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Apostila - História Medieval - UNIMES

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História Medieval
Aula: 01 
Temática: Visões sobre a Idade Média 
A aula de hoje tem como objetivo apontar os principais problemas para o estudo da Idade Média, desde as questões que envolvem as fontes de pesquisa, passando pelos preconceitos sobre a “Idade das Trevas” até as diferentes abordagens do período. 
Para começar, pense no nome dado ao período que começa no século V e termina no século XV : o que significa Idade Média? Por que denominá-la assim? 
Num primeiro momento, o que vale destacar é que essa definição é dada em relação a outros períodos: pois “média” é aquela que fica no meio. Simplificadamente, então, esse período fica entre outros dois, a Antigüidade e a Modernidade ou Idade Moderna. 
Esse nome sugere que a Idade Média não tem uma identidade própria, uma vez que ela está definida por oposição ao que vem antes e ao que veio depois. 
Uma outra expressão, cunhada pelos renascentistas do século .XVI, aumentou o “desprestígio” desse período histórico. Eles chamavam a Idade Média de “Idade das Trevas”, considerando-a um tempo marcado pela ignorância e pela superstição em contraste com a antiguidade greco-romana, cujas tradições tentavam recuperar. A Idade Média foi marcada também pelo domínio absoluto da Igreja Católica na Europa. 
O movimento iluminista do século XVIII, seguindo a opinião dos renascentistas, também mostrava menosprezo por um período que julgavam de baixo desenvolvimento tecnológico e cultural. 
A recuperação do “prestígio” medieval acontece somente no século XIX. Porém, por outro lado, o romantismo do século XIX idealizou a Idade Média como um período marcado pela integração entre homem e natureza, mais rural e espiritualizado. Temerosos com as convulsões sociais do período em que viveram (Revolução Francesa, Primavera dos Povos etc), os românticos idealizam a Idade Média com um período de ordem e hierarquia sob o comando do cristianismo. 
Todavia, não deve ser motivo para surpresas, o fato de que o período que abrange o século V até o XV tenha sido visto de diferentes maneiras. Na verdade, cada época olha o passado a sua maneira. De certo modo o passado é sempre filho do presente. 
Simplificadamente, entre essas duas correntes de interpretação, uma pejorativa e outra valorativa, a historiografia tradicional optou por aquela influenciada pelo Renascimento e pelo Iluminismo. Não por acaso, pois uma época urbanizada e desenvolvida tecnologicamente tende a ver com distanciamento a Idade Média.
 Os historiadores tinham bons argumentos para corroborar a visão depreciativa da Idade Média. E isso porque o conhecimento no mundo ocidental está marcado pela palavra escrita e a vida na Idade Média estava marcada pela palavra falada. E quando os historiadores tentavam compreender o período medieval buscando textos sobre o período eles encontravam um grande vazio, pois a esmagadora maioria da população era iletrada. O domínio da escrita ficava praticamente reduzido aos religiosos. Havia então uma “ausência” de fontes que acabava por corroborar a Idade Media como a época da ignorância, das “trevas”. 
As primeiras abordagens historiográficas da Idade Média estiveram muito centradas no aspecto econômico, nas relações de trabalho, avançando nas questões relacionadas ao feudo, ao senhorio e as relações de soberania e vassalagem. Esta corrente estava preocupada com a questão da servidão, entendida como uma melhoria da condição das pessoas em relação à escravidão, mas ainda um estágio inferior em relação à liberdade do trabalho assalariado, fruto do desenvolvimento do capitalismo - e muito distante daquela que sonhavam os marxistas. 
Todavia, os novos estudos sobre o período, enfatizam o que se convencionou chamar de “mentalidade”, isto é, a história cultural, nesse sentido, a história medieval é tão rica quanto qualquer outra. 
Embora absorva as melhores interpretações da macro-história, entrando no debate sobre o feudalismo e as relações de trabalho, a história das mentalidades também busca inovar na busca e no tratamento das fontes. Assim, para conhecer o período medieval, devemos ir além da palavra escrita, dos textos, e analisar também objetos, igrejas, vitrais etc, enfim, a cultura material do período. Não é por acaso que a renovação dos estudos históricos, a chamada Escola dos Annales, foi encabeçada por dois medievalistas, Lucien Fevre e Marc Bloch, e continua contando com medievalistas como Jacques Le Goff e Georges Duby.
Nessa aula você conheceu os principais estereótipos e preconceitos que predominam esse período histórico, chegando mesmo a nomeá-lo pejorativamente. Conheceu também a influência que esses preconceitos exerceram na historiografia e as novas abordagens para superar essas questões.
Aula: 02 
Temática: Periodização medieval 
Na aula de hoje abordaremos a periodização medieval, demonstrando a dificuldade de marcar o início e o fim de um momento histórico. Você também vai conhecer as principais opções de marcos para o “começo” e o “fim” da Idade Média. 
Imagine que ao final da sua vida você tenta descrever para alguém qual foi o melhor período da sua história. Ou, então, qual da data precisa em que você deixou a juventude e virou adulto. Há uma data específica para isso? Você foi dormir jovem e acordou adulto? Ou foi a sua vida que mudou do dia para a noite: era ótima e de repente os problemas começaram “do nada”? 
Assim como é difícil estabelecer uma data específica para as transformações da sua vida porque em geral, as mudanças ocorrem aos poucos, como um processo, também é difícil demarcar o começo e o fim exato de um período histórico. 
A história não vem em pacote, rigidamente demarcada. Os historiadores é que elaboraram periodizações coerentes para fins de estudo e, posteriormente, os professores o fazem para fins didáticos. No caso específico da Idade Media são muitas as opções de demarcação para o seu “início” e “fim”. Como resumiu Hilário Franco Junior “
[...] já se falou, dentre outras datas, em 476 (deposição do último imperador romano), 392 (oficialização do cristianismo) ou 330 (reconhecimento da liberdade de culto aos cristãos) como o ponto de partida da Idade Média. Para seu término já se pensou em 1453 (queda de Constantinopla e fim da guerra dos cem anos), 1492 descoberta da América) e 1517 (início da reforma protestante)” 
Vemos que não só a data, mas também o século é controverso. Todavia, para uma abordagem inicial como a nossa, vamos utilizar a periodização tradicional, que considera o início no século V com as invasões “bárbaras” e o término no século XV, período das Grandes Navegações e da chegada à América. Dessa maneira, evitaremos um ano específico e aconselhamos a você consultar a bibliografia do curso para aprofundar a questão.
Definidos esses cerca de 1000 anos de história como referência, outro problema relacionado à periodização é saber a abrangência geográfica e as subdivisões do período. Quanto ao primeiro aspecto você vai conhecer principalmente o desenvolvimento da Europa Ocidental, mas também, brevemente, a expansão do Islã e o Império Bizantino. 
Tamanha abrangência geográfica acarreta, sem dúvida, alguns problemas, pois uma das características do período medieval é justamente a fragmentação política e o desenvolvimento particular das instituições em cada região — na medida do possível você vai ser alertado para essas especificidades. 
Quanto à subdivisão desse período, a mais consagrada é a que o divide em Alta Idade Média e Baixa Idade Média, cada um com as características discutidas mais detalhadamente nas páginas seguintes. Simplificadamente, na Alta Idade Média foram conjugados a herança do Império Romano e as tradições oriundas das invasões bárbaras. A partir do século XI, com o recuo das invasões, entre outras coisas, surgiram um conjunto de transformações que marcaram o ápice da cultura medieval e também apontaram, ao mesmo tempo para a sua superação. Esse “subperíodo” foi denominado Baixa Idade Média. Contudo, vale destacar que essa subdivisão deixaem segundo plano alguns aspectos culturais mais profundos e que permaneceram, atuando nos dois períodos, ou então processos que começaram em um período e só terminaram no outro. A religiosidade é um exemplo de aspecto cultural profundo que permaneceu por toda a Idade Média, estendendo-se para além, do período, na Idade Moderna. 
Nessa aula você refletiu sobre as características e limitações da periodização, completando um panorama sobre as principais dificuldades para o estudo do período. A partir de agora você está preparado para conhecer esse milenar período da história. � 
Aula: 03 
Temática: A queda do Império Romano 
Na aula de hoje você vai conhecer a decadência do Império Romano, o desenrolar e as causas do processo, e o período posterior que inicia a Idade Média e é marcado pelo intercâmbio entre as culturas “bárbaras” e a romana. 
Como um império com o esplendor e riqueza de Roma, cujos vestígios ainda impressionam, simplesmente sucumbiu? A explicação usual e pontual para o fim do império romano seria a invasão dos “bárbaros”, o que, de certa maneira, faz aumentar a perplexidade: como “bárbaros” poderiam acabar com “civilizados”?
 Historicamente, a queda de Roma pode ser explicada por motivos internos, inerentes à sociedade romana, mas também por fatores externos. A crise romana já pode ser notada no século III e, basicamente, o próprio tamanho e forma de desenvolvimento do Império Romano contribuiu para seu colapso. 
O império romano se alimentava de conquistas externas. Eram elas que forneciam a mão-de-obra (escrava), tributos, soldados para os exércitos e os materiais dos saques usados para recompensar os soldados. Roma exigia cada vez mais tributos para alimentar a burocracia, o exército, a própria guerra, o luxo do império, sem falar da corrupção. O sólido império entrava em crise. 
No ambiente de crise, houve uma forte diminuição das atividades urbanas e, como conseqüência, uma forte migração para o campo ou, como dizemos, houve um processo de ruralização do Império. Sem dúvida a crise era maior na parte ocidental do Império do que na oriental, pois esta, constituída mais recentemente, ainda possuía os despojos das guerras de conquista. Percebendo esse descompasso, o império foi divido em dois e Constantino transferiu a sede imperial para a parte oriental, para a cidade que ele construiu entre os anos de 324 até 336 — que vai ser tema de aula posterior. 
Internamente o império estava em crise e externamente ele também passava a sofrer pressão. A fim de minorar os problemas, os romanos fizeram acordos com alguns povos “bárbaros” que viviam as margens do império para defendê-lo da invasão de outros povos. Assim, alguns bárbaros foram entrando lentamente no império, ultrapassando as suas fronteiras. Vê-se, portanto, que não faz sentido supor que as invasões aconteceram de um momento para o outro, repentinamente. 
Na verdade a expansão do império romano foi tão expressiva que a população imperial não dava conta de colonizar as terras conquistadas, função para a qual muitos povos ditos bárbaros foram convidados, principalmente nas regiões fronteiriças. 
Todavia, devemos nos perguntar, qual o interesse desses povos no império? Primeiramente, eles foram pressionados a entrar no império, às vezes, em busca de proteção, devido aos movimentos dos nômades das estepes orientais, os terríveis e temidos hunos. Os hunos eram cavaleiros exemplares, atacaram toda a Europa e chegaram à porta de Roma. 
Em segundo lugar, a riqueza de Roma, funcionava como uma força de sedução e atração. Muitas populações bárbaras estavam mais interessadas em fazer parte do império do que propriamente em derrubá-lo. O clima mais quente e as terras férteis do sul da Europa também atuavam como força de atração para essas populações de agricultores. 
Convém chamar a atenção para o termo “bárbaro” que possui uma carga negativa, pois além de agrupar na mesma denominação um número grande de povos culturalmente diferentes, também possui uma carga depreciativa em relação à língua falada por esses povos, uma espécie de “balbuciar” infantil, segundo os romanos. Para eles, “bárbaros” era uma miríade de outros povos — godos, visigodos, ostrogodos, vândalos, francos, anglos, saxões etc — a maioria germanos, que possuíam uma tradição e língua aproximadas entre si. 
 Quando esses povos, finalmente, derrotaram o poderio romano, começou um longo processo de trocas culturais entre o “vencedor” e o “vencido”, desenvolvendo-se um período de formação de uma nova sociedade, que não era nem romana, nem bárbara. Muitos fatores contribuíram para o amalgamento das sociedades germânicas, dentre eles a hierarquização social semelhante à do império e, principalmente, o papel exercido pela Igreja como unificadora religiosa e ideológica. A Igreja, grande herdeira do poderio simbólico do Império Romano e de seu saber, vai, paulatinamente, unificando as duas culturas. 
O colapso político de Roma foi substituído por uma pluralidade de reinos germânicos até o século VIII. Nestes reinos,acelerou-se o processo de ruralização do Império Romano com a distribuição de terras levadas a cabo pela aristocracia germânica entre os guerreiros vitoriosos, aumentando a fragmentação política e a concentração populacional nas áreas rurais. 
Nesse período de formação da sociedade feudal, a insegurança física e econômica eram grandes. Os trabalhadores passaram a se colocar sob a proteção dos senhores proprietários e guerreiros, fortalecendo a instituição da servidão como regime majoritário de trabalho, em detrimento da escravidão e do trabalho livre. A servidão tornou-se o regime de mão-de-obra característico do feudalismo, mas esse é assunto para aulas posteriores.
 De qualquer maneira, os diversos reinos bárbaros alimentavam a nostalgia e o sonho de restauração do Império. Foram vários os líderes que tentaram restabelecer a centralização política, inclusive Carlos Magno do Reino Franco — assunto para a próxima unidade. 
Nessa aula você conheceu o processo que levou ao fim do Império Romano, conheceu suas causas internas — a própria característica da expansão — e suas causas externas, as pressões dos povos “bárbaros”. E vislumbrou também a formação de um novo mundo com características dos dois outros mundo que o formaram. Antes de você conhecer os novos reinos bárbaros, vai conhecer a parte oriental do Império.
Aula: 04 
Temática: A fundação e a geopolítica de Constantinopla 
Hoje — e por mais duas aulas — você vai estudar o Impé- rio Bizantino, formado na parte oriental do Império Romano que não sucumbiu à invasão bárbara. Inicialmente você vai conhecer a história da cidade de Constantinopla, atual Istambul na Turquia, a partir de sua fundação e de sua importância geopolítica para o Império Romano. 
Constantinopla foi reconstruída entre 324 e 336 por Constantino no local onde havia uma antiga colônia grega, chamada Bizâncio.. A cidade foi edificada segundo o modelo romano e logo após a inauguração foi denominada “Nova Roma”, ou seja, aquela que viria a ser a capital do Império Bizantino na verdade surgiu como uma cidade do Império Romano. A simbologia da refundação mostra claramente a idéia de recriar Roma às margens do estreito de Bósforo. 
Essa refundação tinha várias razões. Como afirmou Paul Lemerle, havia as razões estratégicas: 
[...] as ameaças mais graves que pesavam sobre o império vinham dos godos e dos persas; Roma, ela própria álias vulnerável às tribos da Germânia ou da Ilíria, estava extremamente afastada desses dois teatros de operações; Constantinopla, fortaleza inexpugnável, era ao mesmo tempo uma excelente base de partida, terrestre e marítima, contra os bárbaros do norte e do leste. Econômicas: a necessidade, em tempos tumultuados, de manter livre a rota dos estreitos e de assegurar as trocas comerciais entre o Mediterrâneo e os países da costa do Mar Negro, entre a Europa e a Ásia. Políticas, por fim: a decadência geral da Itália, já tão nítida no século II, tinha se precipitado; Romaorgulhosamente petrificada em seus velhos privilégios era uma cidade morta: o Oriente grego parecia claramente, por sua riqueza e civilização, a parte viva do império”
Todavia foi só em 404, com a pressão dos Visigodos — um dos povos germanos que invadiu o Império, que Constantinopla foi declarada a capital do Império Romano. 
Muitos dos aspectos ressaltados por Lemerle têm como base o aspecto geopolítico da cidade. E, nesse sentido, podemos fazer um paralelo com a situação atual, pois muito da importância geopolítica está relacionada ao fato de Constantinopla, atual Istambul, estar localizada exatamente na encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente, fazendo a ponte entre as duas regiões, sem ter uma definição clara se a cidade é ocidental ou oriental. Esse hibridismo atinge a própria Turquia, país em que, atualmente, se localiza Istambul. A Turquia está negociando a sua participação como membro da União Européia. Entretanto, essa participação não encontra consenso nem interna nem externamente. 
Do ponto de vista econômico a localização de Constantinopla favorecia o rico comércio entre o Ocidente e o Oriente, — o comercio de especiarias e de seda da China e Índia. Conseqüentemente, essa era uma área muito cobiçada. Uma das principais rotas comerciais, a da seda, estava na mão dos vizinhos persas com quem Bizâncio tinha que negociar e, por vezes, guerrear. 
Os bizantinos tentaram contornar a questão persa buscando novas rotas de comércio, mas fracassaram, muito embora tenham conseguido fundar colônias em outras regiões. Posteriormente, a fim de se livrar dos persas, aliaram-se com os turcos que terminaram por dominar a cidade. E, finalmente, por meio da aculturação dos produtos do Oriente, Bizâncio passou a produzir a seda. 
Sob o reinado de Justiniano (527-565), Bizâncio conheceu o apogeu cultural e econômico. O imperador conseguiu conter o avanço búlgaro e estabeleceu a paz com os persas. Por outro lado, deu início a uma política expansionista em direção à África e outras regiões da Ásia e da Europa, que acarretou um terrível aumento de imposto e descontentamento da população. 
Nos séculos seguintes, as dificuldades cresceram com as tentativas de dominação dos búlgaros e dos árabes e, principalmente com a questão religiosa que, por trás da questão da proibição dos ícones, escondia a disputa de poder entre o papado de Roma e o imperador Bizantino, autoridade política e, ao mesmo tempo, religiosa. 
Além das lutas internas, após o século XIII, o império passou a sofrer ataques dos sérvios e, posteriormente, dos turcos-otomanos, que, finalmente, tomaram Constantinopla, em 1453. Assim, quase mil anos depois, caía nas mãos dos turcos, a capital do império romano do oriente. 
Na aula de hoje você conheceu um pouco da fundação e da importância geopolítica de Constantinopla, capital do Império Romano e depois do Império Bizantino, fazendo a ponte entre Ocidente e Oriente não só no campo político e econômico, mas também cultural, como você vai ver nas próximas aulas.
Aula: 05 
Temática: O Império Bizantino: as questões religiosas 
Como na aula anterior, você vai ter contato com a porção oriental do Império Romano, o chamado Império Bizantino, que, por 1000 anos manteve um rico legado cultural. Hoje, especificamente, você vai conhecer as querelas religiosas que envolveram Bizâncio. 
“Essa discussão é bizantina”, você provavelmente já ouviu essa expressão sendo utilizada para descrever diálogos em que o resultado é inócuo. A origem dessa expressão está justamente nas discussões teológicas travadas nesse império. 
Essas querelas religiosas tiveram grande importância e estão na raiz da formação da Igreja Ortodoxa. Dentre as disputas teológicas, a de maior importância versava sobre a questão do duplo caráter de Jesus Cristo, divino e humano, estabelecido no Concílio de Nicéia. Se Cristo era Homem e Deus como ocorria a relação entre ambas? A partir dessas questão surgem duas correntes com respostas diferentes: a nestoriana e a monofisita. 
Para os nestorianos — seguidores de Nestório, patriarca de Constantinopla — Jesus tinha duas naturezas distintas: nasceu como homem e se tornou divino posteriormente. Já a doutrina monofisita estava interessada em defender a unidade divina e para isso, defendia que a encarnação (Cristo) não passava de aparência, simulacro. Simplificadamente, tendo em vista a dupla essência de Cristo, uma corrente ressalta o lado divino, o monofisismo, e a outra a humana, o nestorianismo. 
Essas discussões também expressavam conflitos sociais e aspirações nacionais.. O conflito tinha várias implicações. No ano de 381 foi realizado o primeiro concílio de Constantinopla — e o segundo concílio ecumênico da Igreja. Essa primazia de Constantinopla causava inveja aos bispos da rica Alexandria, celeiro de grãos de Bizâncio, daí os ataques às teses defendidas pelo bispo de Constantinopla.
 No fundo, essas desavenças abriam espaço para um “nacionalismo” cuja expressão aflorava na religião. Sem suportar a carga de impostos de Constantinopla, várias províncias bizantinas são cooptadas por essas dissidências que acabam por dar forma às novas igrejas (Síria, Egípcia, Armêna etc), num primeiro momento e depois acabam por incrementar a independência dessas regiões.
Outra discussão fundamental no aspecto teológico ocorrida no Império Bizantino foi a questão iconoclasta: uma querela sobre imagens ocorrida entre os meados do século VIII e o segundo quartel do século IX. A iconoclastia era um movimento que propunha a destruição das imagens, pois acusava a devoção aos santos de idólatra, com base numa interpretação do Antigo Testamento. Em Bizâncio, as imagens santos recebiam uma devoção que era vista como deturpação, pois os devotos estariam mais preocupados com a representação em si do que com a pessoa representada. Na verdade, novamente, por trás de uma disputa religiosa também havia outros interesses: uma luta entre o Império e os monges. Bizâncio queria dominar os monges e seu poder econômico, pois eles eram donos das imagens e dos locais de devoção o que rendia grandes afluxos de doações. Todavia, o Império capitulou, pois a força dos monges e da devoção popular foi mais forte.
 Na aula de hoje você conheceu um pouco sobre a fundação de Bizâncio e suas discussões teológicas sobre a natureza dupla de Cristo e o papel da iconoclastia.
Aula: 06 
Temática: Império Bizantino: ascensão e queda 
Na aula de hoje você vai conhecer o período de governo de Justiniano (518 – 610) marcado pela máxima expansão do Império Bizantino e o de Heráclito (610 – 641), marcado pela separação de Bizâncio em relação à parte ocidental do Império Romano.. 
No governo de Justiniano foi compilada a legislação romana, dando origem ao Código Justiniano, importante feito, pois manteve um dos aspectos fundamentais da estrutura romana. Todavia a grandeza de Bizâncio nesse período estava ligada à expansão militar e a suntuosidade do governo. 
Como imperador cristão, Justiniano acreditava justo moldar e interferir nos assuntos religiosos. Essa união entre a política e a religião ficou conhecida como “cesaropapismo”: 
Termo empregado para indicar um tipo de relacionamento entre Estado e a Igreja, cabendo ao primeiro o exercício de poderes tradicionalmente atribuídos à segunda, tais como a regulamentação da doutrina religiosa, a disciplina e a organização dos fiéis. O cesaropapismo implica reconhecer a subordinação da Igreja ao Estado.
 Justiniano também tentou reconquistar as antigas regiões do império romano para retomar o ímpeto e o glamour da antiga civilização. Essas conquistas são importantes porque juntam o Ocidente e o Oriente, dando novamente unidade ao império. Nesse sentido vale destacar que os próprios bizantinos chamavam a região de “România” e a si mesmos como “Romaioi”. 
De certa maneira sua tarefa de reconquista foi facilitada, pois a região por ele conquistada, a Mediterrânea, era justamente a que mantinha a maior porcentagem de romanos em relação ao número de povosbárbaros. Para a reconquista, ele contava com um exército de 150 mil homens. Todavia muitos eram bárbaros confederados, considerados indisciplinados e ávidos por recompensas: um exército de mercenários. 
As guerras provocaram excessivo aumento de impostos. Em 532, explodiu a revolta de Nika, apoiada pelos dois principais partidos políticos e pelos aristocratas. Em 541, o império é ainda mais abalado por um surto de peste bubônica. 
O esplendor do período pode ser visto na igreja de Santa Sofia, a catedral do império, que, pela magnificência, marca o reinado de Justiniano. Durante toda a Idade Média ela era chamada de a Grande Igreja e a simplicidade externa esconde a exuberância de mosaicos e mármores no seu interior; um estilo de arte que conciliava elementos romanos, gregos, orientais e cristãos. Ao inaugurar o monumento, Justiniano teria dito “Eu te venci, Salomão!”— uma referência ao templo de Jerusalém cuja construção é atribuída ao antigo rei dos judeus. 
A expansão e a exuberância das construções de Justiniano em Constantinopla davam a impressão de que Oriente e Ocidente estavam unidos. Todavia as contradições de Bizâncio e a ameaça dos reinos vizinhos promoveu uma continua pressão sobre o Império que paulatinamente foi perdendo territórios, até ser tomado pelos turcos otomanos, no século XV. 
A partir do reinado de Heráclito, 610-641, ocorreu um processo de helenização do Império, isto é de paulatina ascensão da influência grega. Nesse período, de uma certa maneira, Bizâncio deixa de ser o Império Romano do Oriente para ser o Império Grego do Oriente: a língua grega substituiu o latim como língua oficial. Assim, o que antes estava unido, sob Justiniano, Ocidente e Oriente, foi separado, e isso só fez o antagonismo Ocidente/ Oriente crescer. 
A Igreja com base em Roma percebeu que precisava converter os bárbaros se quisesse ter influência, pois estava perdendo a parte oriental em disputas religiosas. Desse modo a helenização abriu uma fenda entra as duas partes do antigo Império Romano, a ponto de, com o tempo, elas deixarem de se reconhecer como unidade histórica ou cultural. No século XIII, os guerreiros cristãos conhecidos como cruzados, invadiram e saquearam Constantinopla, declara inimiga em sua guerra santa. 
Após, a invasão dos turcos, dois séculos depois, internamente a antiga influência romana e cristã na cidade foi sendo “apagada” e, externamente, essa influência foi sendo apagada pelos registros históricos feitos pela cristandade européia. 
No século XV, finalmente, Constantinopla foi invadida pelos turcos otomanos e transformada na capital de um novo império islâmico. No século XX, com a fundação da República Turca, a capital foi transferida para Ancara e a antiga Constantinopla passou a ser oficialmente denominada Istambul. 
Na aula de hoje você conheceu a ligação entre Oriente e Ocidente por meio do império bizantino e a posterior separação, relegando ao esquecimento o passado comum vivido por essas duas regiões do planeta.
Resumo - Unidade I 
Nessa unidade você viu que, assim como para entender o nosso mundo é necessário estudar as questões mais amplas, tais como a política e a economia, também é necessário estudar o cotidiano e o modo como as questões mais abrangentes interagem no dia a dia. Assim, ao lado do estudo da sucessão de reis, das datas, das relações sociais e da estrutura econômica — a macro-história — também é necessário conhecer a alimentação, o vestuário, o pensamento e as construções do homem medievo, sua “micro-história”. Para isso a nova historiografia faz uso de fontes inusitadas, superando as dificuldades documentais do período, como objetos do dia a dia, ferramentas, vitrais, igrejas etc. Essas novas pesquisas permitem olhar o período com outros olhos, questionando os preconceitos Renascentistas e Iluministas, que viam no período um marco da ignorância e do atraso, e a idealização Romântica, que enxergava a Idade Média como fonte de ordem e espiritualidade. Nessa unidade você também estudou o declínio do Império Romano, sobre o qual se desenvolveu a sociedade feudal que caracteriza o período medieval. E estudou também o Império Bizantino, que se formou a partir da margem oriental do Império Romano e que constituiu um importante repositório da cultura grega e romana. 
Referências Bibliográficas 
ANDERSON, P. Passagens da antiguidade ao feudalismo. São. Paulo: Editora Brasiliense, 1974.
FRANCO, H. Jr..A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988. 
PARKER, G. Atlas da História do Mundo. São Paulo: Folha de São Paulo/ Times Book, 1993. 
PERROY, Édouard (org.). A Idade Média. In: História Geral das Civilizações, vol. I,II, III tomo III, , São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1957.
Consulte os sites abaixo, que contêm vários textos e algumas imagens sobre os temas abordados nessa unidade:
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=295 
http://www.brasilescola.com/historiag/conceito-idade-media.htm 
http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/mapa_do_site.htm
Aula: 07 
Temática: A ascensão do Reino Franco 
Na aula de hoje você vai conhecer um dos reinos bárbaros formados na Europa, após a queda de Roma, o reino franco, que obteve sucesso em termos de expansão militar. Vamos estudar o reino Franco e compreender a sua expansão e fragilidade. 
O reino Franco foi o mais poderoso da Alta Idade Média. Podemos dizer que ele teve início com Clóvis, o fundador da dinastia Merovíngia (481-751). Até então, os francos estavam dispersos sob vários domínios e foi ele que, aliado à Igreja, submeteu os outros líderes francos e impôs a unificação. A expansão de Clóvis também alcançou as terras vizinhas ocupados por outros povos germânicos. No processo de centralização do poder Clovis se converteu ao catolicismo, em 496, e tentou unir princípios romanos e francos.
 Enquanto a expansão territorial ocorria, os guerreiros eram agraciados com o butim das guerras por sua lealdade. Todavia, quando elas ficaram escassas o reino teve que conceder os benefícios com recursos de suas próprias terras e rendas, diminuindo a centralização. Na verdade, os reis da dinastia Merovíngia tratavam o reino como uma propriedade particular. 
Em 751, instaurou-se um a nova dinastia, a Carolíngia, com os descendentes de Carlos Martel. O primeiro rei dessa dinastia foi o Pepino, o Breve — assim chamado por causa da sua baixa estatura. Pepino obteve a sagração da Igreja como rei e consolidou o poder dos francos. 
A dinastia Carolíngia combateu a expansão muçulmana na península ibérica, o que fortaleceu o papel dessa dinastia como defensora da Cristandade contra os “infiéis”, como eram chamados os muçulmanos. Pepino também acatou um pedido do papa e interveio na península Itálica, doando posteriormente à Igreja as terras que dominou em Roma e adjacências - origem do Estado Papal, que, depois de sucessivas perdas territoriais, é hoje o Estado do Vaticano. 
O filho de Pepino, Carlos Magno (768-814), conquistou vitórias militares importantes contra os saxões da Germânia, acabando por convertê-los ao catolicismo, além de criar uma zona fortemente militarizada na fronteira oeste de seu império para evitar ataques muçulmanos. O já tradicional símbolo de defensor do Cristianismo adquirido pelos francos somado ao poder militar fabuloso de Carlos Magno chamou a atenção do papado que via nele uma forma de se proteger militarmente e de expandir o poder da Igreja. 
Assim, em 800, Carlos Magno foi sagrado imperador do Ocidente em Roma pelo papa Leão III. O Imperador de Bizâncio, após algumas negociações, aceitou e reconheceu o nova posição de Carlos Magno. 
O reino franco era dividido em centenas de condados, o que favorecia a fragmentação, mas Carlos Magno tomou medidas para centralização dentro do próprio reino como o juramento de fidelidade e a nomeação dos bispos dentro de seu Império, tentando fundir a Igreja ao Estado. 
Em uma época de grande instabilidade, a segurança do reinadode Carlos Magno possibilitou o florescimento de um pequeno comércio e um florescimento cultural (com construção de Igrejas, escolas para a nobreza e a tradução de obras clássicas). 
A tradição franca era de dividir o império entre os filhos, Carlos Magno já havia herdado o poder assim, mas dois de seus três filhos morreram e Luis, o Piedoso (814-840) herdou o Império. Com a morte de Luis, seus três filhos entraram em conflito e a disputa só se resolveu com a divisão do Império em três: França Oriental, França Ocidental e França Central, que após outros desdobramentos deram origem à Alemanha, França e Itália.
 Ao mesmo tempo em que disputavam o legado de Luis Piedoso, os três ainda tiveram que enfrentar a invasão normanda que contribuiu muito para a descentralização do poder, uma vez que muitos nobres se destacaram na defesa das invasões, obtendo o poder de fato nos territórios de suas posses. Com o tempo também os bispos que haviam se submetido a Carlos Magno vão tomando o poder em seus territórios e deixam ao poder imperial um caráter apenas simbólico. 
Como resumiu Hilário Franco Junior o império Carolíngio acabou por sucumbir a uma “contradição entre o universalismo da tradição romana e cristã versus o particularismo germânico” . Por exemplo, as condições precárias das estradas herdadas de Roma restringiam a ação dos Carolíngios, algo que não preocupava a maior parte dos povos bárbaros, preocupados somente com o poder local, mas era um grave empecilho a constituição de um poder centralizado, que se expande militarmente. Essas características de fragmentação política, importante papel da igreja e predomínio das atividades agrícolas têm todos os traços do feudalismo, o que veremos em aulas posteriores.
Nessa aula você aprendeu um pouco da história política do reino franco, o mais poderoso da Alta Idade Média, conheceu seu desenvolvimento, caráter simbólico, apogeu e crise.
Aula: 08 
Temática: Expansão do Islamismo 
Na aula de hoje você estudará a expansão do Islamismo no século VII, suas principais características e o impacto na Europa medieval. 
O Islã é a terceira religião monoteísta surgida no Oriente, ao lado do Judaísmo e do Cristianismo, e hoje é uma das grandes religiões do mundo. O islamismo se originou na península arábica pela pregação do profeta Maomé. A doutrina islâmica está contida no livro sagrado dos muçulmanos, o Corão, escrito após a morte do profeta e mantido até hoje, com poucas alterações. 
Maomé nasceu em 570, na cidade árabe Meca, um dos principais centros comerciais da região. Órfão, foi levado pelo avô para o deserto onde conheceu o estilo de vida dos beduínos (com suas guerras tribais e códigos de honra e vingança) e teve contato com várias religiões sendo influenciado pelo monoteísmo judaico e cristão. Aos 40 anos, em 610, em uma de suas meditações, passou a propagar que recebia revelações divinas. A pregação logo obteve acolhida entre os beduínos seduzidos pelas visões do paraíso difundidas pelo profeta. 
Com o crescimento do número de seus seguidores, a elite de Meca temeu que sua cidade sagrada perdesse a atração para os beduínos e proibiram a pregação de Maomé, passando a persegui-lo. Maomé fugiu para Medina onde formou uma pequena comunidade de seguidores A partida de Maomé para Medina é chamada de Hégira e marca o início do calendário muçulmano. Perseguido mesmo em Medina, os conflitos se acirraram e Maomé passou a ordenar ataques às caravanas para Meca, o que o reforçava financeiramente e prejudicava a economia da cidade que, finalmente, aceita a sua mensagem. Maomé volta então para Meca destrói os ídolos das outras religiões e transforma Meca no centro de sua religião. 
Unindo força diplomática e a jihad — guerra santa em nome de Alá — Maomé expandiu a nova doutrina por grande parte da península arábica. No período de um século, os exércitos árabes se expandiram para além da península, atingindo o norte da África, o sul da península ibérica e também o extremo leste da Pérsia e Índia. A expansão da fé islâmica continuou também pelas mãos dos comerciantes, chegando à Indonésia no século XIII, hoje o maior país islâmico. Entretanto, nesta aula estudaremos a expansão islâmica em seus primeiros movimentos. 
Uma primeira questão que você deve ter em mente é : como foi possível uma expansão tão avassaladora num espaço de tempo relativamente curto? 
Vários são os fatores que explicam a expansão islâmica. Em primeiro lugar, os impérios Bizantino e Persa, perpetuamente em luta, estavam enfraquecidos, abrindo espaço para ascensão de outra potência na região. 
A guerra baseada na jihad oferecia como atrativo o paraíso para aqueles que tombassem em seu nome, mas também novas terras e os materiais obtidos nos saques de caravanas. Ademais, o domínio muçulmano era relativamente tolerante para com aqueles que aceitavam o seu poder: na maior parte das vezes não forçando a conversão ao islã, os muçulmanos se limitavam a cobrar um imposto maior dos povos que não professavam a fé de Maomé. A permanência de cristãos e judeus em seus domínios demonstra isso, pois muitas das cidades sob o domínio muçulmano possuíam construções das três religiões, como Toledo e Córdoba, na Espanha. 
Embora a expansão tenha sido rápida, após a morte de Maomé as subdivisões do império acabaram por desintegrá-lo em diversos califados, palavra que significa “sucessores”. Como Maomé não havia especificado os critérios para a escolha de seus sucessores, grandes questões envolvendo a continuidade do império começaram a aparecer. A maior subdivisão ocorreu entre sunitas e xiitas. Os primeiros, são os seguidores da “suna”, isto é, da tradição, equiparada ao próprio Corão, o texto sagrado. Os sunitas se opunham a sucessão dos descendentes de Ali, genro do profeta. 
Os xiitas, por sua vez, eram minoria, mas defendiam o direito de sucessão de Ali. Essas e outras divisões acabaram por fragmentar o império. 
Todavia, o importante a destacar nesse contexto é que os muçulmanos dominaram as rotas de comércio pelo mediterrâneo e a ligação do Ocidente com o Oriente, o que contribuiu para seu enriquecimento e o desenvolvimento de uma rica cultura. Além de empurrar a Europa para a ruralização praticamente “fechando” o comércio mediterrâneo. Para a Europa cristã era um duplo problema: espiritual, pois eles dominavam boa parte da península ibérica e possuíam o controle da Terra Santa, e, econômico, as rotas do comércio oriental estavam sob o domínio dos seguidores Alá. 
Na aula de hoje você conheceu a origem da religião islâmica, seu método de expansão e conseqüências econômicas e religiosas para a Europa Cristã.
Saiba Mais 
O NASCIMENTO DE UMA CIDADE: CONSTANTINOPLA E SUA HERANÇA PAGÃ E CRISTÃ
Gilvan Ventura da Silva[1]
Ao longo da história, a fundação de poucas cidades desempenhou um papel tão significativo para os séculos posteriores quanto Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente situada na margem ocidental do Bósforo, sobre um promontório servido a norte por uma magnífica baía, curva como uma foice ou um chifre, de cerca de onze quilômetros de extensão conhecida como o Chifre de Ouro. A criação de Constantinopla se deu a partir da reconstrução da cidade de Bizâncio, fundada provavelmente em meados do século VII a.C. por colonos oriundos da polis de Mégara, os mesmos que alguns anos antes haviam se estabelecido em Calcedônia, do outro lado do Bósforo. O controle da rota do trigo proveniente da Trácia e que era escoado por intermédio do Ponto Euxino conferiu a Bizâncio uma posição estratégica no contexto do mundo grego, razão pela qual a sua conquista por Alexandre representou uma etapa preliminar fundamental para a construção da Oikoumene alexandrina. 
Mais tarde, com a expansão romana em direção ao Oriente, Bizâncio celebra com os novos conquistadores um tratado de auxílio mútuo, passando então a receber proteção contra os ataques rotineiros desencadeados pelos habitantes da Trácia. Em 73, a cidade é definitivamente incorporada ao Impériopor Vespasiano, o qual suprime os seus privilégios, anexando-a inicialmente à província da Bitínia e depois à da Trácia. Na guerra civil desencadeada em 193 com o assassinato de Pertinace, Bizâncio converteu-se na base de operações do então governador da Síria, Pescênio Nigro, na sua cruzada rumo ao Império, o que lhe valeu um tratamento desfavorável da parte de Septímio Severo após a derrota de Nigro em 194 (Norwich, 1989:62). Ao término de um sítio de quase três anos, Severo não apenas destruiu as imponentes muralhas que protegiam a cidade como também rebaixou o seu status, tornando-a dependente de Perinto em termos administrativos, punição que não durou muito tempo. Ainda sob Severo, as fortificações de Bizâncio foram reconstruídas, ao passo que Caracala, sucedendo o pai, cuidou de restabelecer a sua autonomia. Em meados do século III, em plena Anarquia Militar, Bizâncio foi invadida por Galieno, o que facilitou o deslocamento dos piratas godos, os quais se aproveitaram da situação vulnerável da cidade para atravessar o Bósforo e o Dardanelos, lançando-se sobre o Egeu. Sob a Tetrarquia, tornou-se evidente a necessidade de melhorar a defesa da cidade, o que foi feito mediante a construção de novas muralhas (Gwatkin, 1936:17). A posição estratégica de Bizâncio, situada na confluência entre o Oriente e o Ocidente, fez dela a principal fortaleza de Licínio na guerra movida contra Constantino a partir de 323. Em 18 de setembro de 324, Licínio foi definitivamente derrotado em Crisópolis, tornando-se Constantino senhor de todo o Império. Bizâncio e Calcedônia imediatamente abriram suas portas ao novo imperador (Barnes, 1981:77). Cerca de dois meses depois, em 8 de novembro de 324, Constantino iniciou a ampliação das muralhas da cidade, fato que coincide com a elevação de Constâncio, seu filho, à dignidade de César (Tem. Or. IV, 58B).
Nada nos autoriza a concluir, entretanto, que já em 324 Constantino pretendesse fazer de Bizâncio a sede do poder imperial no Oriente. No que diz respeito ao conjunto de reformas empreendidas, devemos considerar dois momentos distintos. Num primeiro momento, tudo leva a crer que Constantino tenha desejado tão somente realizar algumas obras de embelezamento na antiga fortaleza de Licínio. Já num segundo momento, possivelmente após a comemoração das Vicenálias do imperador em Roma, acontecimento que teve lugar em julho de 326, decidiu-se que Bizâncio se transformaria na “Nova Roma”, ou seja, na capital das províncias orientais, como comprova o aumento considerável nas emissões monetárias pelo ateliê da cidade a partir de 327 (Bruun, 1966:562). A adoção do nome de Constantinopla, mesmo em termos oficiosos, deve remontar a 324, uma vez que a reconstrução de cidades pelos imperadores romanos, com a conseqüente alteração do topônimo a fim de perpetuar a memória do evergeta, era uma prática comum no Império, a exemplo do que vemos ocorrer com Trajanópolis e Adrianópolis. De fato, já a partir de 326 as moedas cunhadas em Bizâncio portam no reverso as iniciais CONS, indicando pertencerem ao ateliê de Constantinopla (Bruun, 1966:569). Na realidade, a iniciativa de Constantino em restaurar Bizâncio pode ser compreendida dentro de toda uma tradição segundo a qual a realização de obras públicas era uma das atividades rotineiras dos imperadores, especialmente ao término das guerras civis, quando o poder imperial necessitava reafirmar a sua legitimidade. Disso nos dá testemunho o autor anônimo da Origo Constantini (VI,30), uma curta biografia de Constantino escrita logo após a sua morte em maio de 337, ao declarar que o imperador renomeou Bizâncio em memória da sua vitória sobre Licínio. A construção de uma nova capital destinada a rivalizar em dimensão e beleza com a cidade de Roma, no entanto, é um fato único, merecendo sem dúvida um tratamento mais cuidadoso. Os imperadores da Tetrarquia, é bem verdade, optaram por não fixar residência em Roma, preferindo instalar-se em cidades como Milão, Sírmio e Nicomédia, as quais foram restauradas e embelezadas para abrigarem a sede do poder imperial, ainda que o imperador não permanecesse nelas por muito tempo em função dos múltiplos deslocamentos aos quais estava sujeito por força do cargo. Mesmo assim, não verificamos nesses casos qualquer propósito explícito de tornar tais cidades equivalentes a Roma.
A decisão de Constantino em fazer de Constantinopla a réplica de Roma no Oriente deve ser situada, ao que tudo indica, entre 327 e 328, quando o imperador, retornando da celebração das suas Vicenálias, começa a buscar em território oriental um sítio adequado para a nova cidade que planejava fundar. Nesse ponto coincidem as declarações de Eusébio de Nicomédia, Zózimo, Sozomeno e do autor anônimo do Chronicon Pascale, uma obra do século VII que registra ano a ano os principais acontecimentos da História de Roma.[2] O imperador teria começado a edificar a sua nova cidade em Ílion, na Tróade, plano que logo abandonou em favor de Bizâncio, como nos informam Zózimo (II,30,1) e Sozomeno (II,3,2). Infelizmente, as razões que levaram Constantino a mudar de opinião não são tratadas de modo satisfatório por nossos autores. Apenas Sozomeno (II,3,3) nos fornece uma explicação mais detalhada ao pretender que Constantino teria abandonado Ílion por força de um sonho oracular no qual Deus o transportara a Bizâncio, mostrando-lhe que ali deveria ser erigida a sua cidade. Mesmo que não aceitemos a explicação de Sozomeno, não resta dúvida que a decisão de Constantino em transformar Constantinopla na capital do Oriente apresenta uma inequívoca conotação religiosa, havendo duas versões, uma pagã e outra cristã, para o ritual de fundação da cidade. Segundo uma tradição conservada por João Lídio, a data para a realização da consecratio de Constantinopla teria sido fixada por meio de cálculos astrológicos, ocorrendo no dia em que o Sol se encontrava na constelação de Sagitário e na hora regida por Câncer. A cerimônia de lançamento do milion, a pedra fundamental a partir da qual foram demarcadas as fronteiras urbanas, teria sido presidida pelo hierofante Pretextato e pelo neoplatônico Sôpatros (Norwich, 1989:64). Filostórgio, um autor cristão escrevendo cerca de um século mais tarde, nos fornece um relato da consecratio, a consagração religiosa do território da cidade, no qual são eliminados quaisquer indícios genuinamente pagãos, substituídos pela referência a um poder celestial genérico, o que sem dúvida tornaria o ritual mais aceitável para as consciências cristãs. Segundo o autor (Phil. II,9) Constantino, ao traçar o perímetro da cidade,
(...) caminhou em torno dela com a lança em suas mãos. Quando os seus assistentes pensaram que ele estava traçando um espaço muito extenso, um deles se dirigiu [ao imperador] e perguntou-lhe: “até onde, ó príncipe?”, ao que o imperador respondeu: “até aquele que vai à minha frente parar”. Por esta resposta, manifestava claramente que algum poder celestial o estava conduzindo e dizendo o que fazer.
Uma vez realizada a consecratio, as obras prosseguiram em ritmo acelerado, recebendo Constantinopla inúmeras construções destinadas a fazer dela uma réplica de Roma. Assim como Roma, o novo território da cidade, agora quatro ou cinco vezes maior que o traçado original e gozando do ius italicum, a isenção de impostos sobre a propriedade fundiária, passou a compreender sete colinas e quatorze regiões (Lemerle, 1991:18). A cidade recebeu também um hipódromo, banhos públicos (as termas de Zeuxipo), uma domus imperial, um fórum e uma basílica para as reuniões do Senado (Chron. Pasc. année 328). Um pouco depois, em 332, iniciou-se a distribuição gratuita de trigo à plebe urbana, assim como ocorria em Roma, o que suscitou mais tarde a reprovação de Eunápio (Vit. Soph. p. 381). A despeito da reticência de Millar (1992:55) em atribuir a Constantino o desejo de construir uma cidade que fosse a réplica de Roma no Oriente, considerando que a equiparação entre ambas foi o resultado de uma evolução posterior, parecem subsistir poucas dúvidasacerca das intenções do imperador. Assim é que o seu biógrafo anônimo não hesita em atribuir-lhe o desejo de equiparar Constantinopla a Roma (Orig. Const. VI,30). Do mesmo modo, Aurélio Vítor (Ces. XLI) registra a opinião corrente no IV século segundo a qual Constantino, aos olhos dos seus contemporâneos, foi tido como o fundador de uma Nova Roma. E se dermos crédito ao depoimento tardio de Sócrates (XVI,21), vemos que o imperador determinou que a cidade fosse oficialmente designada como Nova Roma, fazendo gravar a lei em um pilar de pedra erigido no Strategium, próximo a sua estátua eqüestre. Para cumprir uma obra tão grandiosa em tão pouco tempo, Constantino promoveu uma espoliação sistemática dos templos pagãos provinciais, transportando para a nova capital inúmeras estátuas e demais monumentos (Eus. Vit. Const. 54, 1-4). 
Muito embora as obras de reconstrução de Constantinopla tenham prosseguido até pelo menos 336, estabeleceu-se que a dedicatio dos novos edifícios públicos deveria coincidir com as comemorações dos vinte e cinco anos de reinado do imperador. A data escolhida para a inauguração foi 11 de maio de 330, dia no qual se celebrava o festival em honra a São Mócio, um mártir de Bizâncio sob Diocleciano ou Licínio, o que enfatizava a derrota do último dos perseguidores por Constantino (Barnes, 1981:222), tendo sido a cidade dedicada ao “Deus dos mártires” segundo o depoimento de Eusébio de Cesaréia (Vita. Const. III, 48, 1).[3] A dedicação solene da nova capital ao Deus cristão parecia traduzir o desejo imperial de construir uma cidade inteiramente cristã, isenta de qualquer elemento pagão, o que sem dúvida estaria em contradição flagrante com o epíteto “Nova Roma” a ela atribuído. Na realidade, a matriz intelectual da tradição que concebe Constantinopla como uma cidade erigida para honra e glória do cristianismo pode ser facilmente identificada, possuindo seus fundamentos na biografia de Constantino escrita por Eusébio de Cesaréia, o qual declara que o imperador:
impregnado por completo de sabedoria divina, considerou justo purgar de toda idolatria aquela cidade [i.e. Constantinopla] que por decisão sua se destacaria levando seu próprio nome, de modo que em nenhum lugar dela haveria rastro algum de estátuas dos pretensos deuses que costumavam ser objeto de culto nos templos, nem altares sujos com jorros impuros de sangue, nem vítimas devoradas pelo fogo, nem festividades demoníacas, nem nada ao qual poderiam estar acostumadas as pessoas supersticiosas (Eus. Vit. Const. III,48,1-2).
A opinião de Eusébio aqui expressa é compartilhada também por Sozomeno (Hist. Eccles. II,3,7), o qual afirma que Constantinopla, tendo se tornado capital num momento em que o cristianismo se encontrava em ascensão, não conheceu a experiência nem dos altares ou sacrifícios pagãos, salvo a que foi tentada mais tarde, durante um breve período, por Juliano, quando foi imperador. Naturalmente que a exposição pública em Constantinopla das estátuas das divindades pagãs arrancadas aos templos, fato impossível de ser ocultado, deveria receber uma justificativa minimamente plausível por parte dos autores cristãos.[4] Assim é que para Eusébio (Vita Const. III,54,1-7), Constantino teria utilizado os espólios dos templos na decoração de sua cidade com a finalidade de dessacralizar os ícones do paganismo, fazendo-os transportar de um lugar para o outro amarrados com cordas, como se fossem escravos. Cerca de um século mais tarde, o mesmo argumento é retomado por Sócrates (Hist. Eccles. I,XVI), sugerindo-se que Constantino destruiu a superstição dos pagãos ao trazer as suas imagens à contemplação pública para ornamentar a cidade de Constantinopla. 
Na opinião corrente entre os autores cristãos da época, Constantinopla teria nascido sob a égide do cristianismo, fato comprovado não apenas pela dedicação da cidade ao “Deus dos mártires” , como mencionado anteriormente, mas pela instalação do símbolo da cruz, convertido em talismã tutelar do Império por Constantino, no teto da sala principal do palácio (Eus. Vita Const. III,49). O notório apego de Constantino à potência mágica da cruz o levou igualmente a erigir sobre o milion, um quadrilátero formado por arcos do triunfo encimados por uma cúpula, a venerável Cruz de Cristo trazida de Jerusalém por sua mãe, Helena, quando da peregrinação empreendida entre 326 e 327 (Norwich, 1989:65). Por tudo isso, Constantinopla parece ser dotada de uma inequívoca vocação missionária, razão pela qual Sozomeno (II,3,7) declara que ela atrai de modo tão intenso para a fé no Cristo que muitos judeus e quase todos os pagãos aí se tornam cristãos. Que os autores cristãos compreendam a fundação de Constantinopla nestes termos não constitui motivo de admiração. No entanto, a ênfase na mística cristã que envolve a cidade de Constantino é reproduzida sem maiores reservas por diversos historiadores, os quais se apressam a concluir pela filiação cristã da cidade em detrimento das suas permanências pagãs. Essa é a posição adotada por Barnes (1981:212), para quem a nova capital deveria ser uma cidade cristã na qual os imperadores cristãos poderiam residir em um ambiente não maculado pelos edifícios, ritos e práticas de outras religiões. Opiniões semelhantes são compartilhadas por outros autores, como por exemplo Baynes (1996:14), Stein (1959:128) e, em certa medida, Norwich (1989:63). Em oposição frontal a esta tese, há uma corrente historiográfica que advoga a coexistência de tradições religiosas distintas no contexto de fundação da capital, o que nos impediria de atribuir a Constantinopla uma natureza exclusivamente cristã, ao menos para os primeiros tempos da sua criação[5]. A consulta à documentação disponível parece apoiar muito mais os defensores das permanências pagãs em Constantinopla do que os da cristianização plena. Mais que isso, as evidências sugerem, de modo notável, a existência de um autêntico sincretismo entre as duas correntes religiosas, tendo a figura imperial como denominador comum. Vejamos como isso é possível. 
Em primeiro lugar, tendo sido construída para exaltar a grandeza do poder imperial, Constantinopla expressava em seus monumentos a nova representação da realeza que se afirma na passagem do Principado para o Dominato, conforme sugere muito corretamente Diehl (1961:53). Suas festividades e seus monumentos se ajustam com perfeição ao conjunto de símbolos que configuram a basileia, a realeza sagrada helenístico-cristã, a qual possui como uma das suas características mais significativas a conversão do imperador em uma entidade de natureza divina e sua realeza em algo arquetípico, autêntica mimesis da realeza sobrenatural, com a reestruturação do culto imperial de modo a enfatizar os atributos místicos do soberano reinante em detrimento dos demais divi já falecidos. Nesse sentido, Constantinopla é dominada pela figura de seu criador, o qual faz da cidade um espelho a refletir toda a sua majestade celestial. De fato, no centro do vasto e suntuoso fórum, inteiramente pavimentado em mármore, erguia-se uma coluna de pórfiro vermelho trazida especialmente de Heliópolis, a cidade egípcia do Sol. A coluna se apoiava em um pedestal de mármore no interior do qual Constantino havia introduzido o Paládio, uma antiga estátua de Atená que, segundo a mitologia, havia sido transportada de Tróia para Roma por Enéias e entregue aos cuidados das vestais. Junto da estátua foram colocados também, conforme uma lenda corrente, o machado com o qual Noé havia construído a Arca, as cestas com as sobras do pão multiplicado por Jesus para alimentar a multidão faminta e o jarro da unção utilizado por Maria Madalena. No alto da coluna de pórfiro foi erigida uma grande estátua de Constantino proveniente da Frígia. O imperador aparecia representado aqui com a cabeça rodeada de raios solares confeccionados em bronze, atributo característico das divindades solares. (Chron. Pasc. anée 328). 
A estátua de Constantino se assemelhava, assim, ao Sol Invictus, expressando a equiparação do imperador comos seus congêneres cósmicos. Muito embora convertido à fé cristã, Constantino nunca abandonou por completo nem a devoção a Apolo que havia marcado os seus primeiros anos de governo nem a tradição familiar que o fazia herdeiro de Cláudio, o Gótico, o qual se acreditava pertencer a uma estirpe solar (Maurice, 1911). Na qualidade de Sol Invictus, ele é não apenas o guardião onipotente, onipresente e invencível da capital, mas também a reatualização de Enéias, o herói fundador de Roma, conjugando-se no monumento todos os elementos que compunham o universo religioso da época. Incrustradas nele, tanto as relíquias cristãs quanto as pagãs são preservadas para a eternidade, postas aos cuidados de um soberano que é o paredro terrestre do Sol Invictus, uma divindade reverenciada por todo o Oriente. A assimilação entre a imagem de Constantino e o Sol Invictus se tornou tão intensa que a estátua logo se converteu em objeto de adoração para os habitantes de Constantinopla. Filostórgio (II,17) declara que os cristãos ofereciam sacrifícios a uma imagem de Constantino colocada sobre uma coluna de pórfiro e a honravam com lâmpadas acesas e incenso, e ofereciam votos a ela como a Deus, e faziam súplicas a ela para desviar as calamidades. Desse modo, na suposta capital cristã do Oriente o culto imperial que durante três séculos havia sido um motivo de tormento permanente para os cristãos recebe um extraordinário impulso. Nesse momento, as oferendas votivas que outrora eram reservadas apenas aos deuses passam a ser consagradas ao próprio imperador.
A presença dominante de Constantino na capital não é evocada apenas por intermédio da monumental estátua erguida no fórum, mas pela cerimônia anual de comemoração da dedicatio. No decorrer dessa cerimônia, diante da população reunida no hipódromo, era apresentada para adoração uma estátua do imperador confeccionada em madeira e revestida de ouro. Na mão direita da estátua se encontrava a representação de uma Tyche, a Fortuna da cidade. Conduzida sobre um carro por um cortejo solene de soldados vestidos com a clâmide e portando círios brancos, a estátua se deslocava em torno do hipódromo até parar diante da tribuna imperial, ocasião na qual o imperador se levantava e se prosternava diante da imagem de Constantino e da Fortuna (Chonic. Pasc. Anée 330), no que era acompanhado por todos os espectadores. A cerimônia aqui descrita é a da adoratio, a adoração da pessoa sagrada do imperador, a qual integrava o conjunto de rituais próprios da basileia. Nesse caso específico, a cerimônia tem por finalidade exigir, da parte do imperador reinante, o reconhecimento e a reverência devidos para com o fundador de Constantinopla. Ritual de natureza pagã e cumprido diante das imagens dos deuses pelos suplicantes, a adoratio foi assimilada sem maiores traumas pela elite eclesiástica após a conversão de Constantino, de modo que a sua existência dentro de um Império cada vez mais cristão não deve nos causar surpresa. Já a presença no ritual da imagem da Fortuna, a qual deveria ser reverenciada juntamente com o imperador, representa sem dúvida uma inovação significativa, atestando uma inequívoca permanência das tradições pagãs em Constantinopla. 
O culto à Fortuna na qualidade de protetora ou fundadora das cidades, e não apenas como a divindade tutelar dos indivíduos, remonta ao início da época helenística, quando os Diádocos dividiram entre si o Império de Alexandre. Deusa caprichosa, responsável pelos imprevistos incoerentes e até mesmo injustos da existência humana, a Fortuna personifica ao mesmo tempo a opulência das cidades, razão pela qual seus atributos principais são a pátena e a cornucópia (Hild, s/d.). No caso de Constantino, a deferência para com o culto à Fortuna é um fato incontestável. Por intermédio da narrativa de Zózimo (II,31,3), temos conhecimento de que o imperador teria feito erguer um templo ou uma êxedra em homenagem à Fortuna próxima a um dos pórticos que integravam o conjunto arquitetônico do fórum. Além disso, em 328 Constantino celebrou também um sacrifício não sangrento no decorrer do qual batizou a Fortuna da cidade com o nome de Anthousa, em grego “Florescente” (Chron. Pasc. Anée 328). Em uma moeda de prata cunhada para as comemorações da dedicatio de 330, vemos a imagem de Antusa portando a cornucópia (Bruun, 1966:578, n º 53). Mediante o culto à Fortuna, associado agora ao próprio culto imperial, Constantino sem dúvida pretendia garantir para a sua nova capital a mesma eternidade da qual gozava Roma, o que o levou a declarar que havia dotado Constantinopla, por mandato de Deus, com um nome eterno (C. Th. XIII,5), muito provavelmente o nome de Flora ou Antusa, denominações sacerdotais secretas de Roma (Burckhardt, 1938:394).
A adoração à Fortuna não foi o único culto pagão permitido oficialmente em Constantinopla. Graças ao testemunho de Zózimo (II,31,1-2), sabemos que próximo ao hipódromo foi erguido também um templo aos Dióscuros, os gêmeos mitológicos filhos de Zeus, muito provavelmente como uma referência à irmandade entre Roma e Constantinopla. Outra divindade a receber um templo ou um santuário foi Réia-Cibele, a deusa frígia cujo culto era desde a República um dos mais importantes de Roma. A estátua da deusa, trazida de Cícico, teria sido adulterada por Constantino, que retirou os leões que a ladeavam, convertendo-a em uma orante a velar pela cidade (Zoz. II,31,1-2), o que se adequava melhor ao espírito sincrético da capital. De qualquer modo, as informações contidas em Zózimo contrariam de modo flagrante a afirmação dos autores eclesiásticos segundo a qual Constantinopla teria sido preservada de qualquer influência pagã.
De acordo com a mentalidade romana, a conexão entre a ordem visual e o regime político era indissolúvel, necessitando os imperadores que o seu poder fosse evidenciado, de modo duradouro, por intermédio de monumentos e obras públicas (Sennet, 1997:81), razão pela qual se esmeraram sempre em construir ou reconstruir cidades como uma forma de celebrar a sua glória sobre a terra. Disso resulta que as cidades, erigidas em pedra e devotadas à eternidade, representavam um poderoso instrumento de perpetuação da memória imperial, assinalando que a missão civilizadora de Roma diante do mundo bárbaro se cumpria por determinação dos imperadores. A ação de Constantino, nesse caso, não foge à regra, exceto pelo fato de o imperador ter projetado não uma cidade qualquer, mas uma réplica oriental de Roma, o centro do mundo então conhecido, pólo irradiador da romanidade sobre o território circundante. A obra de Constantino o equiparava ao mesmo tempo a Enéias e a Rômulo, não sendo por acaso que a fundação de Constantinopla se encontrava relacionada, desde o início, a Tróia. Nesse aspecto, a Nova Roma recolhia todas as tradições pagãs acerca da criação da Urbs, herança essa da qual, em nossa opinião, Constantino jamais pretendeu se afastar. Por outro lado, a influência cristã em Constantinopla é um fato inegável, tendo a cidade cedo se constituído no mais importante bispado do Oriente, rivalizando com sés antigas e veneráveis, tais como Alexandria, Antioquia e Jerusalém (Angold, 2002:19). 
Na verdade, a criação de Constantinopla representa um feito espetacular na medida em que o basileus surge, frente à sociedade romana da época, como um ser capaz de dotar o mundo de um novo centro, melhor dizendo, de reordenar o próprio cosmos, delimitando um novo espaço a partir do qual o sagrado se difunde sobre a superfície terrestre, protegendo-a da ameaça permanente do caos (Eliade, 1992:34). No contexto de redefinição dos fundamentos do poder imperial, de construção de uma realeza sagrada eivada de elementos pagãos e cristãos, era necessário que Constantino produzisse uma nova abertura por meio da qual se pudesse realizar a comunicação entre o céu e a terra. Roma não era inadequada aos propósitos de Constantino por ser uma cidade pagã, mas por ser o baluarte de uma concepção política de origem republicana que relutava em reconhecer os imperadores vivoscomo seres sagrados. Já Constantinopla, encravada na fronteira entre o Oriente Próximo e a Grécia, compartilhava de todas as tradições helenísticas sobre a realeza, as quais por sua vez resultavam da reelaboração de símbolos e rituais que remontam sem dúvida à monarquia faraônica, como comprova a perpetuação ao longo de todo o Império do costume de se atribuir aos imperadores a titulatura própria dos antigos soberanos egípcios. Em termos simbólicos, fazia-se necessário encontrar uma nova capital que pudesse expressar o sincretismo e as novas concepções que cercavam a basileia, e a escolha finalmente recaiu sobre Bizâncio, por razões de ordem diversa que não temos condições de discutir aqui. O importante é registrar que em Constantinopla o basileus romano representa, tanto na vida como na morte, uma autêntica epifania, tornando-se o seu corpo, depositado no mausoléu anexo à Igreja dos Santos Apóstolos, objeto de culto e veneração. Desse modo, Constantinopla se convertia em um extraordinário santuário a conservar para a eternidade as relíquias dos seus imperadores embalsamados e depositados em sarcófagos de ouro e madeira, como convinha a membros de uma estirpe sagrada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Documentação primária impressa
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Aula: 09 
Temática: O poder da Igreja 
Na aula de hoje você vai conhecer um pouco da instituição que teve o maior poder nos 1000 anos da Idade Média, controlando desde o cotidiano do homem medieval até os mais poderosos imperadores. Ao longo dessas aulas você tem aprendido alguns aspectos sobre a Igreja, pois ela permeia vários assuntos do período. Aqui, centraremos a análise em alguns aspectos específicos. 
O papel da Igreja num primeiro momento após a queda de Roma foi importante para o processo de fusão entre hábitos romanos e “bárbaros”. Antes das invasões algumas missões cristãs já haviam se dirigido ao território bárbaro e difundido o cristianismo. Todavia, a maioria dos povos bárbaros optou pelo arianismo, doutrina considerada herética pela Igreja que contestava a divindades de Jesus Cristo. Jesus, reconhecido como Filho teria sido um homem orientado à imagem de Deus, sem, contudo compartilhar a sua essência. O combate ao arianismo foi marcante no Concilio de Nicéia de 325. 
Na seqüência a Igreja utilizou de sua influência não só para lutar contra a heresia, mas para, com o poder da espada e também do martírio, converter os hesitantes ao cristianismo. Segundo John Keegan “a conversão foi muitas vezes imposta pela ponta da espada, mas os cristãos... também morreram como mártires no esforço de implantar o evangelho entre os povos selvagens”1 Por isso apoiou o Reino Franco contra os demais povos bárbaros, mesmo quando ele ainda não era cristão pois já dava sinais claros de que se converteria à ortodoxia. Dentro dessa estratégia, um passo importante foi à conversão dos magiares, da região da atual Hungria, e que invadiram a parte mais ocidental da Europa diversas vezes. Uma vez convertidos, no século X, acabaram servindo como um obstáculo ao avanço dos povos das estepes. 
Já do ponto de vista territorial, a Igreja era a maior possuidora de terras da Idade Média. No começo fazendo uso da sua prerrogativa de herdeira do Império Romano para manter o que detinha e, posteriormente, conseguindo gradativamente mais aquisições das mais variadas maneiras. Desde doação da elite romana ou bárbara (em vida ou após a morte), passando pela dos ricos mercadores das cidades italianas até as terras conquistadas aos muçulmanos ou aos infiéis. 
Apesar de boa parte do poder econômico da Igreja estar baseado nas grandes extensões de terra — que era a principal riqueza da época — os tesouros conseguidos nas pilhagens em territórios dentro e fora da Europa, reforçavam a beleza das Igrejas. Além disso, os camponeses eram obrigados a pagar o dízimo. Mas vale ressaltar, conforme explica o historiador da Idade Média, que “os cavaleiros, os camponeses, doam voluntariamente aquilo que possuem porque temem a morte, o julgamento, e os monges os protegem contra os piores perigos: aqueles que não se vêem”
A suntuosidade das igrejas e conventos também acabava servindo para contornar problemas monetários. Como o número de moedas na Idade Media era baixo, eram as igrejas que suprimiam a demanda quando ela crescia: derretiam-se as suas riquezas e cunhava-se o ouro. 
A educação também era praticamente um monopólio dos padres, pois, em geral, eles eram os únicos alfabetizados. Os mosteiros medievais guardavam a maioria das obras da antiguidade, protegendo-as da destruição e da pilhagem bárbara. Ficava a cargo dos mosteiros a reprodução dessas obras manualmente. Por vezes o monge copista sequer compreendia a língua em que estava escrito o texto que ele estava copiando, mas o trabalho era feito com esmero. A grande quantidade de iluminuras e asletras em ouro que iniciavam os textos são prova desse cuidado, embora, alguns textos antigos tenham sido apagados para dar lugar a outros, uma vez que os suportes para a escrita eram caros e raros. Os documentos, geralmente, pergaminhos que eram raspados e reutilizados eram chamados de palimpsestos. 
Esse monopólio cultural trazia conseqüências não só para a educação do período, extremamente controlada, mas também para a formação dos governos do período. Para fazer funcionar a máquina administrativa os príncipes e reis precisavam utilizar os serviços do clero, únicos com conhecimento suficiente para auxiliá-los. 
Essa proximidade, especialmente na Alta Idade Média, acabou fazendo com que os religiosos se aproximassem mais dos interesses terrenos do que da vida espiritual, uma promiscuidade entre o poder da Igreja e o poder dos senhores feudais, mostrando uma clara decadência moral e dos hábitos de parte expressiva do clero. Ademais, um nobre ao construir uma Igreja em seus domínios poderia influenciar no campo religioso. Em uma época de grande religiosidade, supomos que a população se sentia desamparada com essas atitudes. 
O poder da Igreja abarcava também a medicina. Até o século XII não se praticava a dissecação de cadáveres, portanto, não se conhecia em profundidade a anatomia do corpo humano, pois como na doutrina cristã o homem havia sido feito à semelhança de Cristo, de certa, forma, violar o corpo humano seria ofender a Deus.
A força do cristianismo é tão clara que abarca a própria concepção de tempo. O nosso calendário está baseado na data que na época se acreditava que Cristo havia nascido, método estabelecido pelo Abade Dionísio em 525. A contagem do tempo na Idade Média seguia as alterações físicas da natureza e eram anunciadas pelo sino da igreja, mostrando o controle do clero sobre a vida das pessoas. A concepção de tempo que tempos hoje “tempo é dinheiro”, em que sempre vivemos na pressa, pois há a possibilidade de ganharmos dinheiro, era estranha à Idade Média. Para demonstrar isso, vale destacar que o relógio, até final do século XVII só tinha o ponteiro das horas, muitas pessoas nem o ano em que nasceram sabiam. 
Pode parecer algo sem importância, mas controlar o tempo significa determinar quando é correto trabalhar e descansar, quando devemos pagar tributos aos governantes e a Deus, quando podemos nos sociabilizar por meio das festas marcadas pelo calendário cristão, quando devemos guardar abstinência sexual ou nos alimentar ou, até, mesmo guerrear. O controle da Igreja atingia também a dimensão econômica, por meio da proibição da cobrança de juros, por exemplo, como veremos na próxima aula. 
A ideologia cristão pregava a ordem social medieval como reflexo de uma ordem natural tripartite que dividia os homens entre oratores, bellatores e laboratoes: isto é, os que rezam, os que guerreiam e os que trabalham. Claramente, esses eram os papéis reservados respectivamente à Igreja, aos nobres e aos camponeses. 
Encerramento 
Nessa aula você viu conheceu alguns dos aspectos do poder multifacetado da Igreja, que abarca desde a medicina até sua própria posição na ordem natural da sociedade. 
Um dos métodos mais comuns de tratamento era a sangria, que consistia em retirar sangue do doente acreditando que o mal era originado do desequilíbrio de líquidos no corpo.
Aula: 10 
Temática: Igreja, bárbaros e o islã na formação da Europa 
Na aula de hoje você vai conhecer a situação da Europa nesse período de reestruturação, em que a Igreja, o islamismo e os bárbaros estão em um processo de acomodação, conflito e influências mútuas e que acabaram por construir a Europa do período. 
Sem o poder unificador do Império Romano, foram frágeis as tentativas dos Francos em repetir o poderio romano. A Europa mergulhou em um período marcado pelas relações entre a Igreja, os bárbaros e o islamismo. Essas relações devem ser ressaltadas pois, em geral, a cultura cristã e bárbara sofrem influência recíprocas nesse período, enquanto encontra no islã um inimigo, ainda que por vezes a convivência seja possível como no sul da Espanha. 
Com relação aos povos chamados bárbaros, vale a pena traçar os pontos em comum, considerados os riscos oriundos de generalizações desse tipo. A estrutura social, política e econômica dessas sociedades guardava analogias, o que pode ser explicado porque muitas delas tinham como traço comum a origem germânica. Seu sistema econômico estava baseado na exploração coletiva da terra e nas trocas entre os produtos agrícolas e de animais. A guerra perpassava toda a sociedade e era elemento importante no sistema econômico para a obtenção de riquezas. A estrutura social era patriarcal, cabia ao chefe tomar as decisões, e politicamente era organizado com base nos clãs familiares. Só havia uma reunião de vários clãs para assuntos de suma importância como a preparação para a guerra. Quando a guerra era declarada, o comandante e o comandado reforçavam laços de lealdade. As aldeias bárbaras possuíam habitações pobres e suas vestimentas eram feitas a partir de couro de animais e tecidos rústicos. Do ponto de vista religioso, eram animistas, isto é, adoravam as forças da natureza como o vento, o sol, a chuva etc. 
O encontro com o cristianismo transformou essa sociedade, principalmente no quesito cultural. Os povos bárbaros, já nostálgicos do Império Romano, viram na Igreja uma fonte de poder que poderia substituir o domínio de Roma. Afinal, a Igreja tornou-se a guardiã do poderio romano. A absorção da ideologia cristã pelos povos bárbaros não ocorreu de uma hora para outra e sem resistência, pelo contrário, apareceram várias heresias e a Igreja precisou se abrir e adaptar vários ritos e traços da cultura germânica ao ideário católico. O paganismo dos povos bárbaros foi, aos poucos, se revestindo com os traços cristãos e vice-versa: deuses são adaptados, datas pagãs são incorporadas ao calendário cristão, etc.
 Nesse longo e desigual processo de unificação entre o cristianismo e os povos bárbaros, a invasão da península ibérica acaba desempenhando um papel importante ao transpor os infiéis muçulmanos para uma Europa que se pretendia cristã. Assim, foi possível encontrar um motivo objetivo para os guerreiros bárbaros seguirem o ideal cristão. No entanto, não podemos pensar o mundo muçulmano somente em oposição ao cristão, pois o islamismo trouxe conhecimentos novos à Europa — além de ser, ela mesma, como vimos,uma religião formada pela conciliação das duas outras religiões monoteístas de maneira relativamente tolerante. Também vale destacar que as condições de higiene do mundo muçulmano eram muito superiores ao mundo “cristão” devido ao caráter de purificação que a água adquire para os muçulmanos, levando-os a se manterem limpos para as freqüentes rezas diárias: hábito que muito contribuiu para a redução das doenças nas regiões islâmicas. Sem falar dos avanços nos estudos da física ou medicina levados à cabo por muçulmanos e judeus em algumas cidades antigas do atual Oriente Médio. 
Nesta aula apresentamos um pouco mais sobre a as relações entre as três culturas — bárbara”, cristã e muçulmana — que, de diferentes maneiras, auxiliaram a formação da Europa no período. O patriarcalismo e a descentralização dos povos bárbaros, a cultura cristã e a “ameaça” muçulmana, estão na base da estrutura que a Europa começa paulatinamente a ter.
Resumo - Unidade II 
Nessa unidade você conheceu o início da reestruturação da Europa após a queda de Roma, e também a expansão do islamismo. 
Entre os reinos bárbaros que ser formaram com a dissolução do império, o dos Francos foi o mais importante. A Igreja desde cedo o apoiou na perspectiva de criação de um novo império cristão. Por isso os primeiros reis merovíngios receberam o suporte institucional da Igreja que aumentou ainda mais em relação à Carlos Magno que, além da expansão territorial, fortaleceu a centralização política por meio de juramentos de fidelidade e nomeação de membros do clero. 
Enquanto as

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