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1 APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo. Estamos iniciando nossos trabalhos e, nos próximos meses, ficaremos constantemente em contato. A distância será apenas aparente, pois estaremos, na verdade, liga- dos através da tecnologia que a modernidade nos proporciona. Nós, enquanto seres pensantes e bem informados, não podemos abrir mão das inovações que o século XXI nos apresenta. Imagine-se fazendo uma viagem de turismo pela cidade em que você mora. Você já co- nhece tudo, já viu tudo que qualquer guia local possa lhe mostrar. Que novidades poderão exis- tir em locais que a gente percorre diariamente? Em prédios que a gente viu construir? Em ruas das quais se conhece cada buraco? Experimente fazer tal viagem sem essa idéia preconcebida e você verá coisas que nunca viu, se apaixonará por paisagens que nunca antes havia observado. Em sua própria cidade. Verá ângulos novos de paisagens. Paisagens há muito conhecidas. Convidamos você a fazer uma viagem de observação pelo mundo da economia. Essa via- gem não será muito diferente do que viajar por sua própria cidade. Afinal, todos nós lemos, ouvimos, vivemos o dia-a-dia e nos sentimos envolvidos por economia. Nossa incursão por essa ciência pretende ser a mais aprazível possível. Não pretende esta disciplina ser um curso de alta especialização, mas um aprendizado novo sobre aquilo que já vivemos, mas às vezes não temos tempo de observar. Na verdade, talvez nunca tenhamos para- do para pensar que, ao viver e conviver com nossos amigos, com nossa família, nossos negó- cios, estejamos sendo protagonistas de algo que também é ciência. A disciplina à qual você está sendo apresentado tem o objetivo de mostrar informações e instrumentos para que você possa mais facilmente identificar os fatos econômicos e compreen- der o funcionamento das economias de mercado, do ponto de vista da Ciência Econômica. Ao seu final, espera-se que você, além de ter gosto pelos temas econômicos, possa melhor compre- ender os principais aspectos da realidade econômica e conhecer os mercados de bens e de servi- ços, de trabalho, monetário e cambial, internacional e saber relacionar essa teoria à sua área de interesse e de atuação profissional. 2 APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES Erico Michels é mestre em gestão de negócios pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (UCES-Argentina) e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professor nos cursos de Ciências Econômicas e Superiores de Tecnologia em Gestão da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Ney Oliveira está cursando doutorado pela Universitat de les Iles Balears (UIB-Espanha) é es- pecialista em Administração de Marketing pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNI- SINOS) e bacharel em Ciências Econômicas pela UNISINOS. É professor nos cursos de Ciên- cias Econômicas e Superiores de Tecnologia em Gestão da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Sandro Wollenhaupt é mestre em Administração pela Universidade Fernando Pessoa de Portu- gal/Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI e bacharel em Ciências Econômicas pela Uni- versidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). É professor nos cursos de Ciências Econômi- cas e Superiores de Tecnologia em Gestão da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). 3 CAPÍTULO 1 1 FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA ECONÔMICA Este capítulo tem como objetivo apresentar a compreensão das características básicas da ciência econômica, destacando o seu objeto de estudo, além de mostrar uma breve retrospectiva dos principais pensadores da economia. Sugere-se que o aluno utilize este material estudando os temas na ordem proposta, uma vez que estes são apresentados do mais simples ao mais complexo, com vista à construção gra- dual de seu conhecimento. 1.1 CONCEITO, OBJETO E MÉTODO DA CIÊNCIA ECONÔMICA Etimologicamente, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei). Seria a “administração da casa”, que pode ser generalizada como “administração da coisa públi- ca”. Economia pode ser definida como a ciência social que estuda a maneira pela qual os ho- mens decidem empregar recursos escassos, a fim de produzir diferentes bens e serviços e aten- der às necessidades de consumo. Assim, é uma ciência social, já que objetiva atender às necessidades humanas. Mas de- pende de restrições físicas, devido à escassez de recursos ou de fatores de produção (mão-de- obra, capital, terra, matéria-prima). Pode-se dizer que o objeto de estudo da ciência econômica é a questão da escassez, ou seja, como ‘‘economizar’’ recursos. A escassez surge devido às necessidades humanas ilimitadas e à restrição física de recur- sos. Afinal, o crescimento populacional renova as necessidades biológicas; o contínuo desejo de elevação do padrão de vida e a evolução tecnológica fazem com que surjam “novas” necessida- des (computador, freezer, DVD, automóvel). Nenhum país, pobre ou rico, dispõe de todos os recursos produtivos para satisfazer às necessidades da população. O Japão, por exemplo, precisa importar a maior parte das matérias-primas que utiliza. Se não houvesse escassez de recursos, ou seja, se todos os bens fossem abundantes (bens livres), não haveria necessidade de estudarmos questões como inflação, crescimento econômico, deficit no balanço de pagamentos, desemprego. Esses problemas simplesmente não existiriam (e, obviamente, nem a necessidade de estudar economia). Todas as sociedades (sejam economias de mercado, sejam centralizadas) são obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que os recursos não são abundantes. Elas são 4 obrigadas a fazer escolhas sobre O QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM (que são os problemas econômicos fundamentais de toda e qualque economia) produzir: O que e quanto produzir – A sociedade deve decidir se produz mais bens de consu- mo ou bens de capital ou, como num exemplo clássico: quer produzir mais canhões ou mais manteiga? Em que quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a pro- dução de mais bens de consumo ou de bens de capital? No fundo, trata-se de uma de- cisão que extrapola a esfera puramente econômica. Em economias de mercado, o que e quanto produzir é sinalizado pelos consumidores (o que é chamado de “soberania do consumidor”). Em economias planificadas ou centralizadas, tipo chinesa, cubana e, até recentemente, soviética, a decisão é tomada por um Órgão Central de Planeja- mento. Como produzir – Trata-se de uma questão de eficiência produtiva: serão utilizados métodos de produção de capital intensivos? Ou de mão-de-obra intensivos? Ou de terra intensivos? Isso depende da disponibilidade de recursos de cada país. Para quem produzir – A sociedade deve decidir quais os setores que serão benefici- ados na distribuição do produto: trabalhadores, capitalistas ou proprietários da terra? Agricultura ou indústria? Mercado interno ou mercado externo? Região Sul ou Nor- te? Ou seja, trata-se de decidir como será distribuída a renda gerada pela atividade econômica. Uma das áreas da economia que busca analisar as melhores formas de responder a essas perguntas é a teoria macroeconômica. A macroeconomia trata da evolução da economia como um todo, analisando a determinação e o comportamento dos grandes agregados, como renda e produto nacionais, investimento, poupança e consumo agregados, nível geral de preços, empre- go e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balanço de pagamentos e taxa de câmbio. Ao estudar e procurar relacionar os grandes agregados, a macroeconomia negligencia o comportamento das unidades econômicas individuais, tais como famílias e firmas, fixação de preços nos mercados específicos,efeitos de oligopólios em mercados individuais etc. Essas são preocupações da microeconomia. A macroeconomia trata os mercados de forma global. Por exemplo: no mercado de bens e serviços, agrega produtos agrícolas, industriais e serviços de transporte; no mercado de trabalho, não se preocupa com diferenças na qualificação, sexo, ida- de, origem da força de trabalho. O custo dessa abstração é que os pormenores omitidos são, muitas vezes, importantes.Por exemplo, quando tomamos apenas o nível da taxa de juros, não são destacadas devidamente as diferenças entre os vários tipos de aplicações financeiras. A abstração, porém, tem a vantagem de permitir estabelecer relações entre grandes agre- gados e proporcionar melhor compreensão de algumas das interações mais relevantes da eco- nomia, que se estabelecem entre os mercados de bens e serviços, de trabalho e de ativos finan- 5 ceiros e não-financeiros. Entretanto, apesar do aparente contraste, não há um conflito básico entre a micro e a ma- croeconomia, dado que o conjunto da economia é a soma de seus mercados individuais. A dife- rença é primordialmente uma questão de ênfase, de enfoque. Ao estudar a determinação de pre- ços numa única indústria, na microeconomia, consideram-se constantes os preços das outras indústrias (a hipótese de coeteris paribus). Na macroeconomia, estuda-se o nível geral de pre- ços, ignorando as mudanças de preços relativos de bens das diferentes indústrias. A teoria macroeconômica propriamente dita preocupa-se mais com questões conjunturais, de curto prazo. Especificamente, preocupa-se com a questão do desemprego (entendido como a diferença entre a produção efetivamente realizada e a produção potencial da economia, quando todos os recursos estejam totalmente empregados) e com a estabilizacão do nível geral de pre- ços. A parte da teoria econômica que estuda o comportamento dos grandes agregados ao longo do tempo é denominada teoria do crescimento econômico1. Seu enfoque é um pouco diferencia- do, preocupando-se com questões como progresso tecnológico e política industrial, que envol- vem políticas de longo prazo. 1.1.1 Método na ciência econômica Quanto ao método em economia, três aspectos devem ser levados em consideração: como a análise dos fenômenos decorrentes do comportamento humano é complexa, a economia utiliza hipóteses simplificadoras para explicar os fenômenos que anali- sa; a ciência econômica preferencialmente relaciona duas variáveis para explicar um fa- to econômico (por exemplo: a relação existente entre o preço e o consumo de um bem); freqüentemente você se deparará com a chamada análise marginal. Diferente do que o nome possa sugerir, essa forma de analisar os fatos econômicos busca rela- cionar as variáveis segundo o seu incremento (crescimento, aumento) relacionado a um aumento unitário de outra variável. Por exemplo: quanto aumentará o custo total de uma empresa se aumentar a produção em uma unidade de produto? Esse será o custo marginal da produção daquela unidade a mais. É cedo para aprofundar esse tema. Retornaremos a ele mais adiante, em nossa viagem, recém-iniciada. Ainda sobre a metodologia própria da ciência econômica e sobre os seus métodos de in- vestigação, é necessário distinguir dois grandes compartimentos da economia: a economia posi- tiva e a economia normativa. A ECONOMIA POSITIVA se ocupa de analisar os atos e fatos sociais tais quais eles ocor- rem, sem utilizar juízos de valor. Na prática, a economia positiva estuda os fatos sociais, obser- 6 va-os sistematicamente (segundo metodologia própria das ciências sociais) e dessa análise e descrição cientificamente elaborada são formulados os princípios gerais, as leis da economia, as teorias e os modelos econômicos. Se deduzem ou são induzidas as teorias econômicas, os prin- cípios econômicos, as leis da economia, os modelos econômicos. Com certeza você já ouviu falar muitas vezes de duas leis da economia: a Lei da Oferta e a Lei da Procura. Essas são duas entre outras tantas leis e princípios que compõem a economia positiva. Todas as leis, princípios, modelos e teorias necessitam permanentemente ser analisados e confrontados com a realidade, para verificação de sua validade e atualização. Por outro lado, a ECONOMIA NORMATIVA se ocupa de utilizar princípios, leis e teorias para produzir modificações e propor um direcionamento ao curso natural da economia: são as políticas econômicas. A economia normativa está fortemente vinculada à política, à ideologia e ao sistema de valores. Exemplificando: as políticas econômicas sempre buscarão alcançar um objetivo social específico: debelar a inflação, melhor distribuir a renda, desenvolver uma região ou todo o país, promover o crescimento ou o desenvolvimento de um setor da economia. Podemos resumir os compartimentos da economia no quadro 1, a seguir: Quadro 1: Síntese dos compartimentos da economia. ECONOMIA POSITIVA 1. Análise dos fatos do dia-a-dia com a metodologia das ciências sociais; 2. Criação da teoria econômica; 3. Análise econômica. ECONOMIA NORMATIVA 1. Proposição de políticas econômicas; 2. Avaliação dos resultados do ponto de vista político vigente. 1.2 SÍNTESE DO PENSAMENTO ECONÔMICO A história do pensamento econômico pode ser analisada desde as correntes filosóficas da Idade Antiga, como ocorreu na Grécia e em Roma, até as idéias contemporâneas modernas. Nessa evolução, apareceram idéias e sistemas conflitantes, que iam do liberalismo total até o intervencionismo completo. Mas notava-se um objetivo essencial, a construção de uma ciência que pudesse ajudar os homens na solução de um problema econômico fundamental: a conciliação entre escassez de recursos e necessidades crescentes. 7 1.2.1 Fisiocracia Tratava-se de uma doutrina da ordem natural – o universo era regido por leis naturais, imutáveis e universais desejadas pela providência divina para a felicidade dos homens. Os fisio- cratas, ao acreditarem em uma ordem natural que regula os fenômenos econômicos, aceitavam que a vida econômica se organiza e reorganiza de modo automático, com suas próprias forças, e, portanto, negavam a intervenção do estado na economia. Com os fisiocratas, é iniciado o desenvolvimento das explicações para os fenômenos eco- nômicos. Para eles, somente a terra e tudo que viesse da natureza era considerados fatores eco- nômicos produtivos. As atividades agrícolas e extrativas eram dadas como economicamente produtivas – o produto líquido decorria da terra e sobre ele produzia-se um excedente da riqueza criada sobre a riqueza consumida. Pode-se dizer que a fisiocracia foi uma doutrina organicista e naturalista, que recebeu influência do racionalismo do século XVIII. Muitos consideram as teo- rias de Quesnay2 meras extensões da doutrina escolástica, embora não deixem de reconhecer a natureza científica e analítica de sua obra. Em Quesnay, se formulam os princípios da filosofia social utilitarista (hedonismo), que se destaca com o quadro econômico, uma representação simplificada do fluxo de despesas e dos bens entre as diferentes classes sociais. Nessa época, surgem as máquinas e, com elas, o sistema industrial capitalista. 1.2.2 Escola clássica De cunho liberal, desenvolveu-se entre o fim do século XVIII e o início do século IX. O marco inicial está relacionado a Adam Smith e David Ricardo. Para esses autores, as leis natu- rais da vida econômica têm como princípio regulador a livre concorrência exercida pelos agen- tes econômicos. Concorrência que leva à divisão do trabalho, alavancando a produção, enquanto a natureza seria o fator originário. O corpo analítico daescola clássica tem quatro princípios dominantes: liberdade de empresa, existência da propriedade privada, liberdade de conjunto e liberdade de troca. Nesse princípio repousa e se fundamenta a lei da oferta de mercado. Adam Smith (1723-1790) Torna-se o apologista da nascente classe industrial e oponente aos privilé- gios e proteção concedidos pelo Estado no mercantilismo. Não acreditava na “or- dem natural” dos negócios. Confiava no egoísmo natural dos homens e na har- monia de seus interesses. Afirmava que todo esforço individual na procura do melhor leva naturalmente à preferência pelo emprego mais vantajoso para a soci- edade. Adam Smith enfatizava o mercado como regulador da divisão do trabalho, faz a distinção entre valor de uso e valor de troca e admite que só neste último há interesse econômico. O valor, para Smith, era distinto do preço; o trabalho era a medida do valor. Analisou a distribuição da renda entre salário, lucro e renda da 8 terra. Smith acreditava que a concorrência levaria ao desenvolvimento econômico e que os benefícios dele decorrentes seriam partilhados por todos. Thomas Robert Malthus (1766-1834) Com destaque na terminologia teórica e por ter colocado a economia em sólidas bases empíricas, Malthus ficou famoso com a Lei da População. Mostrou, através dessa lei, que a população fora de controle cresce a taxas geométricas, en- quanto os meios de subsistência crescem a taxas aritméticas. Seu pessimismo é criticado por não ter vislumbrado o progresso técnico e as técnicas de controle de natalidade. David Ricardo (1772-1823) Mais formal que Smith e Malthus, David Ricardo construiu um sistema abstrato cujas conclusões decorrem dos axiomas. Foi esse autor desenvolveu um importante estudo sobre a renda diferencial da terra e sobre o futuro do sistema capitalista. O ouro passou a ter significado importante na política econômica. No início, a Espanha detinha a liderança da posse do ouro. Os demais países, não tão bem-sucedidos nesse aspecto, procuravam uma compensação através de políticas econômicas que tornassem seus balanços de pagamento favoráveis, para que, des- se modo, por meio dos excedentes ou superavits, comprassem o ouro espanhol. Foi assim que floresceu uma indústria altamente regulamentada de bens exportá- veis que podia garantir, também, a demanda interna. Esse pensamento econômico existiu entre 1450 e 1750, constituindo-se em um regime de nacionalismo econômico, vale repetir, com centralização da ques- tão da riqueza como fim principal do Estado. Ele emerge de um processo crescen- te de urbanização, do surgimento das cidades e, portanto, da ampliação espacial do comércio. Operam-se grandes transformações sociais, econômicas e políticas: intelectuais: renascimento artístico; religiosas: reforma de Calvino e dos anglo-saxões, dando grande ênfase ao individualismo; o trabalho era enaltecido, o juro era aceito e o lucro encorajado; políticas: aparecimento do Estado moderno; geográficas: grandes descobertas – Cabral, Colombo, Magalhães e ou- tros navegadores; econômicas: todos os conceitos referentes ao balanço comercial, às im- portações e à exportações de bens, bem como as transações com ouro e prata e todos os conceitos econômicos ligados às transações externas – 9 seguro, frete, política de preços, deslocamento da importância econômi- ca do Mediterrâneo, regulamentação disciplinadora da indústria e do comércio para propiciar aos países um saldo positivo no balanço de pa- gamento. 1.2.3 Escola socialista – Karl Marx (1818-1883) O socialismo constituiu um movimento de reação contra os males do liberalismo, princi- palmente pela consideração do trabalho como uma mercadoria e, portanto, sujeito às leis do mercado. Os socialistas pretendiam substituir a ordem social baseada na liberdade individual, na propriedade privada e na liberdade contratual por uma outra ordem, fundamentada na proprie- dade coletivizada dos meios de produção. Essa escola pretendia corrigir as desigualdades eco- nômicas, dentro de formulações igualitárias, em função das necessidades comuns. Os movimen- tos e as teorias socialistas que se opuseram ao individualismo e desenvolveram-se com doutri- nas e programas de reformas bem diferentes. Podemos destacar as seguintes correntes: Socialismo de cátedra (1872) Apareceu na Alemanha. Essa vertente do socialismo pretendia, mesmo conservando a propriedade privada, regular a distribuição de riqueza e promover reformas de caráter econômico e social. O Estado entraria como cooperador, e não como absorvente, como se pretendia, no quadro geral do socialismo. Socialismo científico, histórico ou marxismo Deve-se a Karl Marx a fundação do socialismo científico, que se tornou a mais importante corrente socialista. Marx se opôs aos processos analíticos clássi- cos, bem como às suas conclusões; criticou Malthus com base nos diversos está- gios e modos de produção. Sua análise considera o significado da dinâmica inter- na do processo histórico e as suas leis econômicas peculiares. Marx alterou a aná- lise de valor, embora tenha se servido dos componentes teóricos da teoria do va- lor do trabalho de David Ricardo. Foi com Marx que apareceram os conceitos: mais-valia, capital variável, capital constante, exército de reserva. Analisou, tam- bém, o processo de decrescimento da taxa de lucro decorrente da acumulação do capital, da distribuição da renda e das crises do sistema capitalista. Dada sua im- portância, vejamos quais foram as bases filosóficas e a interpretação dos concei- tos econômicos dessa abordagem teórica socialista: Bases filosóficas do socialismo científico Marx partiu das idéias de Hegel, servindo-se do conceito de mo- vimento dialético, que vai da tese à antítese (negação da tese) e 10 que, num terceiro termo, chega, pelo choque recíproco dos dois primeiros, à síntese (negação da negação). Recusa o idealismo de Hegel – “não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”. É pelo homem que se explica a história, este se apresenta como uma vítima – a teoria da alienação, em que o homem projetou para fora de si a melhor parte de si mesmo e fez Deus. É necessário, dizia Marx, que o homem retome para si o que lhe pertence. O trabalhador aliena sua própria substância no pro- duto que realiza e do qual o empregador se apropria. Desse modo, o produto é o homem desintegrado. É preciso proceder à reinte- gração. Marx estuda o homem total e faz dele o rei do universo, como negação de toda transcendência. Materialismo histórico e a luta de classes Marx distingue na história a INFRA-ESTRUTURA, que é a técnica, as condições materiais de produção, a realidade econômica, e a SUPER- ESTRUTURA, que é a idéia, a cultura, o direito, a moral, a religião. A superestrutura comanda a infra-estrutura. As formas jurídicas da so- ciedade são sucessivas e necessariamente dirigidas pela evolução material das técnicas. A técnica de uma época concede a uma classe social uma posição vantajosa e à outra classe uma situação desvanta- josa. Isso significa que há sempre uma classe dominante e uma clas- se dominada. O poder é da classe dominante, mas apenas provisori- amente, pois o processo dialético da negação a levará, um dia, ao desterro. Essa é a ilustração da ideologia do senhor e do escravo, dos capitalistas e dos proletários. O valor do trabalho e a mais-valia É a teoria das mercadorias, isto é, dos objetos produzidos pelo trabalho para a venda: – o valor das coisas é determinado pela quantidade de trabalho de qualidade média necessária para produzi-las; – o valorda força de trabalho é determinado pela quantidade de trabalho necessária para produzir alimentos e outras coisas ne- cessárias à subsistência do operário, durante uma jornada de seis horas de trabalho: 11 a) o empregador pagará ao operário um salário corres- pondente a essas seis horas de trabalho para ter o di- reito de utilizá-las no processo de produção, mas o empregador fará o operário trabalhar mais de seis horas, durante oito horas, por exemplo; b) venderá as mercadorias produzidas pelo trabalhador a um preço equivalente a oito horas de trabalho; c) o operário forneceu duas horas de trabalho não- pagas, que são apropriadas pelo empregador, consti- tuindo um produto líquido que Karl Marx denomi- nou de mais-valia; d) essa mais-valia constitui a exploração capitalista; o proletariado recebe um salário menor que o valor das mercadorias produzidas; esse salário é insuficiente para comprá-las; e) considerando ser a classe trabalhadora o mais impor- tante conjunto de consumidores, apareceriam, inevi- tavelmente, as crises de superprodução ou de sub- consumo. Proletarização e a tese catastrófica da subversão Segundo as idéias de Marx, o avanço do capitalismo provocará a transformação fatal que o arruinará; nesse processo, o número de proletários crescerá continuamente, e as empresas se tornarão cada vez maiores e menos numerosas. No momento em que todos se tor- narem proletários, a luta de classes chegará ao fim. A revolução se realizaria por si mesma. Marx aconselhava não só que se ficasse à espera do desenlace, como concitava a que os trabalhadores se ante- cipassem, o que é atestado pelo seu brado: “proletários de todos os países, uni-vos”. Marx estruturou, assim, as bases do pensamento socialista do século XIX. Foi um revolucionário, e sua obra O Capital promoveu um grande impacto e enormes modificações na ordem econômica de várias nações. Por exemplo, a legislação trabalhista e os sindicatos, entre outros, foram contribuições pós-marxistas. 12 1.2.4 Escola Marginalista ou Neoclássica A partir de 1870 até 1929, a análise econômica seria enriquecida com o desenvolvimento da teoria do marginalismo ou neoclassicismo. Esse conjunto de estudos procurou integrar a teo- ria do valor à teoria dos custos de produção realizada pelos clássicos. Desenvolveu a explicação da alocação dos recursos com o auxílio da análise marginal e ofereceu argumentos para o enten- dimento da formação dos preços dos fatores de produção e dos bens econômicos finais. Con- forme a análise do marginalismo, o homem econômico é racional, isto é, suas ações são inten- cionais e sistemáticas; é calculador e está empenhado em comparar seus gastos marginais com seus respectivos benefícios. 1.2.5 Escola Keynesiana ou Revolução Keynesiana John Maynard Keynes (1883-1946) é o expoente máximo do pensamento econômico que revolucionou todo o conteúdo teórico dessa ciência. A análise de Keynes voltou-se, principal- mente, para problemas da estabilidade a curto prazo; nesse sentido, procurou determinar as cau- sas das flutuações econômicas dadas pelos níveis da renda nacional e do emprego nos países industrializados. Para levar avante esse objetivo, passou a considerar os grandes agregados no curto prazo, procurando contestar a condenação marxista do capitalismo. Dizia que um capita- lismo não-regulado, sem intervenção, mostra-se incompatível com a manutenção do pleno em- prego e da estabilidade econômica. Keynes integrou os setores reais (de gasto) ao setor monetário, analisou a taxa de juro (determinada pela oferta de moeda e pela preferência pela liquidez); analisou o consumo e a poupança, ambos dependentes da renda, os efeitos multiplicadores do investimento no nível da renda nacional; atribuiu papel ativo à política fiscal – de gastos e de impostos, defendendo a adoção de uma política deficitária do governo como um meio seguro para tirar o sistema eco- nômico da depressão a curto prazo; mas era contrário aos controles monetários, pois não consi- derava a moeda um instrumento ativo. Na época de Keynes, dizia-se que a economia estava em recessão porque as rendas eram insuficientes para comprar a produção nacional. A análise de Keynes é criticada por ser parcial e não geral, como alegava na sua obra Te- oria geral do emprego, do juro e da moeda, pois limitava-se, ali, à análise o subemprego de curto prazo, faltando integrar sua análise à complexidade da microeconomia; além disso, não aplicou sua teoria à explicação do funcionamento das economias dos países menos desenvolvi- dos. Mas não se pode negar o papel importante dos estudos de Keynes no desenvolvimento da aferição e da medida das atividades econômicas em seu conjunto, de modo agregado – como as contas nacionais ou contabilidade nacional; e na explicação para os modelos agregados e suas verificações empíricas através da econometria, que faz a interação entre a teoria econômica, a matemática e a estatística. 13 Contribuições contemporâneas Após os trabalhos de Keynes, houve um intenso desenvolvimento de estudos e a análise de assuntos ligados à renda, ao emprego e à moeda. São exemplos o modelo do multiplicador atribuído a Paul A. Samuelson; o modelo da taxa de juros de John R. Hicks; as hipóteses de renda permanente de Milton Friedman; a interação entre a micro e a macroeconomia, a teoria neoclássica moderna das expectativas racionais e os aprofundamentos nas teorias dinâmicas de longo prazo realizados por Joan Robinson, Roy F. Harrod, Evsey Domar, John Hícks, Nicholas Kaldor, Kenneth Arrow, Samuelson, Solow e muitos outros. Na evolução sucinta dessas contribuições, convém alertar que o intervencionismo na eco- nomia, proposto por Keynes, tinha sentido restrito e não pode ser entendido da mesma maneira que o dirigismo estatal e generalizado adotado nos países do bloco socialista soviético – o Esta- do é apenas complementador, e nunca substituto da iniciativa privada. Em síntese, as teorias desenvolvidas durante o século XVIII cuidaram da explicação da formação da riqueza; as do século XIX da distribuição da riqueza e, modernamente, estão se desenvolvendo teorias com um duplo objetivo: de um lado explicar as flutuações da atividade econômica, seu desenvolvimento dentro de um quadro de estabilidade e, de outro, investigar a repartição da riqueza ou o problema de eqüidade. Considerações sobre este capítulo. Este capítulo explicou o que é a Economia como Ciência, seu objeto de estudo, os seus problemas econômicos fundamentais, seu método de abordagem da realidade e uma síntese do pensamento econômico. Se você compreendeu tais conceitos, está preparado para continuar seu estudo. A teoria econômica representa um só corpo de conhecimento, mas, como os objetivos e métodos de abordagem podem diferir, de acordo com a área de interesse de estudo, costuma- se dividi-la da forma a seguir: Microeconomia: estuda o comporamento de consumidores e produtores e o mer- cado no qual ineragem. Preocupa-se com a determinação dos preços e quantidades em mercados específicos; Macroeconomia: estuda a determinação e o comportamento dos grandes agrega- dos, como o PIB, consumo Nacional, investimento agregado, exportação e nível geral de preços, com o objetivo de delinear um política econômica. Tem um enfo- 14 que conjuntural, isto é, preocupa-se com a resolução de questões como inflação e desemprego, em curto prazo; Desenvolvimento Econômico: estuda modelos de desenvovimento que levem à elevação do padrão de vida (bem-estar) da coletividade. Trata de questões estrutu- rais, de longo prazo (crescimento da renda per capita, distribuiçãode renda, evolu- ção tecnológica); Economia Internacional: estuda as relações de troca entre países (transações de bens e serviços e transações monetárias). Trata da determinação da taxa de câmbio, do comércio exterior e das relações financeiras internacionais. Atividades 1. Quando surge a escassez, segundo a ótica econômica? 2. Por que a economia é uma ciência social? 3. Quais são as diferenças entre a economia positiva e a economia normativa? 4. Que diferenças podemos observar entre a teoria econômica clássica (Adam Smith e David Ricardo) e a teoria de Karl Marx? Referencias Comentadas Como obra mais importante deste capítulo recomendamos o livro História do pensa- mento econômico, de Hunt, por ser uma obra que aborda a história do pensamento econômico desde o período antigo até os dias de hoke. Consideramos fundamental sua leitura devido à a- bordagem histórica sob a ótica econômica tratada pelo autor. Referências HUNT, E. K. História do pensamento econômico. Petrópolis: Vozes, 2005. MANKIW, N. G. Introdução à Economia. Princípios de Micro e Macroeconomia. Rio de Janei- ro: Campus, 1999. MOCHON F. & TROSTER, R. L. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 2002. O’ SULLIVAN, SHEFFRIN & NISHIJIMA. Introdução à Economia. São Paulo: Pretice Hall. 2004. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4. ed. São Paulo: Pioneira Thom- son Learning, 2003. ROSSETTI, J. P. Introdução à Economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 15 VASCONCELLOS, Marco A. & GARCIA, MANUEL E. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2004. WESSELS, W. J. Economia. São Paulo: Saraiva, 2003. 16 CAPÍTULO 2 2 A DEMANDA, A OFERTA, O MERCADO E AS SUAS ESTRUTURAS Este capítulo tem como objetivo a compreensão do comportamento da demanda e da ofer- ta e de como esses agentes realizam suas trocas no mercado, sob o enfoque da teoria econômica. Sugere-se que o aluno utilize esse material estudando os temas na ordem proposta, uma vez que são apresentados do mais simples ao mais complexo, com vista à construção gradual de seu conhecimento. 2.1 DEMANDA, OFERTA E O EQUILÍBRIO DE MERCADO Demanda Demanda ou procura é a quantidade de bens(1) ou serviços(1) que os agentes econômicos(2) estariam dispostos(3) e aptos(3) a consumir num determinado momento, num determinado merca- do(4) por diferentes fatores determinantes. (1) Bens: podem ser estocados; (2) Agentes econômicos: famílias, empresas e governo; (3) Requisitos básicos da demanda: Dispostos: ter vontade, querer; Aptos: ter aptidão de compra; poder comprar. Se esses dois requisitos estiverem pre- sentes (disposição e aptidão), temos uma demanda REAL ou EFETIVA. Se, no máximo, um desses requisitos estiver presente, temos, então, uma demanda POTENCIAL (pode não haver nenhum desses requisitos). (4) Num determinado momento, num determinado mercado: em cada momento, nossas vontades mudam nosso comportamento. Fatores determinantes da demanda 1. Preço do próprio bem/serviço. 2. Preço de outros bens/serviços. 3. Gosto. 4. Preferência. 5. Renda. 17 6. Número de consumidores. Lei da demanda “As quantidades demandadas serão tanto maior, quanto menores forem os preços, ou vi- ce-verso”.Quanto mais caro, menos se compra. Oferta Oferta é a quantidade de bens e serviços que um ou mais agentes econômicos estariam habilitados e interessados em colocar num certo momento, num certo mercado, por diferentes fatores determinantes. Fatores determinantes da oferta 1. O preço do próprio bem. 2. Tecnologia. 3. Impostos. 4. Taxa de juros. 5. Fatores da natureza (é tudo aquilo que pode ocorrer em termos climáticos). Lei da oferta Quanto maior for o preço de um bem, maior será a quantidade ofertada desse bem. Do mesmo modo, quanto menor for o preço de um bem, menor será a quantidade ofertada. Em ou- tras palavras, há uma relação direta entre o preço de um bem e a quantidade ofertada. 2.2 O MERCADO E AS SUAS ESTRUTURAS Nossa leitura buscará, agora, o entendimento de algo que parece complicado, mas que é o aspecto da economia que mais interfere em nossa vida diária: o funcionamento do mercado. E o que é o mercado? Rossetti1 afirma que “em sua acepção primitiva, a palavra mercado dizia res- peito a um lugar determinado onde os agentes econômicos realizavam suas transações”. Para Passos e Nogami2 (1999), mercado “é um local ou contexto em que compradores (o lado da demanda) e vendedores (o lado da oferta) de bens, serviços ou recursos estabelecem contato e realizam transações”. É nesse mercado que funcionam as duas leis mais conhecidas da Ciência Econômica: a lei da procura e a lei da oferta. É também no mercado que se formam os preços dos bens e dos serviços, que utilizamos para viver e satisfazer as nossas necessidades. 18 2.2.1 Formação de preços Preço é a expressão monetária do valor de bens e serviços que utilizamos para satisfazer às nossas necessidades. Existe, na teoria econômica uma distinção entre preço de mercado ou simplesmente preço e preço natural ou apenas valor. O que determina o preço não é o que de- termina o valor. A explicação do valor de troca das mercadorias tem duas grandes correntes dentro da Ciência Econômica: a teoria clássica do valor-trabalho e a teoria neoclássica do valor- utilidade. Essa disputa teórica em torno da determinação do valor entrou na história do pensa- mento econômico e se manteve por um longo período. Quem apresentou uma solução para o problema foi um economista inglês deste século, Alfred Marshall3. De acordo com Marshall, o valor de troca é determinado, a curto prazo, subjetivamente pela utilidade e escassez relativa (pelo lado da demanda) e, a longo prazo, objetivamente pelos custos de produção (pelo lado da oferta). Depois disso, os debates acerca da origem do valor foram deixados de lado, pouco tem sido discutido sobre o assunto. Os preços de mercado oscilam conforme as variações da oferta e da procura (demanda é sinônimo de procura, e passaremos a utilizar indistintamente uma ou outra denominação). Nas economias de mercado, o papel dos preços é de orientar a alocação (direcionamento) dos recur- sos de produção, funcionando como um indicador ou índice de escassez. Os preços são um me- canismo de orientação das atividades econômicas; isto é, dos fluxos da produção e da renda. E, nesse sentido, os preços podem ser também definidos como um índice de conversão de um fluxo real (de bens e de serviços) em nominal (de valores monetários). 2.2.2 Importância do mercado no sistema econômico O mercado, através do sistema de preços(1), aloca os escassos recursos(3) para produzir uma certa quantidade de bens ou serviços, que correspondem a um nível de satisfação das ne- cessidades das pessoas – o nível ou padrão de vida(2). (1) Sistema de preços: é o conjunto de preços dos bens, serviços e fatores de produção de um sistema de preços. (2) Padrão de vida: é o nível de satisfação alcançado pelas pessoas que fazem parte de um sistema econômico, quando consomem os bens e serviços por ele produzidos. (3) Alocação de recursos: é a forma como os fatores de produção são organizados pelo merca- do, para que produzam bens e serviços que atendam às necessidades das pessoas. 2.2.3 Equilíbrio de mercado Quando se fala em equilíbrio, a noção intuitiva que nos vem imediatamente à cabeça é de um balanceamento de forças. Quando se transfere essa noção de equilíbrio para a análise do mercado, o balanceamento de forças ocorre entre as forças básicas do mercado,quais sejam, a 19 oferta e a procura. Dessa forma, pode-se dizer que o mercado está em equilíbrio quando o preço pelo qual os vendedores pretendem vender uma quantidade do produto é exatamente igual ao preço pelo qual os compradores pretendem comprar essa mesma quantidade do produto. Colo- cando em um gráfico (Figura 1) a representação das curvas de oferta e de procura, podemos visualizar o equilíbrio de mercado. Esse equilíbrio é definido pelo ponto A, determinado pela interseção das duas curvas. Figura 1 – Gráfico do equilíbrio de mercado Fonte: adaptado de GARCIA e VASCONCELLOS,2004. 2.2.3 ESTRUTURAS DE MERCADO Fundamentalmente, as diferentes estruturas de mercado estão condicionadas por três vari- áveis principais: número de firmas produtoras que atuam no mercado; diferenciação do produto ou serviço; existência ou não de barreiras à entrada de novas empresas. As estruturas de mercado classificam-se basicamente em: concorrência perfeita, monopó- lio, oligopólio e concorrência monopolística. Vejamos a seguir as características de cada uma delas. 2.2.3.1 Concorrência pura ou concorrência perfeita É um mercado com vários vendedores e compradores, de forma que cada agente isolado não tem condições de afetar o preço de mercado. O produto é idêntico em todas as empresas (produto homogêneo). Não há diferenças de emba- lagem e qualidade. Mercado sem barreiras à entrada e saída, tanto de compradores, como de vendedores. Princípio da racionalidade. Os empresários sempre maximizam a sua satisfação.Ou seja, os agentes atuam racionalmente (é o chamado princípio da racionalidade ou do homo economi- cus).. Preço Quantidade Oferta Demanda Q P A 20 Transparência de mercado. Consumidores e vendedores têm acesso a toda informação, relevan- te, sem custos, isto é, conhecem os preços, a qualidade e os custos. 2.2.3.2 Monopólio Uma única empresa produz um produto sem substitutos próximos. Existem barreiras à entrada de firmas concorrentes. O produto ou o serviço não é homogêneo. Não há possibilidade de ser substituído por outros. 2.2.3.4 Oligopólio O pequeno número de empresas no setor. Os bens são substitutos perfeitos entre si. O consumidor sabe perfeitamente quem produziu. Existem barreiras à entrada e à saída de novas firmas. 2.2.3.5 Concorrência monopolística Muitas empresas produzindo dado bem ou serviço. Cada empresa produz um produto diferenciado, mas com substitutos próximos. A diferenciação nos produtos pode se dá via: características físicas, como por exemplo a composição química; promoção de vendas, propaganda, atendimento, brindes; manutenção; embalagem. Cada empresa tem um relativo poder sobre os preços, dado que os produtos ou serviços são diferenciados. ESTRUTURA OBJETIVO DA EMPRESA NÚMERO DE FIRMAS TIPO DE PRODUTO ACESSO DE NOVAS EMPRESAS AO MERCADO Concorrência Perfeita Maximização de lucros Infinitas Homogêneo Não existem barreiras Monopólio Maximização de lucros Uma Único Existem barreiras Concorrência Monopolística Maximização de lucros Muitas Diferenciado Não existem barreiras Oligopólio Maximização de lucros Poucas dominam um mercado Homogêneo ou Diferenciado Existem barreiras 21 Quadro 1– Resumo das estruturas de mercado Fonte: adaptado de ROSSETTI. 2.2.4 Outras formas de organização das empresas no mercado Cartel Associação entre empresas do mesmo ramo de produção com objetivo de dominar o merca- do e disciplinar a concorrência. As partes entram em acordo sobre o preço, que é uniformizado geralmente em nível alto, e quotas de produção são fixadas para as empresas membros. No seu sentido pleno, os cartéis começaram na Alemanha no século XIX e tiveram seu apogeu no período entre as guerras mun- diais. Os cartéis prejudicam a econimia por impedir o acesso do consumidor à livre- concorrência e por beneficiar empresas não-rentáveis. Tendem a durar pouco devido ao conflito de interesses. Dumping Prática comercial que consiste em vender um produto ou serviço por um preço irreal para e- liminar a concorrência e conquistar a clientela.Proibida por lei, pode ser aplicada tanto no mer- cado interno quanto no externo. No primeiro caso, o dumping concretiza-se quando um produto ou serviço é vendido abaixo do seu preço de custo, contrariando em tese um dos princípios fun- damentais do capitalismo, que é a busca do lucro.A única forma de obter mlucro é cobrar preço acima do custo de produção. No mercado externo, pratica-se o dumping ao se vender um produ- to por preço inferior ao cobrado para os consumidores do país de origem. Holding Forma de organização de empresas que surge depois dos trustes serem postos na ilegalida- de. Consiste no agrupamento de grandes sociedades anônimas. Sociedade anônima é uma desig- nação dada às empresas que abrem seu capital e emitem ações que são negociadas em Bolsa de Valores. Nesse caso, a maioria das ações de cada uma delas é controlada por uma única empre- sa, a holding. A ação das holdings no mercado é semelhante a dos trustes. Uma holding geral- mente é formada para facilitar o controlr das atividades em um setor. Se ela tiver empresas que atuem nos diversos setores de um mercado como o da produção de eletrodomésticos, por exem- plo, abocanha gordas fatias desse mercado e adquire condições de dominar seu funcionamento. 22 Joint venture É uma associação de empresas não-definitiva e com fins lucrativos,para explorar determina- do(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. Difere da sociedade comercial (partnership), porque se relaciona a um único projeto cuja associação é dissolvida automaticamente após seu término. Um exemplo típico de joint venture seria a transação entre o proprietário de um terreno de excelente localização e uma empresa de construção civil, interes- sada em levantar um prédio sobre o local. Monopsônio Situação de mercado em que há apenas um comprador de um produto, geralmente maté- ria-prima. Modelo raro de mercado, em que as condições de mercado são determinadas pelo comprador, mesmo que haja vários vendedores. Normalmente representado por estatais. Ex.: é o caso da empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por ser a única, torna- se demandante exclusiva da mão-de-obra local e das cidades próximas, conseqüentemente fixa os salários em patamares baixos. Oligopsônio Tipo de estrutura de mercado em que poucas empresas, de grande porte, são compradoras de determinados produtos, geralmente matéria-prima ou produtos primários. Representado pelas indústrias alimentícias e seus fornecedores. Exemplo: em cada cidade existem dois ou três que adquirem a maior parte do leite de inúmeros produtores rurais locais. Truste Uma das formas mais agressivas de controle oligopolístico de mercado é aquela denomi- nada truste (termo proveniente da palavra inglesa trust, que significa confiar, depositar confian- ça em). O truste consiste num acordo entre diversas empresas que passam a ser administradas por uma nova empresa ou grupo financeiro. Essa nova empresa ou grupo passa a ter controle absoluto sobre as empresas anteriores, que perdem sua independência e parte de sua autonomia administrativa. Dessa forma, o truste passa a ser o único produtor e vendedor de um determina- do bem no mercado, eliminando progressivamente os demais concorrentes, absorvendo-os ou incorporando-os e, assim, controlando totalmente o preço do bem ou bens que produz.Embora o Estado imponha severas leis para impedir a formação de trustes, eles continuam operando e se expandindo através de várias manobras. Considerações sobre este capítulol 23 Neste capítulo, vimos como a oferta e a demanda determimam os preços, a importância do mercado para o sistema econômico e as características das estruturas concorrenciais nas quais as empresas competem entre si. Se você compreendeu tais conceitos, está preparado para continuar seu estudo. Nos Estados Unidos, existe uma discussão permanente entre duas agências federais no que se refere a assentos de segurança para crianças em aviões. Desde 1979, o National Trans- portation Safety Board (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes) recomendou que os assentos fossem obrigatórios, enquanto a Federal Aviation Administration (Administração Fede- ral de Aviação) se valeu de sua autoridade de regulação para impedir essa norma. O congresso americano deverá resolver esse impasse. A lição desse exemplo é que os consumidores (demanda) respondem às mudanças nos preços. Um aumento no preço do bem (passagem aérea) faz alguns consumidores buscarem um bem substituto (passagem de ônibus), levando a economia (mercado) a alguns resultados inespe- rados. Fonte: OREGONIAN, 1997, p. A20. As referências bibliográficas ao final deste livro apresentam capítulos interessantes para aprofundar o tema desenvolvido. Se você quiser mais, recomendamos o site da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul - FEE (http://www. fee.tche.br ), o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (http://www.ibge.gov.br ) e do Instituto de Pesqui- sas Econômicas Aplicadas - IPEA (http://www.ipea.gov.br). Atividades 1. Quais são os requisitos básicos da demanda? 2. Qual a importância do mercado para o sistema econômico? 3. As diferentes estruturas de mercado estão condicionadas por três variáveis principais. Quais são elas? 4. Diferencie monopsônio e oligopsônio. 5. O preço unitário do pão francês (de 50 gramas) é de R$ 0,20 qualquer que seja a demanda em uma padaria. Qual o gráfico desta função? 6. Uma doceria produz um tipo de bolo de tal forma que sua função de oferta diária é de P = 10 + 0,2Q. Pergunta-se: a) Qual o preço para que a oferta seja de 20 bolos diários? b) Se o preço unitário for de R$ 15,00, Qual a oferta diária? c) Se afunção de demanda diária por esses bolos for P = 30 - 1,8Q, Qual o preço de equilíbrio? 24 Referências CARAVALHO, Luiz Carlos P. Microeconomia Introdutória: para Cursos de Administração e Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2000. CASTRO, A. B. de; LESSA, C. F. Introdução à Economia: uma abordagem estruturalista. Rio de Janeiro: FORENSE UNIVERSITÁRIA, 1992. EQUIPE DE PROFESSORES DA USP. PINHO, Diva B. & VASCONCELOS, Marco A. S de (Organizadores.). Manual de Economia. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. MANKIW, N. G. Introdução à Economia. Princípios de Micro e Macroeconomia. Rio de Janei- ro: Campus, 1999. MOCHON F. & TROSTER, R. L. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 2002. O’ SULLIVAN, SHEFFRIN & NISHIJIMA. Introdução à Economia. São Paulo: Prentice Hall. 2004. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4. ed. São Paulo: Pioneira Thom- son Learning, 2003. ROSSETTI, J. P. Introdução à Economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SALVATORI, Dominick. Microeconomia. São Paulo. Atlas 1986. SANDRONI,Paulo. Novo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1994. VASCONCELLOS, Marco A. & GARCIA, MANUEL E. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2004. WESSELS, W. J. Economia. São Paulo: Saraiva, 2003. CAPÍTULO 3 3 TEORIA DA PRODUÇÃO E DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO Este capítulo tem como finalidade analisar as principais variáveis que devem ser levadas em consideração para a produção de bens e serviços. O que iremos analisar é o comportamento 25 da empresa quando ela desenvolve sua atividade produtiva, sob o enfoque de sua produção (em termos de unidades físicas) e de seus respectivos custos (em termos monetários). 3.1 TEORIA DA PRODUÇÃO Uma empresa é a unidade básica de produção em um sistema econômico. Ela contrata re- cursos produtivos, transforma-os em bens e serviços e os coloca ou à disposição de outras em- presas, no caso de bens intermediários; ou à disposição dos consumidores, no caso de bens de consumo. Dessa forma podemos definir produção: é o processo pelo qual uma firma transforma os fatores de produção adquiridos em produtos ou serviços para a venda no mercado. A firma compra fatores de produção (matérias-primas e insumos), combina-os segundo um processo de produção escolhido, e vende o produto final no mercado. A produção pode ser classificada co- mo: produção de bens econômicos (alimentos, remédios, máquinas); produção de serviços (transporte, diversão etc.). O processo de produção pode ser ou de mão-de-obra intensivo, de capital intensivo ou terra intensivo, dependendo do fator de produção utilizado em maior quantidade, relativamente aos demais. A escolha do processo de produção depende de sua eficiência. A eficiência pode ser: eficiência técnica: Entre dois ou mais processos de produção, é aquele que permite produzir uma mesma quantidade de produto, utilizando menor quantidade física de fato- res de produção; eficiência econômica: Entre dois ou mais processos de produção, é aquele que permite produzir uma mesma quantidade de produto, com menor custo de produção. Se especificarmos as diversas quantidades de cada fator que a empresa utiliza para alcan- çar determinadas quantidades de produto, teremos a função de produção. Ao analisar uma fun- ção de produção, verificaremos que, ao aumentar ou diminuir a quantidade produzida de um determinado produto (variar a produção), a quantidade utilizada de alguns fatores não muda (máquinas, instalações, ferramentas, administração), enquanto a quantidade utilizada de outros fatores muda proporcionalmente à produção (matéria-prima, mão-de-obra). Os primeiros são os fatores de produção fixos (cujas quantidades não mudam) e os segundos são os fatores de pro- dução variáveis (cujas quantidades mudam). À medida que se aumenta a quantidade de utilização de um fator variável, aumenta a quantidade de produto total que se obtém. A partir dessa afirmação, podemos concluir dois con- ceitos importantes: a PRODUTIVIDADE MÉDIA e a PRODUTIVIDADE MARGINAL do fator variá- vel. Produtividade média do fator variável é o quociente da quantidade total produzida pela quantidade utilizada do fator variável. Produtividade marginal do fator variável é a variação do 26 produto total decorrente da variação de uma unidade no fator variável. Para que servem esses conceitos, na prática? Servem para saber se cada fator (insumo) que se utiliza na produção está trazendo um resultado (produtividade média) satisfatório. Servem para saber se o último fator utilizado (produtividade marginal) também está produzindo resultado satisfatório, para o produ- to específico que analisamos. Quando se aumenta a quantidade de utilização de um fator variável, aumenta a quantida- de de produto total que se obtém, mas não de maneira uniforme e permanente. Isso se deve à LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES. A lei dos rendimentos decrescentes pode ser assim explicada: mantendo-seinalterada a quantidade de fatores fixos e incrementando um fator vari- ável em iguais quantidades, a quantidade de produto total obtido aumentará, mas a partir de certo ponto os acréscimos no produto total serão cada vez menores. Se insistirmos no incremen- to do fator variável, o produto – após alcançar um valor máximo – poderá até decrescer. A Ta- bela 1 ilustra os conceitos apresentados anteriormente. Tabela 1 – Produção de trigo com apenas um fator de produção variável (mão-de-obra) Fonte: Vasconcellos, 2007 3.2 TEORIA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO O objetivo básico de uma firma é a maximização de seus resultados para a realização e continuidade de sua atividade produtiva. Assim sendo, procurará sempre obter a máxima produ- ção possível em face da utilização de certa combinação de fatores. A otimização dos resultados da firma poderá ser obtida quando for possível alcançar um dos dois objetivos seguintes: -2 4,6 42 9 10 0 5,4 44 8 10 2 6,2 44 7 10 4 7,0 42 6 10 6 7,6 38 5 10 8 8,0 32 4 10 10 8,0 24 3 10 8 7,0 14 2 10 6 6,0 6 1 10 Produtividade marginal da mão- de-obra (em toneladas) (5) = Variação em (3) Variação em (2) Produção média da mão-de-obra (em toneladas) (4) = (3) : (2) Produção total (em toneladas) 3 Mão-de-obra (fator váriável em milhares de trabalhadores) 2 Terra (fator fixo em hectares) 1 27 a) maximizar a produção para um dado custo total ou b) minimizar o custo total para um dado nível de produção. Em qualquer uma das situações, a firma estará maximizando ou otimi- zando seus resultados. 3.2.1 Custos totais de produção Conhecidos os preços dos fatores, é sempre possível determinar um custo total de produ- ção ótimo para cada nível de produção. Assim, define-se custo total das despesas realizadas pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores, por meio da qual é obtida uma determinada quantidade do produto. Os custos totais de produção (CT) são divididos em custos variáveis totais (CVT). A fór- mula do Custo Total é CT = CFT + CVT onde: Custos fixos totais (CFT) – correspondem à parcela dos custos totais que independem da produção. São decorrentes dos gastos com os fatores de produção fixo. Por exemplo: alu- guéis, iluminação etc. Na contabilidade empresarial são também chamados de custos indiretos; Custos variáveis totais (CVT) - é a parcela dos custos totais que depende da produção e por isso muda com a variação do volume de produção. Por exemplo: folha de pagamentos, gastos com meterias-primas etc. Na contabilidade empresarial, são chamados de custos diretos. Tabela 2 – Custos de produção (em valores monetários) QUANTI- DADE PRODUZI- DA CUSTO FIXO CUSTO VARIÁVEL CUSTO TOTAL CUSTO MÉDIO CUSTO MARGINAL 0 100 0 100,00 - - 10 100 50,00 150,00 15,00 5,00 20 100 80,00 180,00 9,00 3,00 30 100 100,00 200,00 6,67 2,00 40 100 110,00 210,00 5,25 1,00 50 100 130,00 230,00 3,83 2,00 60 100 160,00 260,00 4,33 3,00 70 100 200,00 300,00 4,28 4,00 80 100 250,00 350,00 4,37 5,00 Fonte: ROSSETTI, 2003. 28 Além do conceito de custo total temos também o CUSTO MÉDIO, que é o quociente do cus- to total pela quantidade total produzida e o CUSTO MARGINAL que é a variação do custo total decorrente da variação de uma unidade na produção. Esses conceitos podem ser observados na Tabela 2. Como calculamos: 1. Os custos fixos e variáveis são enunciados do problema (são os resultados da ob- servação do processo produtivo); 2. O custo total é a soma do custo fixo e do custo variável; 3. O custo médio é divisão do custo total pela respectiva quantidade produzida; 4. Custo marginal = dividindo a diferença de custo total pela diferença da quanti- dade produzida, a cada intervalo de produção. (Exemplo: ao produzir 40 unidades de produto, o custo total foi de R$ 210,00; ao produzir 50 unidades, o custo total foi de R$ 230,00; assim CMg = (230,00 – 210,00) / (50 – 40) = 20,00 / 10 = 2,00.) Como uma empresa terá lucro máximo? Ela terá lucro sempre que vender uma unidade de produto a um preço unitário maior que o seu custo unitário de produção. Enquanto houver esse lucro, a empresa poderá prosseguir aumentando sua produção e vendas, mesmo que seus custos médios e marginais estejam crescendo. O lucro total será máximo quando o acréscimo de custo de uma unidade adicional produzida fro igual ao acréscimo de receita que decorre da venda desta mesma unidade. Antes disso, o volume dos lucros ainda pode aumentar, não sendo, por- tanto máximo, pois os custos estão crescendo menos do que as receitas e, depois disso, ovolume mais do que as receitas. Enfim, a maximização dos lucros ocorre quando a receita marginal é igual ao custo marginal. Na teoria da produção, a análise dos custos de produção é também dividido em curto e longo prazos: custos totais de curto prazo: São caracterizados pelo fato de serem composto por parce- las de custos fixos e de custos variáveis. custos totais de longo prazo: São formados unicamente por custos variáveis.Ou seja, em longo prazo não existem fatores fixos. Diferenças entre a visão econômica e a visão contábil – financeira dos custos de produção Existem muitas diferenças entre a ótica utilizada pelos economistas e a utilizada nas empresas, por contadores e administradores. Em linhas gerais, pode-se dizer que a visão econômica é mais genérica, olhando mais para o mercado (ambiente externo da 29 empresa), enquanto na visão ótica contábil-financeira a preocupação centra-se mais no detalhamento dos gastos da empresa específica. As principais diferenças estão nos seguintes conceitos: . custos de oportunidade e custos contábeis; . externalidades. Custos de oportunidades versus custos contábeis Os custos contábeis são os custos como normalmente são conhecidos na contabi- lidade privada, ou seja, são custos explícitos, que envolvem um dispêndio monetário. É o gasto efetivo da empresa, na compra ou aluguel de insumos. Os custos de oportunidade são custos implícitos, que não envolvem desembolso monetário. Representam os valores dos insumos que pertencem à empresa e são usados no processo produtivo. Esses valores são estimados a partir do que poderia ser ganho no melhor uso alternativo. 3.2.2 Externalidades As externalidades podem ser definidas como alterações de custos e benefícios para a so- ciedade derivadas da produção de empresas, ou também como as alterações de custos e receitas da empresa devidas a fatores externos. Uma externalidade positiva é quando uma unidade econômica cria benefícios para outras, sem receber pagamentos por isso. Por exemplo: uma empresa treina a mão de obra, que acaba, após o treinamento, transferindo-se para outra empresa; beleza do jardim do vizinho, que valori- za dua casa; uma nova estrada; os comerciantes de uma mesmo ramo que se localizam na mes- ma região. Temos externalidades negativas (ou deseconomia externa), quando uma unidade econô- mica cria custos para outras, sem pagar por isso.Por exemplo, poluição e congestionamento caudados por automóveis, caminhões e ôibus; uma indústria que polui um rio e impõe custos a atividades pesqueiras. Questões para Reflexão A) Qualquer unidade produtora, ao produzir bens e serviços, tem custos com a utiliza- ção de fatores, insumos ou matérias-primas. Ao vender esses bens ou serviços, a empresa obterá um certo volume de receitas. A diferença entre os custos e as receitas se denomina LUCRO ECO- NÔMICO. 30 B) A função de produção de uma empresa é a relação das quantidades fixas e variáveisde fatores que são utilizados no decorrer do processo produtivo. Sabe-se que as empresas possu- em diferentes produtividades. A produtividade varia de acordo com a eficiência econômica e deve ser entendida como a relação entre a quantidade produzida de um determinado bem e o fator utilizado. A lei dos rendimentos decrescentes indica que o aumento na utilização de um fator de produção implica em acréscimos cada vez menores nos rendimentos gerados por essa mesma produção. Isso decorre precisamente da produtividade do fator, que diminui enquanto aumenta a sua utilização e, conseqüentemente, a sua escassez, sendo os últimos menos produti- vos. Quadro 2 – Resumo dos conceitos vistos nesse capítulo TERMO CONCEITO Função de produção P = f(aFP1 + bFP2 + + ... + zFPn) Produtividade média Pme = (produção total) / (quantidade de fator variável) Produtividade marginal Pmg = (acréscimo de produto total) / (acréscimo de fator variável) Custo total CT = custo fixo (CFT) + custo variável (CVT) Custo médio Cme = (custo total) / (quantidade produzida) Custo marginal Cmg = (acréscimo de custo total) / (acréscimo da quantidade pro- duzida) Receita total RT = preço de venda x quantidade vendida ou quantidade produ- zida Lucro total LT = RT (receita total) – CT (custo total) Considerações sobre este capítulol A teoria da produção e dos custos de produção é fundamental para a administração de em- presas e para o entendimento do comportamento do produtor, no mercado. Essa teoria permite analisar a formação do custo dos bens e serviços, cujo valor final viabiliza ou inviabiliza a per- manência do produtor no mercado do produto. Para o administrador, a análise da composição dos custos proporciona a possibilidade de in- terferir no processo produtivo no sentido de minimizá-lo e tornar o produto mais competitivo. Pindyck, R.S, & Rubinfeld, D. L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. Manual completo, apresenta os conceitos básicos e aprofunda todos os as- pectos importantes do estudo da microeconomia: mercado e preços; produtores, consumidores e 31 mercados competitivos; estrutura de mercado e estratégia competitiva; informação, falhas de mercado e o papel do governo. Uma série de exercícios e questões para revisão completa cada capítulo, tornando mais compreensível a teoria. Pequenas ou grandes, todas as empresas têm que, diariamente, tomar decisões sobre a produção, que envolve custos, podendo resultar em lucro ou prejuízo. Não é novidade que me- tade das pequenas novas empresas não chega a completar o primeiro ano de existência. Mesmo entre as grandes, muitas não sobrevivem. Basta dar dois exemplos: das 100 maiores empresas norte-americanas existentes em 1917, apenas 20 ainda estão em atividade; no Brasil, das 500 maiores empresas em 1975, somente 150 continuam com seus negócios atualmente. Todas as empresas, independentemente de seu tamanho, têm que decidir o que produzir, quanto produzir, como produzir e também como distribuir (logística, canais de distribuição, estratégia mercado- lógica e assim por diante). Fonte: MENDES, 2004, p. 77. Atividades 1. Uma fábrica de sapatos masculinos apresenta a seguinte estrutura de recursos físicos. Deter- mine a produtividade média da mão-de-obra e a produtividade marginal da mesma. Capacidade de produção diária 1 Mão-de-obra (fator variável de trabalhadores) 2 Produção total (em pares de sapa- tos) 3 Produtividade média da mão-de- obra (4) = (3) : (2) Produtividade marginal da mão- de-obra (5) = variação em (3) Variação em (2) 300 10 80 300 15 95 300 20 115 300 25 132 300 30 129 300 35 108 300 40 97 32 2. Uma fábrica de implementos agrícolas apresenta a seguinte estrutura de custos para a produ- ção de diferentes quantidades de produto: Quantidade produzida/mês Preço de venda (R$) Custo fixo (R$) Custo variável (R$) 20 50.000,00 308.000,00 150.000,00 30 42.000,00 308.000,00 170.000,00 40 39.000,00 308.000,00 190.000,00 50 36.000,00 308.000,00 210.000,00 60 33.000,00 308.000,00 230.000,00 Determine o custo total, o custo médio, o custo marginal, a receita total e o lucro total em cada nível de produção. Referências CARAVALHO, Luiz Carlos P. Microeconomia Introdutória: para Cursos de Administração e Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2000. CASTRO, A. B. de; LESSA, C. F. Introdução à Economia: uma abordagem estruturalista. Rio de Janeiro: FORENSE UNIVERSITÁRIA, 1992. EQUIPE DE PROFESSORES DA USP. PINHO, Diva B. & VASCONCELOS, Marco A. S de (Organizadores.). Manual de Economia. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. MANKIW, N. G. Introdução à Economia. Princípios de Micro e Macroeconomia. Rio de Janei- ro: Campus, 1999. MOCHON F. & TROSTER, R. L. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 2002. O’ SULLIVAN, SHEFFRIN & NISHIJIMA. Introdução à Economia. São Paulo: Prentice Hall. 2004. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4. ed. São Paulo: Pioneira Thom- son Learning, 2003. ROSSETTI, J. P. Introdução à Economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SALVATORI, Dominick. Microeconomia. São Paulo. Atlas 1986. SANDRONI,Paulo. Novo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1994. 33 VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Economia: equipe de professores da USP. São Paulo: Saraiva, 2007. SANDRONI,Paulo. Novo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1994. 34 CAPÍTULO 4 4 MACROECONOMIA Ao final deste capítulo o aluno deverá saber: analisar as metas de política macroeconômica; identificar os instrumentos da política macroeconômica; descrever a estrutura de análise da macroeconomia; identificar as principais medidas da atividade econômica propostas pela Contabilidade Nacional. 4.1 FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA Como está nossa viagem? Esperamos que você esteja reconhecendo sua empresa, seu banco, suas decisões econômicas nesse “passeio” pela economia. Esperamos que você esteja conseguindo relacionar sua rotina diária com os aspectos teóricos que já repassamos juntos. Até agora procuramos observar as relações entre os agentes (atores) econômicos: as necessidades humanas, a limitada disponibilidade de recursos (fatores de produção) para satisfazê-las, o pro- cesso produtivo, a demanda, a oferta e a formação dos preços no mercado. Agora iremos abrir um pouco o leque de nossa observação. Procuraremos analisar as políticas econômicas gover- namentais, o comportamento da economia como um todo, o bem-estar que as pessoas almejam como resultado da atividade econômica. Vejamos alguns conceitos básicos. Enquanto a teoria microeconômica explica a composição e a alocação da produção total, a teoria macroeconômica busca explicar as flutuações do nível de atividade econômica, do nível da produção global. O termo micro indica apenas a decomposição de variáveis macroeconômicas, como consumo, poupança e o investimento. A macroeconomia estuda a economia como um todo, analisando a determinação e o com- portamento de grandes agregados, tais como: renda e produto nacionais, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balança de pagamentos e taxa de câmbio. Ao estudar e procurar relacionar os grandes agregados, a macroeconomia negligencia o comportamento das unidades econômicas individuais e de mercados específicos, essas são preo- cupações da microeconomia.Entretanto, embora exista um aparente contraste,não há um confli- to entre a micro e a macroeconomia, uma vez que o conjunto da economia é a soma de seus mercados individuais. A diferença é primordialmente uma questão de ênfase, de enfoque. Ao estudar a determinação de preços em uma indústria, na microeconomia consideram-se constan- 35 tes os preços das outras indústrias. Na macroeconomia estuda-se a nível geral de preços, igno- rando-se a mudança de preços relativa dos bens das diferentes indústrias. A Teoria Macroeconômica propriamente dita preocupa-se mais com aspectos de curto prazo. Especialemente, preocupa-se com questões como desemprego, que aparece sempre a economia está trabalhando abaixo de seu máximo de produção, e com as implicações sobre os vários mercados quando se alcança a estabilização do nível geral de preços. A parte da Teoria Econômica que estuda questões de longo prazo é denominada Teoria do Crescimento Econômi- co. Na tentativa de se determinar como os preços e as quantidades são estabelecidos, desen- volveram-se dois métodos de análise básicos: abordagem de equilíbrio parcial: analisa um determinado mercado sem considerar os efeitos que esse mercado pode ocasionar sobre os demais mercados existentes na e- conomia; abordagem de equilíbrio geral: acredita-se que tudo depende de tudo e, assim, se qui- séssemos determinar como são formados os preços dos bens, deveríamos listar todos os bens que são produzidos pela economia e todos os diferentes tipos de insumos que são utilizados. 4.1.1 Metas de política macroeconômica Alto nível de emprego – desde a Revolução Industrial, em fins do século XVIII, até o início do século XX, o mundo econômico parece ter funcionado sobre o pensamento li- beral, que acreditava que os mercados, sem interferência do Estado, conduziriam a Eco- nomia ao pleno emprego de seus recursos, como se, guiados por uma “mão invisível”, determinariam os preços e a produção de equilíbrio, e, desse modo, nenhum problema surgiria no mercado de trabalho. Entretanto, a evolução da economia mundial trouxe em seu bojo novas variáveis, como o surgimento de sindicatos de trabalhadores, os grupos econômicos e o desenvolvimento de mercado de capitais e do comércio internacional, de sorte a complicar e trazer incertezas sobre o funcionamento da economia. A ausência de políticas econômicas levou à quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e uma crise de desemprego atingiu todos os países do mundo ocidental nos anos seguintes. Com a contribuição de Keynes, fincaram-se as bases da moderna Teoria Econômica, e da inter- venção do Estado na economia de mercado, que nos passa qual grau de intervenção do Estado na economia e em que medida ele deve ser produtor de bens e serviços. A cor- rente dos economistas liberais (hoje neoliberais) prega a saída do governo da produção de bens e serviços. Estabilidade de preços – define-se inflação como um amento contínuo e generalizado Formatados: Marcadores e numeração 36 no nível geral de preços. Por que a inflação é um problema? Primeiramente, porque a inflação acarreta distorções, principalmente sobre a distribuição de renda, sobre as ex- pectativas dos agentes econômicos e sobre o balanço de pagamentos. É importante sali- entar que, enquanto nos países industrializados o problema central é o desemprego, nos países em via de desenvolvimento, o foco mais importante de análise é o da inflação. Esse tema é de difícil abordagem, dado que as causas da inflação diferem entre países (deve-se levar em contas, por exemplo, o estágio de desenvolvimento e a estrutura dos mercados), e em um dado país, diferem no tempo. Distribuição eqüitativa da renda – a economia brasileira cresceu razoavelmente entre o fim dos anos 60 e a maior parte da década de 70. Apesar disso, verificou-se uma dis- paridade muito acentuada de nível de renda, tanto a nível pessoal quanto a nível regio- nal. Isso fere, evidentemente, o sentido de equidade ou justiça. No Brasil, os críticosa do “milagre” argumentavam que havia piorado a concentração de renda no país, nos anos 1967-1973 devido a uma política deliberada do governo, baseada em crescer primeiro para depois distribuir (chamada Teoria do Bolo). A posição oficial era de que um certo aumento na concentração de renda seria inerente ao próprio desenvolvimento capitalis- ta, dadas as transformações estruturais que ocorrem (êxodo rural, com trabalhadores de baixa qualificação, aumento da proporção de jovens etc.). Nesses processo gera-se uma demanda por mão-de-obra qualificada, a qual por ser escassa, obtém ganho extra. Assim o fator educacional seria a principal causa da piora distributiva. Crescimento econômico – se existem desemprego e capacidade ociosa, pode-se au- mentar o produto nacional através de políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva. Mas, feito isso, há um limite à quantidade que se pode produzir com os re- cursos disponíveis. Aumentar o produto além desse limite exigirá: . um aumento nos recursos disponíveis; . ou um avanço tecnológico (melhoria tecnológica, novas maneiras de organizar a produção, qualificação da mão-de-obra). Quando falamos em crescimento econômico, estamos pensando no crescimento da ren- da nacional per capita ou seja, colocar a disposição da coletividade uma quantidade de mercadorias e serviços que sujere o crescimento populacional. A renda per capita é considerada um razoável indicador – o da população, embora apresente falha (os países árabes têm as maiores rendas per capita, mas não o melhor padrão de vida do mundo). 4.1.2 Instrumentos de política macroeconômica A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade produtiva e as despesas planejadas, com objetivo de permitir que a econimia opere a pleno emprego, com baixas taxas de inflação e uma distribuição justa de renda. 37 Os principais instrumentos para atingir tais objetivos são: a POLÍTICA FISCAL diz respeito ao orçamento dos diversos níveis de governo (federal, esta- duais e municipais), ou seja:são os gastos e as receitas dos governos. É um poderoso ins- trumento de política macroeconômica, se considerarmos que no Brasil a carga fiscal (soma de todos os orçamentos governamentais) representa mais do que um terço de tudo o que se produz no País; a POLÍTICA MONETÁRIA refere-se ao controle do governo sobre a oferta monetária, ou seja, sobre a quantidade de moeda e de títulos públicos em circulação no mercado; a POLÍTICA CAMBIAL diz respeito ao controle e à utilização de instrumentos para esta- bilização da taxa de câmbio, enquanto as políticas de relações econômicas externas re- ferem-se ao comércio internacional, ao incentivo às exportações e ao controle das im- portações do País; as POLÍTICAS DE RENDAS referem-se à intervenção do governo na formação da renda dos agentes econômicos. Intervenção que favorecerá ou não determinados proprietários de fatores de produção em detrimentos de outros (mão-de-obra, capital, recursos natu- rais e capacidade empresarial). 4.1.3 Estrutura de análise macroeconômica Tradicionalmente, a estrutura básica do modelo macroeconômico compõe-se de cinco mercados. Mercado de bens e serviços – para tentar responder como se tem comportado o nível de atividades, efetua-se uma agregação de todos os bens produzidos pela economia du- rante um certo período de tempo e define-se o chamado Produto Nacional. A demanda agregada depende fundamentalmente da evolução da demanda dos quatro grandes seto- res ou agentes macroeconômicos: consumidores, empresas, governo e setor externo; Mercado de trabalho – também representa uma agregação de todos os tipos de traba- lhos existentes na economia. Nesse
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