Buscar

Análise do Documentário Estamira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FACULDADE DE MACAPÁ
PSICOLOGIA SOCIAL
PROFª ORIENTADOR: RODRIGO TRINDADE
ALUNA: FLÁVIA LOYANE SALES LIMA
ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO: ESTAMIRA
 
 “Além d’eu ser estamira, é revelar a verdade, somente a verdade. Seja mentira, seja capturar a mentira e tacar na cara, ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem, os inocentes...
Não tem mais inocente, não tem. Tem esperto ao contrário, esperto ao contrário tem, mas inocente não tem não.”
 (Estamira)
ESTAMIRA
Por Marcos Prado: "No ano de 2000, seis anos após ter iniciado meu projeto, esbarrei com uma senhora sentada em seu acampamento, contemplando a paisagem de Gramacho [...] Estamira era seu nome. Contou que morava num castelo todo enfeitado com objetos encontrados no lixo e que tinha uma missão na vida: revelar e cobrar a verdade. Nos tornamos amigos. Um dia, tempos depois de conhecê-la, ela me perguntou se eu sabia qual era a minha missão. Antes que eu respondesse, Estamira disse: “A sua missão é revelar a minha missão.” Então assim inicia-se o documentário.
O mesmo retrata a vida de uma senhora de 63 anos, mãe de três filhos, que mora e trabalha a mais de 20 anos no aterro metropolitano de Gramacho, portadora de distúrbios mentais e com visão ampla sobre o mundo e sobre si. Ela é conhecida como louca, mas ver a realidade perfeitamente. Estamira, apesar de sua psicopatologia, se mostra uma pessoa muito sábia e boa. "A culpa é do hipócrita, mentiroso, esperto ao contrário, entendeu, que joga a pedra e esconde a mão". 
Os pensamentos de Estamira são muito intensos, ela fala sobre sua vida e também aborda a probreza, a religião e a política, por meio de argumentos baseados em ocorrências vividas por ela. Diz que não está cega como os outros homens, que mesmo sendo igual no formato, corpo, não é igual a eles, ela está acima deles, pois ela consegue enxergar a verdade “Eu sou à beira do mundo. Eu estou aqui, estou lá, eu estou e, tudo quanto é lugar. Eu sou à beira. (Estamira)”
Ela também fala do descaso, da falta de consciência. As pessoas deveriam economizar, pois, “economizar as coisas é maravilhoso, quem’ economiza tem.” “porque ficar sem é muito ruim”. Mesmo na sua “loucura” Estamira vê o descuido que o sistema tem com ela e com todo o resto. Busca nas suas neuroses uma explicação e crítica, pois consegue ver de forma “clara”, as ocorrências cotidianas, essa é uma das faltas que ela pontua, diz que “É ‘pertubada’, mas sabe distinguir a ‘pertubação’ da lucidez”, pois ela é Estamira e se não soubesse fazer essa distinção não seria ela. Ela vê o homem, e todo o resto, de forma abstrata, diz que o homem tem um formato, o corpo, mas que o homem é mais que o corpo. Que pode destruir a “capa”, mas não a essência.
Para quem estudou e estuda a Bíblia, Platão e Nietzsche, e assistiu ao documentário, tentando situar "as falas" da Estamira e suas condições de existência, sabe que a fonte de alguns de seus discursos e conceitos procedem da tradição bíblica. Ela demonstra uma grande inteligência, uma gramática de alguém que leu a Bíblia por muito tempo. E a sua experiência de vida marcada pela dor e violência, com um repertório mítico, a fez sentir um "deus" menor, chegou um momento de sua vida, que desiludida com o que acontecia, passou a não acreditar mais em Deus, e partir disso passou a viver unicamente para ela. 
No entanto, a maior parte de sua explicação é completa do mundo, não tirada somente das religiões, mas uma rede conceitual própria, criada a partir de sua vivência trágica, explicando e tornando-lhe compreensível o mundo, além de uma solução, poética, para suplantar o sem sentido do existir. 
Nos aterros sanitários, pessoas competem com urubus, com ratos e outras pragas que são prejudiciais à saúde. São o retrato explícito da má administração dos resíduos e do descaso com a gestão urbana e social.
Ao decorrer do documentário ela vai à psiquiatra que receita vários remédios e isso a deixa extremamente voraz, pois ela fala que os remédios só são para dopa-la e fazer com que ela se desligue da realidade, e mostra a grande quantidade de remédios que passam para ela. Nesses seus acessos nervosos, vocifera contra Deus, contra a alienação dos seres humanos pela religião e pelos remédios “dopantes”, contra uma suposta sociedade de controle, estruturada para calar a voz e os pensamentos dos rebeldes, que no caso é ela.
Diz que os médicos, e todos, são meros copiadores do que viram na escola “Vocês não aprendem na escola. Vocês copiam. Vocês aprendem é com as ocorrências.” Segundo ela o homem só aprende aquilo que vive, que sente e vão à escola apenas para copiar. 
Fernanda pessoa diz “A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio.”
Estamira é um ser que reúne todos ou quase todos os sentimentos que um ser humano pode sentir, vai do amor ao ódio, da lucidez a “loucura”. Ela tem sua própria tese em relação ao mundo e a si. Ela dá uma lição e um ponta pé para que se possa ver a realidade, a verdade, vê os homens, a sociedade, como meros consumidores que apenas descartam suas coisas e não dão valor a pequenas coisas, valor nem ao próprio lixo, ou melhor, o que se diz lixo, mas que para pessoas que não tem nada, às vezes nem moradia, é uma grandiosidade. Ressalta a ideia de que estar em todo lugar, que sempre haverá alguém como ela ou que será um dia, uma mulher feita acima de tudo de ideias, críticas e não somente de carne e osso.
O documentário Estamira traz consigo uma reflexão sobre saúde mental e a construção histórica da loucura. Grande parte de suas críticas está relacionada a uma sociedade consumista, hipócrita e amoral, traz à tona a verdade nua e crua das desigualdades sociais. Mesmo com todo sofrimento que já enfrentou, não se cala, pois ela é a voz dos calados, dos excluídos. Para ela, o homem que explora outro homem, seja de forma econômica, sexual, afetiva é amaldiçoado, indigno, incompetente é o que ele chama de trocadilo, pois este fez de uma maneira, que quanto menos as pessoas têm mais eles jogam fora. 
No desfecho do documentário, Estamira declara que a única solução para as mazelas do mundo é destruir toda a Criação e substituí-la. Ela conclui sua autodescrição com palavras que sintetizam o que o documentário tentou expressar:
“Eu Estamira não concordo com esta vida. Eu não vou mudar meu ser, eu fui visada assim. Eu nasci assim e não admito as ocorrências que existe, que tem existido com os serem sanguíneos, carnívoros terrestres. Não gosto de erros, não gosto de suspeitas, não gosto de judiação, de perversidade, não gosto de humilhação, não gosto de imoralidade (...). Eu sou Estamira, e está acabado, é Estamira mesmo. (...) Eu nunca tive aquela coisa que eu sou: sorte boa”

Outros materiais