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O SIGNIFICADO DA FOTOGRAFIA NA MEMÓRIA SOBRE A DITADURA NA ARGENTINA A PARTIR DA OBSERVAÇÃO DE SILVA CASTELA Ivy Elida Guimarães Sales Resenha SILVA CATELA, Ludmila da. Todos temos um retrato: indivíduo, fotografia e memória no contexto do desaparecimento de pessoas. Topoi. Revista de História, Rio de Janeiro, v. 13, n. 24, p. 111-123, jan./jun. 2012. Disponível em: <www.revistatopoi.org>. O artigo “Todos temos um retrato: indivíduo, fotografia e memória no contexto do desaparecimento de pessoas” da pesquisadora Dra. Gilda Verônica Ludmila da Silva Catela, publicado na Revista de História da UFRJ, a Topoi, no ano de 2012 versa sobre Memória, Violência política. A autora apresenta um olhar sobre o uso da fotografia com relação às vítimas desaparecidas durante a ditadura na Argentina. Seguindo o viés sua tese de doutorado; “Não haverá flores no túmulo do passado”, que ganhou o 1° Concurso Brasileiro CNPq/ANPOCS de trabalhos científicos realizado em 2000, o artigo traz a baila a experiência de reconstrução do mundo dos familiares desaparecidos de La Plata (Argentina) e conduz a uma interpretação que enseja o sentimento da família. A fotografia nesse contexto é considerada como um elo entre aquele que está contido na imagem e os que à admiram. Visto isso, “O uso da fotografia como instrumento de recordação de um parente ausente recria, simboliza e recupera uma presença que estabelece nexos entre a vida e a morte, o explicável e o inexplicável” (CATELA, 2012. p. 112), a fotografia assume um papel de vivificar a pessoa, sendo, portanto, um depósito do ente querido, isso pode ser comprovado na diferenciação dada a essas imagens e da ligação que é estabelecida com aquele que a vê. Ocorre porque significados, além do registro histórico, foram sendo construídos ao redor dessas imagens como apresentam as treze páginas do texto, organizado em sete tópicos que detalham o processo de construção dos sentidos da imagem nesse contexto. Com isso, Catela torna possível um encontro com a amargura e a luta dos familiares para que não exista uma omissão da história dos desaparecidos. Com uma observação sensível a autora exterioriza o uso da fotografia como um instrumento que recria uma espécie de corpo. A ausência tem na foto a sua sobreposição por uma presença sem explicação, não existe um esclarecimento para a trajetória dos que nunca foram encontrados, e a foto aparece como uma forma de preencher essa ausência de história sem fim, repleta de fragmentos. O uso da fotografia como primeiro recurso para localizar o desaparecido, torna-se uma identidade para um grupo, são essas imagens do rosto na fotografia 3X4 que as mães se reconhecem como semelhantes. As dimensões técnicas podem ser a interpretação do fato, uma imagem que antes serviu para o Estado legitimar o sujeito, em outro momento, ganha um significado oposto. Além disso, o destaque que é dado na relação do espaço doméstico com a fotografia do desaparecido, gerou uma ritualização dentro da casa dos familiares onde a fotografia dos desaparecidos se transforma em indivíduo, se distinguindo da demais fotos no espaço doméstico, que em muitos casos reservam um lugar próprio. Fora do lar, elas se transformam em um corpo único, junto aos demais desaparecidos, são usadas pelas mães em seus lenços ou estampados em blusa que são mostradas nas manifestações em público, eventos anuais, que expõe um significado de proteção familiar. No plano historiográfico criaram-se formas de lembrar, que leva à compreensão dessas fotografias a partir da dor da ausência de sujeitos que hoje são uma representação de um momento histórico, os espaços, afirma a autora, vão além do conhecer a história da ditadura na Argentina, se encontra aí a história das pessoas da fotografia e alguns que retornaram também consegue visualizar com estranheza a própria imagem. Catela mostra que é importante pensar que as fotografias vista pelas vítimas e que foram produzidas pelas forças policiais, onde registra os presos e a situação perversa em que eles se encontravam, explicita o cenário de horror e leva a vítima a compreensão e lembrança desse período, se configurando como um espaço de memória e redefinição do eu como lembrança viva frente ao outro vivificado na imagem. Dessa maneira a pesquisadora apresenta uma interessante apreciação sobre a fotografia nesse contexto, não permitindo que o esquecimento desses e nem da conjuntura sócio histórica em que eles foram vítimas dessa violência não seja apenas uma fissura no passado. O artigo é uma memória da luta, a compreensão de um fragmento do processo histórico argentino e também um convite para mais leituras sobre o tema, desperta um outro olhar sobre o significado da fotografia diante do cenário de violência; é atemporal, por isso não deixa de mostrar ao leitor, pesquisador, estudante e interessado nas temáticas envolvidas que a memória coletiva, assim como a violência podem se reconfigurar através do significado da fotografia.
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