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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE VALENÇA – CESVA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DOM ANDRÉ ARCOVERDE MEDICINA VETERINÁRIA RAIVA URBANA – RAIVA DOS CÃES E GATOS – RENATA VITÓRIA CAMPOS COSTA DISCIPLINA DE DOENÇAS INFECCIOSAS E EPIDEMIOLOGIA VALENÇA 2011 RAIVA URBANA - RAIVA DOS CÃES E GATOS A raiva é uma doença que acomete mamíferos e pode ser transmitida ao homem, sendo portanto, uma zoonose. É causada por vírus que causa uma encefalomielite fatal, tanto para o homem, quanto para os animais. Apesar de conhecida desde a antigüidade, a raiva continua sendo um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, especialmente a transmitida por cães e gatos, em áreas urbanas. Em alguns países da África e Ásia, por exemplo, a raiva humana, causada através da infecção por cães e gatos, provoca cerca de 55.000 mortes por ano. CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS DA RAIVA URBANA - Distribuição: A raiva está presente em todos os continentes, à exceção da Austrália e Antártica. Alguns países desenvolvidos (Inglaterra, Irlanda, Japão e países escandinavos) obtiveram sucesso na erradicação da doença, mais ainda é efetuada a vigilância (Figura 01). Na América Latina ainda ocorrem casos de raiva humana transmitidos pelo cão, assim como tem sido um problema emergente os surtos de raiva causados pelos morcegos hematófagos, principalmente na região Amazônica. Figura 01 – Distribuição da Raiva Humana, segundo risco de transmissão Fonte: Manual Técnico – Instituto Pasteur. 2009. No Brasil, a raiva humana ainda faz vítimas e a doença apresenta níveis distintos de endemicidade nas diferentes regiões do País. Na região Sul, a raiva urbana está controlada. Os últimos casos em humanos nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina ocorreram em 1981. No Paraná, o último caso humano foi registrado em 1987. Apesar disso, em 2001 ocorreu no Rio Grande do Sul um caso em felino cuja fonte de infecção foi uma variante de VR de origem de morcegos não hematófagos. Em 2007 ocorreu a contaminação de um cão com uma variante de morcegos usualmente detectada em morcegos insetívoros. Assim, apesar de episódios isolados de contaminação com vírus de outros hospedeiros naturais, as variantes do VR que tem como hospedeiro natural o cão não tem mais sido detectadas em populações caninas na região Sul. As demais regiões do País ainda apresentam casos de raiva urbana. Não obstante, ao examinar os casos notificados no Brasil no decênio 1997-2006, observa-se que tem havido um decréscimo significativo e continuado de casos em caninos e felinos. No período de 1990 a 1993 a raiva se apresentou com um número médio anual de 63 casos; de 1994 a 2001 ocorreram, em média, de 25 casos/ano. Após 10 óbitos em 2002 e 17 em 2003, houve em 2004 e 2005 uma importante mudança de perfil epidemiológico da doença ocasionada por surtos de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos nos Estados do Pará e Maranhão. Por ocasião desses surtos (2004-2005), o Brasil foi responsável por cerca de 40% dos casos de raiva nas Américas. A Figura 02 demonstra a evolução da raiva humana nas Américas, segundo a espécie transmissora, no período de 2000 a 2008, segundo dados da OPAS. Figura 02 – Casos de Raiva Humana nas Américas segundo fonte de infecção – 2000 a 2008 Fonte: Manual Técnico – Instituto Pasteur. 2009. - Reservatórios e ciclos epidemiológicos da raiva: Provavelmente todas as espécies animais de sangue quente são passíveis de serem infectadas pelo vírus da raiva (VR). No entanto, a maioria dessas espécies, quando infectadas, tornam-se hospedeiros finais do agente, pois a infecção resulta em morte e não ocorre disseminação do mesmo para novos hospedeiros. Para garantir sua perpetuação na natureza, o VR adaptou-se a determinadas espécies, denominadas “hospedeiros naturais”, as quais servem como reservatórios do vírus. Os hospedeiros naturais são os principais reservatórios da infecção. Ocasionalmente, espécies de hospedeiros não naturais do vírus (hospedeiros finais) podem atuar como reservatórios da infecção Na natureza, o VR é mantido pelos reservatórios, em ciclos ocasionalmente inter-relacionados, denominados ciclos urbanos, silvestre (aéreo e terrestre) e ciclo rural (Figura 03). No ciclo urbano, as principais fontes de infecção são o cão e o gato domésticos. O caráter zoonótico da raiva é mais evidente neste ciclo em função da natureza da relação entre cães e humanos. Variantes do VR adaptadas a cães são detectadas em áreas onde a raiva urbana permanece endêmica. O ciclo urbano se faz presente, também, em regiões onde a raiva canina foi controlada, com a ocorrência de casos de raiva em cães e gatos com variantes de morcego. A população felina, face às baixas coberturas vacinais nesta espécie e ao seu instinto predador, passa a ser mais vulnerável a se infectar com o vírus da raiva através de contatos com morcegos de espécies hematófagas ou não hematófagas. O ciclo silvestre aéreo refere-se à raiva em morcegos. No Brasil, o morcego hematófago é o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre. Morcegos não hematófagos também podem se infectar e disseminar o vírus. Outros reservatórios silvestres (ciclo silvestre terrestre) são: macaco, raposa, coiote, chacal, gato-do-mato, jaritataca, guaxinim e mangusto. O ciclo rural refere-se à raiva dos herbívoros, que envolve, principalmente bovinos e eqüinos e na qual o principal vetor é o morcego hematófago. Outras espécies de animais de produção também são englobadas nesse ciclo, como ovinos, caprinos e suínos. . Figura 03: Ciclos epidemiológicos da raiva: Fonte: Guia Epidemiológico. Ministério da Saúde. 2007. AGENTE ETIOLÓGICO O vírus da raiva (VR) pertence à ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. O gênero Lyssavirus é presentemente subdividido em sete genótipos. O VR é classificado como genótipo “1”, sendo o protótipo do gênero. Além desses, outros quatro novos genótipos foram propostos recentemente. Até o presente, nas Américas, todas as amostras de vírus do gênero Lyssavirus isoladas pertencem ao genótipo 1, que compreende todas as amostras “clássicas” do VR. A partícula completa do vírus rábico (denominada vírion) apresenta um formato característico que lembra uma bala de revólver, com um diâmetro de aproximadamente 75 nm e comprimento entre 100 e 300 nm. Seu genoma é constituído por RNA. de fita simples Apresenta dois antígenos principais: um de superfície, constituído por uma glicoproteína, responsável pela formação de anticorpos neutralizantes e adsorção vírus-célula, e outro interno, constituído por uma nucleoproteína, que é grupo específico. O VR é envelopado e, como tal, sensível a detergentes e solventes lipídicos (éter, clorofórmio). Sua resistência fora do hospedeiro é baixa. O vírus é rapidamente inativado a temperaturas altas, sendo destruído a 50°C durante 15 minutos. É sensível ao dessecamento, luz solar, radiação ultravioleta, hipoclorito de sódio, soda cáustica a 2%, sabões, detergentes, formalina a 10%, glutaraldeído a 2%, fenóis a 5%, cresóis e ácidos e bases e em extremos de pH. O vírus se mantém estável por longos períodos a 4°C, se conservado a -20°C em tecidos mergulhados em glicerina tamponada, o vírus se mantém por vários anos. Nos anos 80, com a utilização de anticorpos monoclonais para o estudo de amostras do VR, a ocorrência de variantes antigênicas tornou-se bemmais evidente. Aqueles estudos e muitos outros que os sucederam confirmaram que amostras de VR originárias de diferentes hospedeiros naturais apresentavam variantes com características antigênicas particulares. Com esse painel foram identificadas no Brasil até o presente: as variantes denominadas 2, encontrada principalmente em cães, apresentando o perfil típico de amostras de raiva urbana; a variante 3, usualmente identificada em morcegos hematófagos Desmodus rotundus; a variante 4, identificada em morcegos insetívoros Tadarida brasiliensis; a variante 5, relacionada a morcegos hematófagos na Venezuela, porém no Brasil isolada de uma “raposa” ou “cachorro-do-mato” (Cerdocyon thous) e a variante 6, isolada de um morcego insetívoro Lasiurus cinereus. TRANSMISSÃO A maioria das infecções pelo vírus rábico se dá por transmissão percutânea, através da mordedura de animais infectados. O vírus é introduzido através da saliva do animal infectado. A lambedura de pele com ferimento já existente ou de mucosa, mesmo íntegra, pode, ocasionalmente, levar à transmissão de raiva. A arranhadura por unha de gato, que tem o hábito de se lamber, pode ser profunda, introduzindo o vírus. Os receptores do vírus rábico no organismo encontram-se na pele e nas mucosas. Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos, persistindo durante toda a evolução da doença. Em relação aos animais silvestres, há poucos estudos sobre o período de transmissão, sabendo-se que varia de espécie para espécie. Por exemplo, especificamente os quirópteros podem albergar o vírus por longo período, sem sintomatologia aparente. PERÍODO DE INCUBAÇÃO O período de incubação da raiva é muito variável após infecções naturais. Diversos fatores podem estar associados a um maior ou menor período de incubação, tais como a amostra de vírus envolvida, o local da mordedura (quanto mais próximo do sistema nervoso central, mais rápido o acesso do vírus ao mesmo), a carga viral presente na ocasião da agressão, a suscetibilidade da espécie exposta e imunidade do animal agredido. Geralmente, o período de incubação é de 2 a 12 semanas, porém períodos superiores á um ano já foram relatados. REPLICAÇÃO NO HOSPEDEIRO E PATOGENIA DA RAIVA O vírus se replica no local da inoculação, inicialmente nas células musculares ou nas células do tecido sub-epitelial, até que atinja concentração suficiente para alcançar terminações nervosas, sendo este período de replicação extra neural responsável pelo período de incubação relativamente longo da raiva, quando comparado com outras infecções virais. Contudo, ocasionalmente, pode ocorrer a entrada direta do vírus no Sistema Nervoso central (SNC), sem replicação prévia no músculo. O vírus é conduzido via terminações nervosas motoras, aos nervos periféricos, provavelmente pela combinação de fluxo axoplásmico retrógrado, transmissão célula- célula via junções sinápticas, até atingir o SNC. A distribuição do vírus rábico não é homogênea no SNC e muitas vezes, os sintomas estão associados com a localização anatômica no cérebro. A partir da intensa replicação no SNC, o vírus da raiva segue em direção centrífuga, disseminando-se através do sistema nervoso periférico e autônomo para os tecidos não neuronais de diferentes órgãos (pulmões, coração, rins, bexiga, útero, testículos, folículo piloso etc.) e glândulas salivares, sendo eliminado pela saliva. Sua excreção através da saliva é o principal mecanismo de disseminação e perpetuação do mesmo na natureza. Um aspecto interessante em relação à infecção pelo vírus da raiva, diferentemente do que ocorre com a maioria das encefalites, é o fato de não haver uma grande reação inflamatória, com destruição de tecidos. No caso da raiva há poucas alterações neuropatológicas, fato contraditório com a intensidade dos sintomas e letalidade apresentada pela infecção. A doença ocorre por causa da disfunção neuronal e não pela morte celular. A disfunção neuronal é causada pelas anormalidades na neurotransmissão envolvendo, principalmente o GABA (ácido gama aminobutírico). SINTOMAS DA RAIVA NO CÃO E GATO: - Raiva no cão: Os sinais clínicos aparecem somente após o envolvimento do SNC.- - O início do quadro, ou fase prodrômica, pode anteceder as manifestações mais típicas e revelar sinais pouco sugestivos, tais como alterações de comportamento, inapetência, apatia, depressão, inquietude e incoordenação motora. A fase prodrômica dura, aproximadamente, 3 dias. - Após a fase prodrômica manifesta-se a fase furiosa, freqüentemente observada em caninos, onde o sinal mais marcante é a agressividade com tendência a morder objetos, outros animais, o homem (inclusive o seu proprietário) e morder a si mesmo, muitas vezes provocando graves ferimentos. A salivação torna-se abundante, uma vez que o animal e incapaz de deglutir sua saliva, em virtude da paralisia dos músculos da deglutição. Há alteração do seu latido, que se torna rouco ou bitonal, devido à paralisia parcial das cordas vocais. Os cães infectados pelo vírus rábico tem propensão de abandonar suas casas e percorrer grandes distancias, durante a qual podem atacar outros animais, disseminando, dessa maneira, a raiva. Embora possam ser também observados sinais de depressão, excitabilidade, mudanças de comportamento, insônia e, ocasionalmente, febre. - Pode ocorrer ainda uma apresentação clínica muda ou paralítica com fase de excitação ausente, inaparente ou curta. Uma paralisia ascendente se manifesta a partir dos membros inferiores, dificuldade de deglutição, sialorréia, coma e morte. - Raiva no gato: A raiva em gatos geralmente apresenta-se sob a forma furiosa, com sintomatologia similar à do cão. A mudança de comportamento, muitas vezes, não é observada, uma vez que os gatos são animais “semi-domésticos”. • Em conseqüência das características da doença, o animal raivoso é facilmente atropelado em vias públicas, o que exige muito cuidado ao prestar socorro a um animal. O cães e gatos infectados pelo VR podem estar eliminando vírus na saliva desde o 5° dia, antes de apresentar os primeiros sintomas. A evolução da raiva nos cães e gatos é de aproximadamente 5 a 7 dias e termina com a morte do animal por paralisia respiratória. Deve-se considerar que os sinais e sintomas das diferentes apresentações não seguem, necessariamente, seqüências obrigatórias ou apresentam-se em sua totalidade. Especial atenção se deve dar a outras sintomatologias que podem ocorrer quando a raiva em cães e gatos for transmitida por morcegos, fato que vem ocorrendo em algumas regiões do pais. DIAGNÓSTICO É essencial que seja realizado o diagnóstico laboratorial. Todo mamífero que apresente qualquer sintoma neurológico, ou com diagnóstico clínico de raiva, deve ser submetido ao diagnóstico laboratorial, para a confirmação da doença e para que sejam adotadas medidas de controle. O tecido de eleição para o diagnóstico de raiva é o encéfalo dos animais suspeitos. A distribuição do vírus rábico não é homogênea no SNC e, por esta razão, a porção de eleição para encaminhamento ao laboratório de diagnóstico varia de espécie para espécie. As regiões mais habitualmente atingidas são: hipocampo, tronco cerebral, medula e células de Purkinje no cerebelo ou fragmentos de tecidos encefálicos. Cuidados na remoção do encéfalo, como o uso de equipamentos de proteção individual, são importantes para evitar acidentes e inoculações acidentais com material infectado. Todo indivíduo que executa ou auxilianecropsias de animais com suspeita de raiva deve se submeter ao esquema vacinal pré-exposição e ter seu soro dosado para anticorpos anti-rábicos - Acondicionamento, conservação e transporte da amostra: O material para diagnóstico deve ser acondicionado em saco plástico duplo, vedado hermeticamente, identificado de forma clara e legível, não permitindo que a identificação se apague em contato com a água ou gelo. A amostra, devidamente embalada e identificada, deve ser colocada em caixa de isopor, com gelo suficiente para que chegue bem conservada ao seu destino. A caixa deve ser rotulada e bem fechada, não permitindo vazamentos que possam contaminar quem a transporte. O modo de conservação dependerá do tempo (estimado) decorrido entre a remessa ao laboratório e o processamento da amostra: • até 24 horas – refrigerado; • mais de 24 horas – congelado; Juntamente com o material, deve ser enviada a ficha epidemiológica completa, com o nome e endereço do solicitante, a espécie do animal e os possíveis contatos com humanos e animais; se houve observação do animal doente e qual o período; se o animal foi sacrificado ou morreu naturalmente, etc. - Provas laboratoriais: a) - IFD: A Prova de eleição para o diagnóstico rápido da raiva é a Imunofluorescência Direta (IFD). Esta passou a ser amplamente utilizada devido a sua alta sensibilidade e especificidade. A IFD baseia-se na detecção do vírus em esfregaços de tecido com anticorpos específicos conjugados a uma substância fluorescente (isotiocianato de fluoresceína). Em um laboratório com equipamento e pessoal adequadamente treinado, a IFD chega a atingir sensibilidade e especificidade próximas a 100%. b) - A prova biológica É o teste confirmatório obrigatório quando o resultado da IFD resulta negativo. Trata-se da inoculação em camundongos lactentes de tecido cerebral de animais suspeitos (em amostras negativas pela IFD). Os camundongos devem ser observados por um período de 30 dias. Buscando diminuir as necessidades de inoculação em animais de experimentação, por razões tanto humanitárias como de custo, há uma tendência a substituir a inoculação de camundongos pela inoculação de cultivos celulares. c) A Histopatologia Consiste na coloração de impressões de diferentes porções do sistema nervoso central com o corante de Sellers e na pesquisa (por meio de microscopia ótica comum) da presença de inclusões patognomônicas da infecção rábica denominadas corpúsculos de Negri, que são concentrações de proteínas virais que se localizam no citoplasma da célula infectada. Principalmente no corno de Amon (hipocampo), nas células de Purkinje do cerebelo e na medula. Tais inclusões são acidófilas, com granulções basófilas. A utilização da coloração de Sellers permite a realização de um diagnóstico diferencial entre raiva e cinomose, visto que a infecção pelo vírus da cinomose determina a formação de inclusões de Lentz, que são intracitoplasmaticas ou intranucleares e basófilas e possuem estrutura homogênea. Porém, essa técnica pode deixar de identificar amostras positivas para raiva, visto que os corpúsculos de Negri são visualizados em apenas em 70 a 80 % das amostras positivas (70 a 80% de sensibilidade). Técnicas baseadas em métodos moleculares vêm sendo largamente aplicadas ao diagnóstico e caracterização do VR O diagnóstico sorológico não é rotineiramente empregado para diagnóstico de casos suspeitos de raiva em animais; nestes casos, o exame post mortem do sistema nervoso em busca de antígenos é absolutamente eficaz. DIAGNÓSTICO - Diagnóstico diferencial da raiva canina Cinomose, encefalites não especificadas, infestação por helmintos (migração de larvas para o cérebro), intoxicação por estricnina, atropina, doença de Aujeszky, eclâmpsia, ingestão de corpos estranhos e traumas medulares, constituem-se algumas das enfermidades que podem se assemelhar, clinicamente, à raiva canina. - Diagnóstico diferencial da raiva felina: Pode-se fazer o diagnóstico diferencial da raiva felina, doenças como encefalites, intoxicação e traumatismo cranioencefálico. PREVENÇÃO E CONTROLE A prevenção da raiva urbana baseia-se na vacinação de cães e gatos. No Brasil, atualmente, são vacinados cerca de 24 milhões de cães e gatos ao ano. Os Programas de controle populacional, a captura de cães errantes e o estimulo à posse responsável de animais, são medidas essenciais para o controle e erradicação da raiva urbana. A Campanha Anual de Vacinação Contra a Raiva Canina é uma das ações do Programa de Controle da Raiva. Por intermédio dela, se procura obter um grande número de animais vacinados, num mesmo e breve espaço de tempo. A meta a ser atingida pela vacinação de cães no sistema de campanhas, preconizada no 8º Informe de Peritos em Raiva da OMS, é de, no mínimo, 75% da população canina estimada. A cobertura vacinal das Campanhas Nacionais de vacinação de cães e gatos vem aumentando a cada ano. Porém, existem diferenças significativas quanto às diferentes regiões do Brasil. No Nordeste e Norte, regiões com as maiores notificações, a cobertura é menor do que nas regiões onde a enfermidade se apresenta em baixos níveis. As vacinas também estão disponíveis para a comercialização em clínicas particulares e estabelecimentos comerciais autorizados. As vacinas utilizadas em cães e gatos são vacinas inativadas, aplicadas uma vez ao ano a partir dos 3 meses de idade. O controle de focos com a aplicação de vacinação em massa, nas áreas focal e perifocal, são as medidas recomendadas nos casos de ocorrência de raiva em cão ou gato. Informações detalhadas quanto às campanhas de vacinação, tipo e doses de vacinas e outras informações importantes relacionadas à vacinação de cães e gatos, podem ser encontradas no link: http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/informacoes/manuais/manual_3/manual_00.htm Como a raiva acomete todas as espécies de mamíferos, recomenda-se que todo e qualquer animal suspeito de estar infectado com o vírus da raiva seja encaminhado para diagnóstico laboratorial. Profilaxia da raiva humana: O veterinário deve sempre orientar o proprietário (ou qualquer pessoa) que foi agredido (ou teve contato direto) por um cão ou gato suspeito ou já diagnosticado como positivo para raiva, a procurar um posto de saúde. A profilaxia será recomendada pelo médico. A avaliação do risco na profilaxia da raiva depende de vários fatores. As espécies de estimação ou de companhia são as principais transmissoras da raiva aos homens no mundo, e responsáveis pela maioria dos atendimentos. No nosso meio os agravos com cães representam 85 a 95% e com gatos cerca 7 a 10%. A classificação de área geográfica com raiva controlada ou não-controlada é baseada na existência de raiva nessas espécies. A situação epidemiológica norteia a conduta médica a ser adotada, pois se o acidente ocorrer em área geográfica de raiva não-controlada e a natureza da lesão grave, severa, deve-se iniciar o tratamento, durante o período de observação do cão ou do gato.Por outro lado, mesmo em casos de exposição de natureza grave, quando o animal agressor é de uma região em que a raiva se encontra controlada, existe tranqüilidade em se observar o animal durante os 10 dias, e não indicar a profi laxia anti-rábica. Além disso, é importante que seja avaliada, por um veterinário, a condição do animal agressor quanto ao estado sanitário, estado clínico e hábitos de vida. Deve ser ressaltado que quando um animal apresenta comportamento diferente, mesmo que ele não tenha agredido pessoas, não deve ser mortoe enterrado. Caso morra ou tenha sido submetido à eutanásia, fragmentos do SNC devem ser enviados para diagnóstico da raiva em laboratório especializado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, H.B.C.R.; FRANCO, A.C.; ROEHE, P.M. Raiva: uma breve revisão. Acta Scientiae Veterinariae. 35(2): 125-144, 2007. MINISTERIO DA SAUDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilancia Epidemiologica. Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva. 2009. MINISTERIO DA SAUDE. Guia de Vigilância Epidemiológico. 2007. SÃO PAULO. Manual Técnico do Instituto Pasteur: Educação e Promoção da Saúde no Controle da Raiva. 2000.
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