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Avaliação Educacional Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Lucimary Bernabé Pedrosa de Andrade Revisão Textual: Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone 5 • Introduzindo a temática • Instrumentos e técnicas de avaliação • Elaboração de questões de prova Nesta unidade, teremos como objetivos: • conhecer os instrumentos e técnicas da avaliação escolar; • compreender as reais finalidades da aplicação dos instrumentos e técnicas no ato de avaliar; • discutir a prova como instrumento de avaliação e a sua elaboração pautada em um modelo construtivista de educação; • possibilitar a compreensão de que o importante não é julgar os instrumentos e técnicas, mas sim questionar o modo como são utilizados no processo avaliativo. Lembre-se de que, se surgirem dúvidas no decorrer dos seus estudos, você terá à sua disposição uma ferramenta chamada “fórum de dúvidas”, na qual poderá postar e compartilhar seus questionamentos com os demais colegas e receber orientações do tutor. Caso as dúvidas e ou questionamentos não estejam relacionados às questões do conteúdo da unidade, poderá acessar o professor pelo link mensagens. Nesta unidade, serão discutidos os instrumentos e técnicas utilizados na avaliação escolar. Para que tenha sucesso em seu estudo, será muito importante ler com atenção e dialogar com o conteúdo apresentado bem como participar das atividades propostas, estando sempre atento ao prazo para o fechamento da unidade. Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas • O portfólio 6 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Contextualização Para iniciarmos o estudo desta unidade, convido você a refletir sobre um dos instrumentos mais utilizados na avaliação escolar: a prova. Apresentaremos fragmentos do texto Revoltado ou Criativo, de Waldemar Setzer, cuja leitura permite entendermos que a prova ainda é vista como um instrumento punitivo para os alunos e que, em muitas situações, é aplicada apenas para aferir os conhecimentos construídos por um processo de memorização, sem que seja dada ao aluno a oportunidade de argumentar ou justificar a sua resposta. O texto, na integra, poderá ser acessado no link http://www.ime.usp. br/~vwsetzer/jokes/barometro.html ou no livro de Pedro Vasco Moretto PROVA: um momento privilegiado de estudo não um acerto de contas, Revoltado ou criativo Waldemar Setzer Um professor é convidado para servir de árbitro na revisão de uma prova de física em que o aluno estava contestando a nota zero que lhe tinha sido atribuída. A prova propunha a seguinte questão: “Mostre como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com o auxílio de um barômetro”. Conforme o texto, a resposta do estudante foi a seguinte: “Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante-o, medindo o comprimento da corda; este comprimento será a altura do edifício.” O professor convidado para a revisão da prova propôs ao aluno mais 6 minutos para que pudesse responder novamente à questão. Após ficar pensativo e já esgotando o tempo proposto, o aluno afirmou que tinha várias respostas e que estava escolhendo a melhor. Em seguida, escreveu: “Vá ao alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo (t) de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula = (1/2) gt2, calcule a altura do edifício.” O professor avaliador concordou com a resposta dada, porém indagou ao aluno sobre as outras possibilidades de respostas que ele tinha. Ah! Sim - disse ele (o aluno) - há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro. Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício. Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas, ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas. Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g’s, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença. Finalmente - concluiu - se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer, diz-se: “Caro Sr. Síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura desse edifício, eu lhe darei o barômetro de presente”. O aluno conclui dizendo que sabia a resposta correta, mas estava tão farto das tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa. (Texto adaptado do texto original) 7 Introduzindo a temática Pode-se afirmar que a avalição no contexto escolar é vivenciada com muita ansiedade pelos sujeitos envolvidos no processo. Para os alunos, a avaliação é considerada um momento de tensão, aprovação ou reprovação, e, para os professores, é o termômetro do rendimento do aluno, podendo assumir um caráter meramente punitivo, o que se vincula a uma ideia de avaliação como um instrumento disciplinador de condutas. Mendez (2002, p. 110) alerta sobre a importância de a avaliação não servir apenas como instrumento para penalizar, coagir, castigar, excluir ou qualificar o aluno. Em muitas situações, a avaliação é considerada um processo independente do processo educativo, o que lhe atribui um sentido meramente burocrático. Estudos têm demonstrado que o histórico da avaliação escolar tem sido marcado por modelos antagônicos de educação, tendo, de um lado, o modelo tradicional e, de outro, o modelo construtivista. No primeiro modelo, avaliar é sinônimo de medir, e aprender consiste em memorizar o conteúdo transmitido pelo professor. Nessa proposta de avaliação, a exemplo do modelo de educação bancária, não há espaço para que o aluno possa empregar a capacidade de argumentação, reflexão e criatividade. Na concepção construtivista de educação, a avaliação assume um caráter mais dinâmico e deverá ser realizada de forma contínua e formativa ao longo do processo de ensino e aprendizagem. Nesta perspectiva, o aluno participa ativamente do seu processo de aprendizagem e de avaliação. Hoffmann (2000) também faz uma discussão sobre os modelos não tradicionais de avaliação, dentro de uma perspectiva de avaliação mediadora, elencando alguns princípios básicos para o processo avaliativo. Dentre esses, estão os princípios de avaliação como investigação docente; acompanhamento do processo de aprendizagem do aluno; complementaridade das observações sobre o desempenho dos alunos; e provisoriedade dos registros de avaliação. Instrumentos e técnicas de avaliação Considerando a necessidade de se repensar a avaliação escolar frente às novas concepções de educação, é fundamental que ela seja compreendida como um ato indissociável do processo de ensino e aprendizagem e que seja dado o devido valor aos instrumentos aplicados nesse processo. Dessa forma, ao pensarmos nos instrumentos e técnicas para avaliação, é importante considerarmos, sobretudo, as funções ocultas que a avaliação exerce e a importância de respondermos aos questionamento para que e quem avaliamos, “pois o valor da avaliação não está no instrumento em si, mas no uso que se faz dele” (Mendez,2002, p. 98). Fonte: Thinkstock/Getty Images 8 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Mendez, ao discutir as técnicas e recursos da avaliação, ressalta que a escolha dos mecanismos de avaliação está relacionada à função do tipo de informação que queremos coletar com a avaliação: Outro critério para escolher os mecanismos de avaliação é em função do tipo de informação que queremos coletar. E esta em função do propósito da avaliação: avaliação para reproduzir, repetir, memorizar, criar, compreender? Avaliação para comprovar a capacidade de retenção, exercer o poder, manter a disciplina? Avaliação para comprovar aprendizagens, desenvolver atitude crítica, submissa, obediente, crédula? Avaliação para garantir a integração do indivíduo na sociedade ou para assegurar o êxito escolar? Avaliação em um sistema que garante o acesso à cultura comum e a superação das desigualdades sociais por meio da educação? Avaliação para garantir a formação correta de quem aprende? (MENDEZ,2002, p. 91). O que podemos entender a partir das reflexões do autor é que a avaliação não é um processo neutro, mas existe, sempre, subjacente ao papel do avaliador, uma concepção de educação e um posicionamento ideológico em relação ao processo educativo. Para Pensar Você concorda com a afirmação de que a avaliação seja permeada por um conteúdo ideológico? Se nos encontramos frente a um novo modelo de educação, torna-se fundamental repensar os instrumentos e técnicas avaliativas, o que implica na mudança do conceito de ensino e aprendizagem, substituindo a função controladora e classificatória da avaliação por um modelo que promova a aprendizagem e a construção do conhecimento pelo aluno. Em relação às novas formas de entender e praticar a avaliação, Mendez (2002) afirma a necessidade de se buscar novos conceitos para o ato de avaliar e apresenta-os: Transparência (nos princípios, nas intenções, nas negociações, nos fins e nos uso); credibilidade (não basta anunciar os princípios; eles devem ser compreensíveis para que sejam críveis como enunciados que orientam a prática); coerência epistemológica e coesão prática (acordo entre a concepção e as práticas); aceitabilidade (está na base da legitimação social e educativa); pertinência (para justificar as decisões adotadas); praticabilidade (devem ser aplicáveis às práticas concretas de avaliação) e legitimidade (como ação social que deve ser moralmente correta) (MENDEZ, 2002, p. 96). Tais conceitos estão relacionados a um enfoque crítico da educação e do que seja o ato de avaliar, no qual o importante não é, meramente, a constatação do que o aluno aprendeu pelo Fonte: T hinkstock/G etty Im ages 9 ato de memorizar e dar respostas certas, mas, sim, o processo como essa aprendizagem ocorreu, o qual deve ser permeado pelo diálogo, pela discussão, argumentação, entendendo que “quem aprende deve não só dar respostas às perguntas já feitas e das quais se espera um resposta única e fechada, mas também deve explicar o seu pensamento e os argumentos nos quais se baseiam as suas ideias” (MENDEZ, 2002, p.97). Ao avaliar, o professor exerce uma atividade de julgamento relacionada não apenas com os objetivos imediatos de seu objeto de ensino, mas também com finalidades maiores que definem as características de um projeto educacional (de série, de curso) e que são coerentes com o Projeto Político-Pedagógico da escola. É evidente que a avaliação não se restringe à medição: é um processo mais amplo que implica em atribuição de um julgamento de valor. Todavia, para poder avaliar, o professor deve partir da verificação da aprendizagem, ou seja, da coleta de evidências necessárias ao julgamento valorativo. O ensino deve ser conduzido de tal forma que o aluno tenha um desenvolvimento harmonioso e integral no sentido de que não só todos os domínios da aprendizagem como também a proporcionalidade entre eles sejam fortemente trabalhados e desenvolvidos. Alie-se a essas ideias a necessidade de abertura para promover e analisar os propósitos atinentes à transversalidade dos diversos temas eleitos na Proposta Pedagógica. Se o ensino se distribui em vários domínios e se, na verdade, o que devemos medir é o grau de atingimento desses domínios, devemos usar diversas técnicas e instrumentos para avaliação escolar. Isso equivale a dizer que, de acordo com o tipo de aptidão, de habilidade, de competência que se deseja avaliar, empregam-se diferentes técnicas e, consequentemente, diferentes instrumentos. Em Síntese Técnica: é a forma utilizada para obter as informações desejadas. Ex.: observação, testagem, etc. Instrumento: é o recurso que será usado para se obter as informações e que é desenvolvido conforme determinada técnica. Ex.: prova objetiva, lista de checagem, etc. As características e princípios de avaliação mostram a impossibilidade de avaliar o aluno através de uma única técnica e de um único instrumento. Se se pretende avaliar o comportamento do aluno em sua totalidade, isto é, em seus domínios cognitivo, afetivo e psicomotor, diferentes técnicas e diferentes instrumentos deverão ser usados. 10 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas O quadro que segue dá uma visão geral das técnicas e instrumentos de avaliação mais comumente usados na avaliação do rendimento escolar. Técnicas OBSERVAÇÃO INQUIRIÇÃO TESTAGEM Instrumentos Anedotário Lista de checagem Escala de atitudes Questionário Inventário Entrevista Sociograma Testes padronizados Aproveitamento Aptidão Personalidade e interesse Testes construídos pelo professor A observação é uma técnica muito presente no contexto escolar, sendo, na maioria das vezes, realizada cotidianamente pelo professor de forma espontânea e intuitiva. Permite a avaliação do comportamento do aluno ao desempenhar uma tarefa, momento em que demonstra uma habilidade técnica ou uma atitude. A observação normalmente assume duas formas: · sistemática, quando o observador tem objetivos previamente definidos e, em consequência, sabe que aspectos vai observar. Esses aspectos devem ser relacionados com os objetivos de ensino já definidos e, por isso mesmo, requerem planejamento específico. · assistemática, aquela que se refere a experiências casuais, levando o observador a registrar o maior número possível de dados sem correlacioná-los, “a priori”, com objetivos claros e definidos. Quanto mais organizada, dirigida e objetiva for a observação, menor será o risco de um falso juízo de valor, portanto o professor deve trabalhar com a observação sistemática. Por outro lado, entretanto, não deve o professor desprezar a observação assistemática, que acrescentará informações aos dados reunidos através da observação sistemática. É muito importante que tanto o sujeito que está sendo avaliado como o avaliador conheçam claramente os aspectos que estão sendo avaliados, ou seja, as regras do jogo. A técnica de observação é a mais indicada para objetivos da área afetiva e motora, servindo, pois, para avaliar: · atitudes e hábitos: interesse, persistência, respeito, ajustamento pessoal e social, segurança, aplicação, preferência, rejeição, eficiência no trabalho e no estudo, valores, sentimentos, etc. · habilidades físicas: manipular, saltar, correr, desenhar, escrever, etc. Fo nt e: T hi nk st oc k/ G et ty Im ag es 11 A técnica de observação compreende vários instrumentos em sua operacionalização, tais como listas de checagem, escalas de classificação, anedotário. Mendez ressalta a importância de este tipo de avaliação der documentado por meio de diários e anotações, pois [...] o que importa na observação utilizada com fins avaliadores é delimitar e estabelecer: seus campos, o que valea pena ser observado, qual a importância concedida aos dados observados e qual o papel que os sujeitos observados podem desempenhar aqui (MENDEZ, 2002, p.106). O inquérito De um modo geral, inquirir significa o esforço sistemático e continuado para descobrir alguma coisa. Essa técnica baseia-se na obtenção de respostas, orais ou escritas, que podem revelar determinados comportamentos. Como a observação, o inquérito também implica no problema da subjetividade. Assim, as mesmas recomendações feitas em relação à observação aplicam-se neste caso, cabendo ressaltar que as perguntas ou interrogações devem ser muito bem elaboradas, procurando-se evitar perguntas “gratuitas” para que o aluno não dê, também, respostas “gratuitas”, somente para se colocar em “boa situação” diante do professor. Sempre que possível, deve-se associar a prática da inquirição à da observação. A inquirição presta-se muito bem para avaliar o alcance de objetivos no domínio afetivo. O questionário O questionário é o instrumento mais comumente usado na técnica de inquirição e consiste numa série de perguntas organizadas às quais o aluno, para responder, pode: escolher uma entre várias respostas propostas; escolher várias respostas; responder sim ou não; ou responder livremente às questões. É muito útil para a obtenção de informações sobre percepções, gostos, interesses, sentimentos, necessidades e atitudes de modo geral. O mérito ou valor do questionário como instrumento de avaliação está na formulação das perguntas. Desse modo, alguns aspectos precisam ser considerados: · as perguntas devem revestir-se, sempre que possível, de um caráter de estímulo; o aluno precisa sentir-se incentivado para respondê-las; · não se deve incluir, no questionário, perguntas inúteis ou desnecessárias, mas somente aquelas que favoreçam a busca da informação desejada; · as perguntas não devem insinuar as próprias respostas, isto é, não devem ser tendenciosas ou conduzir o aluno para a resposta que se está “desejando”; · alguns assuntos não recomendam perguntas diretas, criam inibição no aluno e, consequentemente, levam-no a manifestar uma atitude diferente; outros assuntos, entretanto, já requerem perguntas objetivas, diretas e precisas; · enquanto possível, as perguntas devem ser simples, de fácil compreensão e devem exigir respostas numéricas ou um simples sim ou não; · é recomendável, também, que as perguntas confirmem umas às outras. 12 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Atenção Para se elaborar um questionário, deve-se, inicialmente, planejá-lo. Esse planejamento consiste em: 1. definição do objetivo do instrumento e delimitação do campo de conhecimento (conteúdo); 2. levantamento das informações desejadas, que devem ser compatíveis com o objetivo do instrumento A entrevista A entrevista é uma técnica básica da avaliação que utiliza o diálogo como recurso. Conforme Mendez (2002, p. 107) “o diálogo permite comprovar e valorizar, com base em uma sólida formação por parte do professor, a consistência do raciocínio, das aquisições e das capacidades cognitivas do aluno”. Nesse sentido, é esperado que o professor tenha adequada capacidade de comunicação e argumentação para promover um diálogo aberto e que possibilite ao aluno demonstrar as suas capacidades cognitivas. A testagem É a técnica mais difundida e mais comumente usada por permitir maior precisão das informações obtidas e maior objetividade na avaliação. Por isso é que se presta melhor para avaliar o rendimento escolar. Contudo, convém não esquecer que, através dos testes, verifica-se uma capacidade, mas não a capacidade em si. Daí dizer-se que uma prova é sempre uma amostra e não uma avaliação total e completa, pois as respostas dadas pelo aluno representam a expressão de suas possibilidades segundo as condições daquele teste. Não têm valor absoluto. A testagem é mais indicada para avaliações de objetivos da área cognitiva e motora. O principal instrumento dessa técnica é o teste ou prova. A prova Dentre as diferentes técnicas e instrumentos para realização da avaliação escolar, a prova escrita é uma das mais presentes em nossa cultura. Porém, é fundamental a devida discussão sobre este instrumental para que não tenhamos meramente, com a sua utilização, uma pedagogia de exame Fonte: Thinkstock/Getty Images 13 Importante Uma prova exige planejamento prévio e cuidadoso. Um bom elaborador de provas deve caracterizar-se por: · conhecer o assunto a ser veiculado; · ter criatividade, imaginação e espírito crítico; · possuir habilidade verbal; · utilizar com eficiência a tecnologia dos itens. Moretto (2001) faz uma discussão sobre a prova escrita dentro de uma perspectiva construtivista sociointeracionista da educação, alertando sobre a importância da formulação da pergunta. Como a prova é instrumento que deve ajudar o professor no replanejamento do ensino, ela deve sempre ser orientada pelos objetivos; é preciso verificar se os objetivos são dominados por todos os alunos ou por alguns. Para que produza resultados confiáveis, este instrumento de avaliação deve ser cuidadosamente planejado, com a elaboração de questões baseadas nos objetivos e conteúdos estabelecidos. Segundo Moretto (2001, p. 100), é preciso que a avaliação seja eficiente e eficaz. Uma prova pode ser eficaz, atingir ao objetivo proposto, sem ser eficiente, por exemplo, quando os alunos tiram 10 por terem decorado um determinado conteúdo de forma isolada. Em pesquisa realizada pelo autor com a análise de mais de seis mil provas aplicadas em todo o país, foi possível estabelecer algumas características para caracterização de um modelo tradicional ou construtivista da prova escrita. Vejamos o que o Moretto (2001, p. 100-103) elenca como características das provas na linha tradicional: Ideias-chave 1. Exploração exagerada da memorização: neste caso as questões são utilizadas recorrendo à memorização mecânica do conteúdo estudado, sem que haja qualquer análise ou explicação. O que se espera é a resposta memorizada pelo aluno. 2. Falta de parâmetro para correção: é muito importante que o enunciado da questão deixe claro para o aluno os critérios que poderão ser utilizados para correção, pois, ao contrário, o aluno pode ficar na mão do professor; 3. Utilização de palavras de comando sem precisão de sentido no contexto. Ao elaborar uma pergunta, muitas vezes, o emprego de palavras, tais como: comente, dê sua opinião, justifique e caracterize, não tem relação com o contexto da questão. 14 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Para melhor elucidação do modelo de prova tradicional apresentamos, abaixo, uma das situações relatadas pelo autor, como resultado de sua pesquisa: Questão (Geografia) Dê sua opinião: o que você faria para acabar com a situação da seca no Nordeste? Resposta (absurda de um aluno) “Nada, absolutamente nada, pois não gosto do Nordestino e quero que todo mundo se lasque”. Comentário “A resposta mesmo absurda, responde ao comando: Dê sua opinião. Este é o tipo de questão sem parâmetros para correção e que deixa o aluno “na mão do professor” Alguns professores podem alegar que é importante saber da opinião dos alunos sobre determinado assunto. Ótimo, nada de errado nisso. Mas, se assim for, é preciso ter consciência de que qualquer resposta dada merece receber os pontos atribuídos à questão, mesmo uma resposta absurda como a colocada acima. Outra forma de perguntar Neste mês estudamos o quanto nossos irmãos do sertão nordestino sofrem com a seca que assola. Imagine que você fosse uma autoridade com poderes de resolver, mesmo em parte, a questão. Apresente ao menos 4 (quatro) medidas racionais e humanitárias que você tomariapara resolver o problema. Comentário Neste caso o enunciado introduz a ideia da cidadania na expressão “nossos irmãos nordestinos”. Há um parâmetro de “4 medidas” (não importa quais). O aluno deverá pensar positivamente, pois as medidas deverão ser racionais e humanitárias. (MORETTO, 2001, p. 107-108) Ideias-chave Em relação à prova na perspectiva construtivista, são elencadas as seguintes características; 1. Contextualização: uma prova com enunciado contextualizado é aquela que leva o aluno a buscar, no texto, os dados necessários para fundamentar a sua resposta; 2. Parametrização: significa a indicação clara e precisa dos critérios de correção. Ao propor o enunciado da questão, o professor precisa explicitar, com clareza, os aspectos que serão avaliados. Por exemplo, quando se pede para que o aluno apresente as características do povo brasileiro, o que poderia indicar com clareza os critérios seria explicitar quantas e quais características - físicas, sociais, culturais – se espera na resposta. 3. Exploração da capacidade de leitura e escrita do aluno: neste sentido, é muito importante que as provas tenham enunciados que provoquem no aluno a leitura bem como a escrita no momento das respostas, com questões que exigem a argumentação; 4. Proposições de questões operatórias e não apenas transcritórias: as questões operatórias são as que exigem do aluno, ao responder, operações mentais mais ou menos complexas, permitindo que ele estabeleça relações significativas num universo simbólico de informações, ao passo que as questões transcritórias exigem do aluno apenas respostas que foram decoradas sem contextualização e relação com o seu cotidiano (MORETTO, 2001, p 110-121). 15 Elaboração de questões de prova Uma consideração inicial e básica a ser feita na confecção de questões para prova de avaliação no domínio da cognição diz respeito ao nível de desempenho desejado. Esse nível deve estar explícito nos objetivos específicos previamente decididos no plano de ensino. A Taxionomia proposta por Bloom serve de guia para identificar os resultados intelectuais, conforme pode ser observado, de forma resumida, no quadro a seguir. CATEGORIAS DEFINIÇÃO EXEMPLOS Conhecimento Evocação de informações, termi-nologia, fatos específicos, etc. Qual a população aproximada do Brasil, segundo o senso de 2000? Compreensão Apreensão do significado do ma- terial aprendido; interpretação e extrapolação. Após a leitura de texto sobre a Incon- fidência Mineira, faça um resumo com ideias próprias. Aplicação Transferência de conhecimentos pré- vios para novas situações; uso de in- formações em situações concretas. Conhecendo as condições ambien- tais e a situação socioeconômica das regiões brasileiras, identifique suas gravuras, caracterizando-as. Análise Decomposição do problema em suas partes, identificando-as e relacionando-as. Em relação à evasão, reprovação e exclusão escolar, apresente dados que confirmem sua diminuição nos últimos dez anos. Síntese É a união das partes no todo. Cria, descreve, descobre e testa hipóteses. Tendo estudado a Constituição Bra- sileira de 1988, faça uma síntese do capítulo relativo à Educação. Avaliação Julgamento acerca do valor de algo, com certo propósito, usando critérios definidos. Em vista do crescimento da força de trabalho feminina no Brasil, defenda as causas que a confirmam. Existem dois tipos básicos de prova: a dissertativa, também chamada de resposta livre, e a de múltipla escolha ou objetiva. Prova dissertativa, de resposta livre ou com questões abertas, como as expressões indicam, possuem itens que permitem respostas relativamente livres por estarem condicionadas a critérios estabelecidos. É possível aperfeiçoar e sistematizar a organização dessas questões, de modo a diminuir as desvantagens que elas apresentam. Fonte: Thinkstock/Getty Images 16 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Dentre as vantagens desse tipo de questão, destacamos: · é de construção rápida e fácil; · propicia organização e exposição de pensamento; · permite avaliação de vários aspectos: conhecimento, linguagem, etc. Desvantagens: · a análise estatística das questões é impraticável; · a correção é lenta, difícil e subjetiva; · o professor tem que analisar cada prova, e não o aluno; · a predisposição pode influir na correção, em pormenores supérfluos, como o tipo de letra. Já, na prova de múltipla escolha ou objetiva, é esperada do aluno uma resposta correta, o que, muitas vezes, impossibilita o confronto de ideias. Um dos aspectos negativos desse tipo de prova é que o aluno poderá “acertar” uma determinada resposta mesmo sem ter o devido conhecimento do conteúdo. O portfólio O portfólio deve ser compreendido como uma estratégia de avaliação que se apoia em uma concepção de ensino e aprendizagem diferente da que costuma ser praticada na escola, sendo utilizado na educação a partir da década de 90 do século XX. Segundo Villas Boas (2005), o portfólio pode ser definido com o conjunto das produções ou, ainda, de documentos, atividades que demonstram o progresso da aprendizagem, permitindo ao produtor o acompanhamento de suas produções. Para o professor, o portfólio oferece a possibilidade de compreender como os alunos aprendem e de aprimorar o trabalho pedagógico com reflexão sobre a sua conduta profissional. Entendido como uma modalidade avaliativa que permite aos alunos participar ativamente de sua aprendizagem e avaliar o seu progresso, o portfólio apresenta três ideias básicas: 1 - a avaliação é um processo em desenvolvimento; 2 - os alunos são participantes ativos do processo avaliativo; 3 - a reflexão do aluno sobre sua aprendizagem deve ser parte integrante do processo. A utilização do portfólio está atrelada à ideia de uma avaliação formativa na qual se consideram os erros como informações diagnósticas. Ele pode ser empregado em todos os níveis de ensino, da educação infantil ao ensino superior. 17 Quando temos a garantia da participação do aluno no processo avaliativo, estamos construindo uma nova cultura de avaliação, desvinculada da nota, da noção de promoção ou reprovação, e articulada com a ideia de que todos são capazes de aprender. Ideias-chave Portfólio é uma modalidade de avaliação retirada do campo da arte. Originalmente, o portfólio é uma pasta fina em que os artistas e os fotógrafos iniciantes colocam amostras de suas produções, as quais apresentam a qualidade e a abrangência do seu trabalho, de modo a ser apreciado por especialistas e professores. A palavra é de origem latina: portar (portare)= carregar, conduzir; foluim (plantas, lâminas, páginas). O portfólio, nos meios escolares, expressa a seleção e a ordenação de amostras que refletem a trajetória de aprendizagem de cada estudante, evidenciando o seu percurso e permitindo a reflexão sobre ele. Um dos objetivos do portfólio pode ser compreendido como a documentação da aprendizagem do aluno. Como seus objetivos específicos, podemos elencar: · planejar atividades de acordo com o progresso do aluno; · envolver os pais no processo de ensino e aprendizagem; · compreender as diversas modalidades de aprendizagem; · promover a participação do aluno na avaliação com ênfase na identidade e na autonomia. Um portfólio pode ser construído de diferentes formas e com várias técnicas, porém é muito importante que os itens apresentados em sua construção possam revelar, conforme o tempo, os diferentes aspectos de crescimento e desenvolvimento dos educandos. Alguns itens, ou evidências, são mais frequentes, tais como: entrevistas, documentos, anotações, trabalhos, representações visuais, aulas de campo, desenhos, fotos, gravações, diários, dentre outros. A construção de um portfólio deveintegrar as evidências com as experiências dos alunos, sendo que as evidências compiladas precisarão promover uma correspondência entre o trabalho e suas experiências de aprendizagem. Dentre os princípios norteadores para elaboração de um portfólio, podemos citar: 1 - Construção: o aluno faz escolha e toma suas decisões. Essa construção difere conforme a idade do aluno, curso, atividade a ser desenvolvida e tempo disponível. A orientação do professor também é variável. 2 - Reflexão: o aluno decide o que incluir, analisa suas produções e tem chance de refazê- las, sendo sempre encorajado pelo professor nesse processo. 3 - Criatividade: refere-se às diferentes evidências que podem ser utilizadas na elaboração do portfólio; 18 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas 4 - Autoavaliação: é um dos aspectos muito importantes na elaboração de um portfólio, pois permite que o aluno analise suas produções e tenha chance de refazê-la; o professor encoraja o aluno nesse processo. 5 - Autonomia: o aluno deve trabalhar de maneira independente e não fica aguardando orientações do professor. É muito importante compreender que não existem formas únicas para realização da avaliação, sendo fundamental que o professor recorra a técnicas e instrumentos que possam colaborar, da melhor maneira possível, para que a avaliação seja transparente e eficiente. É preciso que a avaliação consiga atingir um outro sentido, mais formativo e educativo. A questão não consiste em, meramente, descartar alguns desses instrumentos e técnicas considerados recursos tradicionais e autoritários, mas sim em questionar o modo como são utilizados no processo avaliativo. 19 Material Complementar A prova escrita como instrumento de avaliação da aprendizagem do aluno de ciências http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1637/1637.pdf A prova como instrumento de avaliação http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=- 18&ved=0CFUQFjAHOAo&url=http%3A%2F%2Frevistaeletronica.unicruz.edu. br%2Findex.php%2FRevista%2Farticle%2Fdownload%2F262%2F165&ei=Sv_WU- qfVOqelsQS96oDQDQ&usg=AFQjCNGuzTh5lW7sGllmjJG6tSu6jeOZ9w O portifólio no curso de pedagogia:ampliando o diálogo entre professor e aluno http://www.scielo.br/pdf/es/v26n90/a13v2690.pdf 20 Unidade: Avaliação no contexto escolar: instrumentos e técnicas Referências ABREU, Maria Célia de, e MASETTO, Marcos T. O professor universitário em sala de aula: prática e princípios teóricos. 8. ed. São Paulo: MG editora, 1990. CAMARGO, Alzira Leite Carvalhais. ° Discurso sobre a avaliação escolar do ponto de vista do aluno. Revista da Faculdade de Educação [on line], São Paulo, V. 23, n.1-2, jan. ldec. 1997. Disponível: ht1:]:/ /www.scielo.br/scielo.php?script=sci arttext&pid=SO102-2555 1 997000 1000 1 5&lng=en&nnn=iso [capturado em 02 novo 2001]. HOFFMANN, Jussara. Pontos & Contrapontos: do pensar ao agir em avaliação. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2000. _______. Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva construtivista. 30. ed. Porto Alegre: Mediação, 2001. MENDEZ, Álvarez Juan Manuel. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto Alegre: Artmed,2002. MORETTO, Vasco Pedro. Prova- um momento privilegiado de estudo e não um acerto de contas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. ROBSON, A. S. Avaliação: instrumento de desenvolvimento pedagógico. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de Formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 100-109, v. 9. Disponível em: http://www. acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/586/1/01d15t07.pdf. Acesso em 15.dez.2013. VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, Avaliação e Trabalho Pedagógico. São Paulo: Papirus, 2005. 21 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 _GoBack _GoBack
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