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1 UNIDADE 1 ASPECTOS GERAIS DOS PROJETOS DE PONTES 1.1 - DEFINIÇÕES As pontes são estruturas em obra de arte destinadas a vencer obstáculos naturais como cursos d'água, vales profundos, baías ou obstáculos criados pelo homem como, por exemplo, um centro urbano ou uma via expressa. De um modo geral, quando o obstáculo é um centro urbano ou uma via expressa, a ponte recebe o nome de viaduto ou elevado. 1.2 - ELEMENTOS CONSTITUINTES DAS PONTES Basicamente, uma ponte ou um viaduto é constituída de uma superestrutura, mesoestrutura e infra-estrutura. A superestrutura corresponde a parte da obra que recebe diretamente as cargas do tráfego. Se compõe da laje, das vigas principais, das transversinas, cortinas, dentes, consoles, chanfros, etc ... 2 A mesoestrutura se compõe dos aparelhos de apoios, pilares e vigas de contraventamento desses pilares. Os aparelhos de apoio se encarregam de receber as cargas de peso próprio e de tráfego provenientes do tabuleiro e transmitir para o topo dos pilares. Estes, por sua vez, se encarregam de transmiti-las para as fundações. A infra-estrutura se compõe das fundações que podem ser em sapatas, blocos, estaqueamentos, caixões, etc. Transmitem todas as cargas ao terreno. Figura 1.1 – Partes integrantes de uma ponte. Há obras complementares, elementos accessórios, que não se enquadram na classificação anterior, mas que contribuem para integrar a ponte como um todo. Entre eles podem ser citados: a) Encontros - Tem por função receber os empuxos dos aterros de acesso e impedir que transmitam aos outros pilares da ponte. São muito utilizados quando há o perigo de destruição da saia do aterro em virtude da erosão provocada pelas cheias. 3 Figura 1.2 – Encontro na extremidade da ponte. b) Placas de transição - Tem por função acompanhar o assentamento do terreno quando este for muito recalcável. A declividade da placa não pode ultrapassar a 1:200. Uma extremidade da placa se apóia num console curto linear ao longo da transversina extrema e a outra extremidade se apóia em uma sapata corrida inserida no terrapleno. Figura 1.3- Placa de transição na extremidade da ponte. 4 c)Dolphins - São verdadeiras cortinas de estacas-prancha ou equivalente destinadas a dar proteção aos pilares quanto aos choques de embarcações. Figura 1.4 – Presença dos dolphins para proteção das fundações. 5 1.3 - ELEMENTOS QUE COMPÕEM A SUPERESTRUTURA Os principais elementos que compõem a superestrutura de uma ponte cuja seção transversal é em forma de caixão celular são as vigas principais, as lajes superior e inferior, os guarda-rodas, os guarda-corpos, a pavimentação, as transversinas extremas e de apoio. Figura 1.5 – Seção transversal da superestrutura em caixão celular. Figura 1.6 – Corte longitudinal da superestrutura em caixão celular. 6 Este esquema é empregado quando há restrições na altura da construção ou estética da obra. Quando a seção transversal à da forma de duas vigas principais sem a laje inferior, a rigidez à torção do conjunto é menor. Faz-se necessária a introdução de transversinas intermediárias para ajuda no combate de tal efeito. É uma seção transversal aplicável quando não há restrição à altura de construção ou a estética da obra. Figura 1.7- Seção transversal da superestrutura em duas vigas principais. Figura 1.8 – Corte longitudinal da superestrutura em duas vigas principais. 7 1.4 - SEÇOES TRANSVERSAIS USUAIS 1.4.1 - Seção transversal com vigas principais em concreto protendido As vigas principais são pré-fabricadas em canteiro de serviço e assentadas sobre os pilares. As transversinas e a laje superior podem ser moldadas no local. Figura 1.9 – Vigas principais em concreto protendido. Modernamente, empregam-se lajes pré-fabricadas neste tipo de seção transversal. 8 1.4.2 - Caixão de células múltiplas com almas verticais e inclinadas sem a laje em balanço Este esquema de seção transversal possui uma imensa rigidez à torção e pode ser adotado quando for exigida uma imposição de natureza estática sendo excelente para centros urbanos. Figura 1.10 – Superestrutura em células múltiplas. 1.4.3 - Tabuleiro de vigas múltiplas Este esquema é adotado em obras que exigem um maior número de faixas de tráfego e, consequentemente, maior largura do tabuleiro. As vigas principais podem ser em concreto armado ou protendido. 9 Figura 1.11 – Vigas múltiplas compondo a superestrutura. 1.4.4 - Seção transversal em caixão celular com bielas comprimidas As bielas em estruturas metálicas dispostas de forma discretizada trabalham à compressão e permitem uma maior largura da seção transversal, possibilitando maior número de faixas de tráfego. Figura 1.12 – Caixão celular composto de bielas comprimidas espaçadas. 10 1.4.5 - Viaduto de vigas principais invertidas Este esquema é próprio para vias elevadas em centros urbanos e possui um tratamento acústico com materiais que absorvem o som. A estética desfavorável pode ser compensada com um revestimento externo das vigas. Figura 1.13 – Superestrutura em vigas principais invertidas. 1.4.6 - Seção transversal usual para ferrovias Há a necessidade de se conter a brita lastro através de um guarda corpo rígido e contínuo. Figura 1.14 – Superestrutura com duas vigas principais. 11 Neste esquema de seção transversal podem ser adotados passeios em ambos os lados acompanhados de guarda-corpos ou então passagem de serviço em ambos os lados. 1.4.7 - Caixões celulares ligados pelas lajes em balanço É um sistema de grande rigidez empregado para grande número de faixas de tráfego. Figura 1.15 – Caixões celulares ligados pelas lajes em balanço. 1.4.8 - Pontes em laje As pontes em laje apresentam a seção transversal desprovida de qualquer vigamento e podem ter um esquema estrutural simplesmente apoiado ou contínuo. Figura 1.16 – Ponte em laje. 12 Quando a laje é simplesmente apoiada, em concreto armado, o vão pode se situar na faixa de 12 m. Em se tratando de um esquema estrutural contínuo, o vão pode se situar no limite de 20m. Figura 1.17 – Ponte em laje. O sistema estrutural com seção transversal em laje apresenta algumas vantagens como a pequena altura de construção ( H = L/20 ), a boa resistência à torção, a supressão de estribos e a simplicidade e rapidez de execução. É próprio para pequenas cargas e também é dotado de boa natureza estética. O único inconveniente é o cálculo estrutural de lajes contínuas que, embora contornado por hipóteses simplificadoras, elas podem apresentar deformações não previstas no projeto. Quando o peso próprio se torna muito excessivo, comum se adotar a solução de seção transversal em laje alveolada, executada normalmente com formas tubulares. Pode ser executada também com formas que formam verdadeiras células dentro da seção transversal conforme indicado na Figura 1.18. 13 Figura 1.18 – Ponte em laje alveolada. 1.4.9 - Duas seções em caixões individuais ligados pelas lajes em balanço e transversina de apoioNeste esquema aparece uma transversina de apoio que liga as duas seções em caixão e proporciona um maior enrijecimento do conjunto. Figura 1.19 – Caixões celulares ligados pelas lajes em balanço. Os pilares únicos para cada caixão são soluções ótimas para centros urbanos. 14 1.4.10 - Alguns valores referenciais para limitação de dimensões de caixões celulares A esbeltez de um caixão celular é definida pela relação entre o comprimento L e a altura da seção transversal. O comprimento L é a distancia entre os pontos de momentos nulos para carga permanente. λ=L/H (1.1) Uma seção em caixão celular deve possuir a relação de esbeltez limitada a 40 (limite superior). A espessura das paredes da alma sem os cabos de protensão deve estar limitada a 250 mm inferiormente. Quando se levam em conta os cabos de protensão, este limite é definido por 200 mm mais o somatório das bainhas em mm. A espessura mínima da laje inferior do caixão sem mísulas é de 150 mm ou L/30. Quando a esbeltez do caixão celular está compreendida entre 30 e 40, a laje inferior na região comprimida deve ser enrijecida com algumas nervuras transversais a fim de se combater um pouco a plastificação do concreto. Podem ser colocadas nervuras espaçadas do mesmo valor que o comprimento transversal da laje inferior medido entre as faces internas das vigas. 15 Figura 1.20 – Seção transversal em caixão celular. 1.5 - CLASSIFICAÇÃO DAS PONTES As pontes podem ser classificadas quanto a sua finalidade, seu material empregado e o tipo estrutural. a) Classificação quanto à sua finalidade. - rodoviárias - ferroviárias - passarelas - utilitárias (assentamento de canalizações) b) Classificação quanto ao seu material empregado. - pontes em madeira - pontes em estruturas metálicas - pontes em concreto armado - pontes em concreto protendido - pontes em alvenaria de pedra 16 c) Classificação quanto ao tipo estrutural empregado. - pontes em laje - pontes em vigas retas de alma cheia - pontes em pórtico - pontes em treliça - pontes em arco - pontes pênseis - pontes estaladas d) Classificação quanto aos processos executivos - pontes concretadas no local com escoramentos - pontes parcialmente pré-moldadas - pontes totalmente pré-moldadas - pontes executadas em balanços sucessivos com concretagem "in loco". - pontes executadas em balanço sucessivos com elementos pré-moldados ou aduelas. e) Classificação quanto à natureza do sistema estrutural - pontes de sistema estrutural isostático - pontes de sistema estrutural hiperestático f) Classificação quanto ao desenvolvimento do eixo - pontes em eixo retilíneo - pontes em curva 17 g) Classificação quanto ao meio em que estão inseridas - pontes marítimas - pontes fluviais - pontes lacustres - elevados ou viadutos Ha, entretanto, inúmeras outras classificações vinculadas a outros critérios. Estas, aqui apresentadas, são as mais usuais. 1.6 - FATORES QUE INFLUENCIAM NA ESCOLHA DAS SEÇÕES TRANSVERSAIS USUAIS PARA AS PONTES São inúmeros os fatores. Os principais que possuem maior destaque são: a) Tamanho do vão em correlação com o sistema estrutural que deve ser adotado. Há sistemas estruturais que permitem que se vençam vãos bem maiores que outros. Segundo BERNARDO (1980, p. 19) uma ponte pênsil de cabos portantes parabólicos pode apresentar um vão crítico da ordem de 4.000 m (embora o maior vão realizado tenha sido de 1280 m na obra Golden Gate, USA) ao passo que uma ponte dotada de vigas metálicas contínuas possa apresentar um vão crítico da ordem de 1.100 m (embora o maior vão realizado tenha sido de 564 m na obra em Quebec, Canadá). b) Altura estrutural disponível limitada em função dos gabaritos impostos pelos órgãos superiores. 18 c) Processo de construção, meios disponíveis, equipamentos e materiais empregados. Todos estes fatores têm íntima relação com a topografia da região, a disponibilidade dos materiais e a economia do processo construtivo escolhido, seja a obra em balanços sucessivos ou concretagem com escoramentos. d) Relação entre as cargas móveis e o peso próprio. Esta relação tem interligação com a finalidade para a qual a obra vai ser executada. Uma ponte ferroviária apresenta cargas móveis bem maiores do que as rodoviárias. Isto implica diretamente na escolha de vigas em concreto protendido bem como uma seção transversal adequada. e) Número de faixas de tráfego que se deseja ter sem dúvida, o fator preponderante na escolha da seção transversal de pontes rodoviárias. Número de faixas de tráfego maiores implica na escolha de seções em vigas múltiplas ou caixões de várias células podendo até mesmo ser interligados pelas lajes em balanço. Há inúmeros outros fatores que influenciam na escolha da seção transversal. No que se refere a uma seção em caixão celular, pode-se dizer que ela é muito utilizada em vigas contínuas em concreto protendido onde as zonas de tração e compressão do concreto apresentem considerável largura e a espessura das lajes contribui para a absorção dos momentos das vigas principais. Além do mais, a seção em caixão permite uma variação da sua largura graças ao engastamento das lajes em balanço com as vigas principais. 19 O conjunto como um todo apresenta uma excelente rigidez à torção e permite ser empregado em pontes curvas e em viadutos em centros urbanos por razões estéticas. No caso de pontes pênseis e estaiadas, a seção em caixão celular é imprescindível e a sua rigidez à torção é essencial. 1.7 - ELEMENTOS QUE COMPÕEM A MESOESTRUTURA 1.7.1 - Aparelhos de apoio Há determinadas exigências de funcionamento para os aparelhos de apoio. Dentre elas, podem ser citadas: a) Os aparelhos de apoio devem transmitir aos pilares e fundações as cargas verticais provenientes do peso próprio e carregamento móvel da superestrutura. b) Devem transmitir aos pilares e fundações as cargas horizontais em forma de ações longitudinais provocadas pelos esforços de coação (protensão, variação de temperatura e retração do concreto), esforços de frenagem conjugado com a aceleração, empuxos de terra na cortina e nos pilares. c) Devem transmitir aos pilares e fundações as cargas horizontais em forma de ações transversais provocadas pela ação do vento e ação dinâmica das águas sobre os pilares. d) Devem possibilitar deformações longitudinais e transversais tanto lineares como angulares. 20 São levados em consideração o tipo de material empregado nos aparelhos de apoio e o sistema estrutural da ponte. 1.7.2 - Classificação dos aparelhos de apoio Os aparelhos de apoio podem ser classificados quanto ao material empregado e quanto à mobilidade da articulação. a) Classificação quanto ao material empregado. - Aparelhos metálicos - placas de chumbo - rolos metálicos - esferas metálicas - Aparelhos de concreto - articulação Freyssinet - ligação monolítica - Aparelhos de borracha - neoprene b) Classificação quanto à mobilidade da articulação. b1 - Apoio articulado linear - Só permite rotações em torno de umalinha de apoio. Como exemplo, cita-se a articulação Freyssinet. Os pinos de ancoragem não permitem a transmissão das solicitações longitudinais de um vão para o outro. 21 Figura 1.21 – Articulação Freyssinet. b2 - Apoio articulado linear com rotações em todas as direções - permite rotações em todas as direções. Como exemplo pode se citado o aparelho de neoprene. Figura 1.22 – Aparelho de apoio em neoprene. São permitidas todas as rotações em todas as direções tanto longitudinais como transversais. São permitidos deslocamentos lineares em ambas as direções. 22 Em outro exemplo pode-se citar o aparelho esférico metálico. As esferas metálicas permitem só rotações em todas as direções. Da mesma forma os aparelhos pontuais em forma de semi-esfera metálica admitem rotações em todas as direções. Figura 1.23- Aparelhos esféricos metálicos. Figura 1.24 – Aparelho em meia esfera metálica. 23 b3 - Apoio linear com mobilidade transversal à linha de apoio - Permitem deslocamentos longitudinais à superestrutura. Figura 1.25 – Aparelhos de apoio em rolos metálicos. Como exemplo são citados os rolos metálicos. São sempre colocados entre placas metálicas permitindo deslocamentos longitudinais à superestrutura. São, em essência, apoios do primeiro gênero e empregados nos casos em que os esforços parasitais são grandes e não podem ser transmitidos integralmente para o topo dos pilares para que não ocorra a instabilidade estrutural. 24 b4 - Ligação rígida monolítica - Não constitui um aparelho de apoio propriamente dito, mas sim, uma junção total da longarina com o pilar. Figura 1.26 – Ligação monolítica da viga com o pilar. Esta ligação é empregada em pontilhões de pequenos vãos e pilares curtos onde os esforços horizontais parasitais não tenham relevância, face à rigidez do conjunto. 1.7.3 - Pilares Os pilares de pontes abrangem as soluções de pilar único ou de pilares independentes de acordo com o tipo de superestrutura e altura adotada para os mesmos. 25 1.7.3.1 - Pilares parede Os pilares parede estendem-se por toda a largura da superestrutura. São preferidos em pontes fluviais por razões hidráulicas em virtude das fortes correntezas e inundações. Figura 1.27 – Pilares parede em alvenaria de pedra. 26 Seções transversais usuais para os pilares paredes. Figura 1.28- Seções transversais dos pilares parede. As faces externas inclinadas são próprias para diminuir o efeito da erosão superficial. Tipos construtivos Os tipos construtivos mais comuns são os pilares espessos em alvenaria de pedra, os pilares maciços armados e os pilares vazados que devem possuir armadura tanto na direção vertical (combate do efeito de flambagem, vento e esforços horizontais) como na horizontal (fissuras). 27 1.7.3.2 - Pilares comuns Sendo dispostos de maneira independente (com ou sem vigas de contraventamento), possibilitam na sua construção um menor consumo de material, uma melhor visibilidade para a navegação e, consequentemente, melhores possibilidades para cruzamentos esconsos. Figura 1.29 – Pilares comuns em mesoestrutura de pontes. A razão principal da escolha de pilares comuns é de natureza estática. Torna todo o conjunto da super e mesoestrutura mais harmonioso e equilibrado, principalmente, se a obra estiver localizada dentro ou nas proximidades de centros urbanos. 28 Seções transversais usuais para os pilares comuns Figura 1.30 – Seções transversais dos pilares comuns. Condições de apoio para os pilares comuns. Figura 1.31 – Tipos de vínculos empregados nas extremidades dos pilares. 29 1.8 - ESQUEMAS ESTRUTURAIS MAIS COMUNS 1.8.1 - Vigas isostáticas biapoiadas O tabuleiro pode descarregar diretamente sobre os encontros e a sua seção transversal pode ser variável. Figura 1.32 – Viga biapoiada. 1.8.2 - Vigas isostáticas biapoiadas com balanço Apresentam a vantagem de fazer a redução dos momentos das cargas permanentes no meio do vão em virtude da introdução dos balanços. Inércia constante Figura 1.33 - Viga biapoiada com balanço. 30 Inércia variável com mísulas nos balanços e vão central. Figura 1.34 - Viga biapoiada com inércias variáveis no vão e nos balanços. Inércia variável com mísulas apenas nos balanços. Figura 1.35 - Viga biapoiada com inércias variáveis nos balanços. O máximo vão L que essas pontes podem apresentar é de 20 m e o máximo comprimento do balanço é de 5 m. 31 1.8.2.1 - Efeitos das cargas permanentes e móveis entre o sistema biapoiado sem balanço e com balanço para um mesmo vão e carregamento O trem-tipo age na posição mais desfavorável da linha de influência igualmente nos dois sistemas. - Cargas permanentes Figura 1.36 – Vigas biapoiadas sob cargas permanentes. - Cargas móveis Figura 1.37 - Vigas biapoiadas sob cargas móveis. Conclusão: Em seções dentro do vão, não há diferença de solicitações entre um sistema e outro. 32 1.8.3 - Sistema estrutural isostático tipo Gerber O vigamento tipo Gerber é um dispositivo estrutural de se manter as propriedades de uma viga contínua utilizando-se um sistema estrutural isostático, que se comporta de maneira insensível aos recalques dos apoios. Figura 1.38 - Vigas biapoiadas com dentes Gerber internos no vão central. Não são empregados para pontes ferroviárias. Neste sistema o risco de instabilidade estrutural é menor na presença dos recalques pequenos dos apoios. 33 Figura 1.39 - Vigas biapoiadas com dentes Gerber externos ao vão central. A introdução das rótulas seja no vão central ou nos vãos intermediários faz com que seja impedida a transmissão dos esforços parasitais como retração do concreto e variação de temperatura de um vão para o outro. Elas são introduzidas, geralmente, nos pontos da viga onde os momentos fletores provenientes da carga permanente se anulariam, caso esta viga fosse contínua. Apresentando insensibilidade aos recalques dos apoios não há formação de rótulas plásticas nem momentos de plastificação excessiva. Este esquema possibilita que a obra possa ser executada simultaneamente em vários trechos, ficando para o final, a colocação do vigamento central o que constitui uma grande economia no fator tempo. 34 As articulações são pontos delicados do vigamento e devem ser executados em obra com muito cuidado e obediência a todos os detalhes do projeto. Por serem pontos de pequena rigidez, são focos de grandes esforços dinâmicos passíveis de acarretarem o aparecimento de flechas e deformações angulares excessiva com o passar do tempo. Devem ser de tempos em tempos recuperados e mantidos, pois as águas ácidas das chuvas corroem as armaduras e danificam seu cobrimento. No que diz respeito aos detalhes do projeto, observa-se que os dentes Gerber possuem grande densidade de armação, o que cria grande dificuldade de execução das articulações. 1.8.3.1 - Efeitos das cargas permanentes e móveisentre o sistema estrutural Gerber e o de vigas contínuas para um mesmo vão e carregamento uniforme As rótulas são dispostas em pontos onde o momento fletor se anularia caso o sistema fosse o de vigas contínuas, para um mesmo carregamento uniformemente distribuído. 35 a – Sob efeito de cargas permanentes. Figura 1.40 – Viga contínua em sistema hiperestático. Figura 1.41 - Viga contínua em sistema isostático com dentes Gerber. Conclusão: São semelhantes os valores de momentos fletores entre o sistema contínuo e o sistema Gerber para um mesmo carregamento uniformemente distribuído. b – Sob efeito de cargas móveis. Seja, por exemplo, a linha de influência de momento em B no sistema estrutural de vigas contínuas. Seja também a linha de influência de momento em B no sistema estrutural tipo Gerber. 36 Figura 1.42 - Viga contínua em sistema hiperestático. Figura 1.43 - Viga contínua em sistema isostático com dentes Gerber. Conclusão: Os dois sistemas apresentam condições totalmente diferentes para as cargas moveis. 37 1.8.4 - Sistema estrutural hiperestático em vigas continuas 1.8.4.1- Três vãos de inércia constante - O comprimento total do vão central não pode ultrapassar o valor de 30 m. Figura 1.44 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia constante. 1.8.4.2 - Três vãos de inércia variável – O peso próprio diminui. Figura 1.45 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia variável. 38 1.8.4.3 - Quatro vãos de momentos de inércias constantes Figura 1.46 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia constante. 1.8.4.4 - Quatro vãos de momentos de inércias variáveis Figura 1.47 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia variável. 39 1.8.4.5 - Dois vãos de momentos de inércias constantes Figura 1.48 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia constante. 1.8.4.6 - Dois vãos de momentos de inércias variáveis Figura 1.49 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia variável. 40 Os sistemas estruturais em vigas continuas são os de mais larga aplicação no mundo inteiro devido às grandes vantagens de ordem estética e funcional que eles possibilitam. São normalmente empregados em vigas de concreto armado ou protendido ou material metálico podendo ser de inércia constante ou variável de acordo com as ilustrações anteriores. Para vigas de concreto armado de inércia constante são admitidos vãos máximos de 30 m; isto porque a ponte não se agüentaria com o seu peso próprio e ruiria para vãos maiores. Fazendo-se uma variação de inércia das vigas principais consegue-se uma distribuição mais conveniente dos esforços solicitantes principalmente com a redução do peso próprio e as armaduras ficam mais convenientemente distribuídas. Ainda assim o limite máximo continua sendo de 30 m. Se as vigas contínuas forem em concreto protendido com ou sem variação de inércia, são admitidos vãos maiores de 30 m. A maior ponte de viga reta e continua em concreto protendido do mundo é a de Brisbane, na Austrália, com 260 m de vão. Se a viga continua for em aço com variação de inércia, o recorde mundial continua sendo a ponte Rio-Niterói com o vão central de 300 m. Muitas vezes a continuidade em número grande de vãos se torna impraticável em virtude das solicitações que surgem no topo dos pilares devidos aos esforços parasitais como retração do concreto, deformação lenta, variação de temperatura e esforços de protensão. Estes esforços se tornam gigantescos em virtude da continuidade dos vãos. Conjugados com os esforços distribuídos do vento e da ação dinâmica das águas podem levar 41 os pilares à instabilidade elástica. Faz-se necessária a quebra da continuidade com a introdução de juntas de dilatação em algum ponto da viga, de preferência, sobre os apoios. Figura 1.50 - Vigas em sistemas hiperestáticos com inércias constantes e juntas de dilatação. Figura 1.51 – Detalhe da junta de dilatação. Os esforços longitudinais e transversais ficam, dessa forma, atenuados retirando o risco da flambagem elástica dos pilares. Em recomendável que estabeleça a continuidade em, no máximo, até 4 vãos, pois, além disso, só dificuldades de ordem executiva, econômica, de cálculo, de detalhamento de projeto aparecem para inviabilizar todas as etapas do empreendimento. 42 Quanto à fixação das alturas das vigas principais, são estabelecidas as seguintes relações entre os vãos L e as alturas H de apoio e de meio de vão para as pontes rodoviárias. a - vigas principais de momentos de inércias constantes Figura 1.52 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia constante. a1 – Para seção transversal em duas vigas principais Figura 1.53 – Seção transversal em duas vigas principais. - concreto armado - Hv = Ha = L/10 a L/12 - concreto protendido - Hv = Ha = L/15 a L/17 43 a2 – Para seção transversal em caixão celular Figura 1.54 – Seção transversal em caixão. - concreto armado - Hv = Ha = L/20 a L/25 - concreto protendido - Hv = Ha =L/25 a L/30 b- Vigas principais de momentos de inércias variáveis Figura 1.55 - Viga contínua em sistema hiperestático com inércia variável. 44 a1 – Para seção transversal em duas vigas principais Figura 1.56 – Seções transversais em duas vigas principais e caixão celular. - concreto armado - Hv = L/15 a L/25 Ha = L/12 a L/18 - concreto protendido - Hv = L/30 a L/40 Ha = L/15 a L/20 a2 – Para seção transversal em duas vigas principais Figura 1.56 – Seções transversais em duas vigas principais e caixão celular - concreto armado - Hv = L/25 a L/30 Ha = L/15 a L/20 - concreto protendido - Hv = L/35 a L/40 Ha = L/20 a L/25 Quando se trata de uma ponte ferroviária, os valores acima (de preferência para inércia constante) são acrescidos em cerca de 60%. 45 1.8.5 - Pontes em arco superior Os arcos são particularmente indicados para transpor vales e terrenos rochosos em regiões montanhosas que permitam bom assentamento para as fundações e encontros. As pontes em arco superior são mais empregadas em terrenos planos. Os arcos são projetados de forma isolada, porém, entre eles deve haver um sistema de contraventamento para evitar as inclinações laterais e garantir a estabilidade do conjunto. Os empuxos são transmitidos do tabuleiro para o arco através dos tirantes ou pendurais que trabalham significativamente às tensões de tração. Este sistema estrutural também é denominado arco atirantado ou viga Langer. Figura 1.57 – Ponte em arco superior. 46 Foto 1.01 – Ponte em arco superior Foto 1.02 – Ponte em arco superior. 47 Foto 1.03 – Ponte em arco superior. Foto 1.04 – Ponte sobre o rio Tocantins no Pará. 48 1.8.6 - Pontes em arco intermediário Neste sistema os arcos são engastados em blocos de fundação de grande rigidez e os empuxos do tabuleiro são absorvidos pelos tirantes que trabalham à tração e pelos montantes que trabalham à compressão,geralmente situados próximos às regiões de acesso. Quando o sistema é de arco metálico em treliça, pode-se alcançar o vão crítico de 2.000 m. O maior vão já realizado até a presente data é o da ponte do porto da baía de Sidney, Austrália, inaugurado em 1932, com 509 m. Observa-se que, tanto neste sistema como no sistema de arco inferior, ocorrem grandes esforços horizontais na base do arco, o que torna imprescindível a existência de um excelente terreno de fundação. É observado também que a construção da obra, em se tratando de concreto armado, deve obedecer a um plano de concretagem bem definido a fim de que possam ser reduzidos os efeitos parasitais de retração e deformação lenta do concreto. Figura 1.58 - Ponte em arco intermediário. 49 Foto 1.05 – Ponte em arco intermediário. Foto 1.06 – Ponte em arco intermediário. 50 1.8.7 - Pontes em arco inferior Em se tratando de materiais maciços, este o sistema estrutural mais antigo do mundo, pois, constituiu, no passado, a única solução para vencer grandes vãos, principalmente em vales profundos e em regiões montanhosas. A princípio, eram utilizados os arcos de tímpano cheio em alvenaria de pedra. Modernamente, os tímpanos são vazados e os empuxos são absorvidos através dos montantes que trabalham à compressão. Este é o sistema estrutural da maior ponte em concreto armado do mundo, na Iugoslávia, onde é vencido um vão de 390 m. Tanto o arco como o tabuleiro são em concreto armado. A ponte Brasil-Paraguai apresenta um vão de 320 m. Figura 1.59 - Ponte em arco inferior. Em se tratando de um arco de tímpano cheio, pode ser adotada a nomenclatura da Figura 1.60 a seguir. 51 Figura 1.60 – Nomenclatura da seção transversal da ponte em arco. As vigas principais que acompanham a forma do arco se denominam tímpanos e o arco propriamente dito é disposto em forma de nervuras com contraventamentos laterais para possibilitar um maior enrijecimento. A forma de um arco tem sempre o objetivo primordial de reduzir ao máximo os momentos fletores na superestrutura e a sua nervura é sempre conformada de modo a receber a carga permanente sem a presença deles. Segundo LEONHARDT (1979, p. 30), o arco com sua forma curva desenvolvida segundo a linha de pressões, é o sistema estrutural apropriado para materiais de construção maciços como alvenaria de pedras, o que possibilita uma durabilidade ilimitada, não necessitando de juntas de dilatação. Se o material utilizado for o concreto armado, é preciso levar em consideração as deformações provenientes da retração, variação de temperatura e deformação lenta, tornando necessária a existência de juntas de dilatação. 52 O sistema estrutural do arco se torna, então, isostático de forma triarticulados ou então, hiperestáticos de forma biarticulados ou biengastados. São raros os exemplos de arcos biarticulados. Encontram-se mais exemplos de arcos triarticulados e biengastados. Os arcos triarticulados são uma estrutura isostática, otimamente empregada nos casos de esforços parasitais elevados e ocorrência de recalques nos apoios. Os arcos biengastados, que possuem grau de hiperestaticidade igual a 3, são usados preferencialmente quando se dispõe de condições ideais de engastamento no terreno de fundação, podendo se apoiar diretamente em rocha ou um encontro dotado de grande rigidez. Figura 1.61 – Arco de tímpano cheio. Figura 1.62 – Arco de tímpano cheio. Estas obras apresentam como maior vantagem a predominância dos esforços de compressão ao longo da estrutura principal. O eixo do arco deve ser estabelecido de modo que se aproxime ao máximo possível da configuração do eixo de pressões. Para a ação da carga permanente não há dificuldade de se fazer o arco coincidir com a linha de pressões, mas, 53 para as cargas móveis, o estabelecimento do eixo ideal se torna mais complexo. Figura 1.63 - Arco de tímpano cheio. São apresentadas a seguir algumas fotos de pontes em arco inferior. Foto 1.07 - Ponte em arco inferior. 54 Foto 1.08 - Ponte em arco inferior. Foto 1.09 - Ponte em arco inferior. 55 Foto 1.10 - Ponte em arco inferior. 56 Foto 1.11 - Ponte em arco inferior. Foto 1.12 - Ponte em arco inferior. 57 Foto 1.13 - Ponte em arco inferior. Foto 1.14 - Ponte em arco inferior. 58 1.8.8 - Pontes pênseis As pontes pênseis são um sistema estrutural onde o tabuleiro contínuo é sustentado por vários cabos metálicos atirantados ligados a dois cabos maiores principais denominados cabos portantes parabólicos, que por sua vez, se interligam às torres de sustentação. A transferência das cargas mais importantes às torres e às ancoragens em forma de pendurais é feita simplesmente por tração. O vigamento metálico do tabuleiro pode ser em treliça ou em caixão celular e deve possuir elevada rigidez à torção. Os cabos portantes parabólicos se ancoram profundamente no encontro ou maciço de concreto e não possuem praticamente nenhuma rigidez à flexão, o que leva o conjunto ter um comportamento de instabilidade aerodinâmica, principalmente perto de aeroportos. Figura 1.64 – Ponte pênsil. 59 As pontes pênseis são economicamente executáveis para vãos de 600 a 800 m. Até há bem pouco tempo, o maior recorde de vão do mundo era a ponte Verrazano Narrows na cidade de Nova York, EUA, de 1298 m de vão. Em 1981 este recorde foi quebrado pela ponte de Humber, Inglaterra, com 1410 m de vão. O sistema estrutural em ponte pênsil, quando fica sujeito a cargas exageradas de vento, apresenta movimentos vibratórios e oscilatórios do tabuleiro que torna o tráfego desconfortável ou até mesmo perigoso. Dessa forma, é exigido que o tabuleiro seja projetado com grande rigidez à torção para que todos esses efeitos aerodinâmicos sejam minimizados. O grande colapso devido à instabilidade aerodinâmica ocorreu em 1940 na ponte Tacoma Narrow, EUA. No futuro, as pontes pênseis poderão atingir até 4000 m de vão. Há em estudo uma ponte projetada para o estreito de Messina com 3000 m de vão. Não foi executada por ter sido considerada antieconômica. O estreito de Messina se localiza na ilha da Sicília, ao sul da Itália. 60 Foto 1.15 – Ponte pênsil. Foto 1.16 – Ponte pênsil. 61 Foto 1.17 – Ponte pênsil. 62 Foto 1.18 – Ponte pênsil. Foto 1.19 – Ponte pênsil. 63 1.8.9 - Pontes estaiadas São um sistema estrutural que consiste de um vigamento metálico de grande rigidez à torção que se apóia nos encontros e nas torres de ancoragem e de um sistema de cabos retos esticados denominados estais que partem dos acessos do vigamento, passam sobre uma ou duas torres de ancoragem e dirigem-se ao vão principal aonde vão ancorá-lo e sustentá- lo. Quanto à disposição dos estais, as pontes estaiadas podem ser classificadas em harpa, leque e leque modificado. Figura 1.65 – Ponte estaiada em harpa. Figura 1.66 - Ponte estaiada em leque. Figura 1.67 - Ponte estaiada em leque modificado. 64 Quanto à forma das torres de ancoragem, estas podem ser classificadas em:Torres convergentes Figura 1.68 – Torres de sustentação dos cabos portantes ou estais. São utilizados dois planos de cabos retos e esticados e a suspensão é feita pelos bordos do tabuleiro por fora dos guarda-corpos. 65 Torres em quadro Figura 1.69 - Torres de sustentação dos cabos portantes ou estais. São utilizados dois planos de cabos retos e a suspensão é feita pelos bordos do tabuleiro. Torre individual Figura 1.70 - Torres de sustentação dos estais. Os cabos retos são dispostos em um único plano e suspensão no eixo do tabuleiro exigindo uma seção transversal celular de grande rigidez à torção. 66 Quanto ao mecanismo de suspensão pelos bordos do tabuleiro em concreto armado ou protendido, observa-se que os estais são ancorados nele produzindo forças de protensão. Figura 1.71 – Tabuleiro em caixão suspenso por cabos. Figura 1.72 – Forma de penetração dos cabos estaiados. A superfície do tabuleiro sempre deve participar na absorção dessas forças, ficando ele sob certas tensões apresentando um comportamento tal, como se fosse protendido. 67 Foto 1.20 – Ponte estaiada em harpa. Foto 1.21 – Ponte estaiada em harpa. 68 Foto 1.22 – Ponte estaiada em leque. Foto 1.23 – Ponte estaiada em leque modificado. 69 Foto 1.24 – Ponte estaiada em leque modificado. Foto 1.25 – Ponte estaiada em leque modificado. 70 Foto 1.26 – Ponte estaiada em leque modificado. 71 O Quadro 1.1 abaixo fornece uma comparação entre pontes pênseis e pontes estaladas. Pontes pênseis Pontes estaiadas • Possuem os pendurais me- * Possuem os pendurais mais nos rígidos. rígidos. • Apresentam rigidez à fle- * Apresentam rigidez à flexão xão das vigas maior. das vigas menor. • Apresentam menos eficiên- * Apresentam mais eficiência cia sob o efeito de sob o efeito de cargas móveis. cargas móveis. • Apresentam instabilidade * Não apresentam instabi- aerodinâmica (comportamen- lidade aerodinâmica (com- to não-linear dos cabos portamento não-linear dos parabólicos). cabos retos). • Não é permitido o empre- * O tabuleiro pode ser em go de tabuleiro em con- pregado em concreto ar- creto armado. mado ou pretendido. • A rigidez do tabuleiro * A rigidez do tabuleiro pode ser maior. menor, exceto em casos de um único plano de suspensão. • Apresenta uma flecha máxi- * Apresenta uma flecha má- ma maior. xima menor. • Poderão no futuro atin- * Poderão atingir no futuro gir vãos de até 4000 m. vãos de até 3000 m. • O recorde mundial é de * o recorde mundial é de 1410 m. É a ponte de 320 m.São as pontes de Humber Bridge, Inglaterra. Brotonne, França e a pon- te Knie em Dusseldorf, Alemanha 72 72 1.8.10 - Pontes em quadro As pontes em quadro apresentam as longarinas ou vigas principais ligadas monoliticamente aos pilares dispensando o emprego de aparelhos de apoio. É um esquema empregado quando o vão a se vencer é pequeno e não haja esforços parasitais de grande magnitude garantindo um comportamento estrutural do pilar isento da flambagem elástica. Quando a ponte atravessa um vale dotado de encostas íngremes, é permitido que os pilares do pórtico sejam dispostos de forma inclinada. Figura 1.73 – Ponte em quadro. 73 1.8.11 - Pontes em treliça A estrutura principal é constituída em forma de treliça e o tabuleiro com a pista de rolamento pode figurar ou na parte superior ou inferior da treliça. As treliças são vigas constituídas em hastes ligadas pelas extremidades formando figuras geométricas indeslocáveis sujeitas às solicitações de tração ou compressão e aparafusadas nos nós. As maiores pontes em treliça são em estruturas metálicas que são econômicas para vãos da ordem de 100 a 200 m e, no futuro, poderão atingir vãos de até 1700 m. O maior vão do mundo é a Quebec Railway situada sobre o rio St. Lawrence, no Canadá. Figura 1.74 – Ponte em treliça com tabuleiro superior. Figura 1.75 – Ponte em treliça com tabuleiro inferior. 74 Foto 1.1 – Ponte ferroviária em treliça. Foto 1.2 – Passarela metálica em treliça. 75 1.9 - ELEMENTOS QUE COMPÕEM A INFRA-ESTRUTURA Os elementos que compõem a infra-estrutura de uma ponte são as fundações propriamente ditas que podem ser classificadas em fundações superficiais e fundações profundas. 1.9.1 - Fundações superficiais ou diretas. As fundações superficiais são aquelas implantadas a pequenas profundidades quando o solo apresenta uma boa capacidade resistente às cargas provenientes da supra e mesoestrutura. As fundações diretas podem ser classificadas em três tipos: blocos, sapatas e radiers. 1.9.1.1 - Blocos Os blocos de fundação são geralmente empregados em pequenos pontilhões, recomendáveis assim para carregamentos provenientes da superestrutura não superiores a 500 kN e taxas admissíveis do terreno superiores a 2 kgf/cm2 . São construídos com grandes alturas e dispensam armaduras na base inferior. Podem ser projetados em alvenaria de pedra ou concreto ciclópico. 76 Figura 1.76 - Blocos de fundação de ponte em planta. Figura 1.77 – Blocos de fundações de ponte em elevação. Ao serem projetados em concreto armado, é comum que se coloque uma pequena malha na face inferior, apenas como armadura construtiva. 77 1.9.1.2 - Sapatas As sapatas são empregadas quando as características mecânicas e de composição do solo permitem o projeto de uma fundação superficial compatível com as cargas atuantes do projeto estrutural. O terreno deve ser de boa qualidade com capacidade de carga resistente superior a 2 kgf/cm2 As sapatas podem se apresentar nas formas quadradas, retangulares ou circulares. Figura 1.78 – Tipos de geometria de sapatas de fundações de pontes. 78 Quando o projeto exige escavações onde as sapatas se assentam em solos mais profundos com capacidade de carga compatível com as solicitações externas, tem-se o caso de fundações diretas profundas, geralmente empregadas em projetos de pontes e viadutos. Ocorrem sempre as exigências de trabalhos de contenção, arrimo e esgotamento. Os casos de fundações diretas profundas tem um limite máximo de escavação até a cota de 12 m e a tensão admissível do terreno não pode ser inferior a 5 kgf/cm2 Nestes casos, as sapatas podem ou não serem pretendidas. De acordo com o valor da tangente do ângulo β que define o grau de rigidez/flexibilidade de uma sapata, pode-se classificá-la em rígida, média e flexível. Setgβ > 1,5 a sapata tem um tratamento de um bloco rígido sendo, em geral, desnecessária a sua armação de cálculo. É colocada apenas uma armação de montagem. Se 0,5 < tgβ < 1,5 a sapata possui um dimensionamento rigoroso pelas teorias do concreto armado onde são previstos o cálculo das armaduras principais de flexão e as verificações quanto ao escorregamento das armaduras, cisalhamento e punção. Se tgβ < 0,5 a peça não é considerada como sapata, mas sim, como laje. 79 1.9.1.3 - Radiers Os radiers são também chamados de sapatas interligadas. São unidas por uma laje dimensionada à flexão, cisalhamento, escorregamento das armaduras e punção de acordo com as teorias correntes do concreto armado. Os radiers são empregados em terrenos que apresentam dentro das suas propriedades mecânicas e composição química do solo uma capacidade de carga um pouco menor do que as compatíveis com as cargas solicitantes de projeto. Figura 1.79 – Radier envolvendo várias sapatas em planta. Figura 1.80 – Radier envolvendo várias sapatas em elevação. 80 1.9.2 - Fundações profundas As fundações profundas são empregadas onde a capacidade resistente do solo só se encontra a grandes profundidades e as cargas solicitantes são de grande magnitude. Classificam-se em dois grupos: estacas e tubulões. 1.9.2.1 - Estacas São fundações constituídas de elementos longos e delgados que transmitem as cargas solicitantes a grandes profundidades. Esta transferência de cargas ao solo se faz de quatro modos: a) Estacas que trabalham sob o efeito de ponta - Elas atravessam um terreno pouco resistente até encontrar uma camada inferior muito resistente. b) Estacas que trabalham sob o efeito do atrito lateral em equilíbrio com o efeito de ponta - Há uma camada pouco resistente e outra muito resistente ao atrito lateral. c) Estacas que trabalham só sob o efeito de atrito lateral - A camada resistente se encontra em toda a sua extensão. d) Estacas que trabalham sob o efeito de compactação do solo que a envolve - São as estacas flutuantes. 81 Figura 1.81 – Formas de transferência de cargas ao solo pelas estacas. As estacas podem ser classificadas em cravadas e perfuradas. 1.9.2.1.1 - Estacas cravadas As estacas cravadas são constituídas de elementos pré-fabricados (concreto armado, perfis metálicos e trilhos de trens) ou naturais (madeira) que necessitam de energia de cravação para que atinjam camadas resistentes do solo. 82 - Estacas de madeira As estacas em madeira são empregadas em obra de pequeno porte em locais de facilidade de extração, de preferência, a madeira de categoria dura de árvores de crescimento lento e deve trabalhar permanentemente em total imersão em terrenos saturados e abaixo do nível dágua. Esta é uma condição essencial, pois a variação de umidade causada pela oscilação do nível do lençol dágua provoca retração ou fendilhamento do trecho submetido a esta variação. São observados cuidados nas emendas para que, durante a cravação, não ocorram desvios e são empregados aparafusamentos e luvas laterais resistentes. 83 Figura 1.82 – Estaca de madeira com emenda. 84 - Estacas metálicas As estacas metálicas podem ser empregadas na forma de perfis metálicos justapostos e soldados ou trilhos de trens, também soldados ou pelos boletos ou pelas abas. Atingem grandes profundidades atravessando camadas compactas e duras. Apresentam facilidade de emendas e não tem limitações quanto às cotas de profundidade, resistindo com muita eficiência aos esforços de compressão e flexão. Nos trechos de variação dos níveis dágua, os perfis devem sofrer um processo de jateação e pintura antioxidante. Quando necessário, pode-se prever também um excesso de seção transversal para compensar as perdas provocadas pela corrosão. Figura 1.83 – Estacas metálicas formadas por justaposição de perfis. 85 Os perfis em forma de trilhos são denominados perfis TR e são retirados de linhas férreas desativadas. Quando empregados em formas compostas, se constituem de ótimos elementos de fundações para qualquer tipo de solo e devem sempre alcançar um terreno rochoso a uma grande profundidade. São mais comuns as composições feitas com TR 25 e, quando atravessam extensas camadas de argila, devem ser verificados quanto à flambagem. A figura abaixo apresenta as mais variadas composições que podem ser feitas com o emprego dos perfis TR tanto da forma de soldamento pelas abas como da forma de soldamento pelos boletos. Figura 1.84 – Composições com o emprego de perfis TR para formar estacas. 86 - Estacas de pré-moldados em concreto armado As estacas em concreto pré-moldado são empregadas em qualquer tipo de solo independentemente da posição do nível do lençol dágua subterrâneo. São pré-fabricadas em instalações industriais com seções transversais variáveis como quadradas, circulares, octogonais e hexagonais. Apresentam uma grande capacidade de carga e duração ilimitada e os elementos pré-moldados podem ser executados com três tipos de concreto: concreto vibrado, concreto centrifugado e concreto protendido. Nas estacas de concreto vibrado os elementos são maciços, as estacas possuem um comprimento máximo de 12 m e são de difícil emenda em virtude da ruptura da parte emendável em decorrência da ação dos golpes do pilão do bate-estaca. As de concreto centrifugado apresentam uma maior resistência e facilidade de emenda por colagem ou soldagem. Figura 1.85 – Geometrias de seções transversais de estacas em concreto armado. 87 Podem ser emendadas com caixas de chapas soldadas de aço ou anéis soldados. A capacidade de carga das estacas é elevada e estas podem atingir grandes profundidades (embora inferiores às de estruturas metálicas) sendo cravadas em quaisquer condições ou situações dos terrenos. As estacas de concreto protendido apresentam maior resistência aos golpes do pilão, capacidade de carga maior e facilidade de transporte, manuseio e emenda. As armaduras das estacas basicamente são constituídas de barras longitudinais que formam a armadura principal encarregada de absorver os esforços de compressão e flexão suscitada pelo transporte e os estribos que circundam estas barras com a finalidade de impedir a ruptura por cisalhamento do concreto, esforços cortantes eventuais e efeito de fendilhamento, quando estas trabalham predominantemente sob o efeito de ponta. A distância entre os estribos deve ser sempre inferior à menor dimensão da seção transversal da estaca. A ponta deve ser sempre em chapa de ferro acompanhada também de quadros de estribos conforme mostra a Figura 1.86. 88 Figura 1.86 – Armaduras longitudinais e transversais das estacas em concreto armado. 89 1.9.2.1.2 - Estacas perfuradas As estacas perfuradas são aquelas executadas no próprio local de cravação dos moldes e retirada do solo do seu interior. Podem ser classificadas em estacas com molde cravado com escavação e recuperado, estacas com molde cravado sem escavação e recuperado e estacas tubadascom tubo perdido e base alargada. a - Estacas com molde cravado com escavação e recuperado . O molde é constituído de um tubo metálico cravado até uma certa profundidade e o solo é extraído através de uma sonda. É feita a concretagem do furo através de compactação mecânica do concreto e ao mesmo tempo vai-se extraindo o molde cravado. Este é o sistema denominado Strauss. b - Estacas com molde cravado sem escavação e recuperado O molde é cravado como uma estaca pré-moldada com o auxílio de uma bucha até ser atingida a resistência desejada. Em seguida, é feita a concretagem do furo e a extração do molde metálico. Este é o sistema empregado nas estacas Franki. 90 c - Estacas tubadas com tubo perdido e base alargada. O molde é constituído por um tubo metálico que não é recuperado após a concretagem do furo. A sua base pode ser alargada ou constituída por um cabeçote de base metálico. As estacas de camisa perdida são chamadas de estacas Raymond. A Figura mostra um exemplo de estaca tubada com tubo perdido sem cabeçote metálico na base e um exemplo de estaca com molde cravado com ou sem escavação e recuperado. Figura 1.87 – Estacas tubadas com tubos perdidos e recuperados. 91 1.9.2.2 - Tubulões São fundações constituídas por elementos de grande diâmetro e elevada capacidade de carga. São as mais empregadas em estruturas de pontes como em demais obras de grande porte. As fundações em tubulões podem ser classificadas em tubulões a céu aberto, tubulões a ar comprimido e tubulões mistos. 1.9.2.2.1 - Tubulões a céu aberto Os tubulões a céu aberto são constituídos por aberturas escavadas até o nível resistente onde vai ficar assentada a sua base que deve possuir um diâmetro sempre maior que o seu fuste. Após a escavação a abertura é preenchida por concreto armado. É importante observar que os tubulões a céu aberto de escavação manual só podem ser empregados em solos coesivos, acima do lençol subterrâneo e dotados de baixa permeabilidade. São fundações de fácil execução e não dependem de equipamentos nem processos especiais. A escavação da abertura executada a céu aberto pode ser manual ou mecânica e pode vir acompanhada de uma camisa metálica circular a ser recuperada ou perdida. 92 0 diâmetro da camisa metálica apresenta uma faixa de utilização de 1,50 a 3,50 metros. Deve-se sempre adotar um alargamento da base do tubulão de forma que dê origem a um ângulo de inclinação para uma melhor transmissão de pressões ao terreno. Figura 1.88 – Tubulões a céu aberto. 1.9.2.2.2 - Tubulões a ar comprimido Tubulões a ar comprimido são constituídos por aberturas a grandes profundidades acompanhadas de camisas de tubos pré-moldados de concreto armado ou metálicas mais o equipamento que compõe o sistema a ar comprimido responsável pela manutenção da pressão do ar no interior da campânula e do tubulão para contrabalançar o peso, da coluna d’água no terreno a fim de impedir sua entrada no interior da câmara de trabalho. 93 Os tubulões são fundações de custos elevados e o seu emprego é limitado às pontes e grandes estruturas. O solo deve exigir escoramentos permanentes durante a escavação principalmente se esta for executada abaixo do nível do lençol subterrâneo que é o caso mais comum de ocorrer. As camisas metálicas ou de concreto armado devem resistir ao peso próprio, peso de equipamento de compressibilidade do ar, sobrecargas, pressão lateral do solo dos empuxos de terra e água e pressão do ar comprimido. É executado no local da escavação um anel de concreto armado. O trabalhador desce no interior do anel e inicia a escavação manual e o tubulão vai descendo pela ação do peso próprio. Ao ingressar no domínio do lençol subterrâneo é acoplada a campânula de chapas de aço no topo do tubulão, junto do compressor, para que a escavação possa prosseguir sob o efeito do ar comprimido, para que a água seja impedida de entrar no interior da câmara de trabalho. O solo retirado do interior do tubulão é acumulado no cachimbo de saída, para quando a campânula deve estar hermeticamente fechada. Quando o material é expulso da campânula, a porta interna deve estar hermeticamente fechada para que seja mantida a pressão do ar no interior do tubulão. 94 Figura 1.89 – Tubulão a ar comprimido. Quando se atinge o nível resistente, o tubulão é concretado e o mecanismo de compressão é removido. 95 1.9.2.2.3 - Tubulões mistos Nos tubulões mistos com estacas metálicas é cravada uma camisa metálica e o seu interior é escavado por meio de equipamentos providos de air-lift até a cota de base. Colocam-se gabaritos enrijecedores e as estacas metálicas são cravadas através deles a uma cota além da cota de base. São retirados os gabaritos enrijecedores e feito o enchimento da camisa com concreto submerso. É um processo excelente quando se trata de tubulões cravados em fundo de mares e rios. Com este processo atingem-se grandes profundidades com equipamentos de custo relativamente baixo. 96 Figura 1.90 – Tubulão misto de concreto armado e estrutura metálica. 97 1.10 - EXTREMIDADES DAS OBRAS DE PONTES As pontes e os viadutos podem apresentar as extremidades em balanços ou então ter os vãos extremos apoiados em estruturas específicas denominadas encontros. 1.10.1 - Extremidades em balanço As pontes que apresentam as extremidades em balanço são próprias para terraplenos não sujeitos a recalques. Estes balanços apresentam em suas extremidades uma viga transversal denominada transversina extrema ou cortina que tem a função de receber os empuxos de terra proveniente da camada de aterro que faz a interligação da rodovia com a obra. Figura 1.91 – Extremidade em balanço de uma superestrutura de ponte. 98 1.10.2 - Extremidades em balanço com a placa de transição Quando o aterro ou o terrapleno é muito sujeito a recalques diferenciais faz-se necessário a colocação de uma placa de transição que faz a ligação entre a transversina extrema e o aterro. Constitui-se basicamente por uma laje, que tem por apoios o dente da cortina e uma sapata corrida imersa no seio do terrapleno, que sempre acompanha o seu assentamento. O objetivo primordial da placa de transição é sempre compensar os recalques que surgem durante o período de estabilização da camada do aterro. Figura 1.92 – Extremidade em balanço com uma placa de transição na superestrutura de ponte. 99 Figura 1.93 – Placa de transição com sapata corrida transversalmente em elevação. Figura 1.94 - Placa de transição com sapata corrida transversalmente em planta. O comprimento da placa de transição é sempre estabelecido em função do recalque a ser esperado e pelas exigências do tráfego e não deve ser maior do que 15 metros. Observa-se que não se colocam guarda-rodas nem guarda-corpos sobre a placa de transição. 100 1.10.3 - Extremidades em encontros Os encontros são unidades estruturais de transição que fazem a integração da ponte com o restante da rodovia ouferrovia. Têm a função de proteger as extremidades do aterro contra a erosão. São usualmente empregados quando não são permitidas deformações nos extremos da obra como o caso de pontes ferroviárias, para as quais não são possíveis projetos de extremos em balanço. Os encontros podem ser maciços ou vazados. 1.10.3.1 - Encontros maciços Figura 1.95 – Extremidade do tabuleiro em encontro maciço em elevação. Figura 1.96 - Extremidade do tabuleiro em encontro maciço em planta. 101 1.10.3.2 - Encontros vazados São aqueles que permitem a entrada do aterro em seu interior e são geralmente providos de alas laterais e laje superior em concreto armado. As alas laterais são responsáveis pela contenção e distribuição do aterro e a entrada deste em seu interior lhe confere maior peso próprio e rigidez. Figura 1.97 – Extremidade do tabuleiro em encontro vazado em elevação. Figura 1.98 - Extremidade do tabuleiro em encontro vazado em planta. 102 Para efeito de dimensionamento os encontros estão sujeitos às seguintes solicitações: - Carga vertical V transmitida pela superestrutura. - Força longitudinal HL devida aos esforços de frenagem, aceleração, variação de temperatura e retração do concreto. - Força transversal HT devida ao vento e ação dinâmica das águas. - Empuxo de terra E incidente sobre o próprio encontro calculado pelas teorias de Rankine ou Coulomb. Cumpre observar que o empuxo de terra é calculado em conjugação com as cargas de multidão que passam sobre o aterro. Figura 1.99 – Encontro maciço com os carregamentos de empuxo de terra, forças transversais, forças longitudinais, peso próprio e forças provenientes da superestrutura através do aparelho de apoio. 103 1.11 - PONTES ESCONSAS As pontes esconsas são aquelas cuja disposição dos elementos estruturais é de tal forma que não ocorre um cruzamento normal entre elas e o eixo da estrada ou fluxo d’água que passa por debaixo dela. Esta não ortogonalidade é definida por ângulo de esconsidade φ’, que, se for pequeno, faz com que o comportamento da ponte se aproxime do comportamento das pontes normais. A disposição das vigas e pilares acompanha o eixo da ponte e a linha de esconsidade. No caso dos pilares, estes devem ser locados convenientemente de tal forma que não interfiram no fluxo de veículos que passam por debaixo da ponte. Figura 1.100 – Ponte esconsa com cruzamento não ortogonal ao eixo do rio. 104 1.12 - SISTEMAS CONSTRUTIVOS Os sistemas construtivos de pontes em concreto armado podem ser reunidos em dois grupos: - Sistemas construtivos com concreto armado moldado no local. - Sistemas construtivos com elementos pré-moldados em concreto armado. 1.12.1 - Sistemas construtivos com concreto armado moldado no local. Estes sistemas construtivos abrangem os de fôrmas sobre escoramentos fixos, deslizantes e balanços sucessivos. 1.12.1.1 - Sistema de fôrmas colocadas sobre escoramentos fixos. As pontes de escoramentos fixos e moldadas no local seguem o sistema tradicional de construção. São executadas no local com as fôrmas sobre escoramentos e concretadas segundo a técnica usual onde as deformações são compensadas com contraflechas. Os escoramentos simples são constituídos de pontaletes pouco espaçados entre si podendo ser de estruturas metálicas ou em madeira. 105 1.12.1.2 - Sistemas de fôrmas colocadas sobre escoramentos deslizantes. Este processo é muito vantajoso quando há mais de três vãos a se concretar de mesma seção transversal, o terreno for plano, o solo suficientemente resistente e a superestrutura da ponte não muito acima do nível do terreno sendo os pilares dotados de pequena altura. A boa técnica de concretagem indica que esta seja feita até o ponto de momento nulo do vão seguinte. Os escoramentos são constituídos de um sistema de treliças móveis em estrutura metálica que são utilizadas nos vãos subsequentes à medida que a concretagem vai avançando. Figura 1.101 – Escoramentos deslizantes em treliças móveis em vista longitudinal. Figura 1.102 – Escoramentos deslizantes em treliças móveis em vista transversal. 106 Outro processo interessante de escoramentos deslizantes aquele que se constitui de vigas transversais em estrutura metálica fixadas nos pilares que dão apoio à treliça de escoramento que por sua vez é móvel e fornece escoramento às formas. A concretagem é executada vão por vão por meio da treliça de escoramento deslizante sobre rolos. Tal processo é geralmente empregado em terrenos não planos, encostas ou leitos de rios dispensando o emprego de escoramentos em contato com o solo. Figura 1.103 - Escoramentos deslizantes em treliças móveis com suportes fixos nos pilares em vista longitudinal. 107 Figura 1.104 - Escoramentos deslizantes em treliças móveis com suportes fixos nos pilares em vista transversal. 1.12.1.3 - Sistemas de fôrmas em balanços sucessivos a) Balanços sucessivos com treliça de escoramento e fôrmas em balanço deslocável É utilizado para grandes vãos, sobre leitos fluviais e seções transversais de altura variável ou não. As fôrmas são executadas em balanço sobre uma plataforma suspensa por uma treliça e a concretagem é feita junto com as protensões parciais. Os avanços são feitos nos dois sentidos para contrabalançar o peso próprio e o surgimento de momentos fletores exagerados no topo do pilar. A estabilidade do conjunto é sempre obtida pelo engastamento da viga com o pilar e com a ajuda de apoios provisórios. 108 Figura 1.105 – Fôrmas concretadas em balanços sucessivos. Foto 1.3 – Fôrmas concretadas em balanços sucessivos. 109 b) Balanços sucessivos com cabos de estaiamentos ajustáveis sobre apoios provisórios. Este processo é empregado quando os vãos são muito longos onde os estais são dispostos sobre apoios provisórios e contribuem na estabilidade do conjunto até que seja completada a protensão final. Figura 1.106 – Balanços sucessivos em cabos de estaiamentos ajustáveis. 110 Foto 1.4 - Balanços sucessivos em cabos de estaiamentos ajustáveis. Foto 1.5 - Balanços sucessivos em cabos de estaiamentos ajustáveis. 111 c) Balanços sucessivos com treliça de lançamento sobre a ponte Neste sistema a treliça é avançada até completar a metade do vão posterior. É feita a concretagem em ambos os lados dos pilares para que seja contrabalançado o peso próprio. Ao ser concluído um vão, a treliça é avançada totalmente no vão subseqüente e até a metade do posterior a este, e o dispositivo de deslocamento das fôrmas permite que seja concluída a concretagem e o fechamento das protensões. Figura 1.107 – Balanços sucessivos com treliças de lançamento. 112 1.12.2 - Sistemas construtivos com elementos pré-moldados em concreto armado ou protendido Estes sistemas construtivos abrangem os de elementos pré-moldados de comprimento de vão e segmentos pré-moldados em balanços sucessivos. 1.12.2.1 - Elementos pré-moldados de comprimento de vão Só são permitidos em pontes que apresentam muitos vãos isostáticos de igual comprimento.Uma treliça de apoio colocada sobre apoios provisórios possibilita o assentamento das peças pré-moldadas sobre o vão. Figura 1.108 – Içamento de elementos de vão pré-moldados. 113 1.12.2.2 - Segmentos pré-moldados em balanços sucessivos É um processo de grande aceitação no mundo inteiro para pontes longas dispostas sobre rios, mares, baías e estreitos. É o sistema que foi empregado na construção da ponte Rio-Niterói. Os segmentos pré-moldados denominados aduelas são fabricados em canteiros de serviço próximos aos acessos da obra com 3 a 8 m de comprimento e são transportados em treliças metálicas se assentando nas extremidades dos pilares para serem pretendidos longitudinalmente. Figura 1.109 – Içamento de um segmento pré-moldado em balanços sucessivos. 114 Foto 1.6 – Içamento de um segmento pré-moldado em balanços sucessivos. 115 Foto 1.7 – Içamento de um segmento pré-moldado em balanços sucessivos. A execução em balanço sucessivo se sucede com o assentamento dos módulos avançando sempre para ambos os lados a partir dos pilares. A seqüência do avanço permite manter o equilíbrio em relação ao apoio ou pilar dispondo-se um elemento de aduela por vez a cada lado do pilar. Este é geralmente projetado para suportar o desequilíbrio proveniente de uma aduela a mais em um dos lados. As aduelas podem ser transportadas ao local de assentamento e protensão através de embarcações. A treliça de apoio faz o içamento das aduelas simultaneamente para dois vãos adjacentes possibilitando uma enorme economia no tempo de execução. 116 Figura 1.110 – Içamento de elementos pré-moldados de forma simultânea. Foto 1.8 – Içamento de um segmento pré-moldado em balanços sucessivos. 117 Foto 1.9 – Vão completo após içamentos de segmentos pré-moldado em balanços sucessivos. 1.12.2.3 - Processo dos módulos ritmados É também chamado de processo de pontes empurradas, execução por deslocamentos progressivos ou, no Brasil, de sistema Engefer. Constitui-se basicamente pelo princípio da régua de cálculo. A ponte é constituída por vigas fabricadas nas margens e empurradas para a sua posição ao longo dos vãos, funcionando em balanço à medida que vai avançando. Este avanço é feito progressivamente de pilar a pilar sem a necessidade de escoramentos ou treliças de içamento. Cada módulo fabricado nas margens possui o comprimento equivalente ao avanço que se quer executar. A velocidade de avanço pode atingir o valor de 50 cm a cada 3 minutos. É necessária neste sistema uma mão de obra altamente qualificada bem como um alto controle topográfico dos pilares. Não e permitida nenhuma rotação das fundações, principalmente em mares profundos. 118 Figura 1.111 – Processo dos módulos ritimados. Foto 1.10 – Processo dos módulos ritmados.. 119 As vigas são fabricadas na usina de elementos pré-moldados, local de trabalho protegido, e, após a curagem do concreto, os segmentos são protendidos longitudinalmente e sofrem o deslizamento por meio de macacos hidráulicos. Sempre é colocada uma treliça na extremidade em estrutura metálica com o objetivo de se fazer a diminuição do momento fletor de balanço até ser alcançado o pilar subsequente. Os elementos concretados na usina de fabricação são sempre executados contra o último e toda a armadura longitudinal deve percorrer as juntas de dilatação. Uma vez todos os elementos executados e a obra já locada em posição definitiva, os cabos longitudinais sofrem a protensão final e definitiva para se trabalhar em estágio final de carga total de utilização. 120 UNIDADE 2 ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PROJETO 2.1 - GENERALIDADES Projeto de uma ponte é o conjunto de estudos, gráficos, cálculos e obediência aos elementos normativos que permitem definir, justificar a construção da obra de arte propriamente dita. Os elementos necessários à elaboração dos projetos de obra de arte são provenientes do projeto da estrada e de informações que são colhidas no próprio local da obra. Os principais elementos podem se agrupados em: - Elementos topográficos - Elementos hidrológicos - Elementos geotécnicos - Elementos geométricos - Elementos de cargas 121 2.2 - ELEMENTOS TOPOGRÁFICOS Os elementos topográficos devem ser apresentados em desenhos de planta e perfil. Os desenhos em planta devem ser apresentados em escala de 1:1000 ou 1:2000. Os desenhos em perfil devem ser apresentados em escala de 1:1000 ou 1:2000 na horizontal e 1:100 ou 1:200 na vertical. Estes desenhos em planta e em perfil também devem representar os trechos da rodovia em pelo menos 1.000 m para cada extremidade da obra de arte. O perfil também deve mostrar as cotas do fundo do rio em pontos distanciados de 5m. Dessa forma, os elementos topográficos tem por objetivo fornecer: - comprimento aproximado da obra; - os trechos em tangente, espiral e curvo; - existência de superlargura; - existência de superelevação e sobrelevação; - existência da obra em nível e - existência de esconsidade do tabuleiro. 122 Figura 2.1 – Desenhos em planta e em perfil. 123 - Até TS - Trecho em tangente - De TS a SC - Trecho em espiral - De SC a CS - Trecho curvo - De SC a ST - Trecho em espiral - Além de ST - Trecho em tangente Se as estacas estão espaçadas de 20m, a ponte possui 400 m. 2.3 - ELEMENTOS HIDROLÓGICOS Os principais elementos hidrológicos a serem fornecidos a um projeto de obra de arte são os seguintes: a) Cotas das máximas cheias onde se situa a superfície dágua e a indicação de quando elas ocorreram e com que frequência foram observadas. Para rios que não comportam navegação, a distancia entre o bordo inferior da longarina e o nível da enchente máxima deve ser pelo menos maior que 1,5 m. Figura 2.2 – Cotas máximas de cheias. b) Medidas da vazão máxima em regimes permanentes e torrenciais junto com a observação sistemática da erosão do leito. Estes dados 124 permitem que sejam projetadas fundações convenientes. Quando há o perigo de destruição da saia do aterro, as fundações em sapatas são uma má solução. É mais conveniente que se empregue como fundação um encontro rígido que impede esta destruição. Figura 2.3 – Emprego conveniente do tipo de fundação. Quando há o perigo de retirada do material arenoso com o solapamento das fundações, até mesmo a solução em estacas se mostra insatisfatória. Vários acidentes já o correram pela retirada do material e as estacas trabalhavam só com o efeito de ponta, sem contar com atrito lateral. A melhor solução neste caso é a fundação em tubulão. 125 Figura 2.4 – Emprego correto do tipo de fundação. c) Área da bacia hidrográfica em km2 à montante da seção em estudo. d) Existência na bacia hidrográfica de vegetações e retenções evaporativas, aspectos das margens, rugosidade do terreno, etc. e) Existência da mobilidade do curso dágua e estabilidade do fundo do rio. Há determinadas velocidades que conduzem a erosão do material que constitui o leito. Como por exemplo, podem ser citadas:
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