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A Imagem do Negro no Meios de Comunicação

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WEB AULA 1 – 05/05/2016 
Visão geral 
 
Apresentação da Disciplina: 
A disciplina ―A imagem do negro nos meios de 
comunicação‖ visa despertar o olhar do aluno para a 
formatação deste veículo e suas abordagens frente 
aos fatos divulgados. Avalia a representação do 
homem e da mulher negra nestes meios e a 
influência da realidade atual sobre sua identidade e o 
reconhecimento dos demais em relação ao negro. 
 
 
Objetivos: 
Despertar o olhar crítico dos alunos sobre a realidade 
dos meios de comunicação e a sociedade brasileira, 
tendo como foco principal das reflexões o contexto 
social em que está inserido o negro; observar 
diferentes situações da mídia de modo a 
compreender interesses daqueles que detêm a 
propriedade dos veículos sobre o assunto 
transmitido; destacar a necessidade de 
democratização da mídia para que a diversidade 
cultural esteja presente nos conteúdos midiáticos, 
bem como os posicionamentos dissonantes frente a 
determinados fatos. 
 
Conteúdo Programático: 
Ementa: O negro na mídia. A disciplina será dividida 
em duas unidades, sendo a primeira voltada aos 
estudos das representações sobre o homem e a 
mulher negra nos meios de comunicação e, na 
segunda, uma análise do processo de 
democratização dos meios de comunicação e a 
participação dos homens e mulheres negras na 
mídia. 
Para a abordagem ao primeiro tópico será 
contextualizado o conceito de mídia e analisada a 
representação do negro na televisão brasileira, bem 
como a construção de sua identidade. No segundo 
item de estudo serão apresentadas ainda reflexões 
sobre o processo de democratização dos meios de 
comunicação e a participação dos homens e 
mulheres negras na mídia, tendo ainda estudos de 
casos sobre a difusão da cultura negra no rádio. 
 
Metodologia: 
 
Na unidade utilizaremos todos os recursos 
necessários e disponíveis para o desenvolvimento da 
discussão do conteúdo. Sendo assim, faremos uso 
de: 
 Textos da própria webaula e de 
outros sites que possam contribuir para a 
discussão; 
 Vídeos que podem esclarecer ou aprofundar 
determinados conteúdos; 
 Fóruns para discussão de tópicos onde seja 
possível a troca de ideias e conteúdos entre os 
discentes e docentes; 
 Avaliações virtuais onde será realizada a 
verificação do aprendizado; 
 Entre outros recursos que poderão ser 
utilizados visando maior entendimento da 
matéria. 
 
 
 
Avaliação Prevista: 
 
Cada webaula conterá uma avaliação virtual 
composta de cinco questões (sendo assim, temos 
duas webaulas com cinco questões cada). Quando 
houver fórum de discussão, o aluno será avaliado 
quanto ao conteúdo de sua postagem, onde deverá 
comentar o tópico apresentando respostas completas 
e com nível crítico de avaliação pertinente ao nível 
de pós-graduação. 
 
 
Critérios para Participação dos 
Alunos no Fórum: 
 
 
Quando houver fórum de discussão, o aluno será 
avaliado quanto ao conteúdo de sua postagem, onde 
deverá comentar o tópico apresentando respostas 
completas e com nível crítico de avaliação pertinente 
ao nível de pós-graduação. Textos apenas 
concordando ou discordando de comentários de 
outros participantes do fórum, sem a devida 
justificativa ou complementação, nada acrescentam 
ao debate da disciplina, sendo assim, devem ser 
evitados. Os textos devem sempre vir acompanhados 
das justificativas para a opinião do discente sobre o 
conteúdo discutido, para que assim possamos dar 
 
continuidade ao debate em nível adequado. Além 
disso, podem ser utilizadas citações de artigos, livros 
e outros recursos que fundamentem a opinião ou 
deem sustentação à sua posição crítica sobre o 
assunto. Deve ser respeitado o tópico principal do 
fórum, evitando debates que não têm relação com o 
tema selecionado pelo professor. 
 
Habilidades e Competências 
 
Espera-se que no final do curso os alunos possam: 
Ampliar seus conhecimentos e o seu olhar sobre a 
realidade dos meios de comunicação; Tenham 
subsídios para a busca de mais informações sobre 
as circunstâncias de marginalidade midiática em 
que o negro é submetido; Compreender a 
importância de discussões e interferências 
populares diante do tema tratado na disciplina; 
Consigam articular a relação de suas práticas 
profissionais e pessoais em favor de mudanças 
neste sistema comunicativo. 
 
 
AFRICANIDADES E CULTURA AFRO-
BRASILEIRA 
 
Unidade 1 – As representações dos Homens e 
Mulheres negras na televisão brasileira 
WEBAULA 1 
Olá. Sou o professor Oswaldo Miguel e juntos vamos estudar a 
participação dos homens e das mulheres negras nos meios de 
comunicação. 
O CONCEITO DE MÍDIA 
―A verdade é maior do que o mercado. O leitor não é consumidor, 
mas cidadão. O jornalismo é serviço público, não espetáculo‖ (Alberto 
Dines). 
VIDEOAULA 1 
Mas a mídia brasileira parece não seguir esse caminho e faz um 
trajeto contrário ao pensamento de uma grande parcela da sociedade 
brasileira. A linha que a conduz passa, sem dúvida, pelo não 
pluralismo, elemento principal na cobertura e no debate de assuntos 
considerados estratégicos pelas elites dominantes. No Brasil, o 
processo da construção do consenso tem forte influência da TV, 
principalmente da Rede Globo, que domina a audiência no país. Além 
disso, a agenda nacional de debates sofre forte influência de um 
pequeno grupo de jornalistas, que ocupam espaços nobres nas 
emissoras de TV e rádios, e nas colunas opinativas na maioria dos 
grandes jornais impressos. Esses estão próximos da classe dominante 
e do pensamento hegemônico neoliberal. Entretanto, como pode uma 
mídia brasileira ser parecida numa sociedade tão dividida como a 
nossa? Mas existem explicações, como, por exemplo: 
a) O alto grau de concentração da propriedade dos meios de 
comunicação, o controle de diferentes tipos de mídia por um mesmo 
grupo; e b) A união entre os vários tipos de mídia (TV, rádio e mídia 
impressa) no plano operacional. 
As três famílias que dominam a comunicação no Brasil*: 
 
 
Leia texto de Luiz Egyto e entrevista com o 
pesquisador Daniel Herz sobre: Quem são os 
donos da mídia no Brasil. 
 
OS JORNAIS DE REFERÊNCIA NACIONAL E OS FORMADORES DE 
OPINIÕES. 
No Brasil de hoje, pode-se afirmar que existem três grandes jornais 
de circulação nacional: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e o 
Globo, que são referências no país e exercem papel crucial na 
definição da agenda nacional. Todos eles são gerenciados como 
propriedades familiares, mantendo os métodos autoritários, os 
valores e mentalidade conservadora dos antigos proprietários de 
terra. Num Brasil que possui mais de cinco mil cidades, centenas de 
autarquias federais, 10 mil grandes empresas e rede bancária com 
mais de 10 mil agências, observa-se que os leitores desses jornais 
são os próprios protagonistas das notícias, isso quer dizer, a elite 
dominante. Em São Paulo, a Folha e o Estadão, que disputam o 
mercado, configuram as competições políticas da oligarquia. Fato que 
se repete, em escala menor, nas cidades de médio porte, onde 
normalmente existem dois jornais impressos rivais circulando. 
―Por sua origem oligárquica, sua circulação autorreferente, seu 
caráter documental e sua alta qualidade gráfica, cabe a esses 
grandes jornais o principal papel de definição da agenda de 
discussões. Esses impressos são lidos todas as manhãs 
extensamente pelos condutores de programas de rádio, servem de 
pauta para as ordens de cobertura das equipes de tevê e para as 
grandes revistas semanais, e as notícias são recortadas pelas 
assessorias de imprensa dos políticos e dirigentes das grandes 
empresas‖ (KUCINSKI, 2002, p. 42). 
 
Fonte:A definição da agenda ocorre da seguinte forma: os comentários dos 
colunistas de destaques nesses jornais, mesmo que ocasionalmente 
críticos a alguns fatos isolados da política do governo, apoiam 
sistematicamente seus objetivos estratégicos. Tais colunas são 
reproduzidas pelos formadores de opiniões em outras capitais e 
cidades de médio porte. Nota-se a função da definição da agenda 
nacional nos grandes jornais pela política editorial adotada por eles. 
As manchetes desses impressos, geralmente, são iguais. 
―É a partir dos colunistas e das manchetes que a agenda nacional de 
debates vai sendo determinada: não só quais temas entrarão ou não 
na pauta, mas também o enfoque que se lhes deve dar‖ (KUCINSKI, 
2002, p. 43). 
Ler o artigo ―O brasileiro e sua crença na imprensa ética, factual e 
apolítica‖, de Sérgio Troncoso, em: 
 
 
*Não foram computados os veículos nas mãos de famílias não menos poderosas, 
como Sarney (Maranhão), Collor de Melo (Alagoas), Antonio Carlos Magalhães 
(Bahia), Barbalho (Pará) etc. 
 
 No governo FHC, sob o comando do ministro das Comunicações 
Sérgio Mota, a utilização dos canais de rádios e TV continuou 
sendo moeda forte na política, principalmente em torno das 
outorgas para retransmissoras (RTVs) (regionais) e educativas. 
Em sete anos e meio de governo, além das 539 emissoras 
comerciais vendidas por licitação, FHC autorizou 357 
concessões educativas sem licitação. 
 
Veja agora o depoimento de vários personagens 
sobre a importância do rádio, no vídeo em: 
https://www.youtube.com/watch?v=c3azqoetCd0 
 
 PARA REFLETIR 
 Você já pensou como os meios de comunicação têm influência 
sobre nós e como você avalia as informações que chegam até 
você? 
 
A distribuição foi concentrada nos três anos em que o deputado federal 
Pimenta da Veiga (PSDB-MG), coordenador da campanha [presidencial] de 
José Serra, esteve à frente do Ministério das Comunicações. Ele ocupou o 
cargo de janeiro de 1999 a abril de 2002, quando, segundo seus próprios 
cálculos, autorizou perto de cem TVs educativas. Pelo menos 23 foram 
para políticos. A maioria é em Minas Gerais, base eleitoral de Pimenta da 
Veiga, mas há em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, 
Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Roraima e Mato Grosso do Sul 
(INTERVOZES, 2007, p. 6 apud MIGUEL, 2008, p. 44). 
 Não houve mudança no governo de Lula com relação a essa 
questão: a prática de distribuir outorgas em troca de apoio 
político continua sendo desenvolvida pelo Ministério das 
Comunicações. Em três anos e meio de governo, Lula aprovou 
110 emissoras educativas, sendo 29 televisões e 81 rádios. 
Segundo a Intervozes (2007, p. 6 apud MIGUEL, 2008, p. 44), 
na Câmara dos Deputados, membros da Comissão de Ciência e 
Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) ameaçaram 
não renovar e devolver ao Executivo 227 processos de 
renovação de outorgas por falta de documentos. Entre os 
papéis a serem examinados estava o do ex-presidente da 
Comissão, Jader Barbalho (PMDB-PA), e de mais nove 
parlamentares envolvidos com emissoras cuja renovação seria 
negada. Barbalho falou pessoalmente com o presidente Lula 
que intercedesse. Com a manobra, ele manteve em atividades 
duas emissoras de sua família com concessões vencidas. A 
Rádio Clube do Pará opera sem autorização há mais de 13 
anos; também foram beneficiadas com a medida a Rede Brasil 
Amazônia de Televisão (RBA), cuja concessão venceu em 2002, 
e a Rádio Carajás FM. 
 
 Fonte: 
 
 
Leia o texto intitulado: Os Meios de 
Comunicação de Massa: 
 
 
 VIDEOAULA 2 
Diante do quadro acima apresentado, no qual prevalece o poder 
econômico aliado aos interesses políticos, é que o negro brasileiro 
está inserido, como veremos no próximo bloco da aula. Compreende-
se que para entender o que acontece no nosso país é preciso remeter 
o olhar para a Europa na época do nosso ―descobrimento‖ e o que 
estava acontecendo no mundo, com relação às questões raciais, 
étnicas. Nesse caso, o mundo era a Europa! Então, é importante 
saber como surge o racismo. 
O racismo surge realmente nos séculos XVI e XVII, sobretudo nesse último. Os 
europeus praticavam a escravidão e há alguns séculos escravizavam pessoas na 
África e no Novo Mundo. A história do racismo no mundo ocidental é amplamente 
associada à escravidão como uma forma primitiva do colonialismo. E é nesse 
contexto que algo chamado raça é criado, o que significa essencialmente que certos 
povos definidos como não europeus são dominados e governados por europeus. 
[...] Os britânicos não se tornaram traficantes de escravos e escravizadores por 
serem racistas. Tornaram-se racistas porque usavam escravos para obter grandes 
lucros nas Américas e criaram um conjunto de atitudes em relação aos negros para 
justificar o que faziam. A verdadeira força motriz detrás do sistema escravocrata 
era a economia. Os africanos eram produtos de comércio para serem vendidos, 
arrendados, herdados. Eram como os outros bens do comércio. (BBC, 2014 apud A 
HISTÓRIA..., 2014) 
E é nesse contexto que o negro chega ao Brasil, como uma 
mercadoria. 
 
Fonte: 
Vídeo 
 
Assista a esse documentário produzido pela BBC sobre: A História do 
Racismo 
https://www.youtube.com/watch?v=0NQz2mbaAnc 
 
A PRESENÇA DO NEGRO NA TELEVISÃO BRASILEIRA E A 
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 
Entende-se que a mídia brasileira ainda conserva os valores europeus 
com relação ao negro, ou seja, um ser inferior, invisível. No entanto, 
o Brasil de hoje apresenta uma nova realidade, diferente, por conta 
de que os negros estão assumindo a sua negritude. Segundo o último 
censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 
realizado em 2010, a população brasileira é de aproximadamente 191 
milhões de pessoas. Negros e pardos formam o maior contingente, 
com 50,7%, ou seja, 96,33 milhões de cidadãos são 
afrodescendentes. Brancos somam 47,7%, que é igual a 90,63 
milhões de pessoas, e índios e amarelos juntos não chegam a 2% da 
população. Esse dado aponta que o Brasil é a segunda maior nação 
negra do planeta, só perdendo para a Nigéria, que é o país mais 
populoso da África, com mais de 170 milhões de habitantes. No 
entanto, o Brasil vive uma hipocrisia social que não mostra a 
discriminação racial existente, o brasileiro inventou uma forma de 
racismo num país com forte miscigenação. Diferente da África do Sul 
e dos Estados Unidos, que praticam o racismo em função de herança 
genética, por aqui o que determina é a cor da pele. Quanto mais 
negro, maior é a discriminação. O racismo se aprende, isso quer 
dizer, se ensina, ele não é natural. Na sociedade em que vivemos 
existe a necessidade de haver categorias sociais, critérios de 
superioridade. 
 Mãe Stella de Oxóssi, religiosa de matriz africana 
Fonte: 
Leia texto sobre a última publicação oficial da população negra no 
Brasil: 
 
 
 
QUESTÕES SOCIAIS, ECONÕMICAS E POLÍTICAS 
Entende-se, dessa forma, que o racismo brasileiro é oriundo de um 
olhar europeu sobre o diferente, no caso, sobre o negro. A elite 
brasileira exclui os afrodescendentes do processo econômico, político 
e social, em outras palavras, o padrão europeu de comportamento 
continua imperando na classe dominante brasileira. A exclusão e a 
não participação do negro nos setores fundamentais da sociedade 
brasileira dificulta mudanças urgentes que precisam ser feitas no 
país, a desigualdade encabeça a lista. Quando o assunto é 
rendimento, o negro aparece em uma situação de desigualdade 
gritante. O IBGE constatou que em 2010 a renda mensal entre 
negros e pardos foi de R$ 845. Já entre os brancos a média foi de R$ 
1.538,entre amarelos (asiáticos) R$ 1.574, e indígenas R$ 735. Em 
Salvador, na Bahia, Estado onde vive o maior número de negros no 
Brasil, os afrodescendentes recebem 3,2 vezes menos que os 
brancos. Isso se reflete nas denominadas classes A/B que são 
formadas por 75,2% de brancos; por outro lado, 72,6% da classe dos 
pobres são negros ou pardos. Veja o que isso quer dizer: 5% da 
população brasileira, ou 9,5 milhões de pessoas, ganham algo entre 
três e cinco salários mínimos por mês; 6,8 milhões de pessoas, 3,6% 
de brasileiros, têm uma renda de cinco a dez mínimos; 1,2%, 
equivalente a 2,2 milhões de indivíduos, recebem acima de dez 
salários, mas menos que 20 mínimos e 760 mil pessoas, 0,4% da 
população total do país, ganham acima disso todo mês. Quando o 
assunto é educação, os mesmos padrões de exclusão são aplicados 
aos pobres, e quando se fala em pobreza, estamos nos referindo aos 
negros; 47,46% da elite cursaram pelo menos o superior incompleto 
e 3,17% possuem mestrado ou doutorado. Entre os pobres esses 
mesmos critérios caem para 0,78% e 0%. Nos bancos 
escolares, 73,4% da classe dominante estão em escolas 
particulares e só 3,33% dos pobres frequentam as mesmas escolas, 
provavelmente com bolsa de estudos. 
 
Fonte: 
Vídeo 
 
Assista ao vídeo sobre democracia racial 
 
https://www.youtube.com/watch?v=p5Wo6_qumJc 
O NEGRO E A MÍDIA Diante do quadro acima exposto, percebe-se 
que a mídia brasileira não exerce o seu papel, que poderia contribuir 
para mudar essa realidade, conforme apresentado pelos seus 
proprietários e nos manuais de redação. Dizem que estão ao lado dos 
fracos, dos oprimidos, de que a verdade está acima de tudo e de que 
é a voz do povo. Mas, vemos outra coisa bem diferente, a grande 
mídia brasileira é a voz da elite dominante e um dos instrumentos 
mantenedores do status quo. Entende-se que diante do papel 
exercido pelos afrodescendentes na sociedade brasileira, que é o de 
simples coadjuvante, na visão da classe dominante, é optar por 
mídias alternativas para manifestar o total descontentamento com a 
atual situação. A imprensa, em particular, e a mídia hegemônica em 
geral, refletem o pensamento racista reinante no país. Quando ela, a 
mídia, se refere ao negro, é de uma forma estereotipada, existe uma 
conotação de exotismo no trato: bom de bola, tem facilidade para 
dançar, o favelado, objeto de desejo sexual, a mulata... Não existe 
no poder hegemônico midiático um único articulista ou 
comentarista negro comprometido com as causas 
antirracista, que possa emitir opiniões que provoquem debates e 
reflexões aos leitores, aos telespectadores e aos ouvintes. Em outras 
palavras, isso quer dizer que no Brasil não existe negro intelectual, 
que não existem negros médicos, dentistas, advogados, economistas, 
que exerçam profissões que a sociedade considera relevantes. 
 
 Fonte: 
Leia o texto: O Brasil Negro 
 
 
Assim, o negro continua invisível para a sociedade brasileira mesmo 
atuando em filmes e novelas, mas sempre com o mesmo estereótipo. 
Para se ter uma ideia, comparemos o negro brasileiro e o negro afro-
americano. Como já foi dito, aqui 50,7% da população é composta 
por negros, lá nos EUA, somente 11%. Aqui somos sub-
representados nos meios de comunicação de massa, lá eles são 
altamente visíveis. Vamos trabalhar com alguns argumentos para 
mostrar o olhar racista da mídia hegemônica brasileira e a 
manutenção do racismo vigente. Na Rede Globo, em janeiro de 2004, 
Taís Araújo foi protagonista da novela ―Da cor do pecado‖, uma 
trama na qual ela representava uma vendedora de ervas do 
Maranhão, que se apaixona por um botânico, interpretado pelo 
símbolo sexual brasileiro, coisa criada pela mídia, Reynaldo 
Giannecchini. Na história, ela deixa pra trás o antigo namorado: 
negro, de baixo caráter e pobre. O desconforto foi geral a despeito da 
atriz principal ser negra, aí entram em cena os velhos estereótipos do 
negro pobre e bandido em contrapartida ao branco, príncipe 
encantado. Pior, na abertura da novela aparece uma imagem e as 
belas costas de uma negra. Para ficar pior ainda, caracteres sobre o 
corpo da mulher anunciam o nome da obra (novela). ―Da cor do 
pecado‖. Isso quer dizer que, em certo sentido, o corpo negro 
continua sendo visto como uma mercadoria. 
 
Fonte: 
PARA REFLETIR 
Questão para reflexão: Você acredita que as novelas e a mídia em 
geral contribuem para a manutenção do preconceito racial no país. Se 
sim, por que isso ocorre? 
 
A COR DO PEDADO 
Maldade da raça da cor do pecado? Além de título de novela da Globo e lema de 
tanto clichê racista disfarçado, "Da Cor do Pecado" é o nome de um samba-choro 
composto por Bororó em 1939, gravado por Sílvio Caldas, depois por João Gilberto, 
Elis Regina, Nara Leão e tanta gente mais: "Esse corpo moreno/ cheiroso, gostoso/ 
que você tem/ é um corpo delgado/ da cor do pecado /que faz tão bem...". Lá pelas 
tantas, a letra diz: "E quando você me responde/ Umas coisas com graça/ A 
vergonha se esconde/ Porque se revela/ A maldade da raça". Uhm. Maldade da 
raça? Ou elogio da "raça"? Ou os dois? (FREIRE, 2004). 
Leia texto complementar de Vinicius T. Freire> A cor do pecado 
 
 
 
A PRESENÇA DE ANITA 
Três anos antes disso, em 2001, a mesma Rede Globo apresentou a 
minissérie ―Presença de Anita‖, que foi um sucesso de público e 
crítica. Segundo o Ibope, chegou a 30 pontos de audiência na Grande 
São Paulo, cada ponto representa 62 mil domicílios, a maior dos 
anos 2000. A minissérie foi reprisada em 2002, na Rede Globo, em 
2005, no canal Multishow, e em 2012, na Rede Viva. Pois bem, a 
trama mostra um triângulo amoroso entre dois homens e uma 
mulher, e se desenvolve em 16 capítulos. O que nos interessa aqui é 
que durante o seriado uma cena chama a atenção porque reproduz 
fielmente o Brasil do tempo da escravidão em pleno ano 2000 e é 
interpretada pela atriz Vera Holtz, Marta, e pelo ator negro Taiguara 
Nazareth, André. 
Cena de racismo censurado no youtube 
 
Fonte: 
Ela, uma senhora branca de meia idade, filha de um político da 
cidade, portanto, bem-sucedida, morando em uma bela casa e 
solteira. Ele, empregado da família, fazendo serviço braçal e morando 
de favor em um cubículo nos fundos da casa dela. Isso não é igual 
à Casa Grande e Senzala? Eis que em um dado momento, a tal 
senhora observa o negro com a sua namorada trocando carícias. A 
partir daí, o negro passa a ser o objeto de desejo de Marta. Depois de 
algumas tentativas, ela consegue seduzi-lo. André é embriagado, 
pasmem, com duas garrafas de cerveja. As longas cenas ―calientes‖ 
de sexo foram mostradas para 1.8 milhões de lares na Grande São 
Paulo, reforçando a ideia que povoa o inconsciente coletivo brasileiro 
de que negro é forte, é bom de cama, é viril e que só serve pra isso. 
Leia texto complementar ―Novela e negritude‖ 
 
 
Cena da Novela A Cabana do Pai Tomás, com o ator Sérgio Cardoso, 
pintado com maquiagem para lhe fazer negro, e a atriz Ruth de 
Souza. 
 
Fonte: 
A novela ―A cabana do Pai Tomás‖ foi exibida pela mesma Rede 
Globo, em 1969, no qual o personagem vivido pelo ator Sérgio 
Cardoso pinta o rosto de preto para parecer negro e contracena com 
a atriz negra Ruth de Souza. ―A polêmica na novela é a representação 
do negro, desde o surgimento da televisão, marcada pela alternância 
de polêmicas e avanços. 
Embora ainda haja o que conquistar, a evolução é um fato. João lembra que "Lado 
a lado" foi a primeira trama a trazer o nome de um ator negro (Lázaro Ramos) 
abrindo seus créditos. Em 1969, em "A cabana do pai Tomás", da Globo, os 
mesmos créditos chegaram a ser motivo de controvérsia."Ruth de Souza já era 
uma celebridade por causa da (companhia cinematográfica) Vera Cruz. Tinha ido 
aos Estados Unidos, onde conheceu a nova geração de negros que fazia sucesso em 
Hollywood, como Harry Belafonte e Sidney Poitier; ela era respeitada pela sua 
elegância, quase ganhou o Festival de Veneza... Quando foi fazer 'A cabana do pai 
Tomás', todo mundo achou que seria seu grande papel na TV. Ela começou como a 
estrela nos créditos, mas, por pressão das outras atrizes e do público, seu 
personagem foi diminuindo e seu nome foi desaparecendo", relembra Zito. Mas a 
maior polêmica de "A cabana do pai Tomás" era ainda outra: apesar de ter um 
grande elenco de atores negros, o protagonista era Sérgio Cardoso, um ator branco 
que se pintava para dar vida ao escravo. Embora "A cabana do pai Tomás" seja 
lembrada como a primeira trama a concentrar um grande número de negros em 
seu elenco, não foi a primeira vez que a questão racial foi abordada na 
teledramaturgia. (BRITTO, 2013). 
A parafernália que foi a primeira aparição do repórter Heraldo Pereira 
apresentando o Jornal Nacional, em 2002, na Globo. Entretanto, o 
apresentador virou motivo de piada devido ao ―embranquecimento‖ 
provado pela maquiagem usada. Um colunista da revista Exame fez o 
seguinte comentário: ―A maquiagem que o jornalista Heraldo Pereira 
recebe antes de sentar na bancada do Jornal Nacional, da Rede 
Globo, está sendo alvo de discussão na internet. Pereira está 
substituindo William Bonner, que está de férias. Incentivados pelo 
colunista Jorge Bastos Moreno, de O Globo, internautas estão dizendo 
que o jornalista, negro, está aparecendo na bancada "mais branco 
que Michael Jackson". "Perto dele, Patrícia Poeta é a mulatinha", 
escreveu Bastos Moreno no Twitter, referindo-se ao Jornal Nacional 
desta segunda-feira, dia 12, cuja foto está abaixo. 
 
Fonte: 
PARA REFLETIR 
 Questão para reflexão: Você concorda que o negro é invisível no 
Brasil, mesmo fazendo parte da maior população brasileira? Qual é a 
contribuição da mídia para a atual situação do negro no país? 
 
O NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO 
Os nossos filmes, quando se reportam ao negro, não apresentam 
personagens reais individualizados, mas arquétipos ou caricaturas, 
como, por exemplo: ―o escravo‖; ―a mulata boazuda‖; ―o sambista‖, 
‖bom de bola‖, ―dança bem‖. Vamos ver alguns exemplos do 
preconceito do cinema brasileiro. Os filmes da Chanchada expressam 
as ambiguidades do contexto racial do Brasil nos anos 1950. "Mesmo 
sendo um gênero cinematográfico em sintonia com o nacionalismo 
populista e seus correlatos no plano racial - a saber, a democracia 
racial, a apologia da miscigenação e a crença na harmonia das 
relações entre negros e brancos -, um olhar mais agudo (analítico) 
sobre os filmes revela as tensões e assimetrias que caracterizam as 
relações raciais na época‖. A dupla formada por Grande Otelo e 
Oscarito ilustra isso. Por um lado, essa dupla foi a tradução da 
democracia racial; por outro, observando os detalhes, vemos as 
diferenças no tratamento dos dois personagens. 
Otelo dizia que a diferença de salário entre os dois era uma forma de preconceito 
racial. O ator recusava-se a servir de "escada" para Oscarito nas cenas cômicas da 
dupla. Em alguns filmes, eles disputam o domínio da cena, o que foi dramatizado 
no filme A dupla do barulho (Carlos Manga, 1953). No filme, Tião (Grande Otelo) 
recusa-se a servir de escada para seu parceiro Tonico (Oscarito). [...]Grande Otelo 
foi um ator que trabalhou praticamente em todas as fases do cinema, e, além 
disso, fez circo, revista, teatro e televisão. Protagonizou os principais filmes do 
período da Chanchada, diferente dos outros atores que faziam tipos e não 
personagens, Otelo era um ator completo. A partir dos anos 1950, trabalhou com 
os cineastas que, anos depois, fundariam o Cinema Novo, interpretando papéis de 
considerável conteúdo dramático e social. Quase todos os protagonistas das 
Chanchadas eram brancos (Eliana, Anselmo Duarte, José Lewgoy, Cill Farney, entre 
outros), porém, em vários filmes o negro aparece na figuração, na música, na 
cenografia, formando uma espécie de moldura que envolve toda a representação. 
Exemplo disso é Rio fantasia (1957), onde Eliana imita Carmem Miranda cercada de 
músicos e bailarinos negros em um cenário estilizado de favela. (O NEGRO..., 
2014). 
Fonte: 
Segundo o cineasta David Neves (2014 apud O NEGRO..., 2014), a 
Chanchada e a Vera Cruz, essa com conotações racistas, fizeram uma 
exploração comercial e exótica do negro no cinema brasileiro. Ainda 
de acordo com o cineasta, o Cinema Novo construiu uma agenda 
estética e política que colocou a questão racial no centro. Os filmes 
Ganga Zumba (1963) e Aruanda (1959/1960) são filmes que 
procuraram criar uma identificação entre a plateia 
predominantemente branca e intelectualizada, quase sempre de 
esquerda, com personagens heroicos negros. Nesse período surgiram 
atores negros, como: Milton Gonçalves, Antônio Pitanga, Lea Garcia, 
Luiza Maranhão, Zózimo Balbul, Valdir Onofre, Eliezer Gomes. Os 
filmes dialogavam diretamente com a agenda política posta pelo 
movimento negro a partir do final da década de 60, mantendo 
sincronia inclusive com o movimento negro internacional. Os filmes 
produzidos são performances documentais que apontam para a 
história do negro, suas lutas e as reivindicações de 
autorrepresentação. 
 
Ler texto O Negro e o Cinema 
 
 
O mesmo não pode ser dito sobre os filmes estrelados pelos 
―Trapalhões‖. Nota-se o marcante desrespeito social com relação ao 
negro na comédia ―O trapalhão no planalto dos macacos‖, uma 
paródia do norte-americano ―Planeta dos macacos‖ produzido em 
1997. A cena de maior riso da plateia era quando a macaca principal 
se apaixona por Mussum, o único negro entre os atores principais. 
Vale lembrar que a referência do ator ao hábito da bebida era motivo 
de riso do programa, além de ser chamado de ―grande pássaro‖, uma 
alusão ao urubu, ave que come carniça. Ainda sobre cinema, o filme 
de maior sucesso já produzido no Brasil foi ―Cidade de Deus‖, em 
2002, que recebeu quatro indicações para concorrer ao Oscar, foi 
exibido no Festival de Cannes e ganhou vários prêmios em diferentes 
países. O que não se comenta é a violência exagerada à moda do 
cinema americano que o filme apresenta e que os intérpretes negros 
como personagens centrais são enquadrados nos mesmos 
estereótipos de sempre: violentos, bandidos, sensuais, místicos e 
submissos. O filme trouxe publicidade negativa para os moradores do 
local, que acham injusta a visão que o filme mostrou. Segundo o 
rapper MV Bill (2003 apud AMARAL FILHO, 2010, p. 19), pelas 
informações que as pessoas têm, elas acham que morar em uma 
comunidade é fazer parte de uma faculdade de marginais, de uma 
escola de bandido, mas quem vive lá sabe que apenas 4% ou 2% da 
comunidade são bandidos. Não é aquela coisa que está no 
filme Cidade de Deus. Dentro da favela tem muita carteira assinada, 
tem muita carteira de estudante que às vezes é confundida com fuzil, 
com pistolas e com granadas. 
Fonte: 
Vídeo 
 
Assista a um vídeo de uma interpretação racista em Os Trapalhões 
https://www.youtube.com/watch?v=6IbMszBC6r8 
 
PARA REFLETIR 
Questão para reflexão: Você acredita que haja um tratamento 
diferenciado entre negras e negros na TV e no cinema brasileiro, 
como eles são vistos? 
 
RESISTÊNCIA 
Paulo Brito pode ser considerado o primeiro negro a lançar um jornal 
no Brasil, intitulado ―O homem de cor‖, em 1833, no Rio de Janeiro, 
que mais tarde mudaria o nome para ―O Mulato‖. Segundo Ana Flávia 
Magalhães (MAGALHÃES 2014 apud SILVA, 2014), o periódico 
propunhaque a comunicação negra fosse além do jornalismo, da 
imprensa escrita, e incluía uma rede ampla de profissionais que 
produzem conteúdos de interesse da população afro-brasileira. 
―Houve tentativas de silenciamento, mas desde o século 19, em 
termos de imprensa, os negros nunca se calaram e pautaram de 
forma diversa e incisiva a questão do racismo‖ (MAGALHÃES 
2014apud SILVA, 2014). Nesse período, o jornal publicava textos 
denunciando mecanismos utilizados pela elite para que os negros não 
chegassem aos postos sociais mais elevados. Também no início do 
século XIV, em São Paulo, ocorria a publicação do ―A Pátria‖, 
impresso dirigido por um grupo de amigos pensadores, que 
combatiam o apoio ao regime monárquico. Um impresso que pode 
ser destacado é ―O exemplo‖, publicado entre 1902 e 1910, em Porto 
Alegre. Nas suas páginas eram publicadas denúncias públicas contra 
o racismo. No Brasil de hoje existe a revista Raça Brasil, fundada em 
setembro de 1996, e que é a primeira revista voltada aos negros no 
país. Sua proposta é buscar resgatar as raízes afrodescendentes e 
impulsionar mudanças no mercado editorial e publicitário e 
valorizando a cultura e a história do negro no Brasil. Além disso, a 
revista se propõe a trabalhar temas mais complexos, como os da 
informação, educação e participação política para o desenvolvimento 
econômico e social. 
 
Fonte: 
Leia na íntegra o artigo de Milton Santos 
 
 
O geógrafo Milton Santos resume o que é ser negro no país: 
Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser objeto de um olhar enviesado. A 
chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado, lá em 
baixo, para os negros, e assim tranquilamente se comporta. Logo, tanto é 
incômodo haver permanecido na base da pirâmide social quanto haver "subido na 
vida". Pode-se dizer, como fazem os que se deliciam com jogos de palavras, que 
aqui não há racismo (à moda sul-africana ou americana) ou preconceito ou 
discriminação, mas não se pode esconder que há diferenças sociais e econômicas 
estruturais e seculares, para as quais não se buscam remédios. A naturalidade com 
que os responsáveis encaram tais situações é indecente, mas raramente é 
adjetivada dessa maneira. Trata-se, na realidade, de uma forma do apartheid à 
brasileira, contra a qual é urgente reagir se realmente desejamos integrar a 
sociedade brasileira de modo que, num futuro próximo, ser negro no Brasil seja, 
também, ser plenamente brasileiro no Brasil. (SANTOS, 2000). 
Segundo o filósofo Muniz Sodré (1999 apud CARNEIRO, 1999), a 
televisão brasileira está para o negro assim como o espelho está 
apara o vampiro. O negro olha: não se reconhece, não se vê. A 
subserviência e o infantilismo dos personagens negros reiteram a 
visão preconceituosa de uma humanidade incompleta do negro que 
se contrapõe à completude humana do branco. 
Essa estereotipia justifica a exclusão e a marginalização histórica do negro Ela 
legitima um projeto de nação que vem sendo construído nesses 500 anos: de 
hegemonia branca e exclusão ou admissão minoritária e subordinada de negros, 
indígenas e não brancos em geral. E é este o mesmo projeto de nação que o 
imaginário televisivo busca para o próximo milênio (CARNEIRO, 1999). 
A discriminação racial no Brasil apresenta-se, na maioria das vezes, 
de forma discreta, que é possível não detectar e nem observar. Por 
isso, é preciso analisar o que está oculto, o que está implícito, entre 
outras coisas. Para o pesquisador Fernando Conceição 
(2004 apud QUINTÂO, 2004), o negro no Brasil é retratado com três 
―eles‖: lúgubre, lúdico e luxurioso. a – lúgubre (sombrio, sinistro, 
medonho): nos diversos noticiários dos programas policiais, que 
ganham cada mais espaço na televisão brasileira; b – lúdico: 
(referente a divertimento): aparece em ocasiões comemorativas, 
como, por exemplo, no Carnaval ou em situações onde ele, o negro, 
é apenas alegoria, juntamente com seus instrumentos de batuque, 
apresentando-se muitas vezes fantasiado bem ao gosto dos turistas 
nacionais e estrangeiros; c - luxurioso: essa imagem lasciva 
(sensual, permissiva, que procura constantemente e sem pudor 
satisfações sexuais, principalmente às mulheres e meninas negras de 
cidades turísticas como Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Fortaleza. 
 
Fonte: 
 
Saiba mais: Veja o documentário sobre a 
Conferência Mundial e conheça um pouco sobre 
a África do Sul 
 
https://www.youtube.com/watch?v=G0bzC-Uvv9k 
 
E RACISMO 
Sabemos que a mídia exerce forte influência sobre a população 
brasileira, ditando regras e comportamentos e determinando uma 
nova forma de exclusão social que atinge vários segmentos sociais, 
como mulheres, indígenas e negros, veiculando imagens 
estereotipadas, folclorizadas ou sua invisibilização. Diante desta 
afirmação, qual seria o lugar do negro brasileiro na sociedade da 
informação? Para Bernardo Ajzenberg (AJZENBERG, 2001), que 
foiombusdman do jornal Folha de São Paulo, em 2001, “Os invisíveis‖ 
...continuam como tema tabu, sob disfarce, de há muito 
desmascarado, da suposta democracia racial. E não configuraria 
afirmar que o seja justamente pelo grau de explosividade que 
carrega. Com raríssimas exceções, o racismo e suas mazelas não 
frequentam as pautas diárias, estão alijados de qualquer iniciativa 
regular e permanente. Vamos ver agora como se comportou a mídia 
brasileira diante de um evento mundial e de profundo interesse para 
a nação negra brasileira. Trata-se da Conferência Mundial Contra o 
Racismo, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, 
organizada pelas Nações Unidas, em 2001, em Durban, África do Sul. 
A revista Veja fez uma reportagem de quatro páginas e disse que a 
conferência foi um fracasso; para o repórter Eduardo Salgado 
(SALGADO, 2001), o que era para promover uma harmonia global, 
degenerou-se para uma algaravia de insultos. Kátia Mello, da revista 
Istoé (MELLO, 2001), disse que a conferência revelou-se um caldeirão 
de polêmicas e ficou refém de um conflito regional. A secretária de 
Segurança Nacional dos EUA, Condoleezza Rice, criticou a 
Conferência Mundial contra o Racismo, dizendo que o encontro 
discutiu muito o passado e evitou problemas atuais dos negros. Para 
ela, os negros americanos não devem receber indenizações pela 
herança escravagista. É melhor olhar para a frente em vez de apontar 
culpados no passado, disse. Roberto Pompeu de Toledo, articulista da 
Veja, escreveu: 
[...] como definir quem é negro? Trata-se de objeção cujo efeito é nada menos do 
que fazer parar tudo. Se não se sabe quem é negro, como promover os negros? O 
argumento é o segundo melhor, para justificar a inação nesse assunto. O primeiro é 
negar que haja discriminação racial no Brasil. [...] Quanto ao problema de 
classificar quem é negro no Brasil, já se reconheceu que a questão tem mesmo sua 
complexidade, mas o curioso é que, na hora de discriminar, as dificuldades 
desaparecem. (TOLEDO, 2001). 
Fonte: 
 
RACISMO NO FUTEBOL E A IMPRENSA BRASILEIRA 
Em ano de Copa do Mundo de Futebol acontecendo aqui no Brasil e 
que o mundo inteiro está de olho em nós, acreditamos ser importante 
abordar esse tema, como a imprensa esportiva brasileira lida com a 
questão do racismo num país comprovadamente racista. Nos dois 
casos mais recentes, o juiz de futebol Márcio Chaga apitava um jogo 
pelo campeonato gaúcho e foi chamado de macaco por torcedores, 
além de ter seu carro quebrado e encontrado duas bananas colocadas 
no capô do seu carro. O jogador Arouca, volante do Santos F.C, 
também foi chamado de macaco por torcedores do Mogi-Mirim, time 
do interior paulista, numa semifinal do Campeonato Paulista. Fora do 
Brasil, mas com ampla repercussãona mídia brasileira, também 
ocorreram casos de racismo. Tinga, do Cruzeiro, num jogo pela Copa 
Libertadores, e Daniel Alves, lateral da Seleção Brasileira e jogador 
do Barcelona, da Espanha, que comeu a banana que foi atirada ao 
gramado em sua direção. Todos esses casos foram destaques em 
toda a mídia brasileira, que tratou de indagar o caso. Muito antes 
desses casos, o negro já era notícia no futebol brasileiro por 
conta do racismo. O livro mais famoso, ―O negro no futebol 
brasileiro‖, de Mário Filho, é considerado o maior clássico da 
literatura esportiva no país. Segundo o autor, foi o negro que criou a 
ginga do drible, do estilo brasileiro de se jogar futebol. Mas ele é 
contestado pelos autores do livro ―A invenção do País do futebol – 
Mídia, Raça e Idolatria‖, de Ronaldo Helal, Antonio Jorge Soares e 
Hugo Lovisolo, que argumentam: 
Para eles, a utilização de O Negro no Futebol Brasileiro por sociólogos criou uma 
espécie de interpretação única, com os ideais da construção de uma nação 
brasileira com menos antagonismos entre as raças. De acordo com os 
pesquisadores, o equívoco não seria de Mário, mas da forma com que especialistas 
acabaram franqueando a tese do autor, como a construção do ídolo negro — que 
seria mais uma criação romântica que deu certo. Para os autores, o racismo 
preexistiu, mas o nosso futebol se fez mais pela pressão do profissionalismo, pela 
criação das ligas, do que propriamente por racismo. Jorge salienta que Mário Filho 
buscou constituir uma identidade nacional, cujo enfoque tem influência do meio em 
que viveu. (HELAL; SOARES; LOSIVOLO, 2001 apud O NEGRO..., 2012). 
Fonte: 
Vídeo 
 
Veja na reportagem como a TV divulgou o racismo no futebol. 
https://www.youtube.com/watch?v=w8FuqQU21CA 
 
O racismo sempre esteve presente no futebol brasileiro, aliás, 
começou assim. Refletia o pensamento da classe dominante. Nos 
clubes cariocas a visão era essa: 
[...] o futebol não alternava a ordem das coisas. Pelo contrário. Onde se podia 
encontrar melhor demonstração de que tudo era como devia ser? O branco superior 
ao preto. Os ídolos do futebol, todos brancos. Quando muito, morenos. Preto só 
entrava no escrete uma vez na vida e outra na morte. E quando um branco que 
devia jogar estava fora, doente ou coisa que valha [...] Cada lugar do escrete tinha 
um dono, de boa família. A superioridade de raça, da raça branca sobre a raça 
preta, a superioridade de classe, da classe alta sobre a classe média, da classe 
média sobre a classe baixa. A baixa lá embaixo, a alta lá em cima, vencendo, 
tirando campeonatos (FILHO, 1947 apud FRANZINI, 2003, p. 39). 
Segundo Soares (1999, p. 134-135), ―quando começaram a jogar 
futebol por aqui, os negros não podiam derrubar, empurrar, ou 
mesmo esbarrar nos adversários brancos, sob pena de severa 
punição: os outros jogadores e até os policiais podiam bater no 
infrator‖. Os brancos, no máximo, eram expulsos de campo. Esta 
redução dos espaços dentro das ―quatro linhas‖, subproduto de uma 
situação social, obrigou os negros a jogarem com mais ginga, com 
mais habilidade, evitando o contato físico e reinventando os espaços. 
Sim, porque o drible não é outra coisa que a criação de espaço, onde 
o espaço não existe. Indubitavelmente, foi o jogador negro que 
imprimiu no futebol brasileiro um estilo próprio de magia e arte, 
diferente das formas arcaicas do jogo de bola, bem como da sua 
descendência inglesa imediata. 
Em São Paulo não era diferente: 
Já não se falava mais em jogadores de cor, quando aparece um clube paulista 
muito cotado, a requerer da APSA 5 um inquérito a fim de conseguir a exclusão de 
um jogador de cor, que participava em diversos jogos de um clube, também 
pertencente à divisão em que se achava o clube requerente. Acham isso louvável? 
Creio que não; porque os homens de cor, pela legislação brasileira, têm tantos 
direitos como os brancos. De cor eram João do Patrocínio, Henrique Dias e muitos 
outros, que souberam com galhardia defender esta nossa pátria. Somente isto 
bastava para fazer crer que os homens de cor são dignos de participar de diversões 
e outros atos como qualquer de nós brancos (FRANZINI, 2003, p. 40). 
Segundo Mário Filho: 
Desaparecera a vantagem de ser de boa família, de ser estudante, de ser branco. 
Rapaz de boa família, o estudante, o branco, tinha que competir em igualdade de 
condições, com o pé-rapado, quase analfabeto, o mulato e o preto, para ver quem 
jogava melhor. Era uma verdadeira evolução que se operava no futebol brasileiro 
(FILHO, 2003, p. 126). 
 
Fonte: 
De acordo com Guterman (2009), os negros para poderem jogar nos clubes de elite 
do futebol deveriam se submeter a situações como usar toucas para esconder o 
cabelo crespo e se maquiar com ―pó de arroz‖ para clarear a pele, e parecerem 
como os jogadores brancos. Nesta época complementa o autor, o futebol era um 
esporte de classe, só os bens nascidos tinham acesso a ele, era ―coisa de inglês‖. 
Negros e mestiços só conseguiram ocupar seus espaços graças aos 
embranquecimentos artificiais. Foi o pó de arroz o mais usado pelos jogadores 
mulatos, como Carlos Alberto, Robson e o lendário Friedenreich, que além de usar 
pó de arroz alisava o cabelo. Para Máximo (1999) o investimento feito pelo Vasco 
em jogadores negros, e a conquista do seu primeiro título do campeonato carioca 
de 1923, fez com que os clubes aristocráticos passassem a criar barreiras para a 
sua permanência na Liga dos Clubes Amadores e, assim, excluí-lo do campeonato 
de 1924, alegando que os jogadores vascaínos eram profissionais e não amadores, 
como os jogadores das equipes oponentes. (BALZANO; OLIVEIRA; PEREIRA FILHO, 
2010). 
A primeira equipe a contar com jogadores negros foi o Vasco da 
Gama, mas teve que se rebelar contra o preconceito que grassava na 
sociedade e que impedia afrodescendentes de praticarem o futebol. 
Quando os demais clubes tentaram forçar o Vasco a afastar seus 
atletas negros, a direção do clube se recusou e publicou, em 1924, 
um histórico manifesto direcionado ao presidente Arnaldo Guinle, da 
Associação Metropolitana de Esportes Atléticos – AMEA, que deveria 
fazer o dirigente (com fortes ligações com o Fluminense) se 
envergonhar. Mas aqueles eram outros tempos. Embora não haja 
primazia de ter atletas negros em uma equipe de futebol, é inegável 
que o Vasco tem seu nome em letras de ouro na luta contra o 
preconceito no esporte. 
 
RACISMO NA SELEÇÃO BRASILEIRA E QUESTÕES ECONÔMICAS 
Três fatores influenciaram a aceitação do negro no futebol brasileiro: 
a – o fator econômico, os dirigentes dos grandes clubes perceberam a 
importância dos negros nas equipes, pois quando jogavam os 
estádios ficavam cheios; b – a habilidade técnica dos negros e as 
vitórias que eles conseguiam; c- o gosto do brasileiro pelo futebol. A 
discriminação racial sempre esteve presente no futebol brasileiro. Nos 
anos de 1920, o presidente Epitácio Pessoa recomendou que não 
convocassem negros e mulatos na seleção brasileira que disputaria 
um Campeonato Sul-Americano, em Buenos Aires. Para o presidente, 
era importante mostrar outra imagem do povo brasileiro no exterior, 
por isso, precisava mostrar o que tínhamos de melhor na 
sociedade. Na Copa do Mundo de 1930, no Uruguai, a maioria dos 
jogadores do elenco eram brancos. Em 1938, na França, nas 
semifinais contra a Itália, Leônidas da Silva, o melhor jogador do 
time, foi poupado para jogar a final. O Brasil perde o jogo com um 
pênalti cometido por Domingos da Guia, que leva a culpa pela 
eliminação canarinha. Além disso, outras duas culpas recairiam sobre 
os negros: 1950, no Maracanã, e 1954 na Hungria. Na Copa de 1938, 
na França, cita Filho (2003), nossaseleção chegou às semifinais 
contra a Itália e nosso melhor jogador, Leônidas da Silva, de origem 
negra, ―foi poupado‖ desse jogo para jogar a final. O Brasil perde o 
jogo para a Itália, com um pênalti cometido por Domingos da Guia. 
Domingos, por ter cometido o pênalti, leva a culpa pela eliminação da 
seleção brasileira. Mais uma situação de críticas aos negros, esta de 
grande repercussão sociocultural, segundo Da Matta (1982), foram as 
perdas dos títulos mundiais nas Copas de 1950 e 1954, para o 
Uruguai e a Hungria. 
Pelé, melhor jogador de futebol do mundo 
 
Fonte: 
 
Essas perdas foram atribuídas aos negros e mestiços que atuavam 
pela equipe brasileira, sendo o racismo justificado por um suposto 
desequilíbrio emocional dos atletas que apresentavam cor escura, ao 
longo dos jogos decisivos. Já na Copa de 1982, sob o comando de 
Telê Santana, tida pela maioria da população brasileira e jornalistas 
esportivos como uma das melhores equipes já formadas, era 
constituída em grande parte por jogadores brancos, universitários e 
oriundos da classe média. Segundo Balzano, Oliveira e Pereira Filho 
(2010): 
Atletas negros ou mestiços estavam reduzidos a quatro: Luisinho, Toninho Cerezo, 
Júnior e Serginho. As críticas que surgiram em 1982 foram sobre os atletas 
mestiços como Toninho Cerezo, Luizinho e Serginho. Outros problemas de racismo 
na seleção brasileira, mais evidentes, só voltaram a acontecer na Copa de 1998, 
realizada na França. 
Essas perdas foram atribuídas aos negros e mestiços que atuavam 
pela equipe. Desta vez foi o atacante Ronaldo Nazário carregar a 
cruz. A cada Copa que se aproxima e depois termina com a derrota 
do futebol brasileiro, surgem novos fatos para tentar explicar o 
fracasso brasileiro. Não foi diferente na Copa do Mundo de 2006 
(Roberto Carlos, Ronaldo, Ronaldinho e Adriano) e 2010 (Felipe Melo 
e Gilberto Silva). A curiosidade é que os fatores da derrota, 
normalmente, recaem sobre os ombros dos jogadores mestiços e 
negros. O preconceito também se reflete com relação aos salários 
pagos a negros e brancos. Segundo o sociólogo Vieira (2001), que 
pesquisou 327 jogadores de 17 clubes do Rio de Janeiro, enquanto 
26,6% dos atletas brancos ganham um salário mínimo, entre os 
negros essa proporção é de 48,1%, quase o dobro. No alto da 
pirâmide salarial estão os brancos, com 24,8% de atletas ganhando 
mais de 20 salários mínimos, já somente 17,1% dos negros recebem 
mais de 20 salários. Os estudos também apontaram que os salários 
dos negros costumam atrasar mais que os dos brancos, além de 
receberem menos convites para aparecerem ao lado dos dirigentes 
dos clubes, chegando até a ser tratados com desprezo pelos cartolas. 
Para o autor, outra segregação está no tratamento: macaco, crioulo, 
gorila. Muitos nem consideram os apelidos discriminatórios. Ou seja, 
o racismo às vezes é tão velado, que não é identificado nem pelas 
próprias vítimas. Depois do episódio Barbosa, goleiro na Copa de 
1950, somente Dida, em 2006, vestiu a camisa da seleção. Para 
Vieira (2003), goleiros e técnicos negros correspondem em 
proporcionalidade à ascensão socioeconômica de negros e mulatos no 
Brasil. Na mesma linha, para Imbiriba (2003), o preconceito em 
relação aos goleiros aumentou e permanece vivo muito depois do 
episódio vivido por Barbosa, e quanto aos técnicos, cuja cor da pele 
denuncia, no mínimo, ancestrais trabalhadores, apenas dois foram 
admitidos no comando da seleção: Gentil Cardoso, em 1957, e 
Wanderley Luxemburgo, se é que este se considera negro ou ―pardo‖. 
Esses assuntos são pouco comentados ou quase nunca mencionados 
pela imprensa brasileira, também não se fala sobre a falta de 
dirigentes (cartolas) negros em grandes clubes brasileiros. Gastaldo 
(2006) afirma que os jogadores negros são mal pagos em relação a 
seus méritos e permanecerão sem usufruir outras fontes de renda, 
como em trabalhos de relações públicas e contratos de publicidade. O 
autor enfatiza a diferença, ao escrever que com a adoção do 
profissionalismo, a segregação social e racial foi amainada, mas 
os salários desses profissionais ficaram abaixo das expectativas, à 
exceção, dos “pop stars”. 
 
leia a resenha do livro ―A História do racismo no 
futebol brasileiro‖: 
 
 
PARA REFLETIR 
Como a mídia pode contribuir para que o Brasil seja um país mais 
justo e igualitário? 
No Brasil de Pelé e Ronaldo Nazário (pentacampeão mundial de 
futebol), o jogador negro ou mulato continua a enfrentar o racismo, 
em geral, recebendo contratos e pagamentos inferiores aos dos 
brancos e não tendo no esporte uma garantia de ascensão social 
(DAMO, 2005). 
Para discutir 
CHAMADA PARA O FÓRUM! Acesse o fórum da nossa disciplina e 
aproveite para tirar as dúvidas sobre a cultura e a sociedade dos 
países lusófonos africanos. É sempre legal poder dividir o que 
conhecemos e conhecer além daquilo que esperamos. Aguardamos 
você lá. 
Prezado aluno! Chegamos ao fim da primeira unidade da disciplina A Imagem 
do Negro nos Meios de Comunicação, no qual estudamos O conceito de mídia; 
A Presença do negro na televisão brasileira e a construção da identidade. 
Parece-nos evidente que o racismo existe no Brasil e que para entender esse 
preconceito é preciso conhecer o padrão europeu e norte-americano de 
comportamento, o mesmo adotado pela direita social que dita o caminhar da 
nossa nação. A mídia, que é controlada pela elite dominante e que é avessa a 
mudanças, tem um forte discurso de que vivemos uma democracia racial, isto 
é, não existe a necessidade de discussão por parte da sociedade sobre esse 
tema, afinal, todos vivem bem e não há risco de enfrentamento por parte dos 
oprimidos. E é justamente essa negação da mídia hegemônica quando ela 
afirma que não há racismo no Brasil que confirma a existência do mesmo. 
Entende-se que a mídia contribui significativamente na reprodução do racismo, 
por conta da relação que mantém com outras instituições da elite brasileira e, 
principalmente, pela sua influência e mudança que provoca no comportamento 
social, além, é claro, de reproduzir estereótipos que desvalorizam a atuação do 
negro na sociedade. Essas práticas comuns na mídia tupiniquim precisam ser 
mudadas, é urgente que haja uma nova compreensão sobre os 
afrodescendentes brasileiros. A prática da comunicação deve ser uma 
ação cotidiana para nós, cidadãos, para que possamos ter um conteúdo real, 
atitudes precedidas por ações reacionais. Isso implica em atuar 
estrategicamente num contexto adverso, mas sem maniqueísmo, 
reconhecendo que a imprensa não é um bloco monolítico, e os discursos 
jornalísticos são construídos por pessoas formadas por valores de uma 
sociedade branca, masculina e heterossexual. Produzir o contradiscurso, 
promover o intercâmbio de valores sociais, reafirmar a identidade de toda uma 
população excluída representa um dos grandes desafios sociais frente a essa 
era de informação. 
Vídeo 
 
Veja um depoimento de Chico Buarque falando sobre a questão 
racial. 
https://www.youtube.com/watch?v=sD2sjAw9mlM 
 
REFERÊNCIAS 
AJZENBERG, Bernardo. Os invisíveis. Folha de São Paulo, 26 de 
agosto de 2001. Disponível em: < 
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsma/om2608200101.htm >. 
Acesso em: 25 jun. 2014. 
AMARAL FILHO, Nemézio C. O negro na mídia: a construção 
discursiva do ―outro‖ cultural.Revista África e Africanidades, ano 
3, n. 10, ago. 2010. Disponível em: < 
http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/10082010_22.p
df>. Acesso em: 25 jun. 2014. 
A HISTÓRIA do racismo: documentário. Geledes. 2014. Disponível 
em: < http://arquivo.geledes.org.br/esquecer-jamais/179-esquecer-
jamais/17179-a-historia-do-racismo-documentario>. Acesso em: 25 
jun. 2014. 
BALZANO, OtávioNogueira; OLIVEIRA, Daniel Maia Nogueira de; 
PEREIRA FILHO, José Mário. A retrospectiva histórica da 
discriminação e inserção dos jogadores de origem negra no futebol 
brasileiro. EFDeportes.com, Buenos Aires, ano 15, n. 149, out. 
2010. 
BRITTO, Thaís. As histórias das produções que marcaram a 
representação afrodescendente na TV. 16 de novembro de 2013. 
Disponível em: < http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/as-
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CARNEIRO, Sueli. Terra Nostra só para italianos. Folha de São 
Paulo, 27 de dezembro de 1999. Disponível em: < 
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2712199909.htm >. 
Acesso em: 25 jun. 2014. 
DAMO, Arlei. Do dom à profissão: uma etnografia do futebol de 
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FREIRE, Vinicius Torres. A cor do pecado. 29 de janeiro de 2004. 
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 
 
WEB AULA 2 – 05/05/2016 
Unidade 2 – O processo de democratização dos meios 
de comunicação e participação dos homens e das 
mulheres negras 
WEBAULA 1 
Olá. Sou a professora Vanessa Zandonade e juntos vamos estudar a 
participação dos homens e das mulheres negras nos meios de 
comunicação. 
Conteúdo: 
- A democratização dos meios de comunicação. 
- A participação dos negros nos meios de comunicação. 
- Estudos de casos sobre a difusão da cultura negra no rádio. 
 
A democratização dos meios de comunicação 
O sistema de televisão aberto é extremamente abrangente no Brasil, 
estendendo seu alcance a uma média de 95,7% da população 
brasileira, conforme pesquisa desenvolvida pela Agência Nacional do 
Cinema (Ancine). É comum haver até mais do que um televisor em 
quase todas as casas onde há energia elétrica. Porém, embora a 
televisão seja um meio que envolve quase todos os domicílios 
brasileiros, não é proporcional à abrangência de seu conteúdo, no 
que se refere a diferentes opiniões sobre determinados fatos, às 
realidades regionais e a representação de diferentes culturas 
presentes no vasto território brasileiro. Provavelmente você também 
tenha um televisor na sua casa e assista aos programas nele 
transmitidos com frequência. No entanto, você já parou para pensar 
nas formatações dos programas veiculados nos canais que costuma 
acompanhar? Acha que o que vê na televisão aberta é realmente a 
representação de nossa realidade do ponto de vista da abrangência 
territorial e as singularidades que possuímos nos mais diversos temas 
e circunstâncias? 
Representação da opinião de entrevistados sobre hábitos de mídia 
 
Fonte: 
Esta imagem faz parte de um estudo da Fundação Perseu Abramo e 
mostra a grande abrangência do sistema de televisão aberta e 
demais veículos de comunicação, o que nos sugere a necessidade de 
avaliarmos a sua atuação e influência na sociedade. 
O sistema brasileiro de televisão é uma concessão pública. Isso quer 
dizer que a televisão é um bem que deve representar o povo 
brasileiro ao qual ela pertence. Os diferentes canais existentes são 
concedidos pelo Governo Federal para que elaborem a sua 
programação, porém há uma série de regras a serem seguidas que 
nem sempre são respeitadas, ou melhor, quase nunca são 
respeitadas. Exigir que sejam adotadas determinadas posturas por 
parte dos empresários do setor das comunicações não significa impor 
medidas de censura ou controle por parte do Ministério das 
Comunicações, órgão responsável pela concessão dos canais. 
Significa buscar a aplicação de medidas que atendam às regras 
definidas pela Constituição Federal de 1988, a qual dedicou um 
grande espaço para a discussão sobre os aspectos da comunicação 
social, ou ainda determinadas pelo Código Brasileiro de Televisão 
(CBT), implantado em 1962 para regular o setor e continua em vigor 
até os dias atuais. Há ainda a Lei Geral das Telecomunicações (LGT), 
criada em 1997, que também definiu regras para a atuação das teles. 
Entre os aspectos determinados como importantes para que a 
comunicação social seja representativada sociedade brasileira está a 
definição de que o monopólio ou oligopólio de poucos 
empresários na propriedade de concessões é prejudicial para 
a democracia no país. Sem uma mídia que ouça diferentes pontos 
de vista sobre determinados assuntos, ou ainda, que dê evidência a 
determinados grupos em detrimento de outros, que muitas vezes 
acabam marginalizados na vida pública midiática, não pode haver 
democracia. Se por um lado há as previsões legais para que a 
comunicação social seja plural, por outro, a prática dos empresários 
do setor, auxiliados por setores da política legislativa, se configura de 
maneira exatamente contrária, com grande concentração de 
propriedade destes canais e direcionamento dos conteúdos conforme 
o interesse econômico e político de seus detentores. 
 
Fonte: 
 
Dos anos de 1990 até o início dos anos 2000, o que se configurou de 
maneira acentuada foi o movimento ascendente de concentração da 
mídia nacional sob posse de poucos grupos e a consequente redução 
drástica no número de empresários (em sua maioria, empresas 
familiares) no controle dos principais veículos de comunicação do 
país. Algo em torno de nove grupos familiares controlavam a grande 
mídia no decorrer da última década, compreendidas pela família 
Abravanel, dona do SBT, a Bloch, que era proprietária da Manchete, 
os Civita, donos da Editora Abril, os Frias, proprietários da Folha de S. 
Paulo, os Levy, da Gazeta Mercantil, os Marinho, detentores das 
Organizações Globo, os Mesquita, proprietários de O Estado de S. 
Paulo, os Nascimento Brito, do Jornal do Brasil, e os Saad, donos da 
Rede Bandeirantes. Esta concentração foi ainda ampliada nos últimos 
anos, já que o número de mandatários da grande mídia de 
abrangência nacional encolheu para seis grupos apenas. Isso porque 
foram retiradas da lista as tradicionais famílias Bloch, Levy, 
Nascimento Brito e Mesquita, que não exercem mais controle direto 
sobre seus veículos de comunicação. Além das famílias Civita, 
Marinho, Frias, Saad e Abravanel, também há os Sirotsky, que estão 
à frente da Rede Brasil Sul (RBS), nos estados de Santa Catarina e 
Rio Grande do Sul. Entre estes grupos, o maior deles no que se refere 
à quantidade de emissoras filiadas e regionais, que retransmitem a 
sua programação, é a Globo. As organizações regionais são, em sua 
maioria, vinculadas a ela, detendo, portanto, grande poder de 
influência na definição de anunciantes em detrimento à sua 
audiência. Essa abrangência a todo o território brasileiro, no entanto, 
não resulta em garantias de democratização da informação, 
tampouco possibilita maior participação popular no contexto da 
produção midiática. Tal concentração de poder entre os meios de 
comunicação resulta em um consequente discurso uníssono, 
atuando diretamente na formatação da opinião pública. Muitos 
telespectadores passam mais de quatro horas por dia em frente ao 
televisor, tendo os noticiários e as novelas entre os principais 
programas assistidos. 
Imagem que brinca com o rosto dos proprietários de concessões 
televisivas no Brasil 
 
Fonte: 
 
O vídeo produzido pelo Coletivo Intervozes, 
baseado nos mesmos moldes do documentário Ilha 
das Flores, questiona a falta de acesso da 
população à comunicação, considerando-a como 
um direito. 
https://www.youtube.com/watch?v=KgCX2ONf6BU 
Conforme avalia Pereira (1987, p. 9), a formatação atual do sistema 
de comunicação brasileiro fez com que ele se torne um ―instrumento 
de consolidação e expansão do capitalismo, pelo seu caráter 
comercial, sem qualquer reconhecimento de que se trata, na 
realidade, de um direito social‖. Diante disso, não é difícil para você 
imaginar a forma como são transmitidos assuntos que podem afetar a 
realidade de poder até então vigente. Uma pesquisa publicada em 
2013 pela Fundação Perseu Abramo, intitulada ―Democratização da 
Comunicação‖, trouxe dados importantes para avaliarmos tal 
situação. Nas entrevistas realizadas para a pesquisa, mais de 60% 
daqueles que responderam aos questionários afirmaram que os meios 
de comunicação defendem os interesses de seus próprios donos ou 
daqueles que têm mais dinheiro. Já no que se refere aos noticiários, a 
maioria da população ouvida avalia que os assuntos abordados não 
são realmente importantes à sociedade, resumindo os assuntos 
interessantes em cerca da metade do que é noticiado. Isso se 
acentuaria quando se tratam de notícias de política ou economia. Os 
entrevistados percebem que a maioria destes noticiários diz respeito 
aos interesses da empresa que veicula o fato. Além disso, a maioria 
avalia que a TV aborda questões e evidencia os negros menos 
do que deveria. Esse posicionamento destes entrevistados nos 
mostra que pelo menos minimamente há a percepção dos 
telespectadores quanto à atuação das emissoras que não os 
representam de forma satisfatória. 
Gráfico de pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo 
 
Fonte: 
No gráfico, percebe-se que as pessoas entendem haver pouca 
participação de negros na TV. A mesma concentração de propriedade 
ocorre em outros setores da comunicação social, seja no rádio ou na 
mídia impressa. Da mesma forma que a televisão, poucos grupos 
defendem ostatus quo que detêm e agem de forma a preservar a 
manutenção da realidade atual, que os favorece econômica e 
politicamente. 
 
Entrevista publicada no Observatório do Direito à 
Comunicação aborda a questão do negro e os 
valores presentes na sociedade refletidos na 
televisão, que levam o negro a negar sua 
própria identidade. Disponível em: 
 
Sobre o mapeamento das tvs abertas - 
Ancine: . 
 
PARA REFLETIR 
Você avalia que as abordagens a diferentes temas na televisão 
refletem a realidade do que se pensa na sociedade? Ou seriam os 
meios de comunicação que sugerem determinados valores em 
detrimento de outros? 
 
O rádio chegou no Brasil de forma até participativa, tendo a atuação 
de clubes associativos em sua implantação, porém, os inúmeros 
requisitos e normas legais definidos no governo Vargas, para o 
funcionamento das emissoras, reduziram a abrangência dos 
radioamadores no período de sua regulamentação, na década de 
1920. Tal fato favoreceu a concentração dos grupos com maior poder 
aquisitivo em seu controle e propriedade (ORTRIWANO, 1985, p. 52). 
Já durante o período de ditadura civil-militar, em meados da década 
de 1970, veículos alternativos de comunicação começaram a 
ser usados por integrantes de movimentos sociais como forma 
de obter espaço e voz na sociedade, frente à mídia que silenciava 
quanto a diversos direitos humanos, que vinham sendo negados, e 
demandas da população não incluída entre aqueles que detinham 
poder político e econômico. 
Importantes jornais alternativos que circularam no período da década 
de 1970 
 
Fonte: Fonte: Fonte: 
A partir deste período, grupos de movimentos sociais organizados 
começaram a gestar o que seria posteriormente denominado por 
pesquisadores e militantes como o movimento pela democratização 
dos meios de comunicação. Na década de 1980, diferentes ações 
foram realizadas em busca de mudanças que favorecessem a 
abertura à participação social na produção comunicativa do país. Esta 
iniciativa se manteve até os dias de hoje, ainda que não haja 
destaque para suas ações, tendo em vista que se chocam com os 
interesses dos detentores da propriedade dos veículos de 
comunicação consolidados atualmente. Se por um lado havia 
jornalistas, estudantes, sindicalistas e grupos de defesa da cultura 
popular, entre outros, que defendiam a mudança no sistema atual da 
comunicação, por outro estavam os grupos patronais e a Associação 
Brasileirade Telecomunicações (Abert) e alguns empresários-políticos 
que travaram e continuam travando as medidas de avanço propostas 
como legislação democrática ao país. 
Representação do movimento pela democratização da comunicação 
existente no país 
 
Fonte: 
Na década de 1980 foi aprovado o primeiro documento oficial que 
reivindicaria por mudanças no sistema da comunicação social 
brasileira. Em 1983 criou-se a Frente Nacional de Luta por Políticas 
Democráticas de Comunicação, em Florianópolis, sob o comando da 
Federação Nacional dos Jornalistas. No ano seguinte, um grupo de 
parlamentares do PMDB publicou ―Propostas de Governo – 
Comunicação‖, no caderno ―A Nova República‖, que foi entregue ao 
então presidente Tancredo Neves. As proposições por mudanças 
foram seguidas pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil 
(CNBB), em 1986, como base aos leigos para as discussões na 
Constituinte que se formaria ainda naquele ano. Pereira (1987, p. 14) 
cita oito proposituras apresentadas naquela década, apontando que 
se configuravam como uma demonstração da ―necessidade de 
modificação do atual modelo, considerado concentrador, 
monopolista e antipopular, voltado unicamente ao 
econômico‖. Tais demandas povoaram as discussões da Constituição 
de 1988, a qual reuniu acalorados debates sobre o tema, mas 
também uma série de barganhas e artimanhas para atravancar, da 
forma como fosse possível, possíveis avanços neste setor. A 
Constituição traz regras importantes para evitar a concentração de 
propriedade dos veículos de comunicação, preveem o acesso à 
informação e outros benefícios considerados avançados, mas muitos 
deles até hoje ainda não foram regulamentados e continuam apenas 
no papel. Entre os artigos da Constituição Federal de 1988 está 
aquele que prevê a visibilidade de interesses nos meios de 
comunicação de diferentes grupos da sociedade, sejam eles 
integrantes de pequenas comunidades ou empresários da 
radiodifusão. Em documento publicado em 2010, o Coletivo de 
Comunicação – Intervozes (p. 25-27) avalia que esta participação e 
equilíbrio de acesso ao espaço midiático representaria uma inversão 
no atual paradigma do campo das comunicações, mudando o enfoque 
do interesse individual e mercantil para o interesse público e coletivo, 
o que asseguraria o direito à comunicação, defendido por diferentes 
entidades que possuem em sua trajetória a reivindicação pela 
democratização desse campo. 
 
Programa da TV Câmara critica a falta de espaço 
para a diversidade na televisão incluída em um 
sistema de comunicação monopolizado e traz o 
rap nordestino como diferencial. 
https://www.youtube.com/watch?v=Y9ObEePI-
ts 
 Ilustração valoriza a comunicação que inclui a diversidade de 
opiniões 
 
Fonte: 
 
A atuação dos veículos de comunicação centralizados sob a 
propriedade de uma dezena de famílias e igrejas, em geral, é 
contrária à atuação de movimentos populares, os quais criticam 
diversas instâncias da vida social. A pluralidades de vozes não se 
verifica nestes meios, conforme afirmam representantes destes 
grupos, os quais afirmam que a televisão, na maioria das vezes, 
aborda suas atuações de forma a desqualificá-las e deslegitimá-las 
frente à sociedade. O espaço não mercantilizado ainda não foi 
conquistado. A partir do ano de 1998, no entanto, governos 
populares começaram a assumir o poder na América Latina e 
algumas propostas passaram a fazer parte da política e do mercado 
da comunicação, com vistas ao comprometimento destes governos 
com a distribuição de renda e combate à pobreza e à miséria, 
conforme cita Moraes (2011, p. 25), em Vozes Abertas da América 
Latina. Estas medidas se configuraram como situações gestacionais 
para possíveis mudanças, verificadas em alguns países como 
Equador, Argentina e Uruguai. Contudo, o Brasil ainda engatinha 
na implantação de políticas que favoreçam a democratização 
das comunicações. Algumas tentativas, como a criação do Conselho 
Federal de Jornalismo, a Conferência Nacional das Comunicações 
(Confecom) e outras medidas que seguiam a mesma tendência dos 
governos latino-americanos, foram fortemente reprovadas pela 
sociedade, influenciadas por posicionamentos contrários dos 
proprietários de veículos de comunicação que criticavam a medida e 
acusavam o governo de autoritário e censor (MORAES, 2011, p.107). 
Diante disso, o ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da 
Presidência da República, durante o governo Lula, Paulo Vennucchi, 
critica a acusação feita ao presidente e lamenta que a liberdade de 
imprensa que o Brasil tem é a liberdade que os grandes jornais 
possuem para noticiarem os fatos como querem. 
Cartaz de divulgação da 1ª Confecom 
 
Fonte: 
O principal avanço dos últimos anos no sentido de favorecer a 
democratização da comunicação social brasileira, no entanto, ocorreu 
com a realização da Confecom, para a proposição de medidas 
relacionadas ao tema. O evento contou com representantes da 
sociedade civil, do governo e das emissoras e concessionárias atuais. 
No entanto, a iniciativa não teve prosseguimento e os documentos 
aprovados se tornaram referência para a continuidade das 
reivindicações dos grupos organizados em torno deste tema. Nestas 
iniciativas que visavam alterar o padrão de comunicação no Brasil 
estariam muitos dos movimentos populares organizados, que 
perceberam que além de reivindicar por mais acesso à gestão dos 
meios de comunicação já formatados, também seria importante 
produzir seus próprios veículos. Nesta percepção tiveram papel 
de destaque os sindicatos, como o dos metalúrgicos de São Paulo, 
que conseguiram a concessão de uma televisão aberta. 
VIDEOAULA 3 
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PARA REFLETIR 
O não prosseguimento em propostas aprovadas na Confecom para a 
democratização da comunicação é fruto de falta de interesse do 
governo sobre este tema ou pressão comercial das empresas de 
comunicação? 
 
 
Programa da TVT, ―Clique e Ligue‖, aborda o 
tema da democratização das comunicações e 
inclui nas discussões dados importantes sobre a 
comunicação alternativa dos trabalhadores. 
https://www.youtube.com/watch?v=zLoovTA0tcM 
A partir do momento em que a comunicação se configura como um 
espaço democrático, novos atores passam a compor o quadro de 
proprietários de diferentes veículos alternativos ao sistema 
hegemônico atualmente em vigor, e se tornarem promotores de 
informação. Neste espaço democrático atuam mulheres, movimentos 
sociais, grupos minoritários organizados na sociedade, bem como 
negros e outros. Em uma comunicação democrática, o negro 
deixa de ocupar lugar de marginalidade e discriminação, como 
ocorre atualmente. Entre as formas de aplicação da comunicação 
democratizada estariam as rádios comunitárias, um dos instrumentos 
apresentados por movimentos sindicais e civis organizados para a 
efetivação e a garantia dos direitos à informação e a livre expressão, 
bem como a participação da população na produção de conhecimento 
de maneira mais descentralizada. 
Logo utilizado pelas rádios comunitárias em ações de reivindicação 
por espaço nas comunicações 
 
Fonte: 
 
A comunicação comunitária possui uma série de dificuldades para a 
sua aplicação, até mesmo por ser um espaço de atuação 
democrática. Ela se configura como um meio que possibilita o 
intercâmbio entre as informações que surgem entre os próprios 
integrantes de uma determinada comunidade. Tais assuntos 
abordados seriam voltados aos interesses daqueles que estão 
diretamente envolvidos neste processo comunicativo, moradores de 
uma mesma região e unidos por ideais que tenham afinidades, bem 
como deve possibilitar a ampla participação das pessoas

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