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1 UNIDADE 1 ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • saberá o que significa administração, bem como a origem dessa ciência tão importante para as organizações; • conhecerá as teorias e as funções da administração; • entenderá como é feito o planejamento dentro das organizações; • aprenderá o que é Administração Pública e as principais diferenças entre ela e a administração particular. • descobrirá as origens históricas da Administração Pública, como se deu a formação do Estado e a divisão dos três poderes; • conhecerá as constituições que já fizeram parte da história do nosso país; • saberá quais são os princípios constitucionais e os princípios reconhecidos que regem a Administração Pública; • entenderá o que é Direito Administrativo; • saberá como funciona o processo legislativo brasileiro, ou seja, como são aprovadas as leis. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO TÓPICO 2 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 3 – O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ADMINISTRAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Certamente em vários momentos já escutamos, ou até mesmo já proferimos a palavra administração, mas afinal, será que sabemos mesmo o seu significado? Se lhe pedissem para definir administração como você definiria? O dicionário brasileiro O Globo de Fernandes, Luft e Guimarães (1992, grifo dos autores) traz a seguinte definição: “ADMINISTRAÇÃO, s.f. Ato ou efeito de administrar; gerência de negócios; pessoal que administra; direção; governo; superintendência; repartição onde se tratam negócios de administração pública; local onde se administra; [...].” Ora, se administração é ato ou efeito de administrar, o que vem a ser administrar? “ADMINISTRAR, v. tr. dir. Exercer a administração de (negócios públicos ou particulares); gerir, superintender, governar; dirigir; [...]” (O GLOBO, 1992, grifo dos autores). Podemos observar que existem vários significados para a palavra administração. Entretanto, quando se refere à administração de negócios, Kwasnicka (2010, p. 20, grifo da autora) define da seguinte forma: O mais importante e consistente uso do termo administração é aquele em que ele é visto como um processo integrativo fundamental, buscando a obtenção de resultados específicos. Administrar é, portanto, um processo pelo qual o administrador cria, dirige, mantém, opera e controla uma organização. Maximiano (2011, p. 6, grifo do autor), por sua vez, afirma que: “Administração é o processo de tomar decisões sobre objetivos e utilização de recursos [...]. O processo administrativo abrange cinco tipos principais de decisões, também chamadas processos ou funções: planejamento, organização, liderança, execução e controle.” Com base nos conceitos acima apresentados, podemos concluir que administração envolve tomada de decisões para atingir objetivos previamente estabelecidos, e para que esses resultados sejam alcançados é necessário utilizar algumas ferramentas, tais como planejamento, execução, direção e controle, que serão mais bem explicados futuramente. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4 Mas afinal, de onde surgiu a administração? Podemos dizer que a administração sempre esteve presente na vida dos homens, pois, desde a sua existência o homem viu a necessidade de se organizar em sociedade, analisar situações, resolver problemas, evoluir. O uso de ferramentas de administração não é necessário apenas para os negócios. Conforme Kwasnicka (2010, p. 19): A administração não está confinada apenas a setores produtivos de bens e serviços. Até mesmo um núcleo familiar requer certo grau de administração. Quanto maior o nível de complexidade de atividade definida pelo grupo formal, maior a necessidade de aplicar os conhecimentos da ciência administrativa. Enquanto algumas ciências são estudadas desde o início das civilizações, como é o caso da Filosofia, o estudo da administração como ciência é relativamente novo: No que se refere à administração, nunca foram encontradas obras que comprovem seu desenvolvimento na Antiguidade. Entretanto, a construção de uma pirâmide, a estrutura de uma cidade como Atenas e a administração de um império tão vasto como o Império Romano certamente revelam conhecimentos de administração. (KWASNICKA, 2010, p. 27). Agora, se analisarmos que a essência da administração está presente em diversas áreas da vida humana, como vida pessoal, organização em sociedade, trabalho, fica a pergunta: por que o estudo da administração não era considerado importante? Porque, na Antiguidade, o trabalho era considerado uma atividade desprezível. Razões para isso? A escravidão e a orientação dos povos primitivos para a guerra (onde quem era soldado possuía status social), nessa época quem trabalhava era considerado inferior aos demais. (KWASNICKA, 2010). Na Idade Média também não houve grande evolução, de acordo com Kwasnicka (2010, p. 28): “Com o preconceito das classes mais favorecidas em relação ao trabalho, e a tradição e o misticismo impedindo as inovações técnicas, a Idade Média transcorre sem grandes alterações nas aplicações práticas das ciências.” A mudança começa a partir do Renascimento, em que o Humanismo – uma nova doutrina filosófica – recupera o patrimônio filosófico, literário e artístico da Antiguidade, e liberta, através da racionalidade, o homem do misticismo medieval. Com o Renascimento, a estrutura social da Idade Média, baseada no misticismo e na tradição, dá lugar a uma nova ordem social calcada na objetividade e na racionalidade. Os preconceitos em relação ao trabalho são esquecidos, e inicia-se uma transformação de tratamento ao trabalho. (KWASNICKA, 2010). TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 5 “HUMANISMO, s.m. Doutrina dos humanistas do Renascimento, que ressuscitaram o culto das línguas e das literaturas antigas [...].” (DICIONÁRIO O GLOBO, 1992, grifo dos autores). A Revolução Industrial provocou grandes transformações na forma de ver a administração. As empresas que eram domiciliares (não tinham divisão de trabalho, não possuíam máquinas) começaram a crescer, utilizar máquinas, empregar várias pessoas, produzir em grande escala, e viram-se obrigadas à melhor administrar seus negócios, a fim de superar a concorrência e conquistar mercado. (KWASNICKA, 2010). E assim foram surgindo diversas teorias com o objetivo de melhorar e aumentar a produção, conquistar novos mercados, superar a concorrência. A seguir, passaremos ao estudo das principais teorias da administração. 2 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO Os problemas sempre estiveram presentes nas organizações, cabendo aos administradores a busca por soluções e novas técnicas que propiciassem melhores resultados produtivos e financeiros, surgindo assim, as teorias da administração. De acordo com Maximiano (2011, p. 25): As teorias da administração [...] surgiram e vêm se aprimorando há muito tempo, desde que os administradores do passado enfrentaram problemas práticos e precisaram de técnicas para resolvê-los. [...] Ao longo dos séculos, essas ideias e técnicas, influenciadas pelas circunstâncias de cada momento histórico, evoluíram continuamente. O que são as teorias da administração? “As teorias da administração são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática das organizações.”(MAXIMIANO, 2011, p. 8). De forma mais completa, Maximiano (2011, p. 8) define: “Teorias são explicações, interpretações ou proposições sobre a realidade. Por exemplo: teoria da burocracia, teorias da motivação. A própria definição da administração como processo de planejar, organizar, executar e controlar é uma teoria.” Com o intuito de facilitar a compreensão, vamos dividir esse estudo em abordagens da administração, sendo: abordagem clássica, abordagem humanística, abordagem neoclássica, abordagem estruturalista, abordagem comportamental, abordagem sistêmica e abordagem contingencial. NOTA UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 6 2.1 TEORIA CLÁSSICA A abordagem clássica é formada pela escola da Administração Científica e pela Teoria Clássica. O precursor do movimento da administração científica foi Frederick Wislow Taylor. Taylor nasceu em 1856, na Pensilvânia e apesar de pertencer a uma família renomada tornou-se trabalhador manual. Entre 1874 e 1878 trabalhou numa empresa de bombas hidráulicas como torneiro, e foi nessa empresa que passou a observar o que considerava má administração: falta de vontade dos funcionários e péssimas relações entre trabalhadores e gerentes. Em 1878 foi trabalhar na usina siderúrgica Midvale Steel, onde entrou como trabalhador e acabou se tornando engenheiro chefe. Foi nessa empresa que observou os problemas das operações fabris. (MAXIMIANO, 2011). Entre os problemas observados por Taylor, seguem alguns exemplos: • A administração não tinha noção clara da divisão de suas responsabilidades com o trabalhador. • Não havia incentivos para melhorar o desempenho do trabalhador. • Muitos trabalhadores não cumpriam suas responsabilidades. • As decisões dos administradores baseavam-se na intuição e no palpite. • Não havia integração entre os departamentos da empresa. • Os trabalhadores eram colocados em tarefas para as quais não tinham aptidão. • Os gerentes pareciam ignorar que a excelência no desempenho significaria recompensas tanto para eles próprios quanto para a mão de obra. • Havia conflitos entre capatazes e operários a respeito da quantidade da produção. (MAXIMIANO, 2011). Taylor, durante sua carreira, dedicou-se à resolução desses e outros problemas comuns nas empresas. A partir de suas observações e experiências desenvolveu seu sistema de administração de tarefas, sistema que ficou conhecido como taylorismo e mais tarde, administração científica. (MAXIMIANO, 2011). Segundo Chiavenato (2008, p. 5): Taylor teve inúmeros seguidores (como Gantt, Gilbreth, Emerson, Ford, Barth e outros) provocou uma verdadeira revolução no pensamento administrativo no mundo industrial de sua época. A preocupação original foi eliminar o fantasma do desperdício e das perdas sofridas pelas indústrias e elevar os níveis de produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas de engenharia industrial. “O nome Administração Científica é devido à tentativa de aplicação dos métodos da ciência aos problemas da Administração a fim de aumentar a eficiência industrial. [...] Para Taylor [...] A improvisação deve ceder lugar ao planejamento e o empirismo à ciência [...].” (CHIAVENATO, 2008, p. 5). TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 7 A abordagem básica da Administração Científica consiste nas tarefas. Taylor observou que a mesma tarefa era executada de formas diferentes pelos trabalhadores e considerou que através de análise científica esses métodos poderiam ser melhorados e padronizados. Conforme Chiavenato (2008, p. 6, grifo do autor): “Essa tentativa de substituir métodos empíricos e rudimentares pelos métodos científicos recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT).” Quando se fala em métodos empíricos, podemos considerar que são métodos baseados apenas na experiência, uma vez que “EMPIRISMO, s.m. Doutrina que atribui a origem das ideias ou conhecimentos à experiência; conhecimentos práticos devidos à experiência; [...].” (DICIONÁRIO O GLOBO, 1992, grifo dos autores). De acordo com Chiavenato (2008), a ORT se fundamenta em: 1 – Análise do trabalho e do estudo dos tempos e movimentos – O trabalho foi analisado, verificando-se cada movimento necessário para a execução de determinada tarefa, eliminando-se movimentos inúteis e simplificando os úteis. Além disso, acompanharam o tempo de execução dos trabalhos, determinando tempos médios para a realização das tarefas. Dessa forma, o método de trabalho e o tempo para sua execução foram padronizados. O estudo dos tempos e movimentos dos operários foi proposto pelo engenheiro Frank B. Gilbreth. 2 – Estudo da fadiga humana – Gilbreth observou que um trabalhador cansado produz menos, apresenta queda na qualidade, perde tempo, corre mais risco de acidentes, em resumo, o cansaço reduz a eficiência. A administração científica tinha como objetivo a eliminação dos movimentos que produzem fadiga e que não estão ligados à tarefa do funcionário. 3 – Divisão do trabalho e especialização do operário – após a análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos percebeu-se que dividindo o trabalho e o operário se especializando em determinada tarefa era possível aumentar a produtividade. 4 – Desenho de cargos e tarefas – no desenho de cargos foram especificados seu conteúdo (tarefas), os métodos de executar as tarefas e as relações com os demais cargos existentes. Entre as vantagens de desenhar os cargos podemos destacar: redução nos custos de produção com a contratação de empregados com qualificações mínimas e salários menores; minimização de custos com IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 8 treinamento; redução de erros na execução; facilidade de supervisão (cada supervisor pode controlar um número maior de empregados) e aumento da produtividade em decorrência do aumento da eficiência. 5 – Incentivos salariais e prêmios de produção – com os métodos para a realização dos trabalhos definidos e organizados era preciso fazer com que os operários colaborassem e trabalhassem dentro dos padrões de tempo previstos. Para isso, Taylor e seus seguidores criaram planos de incentivos salariais e prêmios de produção, a ideia foi remunerar com base na produção de cada trabalhador. 6 – Conceito de homo economicus – homem econômico, de acordo com esse conceito toda pessoa é influenciada apenas por recompensas salariais, econômicas e materiais. O homem não gosta de trabalhar, trabalha devido ao medo da fome e pela necessidade de obter dinheiro para viver. Assim, as recompensas salariais e os prêmios incentivariam cada operário a usar o máximo de sua capacidade física para produzir mais. 7 – Condições ambientais de trabalho – conclui-se que além do método de trabalho e do incentivo salarial a eficiência depende também de um conjunto de condições de trabalho que garantam o bem-estar físico e diminuam a fadiga do trabalhador. Algumas condições de trabalho que preocuparam a Administração Científica: 1. Adequação de instrumentos e ferramentas de trabalho e de equipamentos de produção para minimizar o esforço do operador e a perda de tempo na execução da tarefa. 2. Arranjo físico das máquinas e dos equipamentos para racionalizar o fluxo da produção. 3. Melhoria do ambiente físico de trabalho de maneira que o ruído, a ventilação, a iluminação e o conforto no trabalho não reduzam a eficiência do trabalhador. 4. Projeto de instrumentos e equipamentos especiais, como transportadores, seguidores, contadores e utensílios para reduzir movimentos inúteis. 8 – Padronização – além doestudo dos tempos e movimentos, da divisão do trabalho, existiu a preocupação com a padronização dos métodos e processos de trabalho e a padronização das máquinas e equipamentos. 9 – Supervisão funcional – assim como o operário deve ser especializado em determinada tarefa, deve acontecer a especialização do supervisor. Taylor propôs a existência de diversos supervisores, cada um especializado em determinada área, com autoridade funcional relativa somente à sua especialidade. O operário recebe ordens de vários encarregados. Podemos perceber que na Administração Científica os processos passaram a ser analisados e padronizados, com o intuito de aumentar a eficiência. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 9 Enquanto a Administração Científica era desenvolvida nos Estados Unidos, na França, em 1916, Fayol fundava a Teoria Clássica da Administração, caracterizada pela ênfase na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente. (CHIAVENATO, 2008). De acordo com Chiavenato (2008, p. 12, grifo do autor): “Fayol define o ato de administrar como: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. [...] os elementos da Administração que constituem o chamado processo administrativo: são localizáveis no trabalho do administrador em qualquer nível ou área de atividade da empresa.” Fayol definiu 14 princípios gerais da Administração, conforme Maximiano (2011): 1 – Divisão do trabalho – tarefas específicas para cada pessoa. 2 – Autoridade e responsabilidade – autoridade é o direito de mandar e fazer-se obedecer; responsabilidade é consequência do poder. 3 – Disciplina – respeito às regras estabelecidas. 4 – Unidade de comando – cada pessoa tem apenas um superior. 5 – Unidade de direção – apenas um chefe e um programa para operações que têm o mesmo objetivo. 6 – Interesse geral – os interesses da empresa estão acima dos interesses individuais. 7 – Remuneração do pessoal – deve ser justa. 8 – Centralização – o poder de decisão é do chefe. 9 – Cadeia escalar (linha de comando) – hierarquia. 10 – Ordem – um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar. 11 – Equidade – tratamento justo às pessoas. 12 – Estabilidade do pessoaWl – evitar rotatividade, pois prejudica o desempenho da empresa. 13 – Iniciativa – capacidade de ver o problema e buscar soluções. 14 – Espírito de equipe – harmonia e união entre as pessoas da organização. Segundo Kwasnicka (2010, p. 232): “Hierarquia é a posição que cada grupo ocupa dentro do desenho que a organização adota. As posições de mais status tendem a ser de menor número de pessoas, ou até de uma pessoa. À medida que o status dentro dessa figura diminui, aumenta o número de grupos, e consequentemente o número de pessoas em cada grupo. Esses grupos são normalmente constituídos segundo um critério que atenda às necessidades da empresa. A hierarquia atende características de delegação de autoridade e é alocada em posições da organização e não em pessoas.” IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10 Após o estudo das principais características da Administração Científica e da Teoria Clássica podemos perceber que ambas buscavam a eficiência. No entanto, partiam de pontos de vista diferentes: a Administração Científica de Taylor tinha ênfase nas tarefas, enquanto a Teoria Clássica, de Fayol, tinha ênfase na estrutura da organização. A maior contradição entre essas duas teorias é na questão da forma de comando, onde a Administração Científica pregava a existência de vários chefes para um mesmo trabalhador, e a Teoria Clássica, a unidade de comando e o poder centralizado, ou seja, apenas um chefe (com poder de decisão) para vários trabalhadores. 2.2 TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS Após o estudo das tarefas e da estrutura da organização chega o momento de analisar as pessoas como parte importante para o desempenho das organizações. De acordo com Chiavenato (2008, p. 15): A Abordagem Humanística faz com que a preocupação com a máquina e com o método de trabalho e a preocupação com a organização formal e os princípios de Administração cedam prioridade para a preocupação com as pessoas e os grupos sociais – dos aspectos técnicos e formais para os aspectos psicológicos e sociológicos. A Teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos, em 1930, em função das conclusões da Experiência de Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e colaboradores, em oposição à Teoria Clássica. Entre os fatos que deram origem à Teoria das Relações Humanas estão: a necessidade de humanizar e democratizar a administração, o desenvolvimento das ciências humanas (especialmente a psicologia), as ideias da filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia Dinâmica de Kurt Lewin e as conclusões da Experiência de Hawthorne. (CHIAVENATO, 2008). FUTUROS: Na leitura complementar você terá a explicação do que foi a Experiência de Hawthorne. Conforme Chiavenato (2008, p. 16, grifo do autor): “O advento da Teoria das Relações Humanas trouxe uma nova linguagem que passou a dominar o repertório administrativo: fala-se agora em motivação, liderança, comunicação, organização informal, dinâmica de grupo etc.” ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 11 Na Teoria das Relações Humanas o homo economicus dá lugar ao homem social, o comportamento das pessoas é influenciado por fatores motivacionais, entre esses fatores estão: a interação social com os colegas de trabalho, bom relacionamento com o líder e comunicação (tanto para definir padrões dentro da empresa quanto para interação com colegas de trabalho). (CHIAVENATO, 2008). É a partir dessa teoria que as pessoas passaram a ser vistas como peça importante para o sucesso da organização, ficando evidenciada a importância da existência de bons líderes. De acordo com Chiavenato (2008, p. 23): Como o sucesso da organização depende diretamente das pessoas, o trabalho básico do administrador é lidar com as pessoas que fazem parte da organização. Para Pfefer a chave do sucesso organizacional está nas pessoas e na liderança. O administrador deve ser um verdadeiro líder. “Liderança é a realização de metas por meio da direção de colaboradores. A pessoa que comanda com sucesso seus colaboradores para alcançar finalidades específicas é líder. Um grande líder tem essa capacidade dia após dia, ano após ano, em uma grande variedade de situações.” (MAXIMIANO, 2011, p. 277). 2.3 TEORIA NEOCLÁSSICA A partir de 1950 houve grande desenvolvimento econômico e industrial, o mundo passava por mudanças e transformações, como o surgimento da televisão, do motor a jato e o esboço das telecomunicações, e a teoria administrativa também precisou se adaptar. Embora tenha havido críticas em relação ao que pregava a teoria clássica, ela nunca foi totalmente substituída por outra abordagem. As teorias que surgiram depois sempre tiveram como base a clássica, como ponto de partida ou como crítica para tentar uma posição diferente. (CHIAVENATO, 2008). A Teoria Neoclássica representa a Teoria Clássica colocada em um novo figurino e dentro de um ecletismo que aproveita a contribuição de todas as demais teorias administrativas. A abordagem neoclássica baseia-se nos seguintes fundamentos: 1. A Administração é um processo operacional composto por funções, como: planejamento, organização, direção e controle. 2. Como a Administração envolve uma variedade de situações organizacionais, ela precisa fundamentar-se em princípios básicos que tenham valor preditivo. IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 12 3. A Administração é uma arte que, como a Medicina ou a Engenharia, deve se apoiar em princípiosuniversais. 4. Os princípios de administração, a exemplo dos princípios das ciências lógicas e físicas, são verdadeiros. 5. A cultura e o universo físico e biológico afetam o meio ambiente do administrador. Como a ciência ou arte, a teoria da Administração não precisa abarcar todo o conhecimento para poder servir de fundamentação científica aos princípios de Administração. (CHIAVENATO, 2008). Foi na Teoria Neoclássica que a organização empresarial passou a ser dividida em três níveis: nível institucional (formado por dirigentes e diretores), nível intermediário (formado por gerentes) e nível operacional (formado por supervisores que administram a execução das tarefas e operações da empresa). (CHIAVENATO, 2008). Outro ponto importante a ser destacado nessa teoria é o enfoque na Administração por objetivos (APO). De acordo com Maximiano (2011, p. 77): A administração por objetivos é um procedimento sugerido para aplicação prática do processo de planejar, organizar, executar e controlar. [...] A base da APO é o processo do qual participam o chefe e sua equipe (ou um subordinado em particular). Esse processo participativo substitui o processo hierárquico, no qual o chefe simplesmente define os objetivos e os transmite pela cadeia de comando abaixo, para depois avaliar o desempenho da equipe. Quando os métodos hierárquicos foram substituídos pelos participativos, final da década de 90, a ideia principal da Administração por objetivos (APO) se tornou irrelevante, entretanto, seus três componentes continuam sendo válidos em qualquer metodologia de Administração. Esses componentes são: objetivos específicos (definição de objetivos de forma específica e mensurável), tempo definido (é definido um tempo para a realização dos objetivos) e feedback sobre o desempenho (durante o período definido para a realização dos objetivos o desempenho da equipe é avaliado, para que, se necessário, sejam feitas correções e os objetivos sejam alcançados). (MAXIMIANO, 2011). A ideia de Fayol de que administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar sobreviveu a várias abordagens posteriores, tendo seu conceito evoluído para processo administrativo (planejar, organizar, dirigir e controlar). Em meio a tantas mudanças o processo administrativo precisa ser flexível. O processo administrativo além de ser o núcleo da Teoria Neoclássica é também o fundamento da moderna Administração. (CHIAVENATO, 2008). TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 13 2.4 TEORIA ESTRUTURALISTA A abordagem estruturalista divide-se em duas teorias: a Teoria da Burocracia com ênfase na estrutura e a Teoria Estruturalista com ênfase na estrutura, nas pessoas e no ambiente. As burocracias surgiram da necessidade que as organizações sentiram de ordem e exatidão e também do apelo dos trabalhadores por tratamento mais justo. A burocracia tinha como fim organizar e dirigir as atividades da empresa com a maior eficiência possível. (CHIAVENATO, 2008). Max Weber foi um cientista que se dedicou ao estudo das organizações. Conforme Maximiano (2011, p. 99): De acordo com Weber, as organizações formais modernas baseiam-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são racionais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pessoas e não para satisfazer aos caprichos arbitrários de um dirigente. As pessoas que integram as organizações modernas também aceitam que algumas pessoas representem a autoridade da lei: guardas de trânsito, juízes, prefeitos e gerentes. A autoridade é contrapartida da responsabilidade que têm essas pessoas de zelar pelo cumprimento da lei. A obediência é devida às leis, formalmente definidas, e às pessoas que as representam, que agem dentro de uma jurisdição. Qualquer sociedade, organização ou grupo que se baseie em leis racionais é uma burocracia. A Teoria da Burocracia surgiu a partir da década de 1940, quando alguns estudiosos buscaram na obra de Max Webber, já falecido, inspiração para essa nova teoria da organização. São características da burocracia, para Weber: caráter legal das normas e regulamentos, caráter formal das comunicações, caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquia de autoridade, rotinas e procedimentos padronizados, competência técnica e meritocracia, especialização da administração, profissionalização dos participantes e completa previsibilidade do funcionamento. (CHIAVENATO, 2008). Segundo Carvalho (2008, p. 46-47): Para Weber (1947) apud Chiavenato (2003, p. 266): As vantagens da burocracia são: racionalidade dos objetivos, precisão na definição do cargo e na operação, rapidez nas decisões, única interpretação de informações recebidas, uniformidade de rotina e procedimentos, continuidade da organização, redução dos conflitos interpessoais, decisões tomadas nas mesmas circunstâncias, confiabilidade e benefícios para as pessoas da organização. Todo sistema possui desvantagens, e alguns autores passaram a analisar as consequências negativas da burocracia, o que denominaram disfunções da burocracia. Confira no quadro a seguir: UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 14 QUADRO 1 – PANORAMA DAS DISFUNÇÕES ORGANIZACIONAIS, SEGUNDO DIVERSOS AUTORES DISFUNÇÃO CARACTERÍSTICAS PARTICULARISMO Dentro da organização, defender os interesses de grupos externos, por motivos de convicção, amizade ou interesse material. Fazer “panelinhas” com colegas de escola. SATISFAÇÃO DE INTERESSES PESSOAIS Defender interesses pessoais dentro da organização. Contratar parentes, fazer negócios com empresas da família. E X C E S S O D E REGRAS Multiplicidade de regras e exigências para a realização de atividades. Firma reconhecida, encaminhamento de processos burocráticos. HIERARQUIA E INDIVIDUALISMO A hierarquia divide responsabilidades e atravanca o processo decisório. Realça vaidades e estimula a luta pelo poder. Hierarquia das grandes empresas e dos militares. MECANICISMO Burocracia são sistemas de cargos limitados, que colocam pessoas em situações alienantes. Cargos de escritório, montadores de peças. FONTE: Maximiano (2011, p. 105) Passamos neste momento para o estudo da Teoria Estruturalista. De acordo com Chiavenato (2008, p. 45): A Teoria Estruturalista significa um desdobramento da Teoria da Burocracia e uma leve aproximação à Teoria das Relações Humanas. Representa uma visão crítica da organização formal. O estruturalismo está voltado para o todo e para o relacionamento das partes na constituição do todo. A totalidade, a interdependência das partes e o fato de que o todo é maior do que a simples soma das partes são as características básicas do estruturalismo. Segundo Chiavenato apud Carvalho (2008, p. 49): A Teoria Estruturalista tem como objetivo principal, o estudo das organizações, fundamentalmente na estrutura interna e na interação com outras organizações, que são as unidades sociais e são concebidas para cumprir e atingir objetivos específicos, mantendo relações estáveis a fim de viabilizar o conjunto de metas propostas. A Teoria Estruturalista foca no homem organizacional que desempenha diferentes papéis em várias organizações, e para ser bem sucedido em todas as organizações precisa ser flexível, tolerante às frustrações, capaz de adiar recompensas e ter sempre o desejo de realização. (CHIAVENATO, 2008). Segundo Chiavenato (2008, p. 46): O desenvolvimento das organizações se deu por quatro etapas: etapa da natureza (é a inicial, onde a única base de subsistênciada humanidade eram os elementos da natureza); etapa do trabalho (os elementos da natureza passaram a ser transformados por meio do trabalho, o trabalho TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 15 passou a condicionar as formas de organizar a sociedade); etapa do capital (o capital supera a natureza e o trabalho, torna-se um dos fatores básicos da vida social); e etapa da organização (as etapas anteriores se submetem à organização; a organização utiliza-se da natureza, do trabalho e do capital para alcançar seus objetivos). A Teoria Estruturalista inicia o estudo das organizações como sistemas abertos, considerando que a organização interage com o ambiente externo. Nas organizações sempre existirão os conflitos, no entanto, isso tem seu lado positivo: a organização sempre estará inovando e mudando. Analisando os aspectos positivos, restrições e limitações do estruturalismo, conclui-se que essa é uma teoria de transição em direção à Teoria de Sistemas. (CHIAVENATO, 2008). 2.5 TEORIA COMPORTAMENTAL Segundo Chiavenato (2008, p. 52): A Teoria Comportamental (ou Teoria Behaviorista) da Administração trouxe uma nova concepção e um novo enfoque dentro da teoria administrativa: a abordagem das ciências do comportamento [...], o abandono das posições normativas e prescritivas das teorias anteriores (Teorias Clássica, das Relações Humanas e da Burocracia) e a adoção de posições explicativas e descritivas. A ênfase permanece nas pessoas, mas dentro do contexto organizacional mais amplo. McGregor, um dos autores dessa teoria, comparou dois estilos opostos de administrar, dividindo-os em Teoria X (baseada na teoria tradicional, mecanicista e pragmática) e Teoria Y (baseada nas concepções modernas a respeito do comportamento humano). A Teoria X considera que as pessoas são preguiçosas por natureza, não têm ambição, são resistentes às mudanças e, por serem dependentes, não desenvolvem autocontrole e autodisciplina; e por isso, as pessoas precisam ser dirigidas e orientadas no desenvolvimento das atividades. A Teoria Y, por sua vez, considera que as pessoas sentem prazer em trabalhar, têm interesse em conquistar bons resultados para a empresa, têm motivação e capacidade para assumir responsabilidades e têm capacidade e criatividade para solucionar problemas. (CHIAVENATO, 2008). Herbert Simon utilizou a teoria das decisões para explicar o comportamento humano nas organizações. Na Teoria Comportamental, a organização é vista como um sistema de decisões. Toda decisão envolve seis elementos: tomador de decisão (quem faz a escolha), objetivos (o que pretende atingir com sua escolha), preferências (critérios utilizados para escolher alguma coisa), estratégia (como atingir os objetivos), situação e resultado. O processo decisório envolve sete etapas: percepção da situação que envolve algum problema, análise e definição do problema, definição dos objetivos, procura de alternativas de solução ou de cursos de ação, escolha da alternativa mais adequada, avaliação e comparação das alternativas e implementação da alternativa escolhida. (CHIAVENATO, 2008). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 16 De acordo com Chiavenato (2008, p. 59): A partir da Teoria Comportamental, um grupo de cientistas sociais e consultores de empresas desenvolveu uma abordagem moderna, democrática e variada ao desenvolvimento planejado das organizações, que recebeu o nome de Desenvolvimento Organizacional (DO). Entre os objetivos do Desenvolvimento Organizacional estão: fazer com que as pessoas se identifiquem com a organização, sejam comprometidas, leais e compartilhem dos objetivos da empresa; e desenvolver espírito de equipe através da integração e interação das pessoas. (CHIAVENATO, 2008). É nessa teoria que as pessoas começam a ser percebidas como parte importante do processo decisório dentro das organizações. 2.6 TEORIA SISTÊMICA A Teoria Geral dos Sistemas foi elaborada pelo biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy, por volta de 1950. Essa teoria demonstra o isomorfismo das ciências, permitindo a eliminação de suas fronteiras e o preenchimento dos espaços vazios (espaços brancos) entre elas. Os sistemas não podem ser compreendidos apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma de suas partes. (CHIAVENATO, 2008). De acordo com Maximiano (2011, p. 308, grifo do autor): Sistema é um todo complexo ou organizado; é um conjunto de partes ou elementos que formam um todo unitário ou complexo. Um conjunto de partes que interagem e funcionam como um todo é um sistema. Qualquer entendimento da ideia de sistema compreende: • Um conjunto de entidades chamadas partes, elementos ou componentes. • Alguma espécie de relação ou interação das partes. • A visão de uma entidade nova e distinta, criada por essa relação, em um nível sistêmico de análise. A partir dessa teoria as empresas passaram a ser consideradas sistemas que possuem vários sistemas internos e que interagem com outros sistemas. “Todo sistema está integrado dentro de um ambiente, formado por outros sistemas que se organizam em sistemas cada vez maiores. Os sistemas importam energia do ambiente e a processam, para transformá-la e devolvê-la aos outros sistemas.” (MAXIMIANO, 2011, p. 321). Compreender o sistema no qual a organização está inserida faz toda diferença na forma de planejar e tomar decisões. Conforme Maximiano (2011, p. 321): Na análise de qualquer sistema, é necessário entender qual seu ambiente e seu papel dentro dele: as relações de interdependência, as fontes de recursos, os destinatários dos produtos e serviços, as regras que devem ser obedecidas. Principalmente, a análise deve focalizar a missão do sistema dentro do ambiente: sua utilidade para outros sistemas. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 17 O enfoque sistêmico permite ao administrador visão integrada das organizações e do processo administrativo, além de auxiliar no planejamento e na elaboração de sistemas que produzam resultados. (MAXIMIANO, 2011). Maximiano (2011) apresenta exemplos de ideias baseadas no enfoque sistêmico: • Administração da qualidade total – a qualidade é um problema de toda a empresa, não apenas do departamento de qualidade. • Reengenharia e redesenho de processos – o desempenho de um processo depende de toda a organização. • Mudança organizacional – a mudança é realizada para melhorar o desempenho da organização, por isso não deve acontecer de forma isolada, deve atingir todos os departamentos necessários. • Administração estratégica – o equilíbrio entre sistemas internos e externos garante o desempenho e a sobrevivência da organização. • Abordagem situacional – as soluções dependem sempre de um ajuste com a situação. Não existe receita pronta. A organização é um sistema aberto, ou seja, está em constante interação com o ambiente, influenciando-o e sendo influenciada. O sistema aberto tem capacidade de crescimento, mudança e adaptação ao ambiente. (CHIAVENATO, 2008). Essa abordagem possibilitou grandes avanços para as organizações, uma vez que se passou a analisar fatores internos e externos que influenciam seu desempenho. Os administradores deixaram de considerar fatores isolados e passaram a analisar a empresa como um todo. 2.7 TEORIA CONTINGENCIAL Segundo Chiavenato (2008, p. 81): A Teoria da Contingência enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo. Tudo depende. A abordagem contingencial explica que existe uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficazdos objetivos da organização. “A visão contingencial está dirigida acima de tudo para desenhos organizacionais e sistemas gerenciais adequados para cada situação específica.” (CHIAVENATO, 2008, p. 81). Essa teoria considera duas variáveis que influenciam as características da organização: o ambiente e a tecnologia. O ambiente é multivariado e complexo, por isso, é preciso analisá-lo conforme seu conteúdo. E a tecnologia envolve os equipamentos utilizados para produzir determinado bem e o conhecimento acumulado e UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 18 desenvolvido para realizar tarefas. A partir dessa teoria a variável tecnologia assumiu importante papel na teoria administrativa. (CHIAVENATO, 2008). Conforme Chiavenato (2008, p. 82): A organização passou a ser diferenciada em três níveis organizacionais: nível institucional ou estratégico (responsável pela formulação de políticas gerais), nível intermediário (responsável pela elaboração de planos e programas específicos) e nível operacional (responsável pela execução de rotinas e procedimentos). Para finalizar, vejamos o que pensa Kwasnicka (2010, p. 49): Toda organização deve estar atenta para os elementos do ambiente, que são muitos e que mudam com certa rapidez. Essa é a base para a visão contingencial da organização: a organização adapta e auxilia a moldar seu ambiente de forma a torná-lo viável. Ou seja, não é o ambiente que se adapta à empresa, é a empresa que se adapta ao ambiente”. 3 FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO Segundo Fayol apud Maximiano (2011, p. 72): “A administração compreende cinco funções: planejamento, organização, comando, coordenação e controle.” Fayol apud Maximiano (2011) definiu as funções da administração da seguinte maneira: l Planejamento (previsão): examinar o futuro e traçar um plano de ação a médio e longo prazo. l Organização: montar uma estrutura humana e material para realizar o empreendimento. l Comando: manter o pessoal em atividade em toda a empresa. l Coordenação: reunir, unificar e harmonizar toda a atividade e esforço. l Controle: cuidar para que tudo se realize de acordo com os planos e as ordens. A grande maioria dos autores aborda as funções como sendo quatro: planejamento, organização, direção e controle. Por esse motivo, vamos nos ater à explicação destas quatro. 3.1 PLANEJAMENTO Conforme Chiavenato (2008, p. 341): “O planejamento está voltado para o futuro. [...] É para [o futuro] que a organização deve estar preparada a todo instante. Planejamento é a função administrativa que define objetivos e decide sobre os recursos e tarefas necessários para alcançá-los adequadamente.” TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 19 O processo de planejamento é a ferramenta para administrar as relações com o futuro. É uma aplicação específica do processo decisório. As decisões que procuram, de alguma forma, influenciar o futuro, ou que serão colocadas em prática no futuro, são decisões de planejamento. (MAXIMIANO, 2011, p. 79). Planejar é decidir antecipadamente. O processo do planejamento segue seis etapas: definição de objetivos, verificação da atual situação da organização em relação aos objetivos (onde a empresa está? O que precisa ser feito?), desenvolvimento de premissas quanto às condições futuras (o que temos pela frente?), análise das alternativas de ação, escolha de um curso de ação entre as várias alternativas e implementação do plano e avaliação dos resultados. (CHIAVENATO, 2008). O processo de planejamento acontece por meio de planos. De acordo com Maximiano (2011, p. 80-81): [...] Um plano é um guia para a ação no futuro. O plano estabelece qual situação deverá ser alcançada, o que precisa ser feito para alcançá-la e os recursos que serão aplicados nesse esforço. Os planos também devem incluir uma previsão dos meios de controle da ação e do consumo dos recursos, para assegurar a realização dos objetivos. A parte mais importante de um plano são os objetivos. “Objetivos são os resultados desejados, que orientam o intelecto e a ação. São os fins, propósitos, intenções ou estados futuros que as pessoas e as organizações pretendem alcançar, por meio da aplicação de esforços e recursos.” (MAXIMIANO, 2011, p. 81). Os planos podem ser temporários ou permanentes. Planos temporários extinguem-se após a realização dos objetivos (exemplo: construção de uma casa), enquanto os permanentes apresentam decisões programadas, que são utilizadas em situações predefinidas (exemplo: definição do negócio, missão da empresa). (MAXIMIANO, 2011). O planejamento é classificado de acordo com o nível organizacional que abrange. São três o níveis de planejamento: estratégico, tático e operacional, que serão abordados com maior ênfase em momento futuro. “Objetivos são resultados específicos que se pretende atingir.” (CHIAVENATO, 2008, p. 341) NOTA UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 20 O sucesso de um bom planejamento depende de ótima organização para sua execução. É nesse processo que se define o que será feito, como será feito e por quem será feito. De acordo com Maximiano (2011, p. 83): “Organizar é, como todas as funções da administração, um processo de tomar decisões. As decisões de dividir o trabalho, atribuir responsabilidades a pessoas e estabelecer mecanismos de comunicação e coordenação são decisões de organizar.” Para Chiavenato (2008, p. 359): “[...] organização significa o ato de organizar, estruturar e integrar os recursos e os órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer relações entre eles e suas atribuições.” O processo de organizar possui as seguintes etapas: • Analisar os objetivos e o trabalho a serem realizados. • Dividir o trabalho, de acordo com os critérios mais apropriados para a realização dos objetivos. • Definir as responsabilidades pela realização do trabalho. • Definir os níveis de autoridade. • Desenhar a estrutura organizacional. (MAXIMIANO, 2011). A divisão do trabalho é feita para que os funcionários se especializem em determinada tarefa e a executem com maior eficiência. (CHIAVENATO, 2008). Em relação à etapa de desenho da estrutura organizacional, Maximiano (2011, p. 85) afirma: Todas as decisões sobre divisão do trabalho, responsabilidades e autoridade resumem-se na estrutura organizacional. A estrutura organizacional mostra a autoridade e as responsabilidades das pessoas, como indivíduos e como integrantes de grupos. Além disso, a estrutura organizacional mostra a comunicação entre as pessoas e grupos. A estrutura organizacional é um conceito, representado pelo gráfico chamado organograma. 3.2 ORGANIZAÇÃO “O organograma é o tipo mais comum de gráfico para representar a estrutura organizacional de uma empresa. Usualmente, é composto por um número de blocos interligados [...] que mostram a relação de autoridade e responsabilidade existente na estrutura.” (KWASNICKA, 2010, p. 243). IMPORTANT E TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 21 3.3 DIREÇÃO (EXECUÇÃO) A função administrativa de direção está relacionada com a maneira pela qual os objetivos devem ser alcançados através da atividade das pessoas e da aplicação dos recursos que compõem a organização. [...] Dirigir significa interpretar os planos para as pessoas e dar as instruções e orientação sobre como executá-los e garantir o alcance dos objetivos”. (CHIAVENATO, 2008, p. 368). É nessa etapa que o papel do administrador no tratamento com seus subordinados é fundamental para se atingir bons resultados. Conforme Chiavenato (2008, p. 373): “O administrador exerce direção, toma decisões e influencia e motiva as pessoas.Ele comunica e estrutura as organizações e desenha cargos e tarefas que repercutem no relacionamento interpessoal dos membros. Ele incentiva as pessoas sob diferentes aspectos.” O comportamento do administrador pode variar de acordo com a situação, conforme segue: TABELA 1 - COMO VOCÊ GOSTARIA DE ADMINISTRAR UMA EMPRESA? Sistema 1 Autoritário coercitivo Sistema 2 Autoritário benevolente Sistema 3 Consultivo Sistema 4 Participativo Total Centralização das decisões Alguma centralização das decisões Descentralização e delegação das decisões Total descentralização das decisões Imposição, coerção, intimidação Alguma imposição de regras e regulamentos Consulta aos níveis inferiores, com certa delegação Participação, consenso e debate Nenhuma transformação, somente ordens e comandos. Pouca informação, ordens, comandos e alguma orientação Fluxo de informação vertical (ascendente e descendente) Intensa informação e comunicação, troca de ideias e sugestões Nenhuma liberdade, muitas regras e regulamentos Alguma liberdade, desconfiança e condescendência Confiança nas pessoas. Algum trabalho em equipe Total liberdade e autonomia das pessoas. Poucas regras e restrições Punições e ações disciplinares, obediência rígida Punições menos arbitrárias, recompensas salariais Ênfase nas recompensas salariais, raras punições ou castigos Ênfase nas recompensas salariais, sociais e simbólicas FONTE: Chiavenato (2008, p. 373) É importante ressaltar que muitas vezes durante a execução de um plano pode haver necessidade de alterar decisões e implementar correções. (MAXIMIANO, 2011). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 22 3.4 CONTROLE O sucesso do que foi planejado depende de um bom controle. De acordo com Chiavenato (2008, p. 377): “[...] o controle é a função administrativa que monitora e avalia as atividades e os resultados alcançados para assegurar que o planejamento, a organização e a direção sejam bem-sucedidos.” Segundo Maximiano (2011, p. 91), “[...] o processo de controle produz e usa informações para tomar decisões. As informações e decisões de controle permitem manter qualquer sistema orientado para o objetivo.” São etapas do processo de controle: 1. Estabelecimento de objetivos ou padrões de desempenho. 2. Avaliação ou mensuração do desempenho atual. 3. Comparação do desempenho atual com os objetivos ou padrões estabelecidos. 4. Tomada de ação corretiva para corrigir possíveis desvios ou anormalidades. (CHIAVENATO, 2008). O ciclo compreendido pelo processo de controle inicia com o estabelecimento dos padrões de desempenho, uma vez definidos esses padrões, é preciso analisar o desempenho atual da organização e compará-lo com os padrões fixados, e havendo necessidade, efetuar as devidas correções para que o que foi planejado seja executado. Uma organização que não controla e não faz adequações para corrigir os problemas, corre o risco de investir recursos e não atingir os objetivos estabelecidos. Daí a importância dessa função. 4 PLANEJAMENTO De acordo com Oliveira (2011, p. 4): “[...] o planejamento pode ser conceituado como um processo [...] desenvolvido para o alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela empresa”. É através do planejamento que a empresa define o que será feito, e como será feito, para atingir os objetivos esperados. O planejamento envolve toda a empresa, e faz parte de sua rotina diária. Segundo Chiavenato (2008, p. 347): “[...] toda organização está sempre planejando: o nível institucional elabora genericamente o planejamento estratégico, o nível intermediário segue-o com planos táticos e o nível operacional traça detalhadamente os planos operacionais”. São três os tipos de planejamento: estratégico, tático e operacional. O tipo de planejamento varia de acordo com o nível organizacional, dessa forma, o planejamento estratégico (nível institucional) aborda a empresa como um todo; o planejamento tático (nível intermediário) aborda cada unidade da empresa TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 23 separadamente; e o planejamento operacional (nível operacional) aborda cada operação. (CHIAVENATO, 2008). Vejamos mais algumas particularidades de cada tipo de planejamento. Iniciemos pelo planejamento estratégico. Conforme Chiavenato (2008, p. 348): O planejamento estratégico é um processo organizacional compreensivo de adaptação através da aprovação, tomada de decisão e avaliação. Procura responder a questões básicas, como: por que a organização existe, o que ela faz e como faz. O resultado do processo é um plano que serve para guiar a ação organizacional por um prazo de três a cinco anos. Como abrange toda a empresa, o planejamento estratégico é elaborado pelos níveis mais altos da organização. São parâmetros do planejamento estratégico: a visão do futuro, os fatores ambientais externos e os fatores organizacionais internos. (CHIAVENATO, 2008). O planejamento tático, por sua vez, é desenvolvido pelos níveis organizacionais intermediários, tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consolidação de objetivos previamente fixados, segundo uma estratégia predeterminada, bem como as políticas orientativas para o processo decisório da empresa. (OLIVEIRA, 2011). Além disso, o planejamento tático é de médio prazo, ou seja, se estende para o exercício de um ano e abrange departamentos específicos, envolvendo planos de produção, planos financeiros, planos de marketing e planos de recursos humanos. (CHIAVENATO, 2008). E finalmente, o planejamento operacional, que foca no curto prazo e abrange cada tarefa ou operação individualmente. (CHIAVENATO, 2008). De acordo com Oliveira (2011, p. 20): O planejamento operacional é, normalmente, elaborado pelos níveis organizacionais inferiores, com foco básico nas atividades do dia a dia da empresa. Os planejamentos operacionais detalham os recursos necessários para sua criação e implantação; os procedimentos que serão adotados; os resultados finais esperados; os prazos; e os responsáveis por sua execução e implantação. Os planos operacionais cuidam da administração da rotina para assegurar que todos executem as tarefas e operações de acordo com os procedimentos estabelecidos pela organização, a fim de que esta possa alcançar os seus objetivos. (CHIAVENATO, 2008). Os planos operacionais podem ser: procedimentos (métodos), orçamentos (envolvem dinheiro), programações (tempo) e regulamentos (comportamento das pessoas). (CHIAVENATO, 2008). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 24 Segundo Oliveira (2011, p. 181-182): “Numa empresa, a estratégia está correlacionada à arte de utilizar, adequadamente, os recursos físicos, tecnológicos, financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas internos e a maximização das oportunidades que estão no ambiente empresarial, o qual não é controlável”. 5 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Todos dependemos diariamente de serviços públicos, e certamente, a maioria de nós nunca parou para analisar a estrutura administrativa que move os órgãos públicos. Sim, porque por trás dos serviços que utilizamos existem inúmeros processos e procedimentos a serem seguidos. Mas afinal, o que é e para que serve a Administração Pública? A Administração Pública pode ser conceituada em sentido subjetivo eem sentido objetivo. Segundo Moraes (2005, p. 91, grifo do autor): A Administração Pública pode ser definida objetivamente como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos, e subjetivamente como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. Podemos dizer, então, que Administração Pública de forma objetiva envolve as atividades que o Estado desenvolve para atender o bem comum, enquanto a Administração Pública de forma subjetiva inclui os órgãos e pessoas que executarão as atividades obedecendo às leis. Para Marcello Caetano citado por Moraes (2005, p. 91), Administração Pública é o “[...] conjunto de pessoas jurídicas, cuja vontade se exprime mediante órgãos e cuja atividade se processa através de serviços.” “Administração Pública é o planejamento, organização, direção e controle dos serviços públicos, segundo as normas do direito e da moral, visando ao bem comum.” (BÄCHTOLD, 2008, p. 26). Bächtold (2008, p. 26) complementa que: NOTA TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 25 A palavra administração vem do latim ad (direção) e minister (obediência), ou seja, o administrador dirige obedecendo à vontade de quem o contratou. Assim, o administrador público vai conduzir seu trabalho procurando atender à necessidade da população que o elegeu (obediência ao seu objetivo). É importante lembrar que, embora o administrador público trabalhe de forma a atender a vontade do povo que o escolheu, na Administração Pública “[...] a vontade decorre da lei que fixa a finalidade a ser perseguida pelo administrador.” (DI PIETRO, 2011, p. 50). A Administração Pública em sentido objetivo engloba: fomento, polícia administrativa, serviço público e intervenção: • fomento: atividade administrativa de incentivo à iniciativa privada de utilidade pública, por meio de subvenções, financiamentos, favorecimentos fiscais e desapropriações; • polícia administrativa: exercício de restrições ao exercício de direitos individuais em benefício do interesse maior da coletividade, exteriorizando-se por intermédio de sanções, notificações, licenças, fiscalizações; • serviço público: corresponde a toda atividade, sob regime predominantemente público, executada direta ou indiretamente, pela Administração Pública, com a finalidade de satisfazer à necessidade da coletividade; • intervenção: corresponde à regulamentação e à fiscalização da atividade econômica de natureza privada, e da atuação direta do Estado no domínio econômico, por meio de empresas estatais. A Administração Pública deve garantir o cumprimento da lei, desconsiderando a vontade particular, pois sua função é o bem comum, não individual. Para que a Administração Pública realize suas atividades o ordenamento jurídico lhe conferiu alguns poderes, que são os chamados poderes administrativos, são eles: poder regulamentar, poder disciplinar, poder hierárquico e poder de polícia. (MORAES, 2005). O estudo detalhado de cada um desses poderes será feito na Unidade 2. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 26 6 DIFERENÇA ENTRE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Os conceitos de administração já apresentados, mostram que administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar recursos para alcançar objetivos estabelecidos. Isso vale tanto na iniciativa privada quanto na pública. No entanto, as diferenças entre administração privada e administração pública são inúmeras e começam pela sua finalidade. De acordo com Saravia (2010, p. 4-5): O ponto de partida da distinção está na própria finalidade de cada uma das duas esferas de ação. O Estado se define pelo seu objetivo de bem comum ou interesse geral que, no caso do Brasil, está explícito na Constituição Federal. Vale a pena lembrar o preâmbulo, quando estabelece a razão de ser do Estado brasileiro: “um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional com a solução pacífica das controvérsias”. Enquanto a finalidade de uma empresa é obter ganho econômico através da organização de recursos (materiais, financeiros, humanos e tecnológicos) utilizados para produção de um bem ou prestação de um serviço. (SARAVIA, 2010). Outra diferença de grande relevância decorre do princípio da legalidade, expresso na Constituição, conforme Meirelles (2005, p. 88): Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa “pode fazer assim”; para o administrador público significa “deve fazer assim”. O fato é que, conforme Bächtold (2008, p. 26): “Em todos os países, qualquer que seja sua forma de governo ou organização política, existe uma administração pública. É a administração pública que permite aos governantes cumprir as funções básicas do governo, de forma a tratar o bem público da melhor maneira possível.” De acordo com Meirelles (2005, p. 86): “Os fins da administração pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada.” Ao longo deste caderno de estudos você aprenderá como surgiu a Administração Pública, como ela funciona, suas principais características, seus princípios, sua evolução, como e por quem é exercida. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 27 Outras grandes diferenças apontadas por Osborne e Gabler citados por Saravia (2010) são: a motivação, pois os chefes do setor público têm a reeleição como motivação, enquanto os empresários, o lucro; os recursos financeiros do governo são obtidos através do pagamento de impostos pelos contribuintes, enquanto numa empresa originam da venda de produtos aos clientes; as decisões na esfera pública são adotadas democraticamente, enquanto na iniciativa privada o empresário decide sozinho ou com os acionistas da empresa. Outra diferença entre empresa privada e administração pública é com relação à contratação de seus funcionários. A administração pública deve fazer concurso público para cargos efetivos, ou processo seletivo quando houver necessidade de contratar temporariamente. O mesmo acontece para aquisição de produtos e serviços, quando a administração pública deve fazer processo licitatório. O regime jurídico também é diferente, para a empresa é de direito privado e para a organização pública – pelo menos, em princípio – é o direito público. Consequentemente, o pessoal da empresa privada está regido pelo direito trabalhista (CLT) e o da administração pública é, em princípio, estatutário ou de direito público (com as exceções previstas em lei). (SARAVIA, 2010). Apesar de todas essas diferenças elencadas, a administração pública depende da iniciativa privada, e esta por sua vez, também depende daquela. Conforme Simon citado por Saravia (2010, p. 8): Uma sociedade produtiva necessita de organizações produtivas e de mercados eficazes. Sem as primeiras, as segundas não têm negócios possíveis. E entre as organizações necessárias estão as governamentais que podem fornecer o marco legal e a infraestrutura de serviços essenciais que fazem com que as operaçõescomerciais sejam possíveis, eficazes e capazes de responder às necessidades e metas da sociedade. Leia o artigo Administração Pública e Administração de Empresas: Quem Inspira a Quem? De Enrique Jeronimo Saravia, disponível na íntegra no site: <http://revistaadmmade. estacio.br/index.php/admmade/article/viewFile/100/103>. DICAS UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 28 EXPERIÊNCIA DE HAWTHORNE As causas imediatas do aparecimento da Escola de Relações Humanas foram os estudos e as experiências realizados por professores da Universidade de Harvard na Western Electric em sua fábrica de equipamentos telefônicos de Hawthorne a partir de 1927. Esses estudos foram precedidos por outros, realizados a partir de 1924 pela Academia Nacional de Ciências, os quais se concentraram na análise das relações da produtividade com a iluminação no local de trabalho. Tal análise baseava-se nas orientações de Taylor, Gilbreth e seus sucessores. O homem era visto como uma unidade isolada cuja eficiência poderia ser estimada cientificamente. Acreditava-se que essa eficiência seria influenciada principalmente pelos fatores que seguem: • movimentos dispendiosos e ineficientes na execução do trabalho; • fadiga; • deficiência do ambiente físico. Os estudos de Hawthorne podem ser divididos em três fases. A primeira fase iniciou-se em 1923 e foi orientada por membros do Comitê em Iluminação Industrial (Committee on Industrial Lighting), fundado pela General Electric Company sob supervisão de Charles Snow. Snow conduziu estudos sobre os efeitos da intensidade de luz na produtividade. Realizaram-se então experiências com os indivíduos, para estudar esses fatores e como eles influenciavam na execução da tarefa. De acordo com esse centro de referência, na primeira experiência realizada, os métodos de produção e os sistemas de remuneração foram mantidos constantes. Inicialmente foram selecionados dois grupos de operários. Em um grupo, a iluminação permaneceu constante durante toda a experiência; no outro, teve sua intensidade sempre aumentada. A produção do segundo grupo elevou-se, mas também cresceu a produção do primeiro, o que mostrava que a iluminação não era uma variável que afetava o trabalho das equipes. Os resultados até então não tinham levado a nada. Como continuação das pesquisas, foi reduzida a iluminação no grupo de teste e, surpreendentemente, a produção continuou a aumentar. A conclusão evidente foi de que havia outras variáveis que não estavam sendo controladas e que exerciam influência direta sobre a produtividade. A partir desses resultados, o grupo de pesquisadores de Hawthorne iniciou novas pesquisas, com o objetivo de determinar essas novas variáveis. Esses resultados, interpretados LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 29 por um dos colegas de Charles Snow, Homer Hilbarger, ficaram conhecidos como efeito Hawthorne: o fato de que os trabalhadores eram observados pelos pesquisadores durante o seu trabalho e a comunicação com estes os levou a considerar que havia maior interesse e preocupação por parte da direção com a melhoria de suas condições de trabalho e isso os impulsionou a trabalhar e a produzir mais, independentemente da variação da iluminação. Esses resultados mostraram que o simples fato de os indivíduos serem observados muda seu comportamento. Chamou-se a atenção para as necessidades afetivas dos empregados. A segunda fase dos experimentos foram os testes conduzidos no Relay Assembly Test Room em 1927. Seis mulheres foram escolhidas para o estudo, separadas das outras operárias e colocadas para trabalhar na montagem de relés elétricos, em condições especiais. As mulheres trabalhavam em uma sala menor que a anterior, com uma iluminação mais intensa, as condições de pagamento e de trabalho na linha de montagem foram modificadas e havia um pesquisador- observador que também trabalhava na supervisão de tarefas. Uma das mudanças mais marcantes é que as mulheres estavam autorizadas a conversar umas com as outras e a interagir durante o trabalho. Mais uma vez, constatou-se que a possibilidade de comunicar-se entre si e interagir, bem como a interação com o pesquisador, influenciaram fortemente nos resultados. A última fase da pesquisa começou em 1931 e ficou conhecida como experimentos do Bank Wiring Observation Room. Foram utilizados métodos de pesquisa sofisticados, com foco na dinâmica entre pequenos grupos. Catorze homens foram selecionados para participar das observações na sala de estudos. Eles foram encarregados de montar componentes elétricos em equipe. Os pesquisadores interagiram menos com os trabalhadores. A produtividade não aumentou; ao contrário, ficou comprovado que o grupo limitava o ritmo de trabalho e a produtividade. O fracasso das tentativas de relacionar as condições físicas de trabalho com a produtividade não constitui, todavia, o único fato importante na origem da Escola das Relações Humanas. Como já dissemos, esta foi a causa próxima, embora outras mais gerais, como as que seguem, não possam ser esquecidas. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 30 Os resultados de Hawthorne foram interpretados da seguinte maneira: • A produtividade dos trabalhadores era determinada por padrões e comportamentos informais estabelecidos pelo grupo de trabalho. • Os padrões e as normas informais dos grupos de trabalhadores são influenciados por elementos que eles trazem em sua cultura e hábitos próprios, que refletem características de sua socialização. • Quando existe um conflito entre as regras de trabalho e os padrões informais estabelecidos pelo grupo, a tendência deste era diminuir a produtividade. FONTE: MOTTA, Fernando C. Prestes; VASCONCELOS, Isabella F. Gouveia de. Teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 44 e 45. 31 Neste tópico vimos que: • Administração envolve planejamento, organização, direção e controle de recursos materiais, humanos, financeiros e tecnológicos para atingir resultados positivos para a organização. • Apesar de o estudo da Administração como ciência ser recente, já existem muitas teorias com o intuito de adaptar as organizações e as pessoas para atingir melhores resultados. • A Teoria Clássica abrange a Teoria Científica, proposta por Taylor nos Estados Unidos, que dava ênfase às tarefas. Enquanto na França, Fayol propunha a Teoria Clássica, cujo foco era na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente. • A Teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos, por volta de 1930 em decorrência da Experiência de Hawthorne. Seu precursor foi Elton Mayo. Essa teoria passou a considerar as pessoas e os grupos sociais dentro da organização. • A Teoria Neoclássica nada mais é do que a Teoria Clássica aproveitando os conhecimentos das outras teorias. Foi nessa teoria que a organização passou a ser dividida nos níveis institucional, intermediário e operacional. • A Teoria Estruturalista estuda a organização na estrutura interna e na interação com outras organizações. A empresa passa a ser considerada um sistema aberto, que interage com o ambiente externo. • A Teoria Comportamental foca no comportamento humano dentro da organização. As pessoas começam a ser percebidas como parte importante do processo decisório dentro das organizações. • Na Teoria Sistêmica a organização passa a ser estudada como um sistema aberto em constante interação com o ambiente, influenciando-o e sendo influenciada, capaz de crescerde adaptar-se ao ambiente. • A Teoria Contingencial enfatiza que numa organização tudo é relativo, tudo depende. Não existe solução pronta para os problemas, tudo vai depender da situação. • As funções da administração (planejar, organizar, dirigir e controlar) são essenciais para o bom desempenho das organizações e devem estar integradas. RESUMO DO TÓPICO 1 32 • O planejamento é de suma importância para a sobrevivência da empresa. É dividido em planejamento estratégico (nível institucional), planejamento tático (nível intermediário) e planejamento operacional (nível operacional). • A Administração Pública também envolve planejamento, organização, direção e controle, no entanto, sua finalidade é o bem comum, não o lucro. • As principais diferenças entre administração particular e Administração Pública são a finalidade (lucro x bem comum) e o fato de a Administração Pública só poder fazer o que a lei autoriza e a administração particular poder fazer tudo o que a lei não proíbe. 33 1 No que se refere à Administração, analise as proposições a seguir e assinale a alternativa CORRETA: I. Administração envolve planejamento, organização, direção e controle. II. Administrar é tomar decisões sobre objetivos e utilização de recursos. III. Uma empresa que não utiliza as ferramentas da Administração terá sucesso garantido, diferentemente daquelas que utilizam. a) ( ) Apenas a proposição I está correta. b) ( ) Apenas a proposição II está correta. c) ( ) As proposições I e II estão corretas. d) ( ) Todas as proposições estão corretas. 2 O estudo da Administração como ciência é recente. Das alternativas a seguir, quais são as causas desse fato: a) ( ) Na Antiguidade o trabalho era visto com desprezo. b) ( ) Na Antiguidade o trabalho era visto com desprezo e na Idade Média as classes mais favorecidas tinham preconceito em relação ao trabalho, quem era nobre não trabalhava. c) ( ) O estudo da Administração não tem nada a ver com a forma como o trabalho era visto. d) ( ) A Administração não fazia parte da vida dos homens, até hoje muitos nem precisam dela. 3 Com base nas teorias da Administração, relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda: AUTOATIVIDADE I. Administração Científica ( ) Ênfase nas pessoas. II.Teoria Clássica ( ) Ênfase na estrutura. III.Teoria das Relações Humanas ( ) Ênfase no comportamento das pessoas que passam a ser consideradas parte importante do processo decisório dentro da empresa. IV.Teoria Comportamental ( ) Ênfase nas tarefas. A sequência CORRETA é: a) ( ) I - II - IV e III. b) ( ) I – II – III e IV. c) ( ) II – I – III e IV. d) ( ) III – II – IV e I. 34 4 Taylor procurou substituir os métodos rudimentares por métodos científicos, esse projeto recebeu o nome de: a) ( ) Organização Internacional do Trabalho. b) ( ) Organização Regional do Trabalho. c) ( ) Organização Racional do Trabalho. d) ( ) Organização Radical do Trabalho. 5 A Administração Científica e a teoria das Relações Humanas classificavam o homem de acordo com seus interesses. Para a Administração Científica o homem foi conceituado como ________ __________, enquanto na teoria das Relações Humanas era considerado _________ __________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a) ( ) Homo economicus; homem social. b) ( ) Homo economicus; homem racional. c) ( ) Homem social; homo economicus. d) ( ) Homem social; homem racional. 6 São funções da Administração: a) ( ) Planejamento e organização. b) ( ) Planejamento, organização, direção e controle. c) ( ) Organização, controle e liderança. d) ( ) Planejamento, auditoria e ouvidoria. 7 O planejamento é vital para o sucesso das empresas e abrange toda a organização. Acerca do planejamento relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda. I. Planejamento ( ) Compreende o nível intermediário da empresa, aborda cada unidade separadamente, é de médio prazo. II. Planejamento estratégico ( ) Processo desenvolvido para alcance de situação futura desejada. III. Planejamento tático ( ) Abrange o nível operacional da empresa, compreende cada tarefa individualmente, foca no curto prazo. IV. Planejamento operacional ( ) Elaborado pelos níveis mais altos da organização, compreende toda a organização, é de longo prazo. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) IV – I - II e III. b) ( ) III – II - IV e I. c) ( ) III – I - II e IV. d) ( ) III – I - IV e II. 35 8 Podemos resumir os fins da Administração Pública: a) ( ) Na aquisição de bens para o órgão público. b) ( ) Na busca pelo bem comum. c) ( ) Na conquista de prêmios de responsabilidade social. d) ( ) Na obtenção de lucro. 9 Com base nas diferenças entre administração particular e Administração Pública, analise as proposições abaixo: I. A finalidade da Administração Pública é o bem comum, enquanto da Administração particular é o lucro. II. A Administração particular só pode fazer o que está em lei, enquanto a Administração Pública pode fazer tudo que a lei não proíbe. III. A Administração Pública deve obedecer ao princípio da legalidade, ou seja, só pode fazer o que está expresso em lei, enquanto a administração particular pode fazer tudo que a lei não proíbe. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a I está correta. b) ( ) Apenas a II está correta. c) ( ) Apenas I e III estão corretas. d) ( ) Todas estão corretas. 36 37 TÓPICO 2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Vistos os conceitos e a diferença de Administração e Administração Pública, vamos começar a nos aprofundar na matéria que trata da Administração Pública. Para isto, é importante conhecer e entender como a Administração Pública surgiu, quais são suas origens. Ao falar sobre Administração Pública, aparecerá a figura do Estado e seus componentes. Neste caderno de estudos, quando falarmos em Estado com letra maiúscula, estamos nos referindo ao país. Entre os componentes do Estado, além do povo e do território, está o governo. Estudaremos como o governo se organiza em seus três poderes, que são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Por fim, vamos estudar sobre as constituições do Brasil. Para ficar mais claro, a constituição é a lei máxima de um país. 2 ORIGENS HISTÓRICAS Seguindo a linha de raciocínio de Meirelles (2011, p. 60, grifo do autor): “O estudo da Administração Pública em geral, compreendendo a sua estrutura e as suas atividades, deve partir do conceito de Estado [...]”. Observamos que para entendermos melhor como surgiu a Administração Pública, precisamos antes ter o entendimento do conceito de Estado. Aqui, quando falamos em Estado, nos referimos sob o aspecto político, ou seja, um povo que vive em um território comandado por um governo, “O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que é considerado. [...] sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixada sobre um território, com potestade superior de ação, de mando e de coerção [...].” (MALBERG apud MEIRELLES, 2011, p. 61). Em um Estado independente deve haver soberania, ou seja, um poder que faça cumprir a vontade de seu povo em um determinado território. Dessa forma, surgem os poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Para Meirelles (2011, p. 61, grifo do autor): “A vontade estatal apresenta-se e se manifesta através dos denominados Poderes de Estado. [...] são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário [...].” UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 38 Os poderes do Estado serão estudados ainda nesta unidade do caderno de estudos. Para que na práticaa soberania funcione, é necessário haver uma organização do Estado. A organização do Estado, conforme Meirelles (2011, p. 62): “[...] é matéria constitucional no que concerne à divisão política do território nacional, à estruturação dos Poderes, à forma de Governo, ao modo de investidura dos governantes, aos direitos e garantias dos governados.” No caso da nossa Federação, podemos também dizer do nosso Estado Federal, o território nacional compreende a União, os estados-membros, o Distrito Federal e os municípios, todos com autonomia política. Antes a União se organizava de forma diferente, era dual, onde existia apenas a União e os Estados-membros. Segundo Meirelles (2011, p. 63, grifo do autor): No Estado Federal, que é o que nos interessa, a organização política era dual, abrangendo unicamente a União (detentora da Soberania) e os Estados-membros ou Províncias (com autonomia política, além da administrativa e financeira). Agora, a nossa Federação compreende a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios, que também são entidades estatais, com autonomia política reconhecida pela Constituição da República (art. 18), embora em menor grau que a dos Estados-membros (art. 25). [...] Assim, integra a organização política da nossa Federação um Estado-membro anômalo, que é o Distrito Federal, onde se localiza a Capital da União: Brasília (Art. 18 e § 1º). As únicas entidades com autonomia política, além de administrativa e financeira, são as entidades estatais, que são a União, os estados-membros, os municípios e o Distrito Federal. Estudaremos mais adiante as autarquias, as fundações, as empresas governamentais, as entidades paraestatais que são as entidades estatais e constituem a Administração Pública. Conforme Meirelles (2011, p. 63, grifo do autor): Na nossa Federação, portanto, as entidades estatais, ou seja, entidades com autonomia política (além da administrativa e financeira) são unicamente a União, os Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal [...] As demais pessoas jurídicas instituídas ou autorizadas a se constituírem por lei, ou são autarquias, ou são fundações, ou são empresas governamentais, ou são entidades paraestatais, [...] Esse conjunto de entidades estatais, autárquicas, fundacionais, empresariais e paraestatais constitui a Administração Pública em sentido instrumental amplo, ou seja, a Administração centralizada e descentralizada. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 39 A Administração Pública pode ser Direta/Centralizada ou Indireta/ Descentralizada. Estudaremos este assunto detalhadamente no Tópico 1 da Unidade 2 deste caderno de estudos. Surgindo a Administração Pública sob a necessidade de administrar um Estado, se faz necessária a organização da mesma. Conforme Meirelles (2011, p. 64, grifo do autor): Após a organização soberana do Estado, com a instituição constitucional dos três Poderes que compõem o Governo, e a divisão política do território nacional, segue-se a organização da Administração, ou seja, a estruturação legal das entidades e órgãos que irão desempenhar as funções, através de agentes públicos (pessoas físicas). Esta organização da Administração pública deve ter base legal. A partir disto surge o Direito Administrativo para regulamentar as condutas da Administração. Nesse campo estrutural e funcional do Estado atua o moderno Direito Administrativo [...] O Direito Administrativo impõe as regras jurídicas de organização e funcionamento do complexo estatal; as técnicas de administração indicam os instrumentos e a conduta mais adequada para o pleno desempenho das atribuições da Administração. (MEIRELLES, 2011, p. 64, grifo do autor). Estudaremos sobre o Direito Administrativo no Tópico 3 desta unidade. Vale ressaltar que o conceito de Administração não deve ser confundido com o conceito de Governo. Meirelles (2011, p. 65, grifo do autor) explica que “Governo - em sentido formal, é o conjunto de Poderes e órgão constitucionais [...]”, enquanto a “Administração Pública - em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo [...].” ESTUDOS FU TUROS ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 40 3 ESTADO O Estado é composto por três elementos: o povo, o território e o governo. De acordo com Meirelles (2011, p. 61, grifo do autor): O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo Soberano. Povo é o componente humano do Estado; Território, a sua base física; Governo soberano, o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do Povo. O povo é a parte humana do Estado (com vínculos que ao longo da sua existência se tornaram em comum, como por exemplo, a religião e a cultura) e determina suas características, já que o Estado é caracterizado e moldado conforme a vontade e necessidade do povo. Segundo Alkmim (2009, p. 72): Povo é o elemento humano do Estado, razão de sua existência. É o conjunto de pessoas unidas por vínculos culturais, históricos, religiosos, entre outros, que juntas buscam a consecução de objetivos comuns. Esse conjunto de pessoas mantém um vínculo jurídico-político com o Estado, o que o torna parte integrante deste. O território é a área geográfica delimitada onde existirá o seu povo e consequentemente, o governo. “Território é o espaço geográfico delimitado, onde se encontra fixado o elemento humano que é o povo e onde se exerce a soberania.” (ALKMIM, 2009, p. 73). O governo, como o próprio nome diz, tem o poder para governar, administrar os recursos do povo para atingir o bem e objetivos comuns, assegurando o bem- estar e atendendo as necessidades do povo dentro do seu território. Alkmim (2009, p. 77), conceitua governo como: O governo representa o elemento formal do Estado, aquele responsável pelo exercício do Poder político dentro do território. Vale dizer que o povo, como elemento humano do Estado, precisa se organizar. Esta organização se dá por meio da instituição de um governo que terá a função de exercer o poder dentro do Estado por delegação de seu titular que é o povo. Governar é administrar, estruturar a sociedade, organizar o povo dentro de certo território. É imprescindível a existência do governo em um Estado, visto que o povo tem necessidades básicas, como por exemplo, educação, saúde e segurança. Seria impossível cada indivíduo integrante do povo conseguir suprir estas necessidades por si só, de forma individual. Alkmim (2009, p. 68-69), afirma que: TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 41 Trata-se de um ente abstrato, politicamente organizado e para a satisfação das necessidades básicas da comunidade que o integra. Necessidades essas que não podem ser supridas de modo isolado por cada cidadão, emergindo daí a necessidade de surgimento de um ente maior, capaz de prover toda a sociedade de utilidades essenciais à sua manutenção e desenvolvimento, como: a segurança, a educação, a saúde, o abastecimento, a jurisdição, entre outros igualmente importantes. Mesmo que o povo tenha necessidades básicas em comum, sempre haverá divergência de opinião e pontos de vista diferentes, além disso, como já vimos, é impossível cada indivíduo integrante do povo suprir suas necessidades individualmente. Sendo assim, mais uma vez podemos afirmar que é indispensável a figura do governo, pois caberá a ele avaliar e tomar as decisões necessárias para que essas necessidadessejam atendidas. Dessa forma, o Estado se organiza a partir dos Poderes do Estado. De acordo com Meirelles (2011, p. 61, grifo do autor): [...] Não há nem pode haver Estado independente de Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de organizar- se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, se necessário. A vontade estatal apresenta-se e se manifesta através dos denominados Poderes de Estado. Os poderes do Estado são respectivamente, o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, ambos se complementam e devem trabalhar em conjunto e em harmonia, cada um cumprindo sua função. “Os Poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados de Direito, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º).” (MEIRELLES, 2011, p. 6, grifo do autor). O Estado é composto por três elementos: o povo, o território e o governo. O governo se organiza a partir de três poderes que se complementam e trabalham de forma harmônica. Os três poderes são respectivamente, Legislativo, Executivo e Judiciário. IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 42 4 OS TRÊS PODERES DO ESTADO O Estado é governado pelo governo e se organiza a partir dos poderes de Estado. São três os poderes do Estado: o Poder Legislativo que tem como função elaborar/fiscalizar as leis, o Poder Executivo que tem como função administrar/ executar a lei e o Poder Judiciário que tem como função aplicar/julgar a lei. Os três poderes devem trabalhar em harmonia e de forma independente. Meirelles (2011, p. 61) explica os poderes de Estado: [...] Os poderes de Estado [...] são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Não há nem pode haver Estado independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º). [...] Assim a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função normativa); a função precípua do Poder Executivo é a conversão da lei em ato individual e concreto (função administrativa); a função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes (função judicial). Os três poderes do Estado surgiram para que o poder fosse dividido em mais de uma esfera, dessa forma evitaria a soberania, onde o poder ficaria nas mãos de apenas uma pessoa. Além disso, cada um dos três poderes do Estado tem suas funções definidas, e cabe a eles buscar, estudar e se especializar nas melhores alternativas para cumpri-las de forma eficiente. Integram a organização política do Estado os denominados “Poderes”, que representam uma divisão estrutural interna, visando ao mesmo tempo à especialização no exercício das funções estatais e a impedir a concentração de todo o poder do Estado nas mãos de uma única pessoa ou órgão [...]. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 14-15). Cada poder do Estado, tanto o Legislativo, Executivo e Judiciário, possui funções típicas (funções próprias) e atípicas (funções acessórias que aparentemente seriam de outro poder). Como vimos os três poderes do Estado devem trabalhar em harmonia, cada um com sua função e de forma independente, sem que exista uma separação entre eles, mas sim, uma complementação, trabalhando de forma integrada. Ou seja, três poderes com funções definidas e distintas que se complementam. No início era um pouco diferente, existia uma visível e rígida separação entre os três poderes, mais tarde esta separação se tornou mais flexível. Com o tempo houve uma nova adaptação, onde de forma harmônica passaram a trabalhar em conjunto IMPORTANT E TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 43 e cumprir além de suas próprias funções (funções típicas), funções acessórias que aparentemente seriam de outro poder (funções atípicas). De acordo com Alexandrino e Paulo (2011, p. 15, grifo dos autores): Na história do constitucionalismo, a ideia inicial de uma rígida separação entre os Poderes foi sendo substituída pela proposta de uma maior interpenetração, coordenação e harmonia entre eles. Com isso, cada Poder passou a desempenhar não só as duas funções próprias, mas também, de modo acessório, funções que, em princípio, seriam características de outros Poderes. A separação rígida, aos poucos, deu lugar a uma divisão flexível das funções estatais, na qual cada Poder termina por exercer, em certa medida, as três funções do Estado: uma em caráter predominante (por isso denominada típica), e outras de natureza acessória, denominadas atípicas (porque, em princípio, são próprias de outros poderes). Sendo assim, além das funções típicas de cada poder, haverá também as funções atípicas. Para entender melhor podemos descrever como isso ocorre. O Poder Legislativo tem como função típica elaborar/fiscalizar as leis, também exerce funções atípicas como administrar e julgar. Já o Poder Executivo que tem como função típica administrar/executar a lei, também exerce funções atípicas como legislar. E por fim, o Poder Judiciário que tem como função típica aplicar/ julgar a lei, também exerce funções atípicas como administrar e legislar. De acordo com Alkmim (2009, p. 622-623): A função típica de um Poder é atípica dos outros, sendo que o aspecto da tipicidade se dá com a preponderância. Por exemplo, o Poder Legislativo tem a função principal de elaborar o regramento jurídico do Estado – é sua função típica –, mas também administra seus órgãos, momento em que exerce uma atividade típica do Executivo, podendo, ainda, julgar seus membros, como é o caso do sistema brasileiro. Da mesma forma, a função típica do Poder Executivo é a administração da máquina estatal, mas compete ao Presidente da República a edição de medidas provisórias, sendo esta uma função atípica do Poder Executivo. No caso da União, podemos exemplificar de forma prática como se organizam os três poderes. No Poder Executivo encontraremos a Presidência da República, os Ministérios, órgão de assessoria etc. Conforme Meirelles (2011, p. 807): No sistema presidencialista adotado pela nossa Constituição o Presidente da República exerce o Poder Executivo da União auxiliado pelos Ministros de Estado (art. 76), [...] todos secundados por órgão de assessoramento e de execução, além de Tribunais Administrativos, Procuradorias e outros desdobramentos da Administração direta e indireta da União [...]. No poder Judiciário encontraremos os Tribunais Superiores, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Eleitorais, Tribunais do Trabalho, entre outros. Conforme Alkmim (2009, p. 687): “A estrutura do Poder Judiciário brasileiro é complexa, tendo em vista, sobretudo, a natureza federativa do Estado e a existência de Justiças especializadas, além dos juizados especiais.”. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 44 No Poder Legislativo encontraremos o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. “Na esfera Federal, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, o qual possui uma composição bicameral, ou seja, é composto por duas Casas Legislativas que são o Senado Federal e a Câmara dos Deputados.” (ALKMIM, 2009, p. 625). Nos municípios não há Poder Judiciário, apenas o Poder Executivo representado pela Prefeitura tendo como chefe do Poder o Prefeito, e o Poder Legislativo representado pela Câmara de Vereadores. Meirelles (2011, p. 833) afirma que: “[...] se realiza a administração municipal, através da Prefeitura, como órgão executivo,e da Câmara de Vereadores, como órgão legislativo. Essa composição é uniforme para todos os municípios, variando apenas o número de vereadores.”. O quadro a seguir ilustra de forma clara e simplificada a estrutura dos três poderes: QUADRO 2 – ESTRUTURA DOS TRÊS PODERES DO ESTADO EXECUTIVO LEGISLATIVO JUDICIÁRIO União Presidente da República Congresso Nacional Conselho Nacional de Justiça, Tribunais Superiores e Regionais, Juízes Estados Governador Assembleia Legislativa Tribunal de Justiça e Juízes de Primeira Instância Municípios Prefeito Câmara de Vereadores - FONTE: OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras (2011, p. 9) 5 AS CONSTITUIÇÕES Constituição, segundo Alkmim (2009, p. 151): “[...] é a norma estruturante do Estado, à qual todas as instituições estatais, todo o ordenamento jurídico e, porque não dizer, toda a sociedade encontram-se vinculados e submetidos.” A Constituição integra as leis, é considerada a lei máxima de um país. A atual Constituição do Brasil é a Constituição de 1988. Já sofreu diversas emendas e alterações. ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 45 Alkmim (2009, p. 151) afirma ainda que: É fácil perceber, nesse sentido, que não há Estado sem Constituição, já que cabe a esta estabelecer não só os elementos orgânicos desse Estado, mas também os preceitos jurídicos e políticos sobre os quais serão erguidas as colunas normativas da sociedade. Trata-se, pois, do grande instrumento condicionador da vida social. Nesse sentido, podemos afirmar que a Constituição rege as condutas do Estado, sendo a lei máxima que deverá ser respeitada. Quanto à origem, as constituições poderão ser: outorgadas, promulgadas, cesaristas ou pactuadas. Uma constituição outorgada é aquela que é imposta por agente revolucionário, grupo ou governante que não foi escolhido pelo povo para em seu nome atuar (exemplos: Constituição de 1824 – Império, Constituição de 1937 – Getúlio Vargas e Constituição de 1967 – Ditadura Militar. (LENZA, 2011). Uma constituição promulgada, também denominada democrática, resulta do trabalho da Assembleia Constituinte, que foi eleita pelo povo, ou seja, recebeu deste poder para representá-lo. (exemplos: Constituições de 1891, 1934, 1946 e a de 1988). Uma constituição cesarista não é outorgada, nem democrática. Sua criação ocorre com a participação popular, onde o povo apenas confirma a vontade do detentor do poder que pode ser um imperador ou ditador (exemplos: plebiscitos napoleônicos – imperador; plebiscito de Pinochet – ditador do Chile). E por fim, uma constituição pactuada acontece quando o poder constituinte está nas mãos de mais de um titular e estes acabam fazendo um pacto (exemplos: durante a monarquia estamental da Idade Média em que o poder estatal era dividido entre o monarca e as ordens privilegiadas). (LENZA, 2011). O Brasil teve oito Constituições desde a sua independência em 1822. A partir do momento que o Brasil deixou de ser dominado por Portugal e D. Pedro I proclamou a independência do nosso País, se fez necessário existir uma Constituição. Conforme Alkmim (2009, p. 179): Com o rompimento dos laços coloniais que ligavam o Brasil a Portugal, nascia o Estado brasileiro. Um novo Estado independente e soberano que, como tal, necessitava de uma Constituição que viesse a estruturar formalmente todo o aparato estatal e que viesse a criar e organizar as suas instituições. Com efeito, precisava o Brasil de uma Constituição que viesse a dar forma ao novo Estado que surgia, pois, como dito, não há Estado sem Constituição. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 46 5.1 CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 A primeira Constituição do Brasil foi outorgada em 1824 por D. Pedro I. “Assim, por ato solene de 25 de Março de 1824, foi outorgada pelo Imperador a primeira Constituição brasileira, na condição de um Estado livre e independente, denominada de “Constituição Política do Império do Brasil”. (ALKMIM, 2009, p. 182). De acordo com Alkmim (2009, p. 183): “Como forma de governo, estabeleceu-se a monarquia hereditária [...].” Nessa Constituição vigorava a Monarquia hereditária, ou seja, o poder do Imperador era transferido ao filho após sua morte. O Estado era unitário, onde todo o território Imperial apesar de ser dividido em províncias é subordinado ao Imperador. As províncias não tinham autonomia. Como se tratava de um Estado unitário centralizado, as províncias criadas foram subordinadas ao poder central, por meio de seu presidente, escolhido e nomeado pelo Imperador, e do chefe de polícia, também escolhido e nomeado pelo Imperador, com atribuições não só policiais, como também judiciais, até 1870. (ALKMIM, 2009, p. 184). Houve também nesta Constituição a divisão dos poderes, sendo eles o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Moderador que controlava os demais poderes e era chefiado pelo Imperador. Alkmim (2009, p. 183) afirma: Pode-se dizer que a Constituição do Império inovou ao estabelecer uma formulação quadripartita para a divisão dos poderes, a qual previa a existência do Poder Legislativo, do Poder Moderador, do Poder Executivo e do Poder Judiciário. [...]. O Poder Moderador, por sua vez, considerado a chave de toda a organização política, era exercido privativamente pelo Imperador, como Chefe Supremo da nação e seu primeiro representante, para que incessantemente, velasse sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos. O voto era censitário, ou seja, apenas os ricos tinham o direito de votar. “A eleição era direta e censitária.” (ALKMIM, 2009, p. 183). Após anos de desgaste e confrontos para a mudança da Monarquia, em 15 de Novembro de 1889, o Império chega ao fim. A Monarquia é vencida sob o comando de Marechal Deodoro da Fonseca, e o Imperador foi exilado, Alkmim (2009, p.185) explica: [...] A monarquia se encontrava desgastada e enfraquecida. Assim, após um longo período de crise entre civis e militares, a monarquia sucumbiu sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca, que depôs o gabinete do Visconde de Ouro Preto, com o Imperador encaminhando-se para o exílio e a república sendo proclamada em 15 de Novembro de 1889. Terminava, assim, juntamente com o Império, os 250 anos de domínio dos Bragança em terras brasileiras. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 47 A Constituição de 1824 foi a que mais tempo durou, predominou a Monarquia. O Estado era unitário, ou seja, ao contrário da Federação (onde o País é dividido em estados, cada um com determinada autonomia). Sendo unitário, o Poder era centralizado nas mãos do Rei. A Religião oficial era a Católica. O voto era censitário, portanto apenas os “ricos” tinham o direito de votar. O Governo se organizava em quatro Poderes, o Legislativo, Judiciário, Executivo e o Moderador que controlava os demais Poderes. 5.2 CONSTITUIÇÃO DE 1891 A segunda Constituição do Brasil foi promulgada em 1891. De acordo com Alkmim (2009, p. 185): O projeto da nova Constituição ficou a cargo de uma comissão de juristas, sob a presidência de Saldanha Marinho, que deveria ser submetido à discussão e aprovação da Assembleia Constituinte, escolhida por meio de eleições e a ser instalada em 15 de Novembro de 1890, primeiro aniversário da república. O projeto não foi aprovado e posteriormente foi revisado por Rui Barbosa. “A primeira versão não contou com a aprovação da Assembleia, sendo a redação do projeto submetida à revisão por Rui Barbosa, que discutiu emendas e modificações com todos os ministros, sendo aprovada, [...] em junho de 1890.”(ALKMIM, 2009, p. 185). A Constituição aprovada tinha como princípios fundamentais: “[...] a federação, a república, o presidencialismo e a divisão do poder em Legislativo, Executivo e Judiciário.”. (ALKMIM, 2009, p. 185). Houve influência da Constituição americana. Alkmim (2009, p. 186) explica que: Deve-se ressaltar, nada obstante esse cenário, que a Constituição consagrou em seu texto grandes inovações políticas advindas, em especial, da Constituição Americana, buscando privilegiar as garantias e direitos individuais do cidadão, além de estabelecer a divisão dos poderes. ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 48 A Constituição de 1891 teve algumas modificações. Da Monarquia o Brasil passou a se tornar uma República (quando o governo é eleito pelo povo por um período determinado), o Estado deixa de ser unitário e se torna uma Federação (União dividida em vários estados – antigas províncias – cada um com uma parcela de autonomia). Segundo Alkmim (2009, p. 184-185): “Com a Constituição de 1891, o Brasil se transformou política e estruturalmente. O então Estado unitário transformou-se em federação. As províncias transformaram-se em Estados. A Monarquia deixou de existir, dando lugar à república.”. O País que até então era nomeado Império do Brasil passou para República dos Estados Unidos do Brasil. “Até o nome do país mudou, passando de Império do Brasil para República dos Estados Unidos do Brasil.” (ALKMIM, 2009, p. 185). O Poder Moderador é extinto, permanecendo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O voto permaneceu aberto, mas deixou de ser censitário, todos os homens a partir dos 21 anos tinham direito de votar, exceto os analfabetos. Conforme Alkmim (2009, p. 186): “Foram abolidos os títulos hierárquicos do Império, juntamente com as principais instituições monárquicas, como o Poder Moderador [...]. O direito de voto foi estendido a todos os homens a partir dos 21 anos de idade, excluindo-se os analfabetos.”. Outra mudança que ocorreu nesta Constituição foi com relação à Igreja, pois o Estado tinha como religião oficial a Católica. “Houve a separação entre Estado e Igreja, tornando-se o Brasil um país laico.” (ALKMIM, 2009, p. 186). Com o Federalismo, o Poder Central enfraqueceu já que cada estado tinha uma parcela de autonomia. Os estados que antes eram enfraquecidos e subordinados ao Poder Central, se fortaleceram, e agora é o governo federal que para se sustentar busca ajuda junto aos estados. O problema é que essa ajuda era dada em troca de favores, desta forma, concedia aos estados forças necessárias em troca de favores que lhe era conveniente. Isso levou o país a enfrentar crises econômicas e políticas, predominando o sistema oligárquico. Alkmim (2009, p. 186) explica: Um dos grandes problemas enfrentados pela república, em sua primeira fase, foi o enfraquecimento do poder central em razão da maior autonomia política e administrativa de que foram dotados os Estados, o que é próprio da federação. Assim, reacenderam-se os poderes regionais e locais, antes enfraquecidos em função dos mecanismos centralizadores do Império. Dessa forma, para sustentar-se, o governo federal haveria de fazer inúmeras concessões às forças estaduais, de modo a contar sempre com o apoio delas, o que levou o país ao domínio das forças oligárquicas que passaram a se revezar no poder, mantendo o Brasil em um estado de estagnação econômica e retrocesso político. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 49 Oligarquia é um sistema político no qual o poder está concentrado num pequeno grupo pertencente a uma mesma família, um mesmo partido político ou grupo econômico. Esse pequeno grupo controla as políticas sociais e econômicas em benefício de interesses próprios. FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/oligarquia/>. Fica visível que a Constituição de 1891 teve sua importância, mas com estes acontecimentos de instabilidade política e deficiência no desenvolvimento econômico, novamente o País sofre alterações e caminha rumo a uma nova Constituição. Conforme Alkmim (2009, p. 186): [...] a Constituição de 1891 trouxe inúmeros avanços ao cenário político brasileiro. [...] não se mostrou eficaz na manutenção da estabilidade política e na criação de mecanismos que propiciassem o desenvolvimento econômico, o que [...] seria sentido no Brasil e conduziria a uma nova ruptura da Ordem Constitucional. Na Constituição de 1891, foi abolida a Monarquia, dando lugar à República, onde o governante era escolhido pelo povo. O Estado deixou de ser unitário, e se tornou uma Federação (o País foi dividido em estados, cada um com determinada autonomia). O Estado se tornou laico, sem religião oficial. O Poder Moderador foi extinto, permanecendo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O voto era aberto e sem sigilo. 5.3 CONSTITUIÇÃO DE 1934 Ainda na Constituição de 1891, a instabilidade política resultou em uma emenda em 1926. A luta também era contra a oligarquia, ou seja, contra o poder da minoria privilegiada ao qual a maioria do povo era subordinada. Conforme Alkmim (2009, p. 187): Em razão da realidade política dominante no país nas primeiras décadas do século XX, de domínio das lideranças regionais, a Constituição de 1891 foi emendada em 1926, com vista à adequação da Constituição formal à realidade social e política, o que efetivamente não foi conseguido e, nem tampouco, foi impedido que prosperasse a luta contra o regime oligárquico dominante. UNI ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 50 Esta luta sem sucesso desencadeou a Revolução liderada por Getúlio Vargas, quatro anos após a Emenda à Constituição. Surgiu então a necessidade de uma nova Constituição que adequasse o Estado às novas mudanças políticas e sociais. Segundo Alkmim (2009, p. 187): Quatro anos depois dessa Emenda à Constituição, irrompeu-se a Revolução que pôs abaixo a primeira república, quando Getúlio Vargas, como líder civil da Revolução subiu ao poder, havendo a iminente necessidade de uma nova Constituição que pudesse amoldar o Estado à nova realidade política e social. Nesta Constituição que estava nascendo, o governo e os grupos oligárquicos tinham objetivos distintos, que, segundo Alkmim (2009, p. 187): Foram meses de intensa articulação e disputa política [...] [onde] para o governo a futura Constituição deveria incorporar o conjunto de mudanças que vinham sendo promovidas nos campos social, político e econômico. Já para os grupos oligárquicos, a nova Constituição deveria assegurar aos estados um papel de maior relevo. Alkmim (2009, p. 187) aponta: “[...] os estados do norte e nordeste, mais fracos economicamente e dependentes do governo federal, defenderam o centralismo, os estados do centro-sul reivindicavam maior autonomia em relação ao poder central”. Oito meses depois, “no dia 16 de julho de 1934, foi promulgada a nova Constituição”. (ALKMIM, 2009, p. 187). Segundo Silva apud Alkmim (2009, p. 187): [...] a nova Constituição não era tão bem estruturada como a primeira. Trouxera conteúdo novo. Mantivera da anterior, porém, os princípios formais fundamentais: a república, a federação, a divisão de poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si), o presidencialismo, o regime representativo. Mas ampliaram-se os poderes da União, enumerados extensamente nos arts. 5º e 6º. Por fim, segundo Alkmim (2009, p. 187-188): A importância dos estados foi assegurada pela vitória do princípio federalista. [...] No plano de política social, foram aprovadasmedidas que beneficiavam os trabalhadores, como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas e descanso semanal. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 51 O Estado se federalizar significa que a União foi dividida em estado, com isso ocorre “o enfraquecimento do poder central em razão da maior autonomia política e administrativa de que foram dotados os estados, o que é próprio da federação.” (ALKMIM, 2009, p.186). Como vimos, “A Constituição de 1934, [...] Ao mesmo tempo em que tentou estabelecer uma ordem liberal e moderna, buscou também fortalecer o Estado e seu papel diretor na esfera econômica e social.” (ALKMIM, 2009, p. 188). Vargas, descontente, revisou novamente a Constituição, fazendo surgir uma nova Constituição, a de 1937. Conforme Alkmim (2009, p. 188): “O resultado não agradou a Vargas, que se sentiu tolhido em seu raio de ação pela nova Carta. Vargas chegou a afirmar que estava disposto a ser o primeiro revisor da Constituição, o que de fato ocorreu.”. Na Constituição de 1934, o país continuou sendo uma Federação (dividido por estados), com os três Poderes (Executivo, Legislativo e o Judiciário), o Estado permaneceu laico, ou seja, sem religião oficial. As mulheres passaram a ter o direito de votar, mas apenas as funcionárias públicas. Houve confronto na disputa de Poder, onde “para o governo a futura Constituição deveria incorporar o conjunto de mudanças que vinham sendo promovidas nos campos social, político e econômico. Já para os grupos oligárquicos, a nova Constituição deveria assegurar aos estados um papel de maior relevo.”. (ALKMIM, 2009, p. 187). Por fim, “A importância dos estados foi assegurada pela vitória do princípio federalista. [...] No plano de política social, foram aprovadas medidas que beneficiavam os trabalhadores, como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas e descanso semanal.” (ALKMIM, 2009, p. 187- 188). Outra mudança significativa foi em relação ao voto, onde “Uma importante inovação foi a instituição do voto feminino obrigatório, mas só para as mulheres que fossem funcionárias públicas.” (ALKMIM, 2009, p. 188). NOTA ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 52 5.4 CONSTITUIÇÃO DE 1937 A Constituição de 1937 se caracterizou pela forte concentração do poder novamente nas mãos do chefe do Executivo. “A quarta Constituição do Estado Brasileiro nasceu de forma autoritária, sendo outorgada por Getúlio Vargas em 10 de Novembro de 1937, mesmo dia em que se implantava no país o regime ditatorial denominado “Estado Novo”. (ALKMIM, 2009, p. 188). Para complementar, Silva apud Alkmim (2009, p. 189): A Carta de 1937 não teve, porém, aplicação regular. Muitos de seus dispositivos permaneceram letra morta. Houve ditadura pura e simples, com todo o poder Executivo e Legislativo concentrado nas mãos do Presidente da República, que legislava por via de decretos-leis que ele próprio depois aplicava, como órgão do Executivo. Segundo Alkmim (2009, p. 188-189): “Sob o aspecto político- administrativo seu conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo do presidente da república a nomeação das autoridades estaduais, os chamados “interventores”. Aos interventores, por sua vez, cabia a nomeação das autoridades municipais.”. Sob o aspecto econômico, “[...] a intervenção estatal ganhava força, o que já se delineava desde 1930, havendo a criação de órgãos técnicos voltados para esse fim. Ganhava destaque também, o estímulo à organização sindical em moldes corporativos, uma das influências mais evidentes dos regimes fascistas então em vigor.” (ALKMIM, 2009, p. 189). A Segunda Guerra Mundial motivou o Presidente da República a rever a Constituição, pois além do nosso País, o mundo estava com sede de democracia. “O fim da Segunda Grande Guerra, [...] promoveu a ampliação dos movimentos que objetivavam a redemocratização do Brasil. [...] A pressão social nesse período fez com que o próprio Presidente da República iniciasse com expedição da Lei Constitucional no 9, de 28 de fevereiro de 1945 [...].”. (ALKMIM, 2009, p. 189). A Constituição de 1937 se caracterizou pela forte concentração do poder novamente nas mãos do chefe do Executivo. A Segunda Guerra Mundial motivou o Presidente da República Getúlio Vargas, a rever a Constituição, pois além do nosso País, o mundo estava com sede de democracia. ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 53 5.5 CONSTITUIÇÃO DE 1946 Como vimos, a Constituição de 1946 foi motivada com o fim da Segunda Guerra Mundial, onde o mundo lutava por constituições mais justas. De acordo com Alkmim (2009, p. 189): “Havia, também, no mundo pós-guerra, extraordinária recomposição dos princípios constitucionais, com reformulação de constituições existentes ou a promulgação de outras, como na Itália, França e Alemanha, e que tiveram influência decisiva na reconstitucionalização do Brasil.”. A Constituição de 1946 teve forte influência das Constituições de 1891 e 1934. Alkmim (2009, p. 190) explica: [...] em 18 de setembro de 1946, foi promulgada a nova Constituição, inspirada, em grande parte, nos textos de 1891 e 1934 e teve como eixos básicos: a consolidação de um sistema político fundado na democracia representativa, a institucionalização da federação e da autonomia municipal e a progressão no tratamento constitucional dos direitos e garantias fundamentais e de matéria econômica e social. Ampliou-se o rol dos direitos e garantias individuais em comparação com o texto de 1934. Nesta Constituição, segundo Alkmim (2009, p. 190): [...] foram estabelecidas a soberania do júri e a individualização da pena. Também, foram ampliados os direitos sociais, sendo estatuído o salário mínimo capaz de atender às necessidades do trabalhador e de sua família, criação da participação do trabalhador nos lucros das empresas, proibição de trabalho noturno aos menores de 18 anos, assistência aos desempregados, entre outras medidas. Esta Constituição sofreu várias emendas, “A partir do golpe de 1964, a Constituição de 1946 sofreu múltiplas emendas e suspensão de vigência de muitos de seus artigos.” (ALKMIM, 2009, p. 190). Essas emendas vigoraram graças aos militares que impuseram poder e perseguiam os que eram a favor do Presidente que foi destituído (expulso) do cargo. Conforme Alkmim (2009, p. 190): “Esses atos institucionais eram o reflexo do governo militar então instaurado, que passou a efetuar prisões arbitrárias de todos os que seguiam o Presidente deposto ou que simplesmente protestavam contra o regime de autoritarismo então inaugurado”. Com os militares no poder, uma nova Constituição vigoraria, sob um governo autoritário que não se importava muito com a vontade do povo. Segundo Alkmim (2009, p. 191): “Assim, em 24 de janeiro de 1967, foi promulgada a nova Constituição, elaborada e votada sob pressão de um governo ilegítimo e por um Congresso Nacional que não representava os interesses da sociedade.” UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 54 A Constituição de 1946 teve forte influência das Constituições de 1891 e 1934. Esta Constituição sofreu várias emendas, essas emendas vigoraram graças aos militares que impuseram poder e perseguiam os que eram a favor do Presidente que foi destituído (expulso) do cargo. Com os militares no poder, uma nova Constituição vigoraria, sob um governo autoritário que não se importava muito com a vontade do povo. 5.6 CONSTITUIÇÃO DE 1967 Conforme Alkmim (2009, p. 191): “A Constituição promulgada em24 de janeiro de 1967 entra em vigor quando assumia a presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva”. A Constituição de 1967 é da ditadura militar, ou seja, com um governo autoritário, além disso, aumentou os poderes da União, diminuindo os poderes dos estados. Teve influência da Constituição de 1937 que foi outorgada por Getúlio Vargas. Alkmim (2009, p. 191) afirma: “Dado o seu forte contorno autoritário, sofreu nítida influência da Constituição de 1937, assimilando suas características básicas. Preocupou-se, basicamente, com a segurança nacional, incorporando as mudanças estabelecidas por meio dos atos institucionais.” Algumas das mudanças da Constituição de 1967, segundo Alkmim (2009, p. 191): [...] atualizou o sistema orçamentário, reformulou o sistema tributário nacional, instituiu normas de política fiscal, tendo em vista o desenvolvimento e o combate à inflação, reduziu a autonomia individual, permitindo a suspensão de direitos e de garantias constitucionais. De outro lado, definiu mais eficazmente os direitos dos trabalhadores. Havia dois partidos, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro que era contra os militares e a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, que apoiava os militares. Conforme Alkmim (2009, p. 191): “Nesse período, a representação partidária limitou-se a dois únicos partidos, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB e a Aliança Renovadora Nacional – ARENA, sendo o primeiro de oposição e o segundo representando a situação de apoio aos militares”. Em 1969, a Constituição teve uma emenda que obrigou uma nova Constituição, conforme Alkmim (2009, p. 191): “[...] em 30 de outubro de 1969, entrou em vigor a Emenda nº 1 à Constituição de 1967, que representava, na verdade a imposição de uma nova Constituição”. Silva apud Alkmim (2009, p. 191) complementa: ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 55 [...] teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova constituição. A Emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado, a começar pela denominação que se lhe deu: Constituição da República Federativa do Brasil, enquanto a de 1967 se chamava apenas Constituição do Brasil. Esta Constituição após a emenda de 1969 teve mais vinte e cinco emendas até que em 1985, novas emendas determinaram que fosse elaborada uma nova Constituição pela Assembleia Nacional, Constituição esta que perdura até os dias atuais e já sofreu várias alterações, a nossa atual Constituição de 1988. Segundo Alkmim (2009, p. 192): Essa Constituição foi modificada por outras vinte e cinco emendas, afora a de nº 26, de 27 de novembro de 1985, que convocou a Assembleia Nacional Constituinte para a elaboração da nova Constituição, promulgada a 05 de outubro de 1988 e que vige até os dias atuais, muito embora profundamente modificada ao longo dos anos, por inúmeras Emendas Constitucionais. A Constituição de 1967 é da ditadura militar, ou seja, com um governo autoritário, além disso, aumentou os poderes da União, diminuindo os poderes dos estados. Em 1969, a Constituição teve uma emenda que obrigou uma nova Constituição. Esta Constituição após a emenda de 1969 teve mais vinte e cinco emendas até que em 1985, novas emendas determinaram que fosse elaborada uma nova Constituição pela Assembleia Nacional, Constituição esta que perdura até os dias atuais e já sofreu várias alterações, a nossa atual Constituição de 1988. 5.7 CONSTITUIÇÃO DE 1988 Sabemos que a Constituição de 1988 é a atual Constituição do nosso País e que sofreu várias alterações desde que foi promulgada. Como vimos anteriormente, a Constituição de 1988 surgiu das diversas emendas da Constituição anterior, a de 1967, até que as últimas emendas determinaram que fosse feito projeto de uma nova Constituição. Alkmim (2009, p. 192) explica: “A Constituição brasileira de 1988 foi elaborada por Assembleia Nacional Constituinte, convocada por meio da Emenda Constitucional, [...] tendo sido instalada no dia 1º de fevereiro de 1987”. A Constituição de 1988 compreende nove títulos: 1) dos princípios fundamentais; 2) dos direitos e garantias fundamentais; 3) da organização do ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 56 Estado; 4) da organização dos poderes; 5) da defesa do Estado e das Instituições democráticas; 6) da tributação e do orçamento; 7) da ordem econômica e financeira; 8) da ordem social; 9) das disposições constituintes gerais. (ALKMIM, 2009). Foram introduzidos ainda preceitos sobre seguridade social, compreendendo saúde, previdência social, assistência social, ciência e tecnologia, comunicação, meio ambiente, criança, adolescente, idoso, índio, alargando-se, sobremaneira, o campo constitucional. (ALKMIM, 2009). Através de plebiscito foi determinada a forma e sistema de governo, onde venceu a república e o presidencialismo. Conforme Alkmim (2009, p. 193): Quanto à organização do Estado, foi mantida a forma federativa, a república e o sistema presidencialista, sendo que, em relação à forma e sistema de governo, foi estabelecida a realização de plebiscito após cinco anos, para que o povo pudesse decidir entre república e monarquia e entre presidencialismo e parlamentarismo. Como se sabe, venceu a república e o presidencialismo. Segundo Guimarães apud Alkmim (2009), a Constituição de 1988 se trata de uma Constituição cidadã, visto que contou com ampla participação popular em sua elaboração e, em especial, porque se volta decididamente para a plena realização da cidadania, muito embora os sucessivos governos que vieram após a sua promulgação pouco tenham feito para o seu pleno atingimento. Podemos afirmar que a Constituição evoluiu bastante e continua evoluindo para acompanhar a evolução da sociedade. “O certo é que a Constituição deve evoluir na medida em que também evolui a sociedade, não para ser violada ou afrontada, mas para adequar-se à sociedade à qual visa estruturar e organizar.” (ALCKMIM, 2009, p. 194). Sabemos que a Constituição de 1988 é a atual Constituição do nosso País e que sofreu várias alterações desde que foi promulgada. Através de plebiscito foi determinada a forma e sistema de governo, onde venceu a república e o presidencialismo. Podemos afirmar que a Constituição evoluiu bastante e continua evoluindo para acompanhar a evolução da sociedade. ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 57 LEITURA COMPLEMENTAR OS ENTES DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA 1 OS ESTADOS MEMBROS Como Estado federal que é, o Brasil é composto de estados federados que gozam, segundo já se ensinou, de autonomia. Autonomia significa etimologicamente autogoverno (mais exatamente, governo de si próprio de acordo com as regras por si próprio estabelecidas). Mas na linguagem usual do Direito Público significa governo de si próprio dentro do âmbito fixado (e limitado) por um poder mais alto, o poder soberano. Na estrutura federativa brasileira, a autonomia do Estado federado importa em auto-organização. Cada Estado federado se rege por uma Constituição que o seu Poder Constituinte estabelece. Mas este Poder Constituinte do Estado-Membro não é originário, é decorrente do Poder Constituinte originário que gerou como federativa a Constituição brasileira. Não é, pois, um poder ilimitado. Ao contrário, é um poder de auto-organização delimitado pela Constituição Federal, que fixa em parte a estruturação estadual. Com efeito, por um lado, a Constituição Federal impõe aos estados a observância, sob pena de intervenção federal, de alguns princípiosque devem ser adaptados pelo constituinte estadual às peculiaridades locais. São os princípios enumerados no art. 34, VII, da Constituição, ou seja; forma republicana, sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da administração pública, direta e indireta. Verifica-se que aos estados foi concedida maior autonomia de auto- organização do que aquela que lhes cabia no Direito anterior. A Constituição de 1967 previa a auto-organização dos estados, mas limitava-lhes extensamente esse poder, obrigando-os ao respeito de inúmeras regras, preordenando sua organização (EC no 1/69, art. 13), além de incorporar-lhes grande parte do Direito federal (CC no 1/69, art. 200). A Constituição vigente apenas determina aos estados o respeito aos seus princípios, que, como já se disse, são os previstos no art. 34, VII. Não é necessário repetir que esses estados têm uma competência própria, a que resta após excluir-se o que cabe à União ou aos municípios (art. 25, § 1º). Nem que têm eles receitas próprias resultantes, inclusive, de tributos privativos (art. 155). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 58 Igualmente não é preciso sublinhar que os poderes estaduais não estão sujeitos aos poderes federais correspondentes, como não o está a administração estadual à federal. 2 OS TERRITÓRIOS Como é sabido, a primeira Constituição republicana não previa a existência de territórios de onde surgiu difícil problema com a aquisição do Acre. Daí em diante fixou-se na doutrina e nos textos posteriores a ideia de que os territórios são estados em embrião. Não há na Constituição atual, como na anterior, critérios fixados para que se afira estar ou não o território em condições de se tornar estado. Por analogia, contudo, poder-se-ia aplicar o critério fixado pelo “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias” à Constituição de 1946, art. 9º, em relação ao Acre, isto é, igualarem as rendas do Território às do Estado de menor arrecadação. Essa transformação observará o procedimento fixado em lei complementar. Embora estados em embrião no plano político, no jurídico, os territórios são meras divisões administrativas da União, podendo ser divididos, redivididos ou reunidos por esta sem maiores dificuldades. Não têm autonomia política, pois são regidos por um governador nomeado pelo Presidente da República, mediante aprovação prévia do Senado, por voto secreto e com arguição Pública. Em regra, os territórios não têm órgão legislativo próprio. É o Congresso Nacional que vota os projetos de lei a eles referentes. O texto constitucional em vigor excepciona os territórios com população excedente de cem mil habitantes, determinando que disporão de Câmara Territorial que exercerá competência legislativa nos termos da lei (art. 33, § 3º). Remanesce, todavia, a competência do Congresso Nacional sobre sua organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública (art. 48, IX, c/c o art. 61, § 1º, II, b). Neles existe a autonomia administrativa, mas a soma de competências conferidas a seu órgão dirigente, de nomeação do executivo federal, pode variar de um para outro. Nos territórios, compete, como é lógico, à União arrecadar os tributos que a Constituição atribui aos Estados-Membros (art. 147). Igualmente, cabe à união exercer nos territórios as competências que seriam estaduais. Os territórios não têm, como tais, representação política. Não há lugar no Senado para representantes dos territórios. Todavia, o povo de cada território elege quatro deputados à Câmara Federal. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 59 O Território de Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Pernambuco pela nova Constituição. Note-se, porém, que hoje inexiste qualquer território. Os que existiam antes da vigência da Constituição atual foram pelo Ato das Disposições Constitucionais Transitórias transformados em Estados. Não estão sequer incluídos na Constituição vigente entre os entes federativos, ao contrário do que constava do direito anterior. FONTE: FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 36. ed. São Paulo: Saraiva 2010. 60 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • A Administração Pública é mais fácil de ser compreendida a partir do momento que se tem claro, o conceito de Estado, que por sua vez, é composto por três elementos: o povo, o território e o governo. • O governo se organiza em três poderes, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. • Cada poder do Estado tem funções típicas e atípicas. Como função típica do Poder Executivo é executar/administrar as leis, do Poder Legislativo é elaborar e fiscalizar as leis e do Poder Judiciário é aplicar/julgar as leis. • A Administração Pública se organiza para realizar as atividades de acordo com os objetivos do governo. • O Direito Administrativo rege as condutas da Administração Pública. • A Constituição é a lei máxima do País. • O Brasil está na oitava Constituição, a de 1988, que já sofreu várias alterações. 61 1 Quais são os elementos do Estado? a) ( ) O Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. b) ( ) O povo, o território e o Governo. c) ( ) As fontes do Direito Administrativo. d) ( ) A sociedade e os Municípios. 2 Complete as lacunas: (1)Território (2) Povo (3) Governo (4) Estado (5) Administração Pública ( ) É o componente humano do Estado. ( ) É o elemento condutor do Estado. ( ) É constituído de três elementos originários e indissociáveis. ( ) É a base física do Estado. ( ) Organiza-se para realizar as atividades de acordo com os objetivos do governo. A sequência CORRETA é: a) ( ) 5, 3, 2, 1, 4. b) ( ) 4, 3, 2, 5, 1. c) ( ) 2, 3, 4, 1, 5. d) ( ) 5, 4, 3, 1, 2. 3 O Estado é comandado pelo governo conforme a vontade de seu povo. O governo por sua vez, se organiza conforme os três poderes do Estado. Assinale V para verdadeiro e F para falso: a) ( ) Os poderes do Estado são o Executivo, Legislativo e Judiciário. b) ( ) Cada um dos três poderes exercem apenas sua função típica. c) ( ) O três poderes devem trabalhar com uma rígida separação, cada um exercendo sua função. d) ( ) Os três poderes do Estado devem trabalhar em harmonia, cada um com sua função e de forma independente, sem que exista uma separação entre eles, mas sim, uma complementação, trabalhando de forma integrada. AUTOATIVIDADE 62 Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F - F. b) ( ) V – V – V - F. c) ( ) V – F – F - V. d) ( ) F – V – V - F. 4 Sobre Constituição, assinale a alternativa CORRETA: I. A Constituição rege as condutas do Estado, sendo a lei máxima que deverá ser respeitada. II. A Constituição de 1988 é a atual Constituição do nosso País e já sofreu várias alterações. III. O Brasil já está na décima Constituição. IV. A primeira Constituição do Brasil foi outorgada em 1824 por D. Pedro I. a) ( ) I e IV estão corretas. b) ( ) Apenas a III está correta. c) ( ) I, II e IV estão corretas. d) ( ) Todas estão corretas. 63 TÓPICO 3 O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como vimos, Meirelles (2011, p. 65) conceitua a Administração Pública em sentido formal, como o “conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo”. Para isto, tem princípios a serem seguidos para que a Administração Pública seja realizada com ética e transparência. Neste tópico estudaremos os elementos que regem a Administração Pública, sendoos seus princípios constitucionais e os princípios reconhecidos da Constituição Federal, seguidos do Direito Administrativo que rege as condutas da Administração Pública em caráter jurídico. Também estudaremos sobre o processo legislativo brasileiro, que explica como ocorre a elaboração das leis. 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública deve ser dirigida baseada em alguns princípios para que seja ética e transparente. Moraes (2005, p. 98) explica que: O Capítulo VII, do Título III (Da organização do Estado), da Constituição da República Federativa do Brasil, consagra as normas básicas regentes da Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e proclama os princípios constitucionais essenciais para a probidade e transparência na gestão da coisa pública. Os princípios da Administração Pública são os seguintes: “princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade; princípio da eficiência.” (MORAES, 2008, p. 320). Os princípios básicos da Administração Pública têm como finalidade garantir a honestidade na execução das atividades. Segundo Moraes (2005, p. 99, grifo do autor): “Em ambas as Constituições, a constitucionalização dos princípios básicos da Administração Pública tem a mesma finalidade: garantir a honestidade na gerência da res publica e possibilitar a responsabilização dos agentes públicos que se afastarem dessas diretrizes obrigatórias”. 64 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O agente/administrador público deve executar apenas o que a lei autoriza. Tudo o que for fazer deverá estar previsto em lei. Já um administrador particular, pode executar o que quiser, desde que a lei não proíba. Conforme Moraes (2005, p. 99): [...] o administrador público somente poderá fazer o que estiver expressamente autorizado em lei e nas demais espécies normativas, inexistindo incidência de sua vontade subjetiva, pois na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza, diferentemente da esfera particular, onde será permitida a realização de tudo que a lei não proíba. 2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE OU FINALIDADE O princípio da impessoalidade, conforme Meirelles (2011, p. 93, grifo do autor), nada mais é do que o princípio da finalidade: “O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. [...] de forma impessoal.” Todo ato que o agente/administrador público praticar, deverá ser de interesse público, não de interesse pessoal ou de terceiros. Meirelles (2011, p. 93, grifo do autor) explica: “Desde que o princípio da finalidade exige que o ato seja praticado sempre com finalidade pública, o administrador fica impedido de buscar outro objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros.” Dessa forma, este princípio serve também, “para excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas (CF, art. 37 § 1º).” (MEIRELLES, 2011, p. 93). 2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE Como o próprio nome sugere, o princípio da moralidade está ligado com a moral e a ética da conduta do agente/administrador público na execução das suas atividades na Administração Pública. Hauriou apud Meirelles (2011, p. 90) explica que: [...] o agente administrativo, como ser humano dotado de capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético da sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o importuno, mas também entre o honesto e o desonesto. TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 65 Nem tudo que é legal é honesto, “Por considerações de Direito e Moral, o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto [...].”. (HAURIOU apud MEIRELLES, 2011, p. 90). Assim como o ser humano tem a moral comum (externa), quando atua como administrador/agente público deverá praticar a moral administrativa (interna), onde, como já vimos, a finalidade da ação do agente/administrador público deverá ser o bem comum. Conforme Hauriou apud Meirelles (2011, p. 90, grifo do autor): “A moral comum, [...] é imposta ao homem para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum.”. 2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Todo ato administrativo deve ser publicado, pois o povo tem o direito de estar informado dos atos públicos que possam lhe interessar e intervir de forma legal se achar necessário. Conforme Meirelles (2011, p. 96): Em princípio, todo ato administrativo deve ser publicado, porque pública é a Administração que o realiza [...] O princípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através dos meios constitucionais [...]. Há exceção, quando, por segurança nacional, algum ato seja sigiloso, “[...] só se admitindo sigilo nos casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso nos termos da Lei no 8.191, e pelo Dec. no 2.134, de 24.1.97.” (MEIRELLES, 2011, p. 96, grifo do autor). Sem dúvidas, existem casos onde o que deveria ser publicado, não é sob falso argumento. Meirelles (2011, p. 96), explica: “Lamentavelmente, por vício burocrático, sem apoio em lei e contra a índole dos negócios estatais, os atos e contratos administrativos vêm sendo ocultados dos interessados e do povo em geral, sob o falso argumento de que são “sigilosos”, quando, na realidade, são públicos e devem ser divulgados [...].”. 2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA Este princípio exige que o agente/administrador público execute suas atividades com eficiência, agilidade, dedicação e perfeição. Para Meirelles (2011, p. 98, grifo do autor): “O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional”. 66 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Moraes (2005, p. 109, grifo do autor) complementa: O princípio da eficiência vem reforçar a possibilidade do Ministério Público, com base em sua função constitucional de zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promover as medidas necessárias, judicial e extrajudicialmente, a sua garantia (CF, artigo 129, II). Como características básicas, o princípio da eficiência, segundo Moraes (2005, p. 109), são: “[...] direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do bem comum, imparcialidade, neutralidade, transparência, participação e aproximação dos serviços públicos da população, eficácia, desburocratização e busca da qualidade [...]”. 3 PRINCÍPIOS RECONHECIDOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De acordo com Moraes (2005, p. 116): “Além dos princípios constitucionais, previstos no caput do artigo 37 da Constituição Federal, existem princípios infraconstitucionais básicosque regem a Administração Pública, em consonância com os preceitos da Carta Magna [...]”. A Carta Magna é a Constituição Federal, ambos os termos têm o mesmo significado, representam a lei máxima do país. Os princípios reconhecidos da Administração são: “[...] supremacia do interesse público, presunção de legitimidade ou de veracidade; especialidade, controle administrativo ou tutela, autotutela, hierarquia, continuidade do serviço público, motivação.”. (MORAES, 2005, p. 116, grifo do autor). 3.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO Este princípio determina que todo serviço público deverá ter efetividade em atingir o bem comum. “O princípio da supremacia ou preponderância do interesse público, também conhecido por princípio da finalidade pública, consiste no direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do bem comum”. (MORAES, 2005, p. 116). NOTA TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 67 Segundo Moraes (2005, p.116, grifo do autor): “A Constituição Federal prevê no inciso IV, do artigo 3º, que constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. O princípio da supremacia do interesse público tem uma forte ligação com o princípio da finalidade que já estudamos no item 2.2 desta unidade. Para Meirelles (2011, p. 105-106): “O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da finalidade. A primazia do interesse público sobre o privado é inerente à atuação e denomina-a, na medida em que a existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral [...].” 3.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE E DE VERACIDADE Este princípio é devido para executar determinados atos sempre que for presumido legal e verdadeiro. Se gerar obrigação ao particular, o mesmo deverá cumpri-la mesmo que seja contra sua vontade. “[...] os atos, condutas e decisões administrativas, por serem considerados verdadeiros e legais, são de execução imediata, e podem criar deveres e obrigações ao particular, independentemente de sua aceitação”. (MORAES, 2005, p. 117). O agente/administrador público se torna responsável e deverá responder por seus atos, e neste princípio, que é muito relativo, se a decisão for comprovada ilícita, trará consequências ao agente/administrador público. Moraes (2005, p. 117), explica: “Obviamente, por tratar-se de presunção relativa, sempre haverá a possibilidade de comprovar-se a ilegalidade ou mesmo a falsidade das decisões administrativas, consequentemente, os servidores públicos”. 3.3 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE Estudaremos na próxima unidade sobre a Administração Direta e Indireta. Este princípio da especialidade está interligado com a Administração Indireta. Administração Indireta é o Poder descentralizado, quando terceiros realizam serviço em nome do Estado. “Esse princípio refere-se às entidades integrantes da Administração Pública indireta e dotadas de personalidade jurídica de direito privado, criadas com o objetivo de prestação de serviços públicos ou exploração de atividade econômica.” (MORAES, 2005, p. 117-118). Essas entidades deverão estar de acordo com os critérios previstos em lei impostos pelo Estado. Conforme Moraes (2005, p. 118): A Constituição Federal, em seu artigo 37, inciso XIX, determina que somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. 68 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Sendo assim, todos os prestadores de serviços públicos deverão estar alinhados com os princípios e leis impostas pelo Estado, neste caso estudado, segundo Moraes (2005, p. 118): “[...] no caso das autarquias, a incidência do princípio da especialidade impedirá o afastamento, no exercício de suas atividades, das finalidades e dos objetivos determinados na lei de sua criação [...].” Já no caso “[...] das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das fundações, a especialidade refere-se à obrigatoriedade de obediência às áreas de atuação fixadas pela lei complementar a que se refere o inciso XIX, no artigo 37, e as suas finalidades previstas na lei que autorizará sua instituição.” (MORAES, 2005, p. 118). 3.4 PRINCÍPIO DO CONTROLE ADMINISTRATIVO OU TUTELA Este princípio tem como finalidade a Administração Pública Direta fiscalizar a Administração Pública Indireta, se sua conduta está de acordo com o que está fixado em lei. Ou seja, podemos dizer que o princípio do controle administrativo ou tutela, fiscaliza se o princípio da especialidade é posto em prática. Segundo Moraes (2005, p. 118): Trata-se de corolário ao princípio da especialidade, uma vez que surgiu da necessidade de assegurar que os entes da Administração Pública indireta respeitem estritamente as finalidades e os objetivos determinados em lei para suas atuações. Dessa forma, caberá à Administração Pública direta, na forma e limites previamente fixados em lei, a fiscalização das atividades dos entes da Administração Pública indireta, com o objetivo de garantir o cumprimento de suas finalidades institucionais. Apesar de a Administração Direta impor as leis que devem ser obedecidas, a Administração Indireta tem certa autonomia e a Administração Direta só poderá fiscalizar por meio legal. “[...] em virtude da independência e autonomia existentes nas entidades da Administração Pública indireta e definida em lei, igualmente somente por meio de previsão legal haverá a possibilidade de controle por parte da Administração direta.” (MORAES, 2005, p. 118). 3.5 PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA ADMINISTRATIVA O princípio da autotutela administrativa concede à Administração Pública o direito de anular seus próprios atos caso julgar ilegal ou contra os princípios pelos quais deve zelar. Moraes (2005, p. 118-119) explica: A Administração Pública tem dever de zelar pela legalidade, moralidade e eficiência de seus atos, condutas e decisões, bem como por sua adequação ao interesse público, e pode anulá-los se considerá-los ilegais ou imorais e revogá-los caso entenda que os mesmos são inoportunos e inconvenientes, independentemente da atuação do Poder Judiciário. TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 69 3.6 PRINCÍPIO DA HIERARQUIA O princípio da hierarquia presume que deverá existir hierarquia entre os órgãos públicos para que exista a devida coordenação do chefe em relação aos seus subordinados nas atividades executadas. Conforme Moraes (2005, p. 119): “A estruturação da Administração Pública cria uma relação de coordenação e subordinação entre os vários órgãos administrativos, o poder hierárquico caracteriza-se pela autoridade do chefe sobre seus subordinados no exercício de suas funções estabelecidas em lei.” Este princípio incide sob as funções administrativas, não cabe às funções legislativas, judiciárias e do Ministério Público, pois estes têm autonomia funcional. Conforme Moraes (2005, p. 119): “O princípio da hierarquia tem incidência nas funções administrativas, e não se aplica nas funções legislativas, judiciárias e do Ministério Público, nas quais a Constituição Federal consagrou expressamente o princípio da autonomia funcional.”. De acordo com Moraes (2005), algumas atividades do princípio da hierarquia são: unidade de direcionamento das funções administrativas; possibilidade de revisão dos atos dos subordinados; possibilidade de delegaçãoe avocação de atribuições; dever de vigilância para com os subordinados; possibilidade de delegação e avocação de atribuições; dever de vigilância para com os subordinados; dever de obediência dos subordinados; existência de mecanismos de resolução de conflitos de atribuições. 3.7 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO O princípio da motivação defende a ideia de que todo ato administrativo deverá ter uma causa, de preferência prevista em lei, conforme Meirelles (2011, p. 103): “A motivação, portanto, deve apontar a causa e os elementos determinantes da prática do ato administrativo, bem como o dispositivo legal em que se funda”. Pela motivação, segundo Meirelles (2011 p. 103): “[...] o administrador público justifica sua ação administrativa, indicando os fatos (pressupostos de fato) que ensejam o ato e os preceitos jurídicos (pressupostos de direito) que autorizam sua prática”. 3.8 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO O princípio da continuidade do serviço público se refere aos serviços essenciais que não podem ser suspensos, como por exemplo, na área da saúde. Conforme Moraes (2005, p. 121): “A atividade da Administração Pública é ininterrupta, e não se admite paralisação nos serviços públicos básicos, cujas funções são essenciais ou necessárias a toda coletividade, como por exemplo, os serviços de saúde, justiça, segurança pública, transportes, entre outros”. 70 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4 DIREITO ADMINISTRATIVO O Direito Administrativo surgiu da necessidade de leis para o funcionamento da Administração Pública. Conforme Meirelles (2011, p. 38, grifo do autor): “A escola francesa, capitaneada por Ducrocq, Batbie e Gianquinto, sustenta que o Direito Administrativo se detém no estudo do sistema de leis que regem a Administração Pública.” O conceito de Direito Administrativo varia muito de país para país. “A diversidade das definições está a indicar o desencontro doutrinário sobre o conceito de Direito Administrativo, variando o entendimento consoante a escola e o critério adotado pelos autores que procuram caracterizar seu objeto e demarcar sua área de atuação”. (MEIRELLES, 2011, p. 39). Para Meirelles (2011, p. 39) o conceito de Direito Administrativo no Brasil não tem coerência com os conceitos estrangeiros: “A doutrina estrangeira não nos parece habilitada a fornecer o exato conceito do Direito Administrativo Brasileiro [...].” O Direito Administrativo Brasileiro, “para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado.” (MEIRELLES, 2011, p. 40, grifo do autor). Meirelles (2011, p. 40, grifo do autor) explica individualmente cada elemento do conceito do Direito Administrativo Brasileiro: Conjunto harmônico de princípios jurídicos... significa que a sistematização de normas doutrinárias de Direito. [...] que regem os órgãos, os agentes... indica que ordena a estrutura e o pessoal do serviço público; e as atividades públicas...isto é, a seriação de atos da Administração Pública, praticados nessa qualidade, e não quando atua, excepcionalmente, em condições de igualdade com o particular, sujeito às normas do Direito Privado; tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado. Aí estão a caracterização e a delimitação do objeto do Direito Administrativo. Os três primeiros termos – concreta, direta e imediatamente – afastam a ingerência desse ramo do Direito na atividade estatal abstrata que é a legislativa, na atividade indireta que é a judicial, e na atividade mediata que é a ação social do Estado. [...] – fins desejados pelo Estado – estão a indicar que ao Direito Administrativo não compete dizer quais são os fins do Estado. De forma objetiva, podemos afirmar que “O Direito Administrativo apenas passa a disciplinar as atividades e os órgãos estatais ou a eles assemelhados, para o eficiente funcionamento da Administração Pública.” (MEIRELLES, 2011, p. 40). TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 71 No fim desta unidade, a leitura complementar irá abordar as fontes do Direito Administrativo. 5 PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO Um dos princípios mais relevantes na Administração Pública, senão o mais relevante é o princípio da legalidade, ou seja, a Administração Pública só pode fazer o que está expresso em lei. Logo, não se pode falar em Administração Pública sem falar em lei. A Administração Pública é dependente das leis. Por esse motivo, é importante conhecer um pouco sobre o processo legislativo. Conforme Moraes apud Cantergi (2007, p. 8), o processo legislativo sob a ótica jurídica é: “[...] o conjunto coordenado de disposições que disciplinam o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na produção das leis e atos normativos que derivam diretamente da própria constituição.” Silva apud Cantergi (2007, p. 8) destaca que: “[...] processo legislativo é o conjunto de atos (iniciativa, emenda, votação, sanção) realizados pelos órgãos legislativos e órgãos cooperadores para o fim de promulgar leis.” Com base nisso, entendemos que o processo legislativo nada mais é do que as etapas para elaboração das leis. A própria Constituição Federal, no artigo 59 estabelece o processo legislativo (2005, p. 26): Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I – emendas à Constituição; II – leis complementares; III – leis ordinárias; IV – leis delegadas; V – medidas provisórias; VI – decretos legislativos; VII – resoluções. “De acordo com a organização política do Estado, é possível vislumbrar quatro modalidades distintas de processo legislativo: autocrático, direto, representativo e semidireto.” (CANTERGI, 2007, p. 8). O processo legislativo é autocrático quando compete ao próprio governo elaborar as leis, sem participação de órgãos legislativos ou cidadãos; é direto quando a lei é discutida, votada e promulgada pelo povo; é representativo quando NOTA 72 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA existe um órgão específico com a função de produzir normativas, o povo escolhe seus representantes e lhe atribui essa tarefa; e é semidireto quando a formação da lei depende de acordo entre vontades do órgão legislativo representante dos cidadãos e entre a vontade do povo. (CANTERGI, 2007). Com relação ao processo legislativo semidireto, Cantergi (2007, p. 9) afirma que: “[...] os projetos de leis elaborados pelos representantes populares somente adquirem validade e eficácia se ratificados pelos cidadãos, os quais se manifestam por meio do exercício do referendo.” No caso do Brasil, geralmente utiliza-se o sistema representativo, entretanto, não é vedado o uso de referendo para garantir a aplicabilidade de lei a ser editada. (CANTERGI, 2007). Mas afinal, quem elabora as leis? Segundo Brancato (2009, p. 30): “A competência constitucional para elaboração de leis é do Poder Legislativo, mas o Poder Executivo também colabora na sua feitura, por meio da sanção e da publicação.” O processo legislativo inclui as seguintes etapas: “[...] iniciativa, tramitação, votação, sanção/veto, promulgação e publicação.” (OCB, 2011, p. 20). A iniciativa é a apresentação do projeto ou proposta de lei. A tramitação e votação é a etapa em que os deputados, senadores ou vereadores (dependendo da esfera em que está sendo proposta a lei) irão analisar o projeto e votar. Quanto à sanção ou veto, se o projeto for aprovado dizemos que houve sanção, caso contrário, houve veto, ou seja, recuso aoprojeto de lei. Conforme Filho (2010, p. 223), a sanção “[...] é que transforma o projeto aprovado pelo Legislativo em lei.” A aprovação das proposições legislativas também depende do quórum, a “Regra geral [...] é de maioria simples, contudo, existem proposições que necessitam de uma maioria qualificada [...].” (OCB, 2011, p. 31). Observe o quadro a seguir: QUADRO 3 - QUÓRUM DE APROVAÇÃO Proposição Quórum Projeto de Lei Ordinária Maioria Simples Maioria (metade + 1) dos presentes na sessão. Medida Provisória Projeto de Decreto Legislativo Projeto de Lei Complementar Maioria Absoluta Maior ia (metade + 1 ) dos membros da Casa Parlamentar. Proposta de Emenda à Constituição Maioria Qualificada 3/5 dos membros da Casa Parlamentar. FONTE: OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras (2011, p. 31) TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 73 Quanto à promulgação, Filho (2010, p. 229) afirma que “por força do art. 66, § 7º, da Constituição, o Presidente deverá promulgar o ato, dentro do prazo de quarenta e oito horas decorridas da sanção, expressa ou tácita, ou da comunicação da rejeição do veto.” Ou seja, a promulgação nada mais é do que a determinação da sanção ou veto do projeto de lei. A última etapa é a publicação que é a comunicação da existência da lei, pode-se dizer que é a comunicação da promulgação. Não se pode confundir promulgação com publicação. Promulgação determina se aprova ou não o projeto de lei, já a publicação comunica/informa a existência da lei que entra em vigor. Para Filho (2010, p. 230), “promulgação e publicação são atos juridicamente distintos. Aquela atesta, autentica a existência de um ato normativo válido, executável e obrigatório. Esta “comunica” essa existência aos sujeitos a que esse ato normativo se dirige. Esta é notícia daquela. E a notícia de um fato não se confunde com o fato”. 5.1 ESPÉCIES NORMATIVAS O processo legislativo culmina na elaboração das espécies normativas elencadas no art. 59 da Constituição: emendas à Constituição; leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. As emendas modificam a Constituição Federal. É importante entender que: Não podem ser emendadas as denominadas cláusulas pétreas (CF, art. 60, § 4º) que se referem à forma federativa de Estado, ao voto direto, secreto, universal e periódico, à separação dos Poderes, e aos direitos e garantias individuais. Existem ainda cláusulas pétreas que são implícitas, como o próprio processo de alteração da Constituição. Ademais, a Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, do estado de defesa ou de estado de sítio. (OCB - ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2011, p. 60). As leis complementares regulamentam normas constitucionais. Segundo Lenza (2011, p. 531, grifo do autor): “As hipóteses de regulamentação da Constituição por meio de lei complementar estão taxativamente previstas no Texto Maior. Sempre que o constituinte originário quiser que determinada matéria seja regulamentada por lei complementar, expressamente, assim o requererá.” Tudo o que não for regulamentado por lei complementar, decreto legislativo e resoluções será regulamentado por lei ordinária. (LENZA, 2011). Conforme a OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras (2011, p. 39): “O texto constitucional se refere à lei ordinária apenas como lei, sem a utilização do adjetivo “ordinária”, visto que este está implícito. Mas quando quer diferenciá-la de outra espécie normativa, normalmente traz a expressão “lei ordinária”. 74 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A lei delegada é quando o Poder Legislativo delega poder ao Executivo para editar regras jurídicas. (FILHO, 2010). De acordo com Lenza (2011, p. 534, grifo do autor): “[...] o Legislativo pode delegar o poder de elaborar as regras tanto internamente, qual seja, para as Comissões temáticas, [...] como também externamente, para outro Poder, [...] tendo-se como bom exemplo a lei delegada.”. “Assim, o Legislativo brasileiro está habilitado a delegar o poder de editar regras jurídicas novas ao Poder Executivo, pelo seu chefe – delegação propriamente dita (art. 68).” (FILHO, 2010, p. 230). Com relação às medidas provisórias: [...] são espécies normativas que possuem força de lei e são editadas, pelo Presidente da República, em situações de urgência e relevância. Estas devem ser submetidas à apreciação do Congresso Nacional tão logo sejam publicadas no Diário Oficial (CF, art. 62). Em regra, os requisitos de relevância e urgência devem ser analisados primeiramente pelo Presidente da República (juízo discricionário) e posteriormente pelo Congresso Nacional. Excepcionalmente, o Poder Judiciário poderá fazer um controle de constitucionalidade dos pressupostos constitucionais, quando houver desvio de finalidade ou abuso do poder de legislar. (OCB – ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2011, p. 54). Segundo Lenza (2011, p. 550): “O decreto legislativo [...] é o instrumento normativo por meio do qual serão materializadas as competências exclusivas do Congresso Nacional [...].” Por exemplo, o Congresso aprova tratados ou atos internacionais através da edição do decreto legislativo. Convém destacar que os decretos legislativos não precisam ser sancionados ou vetados pelo Presidente da República, porque versam sobre matéria de competência do Congresso. (LENZA, 2011). Conforme Moraes (2008, p. 694): Resolução é ato do Congresso Nacional ou de qualquer de suas casas, tomado por procedimento diferente do previsto para a elaboração das leis, destinado a regular matéria de competência do Congresso Nacional ou de competência privativa do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados, mas em regra com efeitos internos; excepcionalmente, porém, também prevê a constituição resolução com efeitos externos, como a que dispõe sobre a delegação legislativa. [...] [A resolução] disporá sobre a regulação de determinadas matérias pelo Congresso Nacional, não incluídas no campo de incidência dos decretos legislativos [...] e da lei, além das matérias privativas da Câmara dos Deputados [...] e do Senado Federal [...]. TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 75 LEITURA COMPLEMENTAR FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO O Direito Administrativo abebera-se, para sua formação, em quatro fontes principais, a saber: a lei, a doutrina, a jurisprudência e os costumes. A lei, em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Administrativo, abrangendo esta expressão desde a Constituição até os regulamentos executivos. E compreende-se que assim seja, porque tais atos, impondo o seu poder normativo aos indivíduos e ao próprio Estado, estabelecem relações de administração de interesse direito e imediato do Direito Administrativo. A doutrina, formando o sistema teórico de princípios aplicáveis ao Direito Positivo, é elemento construtivo da Ciência Jurídica à qual pertence a disciplina em causa. A doutrina é que distingue as regras que convêm ao Direito Público e ao Direito Privado, e mais particularmente a cada um dos sub-ramos do saber jurídico. Influi ela não só na elaboração da lei como nas decisões contenciosas e não contenciosas, ordenando, assim, o próprio Direito Administrativo. A jurisprudência, traduzindo a reiteração dos julgamentos num mesmo sentido, influencia poderosamente a construção do direito, e especialmente a do Direito Administrativo, que se ressente de sistematização doutrináriae de condição legal. A jurisprudência tem um caráter mais prático, mais objetivo, que a doutrina e a lei, mas nem por isso se aparta de princípios teóricos que, por sua persistência nos julgados, acabam por penetrar e integrar a própria Ciência Jurídica. Outra característica da jurisprudência é o seu nacionalismo. Enquanto a doutrina tende a universalizar-se, a jurisprudência tende a nacionalizar-se, pela contínua adaptação da lei e dos princípios teóricos ao caso concreto. Sendo o Direito Administrativo menos geral que os demais ramos jurídicos, preocupa-se diretamente com a Administração de cada Estado, e por isso mesmo encontra, muitas vezes, mais afinidade com a jurisprudência pátria que com a doutrina estrangeira. A jurisprudência, entretanto, não obriga quer a Administração, quer o Judiciário, porque não vigora entre nós o princípio norte-americano do stare decises, segundo o qual a decisão judicial superior vincula as instâncias inferiores, para os casos idênticos. Para entender melhor as resoluções veja um exemplo prático: [...] o Congresso Nacional delegará competência ao Presidente da República para elaborar a lei delegada por meio de resolução; [...] o Senado Federal, por meio de resolução, fixará as alíquotas máximas no imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos, a ser instituído pelos estados e pelo DF. (LENZA, 2011, p. 560). 76 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O costume tem perdido muito de sua importância na construção do Direito, desde a Lei da Boa Razão (1769), que desautorizou seu acolhimento quando contrário à lei, até a promulgação do código Civil de 1916, que declarou revogados os “usos e costumes concernentes às matérias de Direito Civil” por ele reguladas (art. 1.807). Agora, foi praticamente afastado com a revogação, feita pelo art. 2.045 do CC/2002, da Parte Primeira do Código Comercial, na qual constavam os arts. 130 e 133, que o admitia expressamente desde que secundum legem. No Direito Administrativo Brasileiro o costume exerce ainda influência, em razão da deficiência da legislação. A prática administrativa vem suprindo o texto escrito, e, sedimentada na consciência dos administradores e administrados, a praxe burocrática passa a suprir a lei, ou atua como elemento informativo da doutrina. FONTE: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 37. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. 77 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • A Administração Pública deve ser dirigida baseada em alguns princípios legais para que seja ética e transparente. • Os princípios da Administração Pública são: princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade e princípio da eficiência. • A Constituição Federal ou a Carta Magna traz outros princípios além dos constitucionais, os princípios reconhecidos da Administração Pública. São eles: supremacia do interesse público, presunção de legitimidade ou de veracidade; especialidade, controle administrativo ou tutela, autotutela, hierarquia, continuidade do serviço público e motivação. • O Direito Administrativo surgiu da necessidade de leis para o funcionamento da Administração Pública. • O conceito de Direito Administrativo varia muito de país para país. • O Direito Administrativo Brasileiro pode ser conceituado como o conjunto de princípios jurídicos que regem os elementos (órgão, agentes, atividades públicas) que executam as atividades para atingir os objetivos do Estado. • O processo legislativo é composto por algumas fases até que um projeto de lei se efetive. Basicamente são: iniciativa, tramitação e votação, sanção ou veto, promulgação e divulgação. • As espécies normativas são: lei ordinária, lei complementar, medida provisória, emenda constitucional, decreto legislativo e resoluções. 78 1 Para que a Administração Pública seja executada com ética e transparência, deverá respeitar os _______________________________________. São eles: princípio da legalidade; princípio da ____________________; princípio da moralidade; princípio da publicidade e princípio da eficiência. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) Princípios Reconhecidos da Administração Pública, impessoalidade. b) ( ) Impessoalidade, Princípios Reconhecidos da Administração Pública. c) ( ) Impessoalidade, Princípios Constitucionais da Administração Pública. d) ( ) Princípios Constitucionais da Administração Pública, impessoalidade. 2 Os princípios reconhecidos da Administração Pública são: a) ( ) Princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade; princípio da eficiência e princípio da razoabilidade. b) ( ) Princípio da supremacia do interesse público, princípio da presunção de legitimidade ou de veracidade, princípio da especialidade, princípio do controle administrativo ou tutela, princípio da autotutela, princípio da hierarquia, princípio da continuidade do serviço público, princípio da motivação. c) ( ) Princípio da impessoalidade, princípios da hierarquia. d) ( ) Princípio da moralidade; princípio da publicidade; princípio da eficiência e princípio da motivação. 3 Assinale V para verdadeiro ou F para falso: ( ) O conceito de Direito Administrativo é o mesmo em todos os países. ( ) O Direito Administrativo surgiu da necessidade de leis para o funcionamento da Administração Pública. ( ) O Direito Administrativo Brasileiro pode ser conceituado como o conjunto de princípios jurídicos que regem os elementos (órgão, agentes, atividades públicas) que executam as atividades para atingir os objetivos do Estado. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) V – F - F. b) ( ) V – F - V. c) ( ) F – V - V. d) ( ) F – V - F. AUTOATIVIDADE