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A liquidação da Execução

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1) O que é liquidar uma obrigação? Quais os elementos da obrigação que podem ser liquidados? Somente o quantum? Dê exemplos. A chamada “liquidação por cálculos” é ou não mais uma espécie de liquidação? Quais os principais argumentos e teorias a este respeito? Qual a sua opinião? Justifique. Dê exemplos.
LIQUIDAÇÃO DA OBRIGAÇÃO
A obrigação, segundo lição de Caio Mário da Silva Pereira, “constitui o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra prestação economicamente apreciável”.[1: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. V.II. Teoria Geral das Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, p. 7., 2010, ]
As obrigações podem ser classificadas como líquidas ou ilíquidas. Uma obrigação se diz líquida quando é certa e determinada, certa quanto à existência e determinada quanto à qualidade, quantidade, natureza e objeto. Pode-se, portanto, resumindo nas palavras de Pontes de Miranda, dizer que obrigação líquida é aquela em que o crédito é claro e manifesto, “dispensando qualquer elemento extrínseco para se lhe saber o importe. Sabe-se que é e o que é.”[2: MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, p. 385.1974, ]
 Nas obrigações ilíquidas, a obrigação de prestar existe, mas o objeto da prestação ainda não foi, ou não pode ser, determinado. Um exemplo disso são as obrigações de indenizar por ato ilícito: a obrigação existe (indenizar), mas os prejuízos efetivos ainda não foram estipulados.
Destarte, essa definição e distinção de obrigações é importante para tratarmos de outro tema: a liquidação.
Liquidar uma obrigação seria, portanto, determinar a sua qualidade, quantidade, natureza e o seu objeto. Tal distinção é importante para averiguar a necessidade de liquidação da obrigação, fase onde o magistrado obtém os elementos necessários para proferir uma sentença líquida.
Gabriel Pereira de Castro chegava a dizer que a “liquidação é parte e preâmbulo da execução; faltando ela, quando há ilíquido na sentença, nula é a execução.”É valido ressaltar que a ideia de preâmbulo a qual o autor se refere, a execução acontece após a liquidação, se ilíquido houver, mas são atos independentes.[3: PEREIRA DE CASTRO, Gabriel. Decisiones Supremi, Eminentissimeque Senatus Portugalliae, Lisboa, p. 163, 1621]
Cândido Dinamarco também atenta para a importância da liquidação haja vista que, por se tratar de um ato grave, a expropriação patrimonial, não se pode permitir a execução sem que se observe o cumprimento de todos os parâmetros de certeza, como aduz: “Sem o perfeito conhecimento da obrigação em todos os seus elementos constitutivos não é possível escolher a espécie adequada de execução, nem direcioná-la ao bem devido, nem dimensionar as constrições judiciais a serem impostas ao patrimônio do obrigado”. Desta feita, a liquidação é, como aduzido, ato essencial a execução.[4: DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil, v. IV. 3. ed. São Paulo: Malheiros, p. 225, 2009. ]
Faz-se necessário trazer o entendimento de Daniel Assumpção Amorim Neves quanto à liquidação: “liquidar uma sentença significa determinar o objeto da condenação, permitindo-se assim que a demanda executiva tenha início com o executado sabendo exatamente o que o exequente pretende obter para a satisfação de seu direito”.[5: NEVES, Daniel Amorim Assumpção - Manual de direito processual civil/Daniel Amorim Assumpção Neves. 7ª ed. Rev., atual. e ampl., p. 1415, Rio de Janeiro: Forense, 2015]
Entendida a liquidação, é importante, também, sabermos quais os elementos da obrigação podem ser liquidados.
As relações jurídicas obrigacionais são compostas pelos seguintes elementos, cuja identificação formal (em sentença ou em título extrajudicial) é indispensável para que a prestação possa ser exigida (= executada coercitivamente) em juízo: (a) a existência da obrigação (an debeatur), (b) a identidade do credor (cui debeatur), (c) a identidade do devedor (quis debeat), (d) a natureza da prestação (quid debeatur) e, finalmente, (e) em que quantidade é devido (quantum debeatur).[6: Recurso Extraordinário com repercussão geral 883.642-AL. Data do julgamento: 18/6/2015.]
Daniel Assumpção entende, quanto aos elementos da obrigação que devem ser liquidados, que apenas o quantum debeatur deve ser objeto da liquidação:
a liquidação de sentença tem como único e exclusivo objetivo a fixação do quantum debeatur, sendo vedada pela própria lógica do instituto processual a discussão de qualquer matéria alheia a esse objetivo. Não se permite que a liquidação se preste a discutir matérias que foram discutidas na fase de conhecimento que gerou a sentença condenatória, ou nela deveriam ter sido discutidas. Significa dizer que qualquer matéria que seja alheia ao valor da prestação reconhecida em sentença condenatória ilíquida é estranha ao objeto da liquidação.[7: NEVES, Daniel Amorim Assumpção - Manual de direito processual civil/Daniel Amorim Assumpção Neves. - 7. ed. rev., atual. e ampl, Rio de Janeiro: Forense, p. 1415 2015]
Esse impedimento, de se discutir matérias além da estipulação do valor da prestação, segundo Assumpção, tem guarida na manutenção do próprio sistema judicial, ao se permitir que outras matérias adentrassem a fase de liquidação estaríamos diante de um vício processual: uma ofensa a coisa julgada ou à eficácia preclusiva da coisa julgada, nos casos de sentença condenatória já transitada em julgado, e havendo recurso, haveria litispendência. Atento a essa circunstância, o legislador prevê expressamente no art. 509, § 4º, do Novo CPC ser vedado na liquidação discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou.
Essa limitação imposta recebeu da doutrina o nome de “fidelidade ao título executivo”. Não se trata de regra absoluta, como diz Daniel Assumpção na sua obra “Manual de Direito Processual Civil:
 a excepcional possibilidade de inclusão na liquidação de matéria não posta na fase de conhecimento da qual resultou a condenação genérica. A jurisprudência vem prestigiando uma interpretação lógica da sentença, não se limitando ao aspecto gramatical, para concluir que deve se admitir contido na sentença não só o que está expressamente afirmado, mas também o que virtualmente se possa presumir como incluído.[8: NEVES, Daniel Amorim Assumpção - Manual de direito processual civil/Daniel Amorim Assumpção Neves. - 7. ed. rev., atual. e ampl., Rio de Janeiro: Forense, p. 1415, 2015]
Para corroborar os fundamentos aqui expostos colacionamos a seguinte jurisprudência:
E M E N T A - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE COBRANÇA EM FASE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA - AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO - FUNDAMENTAÇÃO CONCISA - PRELIMINAR AFASTADA - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA - LIQUIDAÇÃO É EXTENSÃO DA FASE COGNITIVA - PRAZO PRESCRICIONAL NÃO ESCOADO - CONTRARIEDADE À COISA JULGADA NÃO VERIFICADA - QUANTUM DEBEATUR NÃO DEFINIDO NA SENTENÇA LIQUIDANDA - IMUTABILIDADE DO TÍTULO EXECUTIVO - EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA - MANUTENÇÃO DA DECISÃO - IMPROVIDO. Não é necessário que o julgador trate exaustivamente das matérias levadas aos autos pelas partes, bastando que ele justifique as razões que formam seu convencimento. Portanto, a fundamentação concisa não se confunde com a ausência de fundamentos, não se podendo falar em violação ao artigo 93, inciso IX, da Constituição da República, tampouco em enquadramento em qualquer das figuras do § 1º do artigo 489 do Novo Código de Processo Civil. Preliminar rejeitada. Na esteira da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o lapso prescricional para a execução da sentença contra a Fazenda Pública só tem início quando finda a liquidação, que é entendida como extensão da fase cognitiva. A sentença liquidanda, acerca da obrigação do Estado ressarcir seus servidores relativamente aos empréstimos por eles contraídos, já definiu: (a) que é devido tutela condenatória (an debeatur); (b) a quem é devido aos servidores da rede estadual de educação (cui debeatur); (c) quem deve o Estado de MatoGrosso do Sul (quis debeat) e, também, (d) o que é devido ressarcimento dos encargos concernentes aos aludidos empréstimos (quid debeatur). À fase de liquidação, destarte, relegou-se apenas a definição do quantum debeatur, isto é, a quantidade do que é devido. Portanto, a discussão e a fixação de critérios para estabelecer o montante do crédito de cada um dos servidores públicos estaduais beneficiados pela sentença coletiva, neste momento processual, não importa qualquer violação à coisa julgada, pois, frise-se novamente, esta não alcança o quantum debeatur. Com o trânsito em julgado da decisão, os litigantes ficam adstritos aos limites impostos pelo título executivo judicial e, por isso, nas fases subsequentes de liquidação e de cumprimento de sentença , não podem buscar (nem receber) o que não está assegurado na condenação. Assim, em respeito à intangibilidade da coisa julgada, as questões atinentes aos critérios de correção monetária e juros de mora, à inclusão, na condenação, dos empréstimos contraídos em 2001 e à inversão do ônus da prova, já solucionadas no bojo da sentença liquidanda, não podem ser rediscutidas nesse momento processual.
(TJ-MS - AI: 14079718520168120000 MS 1407971-85.2016.8.12.0000, Relator: Des. Divoncir Schreiner Maran, Data de Julgamento: 20/09/2016, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 21/09/2016)[9: (TJ-MS - AI: 14079718520168120000 MS 1407971-85.2016.8.12.0000, Relator: Des. Divoncir Schreiner Maran, Data de Julgamento: 20/09/2016, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 21/09/2016)]
Grifos nossos
Mesmo sendo uma posição contrária a jurisprudência, é válido ressaltar o entendimento de Cláudio Alexandre dos Santos e Silva, que ao contrário de Assumpção entende que outros elementos podem, sim, fazer parte da fase de liquidação, e atrela isso à natureza da obrigação:
liquidar para muitos é o ato de expressar em valor determinada obrigação pecuniária. Entretanto, o ato de liquidar pode se travestir de outros significados a depender da natureza da obrigação firmada entre as partes. Assim, se estivermos diante de uma obrigação de entregar coisa, a sentença será líquida ao indicar qual o bem que será objeto da prestação; na entrega de coisa incerta a liquidez ocorrerá no momento em que de individualizar entre as coisas de mesmo gênero e quantidade aquela que deverá ser efetivamente entregue; na de fazer e não fazer, quando se determinar qual a ação que deverá ser praticada ou a inação que se espera; e, finalmente, no caso da obrigação que tem por objeto a entrega de dinheiro, obrigação pecuniária, seria o procedimento adotado para fins de determinar a quantia certa devida ao credor.[10: Disponível em: http://www.reidese.com.br/artigos/042011/042011_10.pdf. Acesso em 17 de outubro de 2016.]
Cláudio Alexandre dos Santos e Silva não está sozinho na sua posição, Teori Zavascki, ao tratar de ações coletivas afirma que
os demais elementos de cada uma das relações jurídicas - a saber, a identidade do credor e a sua específica relação com o crédito (cui debeatur) e a quantidade a ele devida (quantum debeatur) - são dispensáveis para a formação daquele núcleo essencial, pertencendo a um domínio marginal, formado pelas partes diferenciadas e acidentais dos direitos homogêneos, a sua margem de heterogeneidade.
Embora seja importante lembrar que a sentença genérica, por isso mesmo, não tem eficácia executiva. Para alcançá-la, terá que ser complementada por outra, da qual resultem identificados os elementos faltantes da norma jurídica individualizada.
Essa atividade de complementação se dá em fase processual autônoma, na liquidação de sentença, objeto de nosso estudo. No que se refere à sentença genérica da ação coletiva, à sua liquidação se atribui também o nome de ação de cumprimento. É ação de natureza eminentemente cognitiva, destinada a definir o valor da prestação a ser executada, ou o seu objeto ou o titular dodireito, formando, desse modo, integrada à sentença anterior, o título que habilita o credor à tutela executiva.
Ensina Elpídio Donizetti, que a liquidez ocorre quando o título permite, independentemente de qualquer outra prova, a exata definição do quantum debeatur. Deste modo, fica claro, portanto, que o elemento essencial para a liquidação de sentença é o quantum debeatur devendo os outros serem debatidos em outra fase processual que não a de determinação do valor a ser executado.
LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULOS
 
Superada a questão dos elementos que podem ser liquidados, passamos, agora, a tratar das espécies de liquidação. O antigo código de Processo Civil trazia, originalmente, as 3 hipóteses de liquidação, herdadas do CPC de 1939: por cálculos (art. 908 do CPC de 1939), por arbitramento (art. 909 do CPC de 1939) e por artigos (art. 913 do CPC de 1939).
Com o advento do atual Código de Processo Civil essa modalidade liquidatória não esteve presente nos incisos do art. 509, em que constam apenas a liquidação por arbitramento (quando determinado pela sentença; convencionado pelas partes; ou exigido pela natureza do objeto da liquidação) e a do procedimento comum (quando houver a necessidade de se provar fato novo).[11: NEVES, Daniel Amorim Assumpção - Manual de direito processual civil/Daniel Amorim Assumpção Neves. - 7. ed. rev., atual. e ampl., p. 1435, Rio de Janeiro: Forense, p. 1435, 2015]
O próprio artigo 509, no seu §2º, afirma que quando tratar-se apenas de cálculos o credor pode promover o cumprimento de sentença.
Antes de iniciarmos a problemática da liquidação por cálculos, é importante definir o que vem a ser essa espécie liquidatória.
A liquidação por cálculo do contador era aquela em que, antes do início da execução, os autos eram remetidos ao contador do juízo para que, por cálculos aritméticos, apurasse o quantum debeatur. O juiz ouvia as partes sobre eles e, se estivessem em ordem, os homologava.
A Lei n. 8.898/94 corrigiu a falha, excluindo de entre as espécies de liquidação a por cálculo do contador. Ao fazê-lo, atribuiu ao exequente, nos casos em que o débito pode ser apurado por cálculo, o ônus de, ao requerer a execução, juntar memória discriminada do débito. Com isso, restaram apenas duas formas de liquidação
Para tal, buscaremos entender os motivos que levaram a abolição da liquidação por cálculos do atual código de Processo Civil.
 Para muitos, a liquidação por cálculos aritméticos sempre foi tida como uma tentativa forçosa de se criar uma nova forma de liquidação. Daniel Assumpção chega a chamá-la de pseudoliquidação.:
 liquidação por mero cálculo aritmético era uma pseudoliquidação, já que supostamente estar-se-ia a liquidar o que já era líquido, considerando que a liquidez da obrigação é sua determinabilidade e não sua determinação. Significa dizer que sendo possível se chegar ao valor exequendo por meio de um mero cálculo aritmético, a obrigação já será líquida e por tal razão seria obviamente dispensada a liquidação de sentença.[12: NEVES, Daniel Amorim Assumpção - Manual de direito processual civil/Daniel Amorim Assumpção Neves. - 7. ed. rev., atual. e ampl., Rio de Janeiro: Forense, p. 1436,2015]
Vemos, pois, um dos primeiros argumentos utilizados pela parte da doutrina que se posicionava contraria a liquidação por cálculos. Diziam eles que o magistrado estaria a liquidar algo que já era liquido, logo, determinado. Isso fazia com que a liquidação acabasse perdendo o seu propósito inicial, como aduz Didier que “o objetivo da liquidação é, portanto, o de integrar a decisão liquidanda, chegando a uma solução acerca dos elementos que faltam para a completa definição da norma jurídica individualizada, a fim de que essa decisão possa ser objeto de execução. ”[13: DIDIER JR, Fredie. e Sarno Braga ,Paula e Oliveira ,Rafael. Curso de Direito Processual Civil - Vol. 2. 1° Ed., Salvador: Juspodovim, p. 448, 2007.]
Segue esse mesmo entendimento o autor Marcus Gonçalves que, ao transcrever a letra de lei, demonstra com clareza a abolição da liquidação por meros cálculos: “não é necessária a liquidação, quando o quantumdebeatur puder ser apurado por simples cálculo aritmético. Cumpre ao credor, ao requerer a execução, apresentar memória discriminada do cálculo do débito, indicando de forma especificada os itens da cobrança e os acréscimos de correção monetária, juros e outros fixados na condenação (art. 524, do CPC)”.[14: Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. Marcus Vinicius Rios Gonçalves; coordenador Pedro Lenza. -6. ed., São Paulo: Saraiva, p. 756, 2016]
A jurisprudência pátria segue esse entendimento e, nos casos de liquidação por cálculos, passa a acolher a inadmissibilidade de liquidação por meros cálculos. Para corroborar os argumentos trazidos à baila, colacionamos as seguintes decisões:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO DE REVISÃO DE BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA. PREVIDÊNCIA PRIVADA. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE DE LIQUIDAÇÃO. CÁLCULO ARITMÉTICO. MULTA. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. IMPOSSIBILIDADE. A decisão, fundamentada, analisou explicitamente a matéria debatida, sendo incabível a rediscussão em sede de embargos declaratórios. Ademais, o Órgão Colegiado não está obrigado a enfrentar, expressamente, todos os dispositivos legais e argumentos suscitados pelas partes. Inexistindo omissão, contradição, obscuridade ou erro material na decisão embargada, hipóteses previstas no art. 1.022, do CPC/2015, não podem ser acolhidos os presentes embargos. EMBARGOS DESACOLHIDOS.
(TJ-RS - ED: 70071096564 RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Data de Julgamento: 28/09/2016, Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/10/2016)
Desta feita, observa-se que o egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul desconsiderou a fase de liquidação quando se trata de meros cálculos aritméticos.
Soma-se a essa decisão a seguinte:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE VERBAS SALARIAIS. MEROS CÁLCULOS ARITMÉTICOS. APRESENTAÇÃO DE MEMÓRIA DE CÁLCULOS. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO VERIFICADO. RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. 1. A execução embargada na origem refere-se à sentença que condenou a municipalidade nas seguintes verbas: férias 2005/2006; 2006/2007; 2007/2008 (6/12); 13º salário 2008 e devolução de descontos realizados a título de contribuição previdenciária ao VitóriaPrev (abril 2005 a junho2008). 2. Os valores executados são meramente nominais, constituindo-se no pagamento de verbas indenizatórias como férias e décimo terceiro salário e descontos a título de VitóriaPrev. 3. Não prospera a alegação de que a sentença é ilíquida, porquanto a determinação do valor devido depende de mero cálculo aritmético a partir de elementos e critérios definidos no próprio título, o que dispensa a fase de liquidação de sentença. 4. As somas aritméticas fizeram alcançar o montante devido, mediante apresentação planilha de cálculos, sem a necessidade de liquidação do julgado por arbitramento ou por artigos, exatamente como foi feito pela credora exequente, ora agravada. 5. Precedentes deste Sodalício. 6. Recurso de agravo improvido à unanimidade.
(TJ-PE - AGV: 4163815 PE, Relator: Ricardo de Oliveira Paes Barreto, Data de Julgamento: 03/03/2016, 2ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 21/03/2016)[15: (TJ-PE - AGV: 4163815 PE, Relator: Ricardo de Oliveira Paes Barreto, Data de Julgamento: 03/03/2016, 2ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 21/03/2016)]
Grifos nossos
O distinto Tribunal de Justiça de Pernambuco acolheu o entendimento pacificado da doutrina de que a liquidação por cálculos é liquidar o que já estaria liquidado, não sendo preciso, por isso, dar início a uma fase de liquidação.
 Em síntese ao que foi exposto, conclui-se que a liquidação é uma fase processual que busca definir os limites da obrigação. Atenta-se para a importância, para doutrina e jurisprudência, do quantum debeatur, e como a sua indefinição pode atravancar a liquidação e, por conseguinte, o processo executório.
Vimos, ainda, como o novo Código de processo Civil trata da matéria de liquidação por cálculos. Na verdade, não trata, pois, como foi mostrado, o art. 509 traz apenas dois processos liquidatórios em seus incisos, a saber: a liquidação por arbitramento e a liquidação pelo procedimento comum, quando se precisa apontar fatos novos.
O legislador e a doutrinas contrárias a essa espécie liquidatória utilizam como argumento a celeridade processual: o juiz perderia tempo ao liquidar algo que já era líquido. Isso gera a máxima “meros cálculos não exigem liquidação”.
Nessa toada, julgamos acertada a decisão do legislador do CPC/2015 em delimitar apenas duas espécies no art. 509. Isso evita processos, claramente, dilatórios e sem objetivo, já que não é razoável considerar a liquidação de algo que já é liquido como uma fase necessária à execução.

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