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Universidade Federal do Triângulo Mineiro Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação Química Inorgânica II Prof. Pedro Ivo da Silva Maia Relatório 3: Síntese da Magnetita Antônio de Pádua Marcos Vinícius Lopes Taynara Oliveira UBERABA 2018 RESUMO A origem do magnetismo dos materiais está na configuração eletrônica dos átomos que o formam. Os elétrons podem estar em um orbital ou banda, emparelhados ou não. Quando os elétrons estão desemparelhados, o átomo será atraído pelo campo, apresentando uma característica de magnetismo (CANHAM; OVERTON, 2010). O experimento visou sintetizar a magnetita (FeIIFe2 IIIO4) utilizando os íons Fe +3, Fe+2 e OH-, com estequiometria 1:2 e submeter à mesma aos efeitos de um ímã e analisar seu comportamento e suas propriedades físicas, químicas e magnéticas. 1 OBJETIVO Sintetizar a magnetita (𝐹𝑒3𝑂4) e observar o comportamento físico deste composto diante de um ímã. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 MATERIAIS Funil de Buchner; 4 Béqueres de 50 mL; 1 Béquer de 250 mL; Papel filtro; Ímã; Chapa de aquecimento; Barra magnética; Estufa; Bomba de vácuo; Sulfato de ferro (III) amoniacal - 𝐹𝑒𝑁𝐻4(𝑆𝑂4)2 . 12𝐻2𝑂; Sulfato Ferroso (II) – 𝐹𝑒𝑆𝑂2. 7𝐻2𝑂; Etanol; Amônia concentrada. 2.2 METODOLOGIA Primeiramente, foram preparadas 3 soluções (a,b e c). Para preparar a solução a pesou- se 0,8002 g de FeNH4(SO4)2. 12 H2O em um béquer, que foi solubilizado em 15 mL de água destilada. A solução b foi preparada pensando 0,4022 g de FeSO4 . 7 H2O em um béquer e solubilizando-o em 15 mL de água destilada. Por ultimo, para preparar a solução c foi diluido 3 mL de amônia concentrada, medida com o auxilio de uma pipeta de 5 mL, em 40 mL de água destilada. Posteriormente misturou-se a solução a e a solução b em um béquer de 100 mL, adicionou uma barra magnética e na chapa de aquecimento colocou a solução em constante agitação. Durante a agitação foi adicionado lentamente a solução c. O béquer com a solução formada pela mistura das soluções a, b e c foi colocado em banho-maria por aproximadamente 15 minutos. Com a ajuda de imã decantou-se o precipitado formado e descartou-se o sobrenadante. Adicionou-se ao béquer aproximadamente 10 mL de água destilada, agitou-se a mistura e filtrou a vácuo. O resíduo sobre o filtro foi lavado com mais 15 mL de água, e depois com 15 mL de etanol. O precipitado foi retirado e seco em estufa, pesado e submetido a um ímã onde analisou-se o comportamento do precipitado (magnetita). 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os íons presentes nas soluções utilizadas na síntese de magnetita foram: íons Fe+3, na solução a; íons Fe+2, na solução b; íons OH-, na solução c (reações 1, 2 e 3, respectivamente). FeNH4(SO4)2(aq) → Fe+3(aq) + NH4+(aq) + 2SO4-2(aq) (1) FeSO4(aq) → Fe+2(aq) + SO4-2(aq) (2) NH3(aq) + H2O(l) ⇌ NH4+(aq) + OH-(aq) (3) Em soluções contendo íons hidroxila, os cátions de Fe2+ e Fe 3+ formam seus respectivos hidróxidos, insolúveis em água, precipitando-os, formando uma mistura sólida de cor verde escura (reações 4 e 5, respectivamente). Sob aquecimento, estes hidróxidos formam óxidos ferroso e férrico e água, respectivamente (reações 6 e 7). Fe+2(aq) + 2OH - (aq) ⇌ Fe(OH)2(s) (4) Fe+3(aq) + 3OH - (aq) ⇌ Fe(OH)3(s) (5) Fe(OH)2(s) ⇌ FeO(s) + H2O(l) (6) 2Fe(OH)3(s) ⇌ Fe2O3(s) + 3H2O(l) (7) Estes óxidos reagem entre si formando, então, a magnetita, um sólido preto (reação 8). Fe2O3(s) + FeO(s) → Fe3O4(s) (8) A magnetita obtida contém ferro (II) e ferro (III) na proporção estequiométrica 1:2 e pode ser representada pela fórmula FeIIFe2 IIIO4. É possível verificar a composição estequiométrica da magnetita através do cálculo da composição percentual dos elementos presente na formula molecular do composto. % Elemento = 𝑛 𝑥 𝑀.𝑀 𝑑𝑜 𝐸𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑀.𝑀 𝑑𝑜 𝐶𝑜𝑚𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 𝑥100% = (9) Onde n é o número de átomos presente no composto. Para a magnetita Fe3O4, também representada como FeO.Fe2O3 temos: % O = 4 𝑥 16 231,53 𝑥 100% = 0,276% (9.1) % Fe2+ = 1 𝑥 55,84 231,53 𝑥 100% = 0,242% (9.2) % Fe3+ = 2 𝑥 55,84 231,53 𝑥 100% = 0,482% (9.3) %O + %Fe2+ + %Fe3+ = 100% e nota-se a proporção de 1:2 entre Fe2+ e Fe3+. Após secar a amostra em estufa, foi obtido uma massa de 0,2942 g de magnetita (já desconsiderado o valor do papel filtro) e determinou-se o rendimento da mesma. Para determinar o rendimento da magnetita, primeiramente calculou-se a quantidade de Fe2+ obtida. Fe(SO4) (aq) + 2 NH4OH(aq) → (NH4)2SO4 (aq) + Fe(OH)2(aq) Nº de Mols 1 mol 2 mol 1 mol 1 mol Massa Molar 151,908 g.mol-1 2 x 35,04 = 70,08 g.mol-1 88,86 g.mol-1 Massa utilizada 0,4022 g 3 ml = 2,7g x1 O hidróxido de amônio possui densidade igual a 0,9 g.cm³, portanto sua massa é igual ao volume gasto vezes a densidade. Após cálculo da massa de ferro, determinou-se o reagente em excesso. De acordo com o calculo abaixo é possível identificar que para 0,4022 g de Fe(SO4) serão necessário apenas 0,186 g de NH4OH, porém é adicionado 2,7g de NH4OH, sendo assim há um excesso de hidróxido de amônio. Abaixo está apresentado o cálculo da massa obtida de Hidróxido de Ferro (II). Massa Molar Massa utilizada 151,908 g.mol-1 de Fe(SO4) 0,4022g 89,86 g.mol-1 Fe(OH)2 x3 x3 = 0,238 g de Fe(OH)2 Após calcular a massa de Hidróxido de ferro (II), observando a reação abaixo, onde temos a formação de Hidróxido de ferro (III), calcula-se a massa de Hidróxido de Ferro (III) obtida. FeNH4(SO4)2(aq) + 3 NH4OH(aq) → 4(NH4) (aq) + 2SO4(aq) + Fe(OH)3(aq) Nº de Mols 1 mol 3 mol 4 mol 2 mol 1 mol Massa Molar 298,270 g.mol-1 3 x 35,04 = 105,12 g.mol-1 106,8 g.mol-1 Massa utilizada 0,8002g 3 ml = 2,7g x4 Assim como nos cálculos realizados anteriormente, é preciso definir o reagente em excesso. O hidróxido de amônio está em excesso, pois para 0,8002g de FeNH4(SO4)2 utilizado, era necessário 0,282g de NH4OH. Ao final dos cálculos obteve-se que a formação de Fe(OH)3 foi de 0,287g aproximadamente, como demostrado abaixo. Massa Molar Massa utilizada 298,270 g.mol-1 de FeNH4(SO4)2 0,8002 106,8 g.mol-1 Fe(OH)3 x4 x4 = 0,287 g de Fe(OH)3 Para formação da magnetita é necessário que Fe(OH)2 e Fe(OH)3 reajam sob aquecimento, como na equação indicada a seguir, sabemos que reagira 0,233g de Fe(OH)2 e 0,282g de Fe(OH)3. Fe(OH)2(aq) + 2Fe(OH)3(aq) ∆ → Fe3O4(s) + H2O(l) Fe(OH)2(aq) + 2Fe(OH)3(aq) ∆ → Fe3O4(s) + 4H2O(l) Nº de Mols 1 mol 2 mol 1 mol 4 mol Massa Molar 89,86 g.mol-1 2 x 106,8 g.mol-1 231,533 g.mol-1 Massa utilizada 0,238g 0,287g x6 Para 0,287 g de Fe(OH)3 era necessário 0,121g de Fe(OH)2, porém adicionou-se 0,238g de Fe(OH)2, assim sendo o hidróxido de ferro (II) estava em excesso.Calculou-se quanto deveria ser formado de magnetita - Fe3O4 resultando em 0,311g de rendimento esperado. Para calcular quando te Fe3O4 utilizamos os dados de Fe(OH)3, o reagente limitante. Massa Molar Massa utilizada 231,533,6 g.mol-1 de Fe3O4 x5 213,6 g.mol-1 Fe(OH)3 0,287g x5 = 0,311 g de Fe3O4 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑥100 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 0,2942 0,311 𝑥100 = 94,6% de rendimento de Fe3O4 Obtivemos 94,6% de rendimento após a síntese da magnetita. Possíveis erros podem ter sido determinados na transferência da magnetita do papel filtro para o objeto em que foi pesado, bem como na retirada da barra magnética do béquer, utilizando um imã, que pode ter atraído parte do material sintetizado. São erros possíveis de ocorrerem na balança, preparação de soluções ou baixo tempo utilizado no banho maria. Apesar disso, o rendimento obtido foi bom, o que pode ter sido contribuído pelo tempo a mais de agitação e no banho maria. Uma técnica possível para analisar a magnetita sintetizada seria a difração de raios-x (DRX). Segundo Leal (2006), a técnica trabalha com radiações magnéticas de mesma natureza da luz, porém em menores comprimentos de onda. A magnetita quando submetida ao DRX produz um diafratograma definido pelo seu retículo cristalino, o qual é formado por unidades menores repetidas tridimensionalmente. O autor ainda afirma que a técnica permite a identificação da estrutura e componentes da magnetita caso o diafratograma obtido apresente posições e intensidade de picos bem definidos comparados com a base de dados Joint Committee on Powder Diffraction Standarts – International Centre of Diffraction Data (JCPDS – ICDD) (Figura 1). Figura 1 – Diafratograma da magnetita. JCPDS – JCDD19-629 Fonte: LEAL, 2006 Apresenta um sistema cristalino cúbico com estrutura do tipo espinélio (sistema cúbico com hábito octaédrico) invertido (Figura 2). Em sua cela unitária, a magnetita apresenta oito íons Fe3+ localizados nos sítios tetraédricos e, no sítio octaédrico, oito íons Fe3+ e oito íons Fe2+ (Figura 2). (MAGALHÃES, 2008). Figura 2 – Estrutura da Magnetita Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422013000100022 Segundo Canham e Overton (2010), a origem do magnetismo dos materiais está na configuração eletrônica dos átomos que o formam. Os elétrons podem estar em um orbital ou banda, emparelhados ou não. Quando estão emparelhados, os spins dos elétrons são contrários e repelem o campo magnético caso sejam aproximados de um. Quando os elétrons estão desemparelhados, o átomo será atraído pelo campo, apresentando uma característica de magnetismo. Os átomos que repelem o campo são chamados de diamagnéticos, e os que são atraídos pelo campo são chamados de paramagnéticos. Ambos são diferenciados por magnetometria, técnica que fornece respostas sobre a característica de uma amostra submetida à aplicação de um campo magnético (SHRIVER; ATKINS. 2008). Um material paramagnético possui elétrons desemparelhados e na presença de um campo magnético, alinham-se, fazendo surgir um ímã que tem a capacidade de provocar um leve aumento na intensidade do valor do campo magnético em um ponto qualquer. São exemplos de materiais paramagnéticos: o alumínio, o magnésio, o sulfato de cobre etc. Já um material diamagnético, se colocado na presença de um campo magnético, têm seus ímãs elementares orientados no sentido contrário ao sentido do campo magnético aplicado. São substâncias diamagnéticas: o bismuto, o cobre, a prata, o chumbo etc. Além desses existe substâncias ferromagnéticas, que apresentam características bem diferentes dos materiais paramagnéticos e diamagnéticos. Esses materiais imantam- se fortemente se colocados na presença de um campo magnético. É possível verificar, experimentalmente, que a presença de um material ferromagnético altera fortemente o valor da intensidade do campo magnético. São substâncias ferromagnéticas somente o ferro, o cobalto, o níquel e as ligas que são formadas por essas substâncias. As definições de magnetismo foram estudadas a partir da resposta que eles fornecem quando submetidos à aplicação de um campo externo. Para Ferreira (2009) os momentos dipolo magnético de um átomo diamagnético alinham-se em sentido contrário ao do campo aplicado fazendo com que tenham valores praticamente nulos. Já para os átomos paramagnéticos, os momentos de dipolo magnético são desorganizados e se alinham no sentido do campo aplicado, obtendo valores positivos que dependem da temperatura. Ao passar o ímã por baixo do papel filtro contendo o sólido seco, notou-se que este se movia sobre o papel conforme os movimentos do ímã. O fenômeno é o ferromagnetismo. Segundo Canham e Overton (2010) materiais ferromagnéticos são caracterizados pelos elétrons desemparelhados dos orbitais d ou f que se alinham com os vizinhos mesmo na abstenção de um campo. Os elétrons alinhados formam um grupo chamado de domínio magnético (Figura 3). Ao aplicar um campo, esse domínio se alinha com o mesmo, com uma intensidade muito mais forte e permanente que o paramagnetismo. Ao aquecer um material ferromagnético, as vibrações colapsam o domínio até o ponto de Curie (Figura 4). A partir deste ponto, o material adota um comportamento paramagnético. Figura 3 – Domínio magnético em materiais ferro-, para- e diamagnéticos. Fonte: http://blogdefisica-2016.blogspot.com.br/2016/11/conhecendo-as-linhas-de-campo- magnetico.html O antiferromagnetismo é quando a interação entre spins vizinhos resultam em um alinhamento antiparalelo (figura 5). A atração para o campo é mais fraca que o efeito paramagnético até o ponto de Néel (Figura 4), quando o material antiferromagnético adota um comportamento paramagnético (CANHAM e OVERTON, 2010). Figura 4 – Temperatura de Curie e ponto de Néél Fonte: CANHAM; OVERTON. 2010. Figura 5 – Domínio magnético em materiais antiferromagnéticos Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-23-Orden-antiferromagnetico-de-los-espines-de-Fe-La- direccion-de-los-espines-en_fig3_236037225 CONCLUSÃO A prática realizada possibilitou um estudo sobre magnetismo, materiais magnéticos e suas propriedades, sendo muito importantes para a sociedade, por fazerem parte do avanço científico e tecnológico dos últimos anos. Esses materiais desempenham um importante papel na tecnologia atual, pois encontram um grande número de aplicações em produtos e processos industriais dos mais variados setores. As aplicações vão desde dispositivos com funções muito simples, como os pequenos ımãs permanentes usados para fechaduras de portas de moveis e utensílios, a inúmeros componentes sofisticados utilizados na indústria eletroeletrônica. Quantitativamente, o rendimento obtido foi ótimo, com margem de erro de 5,4%. REFERÊNCIAS CANHAM-REYNER, G; OVERTON, T. Descriptive Inorganic Chemistry. 5. ed. Nova York: W.H. Freeman and Company, 2010. 651p. FERREIRA, R. V. Síntese e caracterização de nanopartículas magnéticas funcionalizadas com núcleo magnético de magnetita. 2009, 104 f. Dissertação (Mestrado em Química) – Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BIRC- 86EQNL/disserta__o___roberta_viana_ferreira.pdf?sequence=1>. Acesso em: 18 out. 2018. LEAL, R. Estudo da magnetita como material adsorvedor de íons uranilo. 2006. 73 f. Dissertação (Mestrado em Ciências). Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares,Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. MAGALHÃES, F. Síntese e Caracterização de Óxidos de Ferro e Compósitos para Aplicações no Tratamento Redox de Efluentes aquosos. 2008. 215f. Dissertação (Doutorado em Ciências). Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/SFSA- 85VSWF/tese_fabiano_magalh_es_06_8_08.pdf?sequence=1>. Acesso em: 18 out. 2018. SANTOS, Marco Aurélio da Silva. "Materiais paramagnéticos, diamagnéticos e ferromagnéticos"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/fisica/materiais-paramagneticos-diamagneticos- ferromagneticos.htm>. Acesso em 23 abril 2018. SHRIVER, D F.; ATKINS, P. W. Química Inorgânica. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. 848 p.
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