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Bioquímica São Cristóvão/SE 2009 Paulo de Tarso Gonçalves Leopoldo Projeto Gráfico e Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Lucílio do Nascimento Freitas Ilustração Luzileide Silva Santos Elaboração de Conteúdo Paulo de Tarso Gonçalves Leopoldo Leopoldo, Paulo de Tarso Gonçalves. L587b Bioquímica / Paulo de Tarso Gonçalves Leopoldo -- São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009. 1. Bioquímica. I. Título. CDU 577.1 Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e grava- da por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Bioquímica UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Itamar Freitas Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Coordenador do Curso de Licenciatura em Biologia Silmara de Moraes Pantaleão Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Menezes (Coordenador) Jean Fábio B. Cerqueira (Coordenador) Baruch Blumberg Carvalho de Matos Christianne de Menezes Gally Edvar Freire Caetano Gerri Sherlock Araújo Isabela Pinheiro Ewerton Diretoria Pedagógica Clotildes Farias (Diretora) Rosemeire Marcedo Costa Amanda Maíra Steinbach Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Núcleo de Tutoria Janaina Couvo Trícia Cavalcante Pergentino (Coordenadora de Tutores do curso de Ciências Biológicas) Núcleo de Avaliação Cléber de Oliveira Santana Alisson de Oliveira Silva Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais Giselda Barros Adilma Menezes Oliveira Andréa Maria do Valle Verona Fontes Carlos Tadeu Santana Tatun Sandra Pinto Freire Núcleo de Tecnologia da Informação Fábio Alves (Coordenador) João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Michele Magalhães de Menezes Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy Pedro Ivo Pinto Nabuco Faro Jéssica Gonçalves de Andrade Lucílio do Nascimento Freitas Luzileide Silva Santos Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Péricles Morais de Andrade Júnior AULA 1 Introdução à Bioquímica .................................................................... 07 AULA 2 A química da água ............................................................................ 29 AULA 3 A química dos aminoácidos e peptídeos ........................................... 51 AULA 4 Introdução ao estudo das proteínas .................................................. 71 AULA 5 Estruturas tridimensionais e funções biológicas das proteínas fibrosas .. 83 AULA 6 Estruturas tridimensionais e funções biológicas das proteínas globulares....................................................................................... 103 AULA 7 A Química dos carboidratos ............................................................. 119 AULA 8 Estruturas e funções biológicas dos nucleotídeos: Os ácidos nucléicos ... 147 AULA 9 A química dos lipídios ..................................................................... 169 AULA 10 Introdução ao estudo das enzimas ................................................. 195 AULA 11 Inibição e regulação enzimática ...................................................... 217 AULA 12 Introdução ao metabolismo ............................................................. 237 AULA 13 Metabolismo oxidativo da glicose ................................................... 251 Sumário INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA META Introduzir alguns conceitos de química, essenciais na compreensão dos tópicos abordados nas aulas de Bioquímica. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: descrever a estrutura atômica; diferenciar número atômico de massa atômica; definir elemento químico; distinguir moléculas de compostos químicos; diferenciar compostos orgânicos de compostos inorgânicos; descrever a formação da ligação covalente; relacionar eletronegatividade com a formação de ligações covalentes polar e apolar; representar moléculas orgânicas com modelos bidimensionais; identificar a estrutura tridimensional de moléculas orgânicas; definir enantiômeros ou isômeros ópticos; diferenciar configuração de configuração absoluta; reconhecer grupos funcionais, correlacionando-os com funções orgânicas. PRÉ-REQUISITOS Para acompanhar esta aula você deverá rever conceitos de Química Geral e Química Orgânica estudados no ensino médio. Aula 1 (Fonte: http://www.gettyimages.com) 8 Bioquímica INTRODUÇÃO A Bioquímica é uma disciplina cujo campo de atuação engloba o es- tudo das estruturas químicas, funções biológicas e o metabolismo das biomoléculas, ou seja, as transformações químicas que essas moléculas sofrem no ambiente celular. Todas as biomoléculas são moléculas orgâni- cas (compostos de carbono) e são agrupadas em quatro classes: proteí- nas, ácidos nucléicos, carboidratos e lipídios. O átomo de carbono das moléculas orgânicas faz ligação covalente com hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Esses elementos químicos totali- zam um percentual de 96% da massa corpórea. Dessa massa corpórea, cerca de 3,9% corresponde aos elementos cálcio, fósforo, potássio, enxo- fre, sódio, cloro, magnésio, iodo e ferro . Outros treze elementos quími- cos encontrados no corpo humano são chamados de elementos traços, por serem encontrados a concentrações muito baixas. A concentração desses elementos traços corresponde ao 0,1% restante. A maioria das moléculas que compõem as biomoléculas apresenta estruturas tridimensionais ou formas bem definidas. O conhecimento das estruturas tridimensionais dessas moléculas é fundamental na compreen- são da Bioquímica, uma vez que a função biológica que elas exercem no ambiente celular resulta da forma que essas moléculas apresentam. Estrutura molecular da hemoglobina (Fonte: www.hemoglobinopatias.com.br). 9 Introdução à Bioquímica Aula 1A ESTRUTURA DO ÁTOMO O átomo é a unidade fundamental da matéria. É formado por duas regiões básicas: o núcleo atômico e a eletrosfera. O núcleo é constituído de prótons, que são as cargas positivas, e os nêutrons, partículas sem carga elétrica (neutra). Em torno do núcleo, na eletrosfera, orbitam os elétrons, com cargas negativas (Figura 1). Os elétrons são atraídos pela carga positiva dos prótons. Como a carga do elétron é igual à carga do próton, embora de naturezas opostas, o átomo é eletricamente neutro. Figura 1. Estrutura do átomo de nitrogê- nio, destacando o núcleo atômico forma- do por partículas positivas (prótons em es- feras amarelas) e sete partículas sem carga (nêutron em esferas laranja). Em torno do núcleo orbitam sete partículas com cargas negativas (elétrons em esferas brancas) NÚMERO ATÔMICO (Z) Cada átomo de um elemento químico apresenta um número específico de prótons, e é exatamente esse número de prótons que é considerado para diferenciar um átomo de outro. Assim, o total de número de prótons de um átomo é denominado número atômico. O hidrogênio com um próton em seu núcleo apresenta número atômico igual a 1. O cálcio, com um total de 20 prótons no seu núcleo, apresenta número atômico igual a 20 (Figura 2). MASSA ATÔMICA (A) A massa atômica (A) de umátomo é igual à soma de prótons e nêutrons no núcleo. O núcleo contém, praticamente, toda a massa do átomo. O hidro- gênio, por exemplo, é formado por um próton e um elétron, e nenhum nêu- tron. Portanto, sua massa atômica é igual a 1. A Figura 2 representa o número atômico e a massa atômica do cálcio e hidrogênio, respectivamente. Figura 2. Número atômico e massa atô- mica do Cálcio e Hidrogênio. Os núme- ros 20 abaixo do símbolo do elemento cálcio (Ca) e o 1 no hidrogênio (H) indi- cam o seu número atômico. Os núme- ros 40 escritos acima do símbolo cálcio e o 1 do hidrogênio representam sua massa atômica. (Fonte: http://www.explicatorium.com). (Fonte: http://www.explicatorium.com). 10 Bioquímica CAMADAS ELETRÔNICAS OU NÍVEIS DE ENERGIA Os elétrons são distribuídos em uma série de anéis concêntricos de- nominadas camadas eletrônicas ou níveis de energia. As camadas eletrô- nicas são representadas pelas letras K, L, M, N, O, P e Q. Essa represen- tação é muito útil para a compreensão da formação das ligações covalen- tes e não covalentes. (Sobre as ligações covalentes e não covalentes, tra- taremos mais adiante – tópico 3). O número máximo de elétrons permiti- do nas camadas K é 2 e na L é 8. A camada M é completada com 18 elétrons se ela não for a última camada na distribuição eletrônica. Para esses níveis de energia maiores, sendo a camada mais externa, ela deve ser preenchida com 8 elétrons. Esse requisito atende à regra do octeto. Essa regra define que a última camada de um átomo deve apresentar oito elétrons para adquirir a configuração estável dos gases nobres. A exceção a essa regra é a camada K, que é preenchida com dois elétrons. (Figura 3). Os elementos conhecidos como gases nobres % hélio (He), neônio (Ne), argônio (Ar), criptônio (Kr), xenônio (Xe) e radônio (Rn) são gases que não se combinam com outros elementos químicos porque são pouco reativos, ou seja, não são capazes de reagir quimicamente. A maioria apresenta 8 elétrons na sua camada de valência – daí a regra do octeto – , excetuando- se o gás hélio, que apresenta apenas dois elétrons na camada K. Figura 3. Distribuição eletrônica dos átomos hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio. (Fonte: Biochemistry and Molecular Life Science Visual Library, John Willey & Sons Inc, 2009). 11 Introdução à Bioquímica Aula 1ELEMENTO QUÍMICO A matéria é composta por um número limitado de unidades básicas cha- madas elementos químicos. Denomina-se elemento químico todos os áto- mos que apresentam o mesmo número atômico (Z). Os elementos químicos não podem ser separados em substâncias mais simples por meio de reações químicas comuns.O oxigênio é o elemento químico constituído por todos os átomos de oxigênio com número atômico 8. O cálcio é o elemento químico constituído por todos os átomos de cálcio com número atômico 20. Os ele- mentos químicos são representados por letras chamadas símbolos químicos: como a letra H para o hidrogênio, C para o carbono, O para oxigênio, N para nitrogênio, Na para sódio, K para potássio, Fe para Ferro e Ca para Cálcio. MOLÉCULA Dois ou mais átomos ligados entre si formam uma molécula. A molécula de água contém dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio e é representada pela fórmula molecular H 2 O. Dois átomos de oxigênio ligados formam a molécu- la do gás oxigênio, representada por O 2 . A molécula de glicose é C 6 H 12 0 6 , indica que ela contém seis átomos de carbono, doze átomos de hidrogênio e seis átomos de oxigênio. Os átomos nas moléculas estão ligados entre si por uma ligação química denominada ligação covalente, que será estudada no tópico 3 desta aula. COMPOSTOS QUÍMICOS Substâncias constituídas por um único tipo de molécula são denominadas compostos químicos. Os compostos são representados por uma fórmula mole- cular que traz a sua composição atômica. A fórmula do composto de cloreto de sódio é NaCl , a do composto de glicose é C 6 H 12 0 6 . Assim, a partir das suas fórmulas, é possível verificar que cada molécula do composto de NaCl contém um átomo de sódio e um de cloro e cada molécula do composto glicose contém seis átomos de carbono, doze átomos de hidrogênio e seis átomos de oxigênio. COMPOSTOS ORGÂNICOS E INORGÂNICOS Os compostos químicos são agrupados em duas classes: compostos orgâ- nicos e inorgânicos. Os compostos orgânicos são formados por moléculas que apresentam carbono na sua composição. Todas as biomoléculas são compos- tos orgânicos. As moléculas que não apresentam carbono em suas estruturas são denominadas compostos inorgânicos, como HCl, H 2 SO 4 , HNO 3 , etc. ÍONS Os átomos são eletricamente neutros por apresentar iguais quantidades de prótons e elétrons. No entanto, existem átomos ou grupos de átomos, os 12 Bioquímica íons, que apresentam tendência a ganhar ou perder elétrons. Essa tendência dos íons a ganhar e perder elétrons é para adquirir uma configuração estável, como indicado pela regra do octeto. O átomo de cloro, cujo número atômico é 17, apresenta 7 elétrons na camada M, necessitando de mais 1 para preen- cher essa camada. O sódio, com número atômico 11, apresenta 1 elétron na camada M. O sódio pode doar esse último elétron para o cloro, ficando assim com a sua camada anterior L preenchida, com oito elétrons, de acordo com a regra do octeto (Figura 4). Os íons que ganham elétrons são denominados ânions e apresentam carga negativa. Os íons que perdem elétrons são deno- minados cátions e apresentam carga elétrica líquida positiva. O cátion de sódio é representado pelo símbolo Na+ e o ânion de cloro por Cl- (Figura 4). FORMAÇÃO DA LIGAÇÃO COVALENTE Os átomos nas moléculas são unidos por um tipo de ligação química denominada ligação covalente. A ligação covalente ocorre com átomos com igual tendência a ganhar e perder elétrons, ou seja, a ligação covalente consis- te no compartilhamento de um par de elétrons entre dois átomos. É esse tipo de ligação que é verificado na ligação química entre o carbono e o hidrogênio formando a molécula do metano (-CH 3 ) e entre o oxigênio e dois átomos de hidrogênio formando a molécula de água (H 2 O), por exemplo. (Figura 5). Para os propósitos deste curso, conceituaremos a valência de um áto- mo como o número de elétrons que um átomo pode doar, receber, ou com- partilhar com outro átomo para realizar uma ligação química. Na descrição da valência dos átomos dos elementos químicos descritos neste tópico (Tabela 1), utilizaremos a representação de Lewis. Essa representação des- creve os elétrons da valência dos átomos com pontos (Figura 6). O carbono apresentando quatro elétrons na camada L, necessitará de mais quatro elé- trons para ser preenchida de acordo com a regra do octeto. Dessa forma, o carbono se une a quatro átomos de hidrogênio, que apresenta um elétron na camada K. A camada K por sua vez, necessita de mais um elétron para atingir a configuração do gás nobre hélio. A representação química da liga- ção covalente é feita com um traço horizontal ou vertical. (Figura 5) . Figura 4. Distribuições eletrônicas dos átomos cloro e sódio e a formação da molécula de cloreto de sódio (NaCl). 13 Introdução à Bioquímica Aula 1Tabela 1: Valência de átomos encontrados nas biomoléculas Figura 5. Formação de ligação covalente do carbono com hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Os pontos representam os elétrons. As ligações covalentes são representadas por traços verticais, horizontais e diagonais (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 14 Bioquímica ELETRONEGATIVIDADE Para que você compreenda o conceito de moléculas polares e apo- lares, é necessário entender antes o conceito de eletronegatividade. A eletronegatividade é a propriedade do átomo, quando ligado covalen- temente a outro átomo, de atrair elétrons para próximo do seu núcleo. Na ligação covalente feita com o mesmo tipo de átomo,como nas moléculas de Cl 2 , F 2 , H 2 , etc., formadas por átomos de cloro, flúor e hidrogênio, respectivamente; os elétrons estão igualmente distribuí- dos entre os dois núcleos desses átomos; mas se a molécula é formada por dois elementos diferentes, como o oxigênio e o hidrogênio, como na molécula da água (H 2 O), observa-se que os elétrons vão ser mais fortemente atraídos pelo núcleo do oxigênio. Esta propriedade de atra- ção por elétrons na ligação covalente exercido por um dos átomos é denominada eletronegatividade. Os átomos que apresentam essa pro- priedade são chamados átomos eletronegativos. A Tabela 2 descreve os valores de eletronegatividade de alguns elementos químicos. Figura 6. Ligações covalentes simples, dupla e tripla, em que se representa o compartilhamento de elétrons com pontos (representação de Lewis) como: para ligação simples (:), para ligação dupla (::) e para ligação tripla (:::). Na representação da ligação covalente com traço, temos: ligação simples (-), ligação dupla (=) e ligação tripla (º). Quando os átomos compartilham apenas um único par de elé- trons, eles formam ligações covalentes simples, representada por um único traço horizontal ou vertical. A ligação entre dois átomos de carbono (C-C) é uma ligação simples. Quando compartilham mais de dois pares de elétrons, formam uma ligação dupla. Como exemplo de ligação dupla, temos a ligação de um carbono a dois átomos de oxigênio, formando a molécula do gás dióxido de carbono (CO 2 ou O=C=O). Quando os átomos compartilham três pares de elétrons, como na molécula do gás nitrogênio (N 2 ), temos uma ligação tripla (Figura 6). 15 Introdução à Bioquímica Aula 1Tabela 2 – Valor de eletronegatividade de alguns elementos químicos LIGAÇÕES COVALENTES POLAR E APOLAR Uma vez compreendido o conceito de eletronegatividade podemos entender o que vem a ser a polaridade de uma molécula. A polaridade é, portanto, a separação de cargas em uma ligação química devido à diferença de eletronegatividade entre os átomos covalentemente ligados. Quanto à polaridade, as ligações são de dois tipos: ligação polar e ligação apolar. LIGAÇÃO COVALENTE POLAR A ligação covalente formada por átomos que apresentam diferença entre os valores de eletro negatividade maior do que 0,5 é uma ligação covalente polar. Uma ligação covalente entre o átomo de carbono e oxi- gênio é polar devido à diferença entre a eletronegatividade do oxigênio (3,5) e a do carbono (2,5), ser igual a 1. Nessa ligação covalente, os elé- trons compartilhados se aproximam mais do núcleo do oxigênio. Como o oxigênio é um átomo mais eletronegativo que o carbono, fica com uma carga parcial negativa, representada por (??). O carbono, com um caráter parcial de deficiência em elétrons, apresentará carga parcial positiva (??). Denomina-se carga parcial (representada pela letra grega ?) o comparti- lhamento desigual de elétrons entre os átomos ligados covalentemente. A Figura 7 representa a ligação covalente polar entre carbono e oxigênio. Figura 7. Ligação covalente polar entre os átomos carbono e oxigênio, que apresentam diferentes valores de eletronegatividade. A letra grega (?) significa carga parcial. 16 Bioquímica LIGAÇÃO COVALENTE APOLAR Esse tipo de ligação covalente ocorre quando é feita com átomos que apresentam o mesmo valor de eletronegatividade ou quando se verifica uma diferença de eletronegatividade menor que 0,5. A ligação covalente entre dois átomos de carbono, entre dois átomos de hidrogênio, entre dois átomos de oxigênio, são ligações covalentes apolares, pois nelas não ocorre formação de pólos elétricos (Figura 8). As moléculas que apresentem ligações covalentes polares são pola- res, sendo dessa forma solúveis em água, enquanto as que apresentam apenas ligações covalentes apolares são apolares e insolúveis em água. REPRESENTAÇÃO DAS ESTRUTURAS MOLECULARES POR FÓRMULAS DE PROJEÇÃO A representação da estruturas tridimensionais das moléculas nas aulas des- se curso será feita com modelos bidimensionais como projeção de Fischer, projeção em perspectiva, modelo bola e bastão e modelo do tipo espaço cheio. PROJEÇÃO DE FISCHER A projeção de Fischer recebe esse nome em homenagem ao seu ideali- zador, o bioquímico Emil Fischer. Nessa projeção, as ligações covalentes entre os átomos são representadas por traços horizontais e verticais (Figura 9a). Os traços verticais indicam que os átomos dessa ligação estão projeta- dos acima do plano dessa folha (voltados para a direção dos seus olhos), enquanto que os átomos que estão ligados aos traços verticais projetam-se para trás do plano da folha desse livro (se afastando dos seus olhos). PROJEÇÃO EM PERSPECTIVA De acordo com o dicionário de Houaiss, a perspectiva é uma téc- nica de representação tridimensional que possibilita a ilusão de espes- sura e profundidade das figuras, a partir da projeção das linhas parale- Figura 8. Ligações covalentes apolar entre átomos que apresentam o mesmo valor de eletronegatividade. 17 Introdução à Bioquímica Aula 1las do primeiro plano para um ponto de fuga, de maneira que haja uma diminuição das figuras que ocupam o segundo plano da obra. Na pro- jeção em perspectiva (Figura 9b), essa ilusão de espessura e profundi- dade dos átomos ligados a uma molécula é representada por triângu- los tracejados, indicando os átomos que estão para trás do plano da folha desse livro (se afastando dos seus olhos), enquanto os triângulos pretos representam os átomos projetados acima do plano dessa folha (voltados para a direção dos seus olhos). MODELO BOLA E BASTÃO O modelo bola e bastão representa o comprimento relativo das liga- ções covalentes e o ângulos formados entre elas. Nesse modelo, os áto- mos das moléculas são representados por bolas coloridas, enquanto as liga- ções covalentes que unem esses átomos são representadas por bastões (Figura 9b). O átomo de hidrogênio é representado por uma bola de cor branca, o carbono por uma cinza ou preta, o nitrogênio por uma azul, o oxigênio por uma vermelha, o fósforo por uma verde, o enxofre por uma amarela e um metal por uma bola roxa (Figura 9b). MODELO DO TIPO ESPAÇO CHEIO Esse modelo representa os átomos em forma de esferas fundidas uma na outra. Essa representação demonstra a forma e o tamanho da molécula (Figura 9c). Figura 9. Modelos bidimensionais de representação das estruturas tridimensionais das moléculas. (a) Projeção em perspectiva. (b) Modelo bola e bastão. O átomo de hidrogênio é representado por uma bola de cor branca, o carbono por uma cinza ou preta, o nitrogênio por uma azul, o oxigênio por uma vermelha, o fósforo por uma verde, o enxofre por uma amarela e um metal por uma bola roxa. (c) Modelo do tipo espaço cheio (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 18 Bioquímica ESTEREOQUÍMICA DAS MOLÉCULAS ORGÂNICAS As moléculas orgânicas apresentam estruturas químicas bem defini- das. O conhecimento da estrutura tridimensional dessas moléculas é fun- damental em Bioquímica, uma vez que a função que essa molécula de- sempenhará no ambiente celular dependerá de sua forma. A estereoquí- mica é a parte da Química que estuda a estrutura tridimensional das mo- léculas, ou seja, o arranjo espacial dos átomos nas moléculas. Para compreendermos a estereoquímica das moléculas orgânicas como os aminoácidos e os carboidratos, iniciaremos esse tópico conceituando alguns termos essenciais na compreensão da estrutura tridimensional de moléculas como: carbono assimétrico (ou carbono quiral), carbono simé- trico (ou carbono aquiral), enantiômeros ou isômeros ópticos, configura- ção e configuração absoluta. Carbono Assimétrico e Carbono Simétrico. O carbono assimétrico ou carbono quiral é o carbono que faz ligação covalente com quatro subs- tituintes diferentes (grupos químicos). O carbono simétrico, por sua vez, faz ligação com pelo menosdois grupos químicos idênticos. Na Figura 10 estão demonstradas as estruturas de duas moléculas, em que é possível verificar na Figura 10a uma molécula assimétrica ligada a quatro grupos químicos diferentes, sendo esses grupos representados pelas letras x, y b e a. Na Figura 10b, é destacada a forma de uma molécula simétrica ligada a dois grupos químicos idênticos x e x. ENANTIÔMEROS OU ISÔMEROS ÓPTICOS Os enantiômeros ou isômeros ópticos são imagens especulares (ou do espelho) que não se sobrepõem (Figura 11). Para uma molécula apre- Figura 10. Carbono assimétrico e carbono simétrico. (a) O carbono assimétrico ou quiral faz ligação covalente com quatro grupos químicos diferentes, representados pelas letras a, b, x e y. (b) O carbono simétrico ou aquiral faz ligação covalente com dois grupos químicos idênticos (x). Ambas as moléculas são representadas pelo modelo bola e bastão (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 19 Introdução à Bioquímica Aula 1sentar isômeros ópticos, é necessário ter em sua estrutura carbono assi- métrico. Os enantiômeros têm em comum as mesmas propriedades quí- micas (como o pontos de fusão e ebulição) e quase todas as proprieda- des físicas, distinguindo-se entre si apenas pela maneira como desviam a luz plano polarizada em um equipamento denominado polarímetro (equipamento que serve para medir esse desvio). A luz plano polariza- da é o feixe de luz no qual todos os raios vibram paralelos a um mesmo plano. O isômero óptico que desvia a luz para a direita é dextrorrotatório e o que a desvia para a esquerda é levorrotatório. DIFERENÇA ENTRE OS TERMOS CONFIGURAÇÃO E CONFIGURAÇÃO ABSOLUTA O termo configuração relaciona-se ao arranjo espacial dos átomos em uma molécula assimétrica. A configuração é a estrutura tridimensional (ou a forma) de moléculas assimétricas. Emprega-se o termo configuração ab- soluta de uma molécula orgânica para se referir a sua estrutura tridimensio- nal quando comparada à configuração dos isômeros D e L- do Gliceraldeí- do. Os isômeros ópticos D- e L- do Gliceraldeído são usados como referên- cias na determinação de configuração de qualquer molécula orgânica. Para se determinar a configuração das moléculas orgânicas, é necessá- rio desenhar a sua estrutura utilizando a projeção em perspectiva (Figura 12). Na projeção em perspectiva, os triângulos tracejados indicam os áto- mos que estão para trás do plano da folha desse livro e os triângulos pretos representam os átomos projetados acima do plano dessa folha (Figura 12). (Fonte: Nelson e Cox, 2002). Figura 11. Isômeros ópticos ou enantiômeros. A molécula representada na Figura pelo modelo bola e bastão é assimétrica ou quiral, pois 4 diferentes átomos se ligam ao carbono. As letras A, Y, X e B representam os diferentes átomos. Os isômeros ópticos são imagens especulares não superpostas. A imagem do espelho da molécula representada não se sobrepõe à estrutura da molécula à direita. 20 Bioquímica GRUPOS FUNCIONAIS E FUNÇÕES ORGÂNICAS Os grupos funcionais são átomos ou grupos de átomos que substitu- em um ou mais átomos de hidrogênio ligados ao carbono (Figura 13). Esse grupo químico confere reatividade à molécula orgânica. Já funções orgânicas são grupos de compostos orgânicos com estruturas químicas semelhantes e, consequentemente, comportamento químico similar. A Figura 13 traz listados vários grupos funcionais, estruturas químicas e as respectivas funções orgânicas que esses grupos conferem à molécula. Figura 12. Estruturas em projeção em perspectiva dos isômeros ópticos do Gliceraldeído: Os isômeros ópticos D-Gliceraldeído e L-Gliceraldeído (Fonte: Nelson e Cox, 2002). Figura 13. Grupos funcionais e funções orgânicas. A função orgânica a que corresponde cada grupo funcional é apresentada entre parênteses (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 21 Introdução à Bioquímica Aula 1CONCLUSÃO As biomoléculas proteínas, ácidos nucléicos, carboidratos e lipídios são compostos orgânicos polifuncionais que apresentam em sua composição os átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre e fósforo. A maioria é formada por moléculas assimétricas, que conferem a essas biomo- léculas uma ampla diversidade de formas moleculares. A forma que uma molécula apresenta está adaptada à função biológica que essa molécula de- sempenhará no ambiente celular. A configuração de uma molécula assi- métrica é a sua forma tridimensional. As moléculas assimétricas apresen- tam enantiômeros ou isômeros ópticos, que são imagens especulares não superpostas. A configuração absoluta de uma molécula orgânica assimé- trica é a sua forma, tendo como referência as estruturas dos isômeros D- Gliceraldeído e L- Gliceraldeído. As biomoléculas são polifuncionais, ou seja, apresentam dois ou mais diferentes grupos funcionais em suas estruturas. RESUMO As células de todos os seres vivos são formadas pelas biomoléculas prote- ínas, ácidos nucléicos, carboidratos e lipídios. Essas biomoléculas são forma- das por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo interligados por ligação covalente. Os compostos orgânicos apresentam o átomo de carbo- no em suas estruturas, enquanto os compostos inorgânicos, como a água (H 2 O), não são formados por carbono. Devido à diferença de eletronegatividade entre os átomos ligados covalentemente, as moléculas podem apresentar ligações polares ou apolares. As ligações covalentes polares são as que formam um pólo elétrico em razão da diferença de eletronegatividade dos átomos ligados cova- lentemente. Nas ligações covalentes apolares a diferença de eletronegatividade entre os átomos ligados é menor do que 0,5, não formando pólo elétrico. As moléculas apolares ou hidrofóbicas são insolúveis em água, enquanto as molé- culas polares ou hidrofílicas se solubilizam nesse líquido. A maioria das molé- culas orgânicas são compostos assimétricos em que o carbono faz ligação com quatro grupos químicos diferentes. Esse carbono é denominado carbo- no assimétrico ou quiral. Os carbonos simétricos ou aquiral estão ligados a pelo menos dois grupos químicos iguais. As moléculas assimétricas apresen- tam enantiômeros ou isômeros ópticos. Os enantiômeros apresentam todas as propriedades químicas como ponto de fusão, ebulição, dentre outros, mas diferem na forma como desviam a luz plano polarizada no polarímetro. O isômero que desvia a luz para a direita é dextrorrotatório, enquanto o que desvia para a esquerda é levorrotatório. Os grupos funcionais são átomos ou grupos de átomos que substituem um ou mais hidrogênios ligados ao carbo- no. Esses grupos químicos conferem reatividade à molécula. As funções or- gânicas são grupos de compostos orgânicos com grupos funcionais comuns. 22 Bioquímica (Fonte: Nelson e Cox, 2002). ATIVIDADES 1. Descreva as estruturas atômicas dos átomos, diferenciando o número atômico da massa atômica desses átomos. Fundamente sua resposta, to- mando o átomo de nitrogênio como exemplo. 2. Explique o que é um elemento químico. 3. Explique a diferença entre moléculas, compostos orgânicos e inorgâni- cos apresentando exemplos de cada um deles. 4. Por que os cátions como o íon sódio (Na+) apresentam cargas positivas e os ânions como o cloreto (Cl-) cargas negativas? 5. Defina eletronegatividade e explique por que o grupo metil (um hidrocar- boneto) é uma molécula apolar, enquanto o etanol é uma molécula polar. 6. Dada a estrutura da molécula orgânica D-Gliceraldeído representada na projeção de Fischer utilize a Projeção em perspectiva para representar essa molécula. 7. Defina enantiômeros ou isômeros ópticos, explicando suas principais características comuns e a única propriedade em que eles se diferenciam. 8. Diferencie os termos configuração de configuração absoluta. 9. Dada a estrutura do hormônio adrenalina (epinefrina) apresentada na 10. Figura 16, identifique os grupos funcionais dessa molécula e suas respectivasfunções orgânicas. 23 Introdução à Bioquímica Aula 1 1. Caso você tenha se baseado na estrutura do átomo de nitrogênio mostrada na Figura 1 para apresentar a sua resposta, terá sido uma boa alternativa, pois ela destaca a estrutura básica de um átomo. Pois o átomo é a unidade fundamental da matéria, formado por duas regiões básicas: o núcleo atômico e a eletrosfera. O núcleo é constituído de prótons, que são as cargas positivas, e os nêutrons, partículas sem carga elétrica. Em torno do núcleo, orbitam os elétrons, com cargas negativas. O número atômico de um átomo corresponde ao número de prótons, pois cada átomo de um elemento químico apresenta um número específico de prótons. Já a massa atômica de um átomo é igual à soma de prótons e nêutrons presentes no núcleo. Assim, o núcleo contém toda a massa do átomo. O nitrogênio possui sete prótons em seu núcleo, apresentando assim número atômico igual a 7 e sete nêutrons. Como a massa atômica é igual à soma de prótons e nêutrons, tem-se que a massa atômica desse átomo é 14. 2. Para responder essa atividade é essencial que você tenha uma compreensão de que um elemento químico é formado por um grupo de átomos com uma característica comum. Remontando ao tópico 1.5 dessa aula você vai perceber que essa característica comum a um elemento químico é que todos os seus átomos apresentem o mesmo número de prótons em seu núcleo, ou seja, o mesmo número atômico (Z). A compreensão da simbologia utilizada para representar um elemento químico é um aspecto também importante a ser destacada nessa resposta. Assim, o elemento químico é representado por símbolos, como o hidrogênio (representado pela letra H), oxigênio (O), nitrogênio (N), carbono (C), entre outros. 3. Para uma compreensão correta dessa atividade é necessário deixar bem claro que quando se refere à molécula, fala-se de átomos que se unem ou por ligação covalente ou por ligação iônica. Assim, quando os átomos compartilham elétrons, formam uma ligação química denominada ligação covalente. Essa ligação covalente entre os átomos é a ligação química que forma as moléculas. Assim, dois ou mais átomos ligados entre si formam uma molécula. Quando dois átomos de hidrogênio reagem para formar H 2 , temos a molécula do gás hidrogênio. Os compostos orgânicos e inorgânicos, por sua vez, são aglomerados de moléculas. Enquanto os compostos orgânicos apresentam átomos de carbono em suas estruturas, os compostos inorgânicos são formados por outros elementos químicos COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 24 Bioquímica que não o carbono. Como exemplos de compostos orgânicos você pode apresenta o açúcar glicose, (C 6 H 12 O 6 ) e de compostos inorgânicos a H 2 O, o ácido clorídrico (HCl), o ácido sulfúrico (H 2 SO 4 ), entre muitos outros. 4. Para responder o porquê de os íons apresentarem carga é necessário que se tenha em mente que o átomo é uma partícula eletricamente neutra. Essa neutralidade do átomo se deve a ele apresentar igual número de partículas com cargas positivas (prótons) e partículas negativas (elétrons). Contudo, existem elementos químicos que para adquirir a estabilidade eletrônica de acordo com a regra do octeto, como os átomo de sódio (com um número atômico igual a 11) e o cloro (com um número atômico igual a 17), precisam doar ou ganhar elétrons, respectivamente. Dessa forma, enquanto o átomo de cloro, cujo número atômico é 17, apresenta 7 elétrons na camada M, necessita de mais 1 para preencher essa camada; o sódio (com número atômico 11) apresenta 1 elétron na camada M e pode doar esse último elétron para o cloro, ficando assim com a sua camada anterior L preenchida, com oito elétrons, de acordo com a regra do octeto. Portanto, o átomo de cloro que ganha um elétron, totalizando 18, apresenta uma carga líquida negativa. O átomo de sódio com 11 prótons (carga positiva) e 11 elétrons (carga negativa) apresentará carga líquida negativa de +1 quando doar um elétron para o cloro. 5. A definição de eletronegatividade foi discutida no tópico 3 dessa aula, caso você tenha tido alguma dificuldade em responde a esse conceito, leia-o mais uma vez. Você encontrará que a eletronegatividade é a propriedade do átomo, quando ligado covalentemente a outro átomo, de atrair elétrons para próximo do seu núcleo. As estruturas do grupo metil e a do etanol estão destacadas na Figura 13 desse capítulo. Para responder a segunda parte da pergunta, que é a de reconhecer a polaridade das moléculas dos grupos metil e etanol, é necessário reconhecer os grupos funcionais e as funções orgânica estudadas no tópico 6 dessa aula. A Figura 13 mostra as estruturas dessas moléculas. Assim, conferindo a estrutura do grupo metil nessa figura percebe-se que essa molécula é formada apenas por carbono e hidrogênio, como a diferença de eletronegatividade entre esses dois átomos é menor do que 0,5, essa molécula é considerada apolar (valor de eletronegatividade do hidrogênio é igual a 2,1 e do carbono 2,5). O etanol é uma molécula orgânica polar por apresentar um grupo hidroxila (OH) em que se observa a formação de um pólo elétrico devido o átomo de oxigênio apresentar um valor 25 Introdução à Bioquímica Aula 1 de eletronegatividade de 3,5, apresentando uma diferença de eletronegatividade entre esses dois átomos de 1,4, o que confere um pólo elétrico a essa molécula. 6. A representação das estruturas tridimensionais das moléculas é feita com modelos bidimensionais como projeção de Fischer, projeção em perspectiva, modelo bola e bastão e modelo do tipo espaço cheio. A projeção em perspectiva representa a estrutura da molécula utilizando triângulos pretos, para destacar os grupos que estão projetos na sua direção, acima do plano dessa folha; e os triângulos hachurados para representar os grupos da molécula que estão para trás do plano da folha desse livro. O D-gliceraldeído é uma molécula orgânica que apresenta um grupo aldeído, duas hidroxilas, um grupo CH 2 e um hidrogênio ligado ao carbono assimétrico. O arranjo desses grupos químicos em torno do carbono assimétrico nessa molécula, de acordo com o modelo da projeção em perspectiva, está mostrado na Figura 14. 7. Os enantiômeros ou isômeros ópticos são imagens especulares (ou do espelho) que não se sobrepõem. A condição para que uma molécula orgânica apresente isômeros ópticos é que elas devam apresentar em sua estrutura carbono assimétrico. Os enantiômeros têm em comum as mesmas propriedades químicas (como o pontos de fusão e ebulição) e quase todas as propriedades físicas, diferenciando-se entre si apenas pela maneira como desviam a luz plano polarizada em um equipamento denominado polarímetro (equipamento que serve para medir esse desvio). Os isômeros ópticos que desviam a luz plano polarizada para esquerda são os levorrotatórios, enquanto que os que desviam a luz plano polarizada para a direita são os levorrotatórios. 8. O termo configuração designa o arranjo espacial dos átomos em uma molécula assimétrica, ou seja, corresponde à estrutura tridimensional (ou forma) de moléculas assimétricas. Já o termo (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 26 Bioquímica configuração absoluta é empregado para se referir à estrutura tridimensional de uma molécula orgânica quando comparada à configuração dos isômeros D e L- do Gliceraldeído, uma vez que esses isômeros ópticos são usados como referências na determinação de configuração de qualquer molécula orgânica. 9. Para responder essa atividade você deve conferir a Figura 13 dessa aula para uma correta identificação dos grupos funcionais das estruturas químicas das moléculas apresentadas nesta questão. No tópico 6 dessa aula você aprendeu que os grupos funcionais são átomos ou grupos de átomos que substituem um ou mais átomos de hidrogênio ligados ao carbono, conferindo reatividade à molécula orgânica. Na estrutura da adrenalina, um hormônio queapresenta diversos grupos funcionais (sombreados) destacam-se os seguintes grupos funcionais, como hidroxila (conferindo uma função orgânica álcool), um grupo metil (conferindo uma função orgânica de hidrocarboneto) e um grupo fenil ou anel aromático (conferindo uma função orgânica de composto aromático). (Fonte: Nelson e Cox, 2002). PRÓXIMA AULA Na próxima aula teremos a oportunidade de apresentar a química da água, buscando entender porque a água é uma molécula dipolar capaz de solu- bilizar solutos tão distintos como açúcar e sal, reconhecer interações quí- micas não-covalentes, definir ácidos, bases e tampões. Até lá! 27 Introdução à Bioquímica Aula 1REFERÊNCIAS BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004. CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A. Bioquímica Ilustrada, 2 ed. Editora Artes Médicas, 1997. HOUAISS A.; VILLAR, M. DE S.; FRANCO, F. M. Dicionário Hou- aiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 2566. NELSON, D. L, COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 2 ed. São Paulo: Sarvier, 1995. NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 3 ed. São Paulo: Sarvier, 2002. STRYER, L. Bioquímica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1996. A QUÍMICA DA ÁGUA META Apresentar a química da água, relacionando alguns conceitos químicos essenciais na compreensão da Bioquímica. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: identificar a natureza dipolar da molécula da água; descrever a formação de pontes de hidrogênio na água e entre biomoléculas; explicar as propriedades incomuns da água como solvente; relacionar a importância das ligações químicas não covalentes na bioquímica; descrever a formação de uma ligação iônica; descrever a formação de uma interação hidrofóbica; reconhecer a química do pH; definir ácidos e base; e reconhecer tampões e sua atividade tamponante. PRÉ-REQUISITOS Para acompanhar esta aula, possibilitando uma melhor compreensão dos conteúdos trabalhados, você deverá rever conceitos de Química Geral e Química Orgânica estudados no ensino médio e também na aula Introdução à Bioquímica. Aula 2 (Fonte: http://www.gettyimages.com). 30 Bioquímica INTRODUÇÃO Estudos revelam que a vida em nosso planeta começou na água e hoje, em qualquer ambiente onde é encontrado esse líquido, quase sem- pre são encontradas diversas e numerosas formas de vida. Três quartos da superfície da Terra estão cobertos por água. A água é um dos mais importantes elementos para a vida dos seres vivos e é a substância mais abundante no corpo humano, correspondendo a 70% da massa corpórea. A água é o meio onde ocorrem as interações moleculares e as reações do metabolismo celular, ou seja, as reações químicas da célula. Para uma compreensão de todos esses processos é fundamental conhecer as liga- ções químicas que estão envolvidas tanto na formação das biomoléculas, como na manutenção de suas estruturas e interações moleculares que ocorrem no ambiente celular. As ligações químicas envolvidas na formação das biomoléculas são as ligações covalentes, que ocorrem com compartilhamento de elétrons (já estudadas na aula anterior). As ligações químicas não covalentes como pontes de hidrogênio, ligação iônica, forças de van der Walls e a interação hidrofóbica são fundamentais para a manutenção das estruturas das bio- moléculas, bem como nas suas interações moleculares no ambiente celu- lar, como as que são observadas na ligação do substrato (a molécula que vai ser modificada pela enzima) à estrutura do sítio ativo da enzima (local da enzima onde se liga o substrato). Água fluída (Fonte: www.vestibulandoweb.com.br). 31 A química da água Aula 2ESTRUTURA QUÍMICA DA MOLÉCULA DA ÁGUA Como já sabemos, a água é composta de um átomo de oxigênio e dois átomos de hidrogênio (Figura 1). Cada átomo de hidrogênio liga- se covalentemente ao átomo de oxigênio, compartilhando com ele um par de elétrons. O oxigênio apresenta dois pares de elétrons não com- partilhados. Assim, há quatro pares de elétrons em torno do átomo de oxigênio, dois deles envolvidos nas ligações covalentes com o hidro- gênio e dois pares não-compartilhados no outro lado do átomo de oxi- gênio (Figuras 1a e 1b). A POLARIDADE DA MOLÉCULA DA ÁGUA O átomo de oxigênio da molécula da água é mais eletronegativo que o seu átomo de hidrogênio. Desta forma, a molécula da água apresenta uma carga parcial negativa ( ) no átomo de oxigênio, por causa dos pares de elétrons não-compartilhados, e duas cargas positivas parciais ( ) nos átomos de hidrogênio, cargas essas que assumem uma configuração tetra- édrica (formando quatro ângulos) na molécula de água. FORMAÇÃO DAS PONTES DE HIDROGÊNIO A atração entre as cargas parciais positivas dos átomos de hidrogê- nio de uma molécula de água e a carga parcial negativa do átomo de oxigênio de outra molécula de água resulta na formação de uma ligação química não covalente chamada ponte de hidrogênio (Figura 1c). O oxigênio ligado covalentemente ao hidrogênio é denominado doador de hidrogênio e o oxigênio da outra molécula de água que atrai o átomo de hidrogênio é designado aceptor de hidrogênio (Figura 1c). As pontes de hidrogênio são interações mais fracas que as ligações covalentes, pois as pontes de hidrogênio na água líquida apresentam uma energia de li- gação (a energia necessária para romper a ligação) de 4,7 kcal/mol, com- parada com 110kcal/mol para a ligação covalente entre os átomos de oxigênio e hidrogênio (O-H). 32 Bioquímica Figura 1. (a) Polaridade da molécula da água representada pelos modelos bola e bastões. Nesse modelo, a bola vermelha representa o átomo de oxigênio e a bola branca o átomo de hidrogênio e o bastão azul a ligação covalente. (b). Molécula da água representada pelo modelo espaço cheio. (c) Devido à natureza dipolar da molécula da água, ela pode formar uma interação não covalente fraca denomi- nada ponte de hidrogênio, representada por traços horizontais azuis (Fonte: Nelson e Cox, 2002). Observe que o arranjo tetraédrico (de quatro ângulos) das cargas par- ciais positivas e negativas dos átomos de oxigênio e hidrogênio permite a cada molécula de água formar pontes de hidrogênio com até quatro molé- culas de água adjacentes (Figuras 1a e 1b). Em qualquer instante na água líquida à temperatura ambiente, uma molécula forma pontes de hidrogênio com uma média de 3,4 outras moléculas de água adjacentes. No estado líqui- do, as moléculas de água estão em movimento contínuo, possibilitando, as- sim, que as pontes de hidrogênio sejam formadas e quebradas muito rapida- mente. No gelo, ou seja, na água em estado sólido, cada molécula de água está fixa em um determinado ponto (não apresentando um movimento cinético tão acelerado quanto no estado líquido), formando pontes de hidrogênio com quatro outras moléculas de água adjacentes, constituin- do, desta forma, uma rede regular de pontes de hidrogênio (Figura 2). A água é uma das poucas substâncias que se expande com o congela- mento (à temperatura de 0oC, a água líquida apresenta densidade de 1,0g/ ml e o gelo tem densidade de 0,92g/ml). A expansão da água sob conge- lamento apresenta inúmeras conseqüências para a vida no planeta. Supo- nha que a água se contraísse sob congelamento, isto é, ficasse mais densa em vez de menos densa, o gelo acabaria afundando e se concentrando no fundo dos lagos e oceanos em vez de flutuar, o que acarretaria o congela- mento por inteiro desses ambientes aquáticos nas regiões polares do glo- bo terrestre, inviabilizando a existência de formas de vida nesses ambien- tes. Se assim o fosse, a Terra estaria confinada a uma era de gelo perma- nente e a vida talvez nunca tivesse prosperado. 33 A química da água Aula 2 Figura 2. Estrutura cristalina do gelo. Cada molécula de água nesse arranjo cristalino é representada pelo modelo bolae bastão. Cada molécula de água pode formar quatro pontes de hidrogênio com quatro moléculas vizinhas. As pontes de hidrogênio são representadas por traços horizontais (Fonte: Nelson e Cox, 2002). Figura 3. Direcionamento das pontes de hidrogênio (Fonte: Nelson e Cox, 2002). As pontes de hidrogênio mais fortes ocorrem quando os três átomos envolvidos permanecem em linha reta formando as pontes de hidrogênio. Esse arranjo apresenta uma maior interação entre a carga parcial positiva do átomo de hidrogênio com a carga parcial negativa e os elétrons não compar- tilhados do segundo átomo eletronegativo, nesse caso, o oxigênio (Figura 3). 34 Bioquímica Figura 4. Formação de pontes de hidrogênio entre as biomoléculas. O átomo eletronegativo que se liga covalente ao hidrogênio é o doador de hidrogênio e o que atrai a carga parcial positiva desse átomo é o aceptor de hidrogênio (Fonte: Nelson e Cox, 2002). FORMAÇÃO DE PONTES DE HIDROGÊNIO NAS BIOMOLÉCULAS As pontes de hidrogênio são interações não-covalentes envolvi- das na manutenção das estruturas das biomoléculas. A formação de pontes de hidrogênio nas biomoléculas ocorre com o hidrogênio liga- do covalentemente a um átomo eletronegativo (geralmente nitrogênio ou oxigênio) denominado doador de hidrogênio, sendo atraído por outro átomo de oxigênio ou nitrogênio (o aceptor de hidrogênio) como de- monstrado na Figura 4. Na estrutura das biomoléculas, as pontes de hidrogênio podem ser de dois tipos: intermolecular (intercadeia) e intramolecular (intracadeia). Intermoleculares ou intercadeia. Esse tipo de ponte de hidrogênio pode ocorrer nas proteínas e no DNA, como, por exemplo, entre duas cadeias polipeptídicas ou entre pares de bases da fita dupla do DNA (Figura 5). Intramoleculares ou intracadeia. As pontes de hidrogênio ocorrem dentro da própria molécula (Figura 5). 35 A química da água Aula 2 PROPRIEDADES DA ÁGUA COMO SOLVENTE A natureza polar da água determina, em grande parte, suas proprieda- des de solvente. Compostos iônicos com cargas, como o cloreto de sódio (NaCl) em solução, e compostos polares com cargas parciais, como o eta- nol (álcool etílico) ou acetona, tendem a dissolver-se em água. O princípio físico envolvido é a atração entre cargas opostas dessas moléculas atraindo as cargas da água. Dessa forma, a extremidade negativa do dipolo da água atrai os íons positivos das substâncias iônicas ou a extremidade positiva das substâncias polares. Por outro lado, o pólo positivo da molécula de água atrai um íon negativo do sal ou o pólo negativo da substância polar. CLASSES DE SUBSTÂNCIAS QUE SE SOLUBILIZAM NA ÁGUA SUBSTÂNCIAS IÔNICAS As substâncias iônicas são as que apresentam cargas elétricas positi- va ou negativa. Essas substâncias se dissolvem em água devido à capaci- dade de formar uma camada de hidratação (ou solvatação), entre elas e as moléculas de água. A carga positiva da substância iônica atrai a carga parcial negativa da molécula da água, da mesma forma que a carga nega- tiva da substância iônica atrai a carga parcial positiva da água. Assim, a solubilização do NaCl (Cloreto de sódio, ou sal de cozinha) se dá com a dissociação dessa molécula em seus íons sódio (Na+) e cloreto (Cl-) (Figura 6). O oxigênio da água (com carga parcial negativa) atrai a carga Figura 5. Pontes de hidrogênio intramolecular (quando o doador e o aceptor de hidrogênio são da mesma molécula) e intermoleculares (quando o doador de hidrogênio é de uma molécula e o aceptor é de outra molécula) (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 36 Bioquímica positiva do Na+ e o hidrogênio da água (com carga parcial positiva) atrai a carga negativa do Cl-. SUBSTÂNCIAS POLARES (HIDROFÍLICAS) São as substâncias que se solubilizam em água devido à capacidade de elas interagirem com a água por formação de pontes de hidrogênio. A solubilização dessas substâncias em água se dá por formação de pontes de hidrogênio entre os grupos polares dessas moléculas e a água. Glico- se, etanol, acetona, entre outras, são exemplos de moléculas polares que se solubilizam em água por formação de pontes de hidrogênio. SUBSTÂNCIAS ANFIPÁTICAS São as substâncias que apresentam uma natureza dupla, tendo um gru- po polar e outro apolar na mesma molécula. O grupo polar é denomina- do cabeça polar e o grupo apolar é a cauda apolar (Figuras 7a e 7b) Exemplos: Sabões (detergentes), lipídios de membranas, proteínas, etc. As membranas biológicas são bicamadas lipídicas formadas por lipídios anfipáticos e proteínas (Figura 7c). Quando as substâncias anfipáticas são agitadas em águas podem formar estruturas como micela (Figura 7d) e lipossomos (vesículas microscópicas compostas de uma ou mais membranas lipídicas envolvendo um compartimento aquoso). Figura 6. Estrutura cristalina do cloreto de sódio, em que o cátion (Na+) atrai a carga negativa do cloreto (Cl-) por ligação iônica e a dissolução de seus íons em água, em que se observa a formação de uma camada de solvatação em torno dos íons sódio (Na+) e cloreto (Cl-) (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 37 A química da água Aula 2 LIGAÇÕES QUÍMICAS NÃO-COVALENTES As ligações químicas não covalentes são forças fracas e exercem pa- péis importantes na manutenção das estruturas e nas interações molecu- lares das biomoléculas. As ligações não covalentes fundamentais nos pro- cessos bioquímicos são pontes de hidrogênio (já estudada no tópico 1.1), ligação iônica, interações de van der Waals e a interação hidrofóbica. Elas diferem em geometria, força e especificidade. Além disso, estas ligações são profundamente afetadas de diferentes modos pela presença de água. Abaixo são relacionadas as características de cada uma delas: LIGAÇÃO IÔNICA A ligação iônica ocorre com a atração de cargas elétricas opostas dos átomos. Átomos podem se ionizar para atingir um número estável de elé- Figura 7 Classes de substâncias que se solubilizam em água (Fonte: Nelson e Cox, 2002). 38 Bioquímica trons, perdendo ou ganhando elétrons, como por exemplo, o sódio (Na) que pode doar um elétron para o cloro (Cl), gerando os íons Na+ e Cl-. O par iônico é mantido junto por uma forte atração eletrostática denomina- da ligação iônica (Figura 8). INTERAÇÃES DE VAN DER WAALS A interação de van der Waals ocorre devido à distribuição de carga ele- trônica em torno de um átomo mudar com o tempo. Em um dado ins- tante, a distribuição de cargas não é perfeitamente simétrica. Esta assi- metria transitória na carga elétrica em tomo de um átomo age por meio de atração de cargas opostas induzindo uma assimetria complementar na distribuição de elétrons em tomo dos átomos vizinhos. A atração resultante entre um par de átomos aumenta à medida que cheguem mais perto, até que estejam separados pela distância de contato de van der Waals. A uma menor distância, predominam forças de repulsão muito intensas porque as nuvens externas de elétrons se superpõem. Figura 8 - Formação da ligação iônica entre os átomos de sódio e cloro na molécula do cloreto de sódio (Fonte: Biochemistry and Molecular Life Science Visual Library, John Willey & Sons Inc, 2009). 39 A química da água Aula 2INTERAÇÃO HIDROFÓBICA A interação hidrofóbica é a associação dos grupos apolares (hidro- carbonetos) em meio aquoso, direcionada pela minimização das intera- ções desfavoráveis das moléculas da água com os grupos apolares. Quan- do moléculas anfipáticas (como ácidos graxos) são misturadas com a água (Figura 9a) eles podem formar estruturas como micelas, lipossomos e bicamadas lipídicas. Na formação das micelas ocorre a associação das caudas apolares dos ácidos graxos para escapar da água formando dessa forma um núcleo compacto apolar. A interação hidrofóbica é a atração que mantém as caudas apolares nesse núcleo apolar (Figura 9b). Os grupos polares do ácido graxo, por sua vez, se voltam para a água inte- ragindocom esse líquido por formação de pontes de hidrogênio ou for- mando uma camada de solvatação. (Figura 9b). Na formação dos lipos- somos, os ácidos graxos formam vesículas microscópicas compostas de uma ou mais membranas lipídicas, não envolvendo um compartimento aquoso (Figura 9c). As membranas biológicas são bicamadas lipídicas formadas por lipídios anfipáticos e proteínas. Esse arranjo molecular será estudado na aula “Química dos lipídios”. A QUÍMICA DE PH E TAMPÕES O PRODUTO IÔNICO DA ÁGUA E PH A água é um eletrólito fraco, substância que se ioniza muito dificil- mente gerando partículas com cargas elétricas. A ionização da água pro- duz H+ + OH-, como está demonstrado na equação 1: H 2 O H+ + OH- ( 1 ) Figura 9 Substâncias anfipáticas, micelas e lipossomos (Fonte: Voet et al., 2000). 40 Bioquímica Mas apesar de essa ionização ser difícil, precisamos quantificar quanto desses íons (H+ + OH-) são produzidos, uma vez que eles influenciam na manutenção das estruturas das biomoléculas. A ex- pressão matemática que nos fornecerá esses dados é a constante de equilíbrio (Keq), que para a reação 1 é: Keq = [H+] [OH-] (2) [H 2 O] A concentração em molaridade da água (concentração molar) é encontrada dividindo a massa em grama de 1litro de água (1000g) pela massa molecular desse líquido que é igual a 18. Daí tem-se que a concentração molar da água é 55,5M. Substituindo essa concentração na equação teremos: Keq = [H+] [OH-] (3) 55,5 Nas equações (2 e 3) os colchetes significam que a concentração dos reagentes é molar. Multiplicando os termos da equação 3 teremos: 55,5M x Keq = [H+] [OH-] (4) A constante de equilíbrio da água é um valor conhecido ( 1 x 10-16). Esse valor foi encontrado a partir de medidas da condutividade elétrica dos íons H+ e OH- na água líquida. Substituindo esse valor na equação 4 teremos: 55,5M x 1 x 10-16 = [H+] [OH-] (5) Multiplicando os termos obteremos: 99,9 x 10-16 = [H+] [OH-] (6) Deslocando a vírgula dois algarismos à esquerda tem-se: 0,999 x 10-14 = [H+] [OH-] (7) Aproximando 0,99 para 1, tem-se: 1,0 x 10-14 = [H+] [OH-] (8) Esse é o valor que corresponde ao produto iônico da água (Kw). Como o produto de [H+] [OH-] é 1,0 x 10-14, a concentração de cada um 41 A química da água Aula 2desses dois íons ([H+] [OH-]) é encontrada elevando-se a concentração de [H+] ou de [OH-] ao quadrado, conforme a equação 10 abaixo: [H+] [OH-]= Kw = 1 x 10-14 (9) [H+]2 =1,0 x 10-14 Portanto: (10) Tirando a raiz quadrada de [H+] tem-se: [H+] = 1,0 x 10-14 = 1,0 x 10-7 (11) Como a concentração de [H+] é igual a 1,0 x 10-7 e de acordo com a equação 9 tem-se que [H+] [OH-]= Kw [OH-] = Kw (12) [H+] Como não lidamos no nosso dia a dia com números tão pequenos como as concentrações para H+ e OH- expressas em exponencial nas equa- ções acima, o químico dinamarquês Sorenseon estabeleceu uma expres- são matemática mais conveniente para visualizar esses números, estabe- lecendo que a concentração de H+ é encontrada pelo logaritmo negativo da concentração desse íon, então: pH = -log [H+] (13) pH = -log 1,0 x 10-7 (14) pH = 7,0 (15) Se multiplicarmos a expressão [H+] [OH-]= 1,0 x 10-14 pelo logaritmo negativo tem-se: -log[H+]-log[OH-]= -log1,0 x 10-14 (16) O logaritmo negativo da concentração de H+, como já foi visto é igual a pH e o logaritmo da concentração de OH é igual a pOH, enquanto o logaritmo negativo de 1,0 x 10-14 é igual a 14 tem-se a expressão: pH + pOH = 14 (17) 42 Bioquímica A ESCALA DO pH A escala de pH que avalia a acidez ou basicidade de soluções apresenta valores que vão do 0 até 14. Dessa forma, uma solução ácida apresenta valo- res de pH de 0 a 6.9. Uma solução neutra tem o valor de pH igual a 7 e as soluções alcalinas ou básicas apresentam valores de pH de 7.1 até 14. Diver- sas substâncias com as quais lidamos no nosso dia-a-dia são soluções ácidas básicas ou neutras. Como exemplo de soluções ácidas (Figura 10) tem-se o suco de frutas cítricas como o limão (pH 2,0), vinagre (3,4), café (5,0) e coca-cola (3,0). Como exemplo de básicas temos as soluções de bicarbonato de sódio, que preparamos para combater a acidez estomacal (pH 9,0), o alve- jante doméstico hipoclorito de sódio (pH 12,5) e a amônia (pH 12). ÁCIDOS E BASES Muitas das reações químicas que ocorrem nas células são influenciadas pelos íons H+ e OH-, oriundos da ionização da molécula de água. Variações nas concentrações celulares desses íons podem alterar diversos processos biológicos causando a desnaturação de proteínas e ácidos nucléicos. Os organismos multicelulares desenvolveram estratégias químicas sofisticadas para evitar essas alterações, através da ação dos tampões, que são sistemas Figura 10. A escala do pH. 43 A química da água Aula 2químicos que mantêm o valor do pH constante. Antes de entendermos a ação dessas substâncias, é necessário compreender o conceito de ácidos e bases definidos por Bronsted e Lowry. Para Bronsted e Lowry um ácido é um doador de H+ enquanto a base é um aceptor de H+. Portanto: AH A- + H+ Em que AH é o ácido, pois se dissocia liberando H+ A- + H+ AH Nessa reação A- é a base, pois reage com H+ formando AH. Essas duas reações podem ser combinadas em uma terceira reação reversível, ou seja, que ocorre tanto na dissociação de AH quanto em sua formação. A reversi- bilidade dessa reação é indicada pela seta que aponta nos dois sentidos (”!): AH A- + H+, AH e A- formam o par ácido base conjugado. ÁCIDOS E BASES FORTES E FRACOS De acordo com o grau de dissociação em seus íons, os ácidos e bases são classificados em fortes e fracos. Os ácidos e bases fracas são os que dificilmente dissociam em seus íons, enquanto os fortes estão completamente dissociados em seus íons, quando em solução. O HCl se dissocia completamente em H+ + Cl- , portanto, é um ácido forte. O hidróxido de sódio (NaOH) é uma base forte porque é dissociado total- mente em seus íons: Na+ e OH-. O ácido acético (CH 3 COOH) dificil- mente dissocia seu hidrogênio, sendo dessa forma um ácido fraco. A tabela 1 abaixo apresenta alguns exemplos dos ácidos e bases fracos e suas respectivas bases conjugadas. Tabela 1. Ácidos fracos e suas bases conjugadas TAMPÕES E AÇÃO TAMPONANTE Os fluidos celulares apresentam um pH constante e específico, geral- mente próximo de 7,4. Nos organismos multicelulares, o pH dos líquidos extracelulares (sangue, por exemplo) é também estreitamente regulado através da ação dos tampões biológicos. Os tampões são misturas de 44 Bioquímica ácidos fracos e suas bases conjugadas, que evitam variações bruscas de pH de soluções, quando a elas são adicionadas quantidades relativamen- te pequenas de ácido (H+) ou base (OH-). Quando se adiciona 1 mL de uma solução ácida (como HCl) a 99mL de água destilada, o pH da água que é em torno de 7,0 cai para cerca de 2,3. Por outro lado quando se adiciona 1mL de uma solução básica (como NaOH) a 99mL de água destilada, observaremos que o pH se elevará para cerca de 12. Se experimentarmos agora adicionar 1mL da solução de HCl a 99mL da solução tampão acetato, que consiste de uma mistura de ácido acético (CH 3 COOH) e acetato (CH 3 COO-), verificaremos que o pH dessa solução não se alterará, devido à forma básica desse tam- pão (CH 3 COO-) captar o íon H+ (Figura 11). Quando se adicionar 1mLda solução de NaOH 0,1N a 99mL da solução tampão de acetato de sódio, o pH dessa solução não se alterará, devido a forma ácida do tampão (CH 3 COOH) liberar o íon H+, que reagirá com a hidroxila (OH-), produzindo H 2 O. Portanto, o papel de um sistema tampão é neutralizar as ações de H+ e OH-. CONCLUSÃO A água é uma molécula dipolar devido à diferença de eletronegativi- dade entre os átomos de oxigênio e hidrogênio ligados covalentemente. Pontes de hidrogênio é uma interação molecular fraca que ocorre com a carga parcial negativa de um átomo eletronegativo atraindo a carga parci- al positiva do hidrogênio. Na estrutura das biomoléculas, as pontes de hidrogênio são de dois tipos: intermolecular (intercadeia) e intramolecu- lar (intracadeia).. Devido a sua natureza dipolar, a água é capaz de solubi- lizar substâncias tão distintas entre si como moléculas polares (glicose e etanol), sais (cloreto de sódio) e substâncias anfipáticas (ácido graxo). A água é um anfólito, ionizando-se em H+ e OH-. O pH é definido como o logaritmo negativo da concentração de H+. As soluções ácidas apresen- tam valores de pH abaixo de 7,0, soluções neutras têm pH igual a 7,0 e as básicas apresentam pH acima de 7,0. Os tampões são misturas de ácidos fracos com suas bases conjugadas que atuam evitando variações de pH quando da adição de H+ ou OH-. Figura 11. Ação tamponante do tampão acetato. 45 A química da água Aula 2RESUMO A água é a substância mais abundante do corpo humano, correspon- dendo a 70% da massa corpórea. Na molécula da água cada átomo de hidrogênio compartilha um par de elétrons com um átomo de oxigênio formando entre eles uma ligação covalente polar. Essa ligação polar se deve à diferença de eletronegatividade entre os átomos de oxigênio e hidro- gênio. Essa diferença de eletronegatividade gera pólos elétricos positivo e negativo nessa molécula permitido que seus átomos possam interagir por meio de uma ligação química não covalente denominada pontes de hidrogê- nio. A formação de pontes hidrogênio entre as moléculas de água ocorre com a carga parcial negativa de um átomo de oxigênio de uma molécula de água atraindo a carga parcial positiva do hidrogênio de outra molécula de água. Nas biomoléculas, a formação de pontes de hidrogênio é do tipo intramolecular (ou intracadeia) e intermolecular (ou intercadeia). Nesse caso, um hidrogênio liga- do covalente a um átomo eletronegativo (doador de hidrogênio) é atraído por outro átomo eletronegativo (aceptor de hidrogênio). A água solubiliza molécu- las tão diferentes como substâncias polares, sais e substâncias anfipáticas. As ligações não covalentes como pontes de hidrogênio, ligação iônica, van der Walls e interação hidrofóbica são interações químicas muito fracas e facilmen- te rompidas, que exercem um papel crucial na manutenção das estruturas químicas das biomoléculas e nas suas interações moleculares no ambiente celular. A água se dissocia em H+ e OH-. As soluções ácidas apresentam valores de pH menores do que 7,0 e nessas soluções a concentração de H+ é maior do que a concentração de OH-. Nas soluções neutras o pH é igual a 7,0 e a concentração de H+ é igual a concentração de OH-. As soluções básicas apresentam valores de pH maior do que 7,0 e a concentração de OH- é maior do que a concentração de H+. Os ácidos são doadores de H+ enquan- to as bases são aceptores de H+. Os ácidos e bases fracos são importantes, pois podem atuar como tampões. Os tampões são misturas de ácidos fracos com suas bases conjugadas, que atuam evitando variações de pH. ATIVIDADES 1. Por que a molécula da água é um dipolo elétrico? Explique. 2. Por que o gelo é menos denso do que a água líquida? Que implicação biológica pode ser tirada dessa propriedade? 3. Como o etanol e cloreto de sódio (NaCl) se solubilizam em água? 4. O que são substâncias anfipáticas e como elas se comportam em água? Exemplifique-as. 5. Como os íons cloro e sódio formam a molécula de cloreto de sódio? 6. O que é uma interação hidrofóbica? 7. Qual o valor do pH da solução de NaOH 0,01M? 8. Como os tampões evitam variações de pH de soluções, quando a ela são adicionados H+ e OH-? 46 Bioquímica COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Se você respondeu essa pergunta afirmando que a formação do dipolo elétrico na molécula de água se deve a essa molécula ser formada por dois átomos (oxigênio e hidrogênio) que apresentam diferença de eletronegatividade, então você compreendeu bem a natureza polar dessa molécula. Assim, o caráter polar da molécula da água se deve à diferença de eletronegatividade entre os átomos de oxigênio e hidrogênio ligados covalentemente. Como os elétrons compartilhados entre o oxigênio e hidrogênio são atraídos mais fortemente para a proximidade do núcleo do oxigênio, esse átomo fica com duas cargas parciais (d-) negativas. O hidrogênio (com caráter parcial de deficiência de elétron), apresentando uma carga parcial positiva (d+) em cada um dos átomos de hidrogênio. Assim, as cargas parciais negativas (do oxigênio) e positivas (dos átomos de hidrogênio) fazem da água um dipolo elétrico. 2. Imagino você respondendo essa atividade se perguntando: Por que o gelo flutua na água, ou então, por que quando colocamos um refrigerante no congelador e deixarmos lá por várias horas a garra de vidro vai arrebentar. Esses questionamentos estão diretamente relacionados ao fato do gelo ser menos denso do que a água líquida. Dessa forma, no estado sólido, cada molécula de água está fixa em um determinado ponto, apresentando baixo movimento cinético. Assim, cada molécula passa a formar pontes de hidrogênio com quatro outras moléculas de água adjacentes, constituindo, desta forma, uma rede regular, estável e compacta de pontes de hidrogênio, o que acaba por conferir uma densidade menor à água congelada do que a que se encontra em estado líquido. Você se recorda que boa parte da biosfera é composta por mares e oceanos e mesmo nas áreas mais frias - como os pólos - a parte da água que se solidifica flutua, não ficando acumulada nas profundezas dos ambientes aquáticos. Assim, por possuir menor densidade e ficar mais compacta que a água líquida, o gelo não submerge por completo e ao flutuar não se dissemina por todo o ambiente aquático, permitindo que parte do calor dos mares, lagos e oceanos sejam preservado abaixo das plataformas de gelo, tornando possível que diferentes e numerosas formas de vida prosperem nos ecossistemas aquáticos. 3. Você não deve ter tido a menor dificuldade em reconhecer que água é um excelente solvente devido a sua natureza dipolar. Assim, moléculas polares (como o etanol) se solubilizam em água devido à 47 A química da água Aula 2 presença do seu grupo hidroxila (OH) poder formar pontes de hidrogênio com a água. Com relação ao sal cloreto de sódio, esse sal em água é dissociado em seus íons cloreto (Cl-) e sódio (Na+), conforme pode ser visto na figura 6. A molécula da água forma uma camada de solvatação em torno do íon cloreto, em que a carga parcial positiva do hidrogênio é atraída pela carga negativa do cloreto. Com o sódio se observa também a formação dessa camada de solvatação, tendo a carga parcial negativa do hidrogênio atraindo a carga positiva do íon sódio. 4. Com a leitura dessa aula certamente você aprendeu que em relação à polaridade as moléculas são classificadas em polares e apolares. Aprendemos também que existem moléculas que apresentam tanto grupos polares, quanto apolares em suas estruturas, que são as substâncias. Quando essas moléculas anfipáticas são agitadas na água elas podem formar estruturas como micelas (disposição na qual os grupos apolares se protegem no interior dessa estrutura e os grupos polares se voltam para a água interagindo com esse líquido por formação de pontes de hidrogênio ou de uma camada de solvatação) e lipossomos (vesículas microscópicas compostas deuma ou mais membranas lipídicas envolvendo um compartimento aquoso). São exemplos: os sabões (detergentes), lipídios de membranas, proteínas, etc. 5. Você aprendeu nessa aula que os átomos são eletricamente neutros. A neutralidade dos átomos é explicada pelo fato de eles apresentarem o número de cargas positivas (os prótons) igual com o de cargas negativas (os elétrons). No entanto existem átomos que para adquirir uma configuração estável (como o que é estabelecido pela regra do octeto), precisam perder ou ganhar elétrons. No caso de o átomo perder elétrons (como o sódio, que perde 1 elétron), o número de prótons vai ser maior do que o número de elétron. Nessa situação o sódio apresentará carga líquida positiva (Na+). Se o átomo ganhar um elétron (como o cloro), o número de elétrons vai ser maior do que o de prótons, deixando o átomo com carga líquida negativa. Dessa forma, a ligação iônica é uma interação química que se forma com a atração de cargas elétricas opostas dos íons. Íons com carga positiva (cátions) atraem íons com carga negativa (ânions). A rede cristalina da molécula do cloreto de sódio (NaCl) é mantida pela ligação iônica. Nessa estrutura cristalina o cátion (Na+) atrai a carga negativa do cloreto (Cl-). 48 Bioquímica 6. Você certamente não deve ter tido grandes dificuldades em reconhecer o que é uma interação hidrofóbica. O próprio termo hidrofóbico deve ter guiado você para uma correta identificação da resposta, tendo em vista que ele indica fobia ou aversão à água. Imagino você afirmando que essa interação deve ocorrer devido ao fato dos grupos apolares, por não terem afinidade com a água, tentam escapar desse meio. Dessa forma, a associação dos grupos apolares (hidrocarbonetos) em meio aquoso, orientada pela minimização das interações desfavoráveis das moléculas da água com os grupos apolares. Quando moléculas anfipáticas (como ácidos graxos) são misturadas com a água ocorre a associação das caudas apolares dessas moléculas para escapar da água, o que acaba por formar um núcleo apolar. Resumindo, portanto, a interação hidrofóbica é a atração que mantém as caudas apolares nesse núcleo apolar. 7. O químico dinamarquês S. L. P. Sorenson definiu pH como o logaritmo negativo da concentração de hidrogênio, ou seja, pH = - log [H+]. Ocorre que no problema apresentado propomos o cálculo do pH de uma solução de NaOH (solução básica). Em meio aquoso o NaOH se dissocia em Na+ e OH-, dessa forma, a concentração molar da solução de NaOH expressa no problema de 0,01M é a concentração de OH-. A concentração do íon hidroxila (OH-) pode ser relacionada com a de H+ pela equação [H+] [OH-] = 1 x 10-14. Como a concentração de NaOH é 0,01M ou 1 x 10-2 e o kW é igual a 1 x 10-14, substituindo esses valores na equação abaixo teremos: [H+] = Kw [OH] [H+] = 1 x 10-14 1 x 10-2 [H+] = 1 x 10-12 Como pH = - log [H+] -log 1 x 10-12 = 12 pH = 12 8. Uma boa alternativa para responder essa atividade seria imaginar algumas situações experimentais, como por exemplo, adicionar soluções ácidas e básicas a água e em outro momento adicionar essas soluções ácidas e básicas a uma solução tampão. Se você procedeu assim imagino você contatando quê: A adição de ácidos (H+) a água resultará no abaixamento do pH desse líquido que é neutro (pH 7,0) para um pH ácido (2,0). Por outro lado, quando se adicionar OH-, o 49 A química da água Aula 2 pH passará para um valor básico (12). Essa variação de pH brusca não é verificada em soluções tampões quando da adição desses dois íons (H+ e OH-). Os tampões são misturas de um ácido fraco com sua base conjugada . Na situação estudada em aula exemplificamos a atuação tamponante do tampão acetato, que consiste de uma mistura de ácido acético (CH 3 COOH) e acetato (CH 3 COO-). A ação do tampão acetato pode ser compreendida em duas situações distintas: (1) Quando da adição de H+ a essa solução tampão, a forma básica desse tampão (CH 3 COO-) reagirá com o íon H+, regenerando a forma CH 3 COOH, neutralizando assim o íon H+. (2) Quando da adição de OH- a solução tampão acetato, o pH dessa solução não sofrerá alteração, devido à forma ácida do tampão (CH3COOH) liberar o íon H+, que reagirá com a hidroxila (OH-), produzindo H 2 O. Portanto, o papel de um sistema tampão é neutralizar as ações de H+ e OH-. PRÓXIMA AULA Na próxima aula passaremos a estudar a química dos aminoácidos e pep- tídeos, enfatizando a estrutura geral, a estereoquímica e a classificação química e nutricional dessas moléculas. Introduziremos também o estudo dos peptídeos, que são pequenas cadeias de aminoácidos. Até lá! REFERÊNCIAS BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004. CHAMPE, P., C.; HARVEY, R. A. Bioquímica ilustrada, 2 ed. Editora Artes Médicas, 1997. NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1995. NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. 3 ed. São Paulo: Sarvier, 2002. STRYER, L. Bioquímica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1996. VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000. A QUÍMICA DOS AMINOÁCIDOS E PEPTÍDEOS META Introduzir o estudo do conhecimento das estruturas e das propriedades químicas dos aminoácidos e peptídeos. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: reconhecer algumas das funções biológicas dos aminoácidos; descrever a estrutura química dos aminoácidos; representar os aminoácidos com abreviaturas de uma e de três letras; descrever a estereoquímica dos aminoácidos; classificar os aminoácidos segundo a polaridade de suas cadeias laterais; classificar aminoácidos de acordo com as suas necessidades nutricionais; diferenciar aminoácidos derivados ou especiais de aminoácidos padrões; descrever a formação de peptídeos; reconhecer alguns peptídeos de ocorrência biológica. PRÉ-REQUISITOS Para acompanhar esta aula você deverá estudar ou rever conceitos de química abordados nas aulas Introdução à Bioquímica e a Química da Água. Aula 3 (Fonte: http://www.gettyimages.com). 52 Bioquímica INTRODUÇÃO Os aminoácidos são as unidades estruturais fundamentais de proteí- nas e peptídeos. São moléculas orgânicas que apresentam os seguintes grupos químicos comuns a todos eles: um grupo carboxila (COOH), um grupo amino (NH 2 ), um átomo de hidrogênio (H) e um radical ou cadeia lateral (R). Os diversos aminoácidos diferem apenas na natureza química do grupo ligado à cadeia lateral. A maioria dos aminoácidos encontrados em peptídeos e proteínas são moléculas assimétricas. Esses aminoácidos assimétricos (como vere- mos ao longo do desenvolvimento dessa aula) apresentam configuração absoluta L. Os vinte aminoácidos mais comumente encontrados na es- trutura de proteínas são denominados aminoácidos padrões ou primários. Utiliza-se esse termo para diferenciar os aminoácidos primários dos ami- noácidos derivados ou especiais. Os aminoácidos derivados ou especiais são formados a partir de reações químicas sofridas por um dos vinte ami- noácidos primários. O grupo amino (NH 2 ) de um aminoácido reage com o grupo carboxi- la (COOH) de outro aminoácido formando uma ligação covalente deno- minada ligação peptídica. A ligação peptídica une os aminoácidos for- mando os peptídeos e proteínas. Os peptídeos são pequenas cadeias de aminoácidos enquanto as proteínas são cadeias enormes. (Fonte: http://www.gettyimages.com). 53 A química dos aminoácidos e peptídeos Aula 3ESTRUTURA GERAL DOS AMINOÁCIDOS Os aminoácidos são moléculas orgânicas formadas por um grupo amino (NH 2 ), uma carboxila (COOH), um átomo de hidrogênio (H) e um radical ou cadeia lateral (R), ligados ao átomo de carbono 2 (C-2). O carbono 2 dos aminoácidos é denominado carbono a. Os aminoáci- dos
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