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Penal I Resumo AV1/AV2

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Vingança Privada- ato de guerra entre tribos e não uma pena. Entre os membros do grupo a pena era a expulsão, e essa pena equivalia à pena de morte, pois dificilmente o indivíduo conseguiria sobreviver fora dos domínios de proteção e cooperação de seu clã. Podendo até completa dizimação de grupos inteiros.
Lei do Talião- ou Pena de Talião, consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena, apropriadamente chamada retaliação. Esta lei é frequentemente expressa pela máxima olho por olho, dente por dente. É a lei, registrada de forma escrita, mais antiga da história da humanidade.
Idade Média e a Moderna- direito visava a proteção do príncipe e da religião. Suas práticas eram baseadas no arbítrio e na crueldade, era instrumento para que a nobreza e o clero permanecessem no poder político e econômico.
Justiça estatal era marcada pela influência religiosa, pela arbitrariedade dos processos e pela crueldade das penas.
Período Humanitário- a partir de tais excessos criaram na consciência comum a exigência da imediata reforma das leis penais, iniciando tal período.
Beccaria propunha um direito baseado no respeito à personalidade humana. Ele defendia a elaboração de leis claras e precisas, penas proporcionais e o fim da pena de morte e da tortura.
Livro V das Ordenações Filipinas era o “código penal” vigente no Brasil no tempo colonial. O mesmo atribua penas extremamente violentas e desumanas. 
Em 1890 foi promulgado o Código Penal.
Direito visa garantir condições indispensáveis à coexistência pacífica. 
O fato que contraria a norma legal, ofendendo ou pondo em perigo um bem jurídico tutelado, é um ilícito jurídico e poderá ter consequências em vários ramos do Direito.
O controle social pode ser formal e informal. 
O informal é aquele aplicado pela família, escola, igreja, partido político, opinião pública, vizinhos, clube.
O Direito Penal constitui uma das espécies do sistema de controle social formal. Possui regras e princípios especiais, devendo ser utilizado apenas como ultima ratio, ou seja, para os casos de ofensas graves aos bens jurídicos fundamentais, os mais sensíveis à sociedade.
ultima ratio: expressão latina que significa “último recurso”. 
pena criminal: é a sanção imposta a quem comete os crimes previstos em nosso ordenamento jurídico. São elas: privativas de liberdade (reclusão e detenção), restritivas de direito (ex.: prestação pecuniária, limitação de fi m de semana, prestação de serviços à comunidade) e multa. 
medida de segurança: é a sanção imposta aos inimputáveis (art. 26 do CP). As medidas de segurança são de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou de sujeição a tratamento ambulatorial. 
Direito penal é o ramo do direito público que se encarrega de selecionar condutas atentatórias aos mais importantes bens jurídicos , justamente aqueles considerados essenciais para a vida em sociedade , sancionando-as com uma pena criminal ou medida de segurança. Tem por função primordial servir como modelo orientador de condutas adequadas, promovendo o normal funcionamento da vida em sociedade.
As fontes do direito subdividem-se em:
fontes materiais: indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penais (CF, art. 22, I).
fontes formais: se subdividem em imediatas e mediatas.
Somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal, porquanto não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º)
Fontes secundárias ou mediatas são os costumes (“conjunto de normas de comportamento a que pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade” — Damásio de Jesus, Direito penal: parte geral, v. 1, p. 27) e os princípios gerais de direito (“premissas éticas que são extraídas, mediante indução, do material legislativo” — idem, p. 29).
analogia é uma forma de suprimento (preenchimento) de lacunas (brechas) legislativas. Consiste em aplicar a um caso não contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado.
-Para utilizá-la, portanto, é preciso que se verifiquem dois pressupostos: 
1º) existência de uma lacuna na lei;
2º) encontro no ordenamento jurídico de uma solução legal semelhante.
Em direito penal somente se admite a analogia in bonam partem, ou seja, aquela utilizada em benefício do sujeito ativo da infração penal.
Há duas espécies de analogia: 
1ª) analogia “legis”: dá-se com a aplicação de uma norma existente a um caso semelhante; 
2ª) analogia “juris”: ocorre quando se baseia num conjunto de normas, visando retirar elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso concreto não previsto 
 ex. trata-se do encontro e aplicação de princípios gerais do direito.
O direito penal pertence ao direito público, pois seu objeto refere-se primordialmente às relações do Estado com particulares em razão de seu poder soberano, atuando na tutela do bem-estar coletivo.
É possível dividir o direito penal em objetivo e subjetivo:
objetivo: consiste no próprio ordenamento jurídico-penal, isto é, no conjunto de normas jurídicas que perfazem o sistema penal. 
Subjetivo: também chamado de jus puniendi estatal, corresponde ao direito de punir do Estado. 
Princípios Constitucionais: possuem a função de orientar, organizar e estruturar o ordenamento jurídico, especialmente quanto a aplicação do direito e interpretação da norma jurídica.
Princípio da dignidade da pessoa humana. Trata-se do mais importante dos princípios penais e constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III). Proíbe a incriminação de comportamentos socialmente inofensivos, isto é, que não provoquem dano efetivo ou lesão ao corpo social (ex.: incriminar o ato de manifestar publicamente admiração por pessoas queridas). Impede, ademais, que a aplicação das normas penais ocorra de maneira totalmente divorciada da realidade.
 Princípio da legalidade. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º). 
 Princípio da anterioridade da lei penal. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (CF, art. 5º, XL, e CP, art. 2º). 
Princípio do ne bis in idem. Ninguém pode ser condenado pelo mesmo fato mais de uma vez; além disso, uma única e determinada circunstância fática não pode ser utilizada mais de uma vez, seja para agravar, seja para beneficiar o agente.
Princípio da insignificância ou da bagatela.- a finalidade do Direito Penal consiste na proteção subsidiária de bens jurídicos. Logo, comportamentos que produzam lesões insignificantes aos objetos jurídicos tutelados pela norma penal devem ser considerados penalmente irrelevantes. A aplicação do princípio produz fatos penalmente atípicos.
STF avalia ou cada juiz, delegado sob o determinado caso, porem STF é a ordem máxima. 
Critérios para aplicação: 
(i) a mínima ofensividade da conduta do agente
(ii) a nenhuma periculosidade social da ação
(iii) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento 
(iv) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Princípio da alteridade ou da transcendentalidade. Proíbe a incriminação de atitude meramente subjetiva, que não ofenda bem jurídico alheio. A ação ou omissão puramente pecaminosa ou imoral não apresenta a necessária lesividade que legitima a intervenção do direito penal. Por conta desse princípio, não se pune a autolesão, salvo quando se projeta a prejudicar terceiros, como no art. 171, § 2º, V, do CP (autolesão para fraudar seguro); a tentativa de suicídio (CP somente pune a participação no suicídio alheio — art. 122); o uso pretérito de droga (o porte é punido porque, enquanto o agente detém a droga, coloca em risco a incolumidade pública).
Princípio da ofensividade. Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado. Daí resulta sereminconstitucionais os crimes de perigo abstrato (ou presumido), nos quais o tipo penal descreve determinada conduta sem exigir ameaça concreta ao bem jurídico tutelado.
Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos (ou princípio do fato). decorre que o direito penal não pode tutelar valores meramente morais, religiosos, ideológicos ou éticos, mas somente atos atentatórios a bens jurídicos fundamentais e reconhecidos na Constituição Federal.
Princípio da intervenção mínima. somente será usado em situações extremas como a última saída (ultima ratio).
Princípio da fragmentariedade. estabelecendo que as normas penais somente se devem ocupar de punir uma pequena parcela, um pequeno fragmento dos atos ilícitos, justamente aquelas condutas que violem de forma mais grave os bens jurídicos mais importantes. Princípio da adequação social. O fato o deixará de ser típico quando aceito socialmente. Tal princípio não tem merecido acolhida da maioria da jurisprudência, uma vez que sua aceitação implicaria a conclusão de que os costumes teriam força para revogar lei penal, o que é inadmissível em face do art. 22, I, da CF, e art. 2º, § 1º, da LINDB.
Princípio da humanidade. As normas penais devem sempre dispensar tratamento humanizado aos sujeitos ativos de infrações penais, vedando-se a tortura, o tratamento desumano ou degradante (CF, art. 5º, III), penas de morte, de caráter perpétuo, cruéis, de banimento ou de trabalhos forçados (CF, art. 5º, XLVII).
Princípio da proporcionalidade. Quando a criação do tipo penal não se revelar proveitosa para a sociedade, estará ferido o princípio da proporcionalidade, devendo a descrição legal ser expurgada de nosso ordenamento jurídico por vício de inconstitucionalidade. Além disso, a pena, isto é, a resposta punitiva estatal ao crime, deve guardar proporção com o mal infl igido ao corpo social. 
Princípio da autorresponsabilidade ou das ações a próprio risco. Aquele que, de modo livre e consciente, e sendo inteiramente responsável por seus atos, realiza comportamentos perigosos e produz resultados lesivos a si mesmo arcará totalmente com seu comportamento, não se admitindo nenhum tipo de imputação a pessoas que o tenham eventualmente motivado a praticar tais condutas perigosas .
 ex.: o agente que incentiva desafeto a praticar “esportes radicais” não responde pelos acidentes sofridos pela vítima, que optou por fazê-lo livremente.
 Princípio da confiança. Uma pessoa não pode ser punida quando, agindo corretamente e na confiança de que o outro também assim se comportará, dá causa a um resultado não desejado.
Princípio do estado de inocência ou presunção de não culpabilidade. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. (CF, art. 5º, LVII).
Princípio da culpabilidade. decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e da presunção de não culpabilidade (CF, art. 5º, LVII), exsurge esse princípio, segundo o qual: 
a) não se admite responsabilidade penal objetiva, ou seja, desprovida de dolo ou culpa (v. art. 19 do CP) ou carente de culpabilidade (v. arts. 21 a 28 do CP); 
b) a pena há de ser dosada segundo o grau de reprovabilidade da conduta do agente.
Teoria da Norma Jurídica Penal
Possui três características: 
Imperatividade: impõe-se a todos independentemente de sua vontade ou concordância.
Exclusividade: somente a ela cabe a tarefa de definir infrações penais.
Generalidade: incide sobre todos, generalizadamente. 
Impessoalidade: projeta-se a fatos futuros, sem indicar a punição a pessoas determinadas. 
Lei penal- designa o enunciado legislativo, o fato descrito e a pena a ele cominada. 
ex: no crime de homicídio na forma simples — art. 121, caput, do CP — a lei penal é: “Matar alguém. Pena — reclusão, de seis a vinte anos”. 
Norma penal- refere-se ao comando normativo implícito na lei, isto é, a norma de conduta imposta a todos.
ex: no caso do homicídio simples: “não matarás”.
Classificação de Normas Penais
Incriminadora: compreende todos os dispositivos penais que descrevem condutas e lhes cominam uma pena. Compõe-se do preceito ou preceito primário — descrição da conduta proibida — e da sanção ou preceito secundário — quantidade e qualidade da(s) pena(s) aplicável(eis). Seu comando normativo pode ser proibitivo ou mandamental. Nos crimes comissivos, a lei penal descreve e pune uma ação esperando que todos se abstenham de praticá-la; trata-se de uma norma proibitiva, ou seja, a ação prevista em lei é proibida, sob ameaça de pena. Nos crimes omissivos, a lei penal descreve uma omissão (um não fazer), porque espera de todos, naquela determinada situação, um comportamento ativo; trata-se de uma norma mandamental. 
ex: a lei penal manda agir, sob pena de, omitindo-se, receber uma pena.
Não incriminadora: subdivide-se em explicativa ou complementar, quando fornece parâmetros para a aplicação de outras normas, ex: o conceito de funcionário público para fins penais do art. 327 do CP. E permissiva quando aumenta o âmbito de licitude da conduta, e a contrario sensu, restringe o direito de punir do Estado
Norma Penal em branco: é a lei cujo preceito primário é incompleto, embora o preceito secundário seja determinado. Tal lei tem de ser completada por outra, já existente ou futura, da mesma hierarquia ou de hierarquia inferior. 
Exemplo: Lei n. 11.343/2006. São leis penais em branco uma vez que punem condutas relacionadas com drogas ilícitas sem descrever quais seriam essas substâncias; o art. 237 do CP pune a conduta daquele que contrai casamento tendo ciência da existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta, sendo que tais nulidades não são definidas pelo CP, mas constam do Código Civil
- É possível classificar a norma penal em branco em sentido lato ou homogênea e em sentido estrito ou heterogênea.
- Lei penal em branco homogênea: aquela cujo complemento se encontra descrito numa fonte formal da mesma hierarquia da norma incriminadora, quando o complemento também está previsto numa lei ordinária (ou outra espécie normativa equivalente). 
Exemplo: art. 237 do CP (“Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta”), cujo complemento se encontra no Código Civil, o qual enumera as causas de nulidade do matrimônio nos arts. 1.521, 1.517, 1.523 e 1.550.
- Sentido estrito ou heterogênea: é aquela cujo complemento está descrito em fonte formal distinta daquela do tipo penal incriminador. 
Exemplo: Lei n. 11.343/2006, art. 33 (tráfico ilícito de drogas), que não indica quais são as “drogas ilícitas”, delegando tal função a normas administrativas (portarias da ANVISA); com efeito, o art. 1º, parágrafo único, desta Lei dispõe que: “... consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.
Conflito Aparente de Normas
Um mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos penais, sob pena de afronta ao princípio do non bis in idem. Só haverá conflito aparente de normas se houver um só fato ao qual aparentemente se apliquem várias normas penais incriminadoras, todas vigentes. Na hipótese de serem vários os fatos, ter-se a concurso de crimes (arts. 69 a 71 do CP). Além disso, todos os dispositivos penais aparentemente aplicáveis devem estar simultaneamente em vigor, caso contrário surgirá um conflito de leis penais no tempo.
-Havendo conflito aparente de normas cabe ao interprete usar os princípios: 
Princípio da especialidade (lex specialis derogat generalis):usa-se para quando existir entre as duas normas aparentemente incidentes sobre o mesmo fato, uma relação de gênero e espécie. 
- Será especial e portanto, prevalecerá a norma que contiver todos os elementos de outra (a geral), além de mais alguns de natureza subjetiva ou objetiva, considerados especializantes. Toda a ação que realiza o tipo do delito especial realiza também necessariamente, e ao mesmo tempo,o tipo do geral, enquanto que o inverso não é verdadeiro. 
 ex: Se a mãe mata o filho durante o parto, sob a influência do estado puerperal, incorre, aparentemente, nos arts. 121 (homicídio) e 123 (infanticídio). No primeiro, porque matou uma pessoa; no segundo, porque essa pessoa era seu filho e a morte se deu no momento do parto, influenciada pelo estado puerperal. O infanticídio contém todas as elementares do homicídio (“matar” + “alguém”), além de outras especializantes (“o próprio filho” + “durante o parto ou logo após” + “sob a influência do estado puerperal”), o que o torna especial em relação a esse. Percebe-se, então, que toda ação que realiza o tipo do infanticídio realiza o do homicídio, mas nem toda ação que se subsume ao homicídio tem enquadramento no tipo do infanticídio.
- Esse conflito se resolve abstratamente, basta a comparação entre as duas normas, em tese, para saber qual delas é a especial e, por via de consequência, a aplicável. 
-Na relação de especialidade é indiferente se a norma especial é mais ou menos grave. Acrescente-se que a relação de especialidade se dá entre tipos fundamentais e secundários ex.: roubo simples — art. 157, caput, e roubo agravado — art. 157, § 2º.
Princípio da subsidiariedade (lex primaria derogat legi subsidiariae): pressupõe que haja entre as normas aparentemente aplicáveis uma relação de conteúdo a continente. Há uma norma mais ampla (norma primária), porque descreve um grau maior de violação ao bem jurídico, e uma norma menos ampla (norma subsidiária), pois descreve um grau inferior de violação a esse mesmo bem. 
- os fatos previstos em uma e outra norma não estão em relação de espécie e gênero, e se a pena do tipo principal (sempre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa, a pena do tipo subsidiário pode apresentar-se como ‘soldado de reserva’ e aplicar-se pelo residuum (Comentários ao Código Penal, v. 1, t. 1, arts. 1º a 10, p. 147).
- A norma aplicável será sempre a que previr o maior grau de violação (lei primária). Assim, por exemplo, o crime de estupro (art. 213 do CP) contém o de constrangimento ilegal (art. 146 do CP). Se alguém constrange mulher à conjunção carnal, haverá estupro.
- Há duas espécies de subsidiariedade: 
1ª) expressa: se a norma expressamente declarar que só terá aplicação “se o fato não constituir crime mais grave” (a norma se autoproclama “soldado de reserva”) — ex.: art. 132 do CP.
2ª) tácita: verifica-se quando o crime definido por uma norma é elemento ou circunstância legal de outro crime — ex.: art. 304 do CTB (omissão de socorro em acidente de trânsito) em relação ao homicídio culposo na direção de veículo automotor, qualificado pela omissão de socorro (art. 302 c/c o art. 303, parágrafo único, do CTB).
Princípio da consunção ou da absorção (lex consumens derogat legi consumptae): Ocorre a relação consuntiva, ou de absorção, quando um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime. Os fatos não se apresentam em relação de espécie e gênero, mas de minus a plus, de conteúdo a continente, de parte a todo, de meio a fim, de fração a meio. 
- A consunção se dá: 
a) quando as disposições se relacionam de imperfeição a perfeição (atos preparatórios puníveis, tentativa — consumação).
b) de auxílio a conduta direta (partícipe — autor).
c) de minus a plus (crimes progressivos)
d) de meio a fim (crimes complexos)
e) de parte a todo (consunção de fatos anteriores e posteriores) — antefato e post factum impuníveis. 
Nela ocorre a progressão criminosa, que pode ser:
Progressão criminosa em sentido estrito: o agente inicia o iter criminis com o objetivo de provocar determinada lesão a um bem jurídico; após conseguir seu intento, muda de ideia e busca provocar um grau maior de violação ao mesmo bem jurídico. 
Ex: o sujeito pretendia lesionar seu desafeto, mas, em meio aos socos e pontapés, decide tirar-lhe a vida e leva-o a óbito. Só responde pelo homicídio, ficando as lesões corporais por ele consumidas. 
Antefactum impunível: quando um fato anterior menos grave é praticado como meio necessário para a realização de outro.
Ex: o porte de arma em relação ao homicídio cometido com tal instrumento; o crime de falsidade exclusivamente utilizado com o fim de cometer estelionato, nos termos da Súmula 17 do STJ.
Post factum impunível: quando o agente, após praticar o fato, provoca nova violação ao mesmo bem jurídico, pertencente ao mesmo sujeito passivo.
Ex: furto e posterior danificação ou venda do objeto.
Princípio da alternatividade: tem lugar nas infrações penais de ação múltipla ou conteúdo variado, que são aqueles tipos penais que possuem diversos núcleos (verbos), separados pela conjunção alternativa “ou”. 
- Quando alguém pratica mais de um verbo do mesmo tipo penal, num mesmo contexto fático, só responde por um crime, e não pelo mesmo crime mais de uma vez. 
Exemplos: a) aquele que expõe à venda e, em seguida, vende substância entorpecente pratica um só crime de tráfico ilícito de entorpecentes (Lei n. 11.343/2006, art. 33)
b) quem induz e instiga outrem a se suicidar, vindo a vítima a falecer, incorre uma só vez no delito de auxílio ao suicídio (art. 122 do CP). Entretanto, que em tais casos o juiz deve considerar a incursão em mais de uma ação nuclear na dosagem da pena, de modo a exacerbar a sanção imposta ao agente.
Conflito de Leis Penais no Tempo
Quando várias leis penais que tratam do mesmo assunto de modo distinto se sucedem no tempo, deve o intérprete definir qual delas será aplicada ao fato. A regra é que a lei que deve ser aplicada é a vigente ao tempo da prática do fato criminoso, de acordo com o princípio do tempus regit actum. Contudo, existem exceções e elas se dividem em retroatividade (aplicação da lei a fatos cometidos antes da sua vigência quando for mais benéfica) e ultra-atividade (a lei penal revogada pode ser aplicada após sua revogação, quando o ilícito praticado durante a sua vigência for sucedido por lei mais severa).
- A lei penal mais benéfica retroage para atingir os fatos passados (retroatividade) e a lei revogada será aplicada aos fatos cometidos durante a sua vigência mesmo quando não estiver mais em vigor e a conduta for regulamentada por lei mais severa (ultra-atividade).
 
Leis Excepcionais e Leis Temporárias
Com base no art 3° do CP, a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
Lei Excepcional: lei elaborada para incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais, como situações de crise social, econômica, guerra, calamidades etc.
Lei Temporária: aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período de tempo. 
Tempo do Crime
Considera-se praticado o crime ao tempo da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado. O CP adotou a Teoria da Atividade, art. 4°, por isso tal afirmativa.
-A partir de tal artigo retirasse tais funções:
a) Delimitação da responsabilidade penal: com base na regra do art. 4º do CP torna-se possível delimitar o exato momento em que o agente passará a responder criminalmente por seus atos. Isso se dará somente se a ação ou omissão houver sido praticada quando ele já tiver completado 18 anos de idade (o que ocorre no primeiro minuto de seu 18º aniversário). 
b) Delimitação da lei penal aplicável: nos crimes materiais ou de resultado, a conduta pode ocorrer num momento, e o resultado, depois.
 Exemplo: o agente, pretendendo matar seu desafeto, arquiteta uma emboscada e, colhendo-o de surpresa, descarrega os projéteis do tambor do revólver, atingindo gravemente a vítima, a qual passa dois meses internada em hospital, vindo a falecer (consumando o crime de homicídio qualificado).Imagine que o ofendido tenha sido hospitalizado durante a entrada em vigor da Lei n. 8.930/94 (que transformou o crime de homicídio qualificado em hediondo). Seria, então, de perguntar: o agente responderá pelo homicídio qualificado como crime hediondo ou não? Observe que no momento da ação (disparos) o delito não era hediondo, mas ao tempo do resultado (morte), sim. Qual a solução? Por força do art. 4º do CP, deve-se considerar o momento da conduta; logo, o agente não terá de sofrer os efeitos penais gravosos da Lei n. 8.072/90 com a alteração da Lei n. 8.930/94 (crimes hediondos).
Crime continuado: O agente pratica dois fatos quando menor de 18 anos e um terceiro quando maior, todos em continuidade delitiva. Aos dois primeiros fatos aplicar-se-á o Estatuto da Criança e do Adolescente, e ao último, o CP.
Lei Penal no Espaço
Definiu-se no art. 6º o lugar do crime, adotando a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual o crime se considera praticado tanto no lugar da conduta quanto naquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. A preocupação do legislador foi estabelecer quais crimes podem ser considerados como ocorridos no Brasil e, por via de consequência, a quais delitos se aplica a lei penal brasileira. 
- A regra em estudo só terá relevância nos chamados crimes a distância ou de espaço, que são aqueles cuja execução se inicia no território de um país e a consumação se dá ou deveria dar-se em outro. Imagine a hipótese de um agente iniciar a execução de um crime na Argentina, visando produzir o resultado no Brasil, ou o inverso. Em ambos os casos, os delitos serão considerados como ocorridos em território nacional, de modo que a lei penal brasileira a eles se aplicaria. Como dizia Hungria, basta que o crime tenha “tocado” o território nacional para que nossa lei seja aplicável.
Foro competente: se tratando de determinação de competência territorial, foro competente, deve-se observar a regra do art. 70 do CPP, que considera competente o foro do local em que o crime se consumou, ou no caso de tentativa, o do local em que se deu o último ato executório.
Territorialidade da lei penal: dá-se o fenômeno da territorialidade quando a lei penal se aplica ao fato cometido dentro do território nacional. Conforme o art. 5º do CP, a lei penal brasileira aplica-se em todo o território nacional, ressalvado o disposto em tratados, convenções ou regras de direito internacional. Trata-se do princípio da territorialidade temperada ou mitigada. 
- Por território, no sentido jurídico, deve-se compreender todo o espaço em que o Brasil exerce sua soberania, que abrange: 
a) os limites compreendidos pelas fronteiras nacionais.
b) o mar territorial brasileiro (faixa que compreende o espaço de 12 milhas contadas da faixa litorânea média — art. 1º da Lei n. 8.617/93).
c) todo o espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e ao mar territorial nacional (princípio da absoluta soberania do país subjacente — Código Brasileiro de Aeronáutica, art. 11, e Lei n. 8.617/93, art. 2º).
d) as aeronaves e embarcações: — brasileiras privadas, em qualquer lugar que se encontrem, salvo em mar territorial estrangeiro ou sobrevoando território estrangeiro; — brasileiras públicas, onde quer que se encontrem; — estrangeiras privadas, no mar territorial brasileiro.
- Há crimes que, embora praticados dentro do território nacional, não se sujeitam à lei brasileira, em função de ressalvas previstas em tratados ou convenções internacionais: isso se dá nos casos de imunidade diplomática. 
- A embaixada de um país no Brasil não é considerada território estrangeiro, de modo que, se um crime ali for praticado, a ele será aplicável a nossa lei, a não ser que ocorra um caso de imunidade diplomática.
Extraterritorialidade da lei penal: é o fenômeno pelo qual a lei penal brasileira se aplica a fatos ocorridos fora do território nacional. 
-Subdivide-se em extraterritorialidade condicionada ou incondicionada. Nesta, a lei brasileira aplicar-se-á ao crime praticado no exterior, independentemente do preenchimento de qualquer requisito ou condição (art. 7º, I e § 1º). Naquela, o fenômeno depende da conjugação de uma série de fatores (art. 7º, II e §§ 2º e 3º).
- Fala-se em extraterritorialidade incondicionada nas seguintes hipóteses:
a) crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República.
b) crime contra o patrimônio ou contra a fé pública da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios ou dos Territórios, ou suas autarquias, das empresas públicas, das sociedades de economia mista ou das fundações instituídas pelo Poder Público. 
c) crime contra a administração pública brasileira por quem está a seu serviço.
d) crime de genocídio, se o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
- A extraterritorialidade condicionada ocorre em relação às seguintes infrações: 
a) crimes previstos em tratado ou convenção internacional que o Brasil se obrigou a reprimir; b) crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro, fora do nosso território (se não foi pedida ou se foi negada a extradição e se houve requisição do Ministro da Justiça).
c) crimes praticados por brasileiro.
d) crimes praticados a bordo de navio ou aeronave brasileiros privados, quando praticados no exterior e ali não forem julgados.
- Princípios dos quais o legislador irá utilizar para os casos em que a lei de um país deve ser aplicada a fatos que se deram no estrangeiro:
a) Princípio da justiça penal universal ou cosmopolita: hipóteses em que a gravidade do crime ou a importância do bem jurídico violado justificam a punição do fato, independentemente do local em que praticado e da nacionalidade do agente. Foi adotado nas letras d da extraterritorialidade incondicionada e a, da condicionada. 
b) Princípio real, da proteção ou da defesa: justifica a aplicação da lei penal brasileira sempre que no exterior se der a ofensa a um bem jurídico nacional de origem pública. Foi adotado nas letras a até c da extraterritorialidade incondicionada. 
c) Princípio da personalidade ou nacionalidade ativa: como cada país tem interesse em punir seus nacionais, a lei pátria se aplica aos brasileiros, em qualquer lugar que o crime tenha sido praticado. Foi adotado na letra b da extraterritorialidade condicionada. 
d) Princípio da personalidade ou nacionalidade passiva: se a vítima for brasileira, nosso país terá interesse em punir o autor do crime. Foi adotado na letra b da extraterritorialidade condicionada (v. CP, art. 7º). 
Obs.: ao contrário do que sustentam alguns autores, esse princípio não se confunde com o princípio da proteção, que se refere a bens públicos, o que não ocorre aqui.
e) Princípio da representação ou da bandeira: a lei brasileira se aplica às embarcações ou aeronaves que carreguem nossa bandeira. Foi adotado na letra d da extraterritorialidade condicionada.
Condições aplicáveis aos casos de extraterritorialidade condicionada:
a) entrada do agente no território nacional (condição de procedibilidade).
b) ser o fato punível também no país em que cometido.
c) estar o crime entre aqueles a que a lei brasileira admite a extradição.
d) não ter sido o agente absolvido ou não ter cumprido pena no estrangeiro.
e) não ter sido perdoado e não se tiver extinguido sua punibilidade, segundo a lei mais favorável (condições objetivas de punibilidade).
Extraterritorialidade na Lei de Tortura: A Lei n. 9.455, de 1997, tipifica o delito de tortura constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.
c) em razão de discriminação racial ou religiosa.
-Estabelece que seus dispositivos se aplicam ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira (art. 2º). Cuida-se, portanto, de situação de extraterritorialidade prevista em lei especial.Princípio do non bis in idem: nas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada é possível, em tese, que o agente responda por dois processos pelo mesmo fato, um no exterior, outro no Brasil, sobrevindo duas condenações. Se isso ocorrer, aplicar-se o art. 8º, que se funda no princípio do non bis in idem, o qual proíbe seja alguém condenado duas vezes pelo mesmo fato. Sendo assim, a pena cumprida no estrangeiro: a) atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas; ou b) nela é computada, quando idênticas (detração).
Teoria do delito
Conceito de Crime 
Apresentam uma série de conceitos, ora enfatizando o aspecto puramente legislativo (conceitos formais), ora procurando investigar a essência do instituto (conceitos materiais), ora verificando os elementos constitutivos do crime (conceitos analíticos). Tradicionalmente, os conceitos analíticos têm sido o foco central da preocupação dos juristas brasileiros.
- Conceito material e formal: do ponto de vista material, crime pode ser definido como toda ação ou omissão consciente, voluntária e dirigida a uma finalidade que cria um risco juridicamente proibido e relevante a bens considerados essenciais para a paz e o convívio em sociedade. Formalmente, crime é a conduta proibida por lei, com ameaça de pena criminal (prisão, pena alternativa ou multa).
- Conceito analítico: sob o pretexto de investigar quais os elementos constitutivos do crime, duas grandes teorias despontam no Brasil. 
-a primeira defendendo que crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável (teoria tripartida);
- outra sustentando ser tal ilícito o fato típico e antijurídico (ou ilícito) (teoria bipartida). 
- A punibilidade não pode ser considerada elemento do crime, já que lhe é algo exterior.
- Por punibilidade entende-se a possibilidade jurídica de aplicação da sanção penal. É possível, diante disso, que um crime tenha ocorrido mas por fatores alheios à conduta delitiva, não se possa aplicar a correspondente sanção. Assim, se um crime foi cometido há muito tempo, provavelmente o seu responsável não mais possa ser punido porque o fato terá sido atingido pela prescrição (causa extintiva da punibilidade — art. 107, IV, do CP).
-O crime entretanto subsiste apesar da extinção da punibilidade.
Exemplo: A mata B em 1980, mas a autoria desse delito só vem a ser descoberta em 2005. 
O homicídio prescreve em 20 anos (CP, art. 109, I); logo, essa descoberta tardia impedirá a punição do culpado (A). 
A prescrição impede a aplicação da pena, na medida em que extingue a punibilidade, mas não apaga o crime, que inegavelmente ocorreu. Ou será possível afirmar que, com a prescrição, o homicídio deixou de existir, ressuscitando a vítima.
Sistemas Penais e os elementos constitutivos de crime
Sistema penal indica um conjunto de teorias intrinsecamente relacionadas, desenvolvidas durante determinado período da evolução da dogmática penal. 
-Atualmente, apontam-se os seguintes sistemas penais: 
a) sistema clássico (ou sistema “Liszt/Beling/Radbruch”), que remonta ao início do século XX; b) sistema neoclássico (conhecido também como normativista. Corresponde ao anterior, acrescido da teoria de Reinhard Frank), surgido em 1907; 
c) sistema finalista (ôntico-fenomenológico), difundido a partir da década de 1930; 
d) sistema funcionalista (teleológico-racional), que se divide em: funcionalismo sistêmico (Jakobs) e teleológico (Roxin), dentro dos quais se desenvolveu a (moderna) teoria da imputação objetiva.
Sistema Clássico (ou sistema “Liszt/Beling/Radbruch: Essa doutrina teve grande influência do positivismo científico, na medida em que buscava examinar o crime sob um enfoque puramente jurídico, desprovido de qualquer interferência de outras ciências, como a sociologia, a filosofia ou a psicologia. 
-Teve inúmeros avanços, um dos mais marcantes foi afastar de vez a responsabilidade penal objetiva, já que esses penalistas erigiram o dolo e a culpa a elementos essenciais do crime, sem os quais ele não existe.
- O sistema em questão resultou da conjugação de duas importantes teorias: 
1ª) teoria causal ou naturalista da ação: vê a ação como a inervação muscular, produzida por energias de um impulso cerebral, que provoca modificações no mundo exterior (von Liszt).
2ª) teoria psicológica da culpabilidade: entende que a culpabilidade é o vínculo psicológico que une o autor ao fato praticado, por meio do dolo ou da culpa.
- Os penalistas clássicos subdividiam o crime em dois aspectos: 
1º) aspecto objetivo: fato típico e antijuridicidade: O fato típico, para os clássicos, era composto de: ação; tipicidade, ou seja, adequação perfeita entre o fato humano e o modelo legal abstrato; resultado, visto como modificação causal no mundo exterior provocada pela conduta; e nexo de causalidade, vínculo que une a conduta ao resultado.
A ilicitude ou antijuridicidade era consequência inerente à tipicidade, todo fato típico presume-se ilícito; aquela, contudo, não ocorria quando o fato típico fosse cometido sob o amparo de alguma causa excludente de ilicitude-legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito-. Além disso, entendia-se que tais excludentes, por serem exclusivamente objetivas, dispensavam para sua constatação, a presença de elementos subjetivos, agia em legítima defesa mesmo aquele que desconhecesse totalmente a existência de uma agressão injusta contra si ou terceiro. 
 exemplo: A mata B por vingança, justamente no momento em que este se encontrava prestes a matar C, fato desconhecido pelo homicida A; embora objetivamente A tenha salvado a vida de C, não matou por ciência, mas por pura vingança; para os clássicos, A teria agido em legítima defesa de terceiro, porquanto é irrelevante para tais fins verificar sua intenção.
2º) aspecto subjetivo: culpabilidade: era vista como o vínculo psicológico que une o autor ao fato, por meio do dolo ou da culpa. Tinha como pressuposto a imputabilidade, entendida à época como capacidade de ser culpável, ou seja, de reunir maturidade intelectual suficiente para agir dolosa ou culposamente. Era a ligação subjetiva que justificava a punição do autor. A limitação da culpabilidade à constatação de dolo ou culpa deixava sem resposta inúmeras situações em que a pena não se justificava, apesar de o agente ter cometido o fato dolosa ou culposamente. 
 
Sistema Neoclássico (Frank/Mezger): a teoria desenvolvida por Frank resultou na compreensão de que a culpabilidade deveria ser composta por um novo elemento: a exigibilidade de conduta diversa, só age culpavelmente quem, na situação concreta, poderia ter-se comportado de outro modo. 
- Ao lado do novo elemento, havia outros dois conhecidos: dolo ou culpa e imputabilidade (antes vista como pressuposto da culpabilidade, passa agora a ser considerada seu elemento). – De acordo com a teoria de Frank, denominada “psicológico-normativa da culpabilidade” ou “normativa da culpabilidade”, uma das bases do sistema neoclássico, a culpabilidade tem os seguintes elementos: a) imputabilidade; b) dolo ou culpa; c) exigibilidade de conduta diversa.
- Resolve a questão do erro de proibição, o qual ocorre quando uma pessoa pratica um ato desconhecendo totalmente que a lei o proíbe. Por exemplo, quando alguém se apodera de um relógio perdido na rua acreditando ter o direito de se apropriar do bem, com base no dito popular “achado não é roubado”, desconhecendo que a lei pune esse ato, que configura o crime de apropriação de coisa achada — art. 169, parágrafo único, II, do CP. 
- Criaram o chamado “dolo híbrido ou normativo”. Que é o dolo que exige a presença de três elementos: consciência, vontade e consciência da ilicitude do comportamento. Assim, aquele que age sem ter consciência da ilicitude de sua conduta não age dolosamente. No exemplo acima, o agente seria absolvido por falta de dolo. Tal solução, todavia, não ficou isenta de questionamentos. 
 
Sistema Finalista (HansWelzel): passou a sustentar que o dolo e a culpa deveriam fazer parte do fato típico, e não da culpabilidade. 
- Hans notou que o dolo deve possuir apenas dois elementos: consciência e vontade (“dolo natural” ou “dolo neutro”). A consciência da ilicitude deve ser retirada do dolo e mantida na culpabilidade, mas não como consciência atual (individual), e sim como consciência potencial da ilicitude, como se explicará mais adiante.
- Dolo e culpa deslocaram-se para o fato típico, o que motivou o surgimento de um fato típico de crime doloso e outro de crime culposo.
- As ideias desse autor resultaram em duas novas teorias: teoria finalista da ação e teoria normativa pura da culpabilidade, os pilares do sistema finalista.
- Teoria finalista da ação: sustenta que a ação não é mero acontecer causal, mas sim um acontecer final. A finalidade está sempre presente porque o homem, graças ao seu saber causal (conhecedor das leis da causa e efeito), pode direcionar sua ação para a produção de um resultado querido. 
- Ação e finalidade são inseparáveis. A teoria causal, ao separar o dolo da ação, separa juridicamente o que é inseparável no mundo real. 
- Exemplo confirmando que o dolo está na ação e não na culpabilidade: o art. 124 do CP tipifica o crime de autoaborto. Trata-se de delito punido apenas na forma dolosa. Logo, se uma gestante ingere, acidentalmente, um comprimido, desconhecendo seu efeito abortivo, não responderá pelo crime. Pergunta-se, então, por quê? A resposta evidente é: porque o fato é atípico (a lei não pune o aborto culposo). Adotando-se o sistema clássico, entretanto, teríamos um fato típico e antijurídico, pois a falta de dolo, nesse sistema, não conduz à atipicidade do comportamento, mas leva à exclusão da culpabilidade. Na prática, significa que o Ministério Público, por esse sistema, mesmo após constatar com absoluta segurança que a mãe não agiu dolosamente, deveria denunciá-la pelo crime do art. 124 do CP, cabendo ao juiz (com base no art. 415 do CPP) ou ao Júri absolvê-la. Com o sistema finalista, entretanto, tal absurdo pode ser evitado. Quando o membro do MP conclui categoricamente que não houve dolo, tem diante de si um fato atípico, com base em que pode validamente postular o arquivamento do inquérito policial.
-Estrutura do crime no sistema finalista:
Fato Típico- através da teoria finalista, foi possível diferenciar um fato típico de crime doloso e outro de crime culposo, uma vez que o dolo e a culpa saíram da culpabilidade e se agregaram ao fato típico, ao lado da conduta, que pode ser dolosa ou culposa. 
 
Ilicitude- importância conferida à finalidade da conduta passou-se a sustentar que todas as causas excludentes de ilicitude possuem um elemento subjetivo, ao lado dos requisitos objetivos exigidos por lei. Assim, na legítima defesa, além da existência de uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, que se refute moderadamente com os meios necessários (CP, art. 25), é preciso que a pessoa aja com a intenção de defender-se ou de defender terceiro. 
Culpabilidade- com a retirada do dolo e da culpa da culpabilidade promoveu sua reestruturação, passando ela a conter os seguintes elementos: 
a) imputabilidade; 
b) exigibilidade de conduta diversa; 
c) potencial consciência da ilicitude. 
- Segundo a teoria de Welzel, todos os elementos da culpabilidade têm natureza normativa, porquanto implicam um juízo de valor (daí o nome teoria normativa pura da culpabilidade). 
- O elemento potencial consciência da ilicitude não constitui, propriamente, uma novidade. De fato, foi ele destacado do dolo, onde se encontrava até então. 
- No sistema neoclássico, o dolo compunha-se de consciência e vontade (elementos psicológicos), e consciência da ilicitude (elemento normativo) (“dolo híbrido ou normativo”).
- A partir do finalismo, passou a conter somente os dois primeiros elementos (“dolo natural” ou “neutro”). 
- A consciência da ilicitude permaneceu na culpabilidade, porém não como consciência atual, mas potencial. A simples falta de compreensão acerca do caráter ilícito do fato não mais é suficiente para isentar o agente de responsabilidade penal. Quando isso ocorrer, justificara-se tão somente uma redução da pena. 
- Só haverá isenção total da pena quando a pessoa, além de desconhecer a ilicitude de comportamento, nem sequer possuir condições, em função da realidade em que viveu e foi criada, de alcançar tal compreensão. Da mesma forma: se o sujeito não sabia que agia ilicitamente, mas tinha condições de sabê-lo, merecerá uma pena menor; se, contudo, essa pessoa, por mais inteligente e atenta que fosse, nunca teria tido condições de perceber a ilicitude do comportamento, não responderá criminalmente pelo ato. Nossa legislação adotou essa sistemática, como se constata no art. 21 do CP.
- Conteúdo da Culpabilidade no Finalismo: 
• imputabilidade 
• exigibilidade de conduta diversa 
• potencial consciência da ilicitude
Teoria social da ação (Wessels e Jescheck): pode ser enquadrada dentro do sistema finalista, uma vez que incorpora boa parte de seus postulados. Foi concebida visando suplantar o conceito finalista e, por essa razão, agregou um elemento até então inexistente ao conceito de ação qual seja a relevância social. Desse modo, a ação passa a ser entendida como a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela ação e dirigida a uma finalidade. Tal concepção não angariou muitos adeptos, dentre outros motivos, pelo fato de que a teoria social da ação faz com que condutas socialmente aceitas constituam irrelevantes penais, o que, em última análise, significa a revogação de uma lei penal por um costume social.
Sistema Funcionalista
Tese segundo a qual a dogmática deve ser interpretada à luz da função do direito penal. 
- Em seu contexto é que se deu o desenvolvimento da teoria da imputação objetiva: a imputação objetiva, ao considerar a ação típica uma realização de um risco permitido dentro do alcance do tipo, estrutura o ilícito à luz da função do direito penal. Esta teoria utiliza-se de valorações constitutivas da ação típica (risco não permitido, alcance do tipo), abstraindo de suas variadas manifestações ônticas.
Imputação Objetiva
Constitui uma teoria, fundada em sua concepção moderna por Claus Roxin, por meio da qual se sustenta que um resultado só pode ser atribuído a quem realizou um comportamento gerador de um risco relevante e proibido, que se produziu neste resultado. 
- Luís Greco a define como o conjunto de pressupostos que fazem de uma causação uma causação típica, a saber, a criação e realização de um risco não permitido em um resultado. 
- Para o autor, a imputação objetiva deve substituir a relação de causalidade, abandonando-se o “dogma da causalidade”.
- Para Günther Jakobs, não há como abrir mão de um mínimo de causalidade material na aferição da responsabilidade penal. A imputação objetiva serviria então para restringir o alcance do nexo causal fundado na teoria da equivalência. 
- Em face de nosso ordenamento jurídico, notadamente por conta do art. 13, caput, do CP, deve-se preferir a concepção de Jakobs. “A sequência da comprovação da imputação objetiva exige que, de início, se estabeleça uma relação de causalidade entre o resultado típico (por exemplo, interrupção do estado de gravidez, no crime de aborto) e uma determinada ação. Em seguida, deve-se verifi car: 1º) se essa ação no momento de sua execução constituía um perigo juridicamente proibido (se era socialmente inadequada); e 2º) se esse perigo é o que se realizou no resultado típico produzido.
- Em suma: deve-se determinar, primeiramente, a relação de causalidade, nos termos (inafastáveis) do art. 13, caput, do CP. Em seguida, deve-se verificar a relação de imputação objetiva.
- A relação de imputação objetiva caracteriza elemento normativo implícito de todo tipo penal, podendo, assim, ser extraída do princípio constitucional da legalidade (art. 5º, XXXIX).
- A relação de imputação objetiva dá-se quandofor possível atribuir a alguém a criação de um risco juridicamente proibido e relevante e a produção de um resultado jurídico, como consequência daquele.
- A preocupação central da teoria é identificar os critérios jurídicos para que alguém possa ser considerado o responsável por determinado resultado jurídico, não do ponto de vista meramente causal (relação causa-efeito), mas sob um aspecto valorativo, vale dizer, quando é justo considerar alguém como o verdadeiro responsável por determinada lesão ou ameaça de lesão a algum bem jurídico. 
- A teoria da imputação objetiva (na concepção que adotamos) busca restringir o alcance no nexo de causalidade, fundado na teoria da equivalência dos antecedentes, cuja extensão conduz a situações injustas e, às vezes, absurdas: afirmar a existência de nexo de causalidade entre a ação do vendedor de uma arma de fogo (ou até do fabricante!) e a morte provocada com o tiro do revólver configura demasiado exagero.
- A relação de imputação objetiva constitui elemento do fato típico (elemento normativo implícito), cuja função é servir como critério limitador à relação de causalidade material. Serve para barrar aquelas situações injustas, em que a aplicação rigorosa da teoria da equivalência dos antecedentes conduz a soluções absurdas.
- O sistema funcionalista, dentro do qual se insere a teoria da imputação objetiva, opõe-se ao finalismo quanto ao seu método. Ontologicista (ou empírico) neste e normatizante naquele. 
- Esquematicamente, o fato típico, nessa nova concepção, conteria os seguintes elementos:
a) conduta (dolosa ou culposa); 
b) resultado (nos crimes materiais ou de resultado); 
c) nexo de causalidade (nos crimes materiais ou de resultado); 
d) tipicidade; 
e) imputação objetiva (elemento normativo implícito), o qual se desdobra no exame da criação de um risco proibido e na realização do risco no resultado. 
- A ilicitude e a culpabilidade não são afetadas dentro do novo sistema. É certo, porém, que muitos problemas penais que antes eram solucionados sob o prisma da licitude passam a ser tratados, com a aplicação da teoria da imputação objetiva, como fatos atípicos (é o caso da violência desportiva, das intervenções cirúrgicas e do consentimento do ofendido).
- Roxin afirma que a imputação objetiva possui as seguintes linhas mestras (que correspondem a três níveis de imputação): criação de um risco relevante e proibido + realização do risco no resultado + resultado dentro do alcance do tipo.
Risco Relevante e Proibido: para que exista imputação objetiva o agente tem de produzir (ou aumentar) um risco relevante e proibido, caso contrário (riscos irrelevantes, permitidos ou diminuídos), ter-se-á um fato penalmente atípico. 
a) Riscos irrelevantes- os riscos gerais da vida são irrelevantes penalmente. Quem se aproveita de tais riscos não pode ser considerado como responsável pelo resultado. Este não será obra sua, mas desses riscos gerais da vida.
ex.: aquele que instiga alguém a praticar um esporte radical ou a fazer uma viagem de carro numa estrada perigosa não pode ser responsabilizado pela morte da pessoa, ainda que tenha desejado esse resultado. 
b) Riscos permitidos- a criação de riscos permitidos afasta a imputação objetiva do resultado e como consequência a responsabilidade penal. Assim, por exemplo, os riscos autorizados em face de sua utilidade social, como o decorrente do tráfego de automóveis (de acordo com as regras de trânsito), a correta utilização da lex artis (no caso da Medicina, da Engenharia etc.), a prática de esportes, entre outros.
Também se entendem por risco permitido as situações às quais se aplica o princípio da confiança: 
I) confiança de que a conduta de terceiros realizada na sequência será conforme o direito. Exemplo: o motorista que conduz pela via preferencial confia que o outro irá aguardar sua passagem. Se isso não acontece não se pode imputar àquele que trafegava na via principal responsabilidade alguma pelo acidente, ainda que fosse possível a ele evitá-lo, por exemplo, dando a passagem ao outro motorista; 
II) confiança de que aquele que realizou uma conduta precedente cumpriu corretamente seu papel. 
Exemplo: o médico que utiliza um material cirúrgico confia que seus assistentes o esterilizaram corretamente. Caso isso não tenha ocorrido, o médico não poderá responder pela infecção contraída, cabendo tal responsabilidade exclusivamente aos seus assistentes. 
c) Diminuição do risco- quando alguém realiza um comportamento que diminui um risco proibido e relevante gerado por terceiro, não age de modo contrário ao direito e, por óbvio, não será responsabilizado criminalmente por sua conduta. 
Exemplo: a pessoa que consegue convencer um ladrão a subtrair mil reais em vez de cinco mil não responde por furto, embora tenha influenciado no ato do furtador.
- Quando houver a criação de um risco relevante e proibido, será preciso verificar se ele efetivamente se produziu no resultado, a fim de que este possa ser imputável objetivamente ao autor. 
- a) Causas imprevisíveis (cursos causais extraordinários): não se pode imputar a alguém um resultado quando o agente não tinha controle sobre o desenrolar causal dos acontecimentos. O responsável pelo atropelamento de um pedestre não responde pela morte deste se ela se deu por conta de um incêndio no hospital. Esta hipótese é expressamente solucionada em nosso CP, no art. 13, § 1º. 
b) Riscos que não tiveram nenhuma influência no resultado (que teriam ocorrido de qualquer maneira). Quando se verifica que o resultado teria ocorrido de qualquer modo, ainda que o agente empregasse a diligência recomendada, não se pode imputar a este objetivamente o resultado produzido. 
Exemplo: o fabricante de um pincel com pelo de cabra deixa de fornecer equipamentos adequados de proteção individual a seus funcionários que vêm a contrair uma infecção letal; comprova-se, posteriormente, que se tratava de um bacilo até então desconhecido, cujo contágio seria inevitável, ainda que todos os equipamentos e normas técnicas de segurança fossem observados.
c) Resultados não compreendidos no fim de proteção da norma: é preciso verificar qual a finalidade da norma de cuidado, vale dizer, o que ela visava proteger. Para que haja imputação objetiva, será preciso que o agente tenha produzido um resultado compreendido dentro do fim de proteção da norma. 
Exemplo: há uma norma que exige dos ciclistas, durante à noite, que se utilizem de um farol. Essa norma tem como finalidade evitar acidentes pessoais. Se dois ciclistas andam com farol apagado, e o que vai à frente é abalroado por um caminhão, não se pode imputar esse resultado ao outro ciclista, ainda que se demonstrasse que o fato de ele ter utilizado o farol evitaria a morte do ciclista que seguia à frente. A norma de proteção visa evitar acidentes pessoais, e não de terceiros. 
- Há casos em que, mesmo tendo-se verificado a realização de um risco proibido no resultado, constata-se que, no caso concreto o alcance do tipo, o fim de proteção da norma inscrita no tipo, ou seja, da proibição de matar, ferir, danificar, etc., não compreende resultados da espécie do ocorrido, isto é, quando o tipo não for determinado a impedir acontecimentos de tal ordem. Esta problemática é relevante em especial nos delitos culposos.
- Em termos de crimes dolosos, há três hipóteses em que se aplica o critério ora exposto:
a) autocolocação dolosa em perigo- vítima que se coloca dolosamente numa situação de perigo exclui, com essa atitude, a responsabilidade de terceiros pelas lesões que vier a sofrer. Exemplo: a pessoa que pratica contato sexual desprotegida com um portador do vírus HIV, ciente dessa circunstância, afasta a responsabilidade do parceiro decorrente do contágio venéreo.
b) heterocolocação consentida em perigo- a mesma solução se aplica quando a vítima consente em que outrem a coloque numa situação de perigo, como no caso de quem pede carona a um motorista visivelmente embriagado, vindo a ferir-se num acidente automobilístico.
c) âmbito deresponsabilidade de terceiros- a responsabilidade de terceiros no resultado afasta a imputação objetiva de quem deu início ao processo causal. É o caso do erro médico. Para Roxin, quando o erro substitui o perigo gerado, só o médico responde pelo resultado.
Exemplo: a morte do paciente por choque anafilático afasta a responsabilidade pelo óbito de quem havia lesionado o falecido. Quando, por outro lado, o erro não impede a realização do resultado, é preciso distinguir se o médico agiu com culpa leve (hipótese em que haverá responsabilidade do médico e da pessoa que havia provocado as lesões no falecido) ou culpa grave (só o médico responde).
Imputação Objetiva por Jakobs: para o mesmo, a imputação objetiva é vinculada a uma sociedade concretamente considerada. A imputação, enquanto forma, isto é, a tarefa de determinar quando alguém deve responder por seus atos, sempre acompanhou a humanidade. 
Exemplo: Adão e Eva em que aquele procurou justificar-se perante Deus, dizendo que a maçã que havia comido lhe fora dada pela mulher que Ele havia criado, ou seja, num misto de relato e defesa, tentava eximir-se de responsabilidade alegando que o fizera confiando na mulher que o próprio Criador lhe enviara.
- O contato social gera algum riscos, sendo este inerente à vida em sociedade. Isso se vê num simples aperto de mão (que pode transmitir germes), no ato de servir uma comida (que pode estar estragada), em atitudes como deixar que os filhos pequenos brinquem com os amigos, servir bebidas alcoólicas, fabricar carros, produzir bens de consumo etc.
A eliminação desses riscos é absolutamente impossível, sob pena de engessar a sociedade. O que se deve esperar das pessoas, nesse sentido, não é a total eliminação de riscos, algo inatingível, mas que cumpram corretamente seu papel social. Assim, não se pode impedir que um barman sirva bebidas alcoólicas a seus fregueses, mas pode-se exigir dele que não o faça a menores de 18 anos. É impossível impedir a fabricação de carros, mas pode-se exigir de seus fabricantes que observem as normas técnicas e os construam dentro dos padrões de segurança. Não há como evitar que restaurantes sirvam comida, mas é possível estabelecer a obrigatoriedade de observarem condições mínimas de higiene.
- A imputação objetiva enfoca apenas comportamentos que violam determinado papel social. Não se pode exigir de um mecânico que, mesmo sabendo que o dono do automóvel costuma andar em alta velocidade, deixe de consertá-lo. Seu papel social consiste em arrumar os defeitos dos veículos, mantendo-os dentro de suas especificações regulares, nada mais que isso. Não se pode atribuir a esse mecânico, que se limitou a exercer seu papel social, a responsabilidade pela morte do proprietário do veículo num acidente de trânsito. Um barman que serve bebida alcoólica a um motorista não pode ser responsabilizado pelo acidente automobilístico posteriormente causado, já que se limitou a cumprir seu papel social. 
- A imputação objetiva não se fará presente: 
1ª) Criação de um risco permitido: aquele que realiza um risco permitido não pode responder juridicamente pelo resultado produzido. O risco permitido dá-se nas seguintes situações: 
a) normas jurídicas que autorizam comportamentos perigosos (ex.: regras de trânsito, práticas desportivas autorizadas, normas técnicas de atividades industriais); 
b) fatos socialmente adequados (ex.: um passeio de automóvel com amigos, o ato de levar um adolescente a um passeio numa montanha); 
c) lex artis: a observação das regras técnicas de determinada atividade, como a Medicina ou a Engenharia;
d) autorizações contidas em normas extrapenais. Jakobs desenvolve, ainda, conceitos de compensação do risco e de variabilidade do risco. 
- A compensação de um risco pode ser levada em conta quando a lei não estabelece determinado padrão, porque se o faz é justamente por não admitir nenhum tipo de compensação. Assim, se um motorista conduz seu automóvel sob efeito de álcool acima do limite permitido, não pode compensar essa atitude por sua experiência ao volante. 
- A variabilidade do risco significa que o mesmo comportamento produtor de risco pode variar conforme o papel social do agente. Uma mãe que trata a ferida do filho com um pano não esterilizado não comete delito, ainda que isso resulte num agravamento da lesão. Um médico, contudo, não pode agir da mesma maneira, sob pena de responder penalmente por sua conduta. 
2ª) Princípio da confiança: na vida em sociedade, as pessoas não podem ser obrigadas a desconfiar das demais, supondo constantemente que os outros não cumprirão seu papel. Daí a exclusão da responsabilidade penal quando alguém agiu na confiança de que o outro o cumpriu (ou cumpriria). O princípio da confiança, que para Roxin faz parte do conceito de risco permitido, também se projeta de duas formas, como visto acima. 
3ª) Proibição do regresso: por este princípio, uma conduta lícita não gera responsabilidade por atos ilícitos praticados posteriormente por terceiros. O motorista de táxi que conduz um passageiro até o seu destino não pode ser responsabilizado pelas atitudes deste (ex: matar alguém), ainda que tenha conhecimento delas no trajeto. 
4ª) Capacidade da vítima: o consentimento do ofendido a agressões a bens jurídicos a ele pertencentes deve excluir a responsabilidade penal, quando a vítima tinha capacidade para entender e anuir com a lesão. Assim, por exemplo, aquele que realiza um contato sexual voluntário com uma pessoa portadora do vírus HIV, ciente dessa circunstância, e, conscientemente, não toma nenhuma precaução para evitar o contágio deve ser o único responsável pela transmissão da doença, eximindo de responsabilidade o parceiro. 
Regras extraídas da imputação objetiva (Damásio de Jesus): não há imputação objetiva (e o fato será atípico) quando:
a) o sujeito não criou o risco com sua conduta; 
b) o risco, embora criado pela conduta, era permitido ou irrelevante (princípio da insignificância); 
c) o risco criado não produziu resultado jurídico, o que conduz à atipicidade ou à responsabilização pelo crime na forma tentada);
d) não há relação direta entre a conduta, o risco criado e o resultado ocorrido (ex: atropelamento culposo e morte por infecção hospitalar. Pela doutrina tradicional, o agente responde pelo resultado, considerado como dentro do desdobramento causal esperado de sua conduta. Pela teoria da imputação objetiva, a morte não será imputada ao motorista, pela falta de relação direta entre sua conduta e o evento fatal). Haverá, porém, imputação objetiva se o sujeito aumentou o risco ao bem jurídico ou extrapolou o risco juridicamente permitido (ex.: entende-se tradicionalmente não configurar crime a conduta daquele que polui águas já corrompidas; com a teoria, há crime, pois o sujeito aumentou o risco ao bem jurídico).
Princípios auxiliares: a teoria da imputação objetiva enseja a admissão de uma série de princípios: 
a) Princípio da confiança: uma pessoa não pode ser punida quando, agindo corretamente e na confiança de que o outro também assim se comportará (cumprirá o seu papel), dá causa a um resultado não desejado.
ex: o médico que confia em sua equipe não pode ser responsabilizado pela utilização de uma substância em dose equivocada, se para isso não concorreu; o motorista que conduz seu automóvel cuidadosamente confia que os pedestres se manterão na calçada e somente atravessarão a rua quando não houver movimento de veículos, motivo pelo qual não comete crime se atropela um transeunte que se precipita repentinamente para a via trafegável. 
b) Princípio da insignificância: quando a conduta do agente produzir lesões insignificantes aos bens jurídicos, o fato será penalmente atípico.
ex: furto de uma caixa de fósforos. 
c) Princípio da proibição do regresso: uma conduta inicialmente lícita não pode conduzir à responsabilização do agente por resultados ilícitos posteriores cometidos por terceiros.
ex: venda de um veículo automotor posteriormente utilizado em atropelamento. 
d) Princípio da autorresponsabilidadeou das “ações a próprio risco”: aquele que, de modo livre e consciente, e sendo inteiramente responsável por seus atos, realiza comportamentos perigosos e produz resultados lesivos a si mesmo arcará totalmente com as consequências de seus atos, não se admitindo qualquer tipo de imputação a pessoas que o tenham eventualmente motivado a praticar tais condutas perigosas.
ex: agente que incentiva desafeto a praticar “esportes radicais”.
Fato Típico
É o fato humano que se adequa perfeitamente ao tipo penal. O fato típico consubstancia o primeiro dos elementos estruturais do delito e sua composição varia em função da espécie de crime. 
-Nos dolosos são: a) conduta dolosa; b) resultado (nos crimes materiais); c) nexo causal (nos crimes materiais); d) tipicidade; e) relação de imputação objetiva (elemento normativo implícito do fato típico). 
- Nos culposos são: a) conduta voluntária; b) resultado involuntário; c) nexo causal; d) tipicidade; e) relação de imputação objetiva (elemento normativo implícito do fato típico); f) quebra do dever de cuidado objetivo; g) previsibilidade objetiva.
Conduta: deve ser entendida como a ação ou omissão humana, consciente e voluntária dirigida a uma finalidade. 
- Seus elementos são: exteriorização, consciência e voluntariedade. Faltando um desses elementos, não há falar em conduta. 
-As formas de conduta são duas: ação e omissão. 
- Ação é a conduta positiva que se manifesta por um movimento do corpo humano (“matar”, “constranger”, “subtrair”, etc.). 
- Omissão é a conduta negativa que consiste na abstenção de um movimento. É o deixar de fazer algo penalmente relevante. 
- Há duas espécies de crimes omissivos: crimes omissivos próprios e crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão). 
- Os crimes omissivos próprios são crimes de mera conduta, o tipo penal nem sequer faz uma referência à ocorrência de um resultado no mundo exterior, ou seja, basta o sujeito se omitir para estar configurado o tipo (ex: arts. 135, 244 e 269 do CP). 
- Nos crimes omissivos impróprios (omissivos por omissão), o tipo penal descreve uma conduta positiva, ou seja, uma ação. O sujeito responde pelo crime porque estava juridicamente obrigado a impedir a ocorrência do resultado. 
- Para que alguém responda por um crime comissivo por omissão é necessário que, nos termos do art. 13, § 2º, do CP, tenha o dever jurídico de evitar o resultado. 
Resultado: duas teorias que se debatem na conceituação do resultado para fins penais: 
1ª) teoria naturalística: resultado é a modificação no mundo exterior provocada pela ação ou omissão;
-Classificação dos crimes quanto ao resultado naturalístico:
a) Materiais ou de resultado: o tipo penal descreve a conduta e um resultado material, exigindo-o para fins de consumação. 
Exemplos: homicídio (CP, art. 121), furto (CP, art. 155), roubo (CP, art. 157), estelionato (CP, art. 171). 
b) Formais: o tipo penal descreve a conduta e o resultado material, porém não o exige para fins de consumação. 
Exemplos: extorsão (CP, art. 158), extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), sequestro qualificado pelo fim libidinoso (CP, art. 148, § 1º, V). 
c) De mera conduta: o tipo penal não faz nenhuma alusão a resultado naturalístico, limitando-se a descrever a conduta punível independentemente de qualquer modificação no mundo exterior. 
Exemplos: omissão de socorro (CP, art. 135), violação de domicílio (CP, art. 150). 
-Alguns autores afirmam que o tipo penal nos crimes formais é incongruente, porquanto descreve conduta e resultado, mas se contenta com aquela para que ocorra a consumação, vale dizer, exige menos do que aquilo que está escrito na norma penal.
2ª) teoria jurídica: resultado é a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Há crime sem resultado? De acordo com a teoria naturalística, isso ocorre nos crimes de mera conduta. Para a teoria jurídica, não há crime sem resultado jurídico, de modo que, se a conduta não provocou uma afetação (lesão ou ameaça de lesão) a algum bem jurídico penalmente tutelado, não houve crime. 
- Classificação dos crimes quanto ao resultado jurídico:
a) De dano ou de lesão: quando a consumação exige efetiva lesão ao bem tutelado. 
Exemplos: homicídio (CP, art. 121), lesão corporal (CP, art. 129), furto (CP, art. 155). 
b) De perigo: caso a consumação se dê apenas com a exposição do bem jurídico a uma situação de risco. 
Exemplos: perigo de contágio venéreo (CP, art. 130), perigo à vida ou saúde de outrem (CP, art. 132). 
- Estes se subdividem em crimes de perigo concreto (o risco deve ser demonstrado) e de perigo abstrato (a prática da ação ou omissão gera uma presunção absoluta de que o bem jurídico sofreu um risco). Há polêmica na doutrina acerca da constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato. 
Relação de Causalidade: art. 13, caput, parte inicial, do CP: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa”. O resultado a que alude o dispositivo é o naturalístico ou material, isto é, a modificação no mundo exterior provocada pela conduta. 
- A grande maioria dos tipos penais não se limita a descrever uma ação ou omissão, exigindo também, para fins de consumação, que ocorra um resultado material. Nesses casos, o art. 13 condiciona a existência do crime à constatação de uma ligação causal entre a conduta e o resultado por ela supostamente produzido. 
- Nexo de causalidade consiste justamente nesse vínculo ou ligação que une a conduta ao resultado nos crimes materiais. 
-Várias teorias se preocupam em definir o critério para constatar o nexo causal: 
a) teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non: sustenta que todo fator que de forma direta ou indireta exerceu alguma influência no resultado deve ser considerado como sua causa; 
b) teoria da causalidade adequada: apenas se reputa causa do resultado a circunstância mais adequada a produzi-lo, segundo um juízo de probabilidade (ou “prognose póstuma-objetiva”: verifica-se se um homem dotado de conhecimentos medianos poderia antever o resultado como provável ou possível na situação em que o agente se encontrava); 
c) teoria da imputação objetiva do resultado: defende que a causalidade natural, fundada na teoria da equivalência dos antecedentes, leva a exageros que devem ser limitados pela verificação da existência de relação de imputação objetiva entre a conduta e o resultado. Além da causalidade material, portanto, é preciso que a atitude do agente tenha produzido um risco juridicamente relevante e proibido ao bem jurídico.
- CP adotou expressamente a teoria da equivalência dos antecedentes (art. 13, caput, parte final), ao estabelecer: “Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. Tudo o que contribuir para o resultado, portanto, deve ser considerado sua causa, seja uma conduta humana, seja um fator natural. 
Causas dependentes e independentes: Determinados fatores podem interpor-se no nexo de causalidade entre a conduta e o resultado, de modo a influenciar no liame causal. Tais fatores são chamados de “concausas” ou simplesmente “causas”, como prefere atualmente a maioria dos autores. 
-Dividem-se em causas dependentes e independentes. 
-Dependentes são as que se originam na conduta do agente e se inserem dentro da sua linha de desdobramento causal natural, esperado. Trata-se daquilo que normalmente acontece (quod plerumque accidit), constituindo assim decorrências corriqueiras da conduta . 
ex: a morte por choque hemorrágico subsequente a um ferimento perfuro inciso profundo configura evento esperado; para a jurisprudência, a morte em virtude de infecção hospitalar é considerada decorrência esperada de uma internação. 
- o agente responderá por todos os seus desdobramentos.
-As independentes, de sua parte, são as que, originando-se ou não da conduta, produzem por si sós o resultado e configuram algo que normalmente não acontece. São eventos inusitados, inesperados. 
ex: uma pequena ferida incisa, normalmente,não é capaz de levar à morte, mas isso pode ocorrer se a vítima for hemofílica).
- É preciso distinguir entre as causas absoluta e as relativamente independentes da conduta do agente. 
1) Causas absolutamente independentes: são as que produzem por si sós o resultado e não têm qualquer origem ou relação com a conduta praticada pelo sujeito. Como nesse caso o resultado ocorreria de qualquer maneira, com ou sem o comportamento realizado, fica totalmente afastado o nexo de causalidade, motivo por que o agente não responderá pelo resultado. 
-Subdividem-se em preexistentes (se anteriores à conduta do agente), concomitantes (quando ocorrem ao mesmo tempo) ou supervenientes (se posteriores).
Exemplos: a) efetuar disparos de arma de fogo, com intenção homicida, em pessoa que falecera minutos antes (causa preexistente); 
b) atirar em pessoa que, no exato momento do tiro, sofre ataque cardíaco fulminante que não guarda relação alguma com o disparo (causa concomitante); 
c) ministrar veneno na comida da vítima, que, antes que a peçonha faça efeito, vem a ser atropelada (causa superveniente; nesse caso, o agente só responde pelos atos praticados, ou seja, por tentativa de homicídio).
- em todas as causas absolutamente independentes ficará afastada a relação de causalidade entre a conduta do sujeito e o resultado produzido, razão pela qual o sujeito apenas responderá pelos atos praticados, não sendo possível imputar-lhe o resultado final (nos exemplos acima: a morte da vítima). 
2) Causas relativamente independentes: são as que, somadas à conduta do agente, produzem o resultado. De regra, não se exclui o nexo de causalidade, de forma que o resultado poderá ser atribuído ao agente, que por ele responderá. Também se subdividem em preexistentes, concomitantes ou supervenientes. 
Exemplos de causas relativamente independentes: a) Efetuar ferimento leve, com instrumento cortante, num hemofílico, que sangra até a morte (a hemofilia é a causa preexistente que, somada à conduta do agente, produziu a morte). Note que nesse exemplo se pressupõe que o sujeito tenha efetuado um golpe leve no ofendido, que não produziria a morte de uma pessoa saudável.
b) Efetuar disparo contra a vítima que, ao ser atingida pelo projétil, sofre ataque cardíaco, vindo a morrer, apurando-se que a soma desses fatores produziu a morte (considere, nesse caso, que o disparo, isoladamente, não teria o condão de matá-la, o mesmo ocorrendo com relação ao ataque do coração — causa concomitante). 
c) Após um atropelamento, a vítima é socorrida com algumas lesões ao hospital; no caminho, a ambulância explode, ocorrendo a morte (a explosão da ambulância é a causa superveniente que, aliada ao atropelamento, deu causa à morte do ofendido). 
- as causas absolutamente independentes sempre rompem o nexo causal, de modo que o agente nunca responderá pelo resultado; somente pelos atos praticados; 
- as causas relativamente independentes não rompem o nexo causal, motivo por que o agente, se a conhecia ou se, embora não a conhecendo, podia prevê-la, responde pelo resultado (salvo na causa superveniente).
Tipicidade: é a relação de subsunção entre um fato concreto e um tipo penal previsto abstratamente na lei. Trata-se de uma relação de encaixe, de enquadramento. É o adjetivo que pode ou não ser dado a um fato, conforme ele se enquadre ou não na lei penal. 
- Concepção dominante: 
Fase do caráter indiciário da ilicitude ou da ratio cognoscendi (Mayer — 1915): a tipicidade deixa de ter função meramente descritiva, representando um indício da antijuridicidade. Embora se mantenha, admite-se ser uma indício da outra. Pela teoria de Mayer, praticando-se um fato típico, ele se presume ilícito. Essa presunção, contudo, é relativa, pois admite prova em contrário. Além disso, a tipicidade não é valorativamente neutra ou descritiva, de modo que se torna admissível o reconhecimento de elementos normativos e subjetivos do tipo penal.
Adequação típica: é o mesmo que tipicidade, ou seja, a relação de subsunção entre o fato e a norma penal. Há quem pense de modo diverso, afirmando que tipicidade seria a mera correspondência formal entre o fato e a norma, enquanto a adequação típica, a correspondência que levaria em conta não apenas uma relação formal de justaposição, mas a consideração de outros requisitos, como o dolo ou a culpa. 
- Há duas modalidades de adequação típica:
1ª) Adequação típica por subordinação imediata ou direta: dá-se quando a adequação entre o fato e a norma penal incriminadora é imediata, direta; não é preciso que se recorra a nenhuma norma de extensão do tipo. 
Exemplo: alguém efetua dolosamente vários disparos contra a vítima — esse fato se amolda diretamente ao tipo penal incriminador do art. 121 do CP.
2ª) Adequação típica por subordinação mediata ou indireta: o enquadramento fato/norma não ocorre diretamente, exigindo-se o recurso a uma norma de extensão para haver subsunção total entre fato concreto e lei penal. 
Exemplo: se alguém, com intenção homicida, efetua vários disparos de arma de fogo contra outrem e foge, sendo a vítima socorrida e salva a tempo, esse fato não se amolda ao tipo penal do art. 121 (não houve morte). Também não se enquadra no art. 129 (lesões corporais) porque o sujeito agiu com animus necandi (o art. 129 pressupõe animus laedendi). Seria o fato atípico? Não. Para que ocorra o perfeito enquadramento da conduta com a norma, contudo, será preciso recorrer a uma norma de extensão; no caso, o art. 14, II, que descreve a tentativa. O mesmo se verifica quando alguém empresta arma de fogo a um homicida, que a utiliza posteriormente para cometer o crime. Sua conduta não encontra correspondência direta com o art. 121 do CP. Novamente é preciso, então, socorrer-se de uma norma de extensão; nesse caso, o art. 29, caput, que pune a participação. 
Tipicidade conglobante :Trata-se de um dos aspectos da tipicidade penal, que se subdividiria em tipicidade legal (adequação do fato com a norma penal, segundo uma análise estritamente formal) e tipicidade conglobante, por meio desta deve-se verificar se o fato, que aparentemente viola uma norma penal proibitiva, não é permitido ou mesmo incentivado por outra norma jurídica (como no caso das intervenções médico-cirúrgicas, violência desportiva, estrito cumprimento de um dever legal etc.). Não teria sentido, dentro dessa perspectiva, afirmar que a conduta do médico que realiza uma cirurgia no paciente viola a norma penal do art. 129 do CP (não ofenderás a integridade corporal alheia) e, ao mesmo tempo, atende ao preceito constitucional segundo o qual a saúde é um direito de todos (não é lógico dizer que ele viola uma norma e obedece a outra, ao mesmo tempo). 
- Por meio da tipicidade conglobante (análise conglobada do fato com todas as normas jurídicas, inclusive extrapenais), situações consideradas tradicionalmente como típicas, mas enquadráveis nas excludentes de ilicitude (exercício regular de um direito ou estrito cumprimento de um dever legal), passariam a ser tratadas como atípicas, pela falta de tipicidade conglobante. 
- Com a adoção da teoria da imputação objetiva, tais resultados (atipicidade de fatos então considerados típicos, porém lícitos) são atingidos sem necessidade dessa construção, que se torna supérflua.
Dolo: é a vontade de concretizar as características objetivas do tipo. Trata-se de elemento subjetivo implícito da conduta. 
- O dolo possui elementos, quais sejam:
 a) Cognitivo ou intelectual, que é a representação, a consciência da conduta, do resultado e do nexo causal entre eles; 
b) Volitivo, que é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.
Culpa: O crime culposo está previsto no artigo 18, II, do Código Penal Brasileiro com a seguinte redação: Art. 18 — Diz-se o crime: (...) II — culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
- Para determinar quando surge a imprudência, negligência ou imperícia, é necessária a noção de dever de cuidado objetivo. Este corresponde ao dever, que

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