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Sociedade, Comunicação e Cultura Aula 08 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 08: Etnografia e a Netnologia Objetivo: Conhecer os princípios da netnografia (metodologia de pesquisa imersiva online) como uma nova metodologia de pesquisa, cujo objetivo principal é atender e entender as novas subjetividades surgidas no espaço virtual. Netnografia1 Não há duvidas de que, com a evolução tecnológica, as sociedades mudaram e já não são mais as mesmas. A comunidade que conhecíamos, de pessoas próximas, que se responsabilizavam umas pelas outras, viviam a solidariedade e a cumplicidade no dia a dia, é cada vez mais rara, principalmente nos centros urbanos. Comunidade agora é virtual, em que pessoas dos mais diversos lugares, nacionalidades e idades se associam por afinidade com um tema, causa e gosto. No entanto, ainda que as relações mudem e as formas e meios de comunicação também sofram alterações, no processo de dialogia o ser humano sempre reproduzirá o seu mundo, a sua cultura, a qual procurará compartilhar com o máximo de pessoas possível, pois conforme Levy (1999): As atividades humanas abrangem, de maneira indissolúvel, interações entre: pessoas vivas e pensantes; entidades materiais, naturais e artificiais; ideias e representações. É impossível separar o humano de seu ambiente material, assim como dos signos e das imagens por meio dos quais ele atribui sentido à vida no mundo. Da mesma forma, não podemos separar o mundo material – e menos ainda sua parte artificial – das ideias por meio das quais os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os inventam, produzem e utilizam. Acrescentemos, enfim, que as imagens, as palavras, as construções de linguagem entranham-se nas almas humanas, fornecem meios e razões de viver aos homens e suas instituições, são recicladas por grupos e organizações e memórias artificiais. (LEVY, 1999: p. 22) As novas tecnologias nos colocam diante do desafio de entender a cultura, o sujeito, os valores e os novos grupos formados no universo virtual. Conforme o autor, de ver “a internet como artefato cultural e não apenas um meio técnico, pois as técnicas carregam consigo projetos, esquemas imaginários, implicações sociais e culturais bastante variadas, (...) cristalizando relações de força sempre diferentes entre os seres humanos” (Levy, 1999: p.23). E as novas tecnologias abriram espaços para novas subjetividades, em que as pessoas se sentem à vontade para criar perfis reais e imaginários, agregando à sua personalidade tudo o que gostariam de ser, “aperfeiçoando” seu ego e expressando opiniões antes impensadas ou de pouco alcance. As novas ferramentas de comunicação geram enfaticamente novas formas de relacionamento social. A Cibercultura é recheada de novas maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo. Não se trata (...) de substituição de formas estabelecidas de relação social (face a face, telefone, correio, espaço público físico), mas do surgimento de novas relações mediadas. (Lemos, 2003: p.17) Essa nova modalidade de interação social mudou também o foco da pesquisa social. Além da pesquisa de campo, abriu-se precedente para a pesquisa sobre a participação e interação dos grupos no espaço virtual, denominada netnografia. A netnografia, seguindo o modelo da etnografia, é uma forma de abordar o conhecimento científico e começa a ser explorada a partir do surgimento das comunidades virtuais no início dos anos de 1990 e que procura, dentro dos pressupostos já formalizados, rearranjar e organizar os modelos metodológicos de formação, para que eles transcrevam e dialoguem com essa nova realidade de modo a construir uma epistemologia mediada pela internet. É uma nova forma de abordagem que buscou ajuda na etnografia e comprova ser uma forma de abordagem do conhecimento científico que está em constante adaptação e em consonância com as mudanças impressas pelo tempo. Princípios básicos da netnografia 1. Presença do etnógrafo no campo de pesquisa (internet). 2. Visualização do ciberespaço como campo de pesquisa. 3. Considerar as interações como dinâmicas. 4. Toda forma de interação é relevante. 5. Compreender dinâmica do campo. 6. Observar limites entre online e offline (bem como suas conexões). 7. Deslocamento do entendimento de tempo e espaço. 8. Não é imparcial. 9. Precisa de tempo e dedicação do pesquisador. 10. Necessita da imersão do pesquisador na interação virtual. 11. Informantes presentes ou não. 12. É uma apropriação da etnografia para o ciberespaço. Mesmo sendo uma metodologia nova, que de alguma forma se apropriou e transportou os estudos etnográficos para o espaço virtual ou ciberespaço, não podemos considerar a etnográfica como uma simples transposição de métodos, pois existem diferenças a serem consideradas. Etnografia x Netnografia DADOS ETNOGRAFIA NETNOGRAFIA Objeto de pesquisa Comunidades / grupos / pessoas reais Comunidades virtuais / blogs / redes sociais Tipo de comunicação Direta – sem mediação Virtual – mediada pela internet Limite espacial Físico / Real Virtual Identificação Física / Real Avatar / Nick / Perfil Interação Elevada Baixa Técnicas de coleta de dados Entrevistas formais e informais Downloads/cópia Arquivos Instrumento de coleta de dados Questionários e Formulários Observações e anotações Análise de dados A partir da coleta Depois da coleta Controle da entrevista Fácil Difícil Resposta da entrevista Imediata Demorada, depende da frequência do entrevistado no ciberespaço. Método da entrevista Oral Escrita Identidade do pesquisador Construída e negociada pessoalmente Construída e negociada em avatar, nick, perfil Ética na entrevista Negociada, cobrada e controlada Negociada e de difícil controle Compreensão cultural Obrigatória Obrigatória Estudo Práticas sociais Hibridização tecnosocial Feedback Negociado e necessário Difícil / Dispensável Segundo Kozinets (1997), a “netnografia”, com todo seu potencial de pesquisa, é um instrumento que pode ser utilizado de três maneiras: a) Como metodologia para estudar ciberculturas e comunidades virtuais puras. b) Como metodologia para estudar ciberculturas e comunidades virtuais derivadas. c) Como ferramenta exploratória para estudar diversos assuntos. O autor define como comunidades virtuais puras aquelas em que as relações de sociabilidade desenvolvidas pelos membros das comunidades ocorrem somente por comunicações mediadas pelo computador. Nesse caso, os estudos exigem do pesquisador uma total imersão nos grupos. Já as comunidades virtuais derivadas contam com a participação dos seus membros tanto no espaço real quanto no virtual, possibilitando ao pesquisador o uso de ferramentas, além da online, pesquisa por telefone, entrevistas pessoais e grupos de discussão. A pesquisa online oferece ao pesquisador várias vantagens em relação à pesquisa real, pois possibilita queele entre em contato com um universo de pessoas bem mais amplo e diversificado do que o real, utilizando um menor consumo de tempo e de recursos, além de facilitar o acesso a dados objetivos e subjetivos de forma bastante abrangente. No entanto, também tem suas desvantagens, pois exige do pesquisador conhecimentos técnicos sobre as novas tecnologias além de domínio e interesse pelos artefatos culturais surgidos e formulados no espaço cibernético. De acordo com Lemos (2004): Para podermos entrar na análise das comunidades virtuais como forma paradigmática da sociedade na cibercultura, teremos que avaliar a estrutura dessa máquina de compartilhamento que é o ciberespaço, (...). Esta revolução vai afetar o conhecimento e o modo de transmitir, estocar e produzir informação, complexificando as trocas comunicativas e abalando a estrutura centralizadora dos mass media. (LEMOS, 2004: p. 137) Assim sendo, a netnografia se afirma como uma metodologia necessária para dialogar com essa nova realidade que abrange aspectos socioeconômicos e políticos em escala mundial. Considerações finais Ao término desta aula podemos entender que a netnografia é mais um instrumento para nos ajudar a entender as novas dinâmicas sociais e culturais surgidas na modernidade. É uma nova metodologia que se alia à etnografia e que nos desafia a ampliar nosso entendimento sobre as comunidades culturais no ciberespaço. Saiba mais 1. Netnografia ou etnografia virtual pode ser definida como uma metodologia para estudos na internet (HINE, 2000), um método interpretativo e investigativo que explora o comportamento cultural das/nas comunidades online. SITE MONTARDO, Sandra Portella; PASSERINO, Liliana Maria. Estudos dos blogs a partir da netnografia: possibilidades e limitações. Disponível em: <http://penta3.ufrgs.br/midiasedu/modulo8/etapa1/leituras/estudo_dos_blogs.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2013. Agora que você já estudou esta aula, resolva os exercícios e verifique seu conhecimento. Caso fique alguma dúvida, leve a questão ao Fórum e divida com seus colegas e professor. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. REFERÊNCIAS GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989. __________. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989. HINE, C. Virtual Ethnography. London: Sage, 2000. JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. KOZINETS, Robert. On Netnography: Inicial Reflections on Consumer Research Investigations of Cyberculture. In: Advances in Consumer Research, 1998, 366-371. KUCHARSKI, M.V.S. Pesquisa cultural em ambientes virtuais de educação: provocações e pontos de partida. Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, Curitiba, 2008. LEMOS, A.; CUNHA, P. (orgs). Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e ida social na cultura contemporânea. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2004. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
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