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UMA ANÁLISE SOBRE O IMPERIALISMO: ORIGEM, PERSPECTIVAS E CONTRADIÇÕES

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UMA ANÁLISE SOBRE O IMPERIALISMO: ORIGEM, PERSPECTIVAS E CONTRADIÇÕES
Beatriz Gambini e Lohane Spinetti
Resumo
Neste presente artigo pretende-se desenvolver, em linhas gerais, a análise acerca do fenômeno imperialista ocorrido no final do século XIX. O contexto histórico, assim como as diferentes interpretações, será aqui trazido com o objetivo de melhor compreender a natureza e consequências do Imperialismo na contemporaneidade. 
Palavras-chave: capitalismo; marxismo; Imperialismo
Resumen
En este presente artículo se pretende desarrollar, en líneas generales, el análisis acerca del fenómeno imperialista ocurrido a finales del siglo XIX. El contexto histórico, así como las diferentes interpretaciones, se traerá aquí con el objetivo de comprender mejor la naturaleza y las consecuencias del imperialismo en la contemporaneidad.
Palabras clave: capitalismo; marxismo; Imperialismo
1. Introdução
 2. A origem do Imperialismo em seu contexto histórico
O século XIX foi marcado de intensas transformações políticas, sociais e econômicas. O período compreendeu, dentre outros fenômenos, a criação e consolidação dos Estados nacionais, o acirramento das disputas políticas – tanto a disputa pela hegemonia entre burguesia e aristocracia, quanto o formação política da classe proletária –, a segunda fase da Revolução Industrial e, por fim, a Grande Depressão (1873-1879).
2.1. A construção dos Estados nacionais
A política internacional abrangida no período de 1848-1870 foi, sobretudo, a afirmação de nações independentes a partir da lógica de “nacionalidades rivais” (Hobsbawm, p. 98). O processo de independência e afirmação nacional tratava-se de um fenômeno internacional. O leste da Europa, Estados Unidos e Japão foram exemplos de reconstrução das identidades baseadas nesta ascensão do nacionalismo. O nacionalismo seria, pois, o chamado “natural” e preceito fundamental para a construção dos Estados nacionais – que se fundamentariam, sobretudo, na idéia de coerência territorial, compartilhamento de cultura, composição étnica e, definidos através da história. 
O argumento ideológico que transformaria as nações em Estados nacionais estaria assentado na premissa da não subjugação e exploração de um povo sobre o outro. Para além desta razão, a criação dos Estados nações apoiava-se na idéia de progresso. Deveria, dessa forma, ser capaz de deter “uma economia, tecnologia, organização de estado e força militar viáveis” (p. 101) – correspondentes ao modelo de sociedade burguês, liberal e progressista. 
Os Estados nacionais seriam, por conseguinte, criação superestrutural proveniente da necessidade latente das classes burguesas. O nacionalismo foi, em parte, o elo da inclusão das massas neste projeto – apesar da não universalidade de adesão. A urgência da construção dos Estados nacionais deu-se no contexto de expansão e consequentemente mundialização econômica. As novas necessidades do liberalismo deveriam corresponder, nesta forma, a um novo modelo de Estado.
O Imperialismo enquanto fase específica e aguda do capitalismo, para emergir, necessitaria, pois, deste novo modelo de nação. “Um mundo de nações viria a ser, acreditava-se, um mundo liberal, e um mundo liberal seria feito de nações. O futuro viria mostrar que a relação entre os dois não seria tão simples assim” (Hobsbawm, p. 112). 
2.2. Conjuntura econômica e social
O âmbito econômico abrangeu desde a segunda fase da Revolução Industrial, os anos de Ouro (1850-1873) e a Grande Depressão. O Imperialismo surgiu como resultado para suprir a crise, abrindo-se uma nova fase capitalista.
A segunda fase da Revolução Industrial compreendeu a industrialização tardia da Europa, salva Grã-Bretanha, dos EUA e Japão. Foi, em suma, a continuação parcial da primeira. Mantivera-se o modo de produção anterior – especificado – mudando-se, no entanto, o foco de produção. Em 1830, a concorrência industrial têxtil intensificou e, paralelamente, houve o desenvolvimento das indústrias de bens de capital. As nações tardiamente industrializadas, espalhadas na industrialização inglesa, passaram a consumir esses novos produtos. 
A Grande Depressão firmou-se nas crises cíclicas de superprodução do final do século XIX. A industrialização tardia de certas nações elevou a competitividade capitalista (entre EUA, Grã-Bretanha e Alemanha, principalmente) a nível antes posto. O capitalismo vivia, pois, um novo momento. Existia, em contexto mundial de industrialização, grande concentração de renda em detrimento de uma grande massa trabalhadora. A crise resultaria, portanto, da bruta desigualdade social. A taxa de lucro declinou da falta de consumo. 
As contradições em níveis nacionais e globais também promoveram a crise de superprodução. As disputas traçadas buscavam a hegemonia. Em nível interno, surgiu a expansão do mercado, devido à concorrência. O trabalho pago em gênero e a utilização de mão-de-obra escrava foram práticas recorrentes no cenário nacional. 
Na política externa, a disputa por mercados externos e atitudes protecionistas foi dominante. Os preços, em um mercado sem consumidor correspondente, passaram a declinar. A queda de exportações, quebra de bancos, falência de empresas, elevação dos custos de produção devido ao amento repentino de procura e o aumento das taxas de desemprego – junto com a força dos movimentos sociais da classe proletária – foram algumas das conseqüências advindas da crise do capital. 
Os investimentos cada vez mais altos, na tentativa de supressão da baixa lucratividade, passaram a concentrar, ainda mais, o capital. Desenvolveu-se na crise, e como resposta da mesma, a formação de monopólios – com o objetivo de diminuir o excesso de capacidade produtiva. A nova fase capitalista, denominada imperialista, surgia então. 
3. Imperialismo e perspectivas: os vieses de análise
O diagnóstico sobre o fenômeno imperialista foi heterogêneo. Isto porque as diversas correntes político-ideológicas buscaram interpretá-lo. As concepções sobre sua origem, natureza e consequências teriam, sob as diferentes interpretações, justificativas distintas. 
3.1. Imperialismo na visão liberal
A essência econômica capitalista corresponde, sob preceitos teóricos liberais, a economia de mercado. Significaria isto dizer que, apesar da diferença entre capitalistas e mercantilistas, ambos cumpririam o mesmo papel-agente econômico. A diferença residiria, no entanto, no fato dos capitalistas possuírem acesso aos fundos líquidos do capital – capacitados, neste sentido, em reinvestir, a fim de minimizar os custos de produção. 
A economia capitalista corresponderia a um conjunto harmônico de interesses particulares combinados que geraria como resultado, um sistema de competição pacífico. Esta concorrência perfeita, por sua vez, em seu apogeu, seria denominada a partir do alcance-ótimo da Teoria do Livre Comércio. Os pressupostos teóricos que formariam, compilados, determinariam regras e tendências que o capitalismo, em seu percurso natural, viria a assumir: preços relativos a partir da adaptação das importações e exportações em escala global – movimento estático entre os países, onde não existiria troca de capitais e/ou trabalho – e concorrência como fonte das inovações tecnológicas e causa do crescimento econômico. As duas conseqüências derivariam da plena concordância entre nações, em uma equilibrada Divisão Internacional do Trabalho (DIT). A lucratividade seria o motor das especializações de produto de cada país, e todos estariam, consequentemente, alocados em suas máximas utilidades – posto que especializados e simetricamente engendrados.
A liberalização econômica, neste sentido, promoveria o desenvolvimento econômico. A História, para os liberais, comprovaria o conectivo entre o desenvolvimento industrial e a elevação no padrão de vida. Seriam, nesta lógica, efeitos da expansão do mercado e livre comércio – tal como ocorreu no século XVIII na Grã- Bretanha e, posteriormente, no século XIX, nas industrializações tardias. Existiriam fatoresexternos, contudo, que estariam para além do livre mercado. A pressão popular e o desenvolvimento científico, por serem externos à economia, não sofreriam influências da mesma.
Em razão oposta, a não liberalização estagnaria a economia, aprisionando-a em um estágio subdesenvolvido. O Estado e o nacionalismo tornar-se-iam, a partir da lógica liberal, empecilhos do livre comércio. A intervenção estatal tenderia ao protecionismo econômico que, por consequência, geraria a estagnação econômica. A chave para o capitalismo seria, portanto, “o reconhecimento mútuo de esclarecido interesse próprio (BROWN, 1978, p. 28). O papel do Estão não só então, no liberalismo, tornar-se-ia obsoleto perante a economia, como a impulsionaria o atraso de seu desenvolvimento – dado que não permitira a livre concorrência em amplitude. 
O Estado e seu nacionalismo seriam, pois, não somente a causa, mas a origem deste protecionismo que, levado a nível mundial, configurar-se-ia enquanto Imperialismo. Seria, na teoria capitalista liberal, herança de uma economia pré-capitalista – mercantilista – que se utilizaria da classe burguesa para fins não econômicos. Os governantes assumiriam então, posição antagônica à burguesia. Enquanto os primeiros se comportavam enquanto mercantilistas, onde visava o interesse exclusivo nacional, os segundos seriam os verdadeiros comerciantes, ansiosos de seu desenvolvimento pela livre concorrência.
O nacionalismo econômico geraria duas consequências deficientes para o capitalismo: o chamado “monopolismo de exportação” (BROWN, 1978, p. 29) e o subdesenvolvimento das áreas afetadas pelo colonialismo. A primeira derivaria da criação artificial de exportações – geraria o efeito oposto do desejado. O capitalismo, em pleno desenvolvimento, necessitaria da auto-regulação dos preços. A partir da prática protecionista, o equilíbrio deixaria de existir, tornando a relação assimétrica. A não-importação de produtos estrangeiros, em nível global, desencadearia um efeito-dominó na diminuição internacional do comércio. O protecionismo bloquearia a livre troca comercial mundial. Suscitaria, neste sentido, a não-acumulação e a involução, conseqüente, econômica. A segunda provocaria o mesmo resultado, mas sob outro viés. A reação das áreas que sofreram o colonialismo utilizar-se-ia do protecionismo como escape à exploração. Mas este protecionismo produziria, no entanto, o efeito reverso – uma vez que permaneceria estagnado e, por conseguinte, subdesenvolvido.
O capitalismo na visão liberal seria, pois, a economia de mercado a nível mundial. Suportaria, neste sentido, a alocação máxima de todos os recursos. Harmonioso, não promoveria expansões. A competição, saudável, provoca somente o desenvolvimento econômico e inovações. O Imperialismo, em relação lógica, tornar-se-ia oposto ao capitalismo. Agiria de maneira febril ao funcionamento do capitalismo. Não seria, portanto, provocado por ele. O capitalismo, em nível-ótimo, não encontraria vestígios do imperialismo – mas o repele por completo. 
3.2. O imperialismo na visão keynesiana
Os keynesianos fizeram objeções a certos pressupostos liberais, apesar de sua maioria concordância. A concorrência perfeita, nesta visão, seria equívoca. O homem teria, sob ótica keynesiana, aspirações ao dinheiro e poder. A disputa em busca destes, não poderia, neste sentido, ser pacífica. A segunda crítica estaria relacionada a atemporalidade da lógica. A visão liberal, para Keynes e seus seguidores, aboliria a temporalidade dos gastos ao focarem-se nos lucros para reinvestimentos. Haveria diferença entre a acumulação e o lucro deste dinheiro acumulado reinvestido. 
A teoria keynesiana teria como pressupostos principais o “papel da moeda” (BROWN, 1978, p. 34) e a necessidade do Estado para promover a economia. O crescimento seria lento e sujeito às restrições mercantilistas. A demanda do mercado dependeria de fatores considerados externos para os liberais – tais como população e inovação tecnológica. A moeda seria o conectivo entre passado e futuro. 
A acumulação prévia de capital teria, pois, história. A teoria econômica liberal, portanto, não explicaria esta temporalidade – uma vez que a suprime. Esta visão se resumiria, então, na união entre a história do desenvolvimento da acumulação e a teoria econômica. A partir do aspecto histórico da acumulação, Keynes percebeu a distinção entre o desejo de poupar x incentivo de investir. O desejo pelo dinheiro – pela liquidez do dinheiro – demonstrou-se evidente historicamente, o que permitira concluir a estagnação como condição normal da economia. Significa dizer que existiria a capacidade de oferta, mas a falta de demanda efetiva. 
A condição normal mudaria seu caráter somente em circunstâncias especiais. A invocação de investimento proveria, assim, desses momentos. A assumida de riscos para investir resultaria na geração de renda nacional. Keynes previu, então, em nome da defesa nacional um incentivo primordial para investir. A preferência pela liquidez poderia então ser superada. O keynesianismo encararia, assim, a estagnação econômica e o Imperialismo – como saída desta primeira – enquanto categorias universais, provenientes de sociedades que funcionariam a partir da lógica econômica de mercado. 
O Estado promoveria, artificialmente, incentivos que combateriam o entesouramento. Tais incentivos sempre seriam imperialistas, uma vez que a disputa econômica seria, naturalmente, agressiva. O Imperialismo seria, assim, não somente inerente ao capitalismo, mas à economia de mercado. O apreço à liquidez monetária, enquanto antídoto, o Imperialismo, seriam provenientes da mesma fonte: o amor ao dinheiro. Seria, por conseguinte, no Imperialismo a resposta para a superação a poupança – seu retorno seria sempre superior ao investimento. 
A origem do Imperialismo encontrar-se-ia no que os liberais classificaram como “motivos exógenos”. A pressão popular, as vontades dessa pressão, foi o incentivo aos homens para manterem suas taxas de acumulação. A ambição do status social fez com que a burguesia movesse-se em prol da grandeza nacional – e surgisse, assim, o elo entre capital e Estado. O Imperialismo, como ação deliberada, romperia com o entesouramento do capital privado. O Estado teria, portanto, a necessidade de ação sobre o capital tanto no âmbito interno quanto externo. Precisaria satisfazer a insuficiência da vontade para investimento, mesmo que necessitasse, para isso, expandir-se sobre outras nações. 
As relações entre nações seriam, necessariamente, competitivas. A lógica econômica exigiria o Imperialismo como escape a estagnação. As guerras e o colonialismo seriam, pois, resultados desta lógica – o amor ao dinheiro guiaria as ações a nível global. Estas manifestações – utilização do poderio político e militar – seriam resultantes que buscariam atender as vontades econômicas nacionais. 
3.3. Imperialismo na visão marxista
Marx dividiu a realidade em dois planos: estrutura e superestrutura. Nesta primeira, encontrar-se-ia o modo de produção – caso de estudo marxista sobre as sociedades; onde se configuraria a partir da combinação das relações produtivas – tecnologias – com as relações de produção – relações de trabalho e distribuição de renda. Esta dependência material para com a realidade resultaria, em nível superestrutural, nas formas políticas e idéias – consciência sobre a realidade. 
A estrutura capitalista resultaria, pois, em certa contradição das relações de produção, acentuadas/modificadas pela tecnologia. Haveria a dialética, neste sentido, nas relações de trabalho capital-trabalho, traduzida em Tese (proprietários/burguesia) x Tese (mão-de-obra/proletariado) = Síntese (capitalismo). Existiria, portanto, os detentores dos meios de produção – terras e/ou fábricas. Existiria, portanto, os detentores dos meios de produção (terras/fábricas) e a força de trabalho, em conflito imanente. A força produtiva (maquinaria), por sua vez, seria utilizada em busca do barateamento da produção, economia do tempo e aumento de produtividade.O capital seria aplicado, assim, na tecnologia + força de trabalho – o que resultaria na expansão da produtividade em nível nunca antes imaginado. A síntese capitalista só foi possível, no entanto, neste determinado momento histórico, onde a estrutura encontrava-se em forma acabada. 
A lógica capitalista corresponderia à acumulação cíclica de capital. Seria regida, para isso, pela competição entre os capitalistas. A competição dirigir-se-ia, então, para a redução dos custos de produtividade. A competição para reduzir custos incentivaria a continuidade de investimento. A competição capitalista seria intrínseca ao seu sistema; corresponderia a sua força motriz. A lógica da competição resumir-se-ia em expandir para reduzir custos de produção e manter-se ainda na competição. 
Existiria, contudo, uma contradição entre tendência e objetivo no capitalismo. O objetivo resumir-se-ia na aceleração de acumulação para o aumento da produtividade e, por conseqüência, do lucro. A tendência, entretanto, caminharia para sentido oposto: a acumulação restringiria o consumo – tanto da burguesia quanto do proletariado – e a tecnologia reduziria o trabalhado por unidade, que reduziria, em geral, o lucro.
A fonte do lucro capitalista encontrar-se-ia na exploração do trabalhador; a mais-valia. O produto bruto produzido pelo trabalhador seria maior que o salário pago para produzir. A partir da mais-valia, deter-se-ia a baixa de custos sobre a produção, onde poderia, então, ser reinvestida. O sistema de capitalização da mais-valia corresponderia à produção capitalista, onde o produto seria, portanto, a força de trabalho. Encontrar-se-ia, deste modo, a contradição interna do capitalismo: existiria um limite de absorção da fonte de riqueza – exploração. A força de trabalho seria, ao mesmo tempo, a origem e o retorno do lucro. A mais-valia e o mercado consumidor seriam a contradição irreconciliável do capitalismo. A lucratividade da mais-valia seria, assim sendo, inversamente proporcional a alta relação capital-trabalho. O limite de expansão capitalista encontrar-se-ia no limite de superprodução. Esta superprodução, no entanto, não seria o excesso de produção, mas a diferença abissal entre o excesso de capacidade produtiva x incapacidade de consumo. Na medida em que haveria a superação da origem pelo retorno, o capitalismo encontraria seu limite de expansão. 
Esta necessidade expansionista surgiria, assim, do limite alcançado entre a competição capitalista. O capitalismo precisaria de equilíbrio entre a contradição exploração x consumo. O Imperialismo seria a tendência natural do capitalismo, emergido de sua própria lógica. A exploração imperialista seria a resposta para novas, e mais baixas, relações de capital-trabalho – redução de custos com terras e matérias-primas por baixo preço. Os oligopólios surgiriam, em nível global, a partir da DIT artificialmente programada, em que dividiria o mundo em países industriais x agrícolas. Os países desenvolvidos – industriais – conduziriam os meios de produção a um processo de concentração a partir do acirramento das disputas. A contradição, elevada pelo alto nível de produção, passaria a aliviar-se na medida em que a extensão do capitalismo viesse a se desenrolar. 
O Imperialismo, sob viés marxista, seria a extensão da mais-valia, buscaria lucratividades em novos espaços – reprodução das relações capitalistas. Forma intrínseca, mas não controlada, da necessidade de expansão para a permanência na competitividade. Faria parte, pois, da lógica capitalista, no momento em que esta se chocasse com seu limite de contradição. O Imperialismo, consequentemente, corresponderia à instância última da necessidade de expansão do capital – dependente disto para que possa sobreviver.
4. Contradições 
 O capitalismo se faz presente desde a segunda metade o século XVIII, consolidando-se com base nos ideais do liberalismo, tanto no campo político, quanto no campo econômico. Neste momento em que as ideias de livre mercado e direito à propriedade, por exemplo, se tornam a base dessa sociedade, que, recentemente, passara por revoluções de cunho liberal em toda a Europa. 
Entretanto, as contradições desse sistema passaram a se mostrar cada vez mais evidentes, uma vez que as desigualdades sociais adquiriram níveis alarmantes, e as crises econômicas tornaram-se inevitáveis. Concomitante às experiências propiciadas pelo advento do capitalismo industrial, despontaram as críticas acerca do mesmo. Para fins desta análise, que busca expor as maiores contradições do imperialismo e do pensamento liberal, adotou-se como escolha metodológica as perspectivas marxistas.
A concepção liberal não enxerga o imperialismo como parte integrante do capitalismo. Os pensadores liberais compreendem a intervenção estatal como parte nociva ao funcionamento da economia. A economia de mercado liberal seria, em suma, auto-reguladora – equilibrada de acordo com a balança da oferta e procura. 
Entretanto, como apontou Karl Marx, o capitalismo possui em seu sistema uma contradição fundamental: há a presença de uma tendência, e de um objetivo, diametralmente opostos entre si. O objetivo do capitalismo seria acelerar a acumulação por meio de maior produtividade. No entanto, a tendência seria de que, com investimentos necessários em tecnologia e máquinas – com o objetivo de diminuição do tempo de produção para obter maior lucratividade – a burguesia deixaria de ser consumidora em tal lógica de mercado, para além dos trabalhadores que muitas vezes acabariam por ficar desempregados, uma vez substituídos pelas máquinas. 
 Em outros termos, o avanço tecnológico empregado na produção traria uma baixa nos salários, tornando restrito o acesso das massas ao consumo e, portanto, a taxa de lucro estaria sempre diminuindo. Dentro dessa lógica de concorrência, o imperialismo se torna inevitável, ao passo que, a busca por novos mercados se torna vital para a continuidade do sistema capitalista, uma vez que o mercado interno não seria capaz de suprir as ofertas dos detentores dos meios de produção.
 O capitalismo tem por característica o fato de ser um sistema altamente flexível, que se adapta frente as dificuldade, buscando sempre, ser ele, o modelo hegemônico de produção. Sendo assim, para lidar com as crises do final do século XIX que pairavam sob a Europa, foi o imperialismo, mesmo com grande parte das suas características ligadas às tendências monopolistas, a alternativa para socorrer o sistema capitalista do colapso.
Hilferding (1910) percebeu, a partir da formação e afirmação dos cartéis e trustes, a particularidade do capitalismo do início do século XX que detinha como principal característica a tendência a monopolizar o mercado. Passa, então, a formular suas teses sobre o imperialismo e o capital financeiro. Hilferding observou, ao tentar definir o conceito de imperialismo, como a hegemonia inglesa e seu demasiado movimento de expansão originavam-se da lógica do capital financeiro. 
 A partir da análise de Hilferding, outros teóricos marxistas começaram então a desenvolver suas teses acerca da natureza do imperialismo. Os principais teóricos marxistas, e os que mais contribuíram para a teoria marxista clássica, foram, para além de Hilferding, Lênin, Bukharin e Kautski. 
 Para eles, o surgimento do capital financeiro seria o responsável direto para o surgimento do imperialismo, já que esse processo resulta na diminuição da concorrência no mercado interno e o combinado aumento de preços. Por conseguinte, a concorrência se voltaria para o mercado mundial. Mesmo sendo Hilferding o precursor do termo “capitalismo financeiro”, o autor de maior referência da teoria clássica marxista, no entanto, foi Lênin. Sendo o último a tratar dessa questão, sintetizou as ideias dos teóricos anteriores.
 Em sua obra Imperialismo: fase superior do capitalismo, Lênin argumentou que esta seria a última fase do capitalismo, uma vez que seria neste momento que todas as contradições do sistema capitalista estariam em maior evidência –fornecendo, então, os requisitos materiais para a transformação revolucionária da sociedade capitalista. Bukharin (1988) apontou, também, o imperialismo como fase superior capitalista ao afirmar que, “o capitalismo criara as bases sobre as quais ele seria superado”.
Ao tratar o imperialismo como a fase superior do capitalismo, Lênin o aponta como uma fase de transição, dando, posteriormente, possibilidade ao socialismo. Nesse sentido, o imperialismo estaria prestes a se decompor. Entretanto, não foi o que aconteceu. Após a sobrevivência do modelo capitalista às duas guerras mundiais, e sua consolidação ideológica com a queda do muro de Berlim, as análises marxistas, em especial as de Lênin, passaram, então, a cair em descrédito. 
As teorias marxistas acerca do imperialismo, no entanto, apresentam limitações. Apesar de suas grandes contribuições acerca das contradições do capitalismo, as mesmas subestimaram a capacidade de renovação do sistema. Foram capazes de avaliar as lacunas entre teoria liberal e a práxis do capital – vazio este onde encontra o cerne da lógica e sua possível destruição. No entanto, necessitam de revisões. A história contemporânea elucidou a força capitalista: a redefinição do imperialismo sob a ótica neoliberal. A perspectiva marxista reformulada se faz, então, necessária. O desenvolvimento do imperialismo exige que as análises o acompanhem para então, ser possível, combatê-las. 
 5. Conclusão
O Imperialismo pode ser compreendido como um fenômeno insurgente no final do século XIX, mas que se renova, constantemente, na atualidade. Isto porque, em suma, faz parte do desenvolvimento capitalista – sendo parte integrante e intrínseca do mesmo. Apesar das diversas análises – advindas das diferentes correntes teóricas – sobre o imperialismo, nenhuma foi capaz de negá-la. No entanto, sua origem a partir das diferentes perspectivas é apontada em diferentes direções. 
Para a teoria liberal, o Imperialismo seria fruto do controle estatal e da aristocracia que não se integra à lógica de mercado. Os keynesianos, por sua vez, acreditam na dinâmica imperialista enquanto ação deliberada dos Estados em uma disputa econômica a nível global. Os marxistas, apesar da divergência acerca da espontaneidade ou não do movimento, compreendem o Imperialismo como fase superior e mais aguda da contradição inerente do capital. 
A imposição capitalista, e consequentemente imperialista, trouxe a contemporaneidade sua contradição raiz. A análise se faz, portanto, necessária. O movimento de renovação do imperialismo demonstra a ineficiência do liberalismo em explicar o mesmo. O keynesianismo também não conseguiu prever tal situação limite. A visão marxista, desta maneira, aproximou-se mais da questão. Previu o Imperialismo como parte inerente do movimento capitalista. Não resolveu, no entanto, uma questão: a alta capacidade de renovamento.

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