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Patrimônios Cultural e Natural no Brasil


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Aula 5 – Patrimônios Cultural e Natural
Introdução
Após conhecer os doze primeiros lugares que foram considerados Patrimônio da Humanidade dentro do território brasileiro, a presente aula abordará os últimos sete sítios que receberam esse título. Assim, encerraremos a trilogia sobre os patrimônios da Unesco no Brasil, articulando-os com os conceitos de patrimônio material, imaterial e natural em vigor. O objetivo continua sendo o de conjugar informação, mão de obra especializada e iniciativa de várias esferas, a fim de que os atores diretamente envolvidos na área do Turismo tenham mais capacidade de explorar positivamente esses destinos.
Na presente aula, que encerra a série sobre os patrimônios cultural e natural, abordaremos os últimos sete lugares considerados Patrimônio da Humanidade no Brasil: o Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central, o Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal, o centro histórico da cidade de Goiás, as áreas protegidas do Cerrado (Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas), as Ilhas Atlânticas Brasileiras (Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas), a Praça de São Francisco (na cidade de São Cristóvão, SE) e as paisagens da cidade do Rio de Janeiro.
Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central
Em 1999, essas quatro unidades foram consideradas “áreas de extrema importância”. Na ocasião, a Unesco exigiu que, a médio prazo, o Brasil implementasse fiscalização nas mais de 400 ilhas de Anavilhanas.
Três anos antes, em 2000, a Unesco havia reconhecido a área amazônica do Parque Nacional do Jaú (segundo maior em extensão do Brasil). Com o Complexo, a área de preservação foi expandida, sendo incorporadas a Estação Ecológica de Anavilhanas (considerada um dos maiores complexos fluviais do mundo), a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Amanã e parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. Essas áreas juntas somam 6 milhões de hectares, o que corresponde a uma área maior do que o estado do Espírito Santo (que tem 4,6 milhões de hectares).
No dia 2 de julho de 2003, o Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central recebeu o título de Patrimônio da Humanidade. A região fica localizada próxima a Manaus e aos rios Negro e Solimões.
O reconhecimento do Complexo reforçou a importância das reservas ali representadas para a conservação da biodiversidade amazônica. Isso ajudou a enfatizar internacionalmente a relevância da região, bem como a destacar a disposição do Brasil em fazer tudo para garantir a conservação do local.
Um aspecto de destaque positivo é o fato de que as áreas em que estão Anavilhanas, Jaú, Amanã e Mamirauá não fazem parte do eixo de desenvolvimento planejado para a Amazônia. Com isso, a preservação dessa região pode garantir aumento de renda para as comunidades locais caso seja bem conduzida principalmente pelo turismo.
Podemos citar como exemplo de sustentabilidade as atividades exercidas pelos 900 habitantes do Parque do Jaú: eles são ribeirinhos que praticam a pesca ornamental e de subsistência, além da agricultura familiar e de um pequeno extrativismo. Segundo dados da Fundação Vitória Amazônica (FVA), a interferência desses ribeirinhos representa um impacto ambiental de apenas 0,5% da área – índice aceitável para que se garanta a preservação do local.
Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal
Podemos citar o Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal como mais um patrimônio a receber o título da Unesco. Esse fato se deu em 2000 devido à sua grandeza e extensão ambiental: aproximadamente 200 mil quilômetros quadrados de superfície, formando a maior planície inundável contínua do planeta.
O complexo abrange áreas da Bolívia, do Paraguai e do Brasil, sendo que aqui estão 70% de toda a região pantaneira. O Pantanal representa uma grande depressão na crosta terrestre (originada no período pré-andino), onde deságuam muitos rios vindos do planalto. Justamente por se tratar de uma depressão, quase todo o Pantanal fica inundado na estação das chuvas. Nos períodos secos, por outro lado, a área se transforma num pontilhado de pequenas lagoas. Elas, por sua vez, representam, então, refúgio de milhares de animais. A vegetação é caracterizada pela savana, mas sofre influência da região amazônica ao norte (onde, por esse motivo, existem elementos dos dois ecossistemas).
O Pantanal concentra a maior densidade faunística da América, por causa das características do solo, do relevo, do ciclo das águas e do clima. Isso gera uma cadeia alimentar riquíssima. Há mais de 230 espécies de peixes, 80 de mamíferos, 50 de répteis e 650 de aves aquáticas. Existe um grande investimento no ecoturismo, no sentido de se trabalhar com a preservação de sua exuberante fauna, que está ameaçada de extinção.
No Brasil, assim como em outros lugares do mundo, existe muita pressão no sentido de que os governos possam liberar a visitação pública em áreas protegidas, principalmente nos Parques Nacionais. Por esse motivo, esses locais carecem de ações de planejamento e manejo adequados. Isso não é tarefa fácil, uma vez que, na área próxima ao Complexo, aproximadamente 20 famílias vivem na região sobrevivendo da coleta de iscas vivas e dependendo do turismo de pesca desenvolvido no local.
Centro histórico da cidade de Goiás
Como próximo patrimônio da humanidade a ser citado, apresentamos o centro histórico da cidade de Goiás (GO), que recebeu o título em 2001 devido ao seu conjunto urbanístico e arquitetônico, com predomínio dos estilos colonial e eclético. Sua preservação oficial começou em 1978, ano em que o sítio tinha sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Possui aproximadamente 486 imóveis tombados e cerca de 1200 bens móveis (mobílias e outras obras de arte).
A região do atual Goiás Velho se desenvolve nas primeiras décadas do século XVIII com a chegada dos bandeirantes paulistas à busca de ouro. Entre esses primeiros exploradores encontramos Bartolomeu Bueno da Silva, que, em 1722, funda o Arraial de Sant’Ana às margens do Rio Vermelho. Esse arraial foi anexado, em 1736, à Vila Boa de Goiás para desempenhar um papel estratégico no combate aos espanhóis que contrabandeavam o ouro na região. Cabe informar que o nome Goiás advém dos índios da etnia Goiá, que habitavam a área à época da colonização.
Na segunda metade do século XVIII, houve um declínio da extração mineral na região, influenciando na arquitetura local, o que nos legou uma cidade com simplicidade ímpar naquela área, mas, ao mesmo tempo, com o maior número de construções protegidas pelo Patrimônio entre as unidades federativas. Goiás foi capital do estado de mesmo nome até 1930. A partir de então, a recém-formada Goiânia passou a ser a capital.
Portanto, devido à sua relevância histórica, ao seu traçado, à sua arquitetura e ao fato de a cidade histórica de Goiás ter se tornado exemplo de urbanicidade com características europeias, o local recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 16 de dezembro de 2001. Logo, a arquitetura do século XVIII em estilo barroco e as manifestações tipicamente interioranas representam atrativos para os turistas.
Áreas protegidas do Cerrado
Também em 2001, a Unesco efetivou a candidatura das áreas protegidas do Cerrado (Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas). Essas áreas estão localizadas entre o Sudoeste de Goiás e próximas às divisas entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Diferentemente dos outros parques nacionais, sua área foi doada pelo fazendeiro Filogônio Garcia para que fosse preservada. No entanto, por falta de demarcação e de legislação que funcionasse, o parque perdeu 90% de sua área original para fazendeiros e posseiros, cujo uso atual está relacionado ao cultivo de soja, algodão, girassol e outros grãos.
Trata-se de locais onde se encontram algumas das mais antigas formações rochosas do mundo, com cânions e cachoeiras diversas, o que acaba atraindo muitos turistas. Além de belas paisagens, essas áreas também contam com uma fauna digna de destaque: o cervo do pantanal,o veado-campeiro (cuja caça deu nome à chapada), o lobo-guará, a ema, a anta e tantos outros animais. Quanto à flora, destacam-se o pau d’arco roxo, a aroeira, a tamanqueira e o babaçu.
Os cristais também configuram no rol de interesse turístico. Eles contribuem para a atividade econômica e motivam a visitação feita por esotéricos e pessoas atraídas por questões de terapias alternativas.
No Parque das Emas, existem 400 km de estradas, campo de pouso, Centro de Visitantes, alojamento para pesquisadores, guias credenciados e condutores autorizados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). Existem três tipos de trilhas no local: trilha interpretativa (para identificação da vegetação e para interpretação dos animais pelas pegadas, fezes e alimentos consumidos), trilha motorizada (de ônibus ou de carro, para observação, de animais escondidos no cerrado) e trilha em mata ou em campo (feita por meio de caminhada, para poder tocar a natureza, sentir o caminho, ver bem de perto aves, lagartos, tatus, tamanduás e outros animais).
Ilhas Atlânticas Brasileiras
Na sequência, as Ilhas Atlânticas Brasileiras (Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas) receberam o título de Patrimônio Histórico em 2001.
Do total de 21 ilhas pertencentes ao estado brasileiro de Pernambuco, o Arquipélago de Fernando de Noronha possui uma ilha principal, na qual se encontra o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (formado por dois terços da ilha principal). O parque foi criado com os objetivos de preservar os ecossistemas costeiros, propiciar pesquisas, conservar os sítios históricos arquitetônicos e naturais, além de ordenar o grande número de turistas em Noronha.
Lá, os atrativos são a desova das tartarugas aruanas e a observação dos golfinhos rotatores. Estes últimos se reúnem diariamente na Baía dos Golfinhos, onde se dá a observação mais regular da espécie em todo o planeta. Atualmente, o parque é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 
No entanto, antes de ser o destino turístico dos dias atuais, Fernando de Noronha era o destino para o qual eram enviados os condenados a cumprir pena no presídio ali existente. Esse presídio funcionou de 1737 até 1942. 
O Atol das Rocas, por sua vez, situa-se a 144 milhas náuticas de Natal (RN) e a 80 milhas náuticas de Fernando de Noronha. A Reserva Biológica do Atol das Rocas foi a primeira unidade de conservação marinha criada no Brasil, em 1979, para fins de preservação. 
Por determinação do IBAMA, órgão que administra o atol, não é permitido turismo em Rocas. O referido instituto só autoriza visitação de pesquisadores ou de pessoas responsáveis por divulgar os trabalhos científicos referentes ao lugar. 
O Atol das Rocas é um dos menores do planeta: tem apenas sete quilômetros de perímetro. Em formato quase circular, o local é um antigo topo de vulcão e funciona hoje como um grande berçário vivo de muitas espécies. Milhares de aves e centenas de tartarugas-verdes visitam o lugar para desovar. O Atol das Rocas também é lugar de abrigo e de alimentação para a tartaruga-de-dente. Detalhe curioso é o fato de que não há registro de espécie predadora que habite o local. Diz-se que as areias do Atol são classificadas como branco falso, uma vez que a brancura provém do calcário moído de fragmentos de conchas, ossos de aves e de peixes. Durante a maré alta, as pequenas ilhas ficam imersas, mas, na maré baixa, várias piscinas naturais surgem, de tamanhos e profundidades variadas, funcionando como berçário para diversas espécies marinhas.
Praça de São Francisco
Em penúltimo lugar, temos a Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão (SE) como o próximo Patrimônio da Humanidade. A cidade em questão foi fundada por Cristóvão de Barros, que chegou à região em 1589. Foi construída no período da União Ibérica, quando Portugal e Espanha estiveram unidos pela mesma coroa, entre 1580 e 1640. São Cristóvão foi a primeira capital do estado de Sergipe e é a quarta cidade mais antiga do país.
Os franciscanos chegaram à cidade em 1657 e montaram em São Cristóvão o mais expressivo conjunto arquitetônico remanescente da cidade, composto pela Praça de São Francisco. Na praça, estão a Igreja, o Convento de São Francisco, a Capela da Ordem Terceira (hoje Museu de Arte Sacra), que datam de 1693, a Santa Casa e Igreja de Misericórdia, o Palácio Provincial e o casario antigo.
Pelo fato de a Praça de São Francisco reunir o fazer artístico e cultural do povo e pelo seu conjunto arquitetônico, o lugar obteve reconhecimento pelo seu valor universal.
Paisagens do Rio de Janeiro
Mais recentemente, em 2012, as paisagens do Rio de Janeiro receberam o título de Patrimônio da Humanidade na categoria de paisagem cultural. As paisagens representam elementos naturais que moldam e inspiram o desenvolvimento da cidade do Rio: desde a entrada da Baía de Guanabara, passando pela enseada de Botafogo e a orla de Copacabana, até, ao fundo, os pontos mais altos das montanhas do Parque Nacional da Tijuca.
O comitê organizador da candidatura dessas paisagens ainda reuniu o Jardim Botânico (criado em 1808), o Corcovado (com a estátua do Cristo Redentor) e as colinas ao redor da Baía de Guanabara, com as paisagens urbanas projetadas na área. Tudo isso contribuiu para a cultura carioca de vida ao ar livre. Dessa forma, o Rio acabou sendo inspiração artística para músicos, paisagistas e urbanistas.