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Beck, ST Imunologia Clínica 40 IINNFFEECCÇÇÃÃOO PPEELLOO VVIIRRUUSS HHIIVV (site para consulta: http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/manual_tecnico_hiv_2013.pdf) INTRODUÇÃO: A Sindrome da Imunodeficiência adquirida (SIDA) é causada pelo vírus da Imunodeficiência humana (HIV-1) identificado e isolado em 1983. Um segundo vírus, HIV-2, foi isolado de pacientes do oeste da África, com SIDA em 1986. HIV -1, e HIV -2 provavelmente originaram-se de um vírus de macaco africano existente a centena de anos, o qual causa apenas uma infecção crônica nos animais que o albergam. Sugere-se que a quebra na barreira das espécies tenha mudado a virulência deste vírus. A estrutura viral do HIV-1 e HIV-2 são semelhantes (40-50%). São da subfamilia dos retrovírus que causam infecções crônicas, mas não neoplasia. Eles possuem uma única enzima, a transcriptase reversa, que copia o acido ribonucleico viral (RNA) em acido desoxiribonucleico (DNA), o qual eventualmente é inserido no cromossomo da célula hospedeira. Parte do sucesso do HIV em vencer o sistema imune e o tratamento com drogas está na sua habilidade de sofre mutações para formas mais virulentas e resistentes as drogas. Esta variabilidade é devido à enzima transcriptase reversa, a qual produz grande quantidade de copias do genoma com erros de transcrição. Os subtipos mais prevalentes no Brasil são o B e F. VIAS E MECANISMOS DE INFECÇÃO A infecção por HIV pode ocorre por três vias: injeção direta na corrente circulatória, através de lesão de superfície mucosa, ou de mãe para filho durante a gestação ou aleitamento. O HIV -1 tem sido isolado do sangue, plasma, saliva e semem, de indivíduos infectados, sendo, portanto possível, sua transmissão através de sangue, seus derivados, e contato sexual. A glicoproteina do envelope viral (gp 120), é a parte viral responsável pela ligação do vírus na célula a ser infectada. Esta glicoproteina liga-se a proteína CD4, que é a receptora para o vírus, e esta presente na superfície celular. Como a molécula CD4 é requerida para a ligação e entrada do HIV nas células, o HIV predominantemente infecta e replica em células que carregam CD4. Isto inclui os linfócitos T CD4+ (auxiliares), e células da linhagem monócito/ macrófago, incluindo as células especializadas microgliais do cérebro, células da placenta e células dendríticas (incluindo células foliculares dendríticas encontradas nos linfonodos e células de Langerhans na pele). Beck, ST Imunologia Clínica 41 Todas estas células citadas funcionam como importante reserva viral, mas as reservas de maior importância em pacientes assintomáticos são os linfonodos. Logo após a infecção, o HIV, como partícula viral livre ou dentro de células T CD4, é levado aos linfonodos regionais, e estimula a resposta imune celular e humoral necessária ao combate a infecção. Com isso, há um maior recrutamento de linfócitos aos linfonodos, o que resulta em mais e mais células CD4 infectadas. Gp41 Gp120 VIRUS HIV p24 A SIDA resulta da Imunodeficiência produzida pela deplessão induzida ou disfunção destas células (linfócitos T CD4), embora os outros tipos celulares possam causar doença diretamente (ex. cel. microglial- encefalopatia, cel epitelial do intestino - diarréia). Alguns indivíduos simplesmente têm febre prolongada, diarréia, perda de peso em ausência de infecções. Contudo infecções oportunistas são usualmente associadas com clinica da AIDS. FASES DA INFECÇÃO PELO HIV INFECÇÃO PRIMARIA Dependendo da resposta imune de cada indivíduo e da carga viral com a qual este entrou em contato, existe uma fase inicial (que pode variar em até 12 dias) na qual o vírus encontra-se principalmente nos linfonódos, não havendo transmissão da infecção. Esta fase é chamada de fase de ECLIPSE. Após, ocorre a fase virêmica caracterizada por uma Síndrome tipo mononucleose infecciosa, com duração de 3 - 14 dias, apresentando mal-estar, diarréia, linfoadenopatia generalizada, exantema. Este quadro, no entanto, só pode ser definido em aproximadamente 20% dos pacientes. Laboratorialmente, após a fase chamada de eclipse, ocorre a chamada janela imunológica, onde a viremia ainda é muito baixa, não sendo detectados nem RNA viral, nem antígenos, o que dura aproximadamente 12 a 15 dias. Após este período, é possível detectar no sangue antígenos virais circulantes (RNA viral e proteínas do núcleo viral, p24). A replicação viral ativa e a livre circulação do vírus na corrente sanguínea causam a formação de um pico de viremia por volta de 21 a 28 dias após a exposição ao HIV. Essa viremia está associada a um declínio acentuado no número de linfócitos T CD4+. Os anticorpos específicos, só serão detectados dentro de aproximadamente 60 dias (média de 30 dias). Então, normalmente, quatro a doze semanas após a exposição, aparecem os primeiros anticorpos circulantes (anti-p24 e anti-gp41) para HIV, que contribuirão para uma queda na viremia juntamente com o envolvimento de células T citotóxicas específicas, que eliminarão as células infectadas. É importante Beck, ST Imunologia Clínica 42 observar que os anticorpos específicos que estão envolvidos no processo de retirada do vírus da circulação, não são necessariamente anticorpos neutralizantes. Estes tipos de anticorpos são detectados apenas muitas semanas após o vírus ter sido retirado da circulação. Contudo, esta resposta imune específica não é suficiente para vencer o aporte viral. O HIV pode potencialmente escapar da eliminação por dois mecanismos; primeiro, as células infectadas podem não ser eliminadas pelas células T citotóxicas e segundo, como foi dito anteriormente as células foliculares dendríticas podem representar uma fonte de vírus para infecção de novos linfócitos CD4. SET POINT: Carga viral de uma pessoa infectada com o HIV, que se estabiliza após um período de infecção aguda (1 a 6 meses) O SET POINT é atingido depois que o sistema imunológico desenvolveu anticorpos anti-HIV e começa a tentar combater o vírus. PERIODO DE LATÊNCIA CLÍNICA A fase de latência do HIV se caracteriza pela integração do vírus, sob forma de um pró-virus DNA, ao genoma da célula hospedeira, e pode durar anos. A replicação do vírus ocorre durante todo o período da infecção, com maior ou menor intensidade. Existe latência clínica, mas não virológica. O fenômeno imunológico de maior evidência neste estágio da doença é o estado geral de imunoativação. A ativação crônica de células T(incluindo CD4+) bem como a produção de substâncias pelos macrófagos infectados pelo vírus, é os mecanismos responsáveis pela indução destas células a apoptose (Science, 1996,274: 1464-1465), ao mesmo tempo em que cria condições para a replicação viral, podendo causar sua eliminação direta pela infecção (lise), ou torna-las disfuncionais. Um dos marcadores da doença nesta fase é a contagem das células T CD4, que declina lentamente, mas mantém-se em numero > 500/ul. Uma queda na contagem para um número < 300/ul, precede o inicio da SIDA na maioria dos pacientes. PERIODO AVANÇADO DA DOENÇA Quando surge o estado de imunodeficiência severa, ocorre uma modificação no perfil sorológico: há uma tendência ao desaparecimento dos anticorpos para as estruturas codificadas pelo gen gag (anti-p24) e um reaparecimento da estruturas virais circulantes (principalmente antígeno p24). Esta condição é tanto mais verdadeira quanto mais avançada a doença, podendo até definir um índice anti-p 24/ anti gp 41 como fator prognóstico. Beck, ST Imunologia Clínica 43 O resultado final deste processo sistêmico é a destruição do sistema imunee severa imunosupressão. A linfoadenopatia generalizada pode desaparecer, refletindo a destruição dos linfonodos. O colapso do sistema imune leva ao aparecimento de infecções oportunistas e neoplasias. Estes patógenos oportunistas incluem protozoários como P. carinni, T. gondi, vírus como Citomegalovirus, e bactérias como Cândida, Criptococcus,e Histoplasma. LESÕES NEUROLÓGICAS: Alguns pacientes podem sofrer de severos problemas neurológicos, como a Síndrome demencial com distúrbios de movimento, comportamento e cognição, mesmo quando ha pequena infecção no cérebro por HIV, e não ha associação com infecção secundária ou oportunista. CD4 se encontra em neurônios, células da glia e diversas partes do cérebro, então estas células podem ligar gp120. A gp120 causa um aumento na concentração de Cálcio neuronal, e eventualmente leva a célula a apoptose. Aproximadamente 25% dos pacientes que não tem sintomas neurológicos quando vivos, apresentam vacúolos em sua mielina e infiltração de macrófagos no seu cérebro na autópsia. SARCOMA DE KAPOSI Ocorre em 36% dos pacientes homossexuais com AIDS. Uma possível causa é a manifestação da infecção causada pelo vírus do Herpes tipo 8 (HSV-8) que se transmite por vias similares ao vírus HIV. O uso de preservativos previne sua transmissão da mesma maneira que previne a transmissão do HIV. O Sarcoma de Kaposi pode localizar-se exclusivamente na pele, com menos de 10 lesões (estagio 1), ou pode ser mais disseminado (estágio 2). Pode afetar órgãos mais profundos (estágio 3), ou afetar pele, órgãos profundos e pulmão. Existem testes sorológicos para saber se alguém está infectado pelo vírus HSV8, mas não são usadas na rotina clínica. O tratamento do HIV tem prevenido o aparecimento do sarcoma. O sarcoma de Kaposi aparece em pessoas que estejam infectadas pelo vírus HSV8 e tenham alguma imunodeficiência associada. TRATAMENTO: O objetivo básico do tratamento antirretroviral (TARV) é diminuir a mortalidade e a morbidade consequentes à infecção pelo HIV, e quando instituído tratamento precoce, diminuir a transmissão viral. A supressão da replicação viral leva à recuperação ou preservação da função imune e, com isso, à diminuição da frequência de infecções e neoplasias oportunistas. Cada classe de medicamentos atua em diferentes etapas do ciclo de vida do HIV. No Brasil o Ministério da Saúde através do Programa Nacional de DST/AIDS disponibiliza para o tratamento do HIV/AIDS os medicamentos das seguintes classes farmacológicas: inibidores da transcriptase reversa (ITR), inibidores da protease (IP), e inibidores da fusão Beck, ST Imunologia Clínica 44 (IF). As terapias HAART (do inglês Terapia antirretroviral altamente ativa) baseadas em inibidores de protease (IP-HAART) e inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos (ITRNN-HAART) são bastante eficazes no controle da replicação viral e conseqüentemente, no aumento do número de células T CD4+. Contudo, o desenvolvimento de cepas virais resistentes, continua existindo. Fatores como a quantidade de medicamentos, as reações adversas (intolerância), a necessidade de períodos de jejum, a incompatibilidade entre as drogas, a dificuldade na compreensão das metas da terapia e da implicação do seu uso inadequado, contribuem para dificultar o processo terapêutico. Beck, ST Imunologia Clínica 45 CONCLUSÃO: A doença pelo HIV é multifásica, e é o resultado de um processo patogênico sistêmico que começa no momento da infecção primaria. A variabilidade de cepas virais existentes, devido a mutações características do vírus, dificulta o desenvolvimento de vacinas que possam ser eficaz contra todas elas. Ainda existem dificuldades éticas no desenvolvimento de uma vacina. Quando uma população é vacinada, como se deve eticamente permite-lhe que se exponha ao vírus? Deve-se informar a quem tenha sido vacinado com um placebo que ele pode não estar protegido contra o HIV? Estes temas éticos e morais constituem também um impedimento ao desenvolvimento de uma nova vacina contra o HIV. Nesta busca, foi descrito um co-receptor, o CCR5, que é também necessário para a entrada do vírus na célula, junto com o receptor CD4. Quando o gene que codifica o CCR5 apresenta uma deleção mutante, o receptor celular codificado por este gene fica gravemente alterado. A homozigose para a deleção do CCR5 (DCCR5) está associada a um efeito protetor à infecção pelo HIV (NEWSLAB, ed.26,1998 pg 46) Molécula CD4 CCR5 Beck, ST Imunologia Clínica 46 1- A partícula do HIV liga-se ao receptor localizado na superfície de um linfócito conhecido como “célula CD4”. O material genético do HIV é então injetado no citoplasma da célula infectada. 2 -O material genético do HIV representado por RNA, é transcrito para DNA pela ação de uma enzima do HIV, chamada “transcriptase reversa”, numa fase considerada inicial do ciclo de reprodução viral. NOTA – Nessa fase, agem os “inibidores da transcriptase reversa (AZT,ddC, ddI, 3TC etc). 3- O DNA do HIV é então integrado no cromossoma da célula hospedeira (infectada) e transcrito de volta para RNA. Essa transcrição pode ocorrer de forma imediata ou acontecer somente depois de um determinado período. Com maior ou menor velocidade sempre ocorre replicação viral. 4- O RNA resultante é, por sua vez, transformado em cadeias de longas proteínas e enzimas. 5- A enzima protease corta, no entanto, tais cadeias de longas proteínas, de modo a permitir a organização dos componentes das novas partículas virais – numa fase posterior de maturação dentro do ciclo de reprodução viral. Os inibidores da protease viral (INADIVIR, ETC) atuam bloqueando o processo de replicação do HIV. 6- Partículas completas e suficientemente maduras de HIV espalham-se então para infectar novas células do paciente com AIDS. Beck, ST Imunologia Clínica 47 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO O diagnóstico sorológico para a infecção pelo HIV é feito por uma variedade de técnicas bem padronizadas. Contudo, estas técnicas possuem vantagens e desvantagens. TRIAGEM: TESTES RÁPIDOS: sensibilidade semelhante ao convencional, só que mais caro e a leitura é visual, podendo a interpretação ser subjetiva. Tem seu uso permitido como descrito na portaria nº151 DE 14 DE OUTUBRO DE 2009 (revoga portaria 34, DE 28 DE JULHO DE 2005) MÉTODO IMUNOENZIMÁTICO - ELISA É o teste de escolha para triagem. Baseia-se na técnica de “sanduíche”, e usava inicialmente como antígeno, lisado viral (1a geração), ou proteínas preparadas por técnica de DNA recombinante ou peptídeo sintético (2ª geração), detectando apenas anticorpos da classe IgG. Atualmente estão em uso os testes de 3ª geração, que detectam ao mesmo tempo anticorpos contra HIV I e II da classe IgM e IgG, diminuindo a janela imunológica Mais recentemente está sendo utilizado, Kits chamados de 4ª geração, que além dos anticorpos, detectam no mesmo teste, a presença do antígeno p24, melhorando a sensibilidade do teste, diminuindo a “janela imunológica” em 7 dias. Soro que resultar negativo por este método pode ser declarado negativo, por não possuir anticorpos contra HIV. Mesmo assim, para termos um resultado seguro, deve-se repetir o teste após 3 meses. Sabe-se que em aproximadamente 50% das pessoas com a infecção pelo HIV, não é possível determinar a presença do antígeno p24, e os anticorpos podem estar em níveis ainda muito baixos para serem revelados pelo teste. Apesar da melhora da sensibilidade dos Kits, ainda existe o período de janela imunológica. Esta janela imunológica podevariar de paciente para paciente, dependendo da carga viral a gp12 Ag P24 na amostra Ac anti-HIV na amostra Beck, ST Imunologia Clínica 48 qual o indivíduo foi exposto, presença associada de outras doenças sexualmente transmissíveis, grau de exposição, e sistema imune individual do paciente. Soro que resultar positivo, terá que ter sua positividade confirmada por repetição do teste em uma segunda amostra e após, por técnica confirmatória, pois nem sempre este resultado significa presença de anticorpos contra HIV . Soros com reatividade baixa deverão ser repetidos para verificar evolução da resposta sorológica. Sugere presença de baixos níveis de anticorpos ou presença de anticorpos inespecíficos. Persistindo a dúvida no resultado, repetir o teste após nova coleta e testar por dois métodos diferentes. Aconselha-se pesquisa qualitativa do genoma viral (cDNA) por PCR, após contato com o clínico responsável. TESTES CONFIRMATÓRIOS ( “suplementares”). Þ Western-Blot Ao contrário dos outros métodos, o western blot permite análise do perfil de anticorpos dirigidos contra as diferentes proteínas virais. Estas proteínas (antígenos virais) estão separadas individualmente (eletroforese de proteínas), em membrana de nitrocelulose. Os anticorpos presentes no soro reconhecem a proteína viral e são revelados através da precipitação de substrato corado, formando uma linha visível a olho nu. Sempre que possível este teste deve ser realizado tanto na amostra usada para triagem, quanto numa nova amostra. Beck, ST Imunologia Clínica 49 De acordo com a OMS, um teste pode ser confirmado positivo para HIV pelo western-blot quando apresentar reação com pelo menos duas bandas relacionadas com produtos do envelope viral ( gp 160 ( gp120+ gp41) ) e mais uma banda relativa a proteínas do núcleo ( p24) ou enzimas virais ( gen pol) Então HIV POSITIVO = 2 env +/- core +/- pol Gp41 P24 Soros que não resultarem com este padrão de leitura, serão tidos como indeterminados, talvez devido ao baixo nível de anticorpos presente na amostra, necessitando repetição do teste, para verificação de posterior soro conversão. ELISA (mais sensível que WB) 3ª geração detecta IgG,IgM, 4ª geração IgG, IgM e Ag p24 Western-blot detecta apenas IgG Possível no inicio da infecção: ELISA reagente Wb não reagente Importante continuar pesquisando o paciente com comportamento de risco. gp16 gp12 Beck, ST Imunologia Clínica 50 WESTERN BLOT Amostra não-reagente : ausência de bandas ·Amostra reagente: presença de, no mínimo, 2 (duas) bandas dentre as: gp 160/120; gp 41; p24. ·Amostra indeterminada: qualquer outro padrão de bandas diferente dos descritos anteriormente. BBaannddaass mmaaiiss ccoommuummeennttee eennccoonnttrraaddaass eemm WWBB iinnddeetteerrmmiinnaaddoo eemm ggeessttaanntteess:: pp2244,, pp5555,, pp1188 oouu ccoommbbiinnaaççããoo ggpp4411--pp3311 (( OOlliivveeiirraa CCAAFF eett aall,, JJ..CC..MMiiccrroobbiiooll,, 22000055)) RESULTADOS INDEDERMINADOS Podem ser causados : ÆEm pacientes em processo de soroconversão ÆEm portadores em estágio avançado da infecção pelo HIV ÆReação cruzada (doença do colágeno, auto-imune, linfoma, esclerose múltipla, multiparidade, imunização recente). ÆInfecções pelo HIV-2 ÆErro técnico (inativação da amostra, congelamento/descongelamento repetidos, erro na transcrição e/ou leitura, contaminação da amostra) Þ Imunofluorescência Diversas linhagens de células infectadas com HIV podem ser usadas para a realização da técnica de imunofluorescência. A técnica é realizada da mesma maneira que outras imunofluorescência indiretas. É muito específica, embora seja menos sensível que as técnicas imunoenzimáticas. Apenas deve-se ter muito cuidado na leitura, por causa de artefatos fluorescentes que podem aparecer devido a problemas inerentes à própria técnica de fluorescência. Também se deve sempre observar junto às células fluorescentes positivas, células sem fluorescência, para que seja descartada a hipótese de anticorpos contra elementos celulares, como por exemplo, anticorpos antinucleares, que quando presentes causariam a fluorescência de todas as células (infectadas ou não infectadas) Beck, ST Imunologia Clínica 51 RESUMO: Reação de ensaio imunoenzimático: o principal teste utilizado no diagnóstico sorológico do HIV é o ensaio imunoenzimático, conhecido como Elisa. Este teste utiliza antígenos virais (proteínas) produzidos em cultura celular (testes de primeira geração) ou por meio de tecnologia molecular (recombinantes). Os antígenos virais são absorvidos nas cavidades existentes das placas de plástico dos kits, onde o soro do paciente é adicionado a seguir. Se o soro possuir anticorpos contra o HIV, estes se ligarão aos antígenos (proteínas do HIV). Tal fenômeno pode ser verificado com a adição de reagente denominado de conjugado. Em caso positivo, ocorre uma reação corada ao se adicionar um substrato. Essa técnica é amplamente utilizada como teste inicial para detecção de anticorpos contra o vírus, devido à sua alta sensibilidade. Imunofluorescência indireta para o HIV-1: fixadas em lâminas de microscópio, as células infectadas pelo HIV-1 (portadoras de antígenos) são incubadas com o soro do paciente que se deseja testar, ou seja, onde é feita a pesquisa de anticorpos. A presença dos anticorpos é revelada por meio de microscopia de fluorescência. A imunofluorescência é utilizada como teste confirmatório da infecção pelo HIV. Imunoblot: neste teste, proteínas recombinantes e/ou peptídeos sintéticos, representativos de regiões antigênicas do HIV-1 e do HIV-2 são imobilizados sobre uma tira de nylon. Além das frações virais, as tiras contêm regiões de bandas controle (não virais) que são empregadas para estabelecer, por meio de comparação, um limiar de reatividade para cada banda viral presente. Western blot: este teste envolve, inicialmente, a separação das proteínas virais por eletroforese em gel de poliacrilamida, seguida da transferência eletroforética dos antígenos para uma membrana de nitrocelulose (geralmente , kit comercial). O soro do paciente - onde se faz a pesquisa dos anticorpos contra o HIV - é colocado em contato com esta membrana. As reações antígeno-anticorpo são detectadas por meio da reação com anti-imunoglobulina humana, conjugada com uma enzima. Após uma reação de oxi-redução e de precipitação, as proteínas virais são visualizadas sobre a fita de nitrocelulose. Esse teste é utilizado para confirmação do resultado reagente ao teste Elisa, ou seja, é também um teste confirmatório da infecção. Tem alta especificidade e sensibilidade. DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO VÍRUS HIV POR PCR O mecanismo de replicação dos retrovirus possibilita dois caminhos para a detecção da presença do vírus HIV no organismo humano: a demonstração da presença do DNA pró-viral integrado ao genoma celular e a detecção do RNA viral presente nas partículas livres circulantes. Em vista da replicação viral ocorrer em velocidade alta (109 partículas por dia, com vida média de 2 dias)(Nature,1995; 373:117-122), já imediatamente após infectar a primeira célula, em qualquer momento pós-infecção poderão ser encontradas partículas virais circulantes, contudo, é necessário que haja uma Beck, ST Imunologia Clínica 52 quantidade mínima de partículas virais para que a técnica de PCR seja capaz de detectá-las.(Nunca esquecer da importância do tamanho da carga viral com a qual o indivíduo entrou em contato) Sob condiçõesideais, ou seja, tendo-se um protocolo muito bem otimizado para a reação de PCR, seu limite de sensibilidade será de 50 cópias do genoma por mL de plasma (PCR ultra-sensíveis). O período de tempo estimado para que seja possível a detecção do genoma viral após contaminação foi estimado em aproximadamente 7-9 dias após contaminação parenteral, isto é, após o vírus ter passado pelos linfonódos. Se possivel, para diagnóstico é sempre mais seguro que seja feita a pesquisa do pró-vírus integrado na célula do hospedeiro, isto é, do cDNA. A PCR para pesquisa do HIV está padronizada para detectar principalmente o sub-tipo B do vírus da AIDS. Quando houver alta suspeita da infecção, com resultado de sorologia positiva, e PCR negativa, sugere-se pesquisa de carga viral, pois este método consegue detectar todos os subtipos virais. CARGA VIRAL A determinação da carga viral circulante é importante, juntamente com a determinação no nível de células CD4, para monitorar o paciente HIV positivo. A carga viral indica o nível de replicação viral, isto é a quantia de RNA viral circulante no plasma do paciente, e número de células CD4 permite avaliar a integridade do sistema imune e sua capacidade de produzir uma resposta imune frente a microorganismos oportunistas. Beck, ST Imunologia Clínica 53 PESQUISA ISOLADA DE anti- P24- GP 41 A pesquisa separada destes anticorpos foi muito útil para o prognóstico do paciente infectado, uma vez que ao entrar na fase ativa da doença, observa-se o desaparecimento dos anticorpos contra o antígeno p24, e manutenção dos anticorpos contra gp 41, juntamente com o reaparecimento do antígeno (p24) circulante, o qual apenas estava presente no inicio da infecção. Hoje o acompanhamento se faz através da determinação da carga viral do paciente e número de células T CD4/CD8. PESQUISA DO ANTÍGENO p24 O método de ELISA usado para detecção do antígeno circulante, apresenta uma sensibilidade entre 50 a 100 pg/mL. Como o método se baseia na captura do antígeno livre circulante por anticorpos fixados a fase sólida do teste, existe a necessidade da presença de produtos livres do vírus na corrente circulatória para que possam ser capturados. Portanto, complexos antígeno - anticorpo, como por exemplo p24/antip24, não serão detectados por este método. Em razão deste fato, a sensibilidade do teste dependerá da fase da doença, sendo detectado por períodos curtos. Terá sensibilidade alta na fase aguda (primeira replicação viral) antes da soroconversão, praticamente zero no período de latência e voltará a positivar no final da doença, quando ocorrer à queda dos anticorpos anti-p24. TRATAMENTO DROGAS INIBIDORAS DA TRANSCRIPTASE REVERSA Por impedirem a transcrição de RNA para DNA INIBEM A REPLICAÇÃO VIRAL, impedindo a integração do genoma viral com a célula do hospedeiro. DROGAS INIBIDORAS DA PROTEASE VIRAL BLOQUEIAM O PROCESSO DE REPLICAÇÃO, IMPEDINDO A ORGANIZAÇÃO DOS COMPONENTES DAS NOVAS PARTÍCULAS VIRAIS. Beck, ST Imunologia Clínica 54 DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO NEONATAL O Diagnóstico sorológico em RN é difícil. O Ig G materno só desaparece da corrente circulatória do filho de 12 a 15 meses de vida, e como não existe pesquisa de anticorpos anti- IgM, um teste positivo para pesquisa de anticorpos, não confirma contaminação. Por outro lado, uma negativação da sorologia de criança soropositiva nem sempre garante uma não infecção, pois pode ter havido retardo na produção de anticorpos próprios da criança por imaturidade imunológica, devendo esta criança ser acompanhada com sorologia aproximadamente um ano após a pesquisa de anticorpos IgG ter resultado negativa. A pesquisa de antígeno, só terá validade quando o teste resultar positivo. Isto porque os anticorpos maternos (IgG) presentes no soro do RN, podem se ligar ao antígeno p24 impedindo sua detecção. Como estes imunocomplexos não são detectados pelo teste, a pesquisas do Ag p24 pode apresentar-se falsamente negativa. A pesquisa por PCR (reação em cadeia da polimerase), para detecção do material genético do vírus, é o único método para um resultado seguro, mas ainda é um método muito caro, sendo apenas realizados em laboratórios especializados que trabalhem com diagnósticos por métodos moleculares. Em Rns de mães infectadas com o vírus, não deve ser feita PCR imediatamente após o nascimento. Existe o risco de o bebê ter sido infectado no momento do parto, e então, não ter ainda nível de carga viral que possa ser detectado. Probabilidade de transmissão materna do vírus HIV para o Recém Nascido Estádio da infecção materna % de Recém nascidos infectados Estádio CDC II III IV 19 26 35 RNA-HIV plasmático (Nº de cópias /ml) < 1000 1000 a 9999 >10 000 0 13,5 33,3 Antigenemia p24 Negativa Positiva 19 46 Taxa de CD4+ >400 <400 35 69 Fonte: Informativo Biomérieux Antes dos tratamentos anti-retrovirais a probabilidade de contaminação do RN de mãe HIV positiva era de 30%. Atualmente o índice está entre 2-5 %. Amamentação aumenta em 12% a chance de contaminação do RN Beck, ST Imunologia Clínica 55 DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO NEONATAL RECÉM NASCIDO DE MÃE HIV POSITIVA PESQUISA DE ANTICORPOS PESQUISA DE ANTÍGENO POR ELISA POSITIVA POSITIVA NEGATIVA CONFIRMA CONTAMINAÇÃO PELO HIV ACOMPANHAMENTO SOROLÓGICO (Não descarta. Pode ocorrer FALSO ATÉ DESAPARECIMENTO DOS NEGATIVO PARA PESQUISA DE ANTICORPOS DE ORIGEM MATERNA ANTÍGENO devido IMUNOCOMPLEXOS) (18 MESES). MANTEM SOROLOGIA POSITIVA CONFIRMA CONTAMINAÇÃO PELO HIV Beck, ST Imunologia Clínica 56 Transmissão VERTICAL: O risco adicional de infecção pelo leite materno é de 7,0% a 22,0%, dependendo: •Tempo de exposição, • Infectividade do leite • Suscetibilidade individual da criança Intra-útero (35%), perinatal (65%), aleitamento (7-22%) Criança provavelmente não infectada se: - 2 exames negativos em testes com detecção de RNA ou DNA viral, entre 1-6 meses, sendo um deles após 4 meses de vida*. - ³ 18 meses : uma amostra negativa em testes para detecção de Ac anti-HIV. ÆQuantificação do RNA plasmático especificidade » 100% (carga viral indetectável não exclui com segurança possibilidade de infecção inicial) ÆPCR-DNA (mais sensível) 14 dias após exposição. Cultivo viral (difícil disponibilidade) Beck, ST Imunologia Clínica 57 PORTARIA SVS/MS Nº 151, DE 14 DE OUTUBRO DE 2009 A amostra com resultado reagente, no teste da Etapa I, deverá ser submetida à Etapa II do Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses. Deverá constar a observação: "Para comprovação do diagnóstico laboratorial, uma segunda amostra deverá ser coletada e submetida à Etapa I do Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses". A amostra com resultado não reagente, no teste da Etapa I, será definida como: "Amostra Não Reagente para HIV". O laudo laboratorial deverá incluir a seguinte ressalva: "Em caso de suspeita de infecção pelo HIV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra". A amostra com resultado indeterminado, no teste da Etapa I, não terá resultado definido. Nesse caso, o laudo não será liberadoe uma segunda amostra deverá ser coletada, o mais breve possível, e submetida ao Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses. A ocorrência de resultados indeterminados ou falso-positivos é maiorem gestantes ou portadores de algumas enfermidades. Nessas situações, a avaliação conjunta da história clínica, do risco de exposição do indivíduo à infecção pelo HIV e o resultado laboratorial devem orientar as decisões Caso a paciente seja gestante, deverá ser solicitada segunda amostra para ser submetida ao Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses e nova amostra para realização de teste molecular, conforme orientações do item 4 do anexo desta portaria. Beck, ST Imunologia Clínica 58 Utilização dos Testes Rápidos na Etapa I O diagnóstico rápido poderá ser realizado nas seguintes situações especiais: a)Rede de serviços de saúde sem infraestrutura laboratorial ou localizada em regiões de difícil acesso; b)Centro de Testagem e Aconselhamento - CTA; c)Segmentos populacionais flutuantes; d)Segmentos populacionais mais vulneráveis; e)Parceiros de pessoas vivendo com HIV/AIDS; f)Acidentes biológicos ocupacionais, para teste no paciente fonte; g)Gestantes que não tenham sido testadas durante o pré-natal ou cuja idade gestacional não assegure o recebimento do resultado do teste antes do parto; h)Parturientes e puérperas que não tenham sido testadas no pré-natal ou quando não é conhecido o resultado do teste no momento do parto; i)Abortamento espontâneo, independentemente da idade gestacional; j)Outras situações especiais definidas pelo Departamento de Vigilância,Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. 1- A amostra com resultado não reagente no teste rápido 1 (TR1) será definida como: "Amostra Não Reagente para HIV". O laudo deverá incluir a seguinte ressalva: "Em caso de suspeita de infecção pelo HIV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra". 2- A amostra com resultado reagente no TR1 deverá ser submetida ao teste rápido 2 (TR2). Quando disponível no serviço de saúde, o Imunoblot rápido também poderá ser utilizado como TR2. A amostra com resultados reagentes no TR1 e no TR2 terá seu resultado definido como: "Amostra Reagente para HIV". A amostra com resultados discordantes entre TR1 e TR2 não terá seu resultado definido. Nesse caso, o laudo não será liberado. Uma amostra deverá ser coletada por punção venosa e submetida ao Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses, de acordo com o Anexo III a esta Portaria. Testes rápidos que utilizam soro, tem alta sensibilidade e especificidade. Porém, isto não acontece com o teste em saliva, que é menos sensível. É importante ressaltar que a janela de soroconversão dos testes rápidos que utilizam o fluido oral (saliva) pode chegar até a três (3) meses, dependendo do conjunto diagnóstico utilizado. Beck, ST Imunologia Clínica 59
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