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Elaboração: Josenildo Jacinto do Nascimento Porto Velho/RO 1 SUMÁRIO Pág. 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO AMBIENTAL.................................................................. 02 2 COMPETÊNCIA DA UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIO.... 08 3 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE........................................... 16 4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL....................................................................... 19 5 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL FEDERAL......................................................................... 23 6 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ESTADUAL...................................................................... 73 7 ALGUMAS LEGISLAÇÕES MUNICIPAIS..................................................................... 80 8 NOÇÕES DE DIREITO AGRÁRIO................................................................................... 80 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................... 102 2 FACULDADE DE RONDÔNIA - FARO CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL APOSTILA DE LEGILAÇÃO AMBIENTAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO AMBIENTAL 1.1 PROCESSO LEGISLATIVO 1.1.1 CONCEITO È o processo de elaboração ou formação das leis que obedece a uma sucessão de fases e atos que vão desde a apresentação de um projeto de lei até a efetiva concretização da lei pretendida, tornando-a obrigatória e imposta coercitivamente a obediência de todos. 1.1.2 ORIGEM A rigor, existem dois processos distintos de formação da lei, a saber: a) Processo de formação da lei constitucional, da Carta Magna; b) O processo de formação da lei comum, ordinária, que está voltada para a elaboração das Emendas à Constituição, Leis Complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisória, decretos legislativos e resoluções (CF/88, art. 59). Na elaboração da lei ordinária há uma sucessão lógica de fases sistematicamente dispostas da seguinte forma: a) Iniciativa – é o ato que desencadeia o processo legislativo, surgindo com a apresentação do projeto de lei propondo a adoção de um direito novo. O projeto pode ser de iniciativa do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, desde que dentro da competência constitucional de cada um (vide CF/88, art. 61 e 69). Pode também ser de iniciativa do povo, tanto a nível Federal, Estadual e Municipal (arts. 61, § 2º, 27, § 4º e 29, XIII). É preciso lembrar que todo projeto de lei tem em mira ser convertido em lei. b) Discussão – é realizada pelos componentes do legislativo, estando sujeito ao pronunciamento de Comissões Especializadas na matéria sobre a qual versa, podendo receber emendas. Após receber ou não emendas, o projeto será objeto de discussão e aprovação; c) Deliberação ou votação – o plenário manifesta-se contra ou favor do projeto. A aprovação deverá ser por maioria simples, se se tratar de lei ordinária, ou maioria absoluta, em se tratando de lei complementar (art. 69, CF); 3 d) Sanção ou veto – é tarefa entregue ao Chefe do Executivo. O veto é a oposição ou recusa ao projeto (CF, art. 66, § 1º), por considerá-lo inconstitucional ou contrário ao interesse público. Esse veto pode ser total ou parcial. Vetado o projeto, este volta ao Legislativo, que poderá aceitar ou rejeitar o veto. Se o acatar, finda o processo legislativo; se o recusar, por maioria absoluta, o projeto terá que ser promulgado pelo Chefe do Executivo. Em caso de recusa, o Presidente do Senado o fará, e se este não o fizer, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. (art. 66, § 7º). e) Promulgação – é o ato pelo qual o Executivo autentica a lei, atestando sua existência, ordenando sua aplicação e cumprimento (Mª H. Diniz, p. 265); f) Publicação – é a divulgação do texto da lei pelo órgão oficial. A vigência da lei está condicionada à sua publicação no órgão oficial do Governo, disso decorrendo a presunção de seu conhecimento por todos. Neste sentido, diz o art. 3º da LIDB: “Ninguém se escusa de cumprir à lei, alegando que não a conhece”. 1.1.3 O QUE SE ELABORA Dentro deste estudo as leis que estão abarcadas por este processo são: Emenda à Constituição, Lei complementar, Lei ordinária, lei delegada, medida provisória, decretos legislativos, resoluções (art. 59, CF/88). 1.1.4 VIGÊNCIA Diz o art. 2º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro- LIDB que: “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. Isto significa dizer que, em regra, a lei vigora por tempo indeterminado. Contudo, existe lei temporária, ou seja, aquela que traz em seu texto o tempo de sua vigência”. 1.1.5 RETROATIVIDADE Pelo princípio da retroatividade a lei nova pode abarcar situações virtualmente abrangidas por leis anteriores. Pelo princípio da irretroatividade, ao contrário, a nova lei não pode abarcar as situações jurídicas abrangidas pela lei antiga. Devido a estes conceitos existe um grande imbróglio jurídico, onde os doutrinadores se debatem sobre o assunto. Machado Palpério afirma: “Indiscutivelmente o princípio da não retroatividade é o mais razoável e lógico”. Sílvio Rodrigues ensina que: “Entre nós a lei é retroativa, e a supressão do preceito constitucional que, de maneira ampla, proibia leis retroativas constituiu um progresso. A lei retroage, apenas não se permite que ela recaia sobre o ato jurídico perfeito, sobre a coisa julgada e sobre o direito adquirido”. Paulo D. Gusmão afirma ainda: “Apesar de tudo, a regra é a da retroatividade, limitada pelo princípio da irretroatividade, que determina só dispor a lei para o futuro, não sendo aplicada ao passado desde que haja direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada. A lei, a partir do momento em que entra em vigor, tem eficácia, atingindo todas as situações jurídicas nela previstas”. Vale notar que no direito processual civil e no direito penal é possível em certas situações, a retroatividade das leis. 1.1.6 TERRITORIALIDADE Significa delimitar o campo de atuação da lei sobre o aspecto geográfico, dentro do qual a lei terá toda a eficácia que se destina. Por uma questão lógica, os estados soberanos costumam aplicar suas leis dentro dos limites dos seus territórios. Mas o problema começa a 4 surgir quando essa lei tenha que ser aplicada a cidadão de outra nacionalidade e estejam de passagem em nossa território ou que aqui tenha domicílio. Esses conflitos de leis no espaço podem ser resultantes de duas ou mais legislações pertencentes a estados soberanos concorrendo entre si quanto à aplicabilidade ao caso concreto, onde cada legislação achar- se-ia competente para reger a hipótese ou o fato jurídico. Modernamente, tanto é admitida a aplicação da lei nacional em território estrangeiro, como da lei estrangeira em território nacional, dependendo especificamente do caso, e do que disponha a respeito às legislações dos países envolvidos na questão a ser decidida. Esta matéria é disciplinada pelo direito internacional privado e, em nosso direito, ela está prevista na LIDB, nos artigos 7º a 19, com a denominação, pela doutrina de direito interespacial. 1.1.7 EFICÁCIA Os legisladores podem promulgar leis que entram em choque com as tradições de um povo, provocando reações por parte da sociedade. Essas leis só logram ser cumpridasde maneira compulsória, possuindo, desse modo, validade formal, isto é, vigência, mas não possuem eficácia, ou seja, aquele cumprimento espontâneo por parte da sociedade. Quando isso ocorre, falta-lhe o requisito da eficácia. Portanto uma norma que não é respeitada e cumprida, poderá ter vigência legal, mas não tem eficácia legal (Reale p. 113 e Montoro, p. 592/593). Como se vê, há uma distinção entre vigência e eficácia. A vigência diz respeito à competência do órgão e as formalidades que são exigidas para a elaboração da lei. A eficácia, ao contrário, se refere à inadequação de seus preceitos à realidade social, ficando em desuso. Para que a eficácia se manifeste indispensável é que seja observada socialmente (Montoro, p. 594, Reale, p. 112/114 e Paulo Nader, p. 110). Observações importantes: NOÇÕES E DISTINÇÕES CONCEITUAIS JURÍDICAS ARTIGO: divisão ordenada do texto da lei, de decretos, de portarias, etc, indicado por numeração seqüenciada. CAPUT: expressão latina que significa “cabeça”. Nesse sentido, o “caput” de um artigo contém o fundamento desse, sintetizando sua idéia central. Ex. Art. 25 – Esta lei entra em vigor.. PARÁGRAFO: é uma seção do artigo que completa o sentido do “caput”, detalhando- o ou especificando-o. Usualmente, vem simbolizado por “§”. Ex. § 3º - A pena é aumentada... INCISO: é a divisão, ou parte, de um artigo de lei. Vem marcado sempre por algarismo romano. É também chamado de itens. Ex. II – causar poluição... ALÍNEA: é uma subdivisão do artigo, assinalada por uma letra do alfabeto, destacada por meio de parênteses. Ex. a) em período de defeso à fauna... 1.2 FONTES DO DIREITO A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quanto ao estudo das fontes do direito. Entre os autores há uma grande diversidade de opiniões quanto às fontes do direito. Elas se dividem em: 5 a) fontes materiais – são constituídas pelos fatos sociais, pelos problemas que emergem na sociedade e que são condicionados pelos chamados fatores do Direito, como os Econômicos, os Geográficos, os históricos, os religiosos, os naturais (clima, solo, raça, natureza geográfica do território, constituição anatômica e psicológica do homem), os demográficos, os higiênicos, os políticos, os econômicos e os morais (honestidade, decoro, decência, fidelidade, respeito ao próximo), mas também os valores de cada época (ordem, segurança, paz social, justiça), que dão o conteúdo das normas jurídicas. Fontes Materiais são as constituídas por fenômenos sociais e por dados extraídos da realidade social, das tradições e dos ideais dominantes, com os quais o legislador, resolvendo questões que dele exigem solução, dá conteúdo ou matéria às regras jurídicas. São elementos que emergem da própria realidade social e dos valores que inspiram o ordenamento jurídico. (Mª H. Diniz, pág. 259 e Paulo D. Gusmão, p. 107/108, Nader, p. 166). As fontes materiais não são, portanto, o direito positivo, mas tão somente o conjunto de valores e de circunstâncias sociais que, constituindo o antecedente natural do direito, contribui para a formação do conteúdo das normas jurídicas. As fontes materiais consistem no conjunto de fatos sociais determinantes do conteúdo do direito e nos valores que o direito procura realizar fundamentalmente sintetizado no conceito amplo de justiça. Valores – Vale dizer que a vida humana é sempre uma procura de valores. A idéia de valor está vinculada às necessidades humanas. Só se atribui valor a algo, na medida em que este pode atender a alguma necessidade. A necessidade gera o valor. O sentido da norma é ser ela um instrumento de realização de determinado valor, isto é: Justiça. Valores são qualidades inerentes ao ser ou à coisa e que fazem com que estes (ser e coisa) sejam admirados ou desejados. São os caracteres (as marcas) que fazem com que seres ou coisas sejam apreciadas, apetecidas ou estimuladas, para mais ou para menos, por uma pessoa ou grupo. Valores jurídicos são a justiça, a paz, a ordem social, a liberdade, o bem comum etc. (Otávio F. Cardoso, p. 46, Reale, p.26 e 35, Nader, p. 77, Mª H. Diniz, p. 363). b) fontes formais – são os meios de expressão do Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se conhecidas. Para os países que seguem a tradição romano-germânica, como é o caso o Brasil, a principal forma de expressão é o Direito escrito, que se manifesta por leis e códigos, enquanto que o costume figura como fonte complementar. Logo, quem quiser conhecer o direito, deverá buscar a informação desejada nas suas fontes formais, ou seja, na lei, nos arquivos de jurisprudências, nos tratados doutrinários (Nader, p. 167, Maria H. Diniz, p. 256, Reale, p. 153). As fontes formais podem ser: I – ESTATAIS a) legislação, b) jurisprudência, c) decisões judiciárias. II - NÃO ESTATAIS Costume. ESPÉCIES DE COSTUMES: a. Doutrina; b. Poder negocial; c. Poder normativo dos grupos sociais. As fontes do direito, entretanto, para Franco Montoro (p. 323), são: 6 a) a legislação, b) o costume, c) a jurisprudência, d) a doutrina. 1.3 HIERARQUIA DAS LEIS Hierarquia das normas – No Direito verifica-se uma estrutura escalonada de normas que, a final, perfazem a unidade. Dezenas, centenas, milhares de comandos jurídicos acabam por se reduzir a uma única norma, a Constituição. Explica-se: no Direito uma norma indica a forma de produção de outra, bem como o seu conteúdo. Daí o escalonamento normativo em que uma norma constitui o fundamento de validade de outra. Exemplo: o Chefe de Seção de uma repartição pública indefere um requerimento por mim formulado. Expediu ele um comando individual. Sendo assim, devo verificar se tal preceito firmado por aquele agente público é consoante com normas superiores. Devo compatibilizar aquele comando individual com a Portaria do Diretor de Divisão; esta com a Resolução do Secretário de Estado; a Lei Estadual com a Constituição do Estado; esta com a Constituição Nacional. Tudo para verificar se os comandos expedidos pelas várias autoridades, sejam executivas ou legislativas, encontram verticalmente suporte para a sua validade. Portanto, vê-se que cada comando normativo encontra respaldo naquele que lhe é superior. Se falhar essa verticalidade fundamentadora, posso insurgir-me contra a ordem expedida em função do meu requerimento. (Michel Temer, p. 21 e Paulo Napoleão, p. 90/91). O Direito Positivo, segundo Kelsen, é constituído por um conjunto de camadas jurídicas superpostas, em que cada uma tira seu valor jurídico da camada imediatamente superior. Assim, os contratos (normas contratuais) têm sua validade fundada nas leis (normas legais). A lei, por sua vez, se fundamenta na Constituição política do país (norma constitucional). E esta, numa norma fundamental, que é a constituição ideal aceita pela opinião pública da nação. (Montoro p. 254). De uma forma geral, todos os comandos emanados do Estado são normas, e não apenas a lei: ex. Ordens de Serviço, Portarias, Resoluções, Decretos, Leis. Todos esses atos devem estar em consonância com a Carta Magna, porque o Direito é um sistema que se reduz a uma unidade, a uma norma única, à Constituição Federal, que é a Norma Fundamental. 1.4 CONCEITOS CONSTITUIÇÃO FEDERAL – Lei fundamental de uma sociedade juridicamente organizada, também chamada Lei Maior, Lei Magna, Lei das Leis, Lei Suprema, Lei Máxima e regula as relações entre governantes e governados, traçando os limites dos poderes do Estado e declarando os direitos e garantias individuais e coletivas, onde todas asoutras normas têm que respeitar os seus parâmetros, não podendo ser mais benevolentes. LEI – É a manifestação positiva do direito, transformando em normas objetivas as regras tradicionais de conduta das pessoas e da coletividade. A lei é norma escrita que pode ser elaborada por iniciativa dos Poderes Executivo e Legislativo, devendo em ambos os casos ser apreciada pelo Congresso Nacional, para posterior sanção do Presidente da República, nos casos onde houver interesse da União. É mediante a lei que as normas jurídicas são criadas, modificadas ou revogadas. Sendo uma deliberação da vontade popular nacional, baseada na tradição, usos e costumes sociais, em conformidade com a realidade social, cujos efeitos são obrigatórios para todos. EMENDA À CONSTITUIÇÃO – É a primeira espécie normativa, cujo processo legislativo é composto por quatro etapas diferenciadas: 7 - iniciativa; - votação; - deliberação; - promulgação, eis, que não é submetida à sanção presidencial (art. 60, § 3º, da CF). LEI COMPLEMENTAR – “É a espécie normativa que apresenta como características: versar sobre matéria expressamente prevista na Constituição; e a necessidade de aprovação por “quorum” de maioria absoluta. Só é editada nos casos expressamente previstos, pela Constituição. Ex. art. 59, parágrafo único; art. 128, parágrafo quinto; art. 131; art. 134 parágrafo único. São admitidas nos casos expressamente mencionados na CF, visando a regulamentar ou dar maior eficácia a determinados dispositivos. LEI ORDINÁRIA – É a espécie normativa tida como lei comum. Atos tradicionais da função legislativa normal, exercida pelo Congresso Nacional. LEI DELEGADA – É a lei emitida pelo Presidente da República mediante expressa delegação do Legislativo. Acham-se equiparadas às leis ordinárias, as quais podem ser alteradas ou revogadas. MEDIDA PROVISÓRIA: É a espécie normativa que tem força de lei, durante a sua vigência, cujo prazo é de 60 dias prorrogável por igual período. São editadas pelo Presidente da República nos casos previstos na Constituição Federal, em caso de relevância e urgência. Substitui na essência, o Decreto – Lei da Constituição de 1967 (Art. 62, CF). DECRETOS LEGISLATIVOS E RESOLUÇÕES: São espécies normativas que tratam da Competência do Poder Legislativo, de acordo com as matérias elencadas nos arts. 49, 51 e 52 da CF. São esses os atos legislativos de função do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, ou por ambos, cumulativamente, os quais representam a hierarquia das normas no ordenamento jurídico nacional. Ademais, ainda existem outras normas administrativas: os decretos, as resoluções do CONAMA, os regulamentos, as portarias, ordens de serviço, instruções normativas, as quais complementam o conjunto de normas aplicáveis no contexto da administração pública. Vejam, em rápida conceituação, cada uma das espécies: DECRETOS: São atos administrativos da competência exclusiva dos chefes do Executivo. Tem caráter normativo inferior à lei não podendo, dessa forma contrariá-la. O Decreto visa explicar a lei e facilitar a sua execução, regulamentando-a. RESOLUÇÕES CONAMA – São atos deliberativos para estabelecimento de normas, diretrizes e critérios de controle ambiental, no âmbito da política governamental, objetivando à proteção, ao controle e à preservação ambiental. REGULAMENTOS – São atos administrativos, de caráter supletivo, previstos em lei, com o objetivo de explicá-la e descer a detalhes os quais a lei não tratou, devendo regulamentar situações naquilo em que a lei não se reportou especificamente. 8 PORTARIAS – São atos administrativos expedidos e de competência dos dirigentes dos órgãos, os quais contemplam determinações normativas gerais ou especiais, versando sobre determinado assunto, respeitando, sempre, o princípio da reserva legal, e com ela não podendo confrontar-se por ser inferior à lei. Tem por objetivo a determinação de providências para o bom andamento do serviço público. ORDENS DE SERVIÇO – São determinações dirigidas a subordinados hierarquicamente, autorizando o início de determinada tarefa ou serviço dispondo sobre o modo e a forma de sua realização. (Pirâmide de Kelsen) 2. COMPETÊNCIA DA UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIO 2.1 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS No Brasil, a repartição de competências entre a União e os Estados não se transformou muito no decorrer do tempo. Os municípios não gozavam de autonomia política, embora a Carta de 1891ordenasse, no art. 68, que aos Estados caberia assegurar a autonomia desses entes em tudo quanto respeitasse o seu peculiar interesse. A Constituição de 1988 foi promulgada após longo período em que as liberdades democráticas estiveram suspensas. Sabidamente, durante os anos em que o Brasil foi presidido por governos militares, houve maior centralização das decisões administrativas. Um bom exemplo disso foi a submissão da Polícia Militar dos Estados ao Exército, conforme dispunha o art. 13, inc.IX, § 4º, da Emenda Constitucional n. 1, de 1969. Pois bem: com a promulgação da nova ordem jurídica em 1988, tentou-se uma maior descentralização das decisões, fortalecendo os Estados e os municípios. A tendência é ficar a União com a elaboração de normas gerais, deixando para as demais pessoas políticas a especificação das condutas, sempre atentando-se para a realidade local. Assim também ocorre na República Federal da Alemanha. Naquele país, a Lei Federal de Proteção da Natureza, publicada em 12.03.1987 e modificada por lei de 06.08.1993, entre 9 outras coisas protege os animais e plantas silvestres. Todavia, como se vê na publicação oficial Textos Legais Leis Ambientais, “os Estados federados podem editar disposições suplementares; em particular, podem determinar as condições sob as quais seja admissível tirar da natureza animais ou plantas de espécies silvestres que não sejam objeto de proteção especial”. Não é diferente em Nova Zelândia, onde também se dão poderes à autoridade local para zelar pela preservação ambiental. Segundo David GRINLINTON, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Auckland, “o Ministro da Conservação e o departamento têm um interesse particular na transferência da política costeira nacional para o nível regional através de Declarações de Política Regional e Planos Regionais de Costeiros e daí para Planos Regionais e Planos Distritais”. Comentando a classificação das competências, com clareza observa José Afonso da SILVA o seguinte: “Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, ou a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções. Isso permite falar em espécies de competências, visto que as matérias que compõem seu conteúdo podem ser agrupadas em classes, segundo sua natureza, sua vinculação cumulativa a mais de uma entidade e seu vínculo a função de governo. Sob esses vários critérios, podemos classificar as competências, primeiramente em dois grandes grupos com suas subclasses: I – competência material, que pode ser: a) exclusiva (art. 21); e b) comum, cumulativa ou paralela (art. 23); II – competência legislativa, que pode ser: a) exclusiva (art. 25, §§ 1º e 2º); b) privativa (art. 22); c) concorrente (art. 24); d) suplementar (art. 24, § 2º)”. 2.2 AMBIENTE E FEDERALISMO O modelo de Estado federal brasileiro foi inspirado nos Estados Unidos da América.Naquele país, reuniram-se os convencionais e Filadélfia, no ano de 1787, com o objetivo de aprimorar a união das treze colônias que se haviam proclamado independentes da Inglaterra. Uniram-se, assim em autêntica confederação, com interesses comuns, mas independentes e soberanos entre si. O governo central era praticamente inexistente, o que começou a revelar- se problemático, pois os entes confederados poderiam a qualquer momento desvincular-se da união. Surgiu então um novo modelo de Estado, cujas características eram diferentes das de uma confederação. Formou-se o Estado federal. Ao Estado federal opõe-se o Estado unitário. No dizer de Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO, “existe este sempre que a descentralização nele existente (administrativa, legislativa e/ou política) está à mercê do Poder Central. Este, por decisão sua (em geral por forma de lei), pode suprimir essa descentralização, ampliá-la, restringi-la etc”. Essa é a forma mais comum de Estado no mundo, incluindo quase toda a Europa Central e a América Latina. O Chile, por exemplo, é um Estado unitário e seu território divide-se em regiões. Assim dispõe o art. 3º de sua Constituição, de 21.10.1980. O Estado federal caracteriza-se pela participação dos Estados – membros no governo central através de seus representantes no Congresso. Dispõem os Estados federais, graças à sua autonomia, do poder de auto-organizar-se e de descentralização legislativa, administrativa e política. A Venezuela é um exemplo de Estado federal em nosso continente: o art. 2º da Constituição da República, publicada na Gazeta Oficial aos 12.09.1983, expressamente a 10 denomina Estado federal; o art. 9º divide seu território em Estados, Distrito Federal, Territórios Federais e Dependências Federais. A formação do Estado federal nos Estados Unidos deu-se pela união das colônias, que optaram por abrir mão da sua soberania em prol de um só Estado, mais forte e poderoso. No Brasil o caminho foi inverso. No Império, o Estado era unitário e, como tal, dividido em províncias sem autonomia política. A Constituição de 25 de março de 1824, no art. 1º, dispunha que o Império era a associação política de todos os cidadãos brasileiros, e, no art. 165, em cada província haveria um Presidente, nomeado pelo Imperador. Os arts. 167 a 169 estabeleciam que em todas as cidades e vilas haveria uma Câmara, à qual competiria o governo econômico. Com a Proclamação da República, sob a inspiração de Rui Barbosa, transformou-se o Brasil em Estado federal. A Constituição da República, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, no art. 1º, adotou como forma de governo a República Federativa; nos arts. 63 a 67 dispõe sobre a organização dos Estados, nome que deu às antigas províncias. O que aconteceu foi que no Brasil a autonomia estadual sempre foi tímida, incompleta, vista com desconfiança. A razão está na sua origem, pois, ao contrário da grande nação do hemisfério norte, aqui a alteração ocorreu só no papel. Ora mais, ora menos, o certo é que os Estados jamais gozaram da independência existente no modelo em que nos inspiramos. 2.3 COMPETÊNCIAS: 2.3.1 PRIVATIVA “A competência de legislação privativa é, por sua natureza, monopolística e concentrada no titular dessa competência. Desfazendo a rigidez inerente à competência privativa, a Constituição Federal de 1988 prevê, no parágrafo único do art. 22, após a enumeração das matérias incluídas na privatividade legislativa da Federação, que lei complementar poderá autorizar os Estados a legislarem sobre questões específicas relacionadas na competência privativa. Essa forma de delegação legislativa da União aos Estados, no nível dos ordenamentos constitutivos da República Federal, exige lei complementar, portanto, a aprovação da maioria absoluta das duas Casas do Congresso Nacional (art.69), e não se reveste de generalidade, requerendo, ao contrário, a particularização de „questões específicas‟, subtraídas ao elenco das matérias incluídas na privatividade da União”. 2.3.2 CONCORRENTE A competência concorrente situa-se dentro do diapasão dos Estados-membros, e é toda especial. Nos termos do art. 24 da Constituição Federal, cabe aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente com a União sobre: “VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, turístico e paisagístico; VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”. Nos §§ 1º ao 4º, o constituinte deixou explícito que, no âmbito da legislação concorrente, cabe à União estabelecer normas gerais; que esta competência não exclui a dos Estados em caráter suplementar; que, inexistindo normas gerais da União, os Estados exercerão a competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades; e que a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual no que lhe for contrário. 11 Como se vê da leitura do dispositivo constitucional, os Estados não têm competência própria, mas sim competência por exclusão e concorrente: por exclusão, quando a matéria não for privativa da União e dos municípios; concorrente, quando a matéria pertencer às duas pessoas políticas, União e Estados. Cabe à União editar normas gerais. Paulo Luiz Neto LOBO comenta o assunto, dizendo que “as normas gerais estabelecem princípios fundamentais. Não podem especificar situações que, por sua natureza, são campo reservado aos Estados-membros. Estão contidas pela finalidade de coordenação e uniformização”. É dizer, leis que contenham princípios e que não sejam minuciosas e particularizadas. Os detalhes deverão ser objeto de legislação estadual, aí sim minuciosa e adequada à realidade de cada Estado da Federação. Não se pode olvidar a existência de grandes diferenças entre eles, decorrentes do tamanho, região, clima e grau de desenvolvimento. Por exemplo, é concorrente a competência para legislar sobre florestas (CF, art. 24, inc. VI). O Código Florestal (Lei 12.651, de 25.05.2012) passou a ser considerado norma geral depois da vigência da Constituição Federal de 1988, isso porque, cabendo às duas pessoas políticas legislar sobre a matéria, os dispositivos do Código Florestal passaram a ser tidos como princípios gerais obrigatórios, podendo os Estados legislar sobre florestas mas sem infringir as regras genéricas. Veja-se um exemplo. O art. 4º, IX, do Código Florestal considera de preservação permanente a vegetação natural situada no topo de morros, montanhas e serras. É uma norma geral que não pode ser considerada pela legislação dos Estados. Certamente por isso a Lei estadual gaúcha 9.519, de 21.01.1992, conhecida como Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul, proíbe no art. 23 a supressão de vegetação de preservação permanente definida em lei. Se assim não fosse, se extrapolasse a lei gaúcha os limites gerais da norma geral de origem federal, certamente seria reconhecida como inconstitucional. 2.3.3 COMUM A Constituição Federal, no art. 23, partilhou entre os vários entes da Federação um vasto rol de matérias em que todos, isolados, em parceria ou em conjunto, podem atuar segundo regras pré-estabelecidas. É a chamada competência comum. Ela se distingue da competência concorrente, que se verifica quando em relação a uma só matéria concorre mais de uma pessoa política. A distinção é feita com objetividade por Paulo Luiz Neto LOBO, ao dizer que, em uma (competência concorrente), a tarefaé „legislar sobre‟; em outra (competência comum), a tarefa é executar os encargos e objetivos comuns, sem limites específicos, preferencialmente de forma cooperativa”. Portanto, a distinção refere-se à competência material (comum) ou para legislar (concorrente). Na competência comum, o constituinte usa verbos que revelam ações típicas de atividade material: zelar, cuidar, proteger, proporcionar, preservar, fomentar e outros. No âmbito desse estudo interessa examinar apenas os incisos que dizem respeito ao meio ambiente. “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) 12 III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; (...) VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII – preservar as florestas, a fauna e a flora; (...)”. No inciso III o constituinte deu particular destaque à proteção do patrimônio histórico, artístico e cultural, inclusive paisagens naturais notáveis e sítios arqueológicos. Não foi gratuita a outorga de competência comum, mas fruto do conhecido descaso da população brasileira por suas riquezas, principalmente pelas relacionadas com o aspecto cultual. Cultiva-se, ainda, a idéia do sacrifício de bens históricos ou de paisagens belas em troca do progresso material a qualquer custo. As nossas cidades históricas permaneceram intocadas e hoje constituem rico acervo patrimonial histórico e arquitetônico, mais pelo abandono econômico a que se viram relegadas do que pela ação das autoridades administrativas. Só a elevação da educação e cultura do povo brasileiro fará com que se altere o comportamento de desprezo às nossas poucas lembranças da vida nos séculos passados. O inciso VI dá ao Poder Público, seja qual for a esfera na Federação, amplos poderes para atuar na defesa do meio ambiente. Como a atual conceituação de meio ambiente vai além de flora e fauna, é possível à Administração atuar sem maiores dificuldades. Não será demais lembrar, para melhor aplicação da norma constitucional, que a poluição está conceituada no art. 3º, inc. III, da Lei 6.938, de 31.08.1981. Por derradeiro, como dispõe o inc. VII, é comum também a competência para atuar na preservação das florestas, da fauna e da flora. A rigor, nem seria necessário esse inciso, uma vez que esses recursos naturais se acham compreendidos na idéia básica do meio ambiente. Porém, a explicitação em nada prejudica a sua esfera e, ao contrário, dissipa eventuais discussões. É importante observar que, em face da competência comum, pouco importa quem seja o detentor do domínio do bem ou o ente que legislou a respeito. Todos podem atuar na preservação das árvores, da fauna, da flora. Suponha-se, por exemplo, que o município de Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, tome medidas administrativas para preservar a fauna do Parque Nacional do Iguaçu. Muito embora esse parque seja nacional, criado pelo Decreto 1.035, de 10.01.1939, sendo explícito o art. 5º a respeito de tal condição, nada impede a iniciativa municipal. O art. 23, inc. VII, estabelece a competência comum, e a todos os entes políticos cabe cumprir o dever de preservar o meio ambiente, conforme mandamento expresso no art. 225 da Carta Magna. 2.3.4 SUPLEMENTAR A carência da legislação federal tem sido suplementada por ordenamentos estaduais e, mais raramente, também por municipais. A competência para legislar a respeito é concorrente entre a União e o Estado-membro (CF, art. 24, inc. VII). Logo, à União cumpre fixar as normas gerais. As leis existentes, portanto, assim são consideradas quando abordem matéria de interesse de toda a Nação. A maioria absoluta dos Estados brasileiros, após a Constituição de 1988, instituiu leis próprias sobre a matéria. Alguns já as possuíam. A importância de seus órgãos e o alcance 13 de suas normas estão diretamente ligados à importância do Estado dentro da Federação, de resto, como em todas as demais atividades. 2.3.5 PLENA Para atender às peculiaridades próprias, os Estados poderão exercer a competência legislativa plena, desde que não exista “lei federal sobre normas gerais” (art. 24, § 3º). Essa competência chamada “plena”, entretanto, sofre dupla limitação – qualitativa e temporal: a norma estadual não pode exorbitar da peculiaridade ou do interesse próprio do Estado e terá que se ajustar ao disposto em norma federal ambiental superveniente. 2.4 A RELAÇÃO ENTRE O HOMEM E A NATUREZA DISCIPLINADA POR MEIO DO DIREITO A espécie humana é apenas uma dentre tantas que habitam a terra. Artífice da natureza e produto dela própria, a espécie humana não é apenas uma forma de vida a mais neste vasto, porém limitado, mundo, mas a única capaz de romper o equilíbrio do delicado planeta em que vivemos (WELLA apud PENNA, 1999, p.15). O locus onde o homem existe enquanto tal, e que se constitui no conjunto de interações que fazem com que ele seja construtor de seu próprio futuro, é a natureza e, por essa razão, é impensável compreendê-lo dissociado dela. Como afirma o filósofo Martin Heidegger, a diferenciação entre o sujeito homem e o objeto natureza não se torna tão clara se pensarmos que somos frutos do mundo natural e fazermos parte dele. Mesmo que observemos este mundo a partir da nossa própria racionalidade, haverá sempre uma inevitável fusão entre o objeto natureza e o ser pensante. Somos a única espécie capaz de exercer o trabalho construído culturalmente por meio da razão e somos a única que utiliza a natureza a partir de raciocínios articulados e não somente por instinto animal. A utilização da natureza como objeto das condutas humanas guiadas pela razão e não direcionadas apenas pela satisfação instintiva de necessidades conduziu o relacionamento do Homem com a natureza a níveis deletérios para a própria natureza. Somos capazes de racionar e isso nos têm levado a agredir e destruir os ecossistemas, pois agimos pensando na consecução de outros objetivos. Todas as espécies agridem a natureza, de uma forma ou de outra, e todas as atividades e todos os movimentos causados por animais geram – em maior ou menor escala – um destrutivo no ambiente. Contudo, o Homem – com o passar do tempo, guiado por sua capacidade de dominar as condições do meio que lhe outorgam a razão e o raciocínio – fez crescer paulatinamente essa agressão, deixando de ser controlado e subjugado pelo meio que o cerca, passando ao status de controlar e posteriormente destruidor de suas próprias conexões. Nos primórdios podemos identificar uma época em que a natureza impunha sua força sobre todos os animais, e o homem nada mais podia fazer do que se submeter aos caprichos da natureza. Com a evolução do conhecimento, fruto da capacidade de raciocínio e de produção cultural que diferencia o homem dos demais animais, o controle sobre a natureza tornou-se cada vez mais acentuado. No final da Idade Média e durante toda a Idade Moderna, era possível ver com clareza que o meio começava a ser subjugado pelo Homem, deixando de representar um obstáculo ao progresso da humanidade. As conquistas do Homem sobre a natureza terminaram por superar o estagio do equilíbrio, em que natureza não mais representa uma ameaça ao progresso da humanidade e nem o Homem era capaz de feri-la de morte. No começo da Idade Contemporânea, mais 14 precisamente na Revolução Industrial, a cultura humana passou a ser a maior ameaça possível à natureza e mais que nunca se tornou necessária a existênciade um sistema de normas de condutas humana que limitasse as atuações danosas ao ambiente. A periculosidade dessa relação, tanto para o homem quanto para a natureza, gerou a necessidade de se estabelecerem regras para disciplinar a maneira como a espécie humana interage com seu habitat natural. Isso não ocorre porque haja direitos da natureza – direitos dos animais, dos vegetais ou dos minerais, mas porque existem direitos de todos os homens sobre esses recursos naturais. Tornou-se necessário, em um dado momento, preservar o direito de todos para que a natureza se mantenha equilibrada no uso correto dos seus recursos por parte de todos os habitantes do planeta. 2.5 CONCEITOS DE DIREITO AMBIENTAL Na arqueologia do Direito Ambiental podemos encontrar em épocas remotas regras morais ou religiosas cujo objeto era a natureza e o objetivo, a preservação. Tais normas sociais não são propriamente normas jurídicas, na medida em que não são impostas pelo Estado com coercitibilidade, bilateralidade e heteronomia, constituindo-se em normas de condutas sociais protetoras do ambiente, mas que não são propriamente normas de Direito Ambiental. Essas normas são, na verdade, regras oriundas da moral, dos costumes da religião e que tomam compreensões acerca da essência do homem e da natureza para justificar as suas existências como determinações de dever ser que têm por objeto a natureza. Por amplo espaço de tempo, era majoritária a compreensão de que direito era fruto da essência do homem, era um conjunto de atribuições inerentes à natureza humana e não fruto de sua capacidade de cria e atribuir norma as si mesmo. A partir desse modo de perceber o Direito, o Direito Ambiental seria apenas o conjunto de regras de conduta oriunda da própria natureza humana, constituindo-se em normas antecedentes à própria espécie, e que disciplinaram as possibilidades de relacionamento entre o homem e a natureza. Um direito Ambiental jusnaturalista seria fruto dessa concepção. Próximo dessa idéia de Direito Ambiental é aquela que o torna como sinônimo do reflexo das formas de relação existentes entre o homem e natureza. Ou seja, o que caracteriza o verdadeiro Direito Ambiental é o conjunto das formas de atuação do homem, tendo por objeto a natureza. Quer pensemos o Direito Ambiental por meio do jusnaturalismo, ou do realismo jurídico, forçoso é reconhecer que uma visão positiva e menos filosófica do Direito Ambiental é fundamental para a sua efetivação no mundo contemporâneo. O Direito moderno é o Direito escrito, o Direito que possui referenciais de certeza e traz segurança jurídica. Por tal razão, e também por se tratar de um Direito que se configurou desde necessidades oriundas da Revolução Industrial, quando nos referimos a Direito Ambiental nos referimos a Direito Positivo Ambiental, que possui como característica essencial o fato de estar escrito e ter sido criado por um poder legislativo, tomando forma de regras jurídicas. Direito Ambiental é o conjunto de regras escritas que disciplinam as relações entre o homem e a natureza, com o objetivo de preservar o meio ambiente e os recursos naturais. O objeto das normas jurídicas ambientais é a relação entre o homem e a natureza, mas uma característica essencial para que determinada norma seja considerada uma norma ambiental diz com o seu objetivo, que deve ser sempre o de preservar o meio ambiente e os recursos naturais. 2.6 A ORIGEM DO DIREITO AMBIENTAL NO BRASIL 15 O interesse no estabelecimento de regras disciplinadoras na relação entre o Homem e a natureza no Brasil tem origem diversa dos desejos altruístas de preservação ou das compreensões contemporâneas da necessidade de preservação. Origina-se do interesse comercial na preservação dos recursos naturais. Era para preservar e manter intactos os recursos naturais da colônia que a metrópole baixou as primeiras normas que visavam a manter preservadas matas e espécies da flora. Apenas muito tempo depois, na segunda metade do século passado, é que se pôde constar a existência de verdadeiras normas de Direito Ambiental. 2.7 O HISTÓRICO DO DIREITO AMBIENTAL NO BRASIL A primeira fase do direito Ambiental no Brasil é aquela que, apenas para efeitos didáticos, as normas ali produzidas podem ser chamadas de normas de Direito Ambiental. Essa fase vai do Descobrimento do Brasil até meados do século passado. Os objetivos eram meramente comerciais, o enfoque era apenas patrimonial e o meio ambiente não era tratado como um valor em si,mas apenas como um objeto. Na segunda fase - que vai da metade do século passado até começo dos anos 80 - é quando podemos perceber o nascimento de normas jurídicas escritas cujo objeto era a relação Homem-natureza, e o objetivo era a preservação ambiental. Em tais diplomas legislativos o meio ambiente começa a ser tratado como um valor, mas as leis são esparsas e sem unidade sistêmica. O que se observa nessa fase é um tratamento isolado de alguns micro-bens jurídico- ambientais e não um tratamento jurídico vasto e sistêmico de todo o ambiente. Na terceira fase - dos anos 80 até os dias de hoje - o direito ambiental adquire as suas características atuais, que o solidificam como ramo do Direito. O seu objeto - o meio ambiente - consolida-se como um valor autônomo. Isso significa dizer que o ambiente passa a ser preservado e protegido por normas jurídicas, não por ser um meio de consecução de um outro objetivo, mas por ser a sua sanidade o objetivo da norma o direito ao ambiente deixa de ser instrumento de tutela de um outro bem jurídico, como a propriedade ou o comercio, e passa a ser protegido por que se constitui em um bem jurídico em se mesmo. Na fase do direito ambiental em que vivemos, é construído um sistema de Direito Ambiental, uma vez que a preservação passa a ser examinada globalmente, e não, mas limitadamente como na fase antecedente. Muito embora o tratamento global e amplo do direito ainda esteja longe de se concretizar, podemos dizer que a ampla sistematização já faz parte do roteiro básico de características necessárias para á existência de um direito ambiental eficiente. 2.8 A AUTONOMIA DO DIREITO AMBIENTAL Para que o direito seja autônomo, é necessário que possua conceito, metodologia e princípios diferenciados. A autonomia do Direto Ambiental, como novo ramo do direito e como disciplina acadêmica distinta do direito administrativo e do direito privado, começa a se dar na medida em que se pode comprovar a existência de um conceito especifico. A existência de um conceito especifico, por sua vez, pressupõe a existência de um objeto e de um objetivo que podem ser diferenciados dos mesmos itens das demais disciplinas. Como conjunto de regras escritas que disciplinam as relações entre o homem e a natureza tendo por objetivo preserva-las, o direito ambiental atende o primeiro dos requisitos. É o ramo do direito que trata exclusivamente das relações entre o Homem e a natureza, dispondo de normas cujo objetivo é a preservação do ambiente. 16 O direito positivo possui método de conhecimento que pode ser demonstrado, na medida em que o ato de conhecer o direito se dar de forma explicita por meio da percepção empírica da existência da norma. Também se dá racionalmente pela racionalizarão do processo de obtenção do conhecimento jurídico. Como ramo do direito, herda toda a metodologia da ciência jurídica. Também se pode dizer que o Direito Ambiental é autônomo porque se constrói sobre um alicerce principio lógico todo próprio, ou, quando muito, utilizando-se de princípios comuns a todas as disciplinas jurídicas e que, no DireitoAmbiental, adquirem nuanças diferenciadas. Alguns princípios são de existências exclusivas nesse ramo do Direito, e isso é uma das características necessárias à compreensão de que o Direito Ambiental é um ramo autônomo do Direito, alem de possuir autonomia acadêmica como disciplina especifica. 3. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE 3.1 Constituição da República Federativa do Brasil A questão ambiental na Constituição de 1988 foi um gigantesco passo na direção da proteção, recepcionando vários instrumentos da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente e outras legislações, demonstrando de maneira inequívoca, que a sociedade brasileira, bastante madura nesse sentido, conseguiu sensibilizar o legislador ambiental para a salvaguarda dos bens ambientais. Até a Constituição de 1988, todos os bens ambientais pertenciam à União e eram por ela gerenciados, porém o novo texto distribuiu competência também para o município. Para a União, Estado e Municípios, a competência é comum no sentido da preservação; já para a União, Estados e Distrito Federal, a competência é concorrente no sentido de legislar sobre a matéria. O grande avanço e inovação, entretanto, ficou em um capítulo especial destinado ao meio ambiente. O Art. 225 apresenta em sua redação: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Esse texto resume todo o interesse pelo meio ambiente e traz raízes e princípios vindos da Carta de Estocolmo, da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente e também da Carta do Rio de Janeiro, encerrando os raciocínios de interesse difuso de meio ambiente como bem de uso comum, ou seja, com pluralidade de uso. Ecologicamente equilibrado fixa o conceito conservacionista. A imposição de defesa e preservação para o Poder Público e a coletividade faz uma clara divisão de responsabilidades no direcionamento para presentes e futuras gerações, trazendo o sentido de uso imediato aos que estão usufruindo dos bens ambientais e salvaguardando a qualidade de vida e o direito ao meio ambiente equilibrado a quem ainda sequer é ente de direito, extraída da Carta do Rio de Janeiro e da Carta de Estocolmo. Para atingir as previsões do Art. 225, a Constituição atribuiu incumbências ao Poder Público, e dentre elas indicamos como as mais significativas para a proteção do meio ambiente natural, as seguintes: a preservação e restauração dos processos ecológicos e a promoção do manejo ecológico; a preservação da diversidade e integridade do patrimônio 17 genético do país; a definição de espaços territorialmente protegidos em todas as Unidades da Federação; a exigência de estudo prévio de impacto ambiental nas regras ou atividades potencialmente causadoras de degradação do meio ambiente. Nessa descrição, consagrou-se o princípio da precaução; o controle da produção e da comercialização, bem como o emprego de técnicas e métodos em substâncias que possam comportar um risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente; a promoção da educação ambiental em todos os níveis; a proteção da fauna e flora, em especial as atividades que possam colocar as espécies em risco ou comprometam a sua função ecológica; nos parágrafos seguintes, ressalte-se a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado, objeto de exploração de recursos minerais; e a responsabilização das pessoas físicas e jurídicas, tanto com sanções penais quanto administrativas, independente da obrigação de reparação de danos, quando efetuadas condutas lesivas ao meio ambiente. O texto também elevou à categoria de patrimônio nacional, restringindo o uso de acordo com lei específica, a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira. Tornou indisponíveis as terras devolutas necessárias à proteção de ecossistemas naturais; e finalmente definiu que as usinas nucleares deverão ter sua localização definida em lei federal. Verifica-se, portanto, que a abrangência do texto constitucional, além de bastante vasta e significativa, oferece plena sustentação como instrumento legal para responsabilizar os degradadores ambiental, como também permite instrumentalizar a proteção e conservação do patrimônio ambiental brasileiro, salvaguardando a qualidade de vida das pessoas e o patrimônio significativo ainda restante. 3.2 CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE RONDÔNIA Decorrente do previsto na Constituição Federal, os Estados providenciaram as suas constituições específicas. Rondônia observou os princípios da Carta Magna e os recepcionou em novo diploma, com aperfeiçoamentos e adaptações próprios para o Estado, por meio de uma seção específica para o meio ambiente, com muitos aspectos de relevância e interesse que serão comentados a seguir. Inicia o texto no mesmo diapasão da Constituição Federal, mudando a espécie de redação legal, dividindo a integra do artigo de forma parafraseada no artigo 218 e parágrafo único, da seguinte forma: A preservação do meio ambiente, a proteção dos recursos naturais, de forma a evitar o seu esgotamento, e a manutenção do equilíbrio ecológico são de responsabilidade do poder público e da comunidade, para uso das gerações presentes e futuras. Parágrafo único – Os valores ambientais e os recursos naturais serão considerados bens de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de vida. O artigo seguinte tratou de dar linhas gerais à proteção que o Estado deve prover aos recursos naturais, elencando em seus incisos condutas obrigatórias que se estendem desde o ente público ao privado. Observou-se com bastante propriedade a implantação de uma política de educação ambiental no ensino básico e fundamental. Destaca-se ainda a divisão de responsabilidade entre Estado e Municípios na execução da política ambiental, deixando bem definido o papel de cada um no ordenamento ambiental. 18 Enfaticamente a carta maior estadual tratou de condicionar o desenvolvimento econômico e social a proteção do meio ambiente, com fins de se evitar choques de interesses que se asseveram na hora da decisão entre o desenvolvimento e a manutenção dos recursos naturais. E ainda foi estabelecido constitucionalmente a criação dos conselhos municipais de defesa do meio ambiente como forma de envolver todos os atores sociais na gestão ambiental. Estabeleceu expressamente em seu artigo 223 que as condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitam o infrator, quer seja pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, a sanções administrativas, sem prejuízo da obrigação de reparar o dano e das cominações penais cabíveis. Atribuiu ainda ao Ministério Público a competência de apurar os fatos e instaurar as ações civis públicas necessárias à proteção ambiental. Percebe- se que a norma maior estadual acompanhou o entendimento dominante a nível nacional. Considerou como áreas de permanente interesse ecológico do Estado, ressalvando a preservação dos atributos essenciais, as unidades de conservação federal: Parque de Pacaás- Novos, Floresta do Bom Futuro, Floresta do Jamari, Estação Ecológica do Cuniã, Reserva Biológica do Guaporé, Reserva Biológica do Jaru, áreas e parques indígenas já delimitados ou a serem definidos. Para uma melhor gestão da política ambiental foi inserido no texto constitucional a criação do Conselho Estadual de Política Ambiental. Aumentou, de certa forma, a área de preservação permanente do rio Guaporé quandofixou o seguinte: Art. 230 – Fica preservada e conservada, com todas as características naturais nativas, a faixa de cinco quilômetros ao longo da margem direita do rio Guaporé em todo o seu curso no Estado de Rondônia. Vedando nesta faixa a exploração agropecuária e industrial.(REVOGADO) A Constituição Rondoniense caracteriza-se como um dos mais importantes instrumentos do Estado para a melhoria da qualidade de vida e defesa do seu rico patrimônio ambiental. 4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL 4.1 Considerações Princípios são os mandamentos básicos e fundamentais nos quais se alicerça uma ciência. São as diretrizes que orientam uma ciência e dão subsídios à aplicação das suas normas. Os princípios são considerados como normas hierarquicamente superiores as demais normas que regem uma ciência. Em uma interpretação entre a validade de duas normas, prevalece aquela que está de acordo com os princípios da ciência. Apesar de ser uma ciência jurídica nova, o Direito Ambiental já conta com princípios específicos que o diferenciam dos demais ramos do direito, apesar dos autores divergirem um pouco na colocação dos princípios. Aliás, nomes de alguns princípios diferenciam de autor para autor. Abaixo seguem os princípios norteadores do Direito Ambiental, que entendemos ocorrer. São eles: a) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 19 Necessidade de suporte legal para obrigar-se a algo. Obrigatoriedade de obediência às leis (art.5, II da Constituição Federal) b) PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO A proteção ambiental é um direito de todos, ao mesmo tempo em que é uma obrigação de todos (art.225, CF). Isto demonstra a natureza pública deste bem, o que leva a sua proteção a obedecer o princípio de prevalência do interesse da coletividade, ou seja do interesse público sobre o privado na questão de proteção ambiental. c) PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO Por ser o meio ambiente equilibrado um direito de todos (art.225, CF), e ser um bem de uso comum do povo, é um bem que tem caráter indisponível, já que não pertence a este ou aquele. d) PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA PROTEÇÃO AMBIENTAL Este princípio está estampado no art.225, caput, da Constituição Federal, que diz que o Poder Público e a coletividade devem assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente sadio e equilibrado. e) PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO Baseado no fundamento da dificuldade e/ou impossibilidade de reparação do dano ambiental. Artigo 225, §1º, IV da Constituição Federal, que exige o EIA/RIMA; Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, princípio 15 que diz: “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com as suas necessidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis par prevenir a degradação ambiental”. f) PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AVALIAÇÃO PRÉVIA EM OBRAS POTENCIALMENTE DANOSA AO MEIO AMBIENTE A obrigatoriedade da avaliação prévia dos danos ambientais em obras potencialmente danosas público está disciplina pelo art.225, da Constituição Federal que obriga o Estudo de Impacto Ambiental e o seu respectivo relatório (EIA , RIMA). g) PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Os Estudos de Impacto Ambiental e o seus respectivos relatórios (EIA , RIMA) têm caráter público, por tratar de envolvimento elementos que compõe um bem de todos, ou seja o meio ambiente sadio e equilibrado (art.225, CF). Por esta razão deve haver publicidade ante sua natureza pública. A Resolução nº 9, de dezembro de 1987 do CONAMA que disciplina a audiência pública na análise do RIMA. 20 h) PRINCÍPIO DA REPARABILIDADE DO DANO AMBIENTAL Este princípio vem estampado em vários dispositivos legais, iniciando-se na Constituição Federal, art.225, §3º, onde diz que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativa, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. O art. 4º , VII, da Lei 6.938/85, também obriga ao poluidor e ao predador a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados. i) PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO Princípio 10 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992; art. 225, CF, quando fala que a coletividade deve preservar o meio ambiente. Participação na elaboração de leis; participação nas políticas públicas através de audiências públicas e participação no controle jurisdicional através de medidas judiciais como ação civil pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção e ação popular. j) PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO Em se tratando do tema ambiental, a sonegação de informações pode gerar danos irreparáveis à sociedade, pois poderá prejudicar o meio ambiente que além de ser um bem de todos, deve ser sadio e protegido por todos, inclusive pelo Poder Público, nos termos do art.225, da Constituição Federal. Ademais, pelo inciso IV do citado artigo, o Poder Público, para garantir o meio ambiente equilibrado e sadio, deve exigir estudo prévio de impacto ambiental para obras ou atividades causadoras de significativa degradação do meio ambiente, ao que deverá dar publicidade; ou seja, tornar disponível e público o estudo e o resultado, o que implica na obrigação ao fornecimento de informação ambiental. - Art. 216, § 2º, da CF: disciplina o patrimônio cultural, traz especificamente que "cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear a sua consulta a quantos dela necessitem." - Lei 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente): prevê a divulgação de dados e informações ambientais para a formação de consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico (art. 4º, V). No art. 9º diz que entre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente está a garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se o Poder Público produzi-la, quando inexistentes, inclusive. - Decreto 98.161, de 21.9.89 (Fundo Nacional do Meio Ambiente): estipula em seu art. 6º que compete ao Comitê que administra o fundo a. "elaborar os relatórios anuais de atividades, promovendo sua divulgação". - Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor): trás a obrigação de informação em vários de seus artigos. - Lei Federal 8.159, de 8.1.1991 (Política Nacional de Arquivos Públicos e Privados): assegura o direito ao acesso aos documentos públicos (art. 22). 21 - Lei 8.974/95 (Lei da Biossegurança): está previsto que os órgãos responsáveis pela fiscalização dos Ministérios envolvidos na temática e ali citados, devem "encaminhar para publicação no Diário Oficial da União resultado dos processos que lhe forem submetidos a julgamento, bem como a conclusão do parecer técnico."(art. 7º VIII) - Lei 9.433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos): estabelece como um de seus instrumentos o sistema de informações sobre os recursos hídricos (art. 5º). - Lei 7.661/98 (Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro): determina em seu art.8º que "os dados e as informações resultantes do monitoramento exercido sob responsabilidade municipal, estadual ou federal na Zona Costeira, comporão o Subsistema GerenciamentoCosteiro, integrante do Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente- SINIMA. - Agenda 21, capítulo 40: determina, em suma, que no processo do desenvolvimento sustentável, tanto o usuário, quanto o provedor de informação devem melhorar a disponibilidade da informação. - Decreto 2.519, de 16.3.98: a Convenção sobre Diversidade Biológica aderida pelo Brasil pelo citado decreto prevê (art. 17º) a obrigatoriedade do intercâmbio de informações disponibilizando-as ao público. - Dec. 2.741, de 20.8.98: na Convenção Internacional de Combate à Desertificação, determina a divulgação da informação obtida nos trabalhos científicos sobre a temática (art. 18). l) PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE Com o advento da Constituição Federal de 1988, a propriedade passou a ter seu uso condicionado ao bem-estar social e a ter assim uma função social e ambiental, conforme consta dos seus arts. 5º, XXIII, 170, III e 186, II. Para o Direito Ambiental o uso da propriedade só pode ser concebido se respeitada sua função socioambiental, tornando-se assim mais um dos seus princípios orientadores. m) PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, princípio 16. Art. 4º, Lei 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) e Lei 9.433/97 (Lei das Águas) e art.225, §3º Constituição Federal. n) PRINCÍPIO DA COMPENSAÇÃO Este princípio não está expressamente previsto na legislação, mas existe em virtude na necessidade de se encontrar uma forma de reparação do dano ambiental, principalmente quando irreversível. O causador do dano irreversível pode fazer uma compensação com uma ação ambiental. Ex. o aterro irreversível de uma lagoa onde há vida selvagem, pode ser compensado com medidas de proteção efetiva em um lugar similar, ou mesmo a restauração de uma outra lagoa próxima. 22 O art. 8º, da Lei 6.938/81, diz que compete ao CONAMA, entre outras coisas, homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental. Estando aí uma possibilidade de se compensar o prejuízo com uma ação ambiental. o) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE Todo aquele que praticar um crime ambiental estará sujeito a responder, podendo sofrer penas na área administrativa, penal e civil. Lei 9.605/98, que trata dos crimes ambientais; Lei 6.938/81, art.14º que trata da responsabilidade objetiva do degradador. p) PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, Princípio 3, que definiu o desenvolvimento sustentável. Agenda 21; q) PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art.225, § 1º da Constituição Federal, prevê o princípio da educação ambiental ao dizer que compete ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. A educação ambiental tornou-se um dos principais princípios norteadores do direito ambiental. Está previsto ainda na Agenda 21; r) PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Como a poluição pode atingir mais de um país, além do que a questão ambiental tornou-se uma questão planetária, assim como a proteção do meio ambiente, a necessidade de cooperação entre as nações, o princípio da cooperação internacional, tornou-se uma regra a ser obedecida, estabelecendo-se assim mais um princípio norteador do Direito Ambiental. Princípio 2 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. s) PRINCÍPIO DA SOBERANIA DOS ESTADOS NA POLÍTICA AMBIENTAL Agenda 21; 5. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL FEDERAL LEI DA FAUNA Lei de Proteção à Fauna – Código de Caça - Lei Nº 5197, de 03 de janeiro de 1967. Alterada pela Lei Nº 7653, de 12 de fevereiro de 1998. A Lei de proteção à fauna, como as demais legislações ambientais surgidas na década de 60, tinha o grande objetivo de ordenar a exploração da fauna silvestre e não propriamente estabelecer única e tão-somente mecanismos protecionistas. 23 Nesse ordenamento, novas e fundamentais situações foram estabelecidas, passando-se a regrar toda a exploração da fauna silvestre, bem como a sua proteção a partir desse diploma legal. O primeiro aspecto de relevância foi o de definir fauna silvestre como todos os animais, de quaisquer espécies, que naturalmente vivem fora do cativeiro. Ainda foram incluídos seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, todos eles contemplados como propriedade do Estado, ou seja, tutelados pelo Estado, recaindo sobre eles a proibição de utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha (art. 1º). Como há época eram permitidos os atos de caça livremente, e essa atividade estava enraizada culturalmente no povo brasileiro, a legislação permitia que se praticasse o exercício da caça se as peculiaridades regionais assim comportassem, sendo essa permissão regulamentada pelo Poder Público Federal (§ 1º art. 1º). De pronto se estabeleceu a proibição do exercício da caça profissional, bem como o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos e objetos que implicassem a sua caça, perseguição, destruição ou apanha (art. 2º e 3º). Dentre esses produtos, podemos enumerar: peles, couros, bicos, penas, etc, ou seja, os objetos a serem comercializados deveriam implicar obrigatoriamente a caça do animal silvestre, excetuando-se dessa proibição os animais provenientes de criadouros devidamente legalizados, dando-se a esses animais a mesma conotação dos animais não silvestres domesticados, que são utilizados largamente pelo ser humano (§ 1º art. 3º). A introdução de novas espécies no País passou a ter a obrigatoriedade de parecer técnico oficial favorável e a devida licença expedida na forma da lei (art. 4º). Esse texto legal procurou salvaguardar os próprios animais silvestres brasileiros, que em contato com animais exóticos de outros países poderiam apresentar problemas, adquirir doenças ou serem ainda presas fáceis desses novos animais, trazendo prejuízo para aqueles oriundos da própria região. A lei observou também que o Poder Público poderia criar reservas biológicas, nacionais, estaduais e municipais; bem como parques, estaduais, federais e municipais, para o exercício da caça, tanto em caráter permanente, como temporário, com fins recreativos, educativos e turísticos (art. 5º). A lei estabeleceu o estímulo do Poder Público para a formação e funcionamento de clubes e sociedades amadoristas de caça, objetivando alcançar o espírito associativista para a prática do esporte e a construção de criadouros destinados à criação de animais silvestres com fins econômicos (art. 5º). Verifica-se nessa situação que o Poder Público, há época, entendia as atividades de caça como atividades esportivas, da mesma forma que acontece em vários países do mundo, onde esse ato é permitido e regulamentado, proporcionando que o manejo desses animais redundasse em uma atividade técnica e acompanhada pelo Poder Público. A legislação passa a considerar como ato de caça a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de espécimes da fauna silvestre, inclusive quando autorizados ou consentidos por ato do Poder Público previsto na lei (art. 7º). Como o ordenamento da lei de proteção à fauna também estava dirigido à utilização dos animais silvestres, foi fixada a publicação e atualização anual da relação de espécies cuja caça seria permitida, suas respectivas áreas, época, número de dias e finalmente a cota diária de exemplarescom tal permissão (art. 8º). 24 Previu a lei que, satisfeitas essas exigências, poderiam não só ser capturados, como também mantidos em cativeiro os espécimes da fauna silvestre (art. 9º). Algumas situações são efetivamente de proibição dos atos de caça, destacando-se: uso de visgos, atiradores, bodoques e venenos; através de incêndios ou armadilhas, enfim, formas de captura que maltratassem a caça; com armas à bala a menos de três Km de qualquer via férrea ou rodovia, com o objetivo de impedir acidentes na prática da caça; com o uso de armas de calibre 22 para animais do porte superior ao tapiti; ou seja, a previsão de que para os animais maiores deveriam ser utilizados calibres que evitassem que o animal ficasse ferido em sofrimento após ter sido caçado; com armadilhas constituídas em armas de fogo (também conhecidos por canhõezinhos), uma vez que essas armas podem gerar acidentes e ferimentos não só em animais, mas também em pessoas; nas zonas urbanas e suburbanas povoadas, ou seja, aquelas onde podem ocorrer acidentes envolvendo as pessoas; em estabelecimentos oficiais e açudes do domínio público; na faixa de 500 metros de cada eixo das vias férreas ou rodovias; nas áreas destinadas à proteção de fauna e flora, especificamente; nos jardins zoológicos, parques e jardins públicos; fora do período de permissão de caça, ainda que em propriedades privadas; à noite, com exceção dos casos de animais nocivos; e, finalmente, no interior de veículos de qualquer espécie (art. 10). Fixou a lei que para o exercício da caça era obrigatória a licença anual, tanto de caráter específico quanto de âmbito regional, expedido pelo órgão ou autoridade competente, indicando também que quanto à arma, essa deveria ser de porte específico expedido pelo órgão competente (art. 13). Tem-se também, no Código de Caça, a concessão de licenças especiais para cientistas e instituições científicas oficiais para coleta de materiais destinados às devidas pesquisas (art. 14). Outro artigo importante da lei é a proibição de exportação de peles, couros de anfíbios e répteis em bruto, que possui o objetivo de evitar que o beneficiamento no exterior, altamente lucrativo, estimule as atividades de caça ilegal (art. 18). Foi previsto também nessa lei que para o transporte interestadual e internacional haveria necessidade de uma guia de trânsito expedida pela autoridade competente. Era o controle, tanto da exportação de animais silvestres como de insetos e seus produtos, bastante comuns à época (art. 19). Como ocorreu também no Código Florestal, os funcionários no exercício da fiscalização passaram a ficar equiparados aos agentes de segurança pública, sendo-lhes assegurado o porte de arma (art. 26). As ilegalidades praticadas com relação à lei de proteção à fauna recebiam, até 1988, o tratamento de contravenção penal, porém nesse ano foi editada a lei 7653, mais precisamente a 12 de fevereiro, que possuía o objetivo de frear a grande escalada de comércio e abate de animais silvestres, em especial os jacarés do Mato Grosso. Dessa forma, foi editada a lei, alterando o Código, que passou a punir com pena de reclusão, variando de 2 a 5 anos, as irregularidades praticadas nos atos de caça. Essa legislação, que tinha o objetivo específico contra as transgressões mais graves, terminou por abranger todas as ações, inclusive as mais simples, gerando um grande problema de aplicação, tendo em vista que além de preconizadas como crimes, estes passaram a ser inafiançáveis. 25 A situação gerou, durante muitos anos, graves conflitos na aplicação do Código de Caça, que apenas com legislações recentes foram corrigidas. O código ainda previu circunstâncias de agravamento punitivo nas seguintes situações: cometimento da infração no período de defeso da caça ou durante a noite. O período de defeso visa garantir a procriação dos animais, pois são estabelecidos nos períodos de reprodução e ainda quando as fêmeas se encontram com filhotes. Quanto à caça durante a noite, existe agravamento da pena, tendo em vista que nesse período impossibilita-se ou dificulta-se a fuga dos animais pela forma como é praticada a caça, quase sempre utilizando-se de faróis ou outros meios de iluminação sobre o animal, que os deixam desnorteados por alguns instantes, o suficiente para serem facilmente abatidos (art. 29-a); o segundo quesito de agravamento era o emprego de fraude ou abuso de confiança (art. 29-b); o terceiro, do aproveitamento indevido da licença da autoridade, ou seja, possuir a licença, mas utilizá-la em desacordo com o seu estabelecimento ou sua autorização; e finalmente, a incidência sobre animais e produtos oriundos de onde a caça é proibida, ou seja, uma dupla irregularidade e, portanto, uma circunstância agravante. Repetindo, ainda, o que estava previsto no Código Florestal de 1965, o legislador direcionou a incidência de punição sobre os autores nas seguintes condições: autores diretos; a autores arrendatários, parceiros, posseiros, gerentes, administradores, diretores, promitentes compradores ou proprietários das áreas, desde que praticadas por prepostos ou subordinados e no interesse dos proponentes ou superiores hierárquicos; as autoridades que por ação ou omissão consintam na prática do ato ilegal ou que cometam o ato com abuso de poder (art. 30). Os pontos mais significativos da lei de proteção à fauna foram aqui elencados. Também nas legislações posteriores, que tratam do assunto, verificaram-se as evoluções que partiram dela. Durante muitos anos foi o único instrumento hábil para se regrar a caça de animais silvestres, e que ainda continua em vigência, apesar de outros diplomas revogarem e aperfeiçoarem alguns textos, adaptando-os à nova realidade. LEI DA FLORA NOVO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO (LEI 12.651/2012) Lei nº 12.651/2012, de 25 de maio de 2012 e suas alterações (Código Florestal Brasileiro). 1. BREVE HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA O primeiro Código Florestal foi criado em 1934, durante a era Vargas. Em 1965, durante a ditadura militar, tivemos a edição de um novo Código, que foi revogado pelo atual (Lei 12.651/12). O principal objetivo do Código era regulamentar a exploração de terras no país e estabelecer as áreas que deveriam ser preservadas. Durante todo esse tempo que esteve em vigor passou por diversas mudanças para atender a novos interesses e exigências. Ambientalistas, ruralistas, pesquisadores e estudiosos concordavam que o Código precisa ser revisto. E isso foi feito. Para os ruralistas, o Código Florestal, que estava em vigor, tornava inviável o desenvolvimento da agropecuária. Por outro lado, os ambientalistas e a maior parte dos estudiosos defendiam a tese de que o problema era a falta de eficiência no campo e por isso não haveria a necessidade de exploração de novas terras. 26 Com a proposta do novo Código, várias polêmicas surgiram. Sendo que o cerne de todo o debate foram as áreas de preservação permanente; as reservas legais; onde, quem e em quais circunstâncias essas áreas poderiam ser exploradas ou ocupadas; as formas de recomposição das áreas degradadas; e qual seriam as punições para quem havia desmatado e se haveria anistia. Mesmo depois de aprovado, as polêmicas, debates e dúvidas continuam. O que faz desse assunto um tema complexo e repleto de suspeição em razão da sua hodiernidade. Depois desse escorço dos fatos, vamos aos dispositivos da nova lei. 2. SUMÁRIO DA NORMA O código disciplina, dentre outros, os seguintes temas: Princípios; Conceitos; Áreas de Preservação
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