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Beck, ST Imunologia Clínica 63 AAUUTTOOIIMMUUNNIIDDAADDEE Auto-imunidade é a resposta imune formada contra antígenos próprios. Estas respostas podem ocorrer sem presença de doença. Doença auto-imune é a presença de dano tecidual, ou alteração de uma função fisiológica devido à resposta auto-imune. As respostas auto-imunes são muito semelhantes às respostas imunes aos antígenos não-próprios. O desenvolvimento das células T no timo desempenha o papel principal na eliminação de células capazes de reconhecer os peptídeos provenientes de autoproteínas. Este processo de educação tímica é apenas parcialmente bem-sucedido, porque, até em pessoas sadias, podem ser detectadas células T auto-reativas. Existe um segundo nível de controle sobre essas células potencialmente auto-reativas: este nível é conhecido como tolerância periférica. Esta tolerância periférica pode ocorrer devido a “ignorância imunológica”. Esta ocorre devido ao antígeno estar seqüestrado em um órgão avascular tal como o humor vítreo do olho quando íntegro. Mecanismos como anergia celular também evita a ativação indevida das células. A expressão de moléculas co-estimuladoras, necessárias para a ativação celular, é rigorosamente controlada. A quebra da tolerância periférica por inflamação ou lesão tecidual pode então levar ao desenvolvimento de auto imunidade, uma vez que poderá ocorrer acesso impróprio de auto antígenos às células apresentadoras de antígenos, ou expressão imprópria de moléculas co-estimuladoras. De uma outra forma, a semelhança estrutural entre autoproteínas e os microrganismos pode também provocar uma resposta auto-imune. Este processo é conhecido como mimetismo molecular. A interação dos fatores genética com os ambientais é criticamente importante no mecanismo causal da doença imune. Muitas das mais fortes e mais bem caracterizadas associações entre genes de auto-imunidade envolvem diferentes variantes ou alelos do Complexo de Histocompatibilidade Principal (CHP). Beck, ST Imunologia Clínica 64 Doenças auto-imunes comuns X associações ao HLA Doença Associação HLA Artrite reumatóide DR4+DR1 Diabete mélito Insulino dependente DR3+DR4 Doença auto-imune específica de órgão Tireóide Anemia perniciosa Miastenias grave DR3 (em associação ao haplótipo A1, B8, DR3) Os fatores ambientais identificados como possíveis desencadeantes da auto- imunidade incluem hormônios, infecção, drogas terapêuticas e outros agentes miscelâneos, tais como a radiação ultravioleta. As drogas podem induzir uma variedade de respostas imunes patológicas, e é importante distinguir entre uma resposta imunológica a droga, na sua forma nativa ou em combinação com molécula do hospedeiro, e um verdadeiro processo auto-imune induzido pela droga. A hipersensibilidade a droga, é reversível pela suspensão da droga, enquanto que o processo auto-imune, poderá progredir independente da supressão da droga e requer alguma forma de tratamento supressivo. Síndromes desencadeadas por drogas terapêuticas Síndrome Droga Hepatite crônica Halotano (anestésico geral) Anemia hemolítica Metildopa (anti-hipertensivo) Miastenias grave D-penicilamina Lupus sistêmico Hidralazina, Procainamida, Minociclina Glomerulonefrite D-penicilamina Os mecanismos da auto-imunidade induzida por drogas são pouco conhecidos, porém deverão incluir processos comparáveis ao mimetismo molecular. A radiação ultravioleta pode aumentar a expressão de antígenos no lupus, como os antígenos La e Ro, provocando a fotossensibilidade. Auto anticorpos se ligam a estes antígenos, determinando dano tecidual. A lesão tecidual na doença auto-imune é mediada por anticorpos (hipersensibilidade tipos II e III), ou pela ativação das células T CD4+ dos macrófagos ou pelas células T citotóxicas (hipersensibilidade tipo IV), podendo haver superposição dos mecanismos. Os auto-anticorpos podem também causar doença pela ligação aos sítios funcionais dos antígenos próprios, tais como os receptores de hormônios, receptores dos neurotransmissores, e as proteínas plasmáticas. Beck, ST Imunologia Clínica 65 DOENÇAS AUTO-IMUNES: As doenças auto-imunes cursam com um desequilíbrio da homeostase imunológica, com alterações das respostas mediadas por células e por anticorpos. Auto-anticorpos dirigidos contra os componentes celulares, especialmente contra os constituintes nucleares, são comuns nesta patologia. São classificadas quanto à localização das agressões como: Órgão específicas: o envolvimento clínico e imunológico tem lugar em um único órgão: tireoidite de Hashimoto, anemia perniciosa, doença de Graves, vitiligo (auto antígeno é o citoplasma de melanócitos). Intermediárias: importante acometimento de um órgão ao lado de manifestações em outros territórios com diversos anticorpos envolvidos: miastenias gravis (auto-antígeno é o receptor de acetilcolina), hepatite crônica ativa. Sistêmicas: múltiplos anticorpos conta múltiplos órgãos, anarquia do sistema imune: lúpus eritematoso sistêmico, dermatomiosite, esclerodermia, artrite reumatóide, doença mista do tecido conjuntivo. Doenças autoimune sistêmicas mais comuns: ARTRITE REUMATÓIDE A artrite reumatóide é uma doença destrutiva, envolvendo primariamente as articulações das extremidades, particularmente dos dedos. Com o progresso da doença, um maior número das grandes articulações será afetado. A artrite reumatóide se caracteriza pela destruição da cartilagem articular e pela inflamação do sinóvio, com um quadro morfológico sugestivo de uma resposta imune local. Linfócitos T CD4+, linfócitos B ativados e plasmócitos são encontrados no sinóvio inflamado; e, nos casos severos, podem estar presentes folículos linfóides bem formados com centros germinativos. Numerosas citocinas como a interleucina 1, FNT, e IFNγ, foram detectados no fluido sinovial (articular). Acredita- se que as citocinas ativem as células sinoviais residentes para a produção de enzimas hidrolíticas, como a colagenase, que promovem a destruição da cartilagem, ligamentos, e tendões das articulações. Muitas das citocinas que supostamente desempenham um papel na iniciação da destruição articular, são provavelmente produzidas em decorrência da ativação local de linfócitos T e macrófagos. Desconhece-se a especificidade dos linfócitos T que podem causar artrite, e a natureza do(s) antigeno(s) iniciadores. São complicações sistêmicas da artrite reumatóide a vasculite, presumivelmente causada por complexos imunes, e lesão pulmonar. Lupus Eritematoso Sistêmico É uma doença multissistêmica que afeta tipicamente mulheres jovens. É caracterizada pela presença de auto-anticorpos para os antígenos nucleares. O sintoma de apresentação mais comum é a artrite ou a artralgia. Quase todos os pacientes finalmente têm problemas articulares e lesões de pele, enquanto cerca de metade ou dois terços têm, em alguma época, envolvimento pulmonar, renal nervoso ou sangüíneo. Dentre os pacientes com LES, até 60% têm episódios neuropsiquiátricos em algum momento. A maioria dos pacientes manifesta apenas sintomas leves e flutuantes. Não é rara a trombose cerebral associada a anticorpos contra fatores da coagulação e fosfolipídios. A etiologia do LES é só parcialmente conhecida, tendo envolvimento tanto de causas genéticas e ambientais. É cerca de 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens e tende a se apresentar entre a menarca e a menopausa. É uma doença em grande parte mediada por anticorpos com hipersensibilidade, tanto do tipo II como do tipo III. Em muitos Beck, ST Imunologia Clínica 66 pacientes, o dano tecidual é devido à deposição de complexos de ds-DNA com anticorpos anti - DNA, embora os complexos compostos de outros antígenos nuclearese citoplasmáticos sejam também considerados importantes. A deficiência hereditária de componentes da via clássica do complemento (C1, C4,C2) é associada a um risco aumentado de manifestar LES. Além da doença sistêmica severa, o lupus pode se apresentar como uma forma puramente cutânea, benigna e crônica, designada lupus eritematoso discóide (LED), onde apenas 25% dos pacientes apresentam anticorpos antinucleares, e estes nunca são anti-ds DNA. A prevalência da transformação de LED em LES é cerca de 10% ou menos. Já o Lupus Eritematoso Cutâneo subagudo é menos persistente, mais disseminado, com raro envolvimento renal ou do SNC. Caracterizam-se por apresentarem anticorpos para o antígeno citoplasmático Ro (SS-A). Em estudo publicado em Janeiro de 2003 pesquisadores demonstraram que talidomida parece ser um método efetivo para tratar manifestações cutâneas de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), por ser um agente anti-inflamatório e imunomodulador que inibe a produção do fator de necrose tumoral alfa (TNF-a). (Arch Dermatol 2003;139:50-54) Diagnóstico laboratorial A maioria, embora nem todos os pacientes com LES têm anticopos antinucleares (FAN), incluindo anticorpos para DNA de dupla fita (ds DNA). Um FAN negativo não exclui a suspeita de LES, embora a presença de anticorpos dsDNA positivo deva apóia-la fortemente. Os anticorpos para outros antígenos nucleares extraíveis detectados por métodos não fluorescentes estão também muitas vezes presentes. Deve ser pesquisado ainda anticorpos antifosfolipídios, níveis séricos de IgG e componentes do complemento. Lúpus eritematoso sistêmico não tratado Dados laboratoriais Imunologia % Hematologia % Ds DNA 70-85 Elevação do VHS 60 FAN (títulos >1/320) 95 Leucopenia 45 Baixos níveis de C3 C4 (soro) 60 Coombs direto positivo 40 Anticorpos Anticoagulante lupus 10-20 Sm 30 RNP 35 Ro 30 La 15 Elevação de IgG sérica 65 Ac anti fosfolípide 30-40 Fator reumatóide (título baixo) 30 Proteína C reativa normal Beck, ST Imunologia Clínica 67 Doença Mista do tecido conjuntivo: É uma síndrome que apresenta como sinais clínicos artrite, polimiosite, fibrose pulmonar e alterações esclerodermóides na pele. O principal achado sorológico é o de um elevado título de anticorpos contra o antígeno nuclear extraível, a ribonucleoproteína (RNP). A presença deste anticorpo sem outros auto-anticorpos do “lupus” (tais como o anti-Sm) correlaciona-se com o prognóstico clínico. Existe em geral positividade de FAN que mostra um tipo salpicado, porém estão ausentes os anticorpos para ds DNA e os níveis de C3 e C4 são normais. ORGÃO ESPECÍFICAS: Espondilite anquilosante É um estado inflamatório crônico da coluna e das articulações sacroilíacas. É uma doença progressiva, na qual a restrição dos movimentos é devida a uma ossificação intervertebral dos ligamentos. Esta doença afeta principalmente homens entre as idades de 15 a 30 anos. A associação entre HLA B27 e a EA é muito forte: mais de 95% dos indivíduos afetados são positivos para este antígeno. Em população branca normal, a freqüência de HLA –B27 é de 3-10%, tornando o teste positivo menos útil em pacientes nos quais se suspeita da doença. Miastenias Gravis A miastenias gravis é uma doença pouco comum, caracterizada por debilidade e fadiga dos músculos voluntários. A fraqueza resulta de uma perturbação da transmissão dos impulsos do nervo para o músculo nas junções neuromusculares. A neurotransmissão é perturbada por anticorpos contra os receptores da acetilcolina na membrana pós sináptica do músculo. Estes anticorpos reduzem o número de receptores pela lise mediada pelo complemento e interiorização acelerada, e alguns podem agir bloqueando os receptores. A demonstração desses anticorpos é importante para o diagnóstico da miastenia; quase 90% dos pacientes com miastenia sistêmica têm este anticorpo. Beck, ST Imunologia Clínica 68 DOENÇA DA TIREÓIDE. Auto Anticorpos Anti-Tireoideanos Sob a denominação de Disfunção Auto-Imune da Tireóide (DAIT), podemos incluir a doença de Graves, a tireoidite auto-imune, sob a forma da doença de Hashimoto (acompanhada de bócio ou sob a forma atrófica, as tireoidites transitórias pós parto, a doença de Graves pós parto , e a insuficiência tireoidiana, todas de caráter auto-imune, com a presença de linfócitos T citotóxicos e linfócitos B produtores de auto-anticorpos dirigidos contra as três moléculas sabidamente específicas da tireóide e envolvidas na DAIT: - anti-Tireoglobulina (TgAb) - anti-peroxidase Tireoidiana (TPOAb) - anti-Receptor de TSH (TSHAb ou TRAb), sendo que o TRAb podendo ser estimulador ou inibidor do receptor de TSH. A DAIT pode estar associado com outras doenças autoimunes, como a Miastenia gravis, doença do tecido conectivo; pacientes diabéticos insulino dependentes, onde anticorpos antitireoideanos presentes levam a um risco aumentado de DAIT. Dentre 1.000 mulheres grávidas, duas são tireotóxicas; ocasionalmente essas gestações resultam em doença de Graves neonatal. Isto devido a transmissão placentária da IgG estimulante da tireóide da mãe para o feto. Nos pacientes com doença de Graves ou com tireoidite de Hashimoto, os níveis de anticorpos tireoideanos tendem a cair durante a gravidez e depois se elevam. Muitas gestantes sem doença tireoideana declarada manifestam flutuações dos anticorpos tireoideanos, com distúrbios transitórios da função da glâncula – tireoidite pós –parto. Tireotoxicose: A tireotoxicose mais comum é devida à doença de Graves. Anticorpos IgG contra receptor do TSH á superfície das células tireoideanas humanas, estimulam as células da tireóide, levando a liberação excessiva de hormônios T3 e T4. A base genética da doença de Graves permanece obscura. O grau de tireotoxicose na doença de Graves não está relacionado ao tamanho do bócio, de fato, 10% dos pacientes não tem aumento da tireóide. A presença de imunoglobulina estimulante do crescimento da tireóide (TGI), se correlacionam mais com o tamanho do bócio do que com a superprodução de T3,T4, ao contrário das imunoglobulinas estimulantes da tireóide , que provocam hipertireoidismo. Beck, ST Imunologia Clínica 69 Tireoidite de Hashimoto: Pacientes com predisposição genética a doenças tireoideanas auto-imunes comumente desenvolvem auto-anticorpos anit-tireoideanos contra os antígenos da tireóide tais como tireoperoxidase (TPO, ou antígeno microssomal) , receptores de TSH e tireoglobulinas. Os anticorpos anti-receptores de TSH estão associados com o hipertireoidismo de Graves (tireotoxicose auto-imune), e anticorpos anti TPO (previamente referidos como anticorpos anti-microssomais) estão associados a doença de Hashimoto, na qual o processo auto-imune gradualmente destrói o tecido da tireóide eventualmente resultando no hipotireoidismo primário. Títulos elevados de anticorpos anti - tireoglobulina são encontrados em 55% dos pacientes com tireoidite de Hashimoto e em 25% dos pacientes com doença de Graves. Eles aparecem menos freqüentemente nos pacientes com carcinomas da tiróide e noutras doenças auto-imunes não tireoideanas. Em pacientes que tiveram ablação da tireóide, espera-se que com o cessar do estímulo antigênico, o nível deste anticorpo decaia. Caso as concentrações de anticorpos anti-Tg permaneçam alterados ou exibam um aumento, indica mau prognóstico, servindo então como marcador do câncer tireoideano diferenciado. Anticorpos anti-TPO são formados em resposta ao antígeno encontrado no citoplasma das células foliculares da tireóide, estando bastante relacionados com a atividade da doença auto-imune. São observados em 95% dos pacientes com tireoidite de Hashimoto, 90% dos pacientes com mixedema idiopáticoe em 80% dos pacientes com doença de Graves. Em 72% dos pacientes com positividade para anticorpos anti-TPO, há manifestação de algum grau de disfunção tiroideana com pelo menos um estado de hipotireoidismo compensado, com valores altos de TSH Títulos baixos de anticorpos anti-TPO são encontrados em alguns casos de carcinomas papilares, tireoidite subaguda, bem como nos pacientes sem evidência clínica de doença tireoideana. Não se sabe se a presença destes anticorpos em títulos baixos é um fator de risco para o desenvolvimento de hipotireoidismo. A pesquisa de anti-TPO no primeiro trimestre da gravidez, pode ser um índice de prognóstico obstétrico, uma vez que a estrita monitoração das grávidas com TPOAb positivo, ou mesmo o tratamento destas pacientes, se necessário, pode evitar ou atenuar o aparecimento de Disfunção Tireoideana pós parto (DTPP), aborto espontâneo, parto prematuro, etc. Outros anticorpos usados na clínica são os anticorpos anti-receptores de TSH (TRAb), que podem se ligar a diferentes epitopos, apresentando atividade estimuladora ou inibidora das funções tireoideanas.Níveis altos de TRAb no terceiro trimestre da gravidez podem desencadear a doença de Graves fetal ou neonatal, por transferência passiva destes Beck, ST Imunologia Clínica 70 anticorpos ao feto pela placenta. EVENTOS QUE OCORRREM NA EXPRESSÃO DA DOENÇA DE HASHIMOTO. a) Linfócitos T citotóxicos ligam-se diretamente às células tireoideanas. b) Anticorpos IgG-específicos para os componentes da superfície celular tireoideana estão eles próprios ligados por células matadora ( NK) c) Anticorpos anti-TPO ligam-se ás células da tireóide e fixam complemento. d) Conseqüência: LISE CELULAR COM DESTRUIÇÃO DO TECIDO TIEREOIDEANO. CÉLULA KILLER LINFÓCITO T CITOTÓXICO TPO e outros antígenos anticorpos anti - TPO célula da tireoide anticorpos IgG Complemento Beck, ST Imunologia Clínica 71 EFEITOS DOS ANTICORPOS ANTI-RECEPTORES DE TIROTROPINA NAS CÉLULAS TIREOIDEANAS A TSH B Imunoglobulina do anticorpo estimulador Receptor ligante da tireóide (TS ac) do TSH Receptor do TSH Promove a produção Desregulada do hormônio da Tireóide célula da Tireóide A) As imunoglobulinas inibitórias do receptor ligante de TSH, ligam-se ao receptor de TSH na superfície celular da tireóide, bloqueando a ligação do TSH e, portanto, inibindo o crescimento das células tireoideanas e a produção dos hormônios tireoideanos resultando na atrofia da tireóide; B) Anticorpos estimuladores da tireóide (TS Ac) ligam-se aos receptores de TSH mimetizando os efeitos do TSH, mas não estão sujeitos ao mecanismo de “feedback” negativo que governa os níveis de TSH. Resultando numa produção descontrolada de hormônios tireoideanos que caracterizam a doença de Graves (hipertireoidismo) PREVALÊNCIA ESTIMADA DOS AAT: GRUPO TSH Ac(%) TG - Ac (%) TPO-Ac (%) População geral 0 5-20 8-27 Doença de Graves 80-95 50-70 50-80 Tireoidite autoimune 10-20 80-90 90-100 parentes de pacientes DAIT 0 40-50 40-50 Grávidas 0 14 14 Hipotireoidismo 14 54-94 94-100 OBS : O encontro de altos títulos de AAT indica a presença de tireoidite autoimune com infiltração linfocitária do tecido tireoidiano, que pode não ser a causa primária da patologia tireoidiana, mas podem indicar precocemente uma possível evolução para DAIT A DAIT pode estar associada com outras doenças autoimunes, como a Miastenia Beck, ST Imunologia Clínica 72 gravis, doença do tecido conectivo; pacientes diabéticos insulino dependentes, com AAT presentes, tem um risco aumentado para o desenvolvimento de DAIT Mixidema: Forma severa de hipotireoidismo onde estão presentes tanto anticorpos que bloqueiam o crescimento quanto o metabolismo da glândula. Beck, ST Imunologia Clínica 73 DIABETES AUTO-IMUNE Diabetes melito tipo 1 No diabetes tipo 1 ocorre destruição das células beta do pâncreas, usualmente por processo auto-imune (forma auto-imune; tipo 1A) ou menos comumente de causa desconhecida (forma idiopática; tipo 1B) Na forma auto-imune há um processo de insulite e estão presentes auto-anticorpos circulantes (anticorpos anti-descarboxilase do ácido glutâmico,.anti-ilhotas e anti-insulina). De uma forma geral, a instalação do quadro de diabetes tipo 1 auto-imune é relativamente abrupta e muitas vezes o indivíduo pode identificar a data de início dos sintomas. A partir da década de 80, foi descrita a ocorrência de diabetes de origem auto-imune de instalação insidiosa, denominado de LADA (Latent Autoimmune Diabetes in Adults). A idade média dos pacientes com LADA é em torno dos 50 anos e por isto estes pacientes são inicialmente classificados de forma errônea como tipo 2 . O LADA compartilha com o diabetes tipo 1 a evidência de auto-imunidade e falência de secreção de insulina pelas células beta e com o diabetes tipo 2, a idade de instalação e a presença de resistência insulínica Por estas razões, existe a sugestão de que poderia ser considerado um tipo distinto de diabetes. Nos casos de diabetes tipo 1 de origem auto- imune, pode haver a associação com outras doenças auto-imunes, como a tireoidite de Hashimoto, a doença de Addison e a miastenia gravis entre outras. Dados epidemiológicos demonstram que esse tipo de DM, denominado diabetes autoimune latente do adulto (LADA), é responsável por 10% de todos os casos de DM. LADA também difere na menor freqüência de autoanticorpos contra antígenos pancreáticos, tais como anticorpos anti-insulina (IAA), anti-ilhota de Langerhans (ICA) e anti-tirosina- fosfatase (anti-IA2). Por outro lado o anticorpo mais prevalente no LADA é o antidecarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD) Cinqüenta por cento dos pacientes adultos anti-GAD positivos ao diagnóstico manifestam nítida deficiência insulínica após 10 anos, comparados a apenas 3% dos pacientes anti-GAD negativos . Até o presente não está claro se LADA é uma variante de DM1 ou outra patologia com identidade própria. A definição clínica de LADA é importante porque compreende relevante número de casos de diabetes autoimune na idade adulta que poderia ser beneficiado por terapias de imunomodulação ou tratamento precoce insulínico, preservando as células residuais funcionantes. A secreção insulínica, mesmo reduzida, contribui para controle glicêmico mais estável, prevenindo complicações futuras Entretanto existem Beck, ST Imunologia Clínica 74 poucas referências considerando a prevalência de anticorpos em diabéticos no nosso meio . Diabetes melito tipo 2 A etiologia específica deste tipo de diabetes ainda não está claramente estabelecida como no diabetes tipo 1. A destruição auto-imune do pâncreas não está envolvida. Os testes imunológicos não têm nenhuma função no diagnóstico, mas sim no PROGNÓSTICO, da diabete melitus. HEPATITE AUTO IMUNE: É uma doença inflamatória crônica do fígado de etiologia desconhecida devido a uma auto agressão inflamatória aos hepatócitos e ductos biliares (GISH, 2001*). A hepatite Auto-Imune clássica acomete geralmente mulheres, apresentando alta concentração de transaminases, hipergamaglobulinemia, amenorréia, artralgias e auto-anticorpos circulantes. Não existe um exame específico para Hepatite Auto-Imune. Principais auto-anticorpos presentes: FAN reagente; Anticorpo Anti-musculo Liso (AML) em títulos (> 1/320, geralmente sugerem presença de anticorpos anti-actina, que é o marcador mais específico da Hepatite auto-imune. Na ausência destes marcadores os anticorpos anti-microssomo de fígado e rim(anti-LKM) podem estar presentes. • Gish RG, Mason, A; autoimmune Liver Disease. Clinics in liver Disease, 2001; 5: 287-314. Beck, ST Imunologia Clínica 75 Diagnóstico Critérios sugeridos pelo International Autoimmune Hepatitis Group: -Níveis séricos normais de alfa-1-antitripsina, e ceruloplasmina. -soronegatividade para IgM (hepatites virais) -Soronegatividade para CMV e EBV. – sem exposição parenteral. -Baixa ingestão de álcool. -Ausência de uso recente de drogas hepatotóxicas. -Qualquer anormalidade nos níveis de aminotransferases -gamaglobulina sérica , IgG, >1.5% normal. -ANA, anti-músculo liso ou LKM1 >1:80 em adultos e >1:20 em crianças. -biopsia hepática para descartar outras lesões. Diagnóstico precoce é mandatário para instituição de tratamento rápido. Beck, ST Imunologia Clínica 76 AAM= anticorpo anti mitocondria AML = anticorpo anti musculo liso P- Anca = anticorpo anti citoplasma de neutrofilo Beck, ST Imunologia Clínica 77 PESQUISA DE AUTO-ANTICORPOS: (AULA PRÁTICA) IMPORTANTE: AUTOIMUNIDADE É DIFERENTE DE DOENÇA AUTO IMUNE Auto anticorpos são imunoglobulinas normais, que podem fazer parte do repertório do sistema imune de pessoas saudáveis. Tem significado patológico apenas quando existe doença presente, acompanhada de parâmetros não apenas laboratoriais, mas também clínicos ,histológicos e radiológicos. Os primeiros auto-anticorpos foram descritos associados a doenças reumáticas auto-imunes. Muitas das doenças reumáticas são conseqüência de doenças auto-imunes sistêmicas. A descrição das doenças reumática iniciou-se com Hipócrates (480 a.c.) Nos séculos XVIII e XIX foi publicada a coexistência de reumatismo e cardiopatia, mas somente em nosso século a reumatologia mostrou um progresso estupendo graças ao desenvolvimento da imunologia. Em 1942, na monografia “Doenças Difusas do Colágeno”, sob a denominação de Colagenoses, os autores reuniram um grupo de doenças (lupos eritematoso sistêmico, artrite reumátoide, poliartrite nodosa, esclerose sistêmica progressiva (esclerodermia), febre reumática e dermatomiosite) de exteriorização clínica variável, mas com um denominador comum que era a alteração sistêmica do tecido conjuntivo que adquiria atributos morfo-tintoriais semelhantes à fibrina e denominada degeneração fibrinoide. A partir deste trabalho, começou a ser conhecido a relação entre a presença desta substância fibrinoide e aparecimento de hipergamaglobulinemia, relacionada com estímulo antigênico e aparecimento de anticorpos que reagem contra proteínas do próprio organismo (anticorpo anti-nuclear, fator reumatóide) . Waaler em 1940 e Rose em 1948 observaram que os soros dos pacientes com artrite reumatóide aglutinavam hemácias de carneiro sensibilizadas com anticorpos de coelho. O “fator” presente no soro dos pacientes com artrite reumatóide foi denominado fator reumatóide e o termo se mantém até hoje mesmo sabendo-se que são anticorpos específicos contra antígenos situados na porção Fc da imunoglobulina humana e animal, e de não serem patognomônicos desta doença. Fatores reumatóides podem ser encontrados em outras doenças imunológicas, infecções e neoplasias. Em 1948, Hargraves descobriu a Célula LE, ao estudar a medula ossea de um paciente com lupos eritematoso. A formação da célula “LE” in vitro e in vivo, depende da presença de um anticorpo (IgG 7s) que reage com a desoxiribonucleoproteina dos leucócitos lesados, na presença de complemento, causando a destruição da cromatina. O “DNA”, a imunoglobulina e o complemento formam uma massa homogênea (Massa de Hargraves) que é expulsa da célula lesada e fagocitada por um leucócito polimorfonuclear (Célula “LE”). A imunoglobulina 7s que inicia o fenômeno pode ser identificada por reações de fixação de complemento, imunofluorescência indireta, hemaglutinação e precipitinas. Este anticorpo pode atravessar a placenta, mas não é absorvido por células intactas. Anticorpos que são dirigidos contra o núcleo das células podem ser detectados pela pesquisa do FAN, (fator antinuclear). A identificação dos antígenos de Histocompatibilidade e a verificação da influência da molécula HLA-B27 nas espondiloartropatias soro negativas (espondilite anquilosante, síndrome de Reiter, e artropatias psoriásica) e na uveíte anterior aguda foi um fator importantíssimo para o reconhecimento de fatores genéticos e imunológicos envolvidos na sua etiopatogenia. Beck, ST Imunologia Clínica 78 FATOR REUMATÓIDE (FR): É o nome dado a uma família de Ac com especificidade para sítios antigênicos Ig autóloga, homóloga, ou heteróloga. O Fator reumatóide (FR) de um dado indivíduo pode ter todas estas especificidades. Pode ter especificidade para diferentes sítios antigênicos da Ig e também pertencer a diferentes classes de Igs (IgG, IgA, IgM, e IgD). Os testes de rotina para identificar o FR, usualmente só detectam IgM dirigido contra molécula de IgG. O fator reumatóide (FR) tem sido observado em títulos elevados em artrite reumática com prognóstico mais desfavorável que as artrites FR negativas. O resultado da determinação do fator reumatóide deve-se interpretar sempre junto com outros resultados de laboratório, já que níveis baixos de FR não necessariamente indicam ausência de uma artrite reumatóide e tampouco altas concentrações de FR são exclusivamente de doenças reumáticas, podendo estar presente em pessoas normais idosas; em infecções; em crianças com agamaglobulinemia que melhoram gradativamente após tratamento com gamaglobulina. Na doença da crioglubulinemia mista, que se apresenta como síndrome com vasculite e nefrite, o FR das classes IgM e IgG, formam um crioprecipitado misto com a IgG sérica. Rins com extensos depósitos de IgG,IgM e Complemento, evidenciam a intensa ativação do C. FATOR ANTI NUCLEAR - FAN A descoberta de auto-anticorpos nas doenças rotuladas como auto-agressão reforça o conceito de processo auto-imune em sua patogênese. Anticorpos contra auto-antígenos ocorrem mesmo em pessoas aparentemente normais, diferindo na doença em qualidade, quantidade, e reatividade contra antígenos específicos, sendo rotineira a solicitação pelo clínico de inúmeras técnicas para detectá-lo. Atualmente sabemos que os autoanticorpos antinucleares (AANs) não são produzidos somente contra antígenos nucleares, mas também contra estruturas moleculares existentes no citoplasma das células. A pesquisa dos mesmos não está mais restrita a técnicas de Imunofluorescência indireta, pois técnicas de imunodifusão dupla (IDD), contra imunoeletroforese e mais recentemente imunoenzimáticas( EIAs) tem sido cada vez mais utilizadas, por serem mais sensíveis ou permitirem a identificação e caracterização dos AANs. Cerca de 5% (imprint), e 10-15% (Hep-2) da população normal, especialmente idosos, podem apresentar títulos baixos de FAN (inferiores ou iguais a 1/80) Doenças infecciosas provocam aparecimento temporário de auto- anticorpos. Beck, ST Imunologia Clínica 79 MÉTODOS UTILIZADOS EM LABORATÓRIO PARA A IDENTIFICAÇÃO DE Ac. ANTINUCLEARES: 1- CÉLULA L.E. (em desuso) Este método tem desvantagens por não ser apropriado para determinação quantitativa. Depende de muitas variáveis: Ac IgG(fator L.E.), + Ag (DNP),+ c + fagócito integro. A célula L.E. é um leucócito que engolfou uma ou mais das massas homogêneas constituídas de Ag+ Ac+ C. Título de imunofluorescência indireta menor que 1:20 não mostra célula L.E. positiva. 2- IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA (IFI): Esta técnica identifica os AAN, fornece os títulos destes anticorpos e pelo padrão de fluorescência sugere os tipos de AAN presentes. A utilização de conjugadosespecíficos para IgG afasta a positividade por presença de anticorpos clinicamente irrelevantes (IgM em idosos) Para realizarmos a pesquisa de fatores antinucleares (FAN), utilizando a imunofluorescência indireta necessitamos: A)-Fonte de Ag para IFI 1-Células HEP 2 ( células de epitelioma de laringe humana), que detectam tanto anticorpos contra nucleo ou citoplasma celular, expressam a maioria dos autoantígenos contra os quais os AA são dirigidos, e apresentam células nas mais diferentes fases de crescimento, incluindo células em divisão, o que facilita a identificação de determinados auto anticorpos como anti-centrômero. 2-Cortes de fígado de rato foram comumente usados como substrato para a reação (em desuso). Estes devem antes de usados, ser fixado com acetona, para não haver perda dos antígenos solúveis. Deve-se lembrar ainda, que alguns autoantígenos não são expressos nas células de fígado de roedores (como Ro/SSA), sendo por isso, inferiores as células HEP-2. B)- Conjugado fluorescente: Anticorpo anti-imunoglobulina humana marcado com fluorocromo. C)-soro do paciente: Os soros diluídos a 1:40, 1:80, 1:160, 1:320, são colocados sobre o substrato contendo o antígeno e incubados em câmara úmida. Após a incubação, as lâminas são lavadas e sobre os cortes colocados o conjugado marcado com fluoresceína (anti Ig humana marcada). Nova incubação, nova lavagem, secagem e montagem das lâminas com glicerina alcalina para posterior observação no microscópio. Detecta-se assim o Ac antinuclear fixado aos antígenos nucleares, originando os diversos padrões de fluorescência. Quando usado como substrato fígado de rato, são conhecidos 4 padrões principais de fluorescência: Periférico, homogêneo, salpicado e nucleolar. Beck, ST Imunologia Clínica 80 Para leitura dos padrões em HEP-2, estão sendo definidos padrões de leitura, através de reuniões com especialistas (Consenso Goiânia/2000) ANTICORPOS CONHECIDOS E SUA IMPORTÂNCIA Ac. anti-Ds DNA: ( células em mitose (Hep-2) fluorescência positiva) Presentes especialmente em pacientes com Lupus Eritematoso Sistêmico (LES), particularmente sensíveis à doença renal por complexo imune circulante (c.i.c.) Presença de Ac anti-dsDNa é mau prognóstico pois estão relacionados a nefrite ativa são da classe IgG, subclasse IgG1 e IgG3, excelentes fixadoras de Complemento. O antígeno (DS-DNA) e o anticorpo (anti-dS DNA) formam complexos que dependendo do seu tamanho e solubilidade, podem ficar retidos por mais tempo no glomérulo, por dificuldade de filtração, ativando e fixando complemento, levando a lesão. Os títulos de anticorpos variam com a atividade da doença. A dosagem do complemento sérico, em caso de nefrite ativa, estará baixa. O uso de procainamida e hidralazina, isoniazida, e d-penicilamina podem levar a resultados falso-positivos. Ac. anti- Ds RNA. Presente também no L.E.S, não associado à doença renal e geralmente não encontrado em complexos imunes renais. Pode refletir uma infecção viral, onde pode estar presente. Ac anti- DNP: Relacionado com a célula LE descrita por Hargraves. Geralmente existe uma boa correlação entre Ac anti-Ds DNA e anti-DNP, com aparecimento durante exacerbação e desaparecimento durante a remissão. Ac anti- histona (padrão homogêneo) Associado a L.E.S induzido por droga quando for identificado de forma isolada. A presença deste anticorpo não tem valor prognóstico e não varia com a atividade da doença. A procainamida é a droga mais comumente envolvida na síndrome “Lupus-like”. Antígenos extraíveis do núcleo (ENA),são proteínas ribonucleares pequenas, extraíveis pela salina. São eles: RNP, Sm, SSA/Ro, SSB/La, Scl-70 e outros. Beck, ST Imunologia Clínica 81 Ac anti- Sm: (padrão pontilhado) É denominada Sm por Ter sido detectado em paciente de nome Smith. É uma glicoproteína nuclear ácida não histona, associada a cromossomas. Tem alta especificidade quando detectado por imunodifusão radial nos pacientes com LES (30%). quando realizado sua pesquisa por ELISA, reações falso positivas podem ocorrer em 23% dos pacientes com Artrite reumatóide e 25% dos com Esclerose sistêmica. Ac anti RNP : (padrão pontilhado) É um complexo formado por RNA (26%) e proteínas (ribonucleoproteína). Observado em altos títulos (1/10000) em pacientes com D.M.T.C., que apresentam pesquisa negativa para outros AAN (anti-Sm). A DMTC é uma síndrome do conjuntivo sobreposto, em geral, esclerose sistêmica, LES, Polimiosite/dermatomiosite. Alguns pesquisadores não consideram a DMTC entidade clínica individual. Sua presença em pacientes lúpicos, diferente do anti-DNA, ´é indicativo de uma menor probabilidade de desenvolvimento de lesão renal, sendo , portanto, de melhor prognóstico. Ac. anti-SS-A(Ro); SS-B(La) (padrão pontilhado fino) Anticorpos relacionados a um subgrupo de pacientes com lupus cutâneo, níveis de complemento reduzidos e uma forma leve de nefrite. Ssa/Ro é encontrado na síndrome de Sjögren (96%); que é mais comum em mulheres, cursa com ceratoconjuntivite, xerostomia (ressecamento de olhos e boca). O anticorpo anti-SSA atravessa a barreira placentária causando lupos neonatal causando lesões de pele (reversível) e/ou bloqueio cardíaco (cirúrgico). Aproximadamente 50% das mães têm com pouco ou nenhum sintoma de Lupus Eritematoso sistêmico (SLE). Ocorre em dois terços dos pacientes que apresentam FAN negativo com SLE presente, pois soro contendo SS-A/Ro, normalmente resultam FAN negativo quando usado como substrato para a reação cortes de fígado de rato, e de maneira variável positivo quando usado células HEP-2. (técnicas descritas a baixo. Pode estar presente em 20% dos pacientes com artrite reumatóide. Presente em pacientes com LES apresentando C2 e C4 baixos. Ac . anti- Centrômero: Sua pesquisa é empregada para o diagnóstico da síndrome de CREST, variante da esclerose sistêmica, que cursa com calcinose, fenômeno de Raynaud, disfunção esofagiana, esclerodactilia e telangiectasia. É mais bem identificado quando usado como substrato da fluorescência, células da linhagem Hep-2. Presente em 70 a 90% dos casos de síndrome de CREST, 10 a 20 % dos casos de esclerose difusa e em alguns casos de cirrose biliar primária. Beck, ST Imunologia Clínica 82 PADRÕES DE FLUORESCÊNCIA ENCONTRADOS NA PESQUISA DE FAN PERIFÉRICO: . Este padrão só é visto em lâminas que usam como substrato, fígado de rato, raramente em HEP-2. Apenas a periferia do núcleo fica fluorescente.Quando visto em substrato fígado de rato está relacionado a anticorpos anti-DS DNA e nucleoproteína DNP insolúvel. HOMOGÊNEO OU DIFUSO: Todo o núcleo fica fluorescente. Relaciona-se com ac. anti-DS DNA e DNP, portanto com célula LE positiva e anti-histona. Tem sido descrito na maioria dos pacientes com LES, em mais de 25% de pacientes com A.R., 20% dos pacientes com hepatite crônica ativa. Visto menos usualmente em pacientes com mononucleose infecciosa, queimaduras e ferimentos extensos, embolia pulmonar e gravidez. Pode mascarar qualquer ac que dê padrão de fluorescência diferente. SALPICADO: O núcleo fica com uma fluorescência pontilhada. O padrão salpicado pode ter aspecto grosseiro (normalmente o nucléolo é negativo) ou fino (o nucléolo pouco aparece) . A célula em mitose pode ser positiva ou negativa. Há pelo menos 3 antígenos e seus anticorpos envolvidos na formação deste padrão de fluorescência. a) Sm: Considerada o novo marcador do lupus. Títulos de anticorpos anti-Sm caracterizam um quadro onde há lesões cutâneas importantes e, discreto envolvimento renal. C3 diminuído. b) RNP: Anticorpos anti-RNP estão presentes no lúpus, e Esclerodermiaprogressiva, mas títulos altos são observados na D.M.T.C., com freqüência maior que nas outras patologias. c) SS-B : Presente na síndrome de Sjögren (50%) , embora não a caracterize. NUCLEOLAR: Apenas o nucléolo fica fluorescente. O agente que dá este padrão é o antígeno RNA. Pode estar correlacionado a esclerose múltipla progressiva. Normalmente, as células Hep-2 em mitose são negativas. Beck, ST Imunologia Clínica 83 LAUDOS DE FAN EM CÉLULAS Hep-2: padronização da nomenclatura de acordo com o primeiro consenso nacional brasileiro (Laes & Haes, nº134,dez/jan2002),pg 58-72.( Atualizado 3 consenso) As células Hep-2, por possuírem maior tamanho, maior concentração de antígeno, e apresentar-se em diferentes fases da mitose, permitem a identificação de 32 padrões de fluorescência. Devido à diversidade dos aparelhos de microscopia, grau de experiência com leitura de IFI, e capacidade de reconhecer padrões de fluorescência dos analistas clinicas, ficou definido pela comissão nacional (formada pela sociedade de reumatologia, patologia, Análises clínicas e biomedicina) como critérios mínimos a serem identificados e relatados, os seguintes padrões de fluorescência: NA HEP-2 padrões citoplasmáticos também são observados, mas não está ainda definido sua importância clínica. Padrão citoplasmático pontilhado pode ser indicativo de anticorpos anti-Jo-1 Todos os padrões observados no citoplasma necessitam exame complementar. Fluorescência pontilhada reticulada ou fibrilar sugere anticorpos anti-mitocondria, indicando pesquisa de anticorpos anti-mitocondria/músculo liso em cortes de estomago e rim de rato. Importantes na determinação de hepatite autoimune. 1- As diluições de triagem são 1/80 e 1/160 2- Critérios morfológicos a serem observados durante a leitura: a) Aspecto da matriz nuclear b) Aspecto do nucléolo c) )Observação do estágio da divisão celular PADRÕES NUCLEARES: Foram divididos em 3 grandes categorias a) membrana nuclear (antigo periférico) b) homogêneo c) pontilhado (grosso, grosso reticular, fino, pleomórfico, pontos isolados,centromérico) PADRÕES NUCLEOLARES a)homogeneo b) aglomerado c)pontilhado PADRÕES CITOPLASMÁTICOS a) fibrilar linear b) fibrilar filamentar c) citoplasmático segmentar d) citoplasmático pontilhado polar; com : pontos isolados; pontilhado fino denso; pontilhado fino; pontilhado reticulado APARELHO MITÓTICO a)centríolo b)ponte intercelular c)fuso mitótico Estão sendo reunidos especialistas para o segundo consenso de laudos de FAN Hep-2, para determinar a relevância clínica de cada padrão de fluorescência (2003). Beck, ST Imunologia Clínica 84 Estrutura da célula Hep-2 Fonte: www.fleury.com.br Ciclo de divisão celular, com destaque para a placa Cromossômica metafásica Fonte: www.fleury.com.br Beck, ST Imunologia Clínica 85 Fonte: www.fleury.com.br OBS: � ---É freqüente nos pacientes portadores de LES a detecção no soro de mais de um anticorpo, é chamado padrão misto. Assim, nas diluições iniciais pode-se encontrar o padrão periférico, padrão homogêneo, e nas diluições mais altas, padrão salpicado, indicando níveis diferentes de anticorpos relacionados a cada padrão. � ---Títulos de anticorpos entre 1/40 e 1/80, devem ser valorizados com cautela desde que não provenham de soros de pacientes com doença definida, enquanto que títulos iguais ou maiores que 1/160 são considerados significativos para o auxilio diagnóstico, embora em pacientes idosos seja freqüente o encontro de AANS em títulos altos, sem maior significado clínico, devido à falha de regulação imunológica. Beck, ST Imunologia Clínica 86 � --- A identificação de anti-DS DNA por IF pode ser feita utilizando-se como substrato, um flagelado, Crithidia luciliae; que possui o cinetoplasto do flagelo rico em DNA nativo. � ---A pesquisa de anticorpo antinucleares por imunofluorescência como aqui descrito, dá apenas uma idéia do agente nuclear possivelmente envolvido. Como perfis distintos de anticorpos antinucleares específicos, estão sendo vistos em certas doenças reumáticas, há necessidade da realização de testes para verificar a presença ou ausência de certos anticorpos. Entre estas técnicas, as mais usadas tem sido, hemaglutinação passiva, ELISA, e imunodifusão radial dupla de Oucherlony, sendo as primeiras mais sensíveis e a ultima mais específica. 3- IMUNODIFUSÃO DUPLA (IDD) : Atualmente, pela IDD pode-se identificar os seguintes AANs: Anti-Sm; anti SS-B; anti Ro/SS-A; anti- RNP; anti-jo1. Pode-se também realizar Contra imunoeletroforese para identificar os mesmos AANs, mas apesar de dar um resultado mais rápido, o custo do exame é maior, não sendo viável a realização na rotina da maioria dos laboratórios. 4- TÉCNICA IMUNOENZIMÁTICA (ELISA) Apesar das grandes vantagens que os enzimaimunoensaios apresentam; como eliminação de leituras subjetivas, eliminação da necessidade de soro específico (IDD), possibilidade de automação e rapidez na entrega dos resultados, deve-se ter cuidado com os resultados obtidos. A maioria dos Kits comerciais ainda não tem a aprovação do Food and Drug Administration (FDA) americano, dando muitos resultados falso-positivos. Cuidar a procedência dos Kits. A sensibilidade é muito alta, a especificidade depende da qualidade do substrato utilizado. Lembrar que existe diferença entre limiar de detecção e limiar clínico, isto é, nem sempre o que é detectado tem relevância. Após screening pelo FAN, os diferentes autoanticorpos podem ser pesquisado por ELISA segundo o seguinte algoritmo. ANTICORPOS ANTI CITOPLASMA DE NEUTRÓFILO (ANCA) São auto anticorpos dirigidos contra os grânulos azurófilos dos neutrófilos Existem dois anticorpos principais: Anti proteinase 3 (PR-3) e anti Mieloperoxidase (MPO) Os anticorpos anti PR3 apresentam padrão fluorescente citoplasmático, sendo chamados de C-Anca, podendo estar presentes na Granulomatose de Wegner (doença renal), embora não sejam específicos da doença. Os anticorpos anti MPO, apresentam “in vitro”, reação fluorescente peri-nuclear, sendo chamados P-Anca. A pesquisa destes anticorpos é feita por imunofluorescência indireta usando como substrato neutrófilos, com diluição seriada de soro partindo de 1/20 até 1/1280. Definido o padrão de fluorescência, pesquisa-se o auto anticorpo específico pelo método de ELISA. Beck, ST Imunologia Clínica 87 HOMOGENEO SALPICADO NUCLEOLAR/CENTROMERICO Ds-DNA Sm Ssa/Ro Histona DNP RNP SSb/La Scl-70 LES/droga LES SS Esclerodermia Algoritmo para pesquisa de anticorpos antinucleares Triagem IFI Hep-2 (1/40) NEGATIVO Diluir até 1/1280 Definir o padrão Pesquisar Anti-DS-DNA Fazer screening ENA (ELISA) NEG POS POSITIVO Pesquisar separadamente Anti-Sm Anti- RNP Anti-Ssa Anti-SSb Todos negativos Pesquisar Anti-Scl 70 Anti- Jo1 Altos títulos RNP = DMTC
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