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ELABORAÇÃO DE PARÁGRAFOS/TEXTOS ARGUMENTATIVOS TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos uma idéia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela. Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas. TESE, ou proposição, é a ideia (ponto de vista) que o autor do texto defende, pode ser polêmica ou não, pois a argumentação implica divergência de opinião. Os ARGUMENTOS de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos). ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc. O PARÁGRAFO E O TÓPICO FRASAL Parágrafo é a unidade de composição constituída de uma ou mais frases, em que se desenvolvem uma ideia principal (tópico frasal), a que se ligam outras ideias dela decorrentes (ideias secundárias). Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz — o que justifica seja ensinado aos principiantes —, consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a idéia-núcleo (é o que passaremos a chamar daqui por diante de tópico frasal), o desenvolvimento, isto é, explanação mesma dessa idéia- núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a idéia central não apresenta maior complexidade. Tópico frasal é a ideia núcleo, a principal informação de um parágrafo, sendo que as demais ideias são apenas um desdobramento daquilo que foi expresso inicialmente. Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de modo geral e conciso a ideia-núcleo do parágrafo. Mais de 60% deles apresentam tópico frasal inicial. De fato, que é o tópico frasal, quando inicial, se não uma generalização a que se seguem as especificações contidas no desenvolvimento? Esse modo de assim expor ou explanar idéias é, em essência, o método dedutivo: do geral para o particular. Quando o tópico frasal vem no fim do parágrafo — e neste caso é, realmente, a sua conclusão —, precedido pelas especificações, o método é essencialmente indutivo: do particular para o geral. Exemplo: O Brasil é a primeira grande experiência que faz na história moderna a espécie humana para criar um grande país independente, dirigindo-se por si mesmo, debaixo dos trópicos. Somos os iniciadores, os ensaiadores, os experimentadores de uma das mais amplas, profundas e graves empresas que ainda se acharam em mãos da humanidade. Os navegadores das descobertas que chegaram até nós impelidos pela vibração matinal da Renascença, cumpriram um feito que terminava com o triunfo na luz da própria glória; belo era o país que descobriam, opulenta a terra que pisavam, maravilhoso o mundo que em redor se desdobrava; podiam voltar, contentes, que tudo para eles se cumprira. (Três livros, p. 332) O primeiro período — grifado, aliás, pelo próprio Autor, com a intenção de mostrar que se trata de idéia central do parágrafo — constitui o tópico frasal, que traduz uma declaração sobre o Brasil como país independente. O rumo das idéias a serem desenvolvidas já está aí traçado: seria desconcertante se o Autor não explanasse, especificando, justificando, fundamentando, nas linhas seguintes, o que anunciou nas três primeiras. O seu propósito já está definido. Se o Autor julgasse oportuno fazer digressões, o próprio tópico frasal o controlaria, impedindo-o de ultrapassar certos limites, além dos quais elas se tornariam descabidas, e forçando-o a voltar antes do fim ao mesmo rumo de idéias que tomara no princípio. Por isso tudo, principalmente por ser um excelente meio de disciplinar o raciocínio, recomenda-se aos principiantes que se empenhem em seguir esse método de paragrafação, até que maior desenvoltura e experiência na arte de escrever lhes deixem maior liberdade de ação. Considerando a recomendação de iniciar o parágrafo com o tópico frasal, este pode assumir aspectos diferenciados, a saber: a) Declaração inicial — o autor afirma ou nega alguma coisa logo de saída para, em seguida, justificar ou fundamentar a asserção, apresentando argumentos sob a forma de exemplos, confrontos, analogias, razões, restrições — fatos ou evidência, processos de explanação. Exemplo: Vivemos numa época de ímpetos. A Vontade, divinizada, afirma sua preponderância, para desencadear ou encadear; o delírio fascista ou o torpor marxista são expressões pouco diferentes do mesmo império da vontade. À realidade substituiu-se o dinamismo; à inteligência substituiu-se o gesto e o grito; e na mesma linha desse dinamismo estão os amadores de imprecações e os amadores de mordaças (...) (Gustavo Corção, Dez anos, p. 84) b) Definição — Frequentemente o tópico frasal assume a forma de uma definição. Exemplo: Estilo é a expressão literária de idéias ou sentimentos. Resulta de um conjunto de dotes externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por modalidades de expressão a que se dá o nome de figuras. c) Divisão — Processo também quase que exclusivamente didático, dadas as suas características de objetividade e clareza, é o que consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de divisão ou discriminação das ideias a serem desenvolvidas: Exemplo: O silogismo divide-se em silogismo simples e silogismo composto (isto é, feito de vários silogismos explícita ou implicitamente formulados). Distinguem-se quatro espécies de silogismos compostos!... (Jacques Maritam. Lógica menor, p. 246) d) Alusão histórica: Recurso que desperta sempre a curiosidade do leitor é o da alusão a fatos históricos, lendas, tradições, crendices, anedotas ou a acontecimentos de que o Autor tenha sido participante ou testemunha. Exemplo: Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu, estalando, pelo passamento de Marshall. Era uma dessas casualidades eloquentes, em que a alma ignota das coisas parece lembrar misteriosamente aos homens as grandes verdades esquecidas (...). O tópico frasal pode estar inserido em outra parte do texto, ou pode também estar diluído neste e até mesmo implícito, o que requer muita perspicácia do escritor e, é claro, do leitor. DESENVOLVENDO O PARÁGRAFO Desenvolver o parágrafo é expor de forma pormenorizada a idéia principal desse. Tal desenvolvimento pode se dar por diversas maneiras. Enumerando ou descrevendo detalhes O autor enumera e detalha a idéia apresentada; é muito usado nos parágrafos iniciados pelo tópico frasal. Exemplo: A arte (...) é tudo o que pode causar uma emoção estética, tudo que é capaz de emocionar suavemente a nossa sensibilidade, dando a volúpia do sonho e da harmonia, fazendo pensar em coisas vagas e transparentes, mas iluminadas e amplas como o firmamento, dando-nos a visão de uma realidade mais alta e mais perfeita, transportando-nos a um mundo novo, onde se aclara todo o mistério e se desfaz toda a sombra, e onde a própria dor se justifica como revelação ou pressentimento de uma volúpia sagrada. E, em conclusão, a energia criadora do ideal. Confrontando, fazendo analogia ou comparando Processo muito comume muito eficaz de desenvolvimento é o que consiste em estabelecer confronto entre idéias, seres, coisas, fatos ou fenômenos. Suas formas habituais são o contraste (baseado nas dessemelhanças), e o paralelo (que se assenta nas semelhanças). A antítese é, de preferência, uma oposição entre idéias isoladas. A analogia, que também faz parte dessa classe, baseia-se na semelhança entre idéias ou coisas, procurando explicar o desconhecido pelo conhecido, o estranho pelo familiar. Exemplo: Vejamos o que distingue Vieira de Bernardes. Lendo-os com atenção, sente-se que Vieira, ainda falando do céu, tinha os olhos nos seus ouvintes; Bernardes, ainda falando das criaturas, estava absorto no Criador. Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo, e Bernardes para a cela, para si, para o seu coração. Vieira estudava graças a louçainhas de estilo (...); Bernardes era como essas formosas de seu natural que se não cansam com alinhamentos (...) Vieira fazia a eloqüência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o gênio; em Bernardes, o amor, que, em sendo verdadeiro, é também gênio (...). Exemplo: Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de o explorar a benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada. Exemplo: O Sol é muitíssimo maior do que a Terra, e está ainda tão quente que é como uma enorme bola incandescente, que inunda o espaço em torno com luz e calor. Nós aqui na Terra não poderíamos passar muito tempo sem a luz e o calor que nos vêm do Sol, apesar de sabermos produzir aqui mesmo tanto luz como calor. Realmente podemos acender uma fogueira para obtermos luz e calor. Mas a madeira que usamos veio de árvores, e as plantas não podem viver sem luz. Assim, se temos lenha, é porque a luz do Sol tornou possível o crescimento das florestas. Definindo, dividindo e citando exemplos Ao definir, o autor, de forma clara e concisa, conceitua o objeto, ser, fato ou fenômeno apresentado, esta, pode envolver ou não a divisão e citação de exemplos; estas, por sua vez, podem acompanhar uma definição ou serem usadas isoladamente desta e uma da outra. Quando divide, o autor explora as idéias em cadeia, ou seja, após apresentar a temática no tópico frasal, divide-a e explana-a em períodos seguintes, sempre de forma a manter a cadeia de desenvolvimento. Ao exemplificar, o autor tanto pode estar esclarecendo o assunto proposto quanto comprovando-o. Exemplo: Toda esta alma de Santo [Antero] morava, para tornar o homem mais estranhamente cativante, num corpo de Alcides [sobrenome patronímico de Hércules]. Antero foi na sua mocidade um magnífico varão (tópico frasal constituído por dois períodos de sentido equivalente). Airoso e leve (detalhe), marchava léguas (exemplo geral), em rijas caminhadas (exemplo específico) que se alongavam até à mata do Bussaco: com a mão seca e fina, de velha raça (detalhe), levantava pesos (exemplo específico) que me faziam gemer a mim, ranger todo, só de o contemplar na façanha; jogando o sabre para se adestrar (exemplo) tinha ímpetos de Roldão (detalhe por comparação), os amigos rolavam pelas escadas, ante o seu imenso sabre de pau, como mouros desbaratados: — e em brigas que fossem justas o seu murro era triunfal (detalhe). Conservou mesmo até à idade filosófica este murro fácil: e ainda recordo uma noite na rua do Oiro, em que um homem carrancudo, barbudo, alto e rústico como um campanário, o pisou, brutalmente, e passou, em brutal silêncio... O murro de Antero foi tão vivo e certo, que teve de apanhar o imenso homem do lajeado em que rolara... Exemplo: Como as caravanas do deserto africano, a primeira virtude dos bandeirantes é a resignação, que é quase fatalista, é a sobriedade levada ao extremo. Os que partem não sabem se voltam e não pensam mais em voltar aos lares, o que frequentes vezes sucede. As provisões que levam apenas bastam para o primeiro percurso da jornada; daí por diante, entregues à ventura, tudo é enigmático e desconhecido. Exemplo: Analogia é um fenômeno de ordem psicológica, que consiste na tendência para nivelar palavras ou construções que de certo modo se aproximam pela forma ou pelo sentido, levando uma delas a se modelar pela outra. Quando uma criança diz fazi e cabeu, conjuga essas formas verbais por outras já conhecidas, como dormi e correu. Exemplo: A vocação literária é sempre concreta. Manifesta-se como tendência, não só à atitude geral, mas ainda a este ou àquele gênero de atitude. Entre as inúmeras posições possíveis (e neste terreno as classificações chegam às maiores minúcias), há cinco a marcar bem nitidamente inclinações diferentes do gênio criador — o lirismo, a epopéia, o drama, a crítica e a sátira. O lirismo é a expressão da própria alma. A epopéia, a representação narrativa da vida. O drama, a representação ativa dela. A crítica, o juízo sobre a criação feita. E a sátira, a caricatura dos caracteres (...) Exemplo: De várias espécies são as condições susceptíveis de influir sobre a literatura. Podemos mencionar quatro ordens principais de condições desse gênero — geográficas, biológicas, psicológicas e sociológicas. Mostrando causa, motivo ou razão; consequência ou efeito Desenvolve-se assim o parágrafo, esclarecendo a causa, motivo ou razão, bem como a consequência ou efeito do acontecimento ou fato apresentado como idéia principal. O desenvolvimento do parágrafo por apresentação de razões e consequências ocorre quando se trata de justificar uma declaração ou opinião pessoal a respeito de atos ou atitudes do homem, e que se deve falar em relação de causa e efeito, quando se procura explicar fatos ou fenômenos, quer das ciências naturais, quer das sociais. Exemplo: Tanto do ponto de vista individual quanto social, o trabalho é uma necessidade, não só porque dignifica o homem e o provê do indispensável à sua subsistência, mas também porque lhe evita o enfado e o desvia do vício e do crime. Exemplo: Esta Cidade já não é mais a capital oficial do País, mas continua sendo a capital do povo brasileiro, quer queiram, quer não. E a capital política, embora as Câmaras (alta e baixa) estejam em Brasília, de onde nos vêm, diluídos e distantes, amortecidos e mudados, os ecos das agitações parlamentares. Aqui funcionou o Brasil; aqui encontrou a sua síntese, o seu centro de gravidade, esse complexo que é o nosso País unificado e íntegro. Aqui, ainda hoje, está a capital brasileira, sensível, viva, martirizada, crivada de setas como o seu próprio padroeiro. Nas ruas, nas casas, nos locais de encontro concentra-se a mais politizada das populações brasileiras. Aqui se sente, em profundidade, o desabar das terras que os nossos maiores constituíram em Nação. Aqui se ouve mais nitidamente o ruído das raízes do Brasil irem sendo pouco a pouco arrancadas. É um singular, um constrangedor espetáculo. Todas as mudanças são tristes quando significam não apenas novas folhagens ou florações, mas a grande mudança do essencial, da alma, a transmutação do que deveria ser permanenteem nós. Exemplo: A pressão exercida sobre um corpo sólido transmite-se desigualmente nas diversas direções por causa da forte coesão que dá ao sólido sua rigidez. Num líquido, a pressão transmite-se em todas as direções, devido à fluidez. Um líquido precisa de apoio lateral do vaso que o contém, porque a pressão do seu peso se exerce em todas as direções. Se um corpo for mergulhado num líquido, experimentará o efeito das pressões recebidas ou exercidas pelo líquido. QUALIDADES DO PARÁGRAFO A experiência nos ensina que os defeitos mais graves nas redações de alunos do curso fundamental — e até superior — decorrem menos dos deslizes gramaticais que das falhas de estruturação da frase, da incoerência das idéias, da falta de unidade, da ausência de realce. Quando o estudante aprende a concatenar idéias, a estabelecer suas relações de dependência, expondo seu pensamento de modo claro, coerente e objetivo, a forma gramatical vem com um mínimo de erros que não chegam a invalidar a redação. Isoladamente, unidade e coerência têm características próprias, mas quase sempre a falta de uma resulta da ausência da outra. A primeira pode ser em grande parte conseguida graças ao expediente do tópico frasal; a segunda depende principalmente de uma ordem adequada e do emprego oportuno das partículas de transição (conjunções, advérbios, locuções adverbiais, certas palavras denotativas e os pronomes). Em síntese, a unidade consiste em dizer uma coisa de cada vez, omitindo-se o que não é essencial ou que não se relaciona com a idéia predominante no parágrafo. Evitem-se, portanto, digressões descabidas e indiquem-se de maneira clara as relações entre a idéia principal e as secundárias. Exemplo com falta de unidade: Acabam de chegar a Cuba reforços militares da União Soviética para o regime comunista de Fidel Castro. A condecoração de "Che" Guevara, um dos colaboradores casuistas, pelo ex-presidente Jânio Quadros, por afrontosa, escandalizou a opinião pública e contribuiu para a sua renúncia. Pergunta-se: qual é a idéia principal desse parágrafo? A chegada de reforços, a condecoração, o escândalo da opinião pública ou a renúncia do presidente? Se é a chegada de reforços, que relação há — ou mostrou seu autor haver — entre esse fato e os restantes? Há, sem dúvida, uma relação implícita, histórica, ocasional, entre as três personagens referidas, mas não entre suas ações indicadas no trecho. Falta, pois, ao parágrafo qualquer traço de unidade, coerência e ênfase. Para consegui-lo, seria necessário dar-lhe uma nova estrutura. Uma das versões possíveis seria esta: Acabam de chegar a Cuba reforços militares da União Soviética para o regime comunista de Fidel Castro. Pois foi a um dos colaboradores casuístas — "Che" Guevara — que o ex-presidente Jânio Quadros condecorou, escandalizando a opinião pública e contribuindo para a sua própria renúncia. Outra versão: Com a chegada a Cuba de reforços militares da URSS para o regime comunista de Fidel Castro, a condecoração de "Che" Guevara pelo èx-presi-dente Jânio Quadros — gesto que talvez tenha contribuído para sua renúncia — toma-se ainda mais afrontosa à opinião pública. Assim, nesta última versão estão mais ou menos razoavelmente evidenciadas as três principais qualidades do parágrafo (que no caso são também do período): a) unidade: uma só idéia predominante; b) coerência: relação (no caso, de consequência) entre essa idéia predominante e as secundárias; c) ênfase: a idéia predominante não apenas aparece sob a forma de oração principal mas também se coloca em posição de relevo, por estar no fim ou próximo ao fim do período-parágrafo. COMO CONSEGUIR UNIDADE 1. Use, sempre que possível, um tópico frasal explícito; 2. Evite pormenores impertinentes, acumulações desnecessárias e redundâncias; Exemplo: Quando eu tinha quatro anos de idade e morava com uma tia viúva e já idosa, que passava a maior parte do dia acariciando um gatarrão peludo sentada numa velha e rangente cadeira de balanço, na sala de jantar da nossa casa, que ficava nos subúrbios, próxima ao Hospital São Sebastião, já era louco por futebol. Quando eu tinha quatro anos e morava com uma tia viúva e idosa, numa casinha dos subúrbios, já era louco por futebol. 3. Frases entrecortadas frequentemente prejudicam a unidade do parágrafo; selecione as mais importantes e transforme-as em orações principais de períodos menos curtos; Original Saí de casa hoje de manhã muito cedo. Estava chovendo. Eu tinha perdido o guarda- chuva. O ônibus custou a chegar. Eu fiquei todo molhado. Apanhei um bruto resfriado. Revisão Quando saí de casa hoje de manhã muito cedo, estava chovendo. Como tinha perdido o guarda-chuva e o ônibus custasse a chegar, fiquei todo molhado e apanhei um bruto resfriado. 4. Ponha em parágrafos diferentes idéias igualmente relevantes, relacionando-as por meio de expressões adequadas à transição; Original: O Brasil de hoje empenha-se, com intenso esforço, na tarefa de vencer o seu subdesenvolvimento crônico. Muitos obstáculos, contudo, se opõem a esse propósito. Problemas inadiáveis, de importância fundamental, impedem o progresso do país. O crescimento industrial e a exploração de novas fontes de riqueza estão a exigir uma elite de técnicos capazes de realmente acionar o aproveitamento de nossas potencialidades econômicas em benefício do progresso nacional. As universidades vêm falhando lamentavelmente em virtude da sua incapacidade de prover a formação de técnicos em alto nível. Seus currículos desatualizados, a precariedade dos laboratórios, a ausência do espírito de pesquisa, o desamparo das autoridades, que se viciaram na rotina burocrática, e outros fatores constituem óbices ao preparo de profissionais capazes. Revisão: O Brasil de hoje empenha-se, com intenso esforço, na tarefa de vencer o seu subdesenvolvimento crônico. Entretanto, muitos obstáculos, representados por problemas inadiáveis, de importância fundamental, se opõem a esse propósito, dificultando o progresso do País. Ora, o crescimento industrial e a exploração de novas fontes de riqueza, com que nos livraremos do subdesenvolvimento, estão a exigir uma elite de técnicos capazes de realmente acionar o aproveitamento de nossas potencialidades econômicas. No entanto, as nossas universidades vêm falhando lamentavelmente na sua missão de formá-los, em virtude de vários fatores, tais como currículos desatualizados, precariedade dos laboratórios, ausência do espírito de pesquisa e desamparo das autoridades. Em conclusão: para conseguir unidade através da estrutura do parágrafo, deve o estudante: a) dar atenção ao que é essencial, enunciando claramente a idéia-núcleo em tópico frasal; b) não se afastar, por descuido, da idéia predominante expressa no tópico frasal; c) evitar digressões irrelevantes ou impertinentes, i.e., que não sirvam à fundamentação das idéias desenvolvidas. São cabíveis apenas as intencionais, e não as que decorrem somente de associações de idéias num ludismo de palavra-puxa-palavra. Mas, de qualquer forma, nunca devem as digressões ser mais extensas do que o próprio desenvolvimento do pensamento central, a que o autor deve voltar logo, dentro do mesmo parágrafo, e não no seguinte; d) evitar a acumulação de fatos ou pormenores que "abafem" a idéia-núcleo; e) inter-relacionar as frases ou estágios do desenvolvimento por meio de conectivos de transição e palavras de referência adequados à coerência, da qual depende também, em grande parte, a unidade. COMO OBTER COERÊNCIA A coerência consiste em ordenar e interligar as idéias de maneira clara e lógica e de acordo com um plano definido.Sem coerência é praticamente impossível obter-se ao mesmo tempo unidade e clareza. Ela é, por assim dizer, a "alma" da composição. Em geral, escrevemos à medida que as idéias nos vão surgindo: mas, como nosso raciocínio nem sempre é lógico, ocorrem lapsos, hiatos e deslocações extremamente prejudiciais à coerência e à clareza. Para evitar esse inconveniente, torna-se necessário planejar o desenvolvimento das ideias. Ordem e transição constituem, pois, os principais fatores de coerência. ORDEM LÓGICA Na dissertação, nas explanações didáticas, na exposição em geral, é importantíssima a ordenação lógica das idéias. Pode-se iniciar o parágrafo por uma generalização, acrescentando-se fatos ou detalhes que a fundamentem (método dedutivo), ou partir dos detalhes (especificação) para chegar à conclusão (método indutivo). Se se estabelecem relações de causa e efeito, pode-se começar pela apresentação da primeira, enumerando- se depois as consequências, ou adotar processo inverso. No parágrafo que damos a seguir, a ordem lógica é evidente. Ele se inicia com uma generalização (tópico frasal), seguindo-se as especificações que a fundamentam, e termina por uma conclusão claramente enunciada, em que se amplia o sentido da declaração introdutória: A mocidade é essencialmente generalizadora. Os casos particulares não interessam. A análise, exigindo demora e paciência, repugna ao espírito imediatista da mocidade, que não quer apenas mas quer já. E quer em linhas gerais que tudo abranjam. Esse espírito de fácil generalização leva os moços a concluírem com facilidade e a julgarem de tudo e de todos com precipitação e vasta dose de suficiência. Tudo isso, porém, é utilíssimo para os grandes empreendimentos que exigem certa dose de temeridade para serem levados avante. A mocidade é naturalmente totalitária e as soluções parciais não lhe interessam ou pelo menos não a satisfazem. PARTÍCULAS DE TRANSIÇÃO E PALAVRAS DE REFERÊNCIA Devemos cuidar da transição entre as idéias, da conexão entre elas. Palavras desconexas são como fragmentos de um jarro de porcelana. É preciso "colá-las", interligá-las para se obter uma unidade de comunicação eficaz. a) Prioridade, relevância: em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo; b) Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade, simultaneidade, eventualidade): então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto isso; c) Semelhança, comparação, conformidade: igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista; d) Adição, continuação: além disso, (a)demais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também — e as conjunções aditivas (e, nem, não só... mas também, etc); e) Dúvida: talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe? é provável, não é certo, se é que; f) Certeza, ênfase: de certo, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza; g) Causa e consequência: daí, por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito; h) Contraste, oposição, restrição, ressalva: pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos; NORMAS OU SUGESTÕES PARA REFUTAR ARGUMENTOS Whitaker Penteado arrola algumas sugestões para refutar idéias ou argumentos. 1. Procure refutar o argumento que lhe pareça mais forte. Comece por ele; 2. Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária; 3. Utilize a técnica de “redução às últimas consequências”, levando os argumentos contrários ao máximo de sua extensão; 4. Veja se o opositor apresentou uma evidência adequada ao argumento empregado; 5. Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o seu opositor; 6. Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados; 7. Ataque a fonte na qual se basearam os argumentos do seu opositor; 8. Cite outros exemplos semelhantes, que provem exatamente o contrário dos argumentos que lhe são apresentados pelo opositor; 9. Demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada, com a omissão de palavras ou de toda a sentença que diria o contrário do que quis dizer o opositor; 10. Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as falsidades que contêm. EXERCÍCIOS O Brasil é a primeira grande experiência que faz na história moderna a espécie humana para criar um grande país independente, dirigindo-se por si mesmo, debaixo dos trópicos. Somos os iniciadores, os ensaiadores, os experimentadores de uma das mais amplas, profundas e graves empresas que ainda se acharam em mãos da humanidade. Os navegadores das descobertas que chegaram até nós impelidos pela vibração matinal da Renascença, cumpriram um feito que terminava com o triunfo na luz da própria glória; belo era o país que descobriram, opulenta a terra que pisavam, maravilhoso o mundo que em redor desdobrava; podiam voltar, contentes, que tudo para eles se cumprira. TÓPICO FRASAL (TESE): Até fins da década passada, possuir um tapete oriental no Brasil era privilégio de alguns poucos colecionadores particulares. Com a abertura das importações e consequente diminuição das taxas, a oferta dessas peças aumentou significativamente nos anos 90, provocando uma crescente curiosidade sobre o assunto. Por isso, e também pelo quase total desconhecimento dos consumidores brasileiros sobre a matéria, nos sentimos compelidos a elaborar este trabalho. TÓPICO FRASAL (TESE): A distribuição de renda no Brasil é injusta. Embora a renda per capita brasileira seja estimada em U$$2.000 anuais, a maioria do povo ganha menos, enquanto uma minoria ganha dezenas ou centena de vezes mais. A maioria dos trabalhadores ganha o salário mínimo, que vale U$$112 mensais; muitos nordestinos recebem a metade do salário mínimo,. Dividindo essa pequena quantia por uma família onde há crianças e mulheres, a renda per capita fica ainda mais reduzida; contando-se o número de desempregados, a renda diminui um pouco mais. Há pessoas que ganham cerca de U$$10.000 mensais, ou U$$ 120.000 anuais; outras ganham muito mais, ainda. O contraste entre o pouco que muitos ganham e o muito que poucos ganham prova que a distribuição de renda em nosso país é injusta. TÓPICO FRASAL (TESE): Regime, ginástica e cama A falta de sono adequado é, definitivamente, um fator de risco isolado para o ganho de peso. A matemática da perda de peso é simples. O consumo de calorias deve ser inferior ao total de energia gasta pelo organismo. Nos últimos cinco anos, porém, uma série de estudos vem demonstrando que um terceiro fator deve ser incluído na equação do emagrecimento - o sono. Como a má alimentação e o sedentarismo, uma sucessão de noites mal dormidas pode condenar ao fracasso qualquer luta contra a balança. A pesquisa mais recente e uma das mais intrigantes sobre o assunto foi publicada na revista científica americana Annals of Internal Medicine. Conduzida por médicos da Universidade de Chicago, ela demonstrou que, em períodos de pouco sono, a queima de gordura corporal é 55% menore a perda de massa magra, 60% maior. "Perder massa magra significa perder músculos, e isso é ruim porque leva à desaceleração do metabolismo e faz com que a pessoa ganhe peso com mais facilidade", diz o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente eleito da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade. Em outras palavras: dormir pouco favorece o efeito sanfona, a grande questão de quem tenta se livrar dos quilos em excesso. 1) Nesse texto, a ideia principal defendida pelo autor é que a A) falta de sono está relacionada ao ganho de peso. B) má alimentação derruba a luta contra a balança. C) perda de massa magra é maior com pouco sono. D) perda de massa magra desacelera o metabolismo.
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