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Capitulo 1

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Capítulo Um 
.......... ......... 
 Nova York, 2012 
 
abe qual é a segunda coisa pior do que estar prestes a perder o 
amor de alguém, aquele amor que sabe que nunca mais terá outro 
igual? É saber que não pode fazer mais nada a respeito. Eu sabia 
que estava acabado, dessa vez eu tinha certeza disso, mas não estava 
preparado. Passei toda minha vida me enganando sobre quem eu deveria 
amar, e se realmente eu poderia amar verdadeiramente. Só que uma vez 
amei uma mulher e desde então não conseguia amar mais ninguém. Ela 
me deixava confuso a respeito do que sentia por mim e tinha me deixado 
mais ainda. 
 No começo tudo parecia mil maravilhas, ela era espontânea e 
muito carinhosa, nunca imaginei que isso poderia mudar, pra ser sincero 
ainda não entendo o que aconteceu. Entre nós dois sempre houve um 
sinal de interrogação. Mas era isso que me deixava a cada dia mais louco 
por ela. E agora estava ainda mais. 
S 
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Keyth Green fez algo de espontâneo que ainda me surpreende e 
ao mesmo tempo mais uma vez deixa um sinal de interrogação no meio, e 
dessa vez era do que ela sentia por mim. Quer dizer eu sabia que era a 
respeito, pois o que ela viria fazer aqui em Manhattan na véspera do seu 
casamento. E depois por que tantas visitas, tantos telefonemas, tantas 
cartas! Nada fazia sentido. 
 Nunca consegui entender realmente suas palavras no dia em que 
nos despedimos algo tinham acontecido comigo que causou nossa 
separação e talvez eu até pudesse ter feito algo para não se separar mais 
ela parecia ter certeza da sua decisão e por amor eu aceitei a sua escolha. 
Seus pensamentos, sua mente talvez estivesse confusa, mas tudo aconteceu 
tão rápido que não durou uma semana e eu já tinha saído de Charleston e 
vindo para Manhattan. Depois de um tempo ela ainda entrava em 
contato, às vezes por email outras por telefone. Quando era por telefone 
era incrível e às vezes difícil. Ao atender a ligação, na maioria das vezes 
ela não falava nada, e ao escutar o som dela sussurrando eu sabia que ela 
só queria escutar a minha voz, e aquele momento só me fazia lembrar-se 
do dia em que fomos pela primeira vez no restaurante Miltmon em que 
tinha um lindo deker onde passamos a maior parte do tempo observando 
a imensidão do mar, aquele vento suave com uma brisa leve que deixava 
seus cabelos mais espontâneos, o cheiro da comida feita na hora e as 
pessoas que estavam ao nosso redor todas com um olhar apaixonado e 
uma musica de fundo deixava tudo mais romântico. Naquele dia falei dos 
meus sonhos e ela me escutava tão animada e surpresa. Quando terminei 
ela não falou nada por alguns instantes, ela suspirou por um minuto e 
olhando para os meus olhos ela disse pra si mesmo que queria estar nos 
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meus sonhos que me amava, e de repente um silêncio invadiu as nossas 
almas. Aquele momento estava tão incrível que nenhum de nós dois 
queria quebrar o silêncio eu não queria falar nada eu só queria sentir o 
calor daquele momento. Foi quando eu soube que ela estava apaixonada. 
Isso foi uma semana depois da gente se conhecer só durou uma semana 
pra ela se apaixonar por mim. 
 E agora não sabia se ainda estava. Sua visita a Manhattan não 
fazia sentido, depois de tanto tempo, depois de termos discutido por que 
ela viria me ver? Não sabia o que fazer a respeito, mas quando a avistei no 
outro lado da rua meu coração saltitou duas vezes e por um instante me 
tornei o James daquele verão. 
 O fato é que por mais embaraçador que o coração dela era, 
embaraçador mais ainda é os momentos que torna a nossa vida o que é. 
Em instantes soube que ainda me amava quando ela me olhou, mas só 
durou um minuto aquele momento. Um momento intenso que me fez 
colocar no lugar em que estou agora. 
 
............................................... ∞ ................................................. 
 
 “James! Você está ai? Alô. James sei que está, por favor, cara 
atenda logo o telefone, estamos todos preocupados com você. James...” 
desconectei o cabo de energia da secretária eletrônica. Não queria falar 
com ninguém nem mesmo meu pai. Não era ele que estava me ligando, 
não parecia muito com a sua voz, mas ele já tinha tentado muitas vezes. 
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 Levantei-me do chão com as costas ardendo, ainda estava muito 
dolorida da briga que provoquei ontem em um bar, estava com uma 
sensação estranha no meu rosto queria saber o que era exatamente. Era 
como se eu tivesse com um tumor no rosto, estava ardendo e muito 
inchado. Fui em direção ao banheiro chutando as latas de cerveja que 
estavam espalhados pelo chão. Encostei-me na pia, abri a torneira e enchi 
minha mão de água e joguei no meu rosto, “Hun...” senti um ardor quase 
infinito, me olhando no espelho vi um homem sem futuro e todo 
destruído. Não sei exatamente o que aconteceu ontem à noite e nem como 
vim parar em casa, a única coisa que me lembro era de ter dado em cima 
de uma gata que estava no balcão tomando uns drinks. E que logo depois 
um charlatão veio em minha direção me provocando, se achando o 
gostosão e me empurrando falando um bocado de palavras que não me 
lembro de nenhuma delas, além da última que veio acompanhado de um 
murro bem no meu queixo. 
 Depois disso acordei com o telefone tocando, e logo a ligação caiu 
na secretária eletrônica. “Quem era?” pensei. Eu conhecia aquela voz, mas 
eu ainda estava sob o efeito do álcool e não conseguia decifrar muito bem. 
 Logo depois a porta começou a bater. 
 
“James!!! James!!! Abre logo a porta se não eu vou arrombar.” 
 
E as pancadas eram bastante fortes, acho que eu não tinha 
escolha. Teria que abrir a porta. Mas ainda preferi não responder e quem 
sabe a pessoa desistira e perceberia que não tinha ninguém. 
 
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“James!!! É sério eu sei que você está ai. Fiquei sabendo que você 
se meteu em uma briga ontem. Abre logo.” Ele implorou. 
 
 Comecei a pensar quem mais saberia que eu estaria naquele bar? 
Pensei maus profundo ainda, ninguém seria burro o bastante para 
arrombar a porta do meu apartamento, logo a segurança seria acionada. 
Logo pensei mais rápido ainda e juntei os fatos e descobri que só uma 
pessoa saberia que eu poderia estar naquele bar, e só uma pessoa foi 
comigo uma vez, e só essa pessoa teria a ousadia de arrebentar a porta do 
meu apartamento sem ter medo algum, e essa pessoa só poderia ser o Kim. 
 Kinned Carpe estava na porta do meu apartamento do lado de 
fora tentando entrar, mas o que ele queria afinal. 
 Semanas atrás ele me odiava, e agora ele tava aqui na porta do 
meu apartamento. Não conseguia entender. Pra falar a verdade não 
conseguia mais entender nada, tudo estava fora do normal. Um tempo a 
trás Kim era meu melhor amigo, mas depois dele ter se casado com a 
mulher que eu amava tudo mudou. 
 
 “Ai é serio vou contar até três e vou arrombar a porta, eu acho que 
você não vai querer pagar um concerto ainda hoje? Ou vai?” 
 
 Era ele mesmo, pensei. “droga.” Sussurrei bem baixinho. Sai do 
quarto em direção a porta e escutando Kim contar até três para arrombar 
a porta, percebi que o cara tava mesmo falando sério. 
 
 “Já vai! Que droga.” Resmunguei gritando bem alto. 
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 “Haa resolveu abrir.” A voz de Kim soava por trás da porta cada 
vez mais alto enquanto eu me aproximava. 
 “Iai” O cumprimentei abrindo parcialmente a porta com o corpo 
no meio da entrada. 
 “James!” Falou assustado, observando os machucados no meu 
rosto “O que aconteceu? Cara você Está...” 
 “Nada” interrompi “só umas tatuagens no rosto, nada de mais” E 
você o que faz por aqui?” Falei meio sarcástico como se tivesse me 
importando muito pela visita que ele resolveu fazer. 
 “Estou preocupado com você, seu pai me ligou querendo saber 
sobre seu paradeiro, ele disse que já faz dias que não consegue falar com 
você” 
 “É por que não estou querendo falar com ninguém.”Foi entrando depois de um pequeno empurrãozinho que ele me 
deu. Ele estava observando a situação que se encontrava meu 
apartamento. O apartamento estava daquele jeito, como uma casa fica 
depois de uma festa de universitários, só que com um cheiro mais 
aguçado, pois já fazia semanas que eu nem se quer sabia o que era sabão e 
uma vassoura. 
 
 “Ai James isso aqui ta um lixo, como...” 
 O interrompe. “Olha aqui não sei quem te contou que fui a um 
bar ontem, e muito menos o que você quer aqui então fala logo por que 
tenho muita coisa pra fazer” 
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 “Éee... Estou percebendo. A garota ali em baixo me disse que você 
estava mal, mas não sabia que era tanto assim.” 
 “Que? Garota?” indaguei surpreso. 
 
 Mas não demorou muito tempo pra eu juntar os fatos e imaginar 
como tudo aconteceu. Ontem à noite Laura veio no meu apartamento ver 
como eu estava. Laura era a recepcionista do apartamento, linda, 
simpática, já tinha levado ela pra cama uma vez, mas não queria nada 
serio. Ela soube que eu iria sair e até pediu para eu levar ela, mas estava a 
fim de beber sozinho. “Será que ela me seguiu? Não ela não seria capaz de 
fazer isso, ou seria?” Pensei. Não importava, agora sei como entrei no 
apartamento, e como Kim veio parar aqui. Por um lado até agradeço ela 
por ter-me trago para casa, mas por que ela teve que chamar Kim, logo 
Kim. 
 
 “James, sei que você não ta bem, mas precisamos conversar.” Falou 
sentando no sofá tirando umas caixas de pizza vazias que estavam 
jogados no estofado e limpando com a mão. 
 “Conversar o que?” Falei zangado, levantando as sobrancelhas. 
 “Sobre a sua situação, eu quero te ajudar” 
 
 Por um minuto não quis falar nada, será que ele tava falando 
sério? Pensei. De uma coisa eu sabia era que ele não iria sair do meu 
apartamento enquanto não conversasse comigo. Parecia algo importante, 
mas pra ser sincero não estava dando à mínima. 
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 “Não tenho nada pra conversar, já disse eu estou bem, não sou 
mais um jovem perdido, tenho responsabilidades e afazeres, por favor, vai 
embora.” Falei soltando a maçaneta da porta e indo em direção ao quarto. 
 “James!” Kim me chamou. 
 “Eu já disse pelo amor de Deus, eu estou bem. Isso aqui é só por 
que estou tendo muito trabalho para fazer, não estou tendo tempo para 
arrumar a casa, e essa marca no meu rosto, foi só um acidente.” Tentei 
convencer ele mostrando e apontando para a situação que se encontrava 
meu apartamento e na situação em que me encontrava. Mas ele sabia de 
tudo. 
 “Muito trabalho a fazer? Como assim você conseguiu outro 
emprego depois de ter pedido demissão da Queshe Office Departure?” 
Kim parecia muito sarcástico com o tom de voz utilizado. 
 
 Não durou muito pra ele me convencer de que estava querendo 
realmente falar comigo, e que ele queria deixar as mágoas passadas de 
lado e tentar mudar o rumo. Mas eu não queria. Acho que estava 
começando a me acostumar com a situação em que eu vivia. Já fazia anos 
que eu me encontrava daquela forma. Desde o dia que vim para 
Manhattan minha vida saiu dos trilhos, já não tinha mais sonhos, então 
não tinha mais responsabilidades e preocupações. Os meus princípios os 
deixei de lado e deixei os outros decidirem pela minha vida. Nada mais 
fazia sentido. Quer dizer a única coisa que fazia sentido era viver o 
momento, sem se preocupar com as consequências mesmo sabendo que 
seriam graves. Eu realmente estava perdido. Não sabia mais onde era o 
meu lugar, mas tinha uma pessoa que sabia onde era o lugar dela, e 
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depois de ter escutado tudo o que Kim queria me dizer eu tive certeza de 
que o lugar dela era no meu coração. 
 Mais angustiado fiquei ainda depois da conversa que tive com 
Kim, depois de saber de tudo que se escondia por trás de meros 
sentimentos. Ele me fez perceber que o tempo todo eu fui um idiota, e que 
a vida não era para ser daquele jeito, eu precisa mudar, precisava 
encontrar meu rumo novamente. 
 Já tinha se passado duas horas que Kim tinha saído. E eu ainda 
estava sentado no sofá onde muitas lágrimas tinham escorrido o meu 
rosto, Kim conseguiu extrair do meu subconsciente todos os bons 
momentos que eu já tive, com a minha família, com os meus amigos na 
escola, os nossos momentos de infância quando fazíamos coisas que 
deixava a vizinhança estressada, e acima de tudo os momentos que tive 
com a Keyth, que foram esses momentos que me fez colocar na situação 
em que me encontro agora, e por incrível que pareça foram os melhores 
da minha vida. 
 Kim realmente sabia quais palavras iria me afetar, bem ele era o 
único daquela cidade que me conhecia de verdade. Pois eu passei toda a 
minha vida em Manhatan mentindo. Menti quem eu era, menti o porquê 
estava ali, menti sobre a minha família, sobre a minha história. Engraçado 
e que eu não estava nem ai, com tanta mentira, pois não queria criar mais 
nenhum vínculo com ninguém. Tinha perdido o gosto do que era amar, 
do que era sentir um abraço de verdade, do que era um beijo apaixonado. 
Eu não sabia mais o que era amor de verdade. Quer dizer La no fundo eu 
até sabia, mas não queria mais, consegui de uma forma escandalosa dizer 
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não ao amor e a todas as outras coisas da vida que nos fazem nos sentir 
bem. 
 
Sai do sofá e fui para a cozinha, estava com uma sede, e parecia 
que minha pressão tinha caído um pouco. Só parecia, pois eu estava bem, 
bem até demais. O álcool não causou nenhum dano, nem a briga que tive, 
tirando as dores que não tava suportando muito e a imagem que meu 
rosto ficou. De frente para geladeira que estava com marcas de dedo na 
porta e pingos de vinho, vi uma foto que me fez lembrar-se de uma 
situação que Kim estava me contando, e ao mesmo tempo percebi que ele 
estava tendo cuidado total nas palavras que estava proferindo, tentando 
me colocar de volta a realidade, enquanto ele falava tudo aquilo eu estava 
pensando em como fui tão cruel e como? Como eu me tornei essa pessoa? 
Eu estava arrasado com os momentos que perdi, com as 
oportunidades que desperdicei com o coração de muitos que magoei. 
Peguei a garrafa de água coloquei sobre a pia e pegou um copo 
sujo lavei e enchi o copo e bebi de uma vez, depois enchi novamente e 
enquanto eu bebia lentamente a água eu olhei pela janela e vi que o sol 
estava começando a desaparecer deixando seus raios espalhados pelo céu, 
com suas cores radiantes se misturando com as nuvens deixando uma 
paisagem encantadora, de esperança e de fé. Aquela imagem me fez 
acreditar em algo que eu nem sabia que poderia ser possível, e que eu 
precisava daquilo. 
Percebi que era ora de mudar, de tentar começar tudo de novo, de 
sonhar novamente, e acreditar em mim mesmo. 
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 Toda aquela situação me fez lembrar-se de algo que Keyth disse 
uma vez. Foi naquela noite que fomos ao restaurante Miltmon, em que 
estávamos totalmente apaixonados um pelo outro. Ela disse que a chave 
para a porta da felicidade era ter sonhos realizáveis. Após pronunciar 
aquela frase, ficou um silêncio. Enquanto isso eu estava analisando o seu 
comentário e percebi que ela queria saber mais sobre mim, que estava 
totalmente na minha. Depois daquelas palavras naquela noite contei meus 
sonhos para ela, disse tudo, tudo mesmo. Eu a mal conhecia direito e já de 
início compartilhar os meus sonhos, meus desejos. Não era o que eu 
pensava em fazer em nosso primeiro encontro, mas foi o que aconteceu. O 
melhor de tudo foi o que aconteceu depois disso. 
Lembranças eram apenas lembranças que estava tendo naquela 
tarde logo após Kim ter se retirado. O que Keyth tinha feito não conseguia 
mais nem imaginar, mas por um lado Kim me convenceu de que eu tinha 
que seguir em frente, que Keyth não estaria mais ali comigo. Disso eu 
realmente teria que dar razão a ele. O pior de tudo e que ele me fez 
perceber que eu tinha perdido ela na ultima vez em que nosencontramos 
em Charleston, onde nos despedimos. Ali foi o fim, e eu ainda não tinha 
me convencido disso. O pior de tudo e que fui eu que coloquei um fim, e 
eu poderia ter feito algo, poderia ter feito mais, mas não fiz nada e era 
isso que estava me agoniando. Era isso que sabia que não me deixaria 
dormir, que essa insatisfação ficaria marcado pro resto da minha vida, e 
que eu não conseguiria me recuperar. 
Deduções eram apenas deduções. Pois eu estava com medo de 
tentar, medo de sair dali, medo de buscar a felicidade, de sonhar 
novamente, de amar, de lutar, medo de acreditar em mim mesmo, e de me 
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arrepender de tudo que eu já tinha feito, eu estava com medo de ser o 
homem daquele verão, apenas medo de não conseguir se esquecer de uma 
mulher que mudou a minha vida e que agora todos os momentos em que 
passei com ela estavam bem vivos nas minhas lembranças, por que foi ela 
que me fez acreditar em mim mesmo, e foi ela que me fez o que sou 
agora, só não queria aceitar o fato que seria ela que me faria sair dessa e 
começar tudo outra vez. 
Ainda observando o céu se escurecendo, fui interrompendo meus 
pensamentos terminando de beber a água. Depois coloquei o copo no 
fundo da pia e fechei a janela observando mais uma vez o céu que me 
fazia lembrar-se da vida que eu tinha antes de tudo isso. Fui até a porta 
verifiquei se estava trancada, depois fui retirando algumas latas de cerveja 
e restos de pizza que estavam no meio da sala as colocando em um saco 
plástico. Levei a sacola para a cozinha e deixei-a em cima da mesa. Dei 
uma olhada em geral e percebi que eu precisava fazer uma faxina no meu 
apartamento, mas estava exausto, precisava descansar um pouco. Então 
sai em direção ao quarto sem notar muito a bagunça pois era certo de que 
quando eu estivesse melhor eu limparia tudo. 
Peguei minha toalha que estava sob uma cadeira que pertencia a 
mesa da sala de estar que por um acaso ela estava no meu quarto. A 
toalha estava um pouco molhada e com um cheiro estranho, então não 
usei ela e fui no armário verificar se tinha outra toalha. Um limpa e claro, 
pois até então eu não sabia o que estava limpo ou não dentro do guarda 
roupa. 
Kim e todos tinham razão, eu não estava bem e só depois da 
conversa que tive com Kim que me fez perceber o quanto eu tinha 
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mudado e o quanto eu ainda precisava fazer para retornar a pessoa quem 
eu era, pois esse era apenas o meu desejo. 
Debaixo do chuveiro comecei a lamentar de tudo mais uma vez. 
Eu estava muito frustrado, não me conhecia mais e der repente comecei a 
dar murros na parede, deixando meus punhos um pouco machucados e 
logo pensei fundo, passando as minhas mãos pela minha cabeça e 
erguendo-a para cima e pensando “kim não devi ter falado tudo aquilo” 
Quando terminei de banhar coloquei a toalha em cima da cama, 
me vesti e peguei a tolha e coloquei-a na varanda. O céu já estava escuro 
e bastante estrelado. Fui até a cozinha e peguei uma caixinha de suco de 
laranja caseira e coloquei em um copo que peguei no armário, coloquei 
umas pedrinhas de gelo e fui para a varanda novamente. Coloquei o copo 
em uma mesa onde tinha uns jornais espalhados, e me sentei em uma 
poltrona que a comprei de um colecionador de antiguidades. 
Observando as estrelas me perdi mais uma vez em meus 
pensamentos, e dessa vez lembre-me do dia em que conheci Keyth, não foi 
nada tão sutil, foi mais assustador do que algo tradicional. E 
interrompendo minhas lembranças a voz de Kim veio a minha mente de 
novo, e suas palavras começaram a soar novamente que até parecia que 
ele estava ali comigo conversando. 
Daí comecei a lembrar-me novamente da conversa que tive com 
Kin, e lembrei-me de como ele começou a conversa. 
 
“James Tudo mudou desde o dia em que você olhou para aquela 
garota que estava presa ao mar e salvou a vida dela, você lembra”? 
 
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PARTE I 
.......... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo Dois 
.......... ......... 
 Charleston, 2004 
 
 
 Charleston era uma cidade de pouco povoação na época em que 
eu nasci em 1986 ainda havia africanos migrando para lá. A cidade 
sempre foi um lugar importante para aprender mais sobre o Africano-
Americano a história e sua cultura. 
 Eventos-chave na história Africano-Americana, assim como na 
história americana, moldaram o crescimento da cidade e do 
desenvolvimento. Quando eu estava na escola eu aprendi sobre a 
escravização de africanos, a guerra civil e emancipação, sobre a 
reconstrução, o movimento dos direitos civis, e da linguística única e 
artístico e das tradições culinárias que os africanos e Africano-
americanos contribuíram para a história de Charleston e a sua cultura. 
 Décadas se passaram e Charleston se tornou o município que 
mais cresceu em South Carolina 
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 Em 2004 Charleston parecia mais uma metrópole, pois além da 
população que morava na cidade a cidade era bastante visitada pelos 
turistas vindos do mundo todo. Além disso milhões de pessoas viam dos 
estados da Carolina do Norte, fazer uma visita pelo menos uma vez ao ano 
a cidade de Charleston. Universitários vindo de Wilmington faziam a festa 
na época de suas férias. Vinham em grupo e alugavam casas próximas a 
cidade de Charleston, como Mount Pleasant ou Sullivans Island e 
passavam uma temporada aproveitando tudo o que Charleston tem a 
oferecer. Um jogo de Golfe um dia talvez, Surfar na ilha de Isle Of Palms 
onde suas ondas eram melhores do que as de Sullivans Island e vários 
esportes como Tênis, Vôlei de praia, e outros que se encontravam não só 
especificamente em Charleston, mas nas cidades ao seu redor assim como 
Mount Pleasant que ficava entre o North de Charleston e Sullivans Island. 
 Mas havia outras modalidades de como aproveitar a cidade a 
maiorias das pessoas preferiam fazer um tour pela cidade, Não parecia 
haver melhor maneira de ver todos os locais em que o Charleston está a 
embarcar em uma das muitas excursões. Seja por terra ou por mar, 
Charleston oferece muitas excursões de interesse especial para aprender 
toda a rica história da região. Se preferir passear típicas vielas a pé ou de 
trote pelas ruas em uma carruagem, todos os caminhos levam os visitantes 
em uma viagem inesquecível de volta no tempo. 
 Certo o clima é ótimo, Charleston tem um clima subtropical 
úmido com invernos suaves, verões quentes e úmidos e chuvas 
significativas durante todo o ano. O verão é a estação mais úmida, quase a 
metade das precipitações anuais ocorre durante os meses de verão em 
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forma de trovoadas. Mas a cidade não estava preparada para a onda de 
jovens que vinham de todas as partes em busca de suas atrações. 
 Charleston está localizado ao sul do ponto médio geográfica da 
Carolina do Sul entre a entrada do Atlântico formado pela confluência 
dos rios Ashley e Cooper. Na autoestrada 17- que liga Myrtle Beach a 
Charleston – se encontra a ponte Arthur Ravenel Jr Bridge que faz a divisa 
de Charleston com Mount Pleasant. Quando eu era criança, meu pai e eu 
íamos de carro do centro da cidade que era onde morávamos até a Mount 
Pleasant assistir o jogo de golf no clube patriots points. E toda vez que 
iríamos passávamos pela ponte, ela sempre foi bastante elegante e sempre 
que passava por ali eu admirava toda a sua estrutura, detalhe por detalhe. 
Lembro-me de um dia que passamos pela ponte e de longe avistou algo se 
movimentando no oceano atlântico e não era só um objeto e sim vários 
com cores encantadoras e pessoas estavam em cima desses objetos os 
controlando, eu não sabia o que era, mas meu pai logo viu minha 
admiração e começou a falar de um torneio que tinha uma vez ao ano, 
um torneio de vela. Eu queria muito ter um barco daqueles, bem eu não 
sabiavelejar, mas fiquei muito admirado com tudo o que eu tinha visto e 
logo comecei a insistir muito para que meu pai me desse um daqueles e 
me ensinasse a velejar, mas não tínhamos verbas o suficiente para ter um 
daqueles. Então desisti de insistir, mas não desisti de um dia poder 
comprar um. 
 Como qualquer cidade Charleston tem partes ricas e pobres. 
Minha família vinha de uma geração muito conhecida pela cidade devido 
a sua cultura gastronômica. Muitos membros da minha família eram 
franceses por parte de pai e outros espanhóis por parte de mãe, mas meu 
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pai e minha mãe não seguiram esse ramo, apesar de que eles se 
conheceram através da gastronomia. Nada comprova que um prato de 
comida bem feito e bastante saboroso fosse tão romântico o bastante para 
juntar duas pessoas diferentes que viviam com divergências, mas o amor 
que tinha entre eles comprovava tudo, pois era uma força maior do que 
qualquer outra coisa. Meu pai depois de ter fechado o restaurante foi 
trabalhar em um dos empregos mais pesados da cidade, no porto de 
Charleston. E minha mãe preferiu ficar em casa cuidando das coisas e me 
educando. 
 Ela era uma mulher muito linda, bastante criativa e gostava muito 
de estar perto de mim. Ela conseguia de uma maneira surpreendente me 
sentir o melhor filho do mundo, mesmo com as minhas imperfeições;
 Um dia ela veio até o meu quarto, era uma daquelas noites de 
tempestade, meu pai não estava em casa, e ela estava com medo. Foi muito 
engraçado ver ela assustada, e pedindo para que eu deixasse ela dormir 
comigo. Era isso e outras demonstrações de afeto que me fazia sentir um 
filho muito sortudo. 
Já meu pai por um lado era mais reservado, não era muito 
conversador gostava mais de se dedicar ao trabalho e aos afazeres da 
sociedade. Mas ele não era ausente em minha vida. Foi ele que me ensinou 
a surfar quando eu tinha dose anos, me ensinou a levantar uma pipa e 
muitas outras coisas de pai e filho. As demais coisas como amarrar o 
cadarço do tênis, escovar os dentes, e arrumar a cama foi minha mãe que 
teve toda a sua dedicação para me ensinar. Ela também era muito boa 
com as palavras foi ela que formou o meu caráter, pelo menos deu 
iniciativa. 
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 Eu era muito mais parecido com minha mãe do que com o meu 
pai, todos diziam isso. Mas se for levar para o lado da personalidade 
poderia dizer que sim. Ela tinha uma personalidade incrível, onde 
colocava o amor acima de todas as outras coisas. Um dos motivos de meu 
pai ter se casado com ela. Ela era diferente de todas as garotas daquela 
época, quando meu pai a conheceu. E ela não era uma mulher muito fácil 
dizia meu pai às vezes quando eu ele conversávamos sobre 
relacionamentos. 
 Meus pais tinham uma preocupação enorme em relação ao meu 
futuro, em relação à carreira que eu iria seguir, a garota que eu iria 
conquistar, a vida que eu iria levar. Eles se dedicavam ao máximo para 
que eu tivesse uma vida maravilhosa, e um futuro muito promissor. Por 
um lado isso era bom, eu saberia que depois que eu seguisse meu rumo ao 
me formar na faculdade eu teria uma boa vida, mas eu também sabia que 
se eu conseguisse o sucesso da forma que eles desejavam não seria a 
mesma coisa de conseguir o sucesso tentando sozinho. Eles tinham planos 
para mim, e eu tinha outro totalmente diferente. Mas com o tempo eles 
foram percebendo que o melhor para mim era-me deixar fazer as minhas 
escolhas e eles permitiram eu decidir realmente o que eu queria. 
 E tudo o que eu queria era algo muito simples, amar e ser amado. 
Todo esse desejo e explicado quando se olha para minha mãe. Eu tinha o 
mesmo jeito de ver o mundo olhando para cima como ela. Eu olhava por 
traz das decepções, por trás do sofrimento, por trás de todas as coisas 
ruins, mas pensando nas coisas boas que tinham pela frente. 
 Minha mãe dizia que eu tinha um jeito incrível de ver as coisas. E 
ela tinha razão em tudo o que dizia. A culpa era dela eu ser assim, quer 
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dizer eu sempre achei bom ser assim, poderia sofrer as vezes chacotas dos 
colegas na escola, ou das amizades na vizinhança mas eu não me 
importava, eu dizia á eles a mesma coisa de sempre que “o meu futuro 
será diferente do seu, e quando você me ver de novo, ficará com inveja de 
toda a vida que tenho”. Como eu tinha tanta certeza de que eu seria muito 
bem sucedido em minha vida? Se eu nem sabia ainda o certo em qual 
faculdade eu iria me formar, com que garota eu iria me apaixonar e em 
qual caminho eu iria cruzar? Eu não podia ter tanta certeza do que eu iria 
ser e como eu iria viver, mas minhas dúvidas começaram a ser 
esclarecidas quando sai de Charleston e fui para Sullivans, uma cidade 
próxima a Charleston, quer dizer pode ser que era em Charleston, pois 
era mais uma ilha próxima a cidade. 
 Mudamo-nos quando eu tinha doze anos, bem na época em que 
eu aprendi a surfar com meu pai. Compramos uma casa que ficava em 
frente a praia, era bastante isolada das outras, era a única da rua, uma rua 
pequena próximo a um farol. Por dentro da casa ela era bastante rústica, 
tinha dois quartos pequenos e dois grandes, uma cozinha bastante ampla, 
e uma sala com um espaço amplo onde tinha um piano e a escada para 
ter acesso aos quartos e um banheiro que tinha bem no corredor. Os dois 
quartos grandes ficavam na parte de cima, tinha uma porta que dava 
acesso a varanda que tinham a frente dos quartos e tinha uma cerca de 
madeira bem baixa. Na parte de baixo ficavam os outros dois quartos e o 
restante dos cômodos. Para ter acesso a casa tinha duas escadas que se 
encontrava com a varanda da parte da frente. A casa tinha oito janelas na 
parte de baixo e umas quatro na par te de cima, e dois enormes na sala. 
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 A vida em Sullivans era outra totalmente diferente da vida que eu 
tinha em Charleston. Apesar de ainda assim não ter muitos amigos. Quer 
dizer eu nunca fui tão popular. Mas também nunca quis ser, quer dizer 
até que às vezes eu queria ser o melhor jogador de vôlei de praia, ou o 
melhor surfista da região, mas tudo isso não era nada mais e nada menos 
do que um desejo de ser o melhor em tudo o que for fazer, e eu tinha 
muito isso. 
Eu passava a maior parte do meu tempo na praia, quando não 
estava na escola, estava em Isle of Palms, onde se encontrava as melhores 
ondas para surfar. Além do surfe eu curtia muito o vôlei, mas tinha um 
problema eu não sabia jogar eu só admirava muito. Tinha a vontade de 
aprender, mas preferia deixar o esporte por conta das pessoas que já 
nasceram com essa predestinação. Sabe às vezes você não pode fazer uma 
coisa que você tem muita vontade de fazer por que simplesmente você 
não nasceu pra isso, não por que você não seja capaz e sim por que você 
tem outro dom onde sua atenção deve ser entregue mais a ele. 
Eu não sabia qual era meu dom, mas eu sabia que algum dia eu 
iria descobrir, algum dia. 
Foi dureza escolher a faculdade que eu queria cursar, pois eu não 
sabia exatamente o que eu queria ser. Mais difícil ainda foi escolher onde 
e quando por que afinal eu só queria ficar em Sullivans curtindo o mar. 
Meus pais diziam que eu tinha que parar de ser tão tranquilo a respeito 
disso, já tinha passado um ano e eu ainda nem tinha mandado uma carta 
de recomendação para a universidade. 
Não demorou muito e logo pensei em ir para Pitsburg fazer 
Direito. Não era o curso dos meus sonhos, mas foi o único curso que me 
34 
 
interessou, pois as pessoas que eram formadas em direito recebiam um 
valor muito alto em sua renda mensal. Já com o curso decidido, o local 
parecia que tudo estava certo, mas não estava. A mãe de Kinedy faleceu. 
Kinedy ficou muito arrasado e com esse incidente ele nem saia, mas de 
casa direito. Ele iria pra Pitisburg comigo, mas depois disso decidiu ficar 
por Sullivans mesmo. A vida dele nunca foi tão fácil. Seus pais se 
separaram quando ele tinha apenascinco anos, não tinha irmãos e 
morava somente com a mãe, e quando ela chegou a morrer eu tinha que 
dar assistência. A propósito ele era meu melhor amigo. 
Eu resolvi adiar por mais um período a minha faculdade. E foi 
nesse período que as coisas começaram a mudar. 
 
............................................................................................................................. 
 
Tudo parecia tão normal, mas normal do que isso era impossível. 
Estava um dia bastante chuvoso, as ruas da cidade estavam todas desertas 
e todas as pessoas da cidade estavam escondidas por debaixo dos seus 
cobertores se aquecendo, sendo nos quartos da sua casa ou até mesmo 
como minha mãe na sala tomando um café. Era o que ela sempre fazia 
quando uma tempestade passava pela cidade. Ela adorava ler escutando o 
barulho dos pingos fortes da chuva caindo no telhado, e ela também 
adorava um café, como a maioria dos americanos. 
Eu estava com Kinedy na praia arrumando o meu barco quando a 
chuva começou a cair e a única cobertura que tínhamos mais próxima 
era o farol que ficava perto de casa. Saímos correndo em direção a ele 
para nos proteger. Hun! Como não? Sabíamos que todas as tempestades 
35 
 
que passava por aquela pequena cidade vinham com ventos 
extremamente fortes e destrutivos. Se sabíamos da tempestade? Com 
certeza não, e nem parecia. Saímos de casa em direção a praia com o meu 
barco por que estava ventando muito mas nem nublado estava, 
acreditávamos que era apenas uma boa oportunidade para utilizar os 
ventos para velejar um pouco. Fazia tempos que não tínhamos ventos 
desse jeito. Acontece que no meio do caminho lembramos que nos 
esquecemos dos coletes na garage de casa e tivemos que voltar. Nós 
iriamos para Isle of Palms, mas devido a isso fomos para a praia mais 
próxima de casa. Neste intervalo de tempo o céu começou a ficar nublado, 
mas a ideia de velejar era tão grande que nem percebemos e quando 
estávamos preparando o barco para colocar a margem, começam a cair 
pequenos pingos de chuva que em questão de segundos se tornou em uma 
pequena tempestade, não pensamos duas vezes e saímos em direção ao 
farol. 
“Poxa foi-se nosso dia” reclamou Kinedy quando já estávamos 
parados em cima do farol observando a tempestade. 
Estávamos surpresos com a tempestade, como não previmos isso? 
Éramos bastante expertos em relação ao tempo. Pensei. 
“Eu estou meio assustado. Falei. Afinal o que foi isso mesmo?” 
“Hun.! Der-repente sem mesmo a escuridão, uma tempestade 
assim, é bem acho que não vamos conseguir velejar hoje. E o que eu 
acho.” Começou as deduções dele, Kinedy sempre tinha esse costume. 
“Deixa de ser pessimista”. Falei olhando para o mar e logo percebi 
algo entre os rochedos. 
36 
 
“Olha Kinedy aquilo.” Chamei atenção dele para olhar os rochedos 
também. 
Kinedy se virou e olhou em direção aos rochedos e logo percebeu 
a mesma coisa que eu também vi de primeira, parecia que tinha alguém 
em um barco preso à tempestade. 
“James! Parece que tem uma garota presa a correnteza.” 
“Meu Deus!” Falei se dirigindo a porta de saída. Eu parecia 
bastante surpreso com a situação que eu presenciava e logo não pensei 
duas vezes e sai descendo as escadas do farol saindo em direção ao mar. 
“Ai brother deixa de ser maluco, você não pode ir la.” Kin gritou. 
“Alguém precisa fazer alguma coisa!” descendo as escadas gritei 
um pouco ofegante. 
Enquanto descia as escadas escutando a voz de Kinedy gritando 
me pedindo pra não sair, eu não parava de pensar na vida da pessoa que 
estava lá no meio do mar. A chuva parecia ser eterna e as escadas 
também. Às vezes não conseguia entender o porquê quando ficamos em 
desespero parece que as coisas que mais nos deixa assim parecem nunca 
acabar. Em instantes coloquei meus pés na areia e sai em direção ao mar, 
a chuva caia muito forte, os pingos pareciam me beliscar de tão pesados 
que estavam sendo, a areia estava mais difícil para manter-se em pé e o 
desespero só aumentavam com os barulhos e os reflexos dos relâmpagos. 
Mas em instantes meus pés já estavam dentro do mar e logo pensei antes 
de entrar inteiramente no mar. 
“Há que se dane!” 
 
 
37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo Três 
..................................... 
 New York 2012 
 
 
 O céu estava bastante estrelado na noite em que Kin veio ao meu 
apartamento fazer uma visita. Uma visita que mudou a minha vida, ele 
soube o que falar e conseguiu me fazer querer ser o James de antes. 
 Logo eu comecei a arrumar meu apartamento pensando em todas 
as coisas que Kin tinha me falado. 
 Ele estava preocupado com minha situação, já fazia anos que eu 
não sabia mais o que era viver em boas condições. O meu passado era a 
minha própria condenação. 
38 
 
 Nunca se passou pela minha cabeça que um dia eu poderia 
mudar, mas eu estava ali limpando o meu apartamento pensado em tantas 
coisas. 
 
 “Lembro sim! Foi uma noite e tanto aquela em?” Com a cabeça 
baixa respondi abrindo um mero sorriso. 
Sorrindo de leve Kin comentou. “Hun! Você teve muita sorte 
sabia.” 
“Não acredito em sorte, sabe disso”. 
Nunca fui de acreditar nessas superstições, assim como a sorte, o 
destino, e essas outras coisas. Para mim o que aconteceu aquela noite 
simplesmente era pra acontecer. Nada e por acaso, as coisas acontecem 
por que é pra ser. Era só nisso que eu acreditava. 
 
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 O mar estava bastante gelado, as ondas estavam muito fortes eu 
mal conseguia chegar perto dos rochedos. Lançava uma braçada, e o mar 
me devolvia com duas ondas na cara. Acho que bebi mais água salgada 
naquela noite do que em toda a minha vida. Eu não me importava com 
nada naquele instante eu só queria chegar perto do barco que estava 
preso as rochas e salvar a garota que estava presa a tudo aquilo. 
 Já exausto consigo alcançar a mão por cima do barco e pressiono 
uma e duas vezes, mas não consegui subir no barco. Parecia que eu estava 
bastante fraco, mas eu não podia desistir logo agora que estava bem 
39 
 
próximo a toda essa situação. Mais uma vez pressionei meu corpo para 
dentro do barco e consegui subir nele. A garota parecia estar desmaiada, e 
logo eu me aproximei do corpo dela e coloquei minhas mães no rosto 
dela. Tentando reanima-la então descubro que ela não tinha muito tempo 
de vida e o pior e que eu não fazia ideia de como chegar a margem. Logo 
a fraqueza começou a chegar e a única coisa que deu em mente foi de 
aquecer o corpo dela com o meu. Naquele instante nunca tinha estado tão 
próximo de uma mulher assim. Eu não sabia o que poderia acontecer 
com nos dois eu apenas fechei os olhos e confiei em meus instintos. 
 
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------------- 
 
 “Até hoje as vezes imagino quanta loucura você fez naquele dia.” 
 “É...” 
 “Eu estava apenas observando do farol os seus movimentos, achei 
que você não teria coragem de entrar no mar naquelas circunstâncias, 
mas você foi muito corajoso e quando te vi colocando os pés na água, não 
pensei duas vezes, sai do farol em direção a cidade para chamar ajuda, eu 
sabia que se você conseguisse chegar ao alcance dela talvez você não 
conseguiria voltar com ela pela mesma forma que você se aproximou. 
Carregar ela pelo mar seria uma desvantagem ainda maior. 
 “Kinedy reconheço sua ajuda naquele dia, ambos fizemos a nossa 
parte para salvar a vida dela. Sou muito grato pela sua ajuda”. Eu já tinha 
agradecido ele várias vezes, mas Kin era assim mesmo quando queria 
falar alguma coisa, explicar algo ou pedir desculpas ele tocava nesse 
40 
 
assunto. Dizia ele que eu devia a vida a ele. E era verdade mas as vezes a 
repetição de tudo isso se tornava algo cansativo. 
 “Eu só queriasalvar a vida do meu amigo que estava em risco.” 
Kinedy falou em um tom que ao ouvir o término das suas palavras eu 
arregalei os olhos e vi a sinceridade do seu lado. Parecia que ele jamais 
tinha se afastado, que a nossa amizade ainda continuava a mesma, pelo 
menos era o que ele queria, ele estava la no meu apartamento por algum 
propósito, eu não sabia qual, mas eu já estava agoniado e querendo saber. 
 “Kinedy você veio aqui pra quer afinal? Fazer-me lembrar do 
passado acho que não vai me ajudar, muito menos pelo contrário o meu 
passado é a única coisa que me aprisiona. Como você acha que me fazer 
lembrar-se dele pode me salvar?” Já um pouco com raiva e querendo 
acabar logo com essa conversa melosa falei aumentando o meu tom de 
voz. 
 “Muito simples!” Falou com muita tranquilidade e com firmeza. 
Ele sabia do que estava falando e tinha certeza. “Keyth Green está nele.” 
 
____________________________________________________________
________ 
Acordei naquele dia duas horas depois de ser resgatado pela 
guarda costeira, eu estava no hospital ainda muito debilitado, mas ainda 
sim a primeira coisa que veia a minha mente ao abrir os olhos foi. 
 “Cadê ela?” Falei tentando levantar o meu corpo, mas eu estava 
com muitos fios, cabos sei lá o que era envolvendo meus braços e meu 
peito. 
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 “James, que bom que você está bem querido!” Minha mãe se 
aproximou pegando na minha mão, e colocando a sua outra mão sobre a 
minha cabeça. Ela parecia aliviada ao escutar a minha vós. 
 “Mãe cadê a garota?” 
 “Filho você precisa descansar, ela está bem”. Agora se concentre 
em ficar bom. Falou com sabedoria. Meu pai sempre foi assim quando se 
falava de tentar tranquilizar alguém. “Que bom que você acordou 
estávamos todos preocupados.” 
 “Tá sei...” Eu estava agoniado com o fato de não poder saber 
exatamente como a garota que eu arrisquei a minha vida estava. Não sei 
por que mas era a única coisa que eu me lembrava, não sei como vim 
parar aqui, e nem quem me trouxe, a única coisa que me lembro foi de ter 
deitado no barco e abraçado a garota que estava inconsciente. 
 “Ai relaxa cara, eu acabei de sair do quarto dela, ela vai ficar 
bem.” Falou Kin se aproximando da cama. 
 “Iai Kin. Como ela está? Ela está acordada?” Eu estava ainda meio 
fora de si, eu só conseguia pensar nela, no mar e em toda a situação em 
que me envolvi. Parecia que eu nem estava no hospital, mas não era pra 
tanto, eu nunca estive em um. 
 “Você foi muito corajoso lá na hora sabia? você salvou a vida dela” 
 “É... eu só queria fazer alguma coisa. Então ela está bem. Você a 
conhece?” 
 “Filho...” Meu pai queria interromper a conversa, mas eu não 
deixei dizendo “Pai eu só quero saber” e Kin apenas afirmou com a cabeça 
que não a conhecia. 
42 
 
 “Há quanto tempo estou aqui?” Perguntei olhando para todos, 
querendo então mudar de assunto. 
 “Nem tão pouco para não está recuperado e nem tão muito para 
poder sair.” Falou o Drº Jenner se aproximando quando me ouviu 
perguntando. “Me fala James como está se sentindo?” Ele falou colocando 
as luzes daquelas lanternas nos meus olhos. 
 “Nada de mais doutor, apenas desconfortável, só isso.” Eu estava 
cansado parecia que eu estava ali há semanas, mas eu não tinha 
completado nenhum dia. Eu nunca tinha ficado em um hospital, essa foi a 
minha primeira vez. 
 Tive vários problemas no decorrer da minha vida, às vezes me 
cortava, mas logo parava de sangrar, ficava resfriado, ou ainda tinha 
sintomas que às vezes não conseguia entender, mas logo eu conseguia me 
sentir bem melhor, sempre tive vários dilemas, mas mesmo assim eu 
preferia ficar em casa do que ir para o hospital mesmo sabendo que as 
vezes eu estava doente mesmo. 
 Eu considerava um hospital um lugar hostil. Não conseguia me 
imaginar dentro de um hospital com aqueles corredores lotados de 
pessoas enfermas, e médicos em suas salas sem fazer nada com as pernas 
em cima da mesa tomando um café ao telefone. Fazendo com que muitos 
pacientes percam horas esperando por um médico ou acabem sendo 
transferidos para outro hospital. Essa era minha imagem sobre um 
hospital. 
 Mas o hospital regional de Sullivans era considerado o melhor 
hospital da costa leste, tinham médicos excepcionais e eram conhecidos 
por todos. Inclusive o Drº Jenner que era novo na cidade, formou em 
43 
 
Harvard e se especializou na North Dakota Universidade, e tinha muita 
influencias nos pacientes que ele atendia. Era o melhor médico da cidade. 
 Então eu não precisava me preocupar eu sabia que estava em boas 
mãos, e quando ele terminou de falar que eu não precisava ficar mais do 
que um dia ali no hospital, foi um alívio pois eu só queria ir pra casa. 
 “Pois bem James, você não tem nada grave, vai precisar ficar 
apenas essa noite sobre observação. Você perdeu muito oxigênio, e quase 
teve uma parada por causa do frio, mas graças ao seu amigo você está 
aqui, pode ficar tranquilo, logo logo estará pronto pra mais outra dessa.” 
Falou sorrindo. E eu não disse nada. 
Depois se aproximou dos meus pais e passou outras informações a 
eles, enquanto eu me virava pro outro lado da cama e direcionava toda a 
minha atenção aos meus pensamentos olhando para fora pela janela. 
Naquela tarde no hospital eu só conseguia pensar na garota em 
que salvei, nunca tinha feito algo por alguém, e ter arriscado a minha 
vida para salvar ela foi algo de tão bom grado que tudo ao meu redor 
parecia ser novo, ou se transformava no novo. Meus pais saíram e 
deixaram eu apenas conversando com Kin. 
Kin começou a contar com todos os detalhes do que fez, contou 
que quando me viu pulando no mar, não pensou duas vezes e foi direto 
para a costa buscar ajuda. Contou também que no desespero ele perdeu o 
colar que ele tinha ganhado da mãe dele, a única lembrança mais 
importante dela. Que depois de tudo ainda assim foi na praia procurar 
por ela, mas a não encontrou. Eu o deixei falar tudo e depois eu comecei a 
fazer perguntas a ele. 
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Perguntei a ele como conseguiram tirar eu e ela daqueles 
rochedos, perguntei também se o barco dela foi resgatado, mais uma vez 
se ele sabia quem era ela, ou outra coisa a respeito dela. Eu fiz tantas 
perguntas a ele que nem deixava terminar de responder uma pergunta 
que eu já estava lançando outra. 
Agradeci a ele por ter feito aquilo, minha coragem foi importante, 
mas devo admitir que se não fosse Kin, eu e a garota seríamos levados pela 
correnteza e talvez tivéssemos morrido. 
“Eu sinto muito pelo seu colar” Falei me sentindo culpado por 
aquilo. “Sei que ele era de extrema importância pra você.” 
“Tudo bem James, era só um colar. Agora se trate de ficar bem 
logo. James tenho que ir, amanhã infelizmente de volta a vida caótica, 
acho que conseguirei tirar um tempo nessa semana, agente poderia jogar 
buraco se você se quiser. Beleza?” 
“Tudo bem. Vai lá e valeu, valeu mesmo.” Kin saiu da sala sem 
dizer mais nada, fechou a porta e vi saindo em direção ao corredor. 
 
Sei que ele estava triste pelo colar, ele só não queria me deixar 
preocupado, mas eu sabia que ele talvez fosse de novo procurar por ele. 
Aquele colar foi à última coisa que a mãe dele deu pra ele, dias antes da 
sua morte. Era sim de extrema importância e eu me sentia um pouco 
culpado por isso. 
Kin foi o meu primeiro amigo de verdade. Quando me mudei para 
Sullivans, Kinedy Carpe me ajudou a sair de certas situações que eu não 
conseguia me esquivar, principalmente na escola. Desde então o 
reconheço como o meu melhor amigo. Pra ser mais sincero Kin e como se 
45 
 
fosse meu irmão mais novo. Quando seus pais estavam se separando ele 
passou um período morando lá em casa, só depois de um tempo quando a 
tensão na sua casa estava menor ele resolveu voltar e logo seus pais se 
separam de vez. E sua mãe tinha que falecer uns anos após. Depois 
resolveuseguir a vida em frente e começou a trabalhar e desde então ele 
luta pra ter suas coisas. Nunca quis terminar seus estudos, ele só queria 
conseguir suas coisas e mudar de vida. Ele acreditava que poderia fazer 
isso sem precisar estudar, mas eu cansava de dizer a ele que o melhor era 
ele ir pra universidade. 
“É fácil pra você dizer isso” Dizia ele. “Você tem pais que podem te 
manter que vão bancar a faculdade e custear todas as suas despesas, mas 
eu não tenho ninguém. Nuca teve que se preocupar com o que vai comer 
amanhã, e nem como as coisas vão seguir. Nuca teve que se preocupar 
com nada disso.” 
“Não é como você pensa” Era o que eu sempre dizia. “Kin, é hora 
de parar de ter pena de si mesmo, lute por algo na sua vida além do que 
somente sobreviver, corra atrás de seus sonhos, se você quer tanto uma 
coisa corra atrás e busque-as, e faça acontecer”. 
Era mais ou menos esse tipo de “papo” que tínhamos quando eu 
tocava nesse assunto. Kinedy tinha muita pena de si mesmo, era um tipo 
de cara que se acomodava com o que tinha se as coisas estavam bem por 
ele tudo bem, ele nunca buscava a perfeição, o melhor. Era mesquinho no 
que tinha, só queria o necessário. Em outras palavras ele apenas 
sobrevivia. 
Às vezes eu achava que poderia o fazer mudar, que um dia eu 
conseguiria convencer ele a voltar aos estudos. Eu conseguia entender ele 
46 
 
melhor do que qualquer outra pessoa, mas às vezes eu ficava cansado de 
tanto escutar os problemas que ele reportava. 
Mais tarde meus pais foram me visitar novamente. Eu estava 
dormindo quando eles passaram por lá. Eu não os vi, mas eles deixaram o 
jantar. A enfermeira foi me entregar o prato de comida quando eu 
acordei. Não fizeram isso por que o hospital não dava alimentação. O 
Hospital tinha as três refeições todos os dias para os pacientes que ficavam 
no hospital. Tinham o direito das refeições os pacientes que passassem 
mais de oito horas no hospital e eu já estava mais do que isso, mas como 
eu odiava hospital, meus pais acharam melhor levar uma comida feita por 
eles. 
 Ao término do jantar a enfermeira se aproximou para recolher os 
pratos e os talheres. 
 “Deixa que eu mesmo retiro-os de mim, pode deixar que eu os 
leve até mesa sem problemas”. Disse a ela tentando se levantar da cama. 
 “Nem pensar meu anjo, estou aqui pra isso. Deixa comigo”. Disse 
ela com um sorriso no rosto. 
 Eu já estava começando a gostar desse ambiente, até que hospital 
não era um lugar tão hostil como eu pensava. Pelo menos nesse onde eu 
estava. As enfermeiras eram todas elegantes e simpáticas. Acho que uma 
parte dos pacientes se sentia bem quando elas estavam por perto, por que 
eu me sentia como um príncipe. Eu não precisava fazer nada, nem mesmo 
ir ao banheiro se é que me entendem. 
 “É...” 
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Não conseguia achar as palavras para pedir permissão para sair 
um pouco. Eu já estava cansado de ficar deitado, queria esticar as pernas 
um pouco, já que eu só seria liberado no outro dia. 
“É... eu posso sair um pouco? Sei lá dar uma volta, respirar ar 
fresco”. Perguntei a enfermeira que estava organizando os remédios nos 
balcões. 
“Acho que não é uma boa ideia”. Falou ela colocando os lixos e os 
pratos e talheres no carrinho de serviço. 
“Por favor, só por uns minutos. Eu estou exausto de ficar deitado”. 
Implorei olhando pra ela com cara de pidão. 
Ela sorriu talvez admirada com a forma que pedi a ela permissão 
para sair dali por uns momentos. 
“Olha talvez até eu deixe, se me prometer que volta logo. Se 
descobrirem que deixei você sair, bem você sabe”. Com um sorriso no 
rosto e fazendo gestos com o dedo cortando o seu pescoço tentou explicar 
o que aconteceria com ela se eu não voltasse logo. 
“Hun! Tudo bem” Falei sorrindo um pouco. “Estarei aqui em 
instantes confie em mim. A propósito não quero que demitam você, você 
parece ser uma pessoa legal, e com certeza é uma ótima enfermeira”. 
Terminado de abotoar a roupa que eu estava usando elogiei ela olhando 
em seus olhos. 
 Ela simplesmente devolveu uma piscadela em forma de 
agradecimento os meus elogios. 
 De fora do consultório eu observava um corredor quase vazio, 
sem pacientes em macas, e sem muita movimentação de enfermeiras, 
médicos e pacientes. Até que parecia ser um hospital bastante organizado. 
48 
 
Sai olhando consultório por consultório olhando pelos vidros a procura 
de uma pessoa. 
 Somente ela a garota que eu salvei. Eu estava a procura dela, 
queria apenas ver o seu rosto, queria ter a certeza de que ela iria ficar 
bem. A proposito eu estava curioso a seu respeito. Achei estranho 
ninguém da sua família vir ao meu quarto, ou consultório sei lá onde eu 
estava apenas achei estranho não vir ninguém agradecer pelo heroísmo. 
Não que eu queria receber uma medalha de recompensa. Não eu só 
queria conhecer as pessoas que se importava com ela, eu apenas queria 
saber quem ela era, sua identidade, de onde ela era o que ela fazia por 
aqui, se não era daqui, por que eu nunca tinha á visto antes. Essas coisas 
que eu estava curioso. 
 “Será que ela não tinha família por aqui? Ou talvez ela só estivesse 
de passagem?” Pensei, antes de olhar pro ultimo consultório do meu 
corredor. Ela não estava em nenhum deles, e estranho mais ainda é que 
todos os consultórios que eu olhei estavam vazios. 
 Em instantes eu cheguei ao centro do hospital, onde tinham os 
elevadores para acesso aos outros pavimentos do hospital. Olhando para 
cima um pouco eu avistei uma placa de orientação onde afirmava que o 
pavimento três, eram onde os pacientes que ficavam internados eram 
tratados. Na placa afirmava o seguinte: Acesso a” internação”. Com uma seta 
indicando para cima. Como eu estava no pavimento dois, onde ficava a 
emergência, imaginei que talvez ela pudesse estar nessas salas, talvez 
internada por que poderia estar mais debilitada. Eu a encontrei 
inconsciente então não era por menos. Ou talvez por que não 
conseguiram a identificar, ou não acharam algum parente aqui próximo, 
49 
 
algo do tipo. Apenas deduzi olhando para a única enfermeira que estava 
sentada organizando uns prontuários em uma mesa circular situada no 
centro do pavimento. Talvez ali era a recepção desse pavimento e ela 
estava apenas cadastrando alguns prontuários, deduzi isso por que ela 
estava tão concentrada que nem percebeu eu entrando no elevador. 
 Ao chegar ao pavimento três eu me dirigi aos corredores onde 
ficavam as salas. Esse corredor era um pouco diferente do outro, até 
parecia que lá era o pavimento da emergência estava mais lotado e tinha 
mais movimentação. Não era pra menos por que Sullivans não tinha um 
índice alto de acidentes, e as salas de emergência elas não poderiam ser 
muito ocupadas. 
 O pavimento três parecia ser mais organizado, tinha até máquina 
de salgadinho, e uma logo a frente de refrigerante. Tinha muitos parentes 
nas salas de descanso, até pensei que talvez algum parente dela poderiam 
estar lá. Poderia? Mas sei não, acho que ela não tinha ninguém aqui. 
Talvez ela pudesse até estar acordada, pensando em como veio parar aqui. 
Talvez ela pudesse está confusa com tudo. Bem uma coisa eu sabia ela 
precisava de alguma companhia. Mas quando eu a vi, não consegui nem 
me aproximar da porta. Olhando pelo vidro vi uma mulher deitada de 
bruços olhando para a janela perdida em seus pensamentos. Eu logo a 
reconheci por causa da tatuagem de borboleta que ela tinha em seu 
pescoço. 
Ao ver aquela tatuagem só consegui me lembrar do momento em 
que eu tentava reanimá-la, a ansiedade bateu, meu coração começou a 
acelerar, e eu comecei há ficar um pouco nervoso, e a única coisa que 
consegui fazer foi pegar um pedaço de papel e uma caneta que encontrei 
50 
 
no balcão ao lado e escrever o meu primeiro recado que coloquei debaixo 
da porta. 
 
“Encontre-me no farolao pôr-do-sol quando puder”! 
 Seu anjo da guarda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo Quatro 
...................................... 
 New York 2012 
 
“Não importa se ela estava eu não estava no meu passado”. Já 
estava começando a me irritar com essa conversa. “Ela não está mais aqui, 
é isso que importa. O meu presente é o que é e ele não vai mudar, pare de 
lutar achando que vou fazer algo por mim, por que será em vão a sua 
luta. Quer saber Kinedy já estou cansado dessa conversa obrigado por vim 
vai embora.” Falei me levantando do sofá. 
52 
 
Demorou um pouco até ele dizer. 
“James é hora de parar de ter pena de si mesmo”. 
Aquelas palavras só me fez pensar no dia em que eu as disse a ele, 
quando ele precisava ouvir elas. 
Parei de andar e me virei pra ele perguntando. “Como é que é?” 
“Isso mesmo que você ouviu. Você me disse isso um dia lembra?” 
“E claro que lembro. Mas elas não se encaixam aqui.” Já 
aumentando o tom da minha voz novamente. Até ele aumentar o dele. 
“Não se encaixam?” Sorriu sarcasticamente. “Que idiotice. Olha 
pra si mesmo e veja. Cadê aquele cara que salvou a vida de uma mulher 
que mudou a vida dele, em cadê? 
Não acreditava que eu teria que discutir ali, eu estava cansado da 
noite que tive me envolvi em uma briga, não estava afim de outra. A 
proposito eu não queria brigar com Kin, mas o que era pra ser uma 
conversa já estava se formando em uma discussão. Engraçado que era 
uma idiotice discutir sobre minha vida, sobre minhas escolhas. Estavam 
erradas, mas eram minhas, eu não estava nem ai. 
“Aquele cara morreu Kin, morreu quando eu soube que ela não 
era mais minha”. Diminui o tom da minha voz, já me sentando novamente 
no sofá. 
“Sabe eu não salvei a vida dela, foi você quem a salvou. Se não 
fosse você lá talvez ela tivesse morrido”. Falei 
“Bobagem sua. Você que a procurou, pra ser sincero sempre foi 
você que a procurou, ela mudou você e agora pode te mudar novamente. 
Basta você valorizar os momentos que teve com ela. Ela não está mais aqui 
eu sei disso, e ela nunca mais vai voltar para de achar que ela ainda 
53 
 
poderá estar aqui com você. James você tem que seguir em frente. Volte 
pra sua cidade, fale com seu pai que te ama tanto, você não faz ideia de 
como ele sente sua falta”. 
“Você espera que eu o encontre assim? Uma pilha de fracassos, 
atrás de fracassos?” Falei o interrompendo. 
“Não diga isso.” Kin disse. 
“Você quer me ajudar? Vai embora me deixa em paz. Por favor? 
Eu não quero mais pensar no meu passado, ele não vale mais nada. Eu só 
quero...” Sussurrei querendo achar as palavras, mas não às encontrei. 
 “Também não queria lembrar-me do passado, não tive um bom 
passado, mas você me ajudou a me sair bem, Keyth também e hoje eu 
estou aqui tentando te mostrar que sair nas madrugadas a procura de 
brigas não é a solução pro seus problemas”. Ele disse. 
 Não disse nada por um momento eu só estava ouvindo Kin falar. 
 “Sei que não é fácil superar tudo isso, mas uma hora ou outra você 
tem que revidar a tudo isso, e seguir em frente. A vida continua James e 
você está ficando para traz. O amor é assim, ele é fraco e às vezes 
queremos que essa coisa pequena e frágil dure eternamente, mas não vai 
durar. Uma hora o amor acaba, sendo pela morte ou não. Você tem que 
aceitar que não terá mais o amor dela, assim como você aceitou á um 
tempo atrás, pelo menos parecia. Mas sei que não você mentiu pra todos e 
por que 
? Não precisava, você devia ter feito algo. Foi tão simples assim.” Falou 
persistindo e me chamando bastante atenção. “Você simplesmente foi 
embora ignorando o que você sentia por ela. Você não fez nada James, 
54 
 
nada! Sabe o que é nada?” Falou como se estivesse brigando, ou se talvez 
estivesse. Ele queria apenas me dar uma lição, mas ele estava enganado. 
 “Não fale desse jeito” Eu disse. 
 “Como assim”? Perguntou enfatizando o “assim” meio que 
brigando. “Você acha que...” 
O interrompi. “Você não sabe o que ser amado e depois não ser 
mais.” Sei que peguei pesado, mas foi preciso. “Sabe tem algo que menti 
pra você. Algo sobre o passado. Não fui eu que corri atrás dela, ela veio 
até a mim, eu deixei um recado na sala dela, na ultima noite em que estive 
no hospital. Um recado pedindo pra ela me encontrar no farol. Ela 
poderia desistir da ideia de me ver, mas não acho que ela queria me 
agradecer, mas foi mais do que isso. E foi dali que nossa química 
começou.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo Cinco 
.............................................. 
 Sullivans, 2004 
 
 No dia seguinte conversei com a enfermeira que veio me fazer 
uma ultima visita. Ela disse que quase a deixei encrencada, porque me 
viram vagando pelos corredores do hospital. Mas conseguimos contornar 
tudo isso. Perguntou ela quem era a garota que eu fui visitar ontem à 
noite. Eu disse a ela que não a conhecia ainda, mas sei que estava preste a 
conhecer, pelo menos era o que eu queria. 
 Na quarta feira dois dias após eu ter saído do hospital fui ao farol. 
Lá comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido como se eu estive 
assistindo um filme, lembrei-me de cada detalhe. 
56 
 
 Estava tudo meio estranho ainda, um dia eu estava arrumando o 
barco para velejar, no mesmo acordo em um hospital e no outro acordo já 
arrumando as coisas para voltar pra casa. Pode-se dizer que eu poderia 
voltar o mesmo de antes, mas eu queria acreditar que eu tive uma 
segunda chance para fazer as coisas diferentes agora. 
 O sol já estava fazendo a sua ascensão no céu enquanto eu ainda 
estava ali de pé olhando para o mar, observando as aves nos rochedos, o 
céu se escurecendo sentindo a leve brisa que pairava pelo ar. Parece que 
toda vez que eu ia aquele farol sozinho me fazia refletir sobre a vida que 
eu levava. Às vezes eu me perguntava se eu tinha tudo. Uma família, uma 
casa, amigos tudo que um homem de 21 anos gostaria de ter. Não era 
muito festeiro e ainda assim não tinha tantos amigos, não saia muito, 
ficava mais em casa e ainda tinha muita à atenção de meus pais, mas sei lá 
parecia que faltava algo em minha vida, algo pra eu me engajar. Eu não 
tinha um sonho em específico, nada. Nunca quis ser alguém, nunca quis 
fazer algo a não ser surfar, velejar, curtir o mar era só isso que eu fazia sei 
lá desde sempre. 
 Do nado parei de pensar em tudo isso, apesar de gostar desses 
meus momentos eu não conseguia fruto em nenhum deles, eu saia do 
mesmo jeito em que eu entrava, sem mudanças, sem alterações de 
pensamento, simplesmente o mesmo que começou a pensar em tudo. 
 Chegando a casa antes mesmo de entrar encontrei algo que fiquei 
surpreso ao achar, mas simplesmente guardei e não falei a ninguém. 
 Os dias em casa parecia estarem diferentes, apenas pareciam, pois 
estavam do mesmo jeito de antes de tudo o que aconteceu comigo. Meu 
pai saia cedo para trabalhar, minha mãe ficava em casa o dia todo 
57 
 
fazendo sei lá o que. O meu amigo Kin também trabalhava e raramente 
aparecia lá em casa durante a semana, e eu não fazia exatamente nada a 
num ser ajudar minha mãe nos afazeres de casa, assistir televisão ou às 
vezes ir a Isle of Palms surfar, e quando não dava pra fazer isso ficava na 
praia admirando a paisagem. 
 A única coisa diferente que eu estava achando é que em todos os 
pôr-dos-sois eu ia pra varanda de casa, observar a praia onde ficava o 
farol pra saber ser a garota iria aparecer por lá. Mas eu ainda não tinha 
obtido sucesso nessa minha expectativa. 
 Uma semana depois do acontecimento, ela ainda não tinha 
aparecido, e eu comecei a pensar se ela realmente tinha lido o recado, ou 
se talvez simplesmente leu e deixoude lado. Talvez ela pudesse nem ter 
saído do hospital ainda, ou talvez saiu e voltou pra sua casa, que 
supostamente eu acreditava que não era por aqui, por que eu nunca a 
tinha a visto. Sullivans era uma cidade pequena você conhece todo 
mundo praticamente, além disse era uma cidade bastante movimentada 
por turistas devido suas atrações naturais e a diversidade de coisas para se 
fazer. 
 Então eu acreditava que ela não morava por aqui, bem era apenas 
uma dedução. Eu queria somente ver ela, somente uma vez. 
 Minha mãe me perguntava por que sempre ao pôr-do-sol eu ia 
pra varanda e ficava lá até ao anoitecer e depois eu saia em direção à 
praia, dava umas voltas e voltava pra casa. Mas eu nunca disse a verdade 
pra ela. Não queria ouvir mais um discurso. 
 Estava sendo bom por um lado, pelo menos eu tinha mais uma 
coisa pra me ocupar, mas por outro não. Eu a cada dia que passava me 
58 
 
desanimava um pouco a respeito de um dia poder ver a garota que um dia 
eu salvei. Eu já estava me convencendo de nunca eu ira a ver, e que eu 
teria que buscar a fazer outra coisa, o problema e que eu não sabia o que? 
 Duas semanas depois do acontecimento e ainda não tinha á visto. 
Entre esse período Kin foi à minha casa somente uma vez, ele não 
falou muito sobre aquele dia, agente jogamos baralho, depois 
conversamos um pouco sobre os problemas do seu trabalho, falamos 
sobre algumas viagens que bem poderíamos fazer, sobre o jogo de vôlei e 
das garotas de biquíni que ele levou um fora. Apenas conversas furadas. 
Perguntou se eu tinha desistido de esperar pela garota, mas ele não teve 
muitos resultados em arrancar de mim mais detalhes. Kin trabalhava 
muito isso eu admirava seu esforço pra se manter, sua dedicação no 
trabalho era irreconhecível devo admitir, mas ele precisava de algo mais, 
assim como eu ele também não tinha um sonho, não pensava em nada 
para o futuro a não ser trabalhar, gastar o dinheiro e curtir a vida. Era 
difícil ele ir lá a, em casa e quando ele ia, na maioria das vezes agente não 
fazia nada a num ser isso que mencionei, às vezes até inventávamos de ir 
para o mar, pegar umas ondas, mas dizia Kin que isso já não era tanto o 
seu robe. 
 Passaram-se mais alguns dias e então só percebi que havia algo 
estranho quando resolvi ligar para o hospital por curiosidade 
perguntando sobre a garota que estava no quarto 142, na ala de 
internação. A enfermeira disse que ela saiu já fazia doze dias. Perguntei se 
ela saiu sozinha a enfermeira não conseguiu me responder com precisão. 
Mas já era o suficiente saber que ela não estava mais lá. Minhas deduções 
se concretizaram então resolvi desistir da ideia de ver ela algum dia. 
59 
 
 Como eu disse antes eu não tinha nada pra fazer, nada pra me 
ocupar, então sem rumo e sem saber que horas eu iria voltar em uma 
segunda feira resolvi sair de casa bem cedinho. Pra onde eu ia? Nem 
mesmo eu sabia. Apenas sai, sem explicações para meus pais, sem 
discurso, sem expectativas de alguma coisa, simplesmente sai de casa, a 
procura de fazer alguma coisa. 
 De qualquer maneira se eu não encontrasse nada de interessante 
seria pelo menos melhor do que ficar em casa. Sai pela avenida Midler St 
até chegar ao fim dela quando se encontra com a avenida principal da 
cidade Jasper Blvd que se encontra ao passar pela ponte com a avenida 
Palm Blvd, a avenida principal de Isle Of Palms. Fui até o fim da cidade, 
em um lugar que eu nunca tinha ido. 
 Ao chegar à praia com bastantes dunas de longe avistei um grupo 
de jovens jogando vôlei. Era o torneio entre alunos da escola. Fui me 
aproximando observando as garotas de biquínis. Lembrei-me da época 
em que eu fazia parte de um grupo assim, bagunceiros e cheios de energia 
pareciam todos felizes com suas vidas, sempre com agendas lotadas, 
nunca ficavam ociosos com o tempo, sempre tinham algo pra fazer. Fiquei 
um tempo alí observando o jogo, depois sai em direção a Ocean Blvd a 
procura de um restaurante legal pra almoçar. Eu não queria voltar logo 
pra casa, então resolvi almoçar por lá mesmo. Fiquei um tempo alí no 
restaurante observando as pessoas, todas elas com suas vidas cheias de 
compromisso, eu fui logo para um restaurante do lado de um escritório de 
contabilidade. O restaurante era lotado pelos funcionários dessa empresa, 
e todos falavam praticamente a mesma coisa. Além dos funcionários 
tinham os burocratas, engravatados o sistema. Pessoas desse tipo. No final 
60 
 
não fiquei muito satisfeito com o restaurante que eu escolhi, prometi a 
mim mesmo que nunca mais iria nesse restaurante. Sai à procura de ar 
fresco, fui até o píer e comecei a refletir novamente. Parece que o mar me 
fazia me sentir assim, toda vez que eu olhava para o seu infinito eu 
começava pensar naquelas coisas que eu já mencionei. Mas como sempre 
eu passei o resto da tarde debatendo os prós e contras do meu dilema. 
Acredite eu repassei cada detalhe, mas, no final a escolha era óbvia, até 
mesmo para mim. Eu não encontrei nada em que eu pudesse me engajar. 
Como isso era possível? Será que eu seria assim pro resto da vida, 
morando na casa dos pais, fazendo o que eu fazia todos os dias 
repetidamente. No fundo eu não queria isso, eu queria encontrar algo, 
alguma coisa em que eu pudesse me identificar. Mas isso parecia algo tão 
difícil. Ficar ali no píer não estava me ajudando em nada, e também o sol 
já estava começando fazer a sua Ascenção no céu. Foi quando me dei 
conta que já era por volta das dezessete horas. Simplesmente peguei o 
carro e voltei pra casa pela mesma avenida que vim. 
 No final eu até tive um bom dia. Relembrei-me do meu período de 
escolaridade que pra mim foi muito bom, descobri um restaurante que 
nunca indicaria a alguém que quer ter um encontro legal, refleti um 
pouco, mas no final não adiantou de nada, mas no fundo eu pelo menos 
sai de casa um pouco. O que poderia melhorar? Nada mais já estava tudo 
bem perfeito. Meu pai logo chegaria, e minha mãe em instantes iria 
começar a fazer o jantar. Iríamos jantar lá paras às vinte horas, depois 
teríamos uma conversa normal, onde com certeza me perguntaria como 
foi o meu dia, depois eu iria para o meu quarto, talvez se não eu não tiver 
com sono posso até assistir um filme, pra no final eu ler um livro ou 
61 
 
talvez praticar um pouco de desenho e lá pelas badaladas da meia noite 
quando eu já estiver exausto ou nada pra fazer irei dormir. Era o que eu 
sempre fazia todos os dias. 
 Sentado na varanda de casa esperando o meu pai chegar, avisto 
uma pessoa se aproximando do farol, curioso olho mais atento e quando 
realmente caiu a ficha me levantei um pouco ansioso, acho que era a 
garota que salvei. 
 Comecei a observar melhor a mulher que estava em frente ao 
farol. Ela estava com as mãos na sua blusa de manga comprida, e dava 
pequenos passos olhando para seus pés, depois ela começou a olhar para 
o mar, até ficar ali parada por um tempo observando o sol fazer sua 
ascensão no céu. 
 “Era ela?” Pensei. Eu não esperava, quer dizer eu achava que ela 
nunca viria. “Mas por que a demora?” Fechei a porta de casa 
interrompendo meus pensamentos e direcionando o meu olhar para a 
imagem da mulher que estava perdida em seus pensamentos de frente 
para o mar. Desci as escadas do deque, e sai em direção a ela e quando eu 
me aproximei o bastante para ver a sua tatuagem no pescoço confirmei 
minhas expectativas e fiquei ali parado olhando para suas costas. Ela 
ainda não tinha percebido a minha presença e eu também não falei nada, 
não queria interromper seus pensamentos. Ficamos ali por um tempo, ela 
observando o mar perdida em seus pensamentos, e eu atrás dela, com 
certa distância apenas a observando. 
 Ela tinha as costas lindas, só agora que vim perceber, sei que eu a 
salvei, sei que eu fiquei um tempo abraçada com ela a aquecendo, mas o 
62 
 
desespero, o medome impediu de ver a sua beleza como eu estava vendo 
ao observar cada detalhe de seu corpo. 
 A brisa soava levemente enquanto eu analisava seus traços, seus 
cabelos meio lisos e ruivos balançavam à medida que o vento suava mais 
forte, suas pernas treme ciam quando a brisa do mar batiam nelas. Ela 
estava tão admirada com o que estava observando que nem percebeu eu 
começar a dar pequenos paços me aproximando mais um pouco dela. 
 Eu nunca tinha vista uma mulher assim. Até o silêncio ser 
interrompido por ela ao se virar e ver minha presença. 
 “Há, Opa!” Falou ela surpresa ao me ver, mexendo nas mexas de 
seu cabelo 
 Ela tinha dados uns passos e se virado quando se deparou com a 
minha imagem, eu querendo disfarçar dei um passo para o lado e dei 
apenas um sorriso. 
 “O que você está fazendo aqui?” Ela perguntou. 
 “Há...” Sussurrei. “Eu... é!” Sorri. Não consegui responder ela logo, e 
desviei meu olhar apontando para minha casa. “Eu moro aqui perto, e 
gosto desse lugar”. Enfim respondi. 
 “Você mora ali, naquela casa branca?” Perguntou ela apontando 
para minha casa. 
 “Hahan.” Respondi que sim com a cabeça. 
 “Você estava me observando?” Ela perguntou carinhosamente 
olhando nos meus olhos. 
 “Não! Claro que não”. Respondi surpreso. “Quer dizer mais ou 
menos, á sei lá.” Sorri. 
63 
 
 Ela abriu um pequeno sorriso. “Você estava me observando! Então 
posso deduzir que você é o meu anjo da guarda.” Apinhou os seus olhos, e 
seus cabelos estavam mexendo muito por causa do vento. 
 Ao escutar suas palavras eu me aproximei mais um pouco e 
respirei fundo olhando para os meus pés, e com um leve suspiro disse. “É 
acho que sim!” Disse isso olhando para ela, esperando alguma pergunta, 
ou qualquer coisa. 
 “Eu conheço você de algum lugar?” Ela perguntou alegre, olhando 
diretamente para mim. 
 “Olha...” Falei pausadamente tentando não demonstrar minha 
animação. “Acho que não”. Sorri novamente. 
 Aquilo continuou por mais alguns minutos – aquele 
interrogatório sobre quem eu era. Mas por sorte logo ela mesmo mudou 
um pouco de assunto. 
 “Eu fiquei sabendo que você também foi para o hospital, que você 
fez uma visita pra mim e até deixou um recado”. Ela disse suavemente. 
“Por que você me chamou até aqui?” Ela perguntou bem baixinho que 
quase não ouvi a pergunta. 
 Levei um tempo para responder. “Eu não sei ainda, eu só queria 
ver você”. Dei de ombros, meio desajeitado. “Fico contente por você ter 
vindo”. 
 Ela me olhou e sorriu. Ela sabia que não havia muito que falar, 
mas sei que ela ainda estava pensando o que diria depois. Mas eu 
interrompi o silêncio que ficou pairando pelo ar. 
 “Olha, eu queria saber o que você fazia no mar naquele dia.” 
64 
 
 Uma parte dela sei que ficou surpresa por eu ter feito essa 
pergunta. Embora não fosse exatamente algo que eu talvez não pudesse 
deduzir. Bem ela estava em cima dos destroços do barco, que estava 
destruído nos rochedos, tinhas umas velas no mar, e muita corda jogada 
nas rochas. Eu poderia deduzir que ela estava velejando, mas eu queria 
ouvir dela. 
 “Não sei” Ela disse. “Talvez eu quisesse testar o meu barco na 
tempestade”. 
 “Você veleja?” Perguntei fingindo estar surpreso. 
 “Gosto desse esporte”. Confirmou minha pergunta. 
 “É...” Sussurrei de leve. “Você não tem medo?” 
 “De que?” Ela frangiu a testa. 
 “Bem, você quis testar seu barco na tempestade”. A encarei com os 
olhos bem fixo nela. “Isso é loucura não acha?”. 
 Ela sorriu antes de dizer. “Concordo plenamente com você.” 
 Ela deu de ombros, sem dizer mais nada, e, para ser honesto, eu 
não sabia o que dizer depois. Naquele momento ficamos olhando um para 
o outro até ela se virar para o mar. 
 “Diga-me como você chegou até lá?” Falou ela apontando para os 
rochedos. “Quer dizer, foi lá que você me encontrou né?” 
 Aproximei-me dela e ficamos lado a lado olhando para a mesma 
direção. “Foi sim”. E depois não disse mais nada até ela me olhar de lado. 
 “Então..?” Ela perguntou, querendo saber como eu cheguei até lá. 
 Passei um tempo olhando para o mar, apenas tentando se lembrar 
da noite que a salvei. Ela apenas observava a forma com que eu estava tão 
atento aos movimentos do mar. 
65 
 
 “Eu achei que iria morrer naquela noite, antes mesmo de chegar 
aos rochedos”. Foi como eu consegui começar a contar tudo. Ela observava 
atentamente cada detalhe da situação em que me envolvi pela causa. Eu 
disse a ela, que antes eu e Kin estávamos nos preparando pra entrar no 
mar também, mas a chuva tinha nos pegado de surpresa, daí então nos 
decidimos subir no farol que foi quando conseguimos ver ela. Contei a ela 
que não pensei duas vezes e desci as escadas em desespero, depois 
simplesmente comecei a entrar no mar correndo e quando eu menos 
percebi, eu já estava nadando nas águas geladas e agitadas com apenas 
um foco, os rochedos. 
 “... e quando eu cheguei próximo de você eu vi sua testa 
sangrando, seu corpo estirado por cima dos destroços do barco, e toda 
molhada não pensei duas vezes, tirei minha camisa e abracei o seu corpo”. 
Falei olhando para ela. “Você estava com o corpo gelado, com o sangue 
frio, e seus batimentos cardíacos estavam muito fraco, achei que você não 
iria aguentar.” 
 Percebi que ela estava se envolvendo na situação e deu um 
simples suspiro. “Nossa.” Foi só isso que ela disse. 
 “Depois eu simplesmente fechei os olhos.” Continuei falando. “Eu 
também estava exausto, meu coração estava com os batimentos ainda 
muito acelerados, a adrenalina circulava a flor da pele, e eu também 
estava com o corpo muito gelado. Depois disso eu só abri os olhos quando 
eu estava no quarto de um hospital. E isso é tudo que eu me lembro”. Falei 
bem baixinho, olhando fixamente para ela. 
 Toda aquela conversa me parecia muito íntima, mas eu não 
estimulei outro assunto, e simplesmente ficamos ali em silêncio por 
66 
 
alguns instantes. No fundo eu queria falar mais. E como ela havia 
perguntado sobre mim, me senti na obrigação de perguntar sobre ela 
também, mas queria deixar isso pra outra ocasião, eu não podia avançar 
assim tão depressa. O clima estava perfeito e não foi quebrado em 
nenhum instante. 
 Ela olhou para mim. 
 “Você foi muito corajoso sabia.” Ela nem quis saber exatamente 
como saímos dali, mas acho que ela sabia que foi a guarda costeira que 
nos resgatou talvez alguém tivesse contado pra ela no hospital, ou ela 
simplesmente deduziu. Só sei que eu não quis dizer a ela que Kin teve 
participação sim, naquela noite. Ainda não, um dia talvez eu contasse. 
Pensei. 
 “Eu apenas fui impulsionado a fazer isso, mas obrigado”. 
Sussurrei. 
 Enquanto eu tentava encontrar alguma coisa pra falar, ela 
simplesmente deu a mão pra mim. 
 “Keyth Green”. Olhou diretamente para os meus olhos 
aguardando eu responder ela e pegar em sua mão. A sua atitude me 
pegou de surpresa, eu não queria acabar a conversa ali, mas parecia que 
ela queria sair, e como eu não sabia nem o que dizer automaticamente 
meu corpo respondeu por mim mesmo. 
 “James Wyler”. Peguei em sua mão, ela era macia e quente. 
Enquanto eu segurava a sua mão ela simplesmente sorriu. 
 O céu estava praticamente já escuro, as estrelas já davam pra ver, 
e o ar da noite já estava começando a ficar gelado. Quando ela soltou 
minha mão deu uns passos à frente em direção à praia e se virou. Naquele 
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instante não conseguia pensar em outra coisa. “Eu realmente salvei essa 
mulher?” E o meu desejo ali na hora era poder estar bem próximo do 
corpo dela assim como eu estava quando a encontrei pela primeira vez. 
Keyth era uma mulher muito atraente, eu não conseguia acreditar que 
estava ali com ela em uma noite linda, parecíamos tão próximos um do 
outro, mas nós ainda não tínhamos nem se apresentado direto. Mas eu 
sabia que em algum instante eu acabaria a conhecendo, disso eu tinha 
certeza. 
 “Eu

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