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PROTEÇÃO PENAL AO INDIVÍDUO

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ART. 121 – HOMICÍDIO 
 
a) Conceito: destruição da vida humana alheia por outrem. 
 
b) Objeto Jurídico: vida humana, independente de sexo, idade, raça ou 
condição social do indivíduo. 
- Direito subjetivo fundamental, garantido pelo artigo 5o, caput, da C.F. 
Obs.: O consentimento é irrelevante. 
 
c) Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum). 
 
d) Sujeito passivo: ser humano com vida. 
Obs.: 
 
1ª.) Destruição de vida intra-uterina configura aborto (art. 124 do C.P.) 
2ª.) Limite mínimo do homicídio: começo do nascimento, com contrações 
expulsivas ou pela intervenção cirúrgica. 
3ª.) Limite máximo do homicídio: possível até a morte da pessoa. 
 
e) Conduta típica: matar alguém, por qualquer meio. 
 
- Meios: 
1) Diretos: de que se vale o agente para atingir diretamente 
a vítima (ex. disparo de arma de fogo; esganadura; etc.) 
2) Indiretos: conduzem à morte de forma mediata (Ex. 
ataque com animal bravio). 
3) Materiais: mecânico; químico; patológico. 
4) Morais: susto; violenta emoção; medo; etc. (com pessoas 
portadoras de distúrbios cardíacos). 
 
f) Elemento subjetivo: dolo, vontade livre e consciente de realizar 
conduta dirigida à morte da vítima. 
 
g) Objeto material: o próprio ser humano com vida. 
 
h) Consumação: consuma-se com a morte (crime material). 
Obs.: 
1ª.) Delito instantâneo de efeitos permanentes – necessário exame de 
corpo de delito – art. 158 do C.P.P. 
2ª.) Homicídio por omissão: possível (crime omissivo impróprio ou 
comissivo por omissão) – conhecimento de situação típica, não 
realização de ação dirigida de modo a evitar o resultado, sendo o autor 
garantidor do bem jurídico (Ex. mãe que deixa de alimentar recém 
nascido; salva-vidas que deixa de socorrer o banhista que se afoga). 
 
i) Tentativa: admissível. Quando iniciada a execução o resultado morte 
não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, II, do 
C.P.). 
 
j) § 1º: Homicídio privilegiado. 
- Causa especial de diminuição de pena. 
- Espécies: 
1. agente impelido por relevante valor social ou valor moral: Exposição 
de motivos – aquele que em si mesmo é aprovado pela moral prática, 
como a compaixão pelo sofrimento da vítima (eutanásia) ou a 
indignação contra um traidor da pátria. 
* Valor social: interesses coletivos ou da sociedade; 
* Valor moral: orientado por princípios éticos; nobres; altruístas. 
2. violenta emoção, após injusta provocação da vítima: 
- emoção: sentimento intenso e passageiro que altera o estado 
psicológico, provocando alterações fisiológicas (Ex. medo; angústia; 
tristeza); 
- paixão: emoção-sentimento – idéia permanente ou crônica por algo 
(ex. amor, ódio, ciúme). 
- Emoção (paixão) violenta: resultante de severo desequilíbrio psíquico, 
capaz de eliminar capacidade de reflexão e autocontrole. 
- Provocação: atitude desafiadora; com ofensas diretas ou indiretas, 
insinuações, expressões de desprezo, etc. 
* Necessidade da imediatidade da reação, impedindo reflexão. 
* Redução de pena obrigatória, se prevalecem estas circunstâncias 
como reconhecidas pelo Júri, competente para seu julgamento, 
cabendo ao juízo apenas o arbitramento do quantum da redução. 
* Circunstância que beneficia apenas o “caput” do art. 121, não 
podendo ser aplicada ao homicídio qualificado (§ 2o.) – Divergência da 
jurisprudência: STF – RT 541/466 : Incompatível com as qualificadoras 
subjetivas (motivo fútil ou torpe, etc.), mas compatível com as 
qualificadoras objetivas (fogo, veneno, meio cruel, etc.) 
 
l) § 2o. Homicídio Qualificado 
1. Conceituação: impulsionado por certos motivos ou praticado com o 
recurso a meios cruéis ou insidiosos ou perigo comum; ou de forma a 
tornar impossível a defesa da vítima; ou, ainda, se realizado com o fim de 
atingir objetivos reprováveis (execução, ocultação, impunidade ou 
vantagem em outro crime). 
2. Qualificação por motivos determinantes: - Incisos I e II – Motivo fútil ou 
torpe 
. Fútil: insignificante, desproporcional ou inadequado. 
. Torpe: indigno, desprezível, repugnante, ausência de sensibilidade 
moral. 
* Mediante paga ou promessa de recompensa: motivo torpe. 
- Jurisprudência determina que deve prevalecer conteúdo econômico 
na promessa ou no pagamento. 
- Não se exige que o agente receba o pagamento 
- Qualificadora aplicável apenas ao autor (executor) e não ao partícipe 
(quem oferece recompensa), visto que pode faze-lo, inclusive, por 
motivo justo ou nobre. 
3 – Qualificação por meios e modos de execução – incisos III e IV do § 2o., 
do art. 121, do C.P. 
* Inciso III: meios de execução. 
- Meio insidioso: dissimulado em sua eficiência maléfica; 
- Meio cruel: aumenta inutilmente o sofrimento da vítima, ou revela 
brutalidade fora do comum, sem piedade. 
- Perigo comum: capaz de afetar número indeterminado de pessoas 
(fogo, desabamento, explosivo, etc.). 
- Meios que podem ser empregados: 
. Veneno: substância mineral, vegetal ou animal que, ingerida, inoculada 
ou introduzida no organismo, provoque lesão ou perigo de lesão à saúde 
ou à vida. 
- Para configurar seu uso, necessária a ausência de conhecimento da 
vítima; seu emprego com violência pode configurar meio cruel. 
. Asfixia: mecânica, enforcamento ou estrangulamento, ou tóxica, 
consistente em bloquear a função respiratória. 
. Tortura: como meio de prática de homicídio, com utilização de mal 
desnecessário, com o intuito de provocar dor, angústia e grave 
sofrimento físico à vítima (não deve ser visto aqui como delito autônomo 
– art. 1o., da Lei nº 9455/97). 
* Inciso IV: modos de execução que garantem o delito e afastam 
eventual defesa da vítima. 
. Traição: deslealdade. 
. Emboscada: correspondente ao ocultamento do agente, como intuito 
de surpreender a vitima. 
. Dissimulação: encobrir os próprios objetivos. 
4 – Qualificação pela conexão – assegurar a execução, ocultação, 
impunidade ou vantagem de outro crime – Inciso V, do § 2o., do art. 121, 
do C.P. 
- Pressupõe a existência de dois crimes, entre os quais ocorra conexão. 
5 – Duas ou mais qualificadoras: 
 - Homicídio mediante emboscada e uso de explosivo: 
. Emboscada: homicídio qualificado – (art. 121, § 2o., IV, do C.P.) 
. Explosivo: agravante genérica (art. 61, II, d, do C.P.). 
 
m) § 3o. Homicídio Culposo 
- O agente não observou o cuidado objetivamente devido, ou as 
diligências indispensáveis que exigirem as circunstâncias do caso em 
concreto, por conseqüência, produzindo o resultado morte, não querido 
pelo autor. 
- Causado por imprudência, negligência ou imperícia – art. 18, II, do C.P. 
 
n) § 4o. Aumento de pena em Homicídio Culposo 
- Causas especiais: 
1 - Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: 
deliberadamente desatende às regras técnicas (não se confunde com a 
imperícia, onde o agente não tem capacidade ou conhecimento técnico 
necessário ao caso). 
2 – Omissão de socorro imediato à vítima: (crime autônomo – art. 135 do 
C.P.) – conduta culposa antecedente, sem ocorrência de morte 
instantânea, tornando viável o socorro. 
3 – Abster-se de comportamento que diminua as conseqüências dos atos 
do agente: abarcada pela omissão de socorro. 
4 – Fuga do agente para evitar a prisão em flagrante: evasão à aplicação 
da lei penal. 
 
o) § 4o. – Segunda parte: Acrescentada pela Lei nº 8.069/90 – ECA – 
aumento de 1/3 na pena de homicídio doloso, praticado contra menor 
de 14 anos.p) § 5o. – Perdão Judicial: arts. 107, IX e 120 do C.P.- Extinção de 
punibilidade 
- Homicídio Culposo 
- Morte de pessoas estreitamente ligadas ao agente (parentesco ou 
afinidade) ou incapacidade do agente para o trabalho. 
* Posição divergente na doutrina a respeito do perdão judicial: 
1. Não se aplica ao homicídio culposo em acidente de trânsito – art. 302, 
da Lei 9.503/97 – pois o art. 291 da Lei indica que não cabe aplicação 
analógica de normas penais não incriminadoras, tendo em vista que as 
disposições a respeito do perdão judicial para homicídio e lesão corporal 
culposa, estão na parte especial do Código Penal, e o artigo 291, do CTB, 
só permite a aplicação de normas da parte geral do Código Penal e, 
apesar da previsão no artigo 107, IX, do C.P., este se refere aos casos 
previstos em lei e, como o Código de Trânsito revogou esta previsão, 
anteriormente contida no artigo 300 (revogado), é certo que não mais 
existe previsão legal específica, bem como o legislador não desejou a 
interpretação favorável ao réu. (Rui Stoco). 
2. Cabe a aplicação do perdão judicial, como interpretação benéfica ao 
réu, visto que apesar da disposição do artigo 291, do CTB, é o artigo 107, 
inciso IX, do Código Penal, constante da parte geral, que prevê a 
aplicação do perdão judicial, nos casos previstos na lei. 
 
q) Ação Penal: Pública Incondicionada. 
 
r) Crimes hediondos 
- São considerados na forma consumada ou tentada, de acordo com o 
art. 1o., I, da Lei 8.072/90: 
. Homicídio Simples: mesmo que praticado por um único agente, mas em 
atividade típica de grupo de extermínio. 
. Homicídio Qualificado: art. 121, § 2o. 
 
 
ART. 122. - INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO 
 
a) Conceito: 
 Suicídio: "é a deliberada destruição da própria vida" Euclides 
Custódio da Silveira. 
 Obs.: por razões que se prendem à impossibilidade de punição do 
suicídio e à política criminal (impossibilidade da dissuasão) não se 
incrimina a prática do suicídio. Mas é ilícito, pois atinge um bem 
indisponível. 
 Então a lei pune quem age induzindo, instigando ou auxiliando 
outrem a suicidar-se. 
 
b) Objeto jurídico: a vida humana (art. 5o., caput, da CF). 
 
c) Sujeitos: 
 1) ativo: qualquer pessoa (crime comum); 
 2) passivo: qualquer pessoa, não obstante dever se tratar de 
pessoa determinada, não perfazendo o delito o induzimento genérico. A 
pessoa deverá ter discernimento, senão o crime poderá ser homicídio - o 
sujeito passivo deve agir voluntaria e conscientemente. 
 
d) Tipo objetivo: 
 Conduta típica: Induzir ou instigar (concurso moral) alguém ao 
suicídio ou prestar-lhe auxílio (concurso físico). 
 Induzir: significa inspirar, incutir, sugerir, persuadir. Fazer brotar no 
espírito de outrem a idéia suicida. Ex. A é doente terminal. B o induz a se 
matar. A idéia primeira é de A, que induz. 
 Instigar: é estimular, incitar, acoroçoar alguém ao suicídio. A idéia 
suicida preexiste. Ex. A está doente e indeciso entre a luta contra a 
doença e a morte. B o instiga a se matar. 
 Prestar auxílio: o agente colabora fornecendo os meios 
necessários para que a vítima alcance o propósito de matar-se. Ex. 
empréstimo de arma, de veneno, de corda, etc. Ou Conselhos de como 
se matar. Ex. dose de veneno. 
 Omissão: é discutida a possibilidade da prática deste crime por 
omissão. 
 Parte da doutrina entende possível, por aquele que 
conscientemente omite ação a que estava obrigado em razão da 
posição de garante (art. 13, § 2º., CP). 
 
e) Tipo subjetivo: dolo - consciência e vontade de induzir, instigar ou 
auxiliar outrem ao suicídio, podendo fazer de forma espontânea ou a 
pedido da vítima. Pode ser direto, querer, ou eventual, assumir 
conscientemente o risco do evento danoso. 
 Para alguns há o dolo específico - elemento subjetivo do tipo ou 
do injusto = desejo de que a vítima morra. José Frederico Marques e 
Euclides Custódio da Silveira. Contra: Júlio Fabbrini Mirabete, Damásio 
de Jesus, Luis Regis Prado. 
 
f) Consumação: duas correntes: 
 1) consuma-se com a instigação, o induzimento ou o auxílio (delito 
instantâneo e de mera conduta). A aplicação da pena, todavia, está 
sujeita à superveniência do evento morte ou lesão corporal grave. 
Condição objetiva de punibilidade. Aníbal Bruno, Nelson Hungria, 
Galdino Siqueira. 
 2) consuma-se com o resultado natural (morte ou lesão corporal 
da natureza grave). O resultado não é condição objetiva de 
punibilidade, mas elemento do tipo. Júlio Fabbrini Mirabete, Magalhães 
Noronha, José Frederico Marques, Damásio de Jesus, Heleno Fragoso, 
Euclides Custódio da Silveira. 
 
g) Tentativa: inadmissível - não havendo o resultado morte ou lesão 
corporal de natureza grave o fato é atípico. Ocorrendo qualquer dos dois 
o delito consumou-se. 
 
h) Formas qualificadas - PARÁGRAFO ÚNICO 
 I - se o crime é cometido por motivo egoístico, que desvela 
desprezo pela vida alheia. Exs.: instiga ou ajuda, para recebimento der 
herança ou de seguro ou visa eliminar um rival. 
 II - se a vítima for menor ou tem diminuída, por qualquer causa a 
capacidade de resistência. 
 
i) Suicídio conjunto: 
 1) pacto de morte: duas pessoas combinam se matar - caso 
ambos colaborem para o evento morte (abrindo a torneira de gás, 
vedando o ambiente) e sobrevivem = homicídio tentado; se apenas uma 
delas sobrevive = homicídio consumado. Se apenas uma colabora para 
o evento morte - se a que colaborou sobrevive = homicídio consumado 
(ex.: um atira no outro e depois tenta se matar, mas não morre); se a outra 
sobrevive = instigação (ex.: um atira no outro, que não morre, e depois, 
acreditando na morte do primeiro, se mata). 
 b) roleta russa: arma com um só projétil, rolando o tambor. O 
sobrevivente comete o crime do art. 122. 
 c) duelo americano: uma arma carregada, outra não. O 
sobrevivente comete o crime do art. 122. 
 d) fraude: homicídio. Ex.: afirmar falsamente que a arma está 
descarregada. 
 e) falta de discernimento da vítima: homicídio (induzir um louco a 
se matar). 
 
j) Pena 
 1) tipo simples (art. 122, caput) - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, 
se a vítima morre; 
 2) reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se a vítima sofre lesão 
corporal de natureza grave. 
 3) Tipo qualificado (parágrafo único) - a pena do caput aplicada 
em dobro. 
 
l) Ação penal: pública incondicionada. 
 
 
ART. 123. - INFANTICÍDIO 
 
a) Conceito: é a morte dada pela mãe ao próprio filho, durante o parto 
ou logo após, sob a influência do estado puerperal. 
 Três sistemas: 
 a) sistema psicológico: fundado no motivo honra, que é o temor à 
vergonha da maternidade ilegítima; 
 b) sistema fisiopsicológico ou fisiopsíquico: apoiado no estado 
puerperal. O Código Penal atual adota esse sistema. 
 c) misto (ou composto): agrega os dois sistemas - Anteprojeto 
Hungria 1963. 
 
b) Objeto jurídico: a vida humana (art. 5o., caput, da CF). 
 
c) Sujeitos: 
 1) ativo: crime próprio - a mãe, que mata o próprio filho durante o 
parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal. 
 Puerpério: "(de puer e parere) é o período que vai da dequitação 
(isto é, do deslocamento e expulsão da placenta) à volta do organismo 
às condições pré-gravídicas" (R. Briquet) - A. Almeida Jr. e J. B.O. Costa 
Jr.. Sua duração é, pois, de seis a oito semanas (Lee), "conquanto alguns 
limitem o uso da expressão puerpério ao prazo de seis a oito dias". Obs.: 
o estado puerperal gera uma simples influência psíquica. Além disso = 
doença mental (art. 26, "caput) ou perturbação da saúde mental (art. 
26, p. ú.). 
 A melhor solução é deixar a conceituação da elementar "logo 
após" para análise do caso concreto, entendendo-se que há delito de 
infanticídio enquanto perdurar a influência do estado puerperal. 
 - Concurso de pessoas: discutível 
 I - não há: porque o estado puerperal é circunstância pessoal, 
insuscetível de extensão aos co-autores ou partícipes - o terceiro 
responderia por homicídio. 
 II - há: regra do art. 30 do CP. O estado puerperal é elementar do 
tipo infanticídio, essencial a sua configuração. 
 III - posição mista: punição por homicídio se o terceiro pratica ato 
executório consumativo, e por infanticídio se apenas é partícipe do ato 
da mãe. 
 2) passivo: é o ser humano nascente - na etapa de transição da 
vida uterina para a extra-uterina - ou recém-nascido (elemento 
normativo do tipo). 
 
d) Tipo objetivo: 
 Matar: de qualquer maneira - delito de forma livre. A conduta 
típica pode ser cometida por ação (sufocação, estrangulamento) ou 
omissão (mãe que deixa de fazer a ligadura do cordão umbilical). 
 Durante o parto ou logo após são elementos normativos do tipo, 
que exigem um juízo cognotivo para sua exata compreensão. 
 Parto - é o conjunto de processos fisiológicos, mecânicos e 
psicológicos através dos quais o feto separa-se do organismo materno. 
Seu início é marcado pelo período de dilatação do colo do útero e 
seu término pela completa separação da criança do organismo 
materno, com a expulsão da placenta e o corte do cordão umbilical. 
 Logo após - Bento de Faria se refere ao prazo de oito dias, em que 
ocorre a queda do cordão umbilical. Flamínio Fávero se inclina para a 
orientação de deixar ao julgador a apreciação do conceito do termo. 
Damásio de Jesus estende o prazo até enquanto perdurar a influência 
do estado puerperal. O prazo se estende durante o estado transitório de 
desnormalização psíquica (RT 442/409). 
 Obs.: não basta que a conduta tenha lugar durante o parto ou 
logo após: é preciso, demais disso, a existência de um vínculo causal 
entre a morte da criança dada naquele lapso temporal e o estado 
puerperal. 
 Cabe à perícia determinar se a conduta delituosa foi realmente 
impulsionada pelas perturbações físicas e psíquicas decorrentes do 
parto. 
 
e) Tipo subjetivo: Dolo - vontade livre e consciente de matar o nascente 
ou recém-nascido durante o parto ou logo após (dolo direito), como 
assumir conscientemente o risco do êxito letal (eventual). 
 Não existe a modalidade culposa. 
 
f) Consumação: delito material - consuma-se com a morte do nascente 
ou recém-nascido. 
 
g) Tentativa: crime plurissubsistente - admite a tentativa. 
 
h) Pena: detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
 
i) Ação penal: pública incondicionada, competindo ao Júri o seu 
julgamento. 
 
 
ARTS. 124-8. – ABORTO 
 
a) Conceito: é a interrupção do processo de gravidez, com a morte do 
feto. 
 Há seis figuras: 
1ª.) aborto provocado pela própria gestante ou auto-aborto (art. 124, 1a. 
parte); 
2ª.) consentimento da gestante a que outrem lhe provoque o 
abortamento (art. 124, 2a. parte); 
3ª.) aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante 
(art. 125); 
4ª.) idem, mas com o consentimento da gestante, ou aborto consensual 
(art. 126); 
5ª.) aborto qualificado (art. 127); 
6ª.) aborto legal (art. 128). 
 
b) Objeto jurídico: 
 A vida humana (art. 5o., caput, da CF). A vida do ser humano em 
formação = vida intra-uterina. 
 No aborto provocado por terceiro tutela-se também a vida e a 
incolumidade física e psíquica da mulher grávida. 
 O objeto material do delito é o embrião ou o feto humano vivo, 
implantado no útero materno. 
 
c) Sujeitos: 
 a) ativo: 
I - no auto-aborto é a própria mãe (crime próprio); 
II - nos demais casos (consentido ou não), qualquer pessoa (crime 
comum). 
 
 b) passivo: é o ser humano em formação (óvulo = até 3 semanas; 
embrião = de 3 semanas a 3 meses; feto = após 3 meses). 
 Obs.: caso sejam vários os fetos, a morte dada a eles conduz ao 
concurso de delitos. 
 
d) Tipo objetivo 
 Provocar (dar causa a, originar, promover, ocasionar) aborto (é a 
morte dada ao nascituro intra uterum ou pela provocação de sua 
expulsão) - elemento normativo do tipo, de valoração extra-jurídica. 
 - O ato de provocar pode ser praticado por qualquer meio (delito 
de forma livre) - por ação (ministrar remédio abortivo - citotec), ou por 
omissão (médico que, dolosamente, não toma medidas para evitar o 
aborto espontâneo ou acidental uma vez que tem o dever jurídico de 
impedir esse resultado). 
 - O delito pressupõe gravidez em curso, sendo indispensável a 
prova de que o ser em gestação se encontrava vivo quando da 
intervenção abortiva e de que sua morte foi decorrência precisa da 
mesma. 
 - O estágio da evolução do ser humano em formação não importa 
a caracterização do delito de aborto. O termo inicial para a prática do 
delito é o começo da gravidez: duas correntes: 
I - do ponto de vista biológico - é marcada pela fecundação; 
II - do ponto de vista jurídico - com a implantação do óvulo fecundado 
no endométrio, ou seja, com sua fixação no útero materno (nidação). 
Assim, o aborto tem como limite mínimo para sua existência a nidação, 
que ocorre cerca de catorze dias após a concepção. O termo final é o 
início do parto. 
 Obs.: a gravidez interrompida deve ser a normal, e não a 
patológica - como a extra-uterina (quando a gravidez se desenvolve fora 
do útero, como na parede uterina (intersticial), na trompa (tubária), no 
ovário (ovárica) ou entre o ovário e a trompa (tubo-ovárica). Ou molar, 
que consiste em uma formação neoplasmática - produto conceptivo 
degenerado, inapto a produzir uma vida nova. 
 - O momento da morte do feto não importa para a 
caracterização do crime de aborto: pode o feto morrer no útero 
materno, ou ser expulso ainda vivo e morrer em decorrência das 
manobras abortivas ou porque o estágio de sua evolução não tenha 
possibilitado a continuidade dos processos vitais. 
 - Os processos abortivos podem ser químicos, físicos ou 
psíquicos: químicos - provocam a intoxicação do organismo (fósforo, 
chumbo, mercúrio, arsênico, quinina, estricnina, ópio, etc.); físicos - são 
mecânicos (traumatismo do ovo por punção, dilatação do colo do útero, 
curetagem, bolsas de água quente, escalda-pés, choque elétricos por 
máquina estática, etc.); psíquicos ou morais (sugestão, susto, terror, 
choque moral, etc.). 
 
e) Tipo subjetivo: dolo - vontade livre e consciente de produzir a morte do 
feto. Admite-se o dolo direito (traumatismo do ovo por punção), como o 
eventual (agredir mulher sabendo do estado de gravidez). 
 Não há a figura culposa. Porém, o terceiro que, culposamente, 
causa o aborto, responde por lesão corporal culposa. 
 
f) Consumação: com a morte do ovo, do embrião ou do feto (crime 
material e instantâneo). 
 
g) Tentativa: é admitida. P. ex.: se das manobras abortivas sobrevem a 
aceleração do parto, mas o feto sobrevive, ou nãointerrompem a 
gravidez. 
 Se expulso o feto com vida e sua morte é provocada por nova 
conduta, haverá concurso material de delitos (aborto tentado e 
homicídio ou infanticídio, consumados). 
 
h) Espécies de aborto: 
 
I - Auto-aborto e aborto consentido 
- auto-aborto: art. 124, 1a. parte - "provocar aborto em si mesma". Crime 
próprio: é sujeito ativo apenas a mulher grávida. 
- aborto consentido: art. 124, 2a. parte - ocorre quando a gestante 
consente que outrem lhe provoque o aborto. A gestante não provoca o 
aborto em si mesma, mas consente que outro o faça. Este incorrerá no 
delito do art. 126, CP. 
 Assim, o art. 124 não admite co-autoria. O terceiro que realiza o 
aborto consentido pela gestante é autor de delito autônomo, o do art. 
126. Porém admite-se a participação (Luiz Regis Prado, Damásio, 
Mirabete). Conforme Damásio explica: "De ver-se que ela 
(gestante) consente na provocação; o terceiro provoca. Os verbos do 
tipo são consentir (art. 124, 2a. parte) e provocar (art. 126). se o sujeito 
intervém na conduta de a gestante consentir, aconselhando, v. g., deve 
responder como partícipe do crime do art. 124. Agora, se, de qualquer 
modo, concorrer no fato do terceiro provocador, responderá como 
partícipe do crime do artigo 126 do CP. 
 
II - Aborto provocado por terceiro 
1) sem o consentimento da gestante (art. 125): o agente emprega força 
física, a ameaça ou a fraude para a realização das manobras abortivas. 
Ex, o agente ministra à mulher grávida substância abortiva ou nela realiza 
intervenção cirúrgica para a extração do feto sem o seu conhecimento. 
 O não consentimento ocorre também quando: a gestante ase 
mostra contrária; desconhece a gravidez ou o processo abortivo. 
2) com o consentimento da gestante (art. 126). Porém, aplica-se a pena 
do art. 125 (par. único do art. 126) se: 
2.1) a gestante não for maior de catorze anos: 
2.2) a gestante for alienada ou débil mental; ou 
2.3) o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou 
violência. 
 Nas duas primeiras hipóteses presume-se a ausência do 
consentimento. Na última, a não-concordância é real. Exs. fraude: induz-
se a gestante a acreditar que sua vida corre risco grave em razão da 
gravidez. A violência, neste caso, refere-se àquela empregada para a 
obtenção do consentimento. 
 - É indispensável, para a ocorrência do aborto consensual, o 
consentimento da gestante do início ao fim da conduta. Se a gestante 
desiste e o terceiro continua, caracteriza-se o crime do art. 125. 
 
III - Aborto qualificado pelo resultado 
 - as penas dos arts. 125 e 126 são aumentadas de 1/3 se, em 
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a 
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por 
qualquer dessas causas, lhe sobrevem a morte. 
 O resultado mais grave é imputado a título de culpa (art. 19, CP). 
Havendo dolo (direto ou eventual) ocorrerá concurso formal. 
 - Não ocorrendo a morte do feto, mas a lesão corporal grave ou 
a morte da gestante, o agente responde pela tentativa de aborto 
qualificado. 
 - Não ocorre a qualificadora quando houver lesão grave 
necessária p/ o aborto (lesão do útero, p. ex.). Nesses casos é ela 
conseqüência normal do fato. 
IV) Aborto necessário 
 Havendo conflitos de interesses da mãe e do feto, em alguns 
casos, devem prevalecer os da mãe. São casos excludentes de 
criminalidade, as quais tornam lícita a prática do aborto. 
 Art. 128: 
 i) se não há outro meio de salvar a vida da gestante. 
 - tem natureza terapêutica - o aborto necessário (ou terapêutico) 
consiste na intervenção cirúrgica realizada com o propósito de salvar a 
vida da gestante. Baseia-se no estado de necessidade, excludente da 
ilicitude da conduta, quando não houver outro meio apto a afastar o 
risco de morte. Ex. riscos advindos de anemias profundas, diabete grave, 
leucemia, cardiopatias, etc. 
 ii) se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de 
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante 
legal. 
 - aborto sentimental (ético ou humanitário) - "significa o 
reconhecimento claro do direito da mulher a uma maternidade 
consciente". Jimenez de Asúa. 
 - Para a realização do aborto pelo médico não é preciso sentença 
condenatória e tampouco autorização judicial, bastando que a 
intervenção se encontre calcada em elementos sérios de convicção. 
Exs.: BO, declarações, etc. 
 - Se a gravidez resulta de atentado violento ao pudor, aplica-se o 
dispositivo, isentando o agente, pela aplicação da analogia in bonan 
partem. Assim, Mirabete e Damásio. Luiz Regis Prado entende que não, 
porque a norma em questão é não-incriminadora excepcional. 
 
i) Penas: 
1) para o auto-aborto e aborto consentido: detenção, de 1 a 3 (art. 124). 
2) para o aborto sem o consentimento: reclusão, de 3 a 10 (art. 125). 
3) para o aborto com o consentimento: reclusão, de 1 a 4 (art. 126). 
4) para o aborto qualificado - com ou sem o consentimento: penas dos 
arts. 125 e 125, aumentadas de 1/3, se a gestante sofre lesão corporal de 
natureza grave; e duplicadas, se sobrevém a morte (art. 127). 
 
j) Ação penal: pública incondicionada. Tribunal do Júri. 
 
 
ART. 129 – LESÃO CORPORAL 
 
1 - Conceito: ofensa à integridade corporal ou à saúde. 
 
2 - Objetividade Jurídica: a integridade física ou psíquica do ser humano. 
Obs.: O consentimento é irrelevante. Bem indisponível. 
 
3 - Sujeitos 
a) Ativo: qualquer pessoa (crime comum). 
b) Sujeito passivo: qualquer ser humano vivo, a partir do momento em 
que se tem por iniciado o parto. 
 
4 - Tipo Objetivo: 
 - Conduta típica: ofender a integridade corporal ou a saúde física ou 
mental de outrem. 
 
5 - Tipo subjetivo: dolo = vontade livre e consciente de ofender a 
integridade corporal ou a saúde de outrem (animus 
vulnerandi ou laedendi). Pode ser direito ou eventual. 
 
6 - Consumação/Tentativa: 
 a) Consumação: crime material - quando resulta uma lesão à 
integridade física ou psíquica da vítima. 
 b) Tentativa: quando o agente pretendendo causar um ferimento 
ou dano à saúde, não consegue por circunstâncias alheias a sua 
vontade. 
 
7 - Lesão corporal leve: 
 O conceito de lesão leve é dado por exclusão. O art. 129, §1o. = 
lesões graves; o §2o. = lesões gravíssimas; e o §3o. = lesões seguidas de 
morte. Então no caput do art. 129 está descrita as lesões corporais leves. 
 
8 - Lesão corporal grave - §1o. 
 - É tipo penal derivado (qualificado), nos quais é conferido maior 
relevo ao desvalor do resultado (lesão corporal ou perigo concreto de 
lesão ao bem jurídico protegido). Se resultam: 
a) Inciso I - incapacidade para ocupações habituais, por mais de trinta 
dias. 
b) Inciso II - perigo de vida. 
c) Inciso III - debilidade permanente de 
 
 
 
ART. 133 – ABANDONO DE INCAPAZ 
 
1 - Conceito: 
"Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, 
vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-
se dos riscos resultantes do abandono". 
 
2 - Objetividade Jurídica: a saúde da pessoa humana. 
 
3 - Sujeitos 
a) Ativo: é aquele que possua uma especial relação de assistência para 
com a vítima, que se encontra sob seu cuidado, guarda, vigilância, ou 
imediata autoridade. Crime Próprio. 
Posição de garantidor, que deve ser anterior à conduta e pode advir de: 
a.1.lei: Código Civil; Estatuto da Criança e do Adolescente; Estatuo do 
Idoso, etc; 
a.2. contrato ou convenção: enfermeiros, médicos, amas, babás, 
diretores de colégios, etc. 
a.3. qualquer fato lícito ou ilícito: recolhimento de pessoa abandonada, 
condução de incapaz em viagem, caçada, etc.) . 
b) Sujeito passivo: é o incapaz, sob a guarda ou assistência do agente. 
 
4 - Tipo Objetivo: 
 - Conduta típica: abandonar = deixar sem assistência, desamparar. 
- Indispensável é que a vítima fique em situação de perigo concreto, não 
se podendo presumir a ocorrência do risco. É necessária uma separação 
física entre os sujeitos. 
 
5 - Tipo subjetivo: 
 Dolo: vontade livre e consciente de expor a perigo concreto a 
vida ou a saúde do sujeito passivo através do abandono. Necessária a 
ciência do agente de que é responsável e do perigo que pode ocorrer. 
Pode o dolo ser direto ou eventual. 
 
6 - Consumação/Tentativa: 
 a) Consumação: crime de perigo concreto - consuma-se com o 
efetivo risco corrido pelo ofendido. 
 b) Tentativa: admissível. 
 
7 - Figuras qualificadas - §§ 1o. e 2o. 
"§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave" e 
"§ 2º - Se resulta a morte". Figuras preterdolosas ou preterintencionais. 
 
8 - Caso de aumento da pena - § 3o. 
"§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: 
I - se o abandono ocorre em lugar ermo; 
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou 
curador da vítima.". 
 
9 - Pena e ação penal 
- Penas: 
a) art. 133, caput = detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. 
b) se resulta lesão corporal de natureza grave (§ 1o.) - reclusão, de 1 (um) 
a 5 (cinco) anos. 
c) se resulta morte (§ 2o.) - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
d) casos de aumento - aumenta-se a pena em 1/3. 
 A ação penal é pública incondicionada. 
 
 
ART. 134 – EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO 
 
1 - Conceito: 
Em íntima afinidade com o delito de abandono de incapaz, do qual é 
uma espécie privilegiada autônoma, em razão do motivo que impulsiona 
o sujeito ativo à prática do crime: a ocultação da desonra própria. O 
crime de exposição ou abandono de recém-nascido é definido no art. 
134: 
"Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria". 
 
2 - Objetividade Jurídica: a vida e a saúde do recém-nascido. 
 
3 - Sujeitos 
a) Ativo: Crime próprio, podendo ser praticado não só pela mãe na 
gravidez extra matrimonium, como pelo pai, em caso de filho adulterino 
ou incestuoso. 
b) Sujeito passivo: é o recém-nascido. 
 
4 - Tipo Objetivo: 
 - Conduta típica: expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar 
desonra própria (tipo misto alternativo). 
- É indispensável para a caracterização do delito em tela a existência - 
ainda que momentânea - de perigo concreto. Deve ser este 
efetivamente demonstrado. 
 
5 - Tipo subjetivo: 
 Dolo: vontade livre e consciente de abandonar o recém-nascido, 
ciente o sujeito de que está ocasionando o perigo. Exige-se, porém, o 
elemento subjetivo do injusto que é o fim de ocultar a própria desonra 
(dolo específico). 
 
6 - Consumação/Tentativa: 
 a) Consumação: com a efetiva exposição ou abandono, 
condicionados, porém, à superveniência de perigo concreto à vida ou à 
saúde do neonato. É delito instantâneo. 
 b) Tentativa: é admissível. 
 
7 - Figuras qualificadas - §§ 1o. e 2o. 
- Se do ato resulta lesão corporal de natureza grave ou morte. 
 
8 - Pena e ação penal 
- Penas: 
a) art. 134, caput = detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.; 
b) se resulta lesão corporal (§ 1o.) - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos; 
c) se resulta morte (§2o.) - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
 A ação penal é pública incondicionada. 
 
ART. 135 – OMISSÃO DE SOCORRO 
 
1 - Conceito: 
"Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco 
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou 
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, 
nesses casos, o socorro da autoridade pública". 
 
2 - Objetividade Jurídica: a vida e a saúde da pessoa humana. 
 
3 - Sujeitos 
a) Ativo: Crime Comum - qualquer pessoa. O dever de agir é imposto 
pelo próprio ordenamento jurídico, diante de certo caso concreto por 
ele mesmo previsto, não decorrendo de uma particular relação entre o 
agente e a vítima, ou entre o agente e a fonte geradora do perigo. 
Existindo essa relação, que impõe um dever jurídico de proteção, poderá 
ocorrer crime mais grave. 
 
b) Sujeito passivo: a criança abandonada ou extraviada, a pessoa 
inválida ou ferida, ao desamparo, ou qualquer pessoa em grave e 
iminente perigo. 
 
4 - Tipo Objetivo: 
Trata-se de crime omissivo próprio ou puro. Pune-se a não-realização de 
uma ação que o autor podia realizar na situação concreta em que se 
encontrava. O agente infringe uma norma mandamental, isto é, 
transgride um imperativo, uma ordem ou comando de atuar. Ou seja, é 
preciso a existência de uma situação típica (criança abandonada ou 
extraviada, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e 
iminente perito), a não-realização de uma ação cumpridora do 
mandado (o agente deixa de prestar assistência ou não pede socorro da 
autoridade pública) e a capacidade concreta da ação (conhecimento 
da situação típica e do meios ou formas de realização da conduta 
devida). 
 - Condutas típicas: a) não prestar assistência (toda forma de auxílio ou 
socorro adequado) à vítima (criança abandonada ou extraviada, 
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou pessoa em grave e iminente 
perigo). O dever de assistência é limitado pela possibilidade e 
capacidade individual determinando-se estas diante das circunstâncias 
do caso concreto.; b) não pedir o socorro da autoridade pública: o 
socorro é supletivo ou subsidiário, ou seja, é cabível quando se revelar 
capaz de arrostar tempestivamente o perigo ou quando a assistência 
direta oferecer riscos à incolumidade do agente. A autoridade pública a 
que faz referência o dispositivo é aquela apta a prestar assistência à 
vítima. 
 No caso de omissão a prestar auxílio à criança extraviada ou 
abandonada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, o perigo é 
abstrato. Já no caso da pessoa em grave e iminente perigo, é 
indispensável sua efetiva demonstração (perigo concreto) 
 
5 - Tipo subjetivo: 
 Dolo (direto ou eventual): vontade livre e consciente de não 
prestar assistência, podendo fazê-lo sem risco pessoal, ou, na 
impossibilidade, de não pedir auxílio. 
 
6 - Consumação/Tentativa: 
 a) Consumação: crime instantâneo - consuma-se o delito quando 
o sujeito ativo não presta o socorro, ainda que outro o tenha feito 
posteriormente e, de conseqüência, impedido a efetiva lesão da vida ou 
da saúde da vítima. 
 b) Tentativa: crime omissivo puro - a tentativa é inadmissível. Se o 
agente se omite, o crime consumou-se; se não se omite, realiza o que lhe 
foi mandado. 
 
7 - Figura qualificada - § único 
"Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta 
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte." 
 Na verdade, a lesão grave ou a morte não resultam da omissão, 
mas para que se configure o crime qualificado é preciso que se 
comprove que o sujeito ativo, se atuasse, poderia evitar esses resultados. 
 
8 - Qualificação doutrinária: delito omissivo próprio; crime de perigo; 
crimesubsidiário; e crime instantâneo. 
9 - Pena e ação penal 
- Penas: 
a) art. 135, caput = detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. 
b) forma qualificada (§ único): b.1) se resulta lesão corporal de natureza 
grave - a pena é aumentada da metade; b.2) se resulta a morte - a pena 
é triplicada. 
- A ação penal é pública incondicionada. 
 
 
ART. 136 – MAUS-TRATOS 
 
1 - Conceito: 
"Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, 
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou 
custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, 
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando 
de meios de correção ou disciplina". 
 
2 - Objetividade Jurídica: a incolumidade da pessoa humana, 
reprimindo-se com o dispositivo os abusos correcionais e disciplinares que 
a expõem a perigo. 
 
3 - Sujeitos 
a) Ativo: Crime próprio. Apenas a pessoa que tenha a vítima sob sua 
guarda, vigilância ou autoridade, para fim de educação, ensino, 
tratamento ou custódia. 
b) Sujeito passivo: é aquele que estiver sob a autoridade, guarda ou 
vigilância do sujeito ativo, para fins de educação, ensino, tratamento ou 
custódia (filhos, pupilos, curatelados, discípulos, aprendizes, enfermos, 
presos, etc.). 
 
4 - Tipo Objetivo: 
 - Conduta típica: expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua 
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, 
tratamento ou custódia, por: 
a) privação da vítima dos alimentos necessários. Modalidade de 
conteúdo omissivo. É suficiente a privação parcial - com redução da 
qualidade ou quantidade; 
b) privação dos cuidados indispensáveis. Esses cuidados significam o 
mínimo imprescindível para a garantia da incolumidade física ou 
psíquica da vítima. Modalidade de conteúdo omissivo; 
c) sujeitar a vítima a trabalhos excessivos ou inadequados: trabalho 
excessivo: é o que produz fadiga extraordinária ou não pode ser 
suportado sem grande esforço; trabalho inadequado: é o impróprio ou 
inconveniente ao trabalhador; 
d) abuso dos meios de correção ou disciplina. O poder disciplinar pode 
ser exercido por quem tem o encargo legal ou convencional de educar, 
tratar, custodiar, etc., mas é vedado o abuso que pode causar dano à 
vida ou saúde. 
 
5 - Tipo subjetivo: 
 Dolo (direto ou eventual): vontade livre e consciente de expor a 
perigo concreto a vida ou a saúde da vítima. 
 
6 - Consumação/Tentativa: 
 a) Consumação: consuma-se o delito com a criação do perigo. 
 b) Tentativa: é admissível nas condutas comissivas. 
 
7 - Figuras qualificadas - §§ 1o. e 2o. 
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave; 
§ 2º - Se resulta a morte. 
 
8 - Causa especial de aumento da pena - § 3o. 
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra 
pessoa menor de 14 (catorze) anos. 
- § Acrescentado pela Lei nº 8.069, de 13.07.1990 - ECA. 
 
9 - Pena e ação penal 
- Penas: 
a) art. 136, caput = Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou 
multa. 
b) se resulta lesão corporal de natureza grave (§ 1o.) - Pena - reclusão, de 
1 (um) a 4 (quatro) anos; 
c) se resulta morte (§ 2o.) - Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos; 
d) se o crime é praticado contra > de 14 anos (§ 3o.) - Aumenta-se a pena 
de um terço 
- A ação penal é pública incondicionada. 
 
 
ART. 137 – RIXA 
 
 
1 - Conceito: "Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os 
contendores:". 
 
 
2 - Objetividade Jurídica: a incolumidade da pessoa humana, e de modo 
secundário a preservação da tranqüilidade pública, perturbada pelo 
ambiente de algazarra e confusão gerado pela rixa. 
 
 
3 - Sujeitos 
a) Ativo: Pode ser qualquer pessoa, sem qualquer restrição (crime 
comum). 
- É delito plurissubjetivo ou coletivo, que somente se configura com o 
concurso de três ou mais pessoas. A conduta plural é tipicamente 
obrigatória: + de 3 pessoas. Sendo que são, ao mesmo tempo, sujeitos 
ativos e passivos, uns em relação aos outros. 
b) Sujeito passivo: é o próprio rixoso, em relação a conduta dos 
demais, e estes em relação a conduta dos outros. 
 
4 - Tipo Objetivo: 
 - Conduta típica: participar de rixa. 
Participar = concorrer, tomar parte, contribuir para o desencadeamento 
ou empenhar-se par a continuidade da rixa. 
Rixa = é o embate violento travado entre três ou mais pessoas. É 
indispensável a violência física, constituída por, no mínimo, vias de fato. 
 
5 - Tipo subjetivo: 
 Dolo: vontade livre e consciente de participar da rixa (animus 
rixandi). Não existe a forma culposa. 
 
 
6 - Consumação/Tentativa: 
 a) Consumação: consuma-se o delito com a prática de vias de 
fato ou violências recíprocas, instante em que há a produção do 
resultado, que é o perigo abstrato de dano. 
 b) Tentativa: duas posições: 
 b.1) admitem a tentativa aqueles que entendem ser possível a rixa 
preordenada (ex proposito); b.2) para aqueles que o reconhecem 
o imprevisto como elemento da rixa, a tentativa é impossível, porque a 
conduta e o evento se exaurem simultaneamente. 
 
 
7 - Rixa qualificada - § ún.: "Se ocorre morte ou lesão corporal de 
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de 
detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos." 
 
8 - Pena e ação penal 
- Pena: detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa. 
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, 
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 
(seis) meses a 2 (dois) anos. 
- A ação penal é pública incondicionada.

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