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AULA 1 - Imagem e Sentidos (IMAGEM E CONSTRUÇÃO SOCIAL)

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IMAGEM E CONSTRUÇÃO 
SOCIAL 
 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Sionelly Leite da Silva Lucena 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Para entender como a evolução e a interpretação da imagem se constroem 
socialmente, precisamos trabalhar a desconstrução do olhar a fim de reconstruí-lo, com 
outros sentidos. Por exemplo: você já deve ter ouvido falar que “uma imagem vale mais 
do que mil palavras”. Então, prepare-se para desconstruir esse e outros conceitos que 
definem a fotografia como algo “naturalmente legível” ou uma “linguagem universal”, 
pois essa expressão visual está carregada de sentidos e possibilidades de 
interpretações. 
CONTEXTUALIZANDO 
Nos temas desta aula, iremos discutir a imagem enquanto representação social, 
observando o poder da fotografia em comunicar, surpreender, e até mesmo “autenticar” 
uma situação. Vamos discutir o caráter de realismo da fotografia por meio do estudo da 
geração de sentidos na imagem, entendendo os poderes da imagem e suas 
possibilidades de interpretação, e, por fim, discutir sobre o que é a fotografia. 
 
Nesta aula, você compreenderá mais profundamente sobre o olhar subjetivo do 
operador da câmera, ao abrir espaço para discussões pertinentes, como: a visão 
tecnológica (baseada em princípios físicos e ópticos) da fotografia, o olhar do operador 
da câmera (que escolhe e seleciona os recortes do mundo para a construção da 
imagem) e os efeitos da imagem construída para informação e documentação histórica 
dos eventos sociais. 
Pesquise 
Confira quais são os temas desta aula: 
1. Imagem e representação social 
2. O poder da Imagem 
3. A geração de sentidos na fotografia 
4. Afinal, o que é fotografia? 
TEMA 1 – IMAGEM E REPRESENTAÇÃO SOCIAL 
No começo, havia a imagem. E até hoje para onde quer que nos voltemos, ela 
ainda está presente. A expressão visual dos acontecimentos sempre esteve nas 
manifestações humanas, sendo que das cavernas à contemporaneidade, o homem tem 
 
 
deixado vestígios de sua passagem por meio da produção e expressão da arte, da 
escrita e das mais diversas cenas do cotidiano. 
Por toda parte no mundo o homem deixou vestígios de suas faculdades 
imaginativas sob a forma de desenhos, dos tempos mais remotos do paleolítico 
à época moderna. (Joly, 2000, p. 17) 
Imagem é a representação visual de um objeto. O termo imagem (que vem do 
latim imago) significa “máscara mortuária”. Na tradição ocidental, associa-se a origem 
dessa máscara à morte, pois era um aparato que delegava ao falecido o não 
esquecimento, a fim de manter viva sua imagem na memória dos vivos. As máscaras 
de pedra, que inicialmente cobriam a cabeça do morto, mais tarde foram usadas por 
atores na representação da presença dos mortos. No Egito, e nas civilizações incas, 
por exemplo, o costume era o de representar os traços dos falecidos em máscaras 
mortuárias para honrar sua morte e garantir uma comunicação com o seu espírito. 
 
Cada vez mais realista e criativa, a evolução dos aparatos de construção da 
imagem, como a fotografia, tornou a imagem uma representação do real, que espanta, 
choca e convida todos a olhá-la. Além de vestígios da presença humana, a imagem 
abrange muitas áreas do cotidiano e possui diversos significados nas artes, na 
medicina, no ensino e nas indústrias, pois ela é o sentido, a significação e até mesmo 
a substituição de algo. As imagens ganharam ares de heterogeneidade em seus 
significados e em suas contextualizações, sejam elas produzidas pelo homem 
(fotografia, grafite, arte rupestre) ou mentais. Imagem mental? O que será isso? Leia a 
explicação de Joly sobre este termo. 
Chamamos de imagem mental a impressão que temos quando, por exemplo, 
lemos ou ouvimos a descrição de um lugar, a impressão de o ver quase como 
se lá estivéssemos. Uma representação mental é elaborada de um modo 
quase alucinatório e parece pedir emprestadas as suas características à visão. 
Vê-se. (Adaptado de Joly, 1994, p. 20) 
As imagens mentais seriam a base de recriação das imagens técnicas, que, por 
sua vez, se deslocam do imaginário para serem concretizadas em algum meio. 
Portanto, são uma visualização psicológica que se dá com base nas imagens vistas e 
“escaneadas” pelos olhos, para depois serem interpretadas mentalmente em um 
processo psíquico. Ainda nas palavras de Joly, elas são a lembrança visual e a 
impressão de uma semelhança perfeita com a realidade. 
 
Todos nós estamos rodeados de imagens. Se você observar por alguns 
segundos, sentirá o quanto as imagens estão presentes em nossos ambientes, nas 
fotografias, no outdoor da esquina, nas estampas das camisetas, nos quadros nas 
paredes, na estampa da xícara em nossa mesa, na lembrança do cheiro do café – que 
 
 
te faz imaginar o café... As imagens estão em todo lugar e vê-las ocorre de forma tão 
automática que às vezes demoramos a perceber certo objeto ou elemento presente 
nelas, mesmo passando tantas vezes os olhos no mesmo lugar. Algumas delas estão 
tão presentes no nosso cotidiano que são digeridas automaticamente e se tornam 
ausentes. Por isso, para dar conta de tantas imagens, a visão humana é seletiva: 
focamos no que nos é mais interessante naquele momento, assim, nossos olhos se 
concentram e buscam as informações de que precisamos para sobrevivência do corpo 
e da memória. 
 
Se prestássemos atenção em absolutamente tudo ao nosso redor, nosso 
cérebro teria uma explosão de conteúdos (signos) para perceber, identificar, interpretar 
e armazenar. Aliás, o estudo da interpretação desses signos faz parte da Teoria 
Semiótica de Charles Sanders Peirce. 
 
 
Saiba mais 
Para saber mais sobre a Teoria Semiótica de Charles Sanders Peirce, acesse o link a 
seguir: <http://www.infoescola.com/filosofia/semiotica/>. Acesso em: 10 dez. 2019. 
 
Inteligentes, nossos olhos também são testados. Quando encaramos uma 
imagem, por exemplo, analisamos as cores, os formatos, as texturas, os cheiros, as 
luzes e o meio em que ela é exposta. Nossa pupila se adapta às condições de luz, 
escaneando todas as informações (sem estar sempre focado no mesmo lugar, nosso 
olho não para!). Após isso, a imagem gera um resultado que pode sofrer alterações de 
acordo com a interpretação e a associação das ideias do mundo de cada pessoa. As 
imagens nos testam, individualmente ou coletivamente, e normalmente somos fisgados 
por elas registro dos raios luminosos, na fotografia, os satélites podem vigiar, por 
teledetecção, o avanço da desertificação no planeta ou acompanhar e prever 
fenômenos meteorológicos, ao mesmo tempo que permite que microcâmeras filmem o 
interior do corpo humano. Em medicina a radiografia permite explorações mais 
específicas do corpo, assim como o scanner, os raios laser, a ressonância magnética e 
a ecografia. É a imagem nos fazendo ver, e mais, compreender o mundo dentro e fora 
de nós mesmos. 
TEMA 2 – O PODER DA IMAGEM 
Das formas de expressão visual, a pintura e a fotografia são os tipos 
contemporâneos de imagem que mais nos rodeiam, exercendo influência sobre nosso 
estado mental e físico. Contudo, uma mesma imagem tem interpretações diferentes se 
exposta em contextos diferentes. 
 
 
 
Quando a fotografia surgiu na era vitoriana, época de sucessivos avanços 
advindos da Revolução Industrial, imaginava-se que, enquanto a pintura teria em seu 
âmago o “recriar” de acordo com a inspiração de seu criador (já que era uma 
expressão de ordem subjetiva), a fotografia teria em sua essência a cópia direta como 
referência, sendo assim, uma mimese dos fenômenos. Ou seja: a câmera seria a 
responsável pela captura das fotos, eliminando toda a subjetividade do olhar do 
fotógrafo e outras condições estéticas da construção fotográfica. 
 
Esse pensamento, herdado com o surgimento tecnológico da fotografia, teria 
abastecido a crença no objeto fotografado, transformando a fotografia em uma 
espécie de atestado de que aquilo quefoi mostrado aconteceu ou se deu num 
determinando espaço-tempo. O autor Duane Michals tem uma reflexão bem 
interessante sobre esse aspecto. 
As pessoas acreditam na realidade das fotografias, mas não na realidade das 
pinturas. Isso dá uma vantagem para os fotógrafos. O problema é que os 
fotógrafos também acreditam na realidade das fotografias. (Michals, 1982, 
apud Soulages, 2010, p. 80) 
O que o autor quis dizer é que tanto a pintura quanto a fotografia estão 
encobertas pela subjetividade do olhar de quem a produz, mas o suporte comumente 
dirige parte da interpretação e da credibilidade da imagem. Podemos entender isso por 
meio do ponto de vista do fotógrafo, quando ele escolhe a cena, o recorte, a 
objetiva/lente (se será uma grande angular, por exemplo, captura-se uma cena mais 
aberta; se escolhe uma teleobjetiva, busca-se algo longe ou em realce de detalhes), o 
ângulo; da mesma forma que o pintor escolhe a cena, recria em cores e pinceladas. As 
ferramentas são diferentes, mas ambos, fotógrafo ou pintor, fazem seleções do que 
será construído imageticamente com seus aparatos. 
 
A discussão sobre a realidade e a ficção na fotografia traz, portanto, essa 
característica imperativa, dando início a uma confusão entre dois conceitos: a 
descoberta de possibilidades e a essência da fotografia. Com a mistura entre o que 
seria possível e o que seria essência, a cópia exata e fiel dos fenômenos foi mantida 
como estatuto da fotografia, por muitos e muitos anos, descartando de seu alicerce, a 
princípio, o estreitamento com a arte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desde seu surgimento, datado oficialmente de 1826, a fotografia é 
interpretada como registro do real. No ano de 1839, o jornalista Jules Janin, 
entusiasmado com o daguerreótipo, disse a seguinte metáfora: “Nenhuma mão 
humana poderia desenhar como o sol desenha”. Sem pincel e tinta, a fotografia 
trabalha com a luz, escrevendo e desenhando a imagem com o brilho e intensidade 
do jogo luz-sombra. 
 
Nessa concepção objetivista, a realidade poderia se materializar 
fotograficamente ao duplicar a imagem de um objeto. Sendo assim, a fotografia 
serviria de testemunho. Mas, de onde teria surgido essa exatidão da fotografia e 
esse caráter representacional ligado ao objeto? Alguns pontos iniciais advêm do 
efeito da perspectiva da pintura renascentista, que é diferente da imagem fotográfica. 
Com a introdução da câmara escura, renovou-se o procedimento do verdadeiro, já 
que eram os processos físicos e químicos que reproduziam e fixavam a imagem. 
 
Assim, pelo fato de a fotografia ser um processo técnico, rompeu-se a ideia da 
ligação do homem com a produção de sua obra, pois sendo esse processo uma 
captura “direta” de um fenômeno, não caberia espaço para a subjetividade (como 
ocorre com a pintura, em que a imagem surgiria da imaginação do artista). Porém, 
na prática, a realidade na fotografia se situa no mesmo plano que a pintura. 
 
Assim como a pintura é construída conforme a imaginação de seu autor, a 
fotografia também pode ser influenciada pelo fotógrafo por meio da manipulação 
das unidades sígnicas durante a composição do quadro, na escolha dos elementos 
que irão compor a imagem, nas técnicas de revelação em laboratório, nos softwares 
de tratamento e manipulação de imagem, nos ajustes do equipamento antes do click, 
e outras escolhas técnicas e estéticas. Assim, a fotografia, vista como um produto 
subjetivo, não apenas uma reprodução, se coloca também no plano da ficção, como 
a pintura. Tanto uma imagem como uma informação podem ser facilmente 
manipuladas. E você, como futuro jornalista, precisa estar bem atento a isso. 
Dica: Assista ao filme Mera coincidência (Wag The Dog) que aborda de maneira bem 
clara como a realidade pode ser distorcida. 
TEMA 3 – A GERAÇÃO DE SENTIDOS NA FOTOGRAFIA 
Henry Jenkins, no livro A cultura da convergência (2009), menciona a história de 
Dino Ignácio, um jovem americano que produziu algumas colagens em seu computador 
– por meio do programa de edição Photoshop – manipulando imagens de 
 
 
personalidades conhecidas (de Adolf Hitler à Pamela Anderson) junto ao personagem 
Beto, do programa de TV americano Vila Sésamo (1970). 
 
Uma de suas colagens1 consistiu em “unir” na mesma imagem Beto e Osama 
bin Laden, considerado o inimigo número um dos Estados Unidos. Após os ataques às 
torres gêmeas americanas, em 11 de setembro de 2001, um editor em Bangladesh, ao 
buscar na Internet uma imagem de bin Laden, se deparou com a colagem de Ignácio. 
Encontrada a imagem, o editor decidiu imprimi-la em cartazes e blusas para usar o 
material em um protesto. 
 
A rede de TV americana CNN ficou surpresa ao perceber a confusão durante a 
cobertura do protesto: Beto e bin Laden juntos em um protesto antiamericano, como 
era possível? As imagens circularam nas TVs americanas 
e causaram indignação, inclusive, entre os produtores do programa Vila Sésamo, já 
que a imagem de um de seus personagens estava vinculada a uma figura tão 
emblemática (e odiada) em seu país, os Estados Unidos. A decisão era reverter isso 
em processo judicial, mas a quem deveriam ser cobradas as devidas providências? 
Ignácio? O editor em Bangladesh? Quem, afinal, seria penalizado pela dimensão do 
acontecido? 
 
A exibição de Vila Sésamo fez sucesso em diversos países onde foi exibido, 
inclusive no Paquistão, porém, nesse país, o formato do programa foi adaptado com o 
veto do personagem Beto. Por isso, ele não foi reconhecido nos cartazes e nas blusas 
pelos paquistaneses e muito menos pelo próprio editor em Bangladesh. 
 
Por não reconhecer o personagem Beto, já que não faz parte de seu repertório 
visual, o editor em Bangladesh nos atenta para mais um desdobramento desse caso: 
por que uma imagem gerou interpretações e reações diferentes? Afinal, quais são os 
efeitos de sentido da colagem feita por Ignácio? Ao dar o pontapé ao complexo 
percurso da colagem de Beto e bin Laden, Ignácio transformou sua “criatividade” em 
um problema internacional. 
3.1 Polissemia da fotografia 
 
Para compreender essas questões, é preciso entender a polissemia da 
fotografia. Para a semântica, há três níveis na interpretação dos signos: os sentidos 
conotativo, denotativo e o subjetivo. 
• Denotativo: sentido literal da expressão/signo; 
 
• Conotativo: sentido metafórico; 
 
 
1 Saiba mais em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/south_asia/1594600.stm>. Acesso em: 10 jan. 
2020. 
 
 
• Subjetivo: sentido individual e psicológico, de acordo com a experiência de 
cada um. 
Por exemplo: na análise da imagem de Ignácio, temos pelo menos três pontos 
de vista/interpretação: de Ignácio, do editor em Bangladesh e dos produtores de Vila 
Sésamo. 
• Para Ignácio, o sentido da imagem seria o conotativo, pois ao retirar Beto e 
Osama bin Laden de seus contextos originais, a colagem faz uma metáfora 
com suas figuras; 
 
• Para o editor de Bangladesh, a imagem vista foi no sentido denotativo, pois 
seu foco se concentrou na busca da figura de Osama bin Laden, que foi 
identificada na colagem de Ignácio; 
 
• Para os produtores do programa Vila Sésamo, a leitura foi interpretada um 
caráter subjetivo, por terem uma relação próxima ao Beto, além disso, a 
imagem veio em sinal de ofensa ao seu programa e ao seu país. Nesse 
contexto, também pode-se entender a imagem pelo sentido conotativo, já que 
a subjetividade da interpretação é erguida pela relação de proximidade. 
Portanto, uma mesma imagem pode gerar diferentes sentidos e interpretações. 
Seja por fatores de experiências pessoais, coletivas, contexto em que ela é exposta, 
processo de leitura ou pela mensagem verbal que a acompanha (subtítulo ou um título 
que a batize), parte da percepção também se deve aos elementos externos à imagem, 
que a complementam e conduzem o leitor a assentar os pensamentos em algo já 
predeterminado. São os chamados elementos de significação, que, quando atreladosa alguma imagem, induzem o leitor a decodificar a mensagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assim, a construção de uma fotografia começa nas escolhas do fotógrafo: 
entre a objetividade e a subjetividade, a apreciação estética e a decodificação sígnica, 
a objetiva grande angular e a teleobjetiva, as cores primárias e os tons variantes do 
preto e do branco, a profundidade de campo e os planos nítidos, o enquadramento e a 
escolha do momento de apertar o botão do click etc. 
 
Após essas escolhas, nasce a imagem com um universo de mensagens que os 
leitores poderão absorver, em cada traço desenhado pela luz. Não se pode esperar da 
 
 
imagem uma interpretação única: é o leitor quem identifica os signos de acordo com 
suas peculiaridades culturais e quem lhe confere o sentido final. 
Saiba mais 
Veja este caso que exemplifica como a fotografia é feita de escolhas. Disponível em: 
<https://catracalivre.com.br/geral/dica-digital/indicacao/foto-de-dilma-transpassada-por-
espada-vence-premio-internacional/>. Acesso em: 10 dez. 2019. 
TEMA 4 – AFINAL, O QUE É FOTOGRAFIA? 
Família reunida e todos se apertam para caber na foto. Até que alguém grita: 
“Olha o passarinho!”. Embora quase sempre não haja um pássaro à volta, sem 
questionar, os posantes da foto param, não falam, mal respiram, segurando o sorriso, 
por vezes forçado, até o fotógrafo apertar o botão. Feita a foto, todos voltam a relaxar, 
como se estivessem tirando um sapato apertado, e caminhando novamente com os 
pés descalços, livres, pisando no chão. 
Diante desse corriqueiro cenário fotográfico, surgem as perguntas: 
• De onde veio a expressão Olha o passarinho? 
 
• Por que ficamos tão sem graça, desajeitados, diante da câmera 
fotográfica? 
 
• E, afinal, o que é fotografia? 
A primeira pergunta, talvez, seja a mais fácil de ser respondida. Segundo Ari Riboldi, 
autor do livro O bode expiatório, as primeiras câmeras exigiam muito tempo para 
capturar a imagem, por isso, os retratistas (assim eram chamados os fotógrafos da 
época) precisavam executar algumas artimanhas para prender a atenção dos 
retratados. Para isso, muitos colocavam uma gaiola com um pássaro próximo da 
câmera para distrair os modelos, que fixavam seu olhar na ave engaiolada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: <yuriedmundo.com>. 
E por que ficamos desajeitados na frente da câmera? O que ela pode revelar? 
Em apenas um click a fotografia circunscreve um traço do tempo e do espaço de uma 
 
 
realidade. Mas, para que isso aconteça, é preciso olhar para o equipamento que 
registre esse momento. 
 
Assim, como defende Boris Kossoy (1999), a fotografia é provida de uma 
segunda realidade. O vestígio fotográfico tem seus espaços de tempo: o passado que 
existiu, já que o click transforma em fotografia o que aconteceu; o presente, que se dá 
no ato fotográfico; e o futuro, já que a fotografia servirá de memória para os que 
virão a vê-la, a posteriori. É no futuro que a lembrança estará guardada, para ser 
revivida. 
 
Se no folclore os espelhos são amaldiçoados, para alguns povos a fotografia era 
dotada do mesmo poder. Algumas tribos indígenas acreditavam que se tivessem sua 
imagem capturada por um equipamento, teriam suas almas aprisionadas. Parece 
loucura ou ignorância, mas eles não estavam completamente errados. Não que o ato 
fotográfico esteja incutido desse poder assombroso, mas, ao ver uma imagem, 
automaticamente refletimos a energia daquilo que vemos. Isso se dá por meio da 
memória, ativada pelos olhos que tocam a imagem, que, por sua vez, desperta 
sentimentos, o que nos faz vibrar e emanar energia. Em rituais religiosos, por exemplo, 
é comum que pessoas levem retratos de entes, para que a pessoa receba graças, 
mesmo estando ausente. A foto age, assim, como substituta do corpo. 
 
Uma curiosidade, ao menos aos olhos contemporâneos, são as fotos post-
mortem. Esse tipo de foto era feita na tentativa de preservar a imagem do morto. Como 
os retratos eram caros para a época, e as pessoas tinham baixa expectativa de vida, 
muitos retratos eram feitos logo após a morte do familiar, uma última lembrança, 
incorporada ao não esquecimento. Feitas em cenários e locações em que os modelos 
tinham vestimentas apropriadas a festas e eventos sociais, com uma maquiagem 
impecável, havia a tentativa de simular uma cena de seu cotidiano. 
 
Na fotografia a seguir, todas as pessoas que aparecem na imagem estão 
mortas. Atente para a personagem ao centro, que tem seu rosto virado para trás, por 
estar deformada – uma forma de mantê-la na memória, sem a pálida lembrança da 
morte. 
Fonte: <www.alemdaimaginacao.com>. 
 
 
 
Saiba mais 
Quer saber mais sobre as fotos post-mortem? Acesse a reportagem disponível no link 
a seguir. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-36461785>. 
Até hoje, as fotos são acionadoras da lembrança, por isso, são ilusórias. Elas 
não traduzem a realidade em absoluto, mas sua representação, dependendo de 
como a memória guardou afetivamente aquele referente. Portanto, as fotografias são 
mais fortes que qualquer interpretação de racionalidade, pois ativam as emoções das 
pessoas. 
Veja, a seguir, o que escritora Susan Sontag diz sobre esse contexto. 
Somos mais vulneráveis aos acontecimentos que nos inquietam sob a forma de 
imagens fotográficas do que sob a forma de fatos reais. [...] uma vez que 
somos espectadores (passivos) de acontecimentos já configurados. (Sontag, 
1983, p. 161-162) 
Quando a "ilusão" se completa na mente do leitor, este tem a sensação de 
assistir a um recorte imprevisível, dotado do sentimento de "realidade". Embora 
ressalte o caráter simbólico da mensagem, a fotografia só obtém êxito porque nela o 
leitor é cercado pelo sentimento de realidade acima de qualquer suspeita. E é sobre 
esse indício que se passam os códigos. A racionalidade é posta somente depois de 
aceitar a realidade do que se vê. 
O real na sua verdade é sempre algo inatingível, mas, em menor ou maior 
medida, sempre aproximável pela mediação do signo. É nessa aproximação 
que reside nossa responsabilidade ética com a linguagem. (Santaella, 1996, p. 
64) 
Atualmente, a velocidade da informática desvaloriza o "estar" no espaço 
sensível. Quando Elliot Erwitt afirma que "a fotografia nos leva a lugares a que não 
pertencemos", refere-se ao prazer resultante do fato de o leitor vivenciar os temas da 
fotografia, não somente ela. 
TROCANDO IDEIAS 
A fotografia é efeito do deslumbramento do homem frente às imagens do mundo, 
uma forma de concretizar aquilo que se vê. É o vestígio, marcado com luz, que até hoje 
torna a fotografia desconcertante, irradiadora de memória. É a percepção visual do que 
se vê, mas, principalmente, do que se olha na contemplação dos elementos do mundo. 
E por esta arte possuir o dote de refletir a aparência das coisas, surge sua capacidade 
de reproduzir, recortar, recordar e reviver. Agora, procure refletir: para você, o que é 
fotografia? 
 
 
NA PRÁTICA 
Assista ao filme Repórteres de guerra (The Bang Bang Club, 2010) baseado no 
livro biográfico The Bang-Bang Club: Snapshots from a Hidden War. Identifique quais 
questões são tratadas sobre a fotografia clicada por Kevin Carter, no Sudão. 
FINALIZANDO 
Não se pode obter uma única interpretação de uma imagem: cabe ao leitor olhá-
la e interpretá-la. Assim como na leitura de um conto, toda imagem se revela com uma 
discrepância: cada um vê e lê uma mensagem distinta, ainda que vinda do mesmo 
referente. Contudo, por bastante tempo, creditou-se à fotografia o peso de registro do 
real, tanto que, em 1839, o jornalista Jules Janin (apud Rouillé, 2009, p. 69) usou a 
metáfora do reflexo para definir o daguerreótipo, que conservava a impressão dos 
objetos. Nessa concepção objetivista, a realidade vista como algo material e a verdade 
estaria contida nos objetos visíveis. Sendo assim, o que consta na fotografia seria algo 
que de fato existiu e a imagem seria otestemunho desse fenômeno. 
Mas de onde teriam surgido a certeza e a exatidão da fotografia com o objeto? 
Com a introdução da câmara escura e o processo fotográfico ser objetivo, químico e 
físico, renovou-se o procedimento do verdadeiro na imagem (que antes era 
exclusivamente manipulado pelos pintores). Por isso, a fotografia começou a ser vista 
como um registro daquilo que a pintura ainda não havia conseguido realizar 
perfeitamente. Essa característica imperialista seria o princípio da confusão entre a 
possibilidade e a essência da fotografia. 
 
François Soulages diz que a partir de diferentes formas de se construir e ler uma 
fotografia, pode-se gerar diversos significados, dependendo das condições do 
espectador, da contextualização ou da manipulação dos signos por meio de sua 
constituição. Olhar uma foto é estar diante de uma tomada de ilusão ao seu referente, 
de uma segunda realidade. Não é uma forma de assemelhar-se ao visível, mas de 
tornar visível algum fenômeno relembrado, associado, percebido e interpretado. 
 
 
REFERÊNCIAS 
ACORSI, R.; BONI, P. C. A margem de interpretação e a geração de sentido no 
fotojornalismo. 2006. Disponível em: <https://casperlibero.edu.br/wp-
content/uploads/2014/05/A-margem-de-intepreta%C3%A7%C3%A3o-e-a-
gera%C3%A7%C3%A3o-de-sentido-no-fotojornalismo.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2019. 
JENKINS, H. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. 
MARINOVICH, G.; SILVA, J. O clube do bangue-bangue: instantâneos de uma guerra 
oculta. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 
ROUILLÉ, A. A fotografia: entre documento e arte contemporânea. Tradução de 
Constância Egrejas. São Paulo: Editora Senac, 2009. 
SOULAGES, F. Estética da fotografia: perda e permanência. Tradução de Iraci D. 
Poleti e Regina S. Campos. São Paulo: Editora São Paulo, 2010.

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