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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA UNIDADE 1 Clínica ampliada Clínica Ampliada e Apoio Matricial Anderson Sales Dias 2 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada Aula 1: A clínica do biológico A economia e o interesse político influenciaram, historicamente, a saúde no Brasil. É impor- tante apontar que todas as características das políticas de saúde apresentadas ao longo do século XX ainda são encontradas nos dias de hoje, inclusive influenciando o processo de trabalho dos trabalhadores da saúde. O que imaginamos ao pensar em clínica? Talvez você responda que seja uma consulta médica com avaliação de um paciente de forma objetiva buscando a causa de algum acometimento para conduzir um processo terapêutico, ou reavaliar a conduta, conforme evolução do quadro. Embora no imaginário popular a clínica esteja fortemente ligada à figura médica, todos os profissionais da saúde possuem sua própria clínica. Campos (2009) descreve como a clínica é percebida e que na concepção dos profissionais de saúde “A objetividade da clínica é for- necida pelo conhecimento acumulado em protocolos e diretrizes construídos com base em evidências” (p. 68-69). O autor ainda nos coloca alguns conteúdos e técnicas que permitem ao profissional escrever parte da história do processo de adoecimento de uma pessoa, entre elas a semiologia da doença e avaliação do risco, por meio de entrevistas, exames físicos e coletas de dados provenientes de laboratórios, imagens ou anatomopatológicos. Esse con- junto de conhecimentos legitima a autoridade do profissional de saúde frente a um usuário. Para Campos (2009), essa concepção de saúde não está presente apenas no profissional. Ela é mantida por três sujeitos nesse processo: o profissional, o usuário e o gestor. Entre os usuários, é forte a concepção de saúde como um “bem de consumo”, então o momento de encontro com o profissional de saúde deve ser rápido, resolutivo, com a prescrição de algum produto a ser consumido pelo usuário que resolva o seu problema. As pessoas querem a receita e o encaminhamento dos médicos, os choquinhos e a massagem do fisioterapeuta, a dieta milagrosa da nutricionista, e assim por diante. Na nossa situação problema, você pode verificar essa concepção no momento em que a equipe cita os usuários e sua busca pelas “receitas azuis”, como popularmente são conhecidas as receitas de medicamentos controlados — no caso da situação problema, os benzodiazepínicos. Esse modelo favorece a criação de relações rápidas e superficiais entre os profissionais e os serviços, favorecendo a busca por outros locais de trabalho para preencher o tempo restante e melhorar o salário. Os gestores, por sua vez, caso não sejam implicados com a qualificação da saúde ou a mudança no modelo de atenção, ficam diante de um cenário favorável à desqualificação da atenção, em que só precisam mediar a relação entre usuários e profissionais, dando a cada um o que querem. O resultado é o consumo de procedimentos nas sintomatologias e pouca resolutividade sobre as causas dos problemas de saúde. 3 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada No Brasil, a construção das ações de saúde foi fortemente influen- ciada pelo enfoque clínico, tendo o “corpo biológico” e a “doença” como principais objetos de trabalho para os profissionais de saúde. Na construção do sistema de saúde brasileiro, esse modelo foi bas- tante difundido pela medicina previdenciária, privada e dos grupos médicos, tendo como locus de atuação o hospital e a busca da maior especialização dos profissionais para o enfrentamento dos problemas de saúde. Esse modelo de saúde centrado na doença, no biológico, em procedimentos e tendo o hospital como local privilegiado para com- bate às doenças foi importado do modelo norte-americano, proposto por Flexner, ficando conhecido como modelo flexineriano, biologicista ou hospitalocêntrico. Esse modelo tem sido o grande ordenador da formação dos profissionais de saúde e da clínica tradicional. Arouca (1975), em sua tese O Dilema Preventivista, afirmou que uma escola médica norteada pela clínica biológica, tendo o hospital como local privilegiado para formação e centrada em procedimentos, gera profissionais descontextualizados das necessidades de saúde da população. Por isso, a necessidade de compreender a particularidade de cada pessoa e de cada comunidade é fundamental para ampliar a capacidade resolutiva de uma equipe, seja ela uma Estratégia Saúde da Família, um NASF, seja um consultório na rua. Historicamente, uma falsa dicotomia entre clínica e saúde coletiva permeou o espaço dos serviços de saúde. A atenção primária é vista por alguns profissionais como local exclusivo para prevenção e ações coletivas, mesmo contendo profissionais que realizam apenas as condutas clínicas individuais e estas ocorrem no período patogênico, conforme descrito no modelo da história natural da doença. Reflita sobre sua prática clínica: o que a orienta? 4 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada Aula 2: Por que ampliar a clínica? A clínica tradicional é um modelo surgido nos ambientes hospitalares e que acabou por ser reproduzido nos demais pontos do sistema de saúde. Contudo, este não consegue respon- der às demandas de necessidade de saúde de uma população, gerando algumas situações que são objetos de estudo: A clínica tradicional • Fragmentação do processo de trabalho em saúde O conhecimento dos trabalhadores é organizado por área e, dessa forma, com- partimentaliza (fragmenta) o corpo humano (centralidade do modelo biológico), pois cada profissional é responsável por uma “parte do corpo biológico”, cada um com papel específico. O centro do processo é o saber do núcleo profissional, o que dificulta o diálogo entre os próprios trabalhadores, mesmo que estejam compartilhando o mesmo espaço físico (SANTOS; ASSIS, 2006). • Descontinuidade do cuidado A descontinuidade do cuidado é reflexo da fragmentação do processo de trabalho. Cada acesso do usuário aos profissionais da rede é isolado, não havendo continui- dade entre as ações de cada profissional. Exemplo: no tratamento de um usuário com diabetes, não há um cuidado pactuado dos papéis da Equipe de Saúde da Família com o endocrinologista da média complexidade ou com o nutricionista ou o educador físico do NASF. • Disputa corporativa entre as profissões, o que dificulta o trabalho em equipe Como cada profissional está centrado no seu núcleo profissional, há uma disputa pela adesão do paciente à conduta prescrita, em detrimento do cuidado como um todo. • Baixa efetividade do sistema de saúde em responder às necessidades de saúde da população As ações são voltadas aos sintomas e ao biológico, com menor atenção aos compo- nentes psicossociais e com comunicação baixa ou inexistente entre os pontos da rede. • Baixa adesão de usuários aos tratamentos Abandono do tratamento devido à baixa resolutividade do sistema, aliado às várias barreiras de acesso e ao pouco acolhimento. 5 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada Ao defender a proposta da clínica ampliada, não se nega a dimensão biológica, mas se defende a ampliação desta para outros enfoques (sociais, políticos, psicológicos, econômi- cos etc.) que fazem parte do cotidiano de usuários, famílias e grupos sociais, influenciando diretamente suas vidas. Todos temos algo que orienta nossa forma de agir, que é construído na relação entre nossa personalidade e a cultura na qual estamos inseridos. Se pensarmos em culturas diferentes, será que a concepção sobre ter saúde é a mesma para um árabe, um norte-americano, um coreano, um alemão e um cubano? E se olharmos para um mesmo país, o Brasil, por exemplo: será a concepção de saúde para um amazonense a mesma de um paulistano, de um baiano, de um goianoou de um gaúcho? Ou de um índio de uma tribo do Xingu, ou um agricultor de assentamento sem-terra, um mora- dor de comunidade ribeirinha, ou quilombola? Para homens, mulheres, crianças ou idosos? Todos temos um conjunto de valores que orientam nossa conduta na vida, seja o que acredita- mos ser saúde, seja a forma de nos relacionar com o mundo. Estar sensível às particularidades nos deixa mais próximos de entender o outro e auxilia no momento de pactuar um tratamento. No caso da nossa situação problema, fica claro que existem outros fatores que desenca- deiam a utilização de benzodiazepínicos e anti-inflamatórios, principalmente a situação social da família. Para o enfrentamento do problema, foi preciso mobilizar um conjunto de ações enquanto ofertas para atingir as causas do adoecimento e não apenas os seus sintomas. Como já falamos anteriormente, os profissionais de saúde, em algum momento, tomam o lugar de usuários. Entretanto, suas concepções sobre saúde também são construídas pela formação, que ao longo da história teve compromisso em formar profissionais para o mer- cado de trabalho e capazes de se adequarem às rotinas dos serviços de saúde, e esse con- junto de fatores modula a conduta profissional e interfere no seu encontro com o usuário no momento da produção da saúde. Alguma vez você já teve a impressão de que as condutas e orientações que você apresenta aos usuários não são seguidas por eles? Se sim, por que você acha que eles não as seguem? Embora o diagnóstico de uma doença parta da generalização, de um princípio que auxilie a identificar características na população de forma regular, produzindo uma certa igualdade, isso é verdade apenas em parte, pois não é o diagnóstico o único fator que definirá todo o tratamento de uma pessoa. Essa simples noção de que cada caso é um caso pode mudar, em parte, a conduta entre os profissionais (BRASIL, 2009). 6 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada O trabalho em saúde é complexo e para muitos profissionais tudo o que não diz respeito às doenças acaba por ser encarado como uma demanda “excessiva” e que não faria parte do seu “real” papel. No entanto, diante de uma postura de clínica ampliada, não se pode desvalorizar nenhuma abordagem disciplinar. Busca-se a articulação entre as abordagens, ampliando a possibilidade de maior eficácia no manejo das situações complexas. Há a cons- ciência da importância do trabalho transdisciplinar e, portanto, multiprofissional. Segundo a Política Nacional de Humanização (PNH) (BRASIL, 2009), trata-se de colocar em discussão justamente a fragmentação do processo de trabalho e, por isso, é necessário criar um contexto favorável para que se possa falar dos sentimentos relacionados aos temas e às atividades não restritas à doença ou ao núcleo profissional. Os serviços de saúde também são organizados por níveis hierárquicos. Quanto maior o nível hierárquico, maior o suporte de tecnologias duras (eletrocardiograma, ventilação mecânica etc.), maior a especialização do serviço (centro de referência em cardiologia, em oncolo- gia, uma maternidade etc.), e menor a autonomia do usuário sobre o “projeto terapêutico” proposto para reestabelecer sua saúde (geralmente organizado por protocolos clínicos e rotinas dos serviços). Esse é o caso de um hospital, por exemplo. Nesse tipo de ambiente, é forte e necessária a preocupação com a velocidade no diagnóstico e na conduta, e menor a consideração sobre as relações sociais dos indivíduos e a influência destas no processo de adoecimento e reestabelecimento da saúde. Quando olhamos para a atenção primária, temos menor aporte de tecnologias duras, com o predomínio das tecnologias leves (vínculo, escuta qualificada, negociação de projetos) e leve-duras (conhecimentos de Clínica, Antropologia, Geografia, História, etc.), devido a uma grande complexidade de fatores que interferem na vida das pessoas e no processo de saú- de-doença (moradia, renda, condições sanitárias, lazer, educação etc.). Nos espaços em que ocorre a atenção primária, os usuários possuem mais autonomia para aderir ou não às pro- postas terapêuticas das equipes, conforme façam sentido ou não em suas vidas. 7 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada Figura 1 - Características dos serviços de saúde de acordo com seus níveis hierárquicos Arte: Lyo Lima Veja que: Tecnologia leve: refere-se às tecnologias de relações do tipo produção de víncu- lo, autonomização, acolhimento. Tecnologia leve-dura: refere-se aos saberes bem estruturados que operam no pro- cesso de trabalho em saúde, como a clínica médica, a epidemiologia, o taylorismo. Tecnologia dura: trata-se do uso de equipamentos tecnológicos do tipo máqui- nas, normas e estruturas organizacionais. MERHY, E. E. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: MERHY, E. E.; ONOCKO, R. (Org.). Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 71-112. Observou as diferenças hierárquicas dos serviços de saúde? Elas são importantes para com- preendermos a clínica ampliada, que é o conteúdo de nossa próxima aula. Até lá! Maior autonomia do usuário para adesão às propostas terapêuticas Maior consideração das relações sociais dos indivíduos na influência dos processos de saúde Predomínio das tecnologias leves SERVIÇOS DE SAÚDE EM MENOR NÍVEL HIERÁRQUICO Maior suporte de tecnologias duras Maior especialização do serviço Menor autonomia do usuário sobre o “projeto terapêutico” Maior velocidade no diagnóstico e na conduta Menor consideração das relações sociais dos indivíduos na influência dos processos de saúde SERVIÇOS DE SAÚDE EM MAIOR NÍVEL HIERÁRQUICO 8 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada Aula 3: O que é clínica ampliada? Vamos, agora, refletir o que afinal é clínica ampliada, começando pelo conceito definido na Política Nacional de Humanização – PNH. Clínica ampliada: um compromisso radical com o sujeito doente, visto de modo singular. É assumir a RESPONSABILIDADE sobre os usuários dos serviços de saúde, buscar ajuda em outros setores, ao que se dá o nome de INTERSETORIALIDADE. É ainda RECONHECER OS LIMITES DOS CONHECIMENTOS dos profissionais de saúde e das TECNOLOGIAS por eles empregadas, buscar outros conhecimentos em diferentes setores e assumir um compro- misso ÉTICO profundo. Entenda melhor a proposta da Política Nacional de Humanização acessando o portal do Ministério da Saúde. As dificuldades pessoais no trabalho em saúde refletem, na maior parte das vezes, problemas do processo de trabalho, baixa grupalidade solidária na equipe, alta conflitividade, dificuldade de vislumbrar os resultados do trabalho em decorrência da fragmentação do processo de trabalho (BRASIL, 2009). 9 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada Não há receita de bolo, contudo, a PNH aponta cinco eixos norteadores da clínica ampliada, conforme pode ser observado no quadro a seguir. Eixo Orientação 1. Compreensão ampliada do processo saúde-doença Evitar privilegiar apenas uma dimensão da vida. Olhar a situação a partir da construção da vida – situações reais com sujeitos reais. Realizar sínteses tencionando os limites das disciplinas (conhecimentos: economia, saúde, política etc.). 2. Construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuti- cas (reunião de equipe) Reconhecer a complexidade dos problemas e a incomple- tude do conhecimento. Compartilhamento na discussão do caso em todo proces- so até a construção da solução. Construção compartilhada com equipe, sistema de saúde e usuários. 3. Ampliação do “objeto de trabalho” Romper com a fragmentação do processo de trabalho e com a hiperespecialização. Pensar o objeto em relação com seu meio – o objeto de trabalho é o ser humano e as comunidades nos contextosem que estão inseridos, e não as patologias e os procedimentos. 4. A transformação dos “meios” ou instrumentos de trabalho Privilegiar arranjos e dispositivos de gestão que fortaleçam a comunicação transversal na equipe e entre equipes (nas organizações e RAS). Utilizar técnicas que aumentem a capacidade de escuta do outro e de si mesmo, e que ensinem lidar com condutas automatizadas de forma crítica, com a expressão de proble- mas sociais e subjetivos, com família e com comunidade etc. 5. Suporte para os profissio- nais de saúde Criar instrumentos de suporte aos profissionais de saúde para que eles possam lidar com as próprias dificuldades. Enfrentar dificuldade de realizar a escuta do outro, de lidar com a dor e o sofrimento. Enfrentar o não envolvimento e a falsa neutralidade. Quadro 1 – Os 5 eixos norteadores da clínica ampliada Fonte: Elaborado a partir de Brasil (2009). Uma importante estratégia para construção compartilhada de soluções para os problemas mais complexos do território tem sido a construção de Projetos Terapêuticos Singulares entre usuário e equipe e em alguns momentos envolvendo equipes de Apoio Matricial. Na Unidade 4, discutiremos Projeto Terapêutico Singular e outras ferramentas de aborda- gem familiar. A Unidade 3 tratará das equipes de referência e do Apoio Matricial, e então você compreenderá melhor esses aspectos. 10 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada A construção da clínica ampliada é um grande desafio para trabalhadores, gestores e usu- ários. Para os trabalhadores, o principal desafio para essa mudança talvez seja enfrentar o ideal de “neutralidade” e “não envolvimento” que muitas vezes coloca um “interdito para os profissionais de saúde quando o assunto é a própria subjetividade”. Ações como individua- lizar e culpabilizar não auxiliam ao enfrentar esse problema. É importante a criação de um ambiente favorável pactuado entre equipe e gestão local para poder analisar as dificuldades e discuti-las de forma acolhedora. Às vezes, é necessária uma mediação externa como, por exemplo, de um serviço de saúde mental para discutir as dificuldades de alguns profissio- nais em lidar com a dor e o sofrimento (BRASIL, 2009). Algumas sugestões encontradas na PNH podem auxiliar você e sua equipe no processo de ampliação do olhar: • Exercitar a escuta qualificada dos usuários, acolhendo todo relato ou queixa, mesmo que aparen- temente não contribua em um primeiro momento para o diagnóstico ou terapêutica – essa atitude pode ajudar a reconstruir e a respeitar os motivos que ocasionaram o seu adoecimento. Isso tam- bém o auxiliará a compreender a relação da doença com sua vida e a corresponsabilizá-lo. Mesmo não podendo ampliar a escuta de forma detalhada em todos os casos, é preciso priorizar os que precisam mais, mas os outros encontros clínicos podem ser menos duros se norteados com alguns elementos da vida. • Essa atitude também colabora com o fortalecimento de vínculo e afetos, o que aumenta as pos- sibilidades e chances de ajudar a pessoa doente a ganhar mais autonomia e lidar com a doença. Veremos na Unidade 3 que o vínculo é uma importante diretriz para o trabalho das equipes de referência, tanto com as famílias quanto para melhorar a relação entre os profissionais da equipe. • O combate ao excesso de procedimentos – a cultura de consumo constrói a visão de que saúde é igual a consumo de procedimentos, exames etc., contudo, também aumenta e muito a chance de procedimentos inadequados. Por isso, alertar os usuários sobre os riscos que alguns exames e pro- cedimentos podem trazer também auxilia. Na clínica ampliada, a cultura da promoção da saúde e de paz é uma alternativa à medicalização da vida. • Culpa e medo não são bons aliados. Eles geram resistência e humilhação. Não precisamos de culpa- dos, e sim de corresponsáveis, pois um plano pactuado entre equipe e usuários gera cumplicidade; se der certo, foram os dois; e se não estiver dando, a responsabilidade deve ser compartilhada tam- bém, pois isso diminui as resistências e os abandonos aos tratamentos. Mudar hábitos de vida nem sempre é fácil: em vez de prescrever mudanças, você pode ofertar experiências novas, novas sensa- ções prazerosas, por meio de uma atividade física e mudanças alimentares. Não existe só um jeito saudável de viver a vida. Diálogo e informação são boas ferramentas e lembre-se: A doença não pode ser a única preocupação da vida de uma pessoa. [...] O processo de “medicalização da vida” faz diminuir a autonomia e aumenta a dependência ou a resistência ao tratamento, fazendo de uma interminável sucessão de consultas, exames e procedimentos o centro da vida. [...] 11 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada A medicação deve ser encarada como se fosse um pedido de tempo numa partida esportiva: permite uma respirada e uma reflexão para continuar o jogo. Mas o essencial é o jogo e não sua interrupção (BRASIL, 2009, p. 30-31). Assim, a política de humanização avança em busca da consolidação da clínica ampliada. Na Unidade seguinte, discutiremos como fazer a gestão da clínica. Até lá! UM ATO de coragem. Direção de Nick Cassavetes. Estados Unidos da América: PlayArte, 2001. 1 DVD (115 min.), son., color. John Q. Archibald (Denzel Washington) é um homem comum, que trabalha em uma fábrica e vive feliz com sua esposa Denise (Kimberly Elise) e seu filho Michael (Daniel E. Smith), até que Michael fica gravemente doente, necessitando com urgência de um transplante de coração para sobreviver. Sem ter condições de pagar pela operação e com o plano de saúde de sua família não cobrindo tais gastos, John Q. se vê então numa luta contra o tempo pela sobrevivência de seu filho. Em uma atitude desesperada, ele então decide tomar como refém todo o setor de emergência de um hospital, passando a discutir uma solução para o caso com um negociador da polícia (Robert Duvall) e com um impaciente chefe de polícia (Ray Liotta), que deseja encerrar o caso o mais rapidamente possível. 12 Clínica ampliada e apoio matricial Clínica ampliada UM GOLPE do destino. Direção de Randa Haines. Estados Unidos da América: Touchstone Pictures Studio, 1991. 1 DVD. (122 min.), color. Jack McKee (William Hurt) é um médico bem-sucedido, rico e aparentemente sem nenhum problema, até o momento em que é diagnosticado com câncer de gar- ganta. Com a perspectiva de um paciente, ele busca hospitais, tratamentos e médi- cos, percebendo que ser um doutor é mais do que somente cirurgias e prescrições. PATCH Adams – o amor é contagioso. Direção de Tom Shadyac. Estados Unidos da America: Sextante, 1998. 1 DVD. (115 min.), color. Em 1969, após tentar se suicidar, Hunter Adams (Robin Williams) voluntariamente se interna em um sanatório. Ao ajudar outros internos, descobre que deseja ser médico para poder ajudar as pessoas. Desse modo, sai da instituição e entra na faculdade de Medicina. Seus métodos poucos convencionais causam inicialmente espanto, mas aos poucos vai conquistando todos, com exceção do reitor, que quer arrumar um motivo para expulsá-lo, apesar de ele ser o primeiro da turma.
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