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EXAMES LABORATORIAIS EM REUMATOLOGIA INTRODUÇÃO · Doenças reumáticas: grupo heterogêneo de condições que envolvem inflamação e danos ao sistema musculoesquelético e a outros órgãos. · Clínica: dores musculares e articulares leves e difusas a insuficiência renal e acidente vascular cerebral grave. · Etiologia: distúrbios imunológicos são causas frequentes. · Abordagem diagnóstica envolve testes laboratoriais para avaliar distúrbios funcionais dos órgãos e sua relação com a inflamação e autoimunidade. · O teste laboratorial em pacientes com suspeita de doença reumática envolve a determinação de biomarcadores: antecedente (risco de doença), triagem (doença subclínica), diagnóstico (doença evidente), estadiamento (gravidade ou atividade da doença) e prognóstico (doença em curso, resposta à terapia, terapia de monitoramento). · Desses testes, alguns são úteis em todos os contextos. MARCADORES INFLAMATÓRIOS · Provas de atividade inflamatória (PAIs) ou provas de fase aguda inflamatória: substâncias séricas que podem sofrer alterações em seus níveis devido a diversos estímulos, principalmente pelos que causam dano tecidual. · Estímulos: processos inflamatórios agudos ou crônicos como infecções, neoplasias, trauma, infartos teciduais ou artrites inflamatórias. · Principais mediadores dessas alterações: citocinas, produzidas em grande parte pelo fígado - IL-1b, fator de necrose tumoral-alfa (TNF α), interferon-g, e IL-6. · Alterações séricas dessas provas inflamatórias são acompanhadas de outros fenômenos gerados pelas citocinas: febre, anorexia, sonolência, letargia, perda muscular, aumento da produção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e, em casos crônicos, desenvolvimento da anemia de doença crônica. · Provas que sofrem elevação: proteína C reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS), fibrinogênio, α1 -antitripsina, haptoglobina e ferritina. · Marcadores que diminuem: albumina e transferrina. PROTEÍNA C REATIVA (PCR) · Componente da resposta imune inata, com características primárias antiinflamatórias. · Sua ação não é específica. · Atualmente é utilizada como indicador de risco para doença coronariana e acidente vascular cerebral. · Ótimo parâmetro de monitorização terapêutica Eleva-se precocemente no curso da doença e sua concentração é capaz de mudar conjuntamente com a evolução da doença, quer esta melhore ou piore. · Há situações em que as medidas da PCR têm valor prognóstico, como na AR. · Muito sensível, porém pouco especifica. VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO (VHS) · Corresponde à medida da velocidade do empilhamento espontâneo das hemácias durante o período de uma hora, quando colocadas em um tubo na vertical (mm/h). · Medida indireta da atividade das proteínas de fase aguda. · O processo pode ser acelerado pela presença de proteínas como o fibrinogênio em quadros agudos, ou por imunoglobulinas em quadros crônicos. · Bastante sensível, mas pouco específica Exceção: valores muito elevados, próximos a 100 mm/h - arterite temporal, processos infecciosos graves e algumas neoplasias. α -1 GLICOPROTEÍNA ÁCIDA · Eleva-se 12 horas após a lesão tecidual e permanece elevada por poucos dias. · Substituiu a dosagem da mucoproteína, por ser mais específica. · Aumento: gravidez, infarto agudo do miocárdio, mielomas, doença de Hodgkin, neoplasias, traumas e doenças do conjuntivo. · Redução: estados de desnutrição, lesões hepáticas graves e doenças com grande perda proteica. · Diferenciar transudatos de exsudatos em cavidades: transudatos (níveis são baixos); já nos exsudatos (níveis são altos, especialmente nos de origem neoplásica). ELETROFORESE DE PROTEÍNAS · Técnica de separação das proteínas do soro que engloba todas as proteínas séricas. · Separação de cinco bandas: albumina, α -1, α -2, beta e gamaglobulinas. · Nas frações α -globulinas estão a maioria das proteínas de fase aguda. · PCR: corre na fração α -2; α -1 glicoglobulina ácida: corre em α -1. · Nos processos inflamatórios verifica-se aumento na fração α -2. · Nos casos crônicos, aumento policlonal das gamaglobulinas e diminuição da albumina. OUTROS EXAMES · Elevam-se na fase aguda da lesão tecidual, porém são menos utilizadas na prática: fibrinogênio, ferritina, complemento, haptoglobina e amilóide sérico A. APLICAÇÕES CLÍNICAS Artrite Reumatoide: · Monitorizar a atividade da doença, com destaque para a PCR. · Elevações na PCR e na VHS estão associadas com a progressão radiográfica das lesões após 6 e 12 meses do início do quadro. · Os níveis das provas inflamatórias se associam com sinovite e erosões precoces detectáveis por ressonância nuclear magnética (impacto direto no desenvolvimento de deformidades e na perda de função causados pela doença). Polimialgia Reumática e Arterite Temporal: · Condições frequentemente acompanhadas de grandes elevações na VHS (>100 mm/h). · Porém, até 20% dos pacientes podem ter valores normais (resposta ao tratamento com doses mais baixas de corticoides) – programar o tratamento através do VHS. Lúpus Eritematoso Sistêmico: · VHS: marcador de atividade da doença e de lesão de órgãos. · PCR: parece não ter correlação com atividade da doença - pode estar normal em pacientes com lúpus ativo. · PCR: não é útil para fazer diagnóstico diferencial de febre em pacientes lúpicos - não guarda boa correlação com infecção bacteriana. Neoplasias: · PCR: pode ser útil na avaliação prognóstica, servir como um marcador de ausência ou presença de recidiva. Doenças Cardiovasculares: · Estratificação de risco de pacientes - boa correlação de valor preditivo da PCR em relação a doenças cardiovasculares. · Impacto na evolução da doença também é visto em doença cérebro-vascular e doença vascular periférica. AUTOANTICORPOS · O diagnóstico das doenças reumatológicas difusas do tecido conectivo (DDTC) baseia-se em dados clínicos, laboratoriais, histológicos e de imagens. · Na tentativa de se padronizar a relevância de cada achado no diagnóstico e/ou atividade clínica das doenças, foram estabelecidos critérios de diagnóstico para cada uma ou a um grupo relacionado de doenças reumatológicas. · Alguns exames laboratoriais fazem parte desses critérios e podem contribuir para o diagnóstico e/ou acompanhamento dessas doenças. · Outros, apesar de não estarem inseridos nos critérios de diagnóstico ou de atividade de doença, podem ser de utilidade no contexto global das conectivopatias. · As doenças reumatológicas são de etiologia desconhecida, sistêmicas e apresentam comprometimento de vários órgãos e tecidos (pulmão, rim, sistema nervoso central, pele, vasos). · Resultado do desenvolvimento de processos inflamatórios crônicos lesivos ao organismo, com intensidade associada ao grau de implicação funcional dos mesmos. · Na maioria das DDTC, essa resposta inflamatória é desencadeada por mecanismos autoimunes que envolvem a ativação de células do sistema imunológico e produção de anticorpos (resposta imune humoral). · Induzida de forma específica por antígenos autólogos que se constituem em componentes moleculares distribuídos nas células e tecidos do próprio organismo (autoantígenos). · Estão incluídos: ácidos nucleicos (DNA, RNA), proteínas (enzimas, proteínas constitutivas de estruturas ou organelas subcelulares), lipídios (fosfolípides distribuídos na membrana celular) ou carboidratos, além de complexos macromoleculares. · Os autoanticorpos liberados na circulação interagem com o antígeno correspondente solúvel ou fixado à superfície de células ou tecidos. · Esses imunocomplexos (antígeno-anticorpo), em condições normais, são removidos da circulação por uma cadeia de eventos que envolvem várias proteínas (complemento, receptores celulares) e células acessórias efetoras (fagócitos). · Os imunocomplexos formados em condição de excesso de antígeno, como nas doenças autoimunes, tendem a ser de pequeno tamanho, permanecendo na circulação. · Estes formam depósitos nas paredes de pequenos vasos sanguíneos onde desencadeiam uma série de eventos inflamatórios, levando a danos teciduais com consequente sequela funcionaldos mesmos. · A análise laboratorial nas DDTC abrange: - Avaliação da atividade inflamatória. - Avaliação da resposta imune humoral: pesquisa de marcadores sorológicos como autoanticorpos de relevância no diagnóstico e monitoramento das conectivopatias, detecção de imunocomplexos circulantes, crioglobulinas e a determinação da atividade funcional e/ou dos níveis séricos do complemento. AVALIAÇÃO DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA HUMORAL AUTOANTICORPOS MARCADORES DE DOENÇA: · São específicos de uma determinada doença: anti-dsDNA (DNA nativo ou de dupla hélice), anti-Sm e antiproteína P ribossomal encontrados exclusivamente no lúpus eritematoso sistêmico (LES). AUTOANTICORPOS MARCADORES DE ATIVIDADE E/OU MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: · Anticorpos anti-dsDNA: nefropatia lúpica. · Antiproteína P ribossomal: psicose lúpica. · cANCA: atividade clínica da granulomatose de Wegener. · Anti-CCP: envolvimento extra-articular da artrite reumatoide (AR). · Anti-Ro/SS-A e anti-La/SS-B: bloqueio cardíaco congênito e manifestação cutânea na síndrome do lúpus neonatal. · Anticorpos anticardiolipina e anticoagulante lúpico: eventos de trombose venosa e arterial, como também a complicações obstétricas. FATOR ANTINUCLEAR (FAN) · Análise laboratorial inicial e indispensável na suspeita de conectivopatias. · Dirigidos a um amplo espectro de moléculas de distribuição, não apenas nuclear, como também citoplasmática. · Teste utilizado: imunofluorescência indireta (IFI), empregando células humanas de carcinoma de laringe como substrato antigênico. · Teste semiquantitativo, permitindo a determinação do título do FAN que corresponde à recíproca da maior diluição do soro que ainda resulta em reatividade positiva na IFI. · Resultado expresso como positivo ou negativo e inclui a descrição dos padrões de marcação fluorescente dos compartimentos ou organelas celulares: padrão nuclear (homogêneo, pontilhado), nucleolar, centromérico e citoplasmático (citoesqueleto, microssoma, mitocôndria). · Alguns dos padrões exibem uma associação mais estreita com determinadas conectivopatias: - Nucleolar: esclerose sistêmica isolada ou em sobreposição com a polimiosite. - Centromérico: marcador sorológico da forma limitada da esclerodermia, CREST - grande valor no auxílio diagnóstico. INTERPRETAÇÃO DO TESTE DE FAN: · Triagem inicial dos soros quanto à presença de autorreatividade. · Alta frequência e títulos elevados de FAN: LES, lúpus induzido por droga e doença mista do tecido conectivo, nos quais raramente o teste é negativo, sendo parte dos critérios de diagnóstico. · Reatividade positiva não apresenta potencialidade em diferenciar as doenças do tecido conectivo entre si - FAN positivo com distintos padrões de marcação celular e prevalência é observado na esclerose sistêmica, síndrome de Sjögren, miosites idiopáticas (dermatomiosite/polimiosite), fenômeno de Raynaud e CREST, que exibe padrão de FAN exclusivo (centromérico). · Resultado positivo de FAN não se limita às DDTC (doenças de tecido conjuntivo): doenças inflamatórias, infecciosas (virais agudas, hepatite), neoplasias e em pacientes sob uso de determinadas medicações (hidralazina, procainamida, isoniazida e anti-TNFα). · Não parece haver correlação entre o título do FAN e a atividade clínica do LES, esclerose sistêmica, polimiosite/dermatomiosite, síndrome de Sjögren e AR. · A detecção seriada dos seus níveis não é determinante no monitoramento da atividade clínica dessas patologias, como também é desprovida de valor prognóstico nos pacientes sabidamente FAN positivos. · Os padrões de reatividade do FAN podem sugerir, mas não confirmar, a especificidade dos autoanticorpos. · Um resultado positivo e a suspeita clínica direcionam a pesquisa subsequente dos antígenos mais relevantes associados ao padrão de imunofluorescência observado (anti-DNA nativo, histonas, proteína P ribossômica, antígenos nucleares solúveis como Sm, U1RNP, Ro/SS-A, La/SS-B, Scl70 e Jo1). · A prevalência de FAN positivo, geralmente em baixos títulos (=1:80), nos indivíduos saudáveis, é de 10 a 15% e pode aumentar com a idade. Os padrões nucleares (pontilhado, pontilhado fino denso e homogêneo) são mais comumente observados nesses casos. · Diante de um resultado de FAN positivo: proceder à sua titulação e à caracterização da especificidade do anticorpo envolvido. · Resultado negativo não é determinante para se afastar a suspeita clínica da doença. · Não exclui a presença de autoanticorpos em baixos títulos no soro ou daqueles específicos a antígenos cuja expressão celular não é suficiente para sua detecção, como o antígeno Ro/SS-A. AUTOANTICORPOS ANTI-DNA NATIVO OU DE DUPLA HÉLICE (dsDNA) · Presentes exclusivamente no soro de pacientes com LES, sendo úteis no diagnóstico da doença desde que detectados por um teste de alta especificidade como a IFI. · Resultado positivo na IFI, independentemente do título, é altamente sugestivo de LES (95% de especificidade para a doença). · Outra opção: técnica de enzimaimunoensaio (ELISA), útil no acompanhamento das flutuações desse anticorpo. · Teste do FAN: padrão nuclear homogêneo. · Fazem parte dos critérios para o diagnóstico do LES. · Presentes em 40 a 60% dos pacientes com LES em geral, 70 a 95% com LES ativo e em 20 a 30% com LES inativo. · A monitoração dos seus níveis séricos deve ser feita no acompanhamento clínico do paciente, sendo que um aumento no seu título pode prever a exacerbação da doença DIFERENTE DO FAN. · Apresenta valor prognóstico quando acompanhado da queda concomitante do complemento. AUTOANTICORPOS ANTI-HISTONAS · Detectados por ELISA ou immnoblot utilizando preparações purificadas das diferentes histonas (H1, H2A, H2B, H3 e H4). · Teste do FAN: padrão nuclear homogêneo. · Resultado positivo associado à ausência de outros anticorpos sugere fortemente o diagnóstico de lúpus induzido por droga. · Anticorpos contra os diferentes tipos de histona podem ser identificados no soro de 30 a 70% dos pacientes com LES idiopático e em praticamente todos com síndrome do lúpus induzido por drogas (procainamida, hidralazina, isoniazida, D-penicilamina). · Podem estar presentes numa variedade de outras doenças autoimunes ou infecciosas crônicas. ANTICORPOS ANTINUCLEOSSOMA OU ANTICROMATINA · Exibem especificidade para o complexo constituído por um octâmero de histonas, ao redor do qual se dispõe a molécula de dsDNA. · Método de escolha para a sua detecção: técnica de ELISA empregando o antígeno purificado. · Teste do FAN: padrão nuclear homogêneo. · Presentes em 75 a 88% dos pacientes com LES. · Associação com a atividade clínica e renal da doença, útil em seu diagnóstico e no monitoramento de atividade (nos pacientes que são negativos para os anticorpos anti-dsDNA). · Prevalentes nos pacientes com nefrite lúpica e são detectados mais precocemente que os anticorpos anti-dsDNA. ANTICORPOS ANTI-Sm E ANTI-RNP · Específicos aos antígenos extraíveis com solução fisiológica (extractable nuclear antigens ou ENA), principalmente as ribonucleoproteínas Sm e RNP. · Teste do FAN: padrão nuclear pontilhado grosso. · Especificidade determinada por hemaglutinação passiva, imunodifusão dupla em gel ou contraimunoeletroforese, empregando extratos teciduais (timo ou baço) como fonte de antígenos. · Anti-Sm: altamente específicos do LES (99% de especificidade), estão incluídos nos critérios de diagnóstico, prevalência de 15 a 30%. · Presença de anticorpos anti-Sm no LES, ao contrário dos anticorpos anti-dsDNA, não está associada a alguma manifestação clínica. · Anticorpos anti-RNP podem estar presentes num amplo espectro de doenças reumatológicas (LES exibindo associação com o fenômeno de Raynaud, esclerose sistêmica e síndrome de Sjögren). Quando presentes isoladamente e em altos títulos, fazem parte dos critérios de diagnóstico da doença mista do tecido conjuntivo (DMTC). ANTICORPOS ANTI-Ro/SS-A E ANTI-La/SS-B · Determinados por imunodifusão dupla, contraimunoeletroforese e ELISA, empregando extrato de baço ou as proteínas purificadas ou recombinantes (ELISA). · Teste do FAN: padrãonuclear pontilhado fino. · Podem ser detectados no soro de pacientes com síndrome de Sjögren (60 a 75%), LES (25 a 50%) e na síndrome do lúpus neonatal (> 95%). · Determinação dos anticorpos anti-Ro/SS-A é de interesse e significado no diagnóstico clínico do LES na ausência de outro marcador sorológico (anticorpos anti-dsDNA e anti-Sm), bem como no diagnóstico da síndrome de Sjögren (SS), podendo ser detectados, isoladamente ou associados, com maior frequência, ao autoanticorpo anti-La/SS-B. ANTICORPOS ANTI-Scl70 E ANTI-Jo1 · Métodos de escolha para sua determinação: imunodifusão dupla em gel, immunoblotting e técnica de ELISA. · Anti-Scl70: marcador diagnóstico da esclerose sistêmica, encontrado em 60% dos pacientes com a forma cutânea difusa da doença. · Aumenta o risco de desenvolvimento de fibrose pulmonar. · Teste do FAN: padrão nuclear e nucleolar pontilhado com placa metafásica positiva. · Anti-Jo-1: marcador sorológico de um subgrupo de polimiosite inflamatória idiopática no adulto, com quadro de doença pulmonar intersticial, fenômeno de Raynaud, mãos de mecânico e artralgia. · Cerca de 30% dos pacientes adultos com polimiosite são anti-Jo1 positivos e essa frequência é maior (60%) em pacientes com comprometimento intersticial pulmonar. · Teste do FAN: padrão citoplasmático pontilhado fino. ANTICORPOS ANTICENTRÔMERO · Antígenos-alvo: proteínas constitucionais centroméricas. · Teste do FAN: padrão nuclear pontilhado (46 pontos) na célula em intérfase e quando em divisão esses pontos se alinham na placa metafásica. · Padrão do FAN é determinante, não havendo a necessidade de caracterização subsequente da especificidade do autoanticorpo por outro teste (raro). · Específicos de pacientes com a forma limitada de esclerose sistêmica ou síndrome CREST (calcinose, fenômeno de Raynaud, alteração motora do esôfago, esclerodactilia e telangiectasia), sendo detectados em 70% dos casos. · Encontrados em menor frequência (20%) nos pacientes com a forma sistêmica da ES. · Pacientes com fenômeno de Raynaud primário e ACA positivos podem desenvolver a síndrome de CREST. ANTICORPOS ANTIPROTEÍNA P RIBOSSÔMICA · Na IFI: padrão citoplasmático fino e difuso, sua especificidade pode ser confirmada por immunoblotting. · Técnica de ELISA também pode ser utilizada. Vantagem: possibilitar a determinação dos níveis séricos desses anticorpos, alterados durante o curso do LES. · Presença de anti-P: altamente específica para o diagnóstico de LES, sendo detectados em cerca de 10% desses pacientes, essa frequência aumenta em até 40% naqueles com doença ativa. · Forte correlação com distúrbios neuropsiquiátricos do LES (psicose e depressão), hepatite crônica ativa (em crianças com LES juvenil) e glomerulonefrite membranosa no LES. OUTROS AUTOANTICORPOS ANTICORPOS ANTICITOPLASMA DE NEUTRÓFILOS (ANCA): · Interagem com proteínas dos grânulos azurófilos primários dos neutrófilos e estão fortemente associados às vasculites primárias, granulomatose de Wegener (60-90%), poliangiíte microscópica, síndrome de Churg-Strauss. · Principais antígenos-alvo: proteinase 3 (PR3) e mieloperoxidase (MPO). · Detectado por IFI em neutrófilos humanos fixados em álcool como substrato antigênico e pode se expressar por dois padrões: granular fino do citoplasma ou ANCA clássico (cANCA), sugestivo de anticorpos anti-PR3, e o perinuclear ou pANCA, sugestivo de anticorpos específicos para a MPO, assim como para elastase, catepsina G e lactoferrina. · Positividade por IFI em neutrófilos não é suficiente como parâmetro de diagnóstico de Wegener ou de poliangiíte microscópica. As amostras de soro devem ser analisadas também por ELISA, utilizando os antígenos purificados (PR3 e MPO) para alcançar uma especificidade de diagnóstico de 99%. · C-ANCA: associação com doenças inflamatórias idiopáticas, inclusive intestinais, glomerulonefrites rapidamente progressivas, hemorragia pulmonar, vasculites cutâneas, nódulos múltiplos pulmonares e doença crônica destrutiva das vias aéreas superiores. · Mais comumente detectado em pacientes com granulomatose de Wegener (90% quando em atividade) e é altamente específico dessa doença - marcador sorológico (útil no acompanhamento clínico/terapêutico). · Pode ocorrer na poliangiíte microscópica (20%) e na vasculite de Churg-Strauss (10%) e, raramente, em indivíduos normais. · pANCA: poliangiíte microscópica (50%) e síndrome de Churg-Strauss (50%), glomerulonefrite crescente idiopática, colagenoses (AR), em doenças induzidas por drogas (propiltiouracil) e inflamações crônicas do intestino. ANTICORPOS ANTIPEPTÍDEO CÍCLICO CITRULINADO (ANTI-CCP): · Reconhecem subunidades da proteína filagrina epidérmica, que têm como epítopos resíduos do aminoácido arginina convertidos em citrulina. · Detectados por ELISA, que emprega peptídeos cíclicos citrulinados (CCP) sintéticos como antígeno. · Suporte sorológico limitado para diagnóstico de AR. · Detecção altamente específica (98%) e moderadamente sensível (68%) para AR, sendo também detectados na artrite idiopática juvenil, porém, não em indivíduos saudáveis. · Sensibilidade de diagnóstico similar a do FR no início da AR, mas se tornam melhor marcador preditivo do curso da doença. · Determinação dos títulos séricos, isoladamente ou em conjunto com FR, é de grande valor preditivo para prognóstico ou de gravidade de doença - altos títulos estão associados à progressão erosiva óssea da AR (marcadores da forma mais agressiva da doença com pior prognóstico). · Teste de escolha em pacientes com poliartrite não diagnosticada ou FR negativo - aumenta o valor preditivo positivo para AR. · Associação com formas mais graves e ativas da doença, especialmente nos pacientes que são FR negativos. FATOR REUMATÓIDE (FR): · Específicos para determinantes antigênicos constitutivos da região constante C-terminal da cadeia pesada, porção Fc, da molécula de IgG autóloga. · São, em geral, da classe IgM de imunoglobulina. · Métodos para a determinação no soro: ELISA, radioimunoensaio, nefelometria, aglutinação passiva, tanto de hemácias sensibilizadas com IgG de coelho (técnica de Waaler-Rose) como de partículas de látex ou bentonita cobertas com IgG humana agregada (técnica de Singer & Plotz) como antígeno. · Mais frequentes na AR, embora possam estar presentes em outras patologias. · Forte correlação entre título de FR e gravidade da doença - é comum pacientes com manifestações extra-articulares (nódulos, pleurite, pericardite, episclerite, úlceras e vasculite) apresentarem títulos bastante elevados. · Controverso o uso do teste para monitorar a atividade clínica da doença ou a eficiência terapêutica. As provas de atividade inflamatória (PCR e VHS) mostram maior utilidade. · Teste positivo ou negativo não confirma nem exclui AR. · Não exibe especificidade para essa doença: pode ser detectado em títulos elevados na síndrome de Sjögren, doença mista do tecido conjuntivo e crioglobulinemias (tipo misto) e, em títulos baixos, no LES. · Sua ausência não exclui diagnóstico de AR - 10% destes pacientes têm FR negativo. · Quanto mais altos níveis de FR, maior sua especificidade para a doença. · 2 a 10% dos indivíduos normais podem apresentar FR em baixos títulos, prevalência que pode chegar a 40% > 75 anos. · Presença transitória de FR em indivíduos normais pode ser detectada após infecções ou imunizações - papel facilitador na remoção de complexos imunes da circulação. ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPIDES: · Reagem com o fosfolipídeo cardiolipina (aCL), componente natural da membrana celular, e o anticoagulante lúpico (LAC), que interage com fatores da coagulação. · São geralmente do isótipo IgG e IgM e estão associados à síndrome antifosfolípide (SAF) primária ou secundária a uma doença reumatológica - episódios trombóticos venosos e/ou arteriais, plaquetopenia e abortos de repetição. · A ligação do anticorpo anticardiolipina é mediada pelo cofator b2Glicoproteína (b2GPI). Os aCL são detectados no soro ou plasma por ELISA, empregando o fosfolípide purificado na presença de soro bovino como fonte de co-fatorb2GPI e soros referência com diferentes unidades de aCL. · Níveis elevados no LES e na SAF: alto risco de trombose e abortos de repetição. · aCL IgG e/ou IgM positivo com níveis moderados a altos (ELISA), em duas ou mais ocasiões com intervalo de pelo menos 6 semanas - excluir falso-positivos decorrentes de infecções transitórias (sífilis, HIV), ou falso-negativos observados na ocorrência de trombose associada à síndrome. · Não está comprovada a utilidade do teste no acompanhamento longitudinal desses pacientes – títulos podem cair na vigência do episódio de trombose. · Nos casos sem diagnóstico: repetir o exame no período estabelecido de 6 semanas e 6 meses após o quadro vascular. · Arterite de célula gigante: monitoramento parece ser útil na detecção de atividade e remissão da doença. ANTICOAGULANTE LÚPICO: · Interfere com um ou mais testes de coagulação dependente de fosfolípides e sua detecção também faz parte também dos critérios da SAF. · Identificação no plasma requer uma análise sequencial que compreende três fases: determinação do prolongamento do TTPA, identificação da presença de inibidor da coagulação pela adição de plasma normal e confirmação da dependência da atividade de coagulação por fosfolípides pela adição de plaquetas ou do fosfolípide isoladamente. · Detecção de aCL por ELISA deve ser feita concomitantemente à determinação do LAC, embora a concordância destes dois anticorpos ocorra somente em 60% dos casos. · Observado em doenças autoimunes, SAF primária ou secundária - estreita relação com as manifestações clínicas. · Associação importante com eventos trombóticos, trombocitopenia e abortos espontâneos de repetição. · Pode estar presente transitoriamente em um grande número de situações clínicas aloimunológicas, doenças infecciosas ou tumorais. OUTROS PARÂMETROS IMUNOLÓGICOS COMPLEXOS IMUNES CIRCULANTES: · Complexos antígeno-anticorpo formados em condições de excesso de antígenos, pequenos, solúveis e ineficientemente removidos pelo sistema retículo-endotelial – podem ser detectados em diferentes fluidos biológicos. · Detecção: testes de ELISA e nefelometria, baseados na reatividade desses complexos com componentes do sistema complemento C1q e/ou C3. · Papel importante na patogênese das doenças autoimunes e geralmente cursam com evidente consumo de complemento. · Altas concentrações: doenças reumatológicas ativas, vasculites, neoplasias e doenças infecciosas. · Utilidade clínica não estabelecida - não existe correlação estreita entre a presença dos complexos imunes na circulação e a atividade de doença ou o grau de lesão tecidual. CRIOGLOBULINAS: · Grupo de proteínas que, sob baixas temperaturas, formam agregados insolúveis que se precipitam e tendem a se dissolver sob posterior aquecimento a 37°C. · Classificação: - Tipo I: imunoglobulina monoclonal (IgG, IgM ou IgA ou raramente proteína de Bence-Jones) sem atividade de FR e que não fixa complemento. - Mista do tipo II: imunoglobulinas monoclonais (IgM, IgG ou IgA), geralmente com atividade de FR, associadas à IgG policlonal, podendo ainda conter ou não antígenos próprios ou microbianos; fixam complemento. - Mista tipo III: imunoglobulinas de origem policlonal e, geralmente, uma delas com atividade de FR; fixam complemento. · Para sua determinação, colhe-se o sangue em tubo pré-aquecido que deve ser rapidamente encaminhado ao laboratório para coagulação a 37° C por, pelo menos, 30 min. · O soro é mantido na geladeira por alguns dias para possibilitar a formação de crioprecipitado, que é lavado e solubilizado quando aquecido. · O teor proteico é determinado por técnicas bioquímicas e valores = 80 mg/mL são considerados positivos. · Caracterização das imunoglobulinas constituintes do crioprecipitado: técnica de imunodifusão dupla ou imunoeletroforese, utilizando anti-soros específicos para cada isótipo. · Macroglobulinemia de Waldenströn e mieloma múltiplo podem levar à formação in vitro de crioprecipitados com características do tipo I ou monoclonal associados a sintomas da síndrome de hiperviscosidade (cefaleia, gengivorragia, hemorragia retiniana, zumbido) e de púrpura, fenômeno de Raynaud, cianose, ulceração. · Crioglobulinas tipo II são comuns em doenças infecciosas crônicas - vírus das hepatites B e C (causa mais comum de crioglobulinemia). · Crioglobulina mista do tipo II é observada na AR e síndrome de Sjögren. · Crioglobulina mista do tipo III é observada no LES, AR, ou em doenças infecciosas crônicas, virais, bacterianas e parasitárias. · Formação de grandes quantidades de precipitado está associada principalmente à crioglobulinemia essencial. · As crioglobulinas detectadas no LES costumam ser em menores quantidades. · Manifestações clínicas mais importantes associadas à presença de crioprecipitados do tipo misto: fenômeno de Raynaud, vasculites, ulceração cutânea, necrose, acrocianose, púrpura e nefrite. COMPLEMENTO: · Constitui-se numa série de proteínas séricas produzidas pelo fígado e que, na presença de ligantes, complexos imunes circulantes ou microrganismos, são ativadas de maneira sequencial, tendo a lise celular como evento final. · A ativação desse sistema ocorre pela interação inicial com a molécula C1q do componente C1, via clássica, ou diretamente com o componente C3, via alternativa, resultando ambas na ativação dos componentes terminais (C5-C9). · Análise funcional do sistema de complemento consiste na determinação da sua atividade hemolítica. · Resultados são expressos em unidades hemolíticas (CH50) que correspondem à diluição do soro, que produz 50% de lise do sistema hemolítico (hemácias de carneiro sensibilizadas por anticorpos específicos). · Avaliação dos níveis séricos dos componentes C3 e C4: técnica de imunodifusão radial. · Diminuição da atividade hemolítica reflete o consumo de complemento in vivo pelo desenvolvimento de processo inflamatório envolvendo formação de complexos imunes circulantes. · No LES: excelente parâmetro para monitoração da atividade de doença e resposta terapêutica (acometimento renal). · Atividade hemolítica reduzida pode sugerir também deficiências seletivas de complemento, especialmente aquelas dos componentes C2 e C4, que podem estar associadas ao LES ou síndrome “lúpus-like” (FAN negativo). · Outras condições que podem cursar com o complemento baixo: choque séptico, falência hepática, pancreatite, síndrome hemolítica urêmica, infecções gonocócicas de repetição. · Elevação dos níveis de complemento também pode ocorrer nas doenças reumáticas - síntese aumentada associada ao grupo de outras proteínas da resposta inflamatória de fase aguda. ANÁLISE DO LÍQUIDO SINOVIAL · LS normal apresenta um teor proteico 30% menor (2 g/dL) que o do soro e é praticamente acelular (< 100 leucócitos/mm3 e ausência de hemácias). · Durante o processo inflamatório acometendo as articulações, ocorrem alterações marcantes na sua composição e sua análise laboratorial torna-se de grande valor prognóstico e de diagnóstico. · Coleta através da artrocentese. · Amostra de LS deve ser colhida na presença de anticoagulante (heparina) e examinada no prazo de 2 horas após sua aspiração. · Pesquisa de cristais na amostra sob microscopia de luz polarizada: - Cristais de urato monossódico em forma de agulha, livres ou intracelulares e com forte birrefringência negativa (patognômicos da gota). - Cristais de pirofosfato de cálcio diidratado sem forma definida e pouco birrefringentes. - Cristais de colesterol (placas grandes multicoloridas com bordas arredondadas e de distintas formas e características ópticas). · Outros estudos podem ser realizados para investigar possibilidades diagnósticas menos comuns: doença metabólica ou malignidade. · Avaliação laboratorial da artrite inflamatória também pode incluir testes sorológicos para infecções: doença de Lyme, HIV ou hepatite. VCM – VITÓRIA CORREIA MOURA
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