos outros.
/
E NÃO PODEMOS ESQUECER QUE TAL NEGOCIAÇÃO
NÃO É NEM EVIDENTE NEM TAMPOUCO FÁCIL. ALÉM
DISSO, O QUE CHAMAMOS DE PREFERÊNCIAS
"INDIVIDUAIS" SÃO NA VERDADE FRUTO DE UMA
AUTÊNTICA CONSTRUÇÃO COLETIVA, NUM JOGO
CONSTANTE DE SUGESTÕES E INDUÇÕES QUE
CONSTITUI A PRÓPRIA DINÂMICA DA SOCIEDADE.
(COSTA, 2005)
Mas se, dentro ou fora da rede, a elaboração das preferências individuais envolve o coletivo, como
apontado por Saad, a rede traz uma possibilidade − e, em alguns casos, uma demanda de
visibilidade −, além de uma agilidade na interação, que modula diferentemente a relação indivíduo-
coletivo.
Entenda um pouco mais sobre comunidades virtuais, coletivos em rede e redes de movimentos
sociais.
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Aplicar os conceitos de mobilização social, ágora digital e 
transpolítica no presente contexto socioinformacional
No jogo de forças citado no módulo anterior, entram em cena os coletivos em rede e as redes de
movimentos sociais que, na esteira das revoluções digitais, têm sido comumente confundidos.
Laços sociais, mas também políticos, ganham novas configurações diante do atual paradigma
informacional e comunicacional.
OS COLETIVOS EM REDE E AS REDES DE
MOVIMENTOS SOCIAIS
Antes de prosseguirmos, é fundamental conhecermos os conceitos dos termos e saber diferenciá-
los.
Coletivos em rede
São formas de agrupamento que ocorrem no locus das redes sociais e das comunidades virtuais
de modo que os sujeitos que dele participam se identifiquem ou se projetem uns nos outros por
/
meio de interesses compartilhados.

Redes de movimento sociais
As redes de movimentos sociais, por sua vez, são agrupamentos e conexões entre quaisquer
movimentos − como LGBTQI+ ou sem-teto, por exemplo −, sem necessariamente uma ligação
com redes sociais.
Dando o exemplo dos coletivos políticos, Francisco Rolfsen Belda e Laiara Perin (2017) são
categóricos ao afirmar que os canais de comunicação online são os principais meios que podem,
ao menos em tese, gerar uma apropriação dos instrumentos de participação política, o que
envolve um novo elo com a informação, que potencializa instrumentos de debate e a cidadania.
De acordo com Belda e Perin (2017), entre as características fundamentais dos coletivos de
ativismo político contemporâneos que utilizam os chamados cibermeios como instrumento de
mobilização social estão a participação majoritária e a posição de liderança exercida por nativos
digitais.
Dentro da rede de movimento social, a efemeridade dos nós que conectam um ator social ao outro
é ponto central da discussão de autores como Karine Pereira Goss e Kelly Prudencio. Elas
defendem que o padrão organizacional da ação coletiva atual é uma rede de grupos
compartilhando uma cultura de movimento e uma identidade coletiva.
NATIVOS DIGITAIS
Assim são chamados os indivíduos que nasceram ou cresceram com o uso das tecnologias
digitais em sua vivência de maneira banal, como parte das experiências mais básicas de
socialização humana. Estão, portanto, familiarizados com os modos de formação de coletivos
desse meio.
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/
E ESSAS REDES FAZEM E DESFAZEM SEUS NÓS,
TORNANDO PROBLEMÁTICA A DEFINIÇÃO DE
MOVIMENTOS SOCIAIS COMO SISTEMAS FECHADOS.
(...) O CAMPO DE AÇÃO PERMANECE, MAS NÃO SEUS
ATORES.
(GOSS; PRUDENCIO, 2004)
Olhando por esse ângulo, os movimentos sociais, mesmo os que tiveram seu início
independentemente dos meios virtuais, não podem mais se omitir perante os debates e as
decisões políticas, sociais, culturais e econômicas que surgem nos fóruns da Web, nas
comunidades virtuais e nas discussões suscitadas, por exemplo, pelos influenciadores digitais.
Demandas específicas como a discussão do racismo e da homofobia, mesmo atuando em campos
distintos, podem se unir para o debate público que leve ao bem comum dos sujeitos que vivenciam
em simultaneidade esses processos de opressão.
/
OS MOVIMENTOS SOCIAIS TEMATIZAM QUESTÕES QUE ANTES
ESTAVAM MUITO MAIS RESTRITAS À ESFERA PRIVADA,
DOMÉSTICA E ÍNTIMA (COMO AS QUESTÕES DE GÊNERO, DE
ORIENTAÇÃO SEXUAL, DEBATES SOBRE RACIALIZAÇÃO E
ETNICIDADE, DISCUSSÕES SOBRE CAPACITISMO E
DEFICIÊNCIA ETC.). NO ESPAÇO DAS REDES SOCIAIS E DAS
COMUNIDADES VIRTUAIS, GANHARAM MUITA FORÇA DE
EXPRESSÃO. SEGUNDO GOSS E PRUDENCIO (2004), NENHUM
ATOR SOCIAL CONTEMPORÂNEO LUTA SOZINHO, MAS ATUA
EM REDE, NUMA ARTICULAÇÃO QUE É GLOBAL E CUJA AÇÃO
É LOCAL.
CONFIGURAÇÃO DAS REDES SOCIAIS NA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A análise da importância das redes sociais e das comunidades virtuais possibilita compreender o
papel que elas exercem nas democracias contemporâneas. Entre outros pontos, é preciso
entender que os usuários das redes sociais são atores sociais que estruturalmente podem alterar
o cenário político de uma cidade, de um estado ou de um país.
As redes sociais configuram-se como espaços de participação cuja essência está naquilo que
poderíamos chamar de política do reconhecimento. Nas palavras de Costa (2005), trata-se de
reconhecer no outro – como uma atitude de inclusão e integração – as suas habilidades, as suas
competências, os seus conhecimentos e os seus hábitos de modo a compartilhar todas essas
características pela empatia.
/
A política do reconhecimento opera de modo a trazer os usuários das redes sociais como
fomentadores do debate político (não necessariamente partidário) na esfera pública emoldurada
pela sociedade da informação. E, segundo Costa (2005), isso por meio da aptidão de perceber,
detectar, localizar numa outra pessoa uma característica que não havia sido percebida antes.
 RESUMINDO
Segundo Costa (2005), quanto mais um indivíduo interage com outros, mais ele está apto a
reconhecer comportamentos, intenções e valores que compõem seu meio. Inversamente, quanto
menos alguém interage (ou interage apenas num meio restrito), menos tenderá a desenvolver
plenamente esta habilidade fundamental que é a percepção do outro. Mas reconhecer é também,
e ao mesmo tempo, dar valor a alguém, aceitá-lo em seu meio, integrá-lo como colega ou
parceiro.
A configuração das redes sociais nos contextos da sociedade da informação e da politização
crescente experimentada nos ambientes online pode ser entendida, em uma leitura baseada na
obra de Manuel Castells (2000), a partir de cinco características muito relevantes (mas não
exclusivistas):
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/
MANUEL CASTELLS
Manuel Castells é um dos mais importantes sociólogos da atualidade. Nascido na Espanha,
lecionou na Universidade de Paris e na prestigiosa École des Hautes Études en Sciences
Sociales. É autor do já clássico A sociedade em rede, publicado originalmente em 1996.
A INFORMAÇÃO COMO MATÉRIA-PRIMA
Werthein (2000) ressalta que, diferentemente do que acontecia no passado, quando a informação
era usada com o objetivo decriar novas tecnologias, atualmente as tecnologias é que permitem ao
homem atuar sobre a informação propriamente dita.
OS EFEITOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Eles se inserem fortemente na vida individual e coletiva, uma vez que a informação é parte de
toda atividade humana. Logo, não há como não ser afetado diretamente pela nova tecnologia.
A LÓGICA DAS REDES SOCIAIS
Como consequência das duas características anteriores, tais lógicas caracterizam todo tipo de
relação complexa implementada nos processos de socialização digital: interação, participação,
reverberação, compartilhamento e, algumas vezes, transformação social.
A FLEXIBILIDADE DOS PROCESSOS TECNOLÓGICOS
A tecnologia favorece os chamados processos reversíveis, ou seja, além de permitir modificações
e edições na informação colocada ao consumo dos usuários, as redes sociais ainda têm a
capacidade de reorganização e de reconfiguração dos interesses de cada um dos sujeitos
partícipes do mundo virtual (basta ver, na atualidade, o papel dos algoritmos, por exemplo).
A CULTURA DA CONVERGÊNCIA
De acordo com Werthein (2000), o ponto central aqui é que trajetórias de desenvolvimento
tecnológico, em diversas áreas do saber, tornam-se interligadas e transformam-se as categorias
segundo as quais pensamos todos os processos.
/
REDES, SOCIABILIDADE DIGITAL E
TRANSPOLÍTICA
As redes sociais são afeitas aos processos de socialização. Os laços construídos por meio das
redes possibilitam uma sociabilidade que, nas palavras de Santos e Cypriano (2014), atua na
prática dos compromissos com rosto.
Ainda que de forma diferente das interações face a face, o cultivo dos laços sociais é estimulado
pelo reconhecimento de si e do outro (como mostra o exemplo das fotos nos perfis, os avatares)
como copartícipes de um espaço operado pela mesma lógica. Os autores partem da premissa do
cuidado necessário à criação e manutenção de conexões, o que sempre exige atenção,
disposição, sutileza etc.
DECORRE DAÍ MUITO DO QUE SE TEM A
COMPREENDER SOBRE A INCRÍVEL ADESÃO DOS
USUÁRIOS QUE FAZ COM QUE O FACEBOOK
DESPONTE ENTRE AS REDES SOCIAIS ONLINE MAIS
/
FREQUENTADAS DO MUNDO. É PRÓPRIO DA
PLATAFORMA OFERECER UM SERVIÇO QUE OPERA
COMO FACILITADOR NA FORMAÇÃO DE LAÇOS
SOCIAIS.
(SANTOS; CYPRIANO, 2014)
As sociabilidades digitais (ou em rede) possibilitam meios de interação que, no ambiente online,
constroem formas de comunicação que podem resultar em reforço ou desestímulo às
sociabilidades vivenciadas fora dessas redes. Exemplos disso podem ser vistos quando alguém
sai de um grupo de familiares no WhatsApp após uma discussão político-partidária naquele
espaço ou quando um usuário bloqueia outra pessoa no Instagram após o fim de um
relacionamento conturbado. Essas ações significam sentimentos, emoções e atitudes que
possuem e produzem efeitos reais, que se sobressaem ao universo das comunidades de afetos
compartilhados nas redes.
Pode-se dizer que as sociabilidades digitais transbordam para as relações do dia a dia. No
exemplo do Facebook, como afirmam Santos e Cypriano (2014), é possível ver que quando se
compartilha informações em que todos se reconhecem, os comentários reforçam os traços
comuns e, no mais das vezes, são efusivos. Ou, como sinaliza Braga (2011), ao pensar sobre a
vinculação das redes sociais com as dinâmicas de sociabilidade e de relação entre pares: nesses
ambientes, é conveniente manter relações amistosas, cordiais, mesmo com estranhos. Falar de
modo formal e frio pode ser entendido como arrogância e grosseria, então as relações nessas
redes são “pessoalizadas”, mesmo que superficialmente.
/
Segundo Recuero (2009), partindo do pressuposto de que as comunidades virtuais formadas nas
redes sociais são compostas, por extensão, de representações dos atores sociais e de suas
conexões, é possível afirmar que fazer parte desse universo de trocas, ressignificações simbólicas
e atuações (que podem ser, muitas vezes, militantes) das comunidades é uma forma de provar a
existência da diferença e dos diferentes em coletividade. Algo necessário em meio a um cenário
/
cada vez mais fragmentado, individualizado e personalizado. E é justamente nesse espaço que a
transpolítica se faz presente.
Um dos maiores estudiosos do tema, Eugenio Trivinho (2006) explica que o conceito de
transpolítica traz uma demarcação social-histórica, tecnocultural e operacional específica: vincula-
se exclusivamente ao modus operandi dromocrático da cibercultura, que ele defende como
cultura definidora da nossa época, e ainda define como civilização midiática avançada.
DROMOCRÁTICO
Conceito criado e discutido pelo pesquisador brasileiro Eugenio Trivinho, inspirado no filósofo
francês Paul Virilio (1932-2018). Diz respeito aos obstáculos enfrentados pelas pessoas no uso da
internet, das ferramentas tecnológicas e no acesso aos mecanismos de participação vinculados à
comunicação digital. No contexto da cibercultura, a dromocracia está ligada aos processos de
exclusão digital.
A transpolítica está relacionada à descrença radical em relação ao Estado e, de igual forma, à
cena política e partidária convencional. Logo, vincula-se também um descrédito às instituições
herdadas da modernidade (como é o caso, mesmo conceitual, da ideia de democracia
representativa e do processo eleitoral tradicional, por exemplo).
Segundo Trivinho (2006), grupos sociais e mesmo indivíduos vinculados às comunidades virtuais
começam, assim, a ter apreço pela transpolítica enquanto saída ou mesmo resposta às suas
descrenças, uma vez que coincidiram “a ruína mais acabada e incontornável do Estado” e a
“emergência irreversível da transpolítica dos fenômenos tecnológicos”. O autor aponta que tal
arranjo ocorre na forma-fluxo da comunicação em tempo real como vetor de articulação e
modulação da vida humana.
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/
Dessa maneira, não é surpresa que as pessoas participem muito mais ativamente de discussões
acaloradas na Web e em coletivos em rede do que propriamente se organizem por meio de redes
de movimentos sociais reais e atuantes dentro e fora de cliques, postagens, curtidas e
compartilhamentos.
NOVAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO E
INTERAÇÃO: A CIBERDEMOCRACIA E A
ÁGORA DIGITAL
As participações e as interações no mundo digital, ainda que moldadas em grande medida por
visões mais pessimistas como a da transpolítica, reverberam a possibilidade de outras leituras
mais otimistas, como alguns desenvolvimentos dos conceitos de ciberdemocracia e de ágora
digital.
Para Dutra e Oliveira Junior (2018), por exemplo, tanto a ciberdemocracia quanto a ágora digital
são permeadas por participações de sujeitos que vislumbram a transformação política da
sociedade, dos governos e dos representantes eleitos.
/
 Manifestação no Egito durante a Primavera Árabe (2011), ilustrando o que se entende pelos
usos sociopolíticos voltados à transformação de governos e nações inteiras.
Uma definição didática e clara sobre o que é ciberdemocracia é trazida pelo intelectual espanhol
Carballido (2008):
O TERMO “DEMOCRACIA” TRANSCENDE O ÂMBITO DA
FILOSOFIA POLÍTICA (UMA FORMA DE GOVERNO) E DA
FILOSOFIA MORAL (UMA COLEÇÃO DE VALORES
ÉTICOS PARA ORIENTAR A VIDA E O
COMPORTAMENTO DOS INDIVÍDUOS EM SOCIEDADE)
PARA TRANSFORMAR-SE EM UM CONCEITO
COMUNICACIONAL (A POSSIBILIDADE DO ACESSO
DIRETO À INFORMAÇÃO SEM INTERMEDIÁRIOS).
/
(CARBALLIDO, 2008)
Baseando-se em Pierre Lévy (1999, 2004) e em seus estudos sobre o ciberespaço, Dutra e
Oliveira (2018) acreditam que os indivíduos que transitam pelas redes sociais começam a se
expressar pelos meios de comunicação digital como forma de reavivamento ou mesmo
ressemantização das antigas ágoras gregas (praças públicas), nas quais os cidadãos realizavam
discussões públicas, debates, arguições e assembleias para decidir os rumos da democracia.
Para os autores, a analogia ao conceito da ágora digital seria a interação entre os cidadãos em
tempo real por meio de ferramentas digitais.
 Ágora, no centro de Atenas, Grécia.Interações essas que celebram novas formas de comunicação em um espaço que
sincronicamente exerce papel de mídia e de local de viver, isto é, o ciberespaço. Ou, como Lévy
(1999) explica, nas novas ágoras digitais coexistem a diferença e os diferentes, mas os sujeitos
acabam por se conectar a partir de novas formas de comunicação que formam os “processos
abertos de colaboração”. Logo, é na internet (como um espaço que reflete e refrata o tecido social)
que a democracia passa por transformações estruturais e estruturantes que modificam o modo de
se fazer política na contemporaneidade:
/
OS PARÂMETROS DE COMUNICAÇÃO DIGITAL,
PROPICIADOS PELA INTERNET, ELIMINARAM OS
RUÍDOS DA FORMA ANALÓGICA E TORNARAM A
COMUNICAÇÃO MAIS DIFUSA, INFLUENCIANDO A
OPINIÃO PÚBLICA PARA ALÉM DOS LIMITES
GEOGRÁFICOS EM VIRTUDE DA GLOBALIZAÇÃO,
OCASIONANDO UMA ALTERAÇÃO ONTOLÓGICA,
AFETANDO A RELAÇÃO DO CIDADÃO COM O ESTADO E
TORNANDO POSSÍVEL UM EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO
AMPLIADO, SEJA PELO ATIVISMO POLÍTICO NA
INTERNET, NAS CONSULTAS PÚBLICAS REALIZADAS
OU REALIZÁVEIS, OU, AINDA, NUM MOLDE TANGÍVEL
DE EXERCÍCIO DE DEMOCRACIA DIRETA, FACILITADO
PELO EMPREGO DA GRANDE REDE.
(DUTRA; OLIVEIRA JUNIOR, 2018)
Alguns teóricos avaliam que um dos aspectos fundamentais de solidificação das comunidades em
redes (e, por conseguinte, nas ágoras digitais) reside no sentimento de confiança mútua entre os
indivíduos. Algo que também se vincula ao espaço da ciberdemocracia. Para Costa (2005), por
exemplo, essa confiança e sua construção estão diretamente relacionadas à capacidade que cada
um teria de entrar em relação com o outro, percebendo-o e o incluindo em seu universo de
referência.
Dader (2001) afirma que, por mais otimista que seja essa visão de participação da sociedade em
espaços digitais e potencialmente transformadores, vale ressaltar que estamos falando de uma
ciberdemocracia possível, que sai de visões idealistas ou utópicas para uma realidade palpável
e excetuável.
/
TEÓRICOS COMO CARBALLIDO (2008) ALERTAM QUE PODE
SER DEMASIADO FANTASIOSA A IDEIA DE QUE A PARTIR DA
CIBERDEMOCRACIA ESTARÍAMOS ASSISTINDO A UM TIPO DE
REVOLUÇÃO ELETRÔNICA CONTRA AS IMPOSIÇÕES DE
AUTORIDADE OU LEVANTES AUTORITÁRIOS DE
DETERMINADOS GOVERNOS. AFINAL, SE OS CIDADÃOS ESTÃO
ATUANDO E MANTÊM PRESENÇA CONSTANTE NAS REDES,
NÃO SE PODE ESQUECER QUE TAMBÉM OS GOVERNOS E AS
FORMAS INSTITUCIONAIS DE PODER SABEM COMO AGIR NOS
AMBIENTES DIGITAIS, PARA O BEM E PARA O MAL.
/
Assista ao vídeo a seguir e conheça melhor os desafios da ciberdemocracia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
/
As novas formas de participação e interação propiciadas pela cultura da convergência são
auxiliadas pelos processos de migração digital e evidenciadas pelas sociabilidades desenvolvidas
nas redes sociais e nas comunidades virtuais. De acordo com Werthein (2000), nesse novo
paradigma, a lógica de redes e as tecnologias digitais permitem modelar resultados imprevisíveis
da criatividade que emanam da interação complexa, desafio quase intransponível no padrão
tecnológico anterior.
Quando o assunto é o espaço de participação política, faz-se necessário refletir sobre como as
configurações das redes sociais permitem o surgimento da “ágora digital” na sociedade da
informação. É relevante observar como muitos autores pontuam que esse debate não é
monológico ou que não se chega a ele com uma única resposta, correta e inconteste ao final da
discussão. Ao contrário, as relações criadas nas redes sociais e nas comunidades virtuais, como
um todo, são complexas justamente porque estão instauradas em novas formas de participação e
interação. Formas que são frutos diretos do paradigma comunicacional baseado e promovido pela
cultura da convergência.
 PODCAST
Agora, o especialista Anderson Lopes encerra o tema falando sobre a cultura da convergência.
REFERÊNCIAS
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BELDA, F. R.; PERIN, L. Ciberativismo e coletivos brasileiros em redes sociais: práticas de
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& Diversidade – Revista de Ciências Sociais da PUC-Rio, n. 9, ago./dez. 2011.
CARBALLIDO, J. R. S. Perspectivas de la información en internet: ciberdemocracia, redes
sociales y web semántica. In: ZER, v. 13, n. 25, 2008.
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D’AQUINO, F. A história das redes sociais: como tudo começou. In: Tecmundo, 2012.
DUTRA, D. C.; OLIVEIRA JUNIOR, E. F. Ciberdemocracia: a internet como ágora digital. In:
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WERTHEIN, J. A sociedade da informação e seus desafios. In: Ciências da Informação, v. 29,
n. 2, maio/ago. 2000.
EXPLORE+
Para saber mais sobre a cultura da convergência e os seus vínculos específicos com o
campo do jornalismo, visite o site do Grupo de Pesquisa Convergência e Jornalismo, da
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Para analisar a relevância das redes sociais na construção de gosto, mobilidade e
comunidades virtuais, assista ao documentário Fyre Festival. A história, baseada em fatos,
apresenta a organização e a divulgação de um grande evento musical no Caribe através das
redes sociais. Mesmo contando com o apoio de celebridades e influenciadores digitais, o
evento foi um fiasco.
Para se manter atualizado acerca das discussões sobre a ciberdemocracia e a ágora digital,
assista à palestra Redes sociais e assimetrias da informação: rastreamento, rastreabilidade
e democracia na era da economia digital, da Ulepicc-Brasil, em parceria com o Grupo de
Estudo em Economia da Cultura, da Informação, do Conhecimento e de Comunicação
(GECICC) e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES).
CONTEUDISTA
Anderson Lopes da Silva
/
 CURRÍCULO LATTES
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