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Fichas artigos sobre Teoria Geral do Processo

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Fichas artigos de Daltro
Artigo: Natureza Jurídica do processo e conceito de tutela jurisdicional
1 considerações preliminares
O processo contemporâneo está impregnado de função social, na medida em que não objetiva, sic et impliciter, fazer incidir a legislação vigente, mas tem por escopo a tutela efetiva dos direitos.
2. O direito processual civil como sistema
Watslavick, Jackson e Beavin, partindo da noção de sistema como “conjunto de objetos com as relações entre eles e seus atributos”, indicam as seguintes notas que o caracterizam: 
Globalidade, na medida quem que significa um conjunto complexo formado de elementos que devem comportar-se harmonicamente.
Não somatividade – no sentido de que não constitui simples somatória das partes, o que comprometeria o próprio sentido de conjunto.
Interação – ou seja, a troca de influências entre seus elementos
Retroalimentação – processo pelo qual se produzem alterações no sistema decorrentes das respostas à ação do próprio sistema.
Independe assinalar, também que sistema não é um conjunto consolidado de elementos, um todo perfeito e acabado, uma vez que, como adverte Luhmar: “ a unidade é algo que se deve construir e não preexiste como indivíduo, como substância, como ideia da própria operação”. E o Direito, para ele, é um subsistema social auto-referencial e autopolético (derivado do latim autopoiese – o sistema produz seus próprios elementos)
O próprio sistema deve indicar o caminho para solucionar os conflitos ocorridos sendo constituído pela harmonia como aspecto importante para sua adequada atuação.
3. Natureza jurídica do processo
A doutrina dominante vê o processo como relação jurídica.
Com efeito, no processo, o traço predominante é a existência de uma unidade superior, que independe da vontade das partes, como se colhe da clássica conceituação.
O que importa no estudo do processo é deixar patente que ele não é gerado pela vontade das partes, mas deve obedecer a um modelo traçado pela constituição e pela legislação infraconstitucional
Sobreleva notar que a denominada constitucionalização do processo não é fenômeno novo, bastando conferir-se o que escrevem sobre o ponto Capelletti e Couture, entre outros. O primeiro discorre sobre a constitucionalização das garantias, assinalando que, além do óbvio valor político e ideal, elas assumem também um significado jurídico; o segundo mostra que a proclamação programática de princípios de direito processual foi considerada necessária nas constituições do século XX no conjunto dos direitos da pessoa humana.
4. Diferença entre prestação jurisdicional e tutela jurisdicional
Entende-se por prestação jurisdicional, mais propriamente, o serviço judiciário, ou seja, a atividade exercida pelos juízes e seus auxiliares. A tutela jurisdicional tem relação com a qualidade da atividade jurisdicional e com os fins do processo. ( ela pode ocorrer dentro ou fora do processo, sendo que, no primeiro caso se cuidará de tutela jurisdicional de direitos).
Toda tutela jurisdicional traduz manifestação de serviço judiciário, mas a recíproca não é verdadeira.
Tutela jurisdicional efetiva é a que garante o pleno exercício dos direitos e faculdades no curso do procedimento e dá razão a quem a tiver segundo os ditames da ordem jurídica.
O juiz é o principal intérprete da lei.
Existindo lei que regule a hipótese, não pode o juiz ignorá-la ou desprezá-la, salvo ela se estiver em conflito com princípios consagrados, explícita ou implicitamente, na constituição federal. Assim, o princípio da isonomia é expresso; o principio da proporcionalidade (norma que proíbe o excesso ou abuso) é implícito.
(...) A) a tutela cautelar (caracterizada pela instrumentalidade, plausibilidade do direto, urgência e provisoriedade (recitius, transitoriedade) como no arresto e no sequestro;
B0 tutela da evidência (fundada em fatos que demonstram claramente a existência do direito e, por isso, dispensam dilações indevidas, como ocorre no mandado de segurança);
C) tutela inibitória (destinada a impedir a prática do ilícito, sem preocupação com a existência, ou não, de dano, a exemplo da suspensão de publicação, e jornal, de notícia ofensiva à honra);
D) tutela urgente satisfativa (que se caracteriza pela urgência, sumariedade e satisfatividade, de que constitui exemplo o art. 888, V. do CPC)
O conceito de tutela abrange a proteção dada pela autoridade judiciária durante a tramitação do processo, assegurando a pela participação do autor e do reu quanto às alegações e provas e também o resultado do processo, a garantia de que serão cumpridas as decisões judiciais.
5. Efetividade do processo
A efetividade do processo: o juiz deve garantir ao titular de um direito tudo o que ele poderia conseguir se não houvesse a necessidade de instauração de processo.
Processo justo é o que obedece ao modelo-base estabelecido na constituição, ou seja, o que consagra, entre outros, o direito de ação, o juiz natural, a garantia da defesa o direito á prova, a motivação da sentença, a efetividade da tutela, etc.
A ordem jurídica de um país é justa ou injusta. Se for injusta, o processo não terá o condão de torna-la justa
Efetividade é o termo que traduz preocupação com a aptidão da lei para zerar os efeitos que dela se esperam
Falar em efetividade do processo importa em confrontar os ideais buscados pelo sistema processual – ideias que irão variar no tempo e no espaço – com os resultados alcançados. O vocábulo efetividade, como se vê, contém um significado aberto, a depender do que queremos realizar por meio do processo. (...) falar na efetividade do processo implica precisamente estabelecer o que queremos obter do sistema processual, para só então podermos aferir com que grau de intensidade estes objetivos foram atingidos. O processo moderno promete a pacificação com justiça dos conflitos sociais; será efetivo, portanto, o processo que chegue o mais perto possível do cumprimento desta promessa.
Programa básico em prol da efetividade – realçando a existência de instrumentos, no sistema, adequados e praticamente utilizáveis para a tutela dos direitos, a garantia da exata e completa reconstituição dos fatos relevantes e obtenção de resultado que assegure ao vencedor a satisfação plena de seu direito com o mínimo dispêndio de tempo e energia.
6. Conclusões
1. Além do perfil clássico, ressalta clara, no processo, sua função social, na medida em que não objetiva, sic et simpliciter, fazer incidir a legislação vigente, mas tem por escopo a tutela efetiva dos direitos.
2. Sistema não é um conjunto consolidado de elementos, um todo perfeito e acabado uma vez que a unidade só e obtida com permanente trabalho e avaliação dos resultados. 
3. Posto que dominante a concepção de processo como relação jurídica, há que pôr em relevo seu traço predominante: a existência de uma unidade superior, emanada da constituição e da legislação infraconstitucional, que independe da vontade das partes.
4. Conquanto utilizadas frequentemente como sinônimos, entende-se por prestação jurisdicional, mais propriamente, o serviço judiciário, ou seja, a atividade exercida pelos juízes e seus auxiliares. A tutela jurisdicional em relação om a qualidade da atividade jurisdicional e com os fins do processo.
5. Efetividade é um conceito aberto e relativo, cuja fixação depende da concepção que se adote a respeito dos fins do processo.
6. A par da pacificação com justiça e da garantia da certeza r segurança das relações jurídicas, o processo deve harmonizar-se com os valores constantes da Constituição federal e os consagrados pela sociedade.
Artigo: Preocupações com uma eficiente administração da justiça e novas tendências processuais para uma razoável duração do processo
1 O despertar para uma sociologia dos tribunais no estudo da crise do judiciário
A sociologia do direito traz que a maioria dos conflitos sociais tem solução baseada não a normatividade abstrata das leis mas sim na normatividade concreta das decisões judiciais.
A consolidação o estado-providênciatrouxe para o palco judicial conflitos sociais que antes sequer despontavam na ordem jurídica de muitos estados, tomando-se um dos grandes fatores da explosão de litigiosidade, para a qual as organizações estatais não estavam (e ainda não estão) totalmente aparelhadas.
Crises de racionalidade e de hegemonia marcadas pela deficiência e disfuncionalidade dos sistemas político-decisório, econômico, social e cultural.
Um estado saturado em suas funções e na execução de políticas públicas só poderia conduzir a um estado de colapso do poder judiciário com suas próprias crises de eficiência e de identidade. O cerne do problema está na perda de confiança pelos demais poderes, na autoridade do judiciário, que finca raízes na política nacional dos anos de 1960, com a edição dos atos institucionais, que dentre outras deformidades dispenderam as garantias constitucionais da magistratura e colocaram em xeque as prerrogativas dos juízes frente aos demais poderes.
Essa digressão político ideológica tem importantes contribuições para o estudo do processo, porque somente com a assimilação do contexto político social da crise é possível distinguir até onde pode ir o trabalho dos juristas e notadamente dos processualistas na busca por sua solução.
2. Especialmente o Brasil e sua inserção numa crise de poderes judiciários 
A crise não tem apenas aspectos negativos porque ela traz consigo inquietações tendentes “à renovação”, um movimento próprio da evolução e da transformação da realidade e da ciência.
A palavra crise normalmente designa a ruptura passageira de um equilíbrio e condição transitória de anormalidade.
As origens da atual crise se encontram a grosso modo na complexidade numerosidade das relações intersubjetivas da sociedade de massa e no assistencialismo estatal e em particular no processo de democratização e conscientização da população sobre seus direitos.
Projeto Florença – idealizado em 1970 responsável por uma onda renovatória do processo cuja tônica era a busca da ampliação do acesso à justiça e da efetividade do processo. Fomos um dos pioneiros na construção de um completo e avançado sistema processual de tutela coletiva.
Ainda na busca pela universalização da jurisdição e pela ampliação do acesso à justiça notável é o aprimoramento do subsídio estatal para os necessitados de assistência jurídica e desprovidos de condições financeiras : a prestação de assistência judiciária gratuita, oi alçada a garantia de assistência jurídica integral e gratuita pela constituição federal, que não se estringe portanto ao auxílio dos necessitados em litígio já judicializado mas também engloba assistência e aconselhamento jurídico em momento anterior ao processo – atuação esta que pode tanto prevenir a instauração de um processo judicial quando pode auxiliar na conscientização da população a buscar tutela no poder judiciário.
O crescimento da litigiosidade nos tribunais não foi acompanhado na mesma proporção pelos investimentos estatais no setor, já que contemporaneamente a assegurar a inafastabilidade do acesso à justiça, o estado social também é chamado a fornecer outros serviços em áreas essenciais pelas quais prometeu zelar.
3. o papel do processo e das instituições judiciais em alguns diagnósticos já realizados e alguns cainhos já percorridos ou a percorrer no contexto da crise do judiciário
Muito do retardamento dos processos judiciais já se atribuía à complexidade do procedimento a um sistema recursal ( pródigo, a mecanismos processuais desaceleratórios dotados de efeito suspensivo que atrasam o desfecho do litígio a insuficiência do número de magistrados diante da massa de processos pendentes e da perspectiva de novos litígios a deficiência da formação e do treinamento de auxiliares de justiça à inadequação do método de recrutamento de juízes às prerrogativas processuais e dilatórias e exclusivas da fazenda pública dentre outros fatores que sem dúvida juntos operam em desfavor da presteza da tutela jurisdicional.
A demora pode significar denegação da justiça.
No sistema recursal as ultimas décadas foram maradas também pela criação de desincentivos a recursos proletatórios que embora justificada do ponto de vista geral e abstrato da norma por uma expectativa de litigância mais prova, deve ficar reserva para hipótese s extremas de manifesto intuito proletatório do recorrente.
Na medida em que penaliza os jurisdicionados que não em última instância as vitimas daquela morosidade, o aumento das sanções processuais e a acentuada crítica aos advogados como operadores do processo não é um bom remédio rumo á eficiência em sistemas judiciais tidos por improdutivos alimentava-se o descrédito no exercício do Poder.
O juiz está autorizado a proferir liminarmente sentença de improcedência da demanda com base em convencimento formado em casos idênticos.
O julgamento antecipado de improcedência poderá ocorrer quando o juiz tenha se convencido em anteriores casos idênticos em torno de questão unicamente de direito.
Origem comum pressupõe a causa de pedir das diversas pretensões individuais. 
Casos idênticos também incluem aqueles processos cuja homogeneidade não é suficientemente intensa a justificar o tratamento coletivo da controvérsia e nem há razoável dispersão dos interessados a tomar a tutela coletiva mais eficiente a despeito de empiricamente repetitivos os pedidos. 
O propósito do legislador merece aplausos pois consegue conferir a tutela jurisdicional célere a uma dimensão de conflitos que não pode ser cumprida por ação coletiva. 
Não devemos fechar os olhos e acobertar o emprego não raro e patológico de instrumentos direcionados tão somente a solucionar a sobrecarga do judiciário em grau tal que desde a primeira instância até o segundo grau de jurisdição neutralizam o reexame da causa e nas instâncias superiores acabam por anular as chances de revisão dos procedentes por órgão do colegiado.
O juiz de primeiro grau pode negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível. A imprevisibilidade das decisões judiciais também é um dos sintomas da crise.
Os autores das demandas repetitivas não poderão combater a decisão condutora por incidente recursal no âmbito do seu próprio processo: caberá a todos os interessados interpor recurso especial ou extraordinário nos autos do incidente.
Ao contrário dos modelos estrangeiros de processo piloto, e que é voluntária a adesão a proposta nacional prevê a suspensão obrigatória das demandas repetitivas – o que nos parece novamente com a devida vênia providência autoritária.
O conselho nacional de justiça que é de composição mista e que ficou encarregado da supervisão da movimentação administrativa e financeira do judiciário numa busca incessante da melhoria da gestão administrativa, com a diminuição de custos e a maximização da eficácia dos recursos., atuando na coordenação e uniformização das atividades administrativas e no planejamento estratégico visando modernização do processo produtivo da justiça. (não é vergonhoso padronizar soluções e sim atrasá-las)A ideia de avaliar a justiça por seus números para estabelecer e quiçá atingir referidas metas pode até atender de fato ao propósito de dar vazão aos processos em curso e eliminar o inconveniente da litispendência, sendo baseadas por medidas viáveis e adequadas. 
A atribuição do Conselho Nacional de Justiça no sentido de controle disciplinar e de produtividade de magistrados eu veio como resposta aos anseios da sociedade no sentido de criação de um controle externo do judiciário, a ponto de aferir se as verdadeiras causas da crise não seriam endógenas.
4. A título conclusivo: o tema como um permanente convite à reflexão
O quanto o instrumento de atuação jurisdicional do estado está apto a contribuir para superarmos essa insatisfação social.
Artigo: Ação e as condições da ação no processo civil contemporâneo
Sobre a necessidade de reflexão de conceitos estabelecidos
As três fases metodológicas da história do processo civil: “O processo civil moderno é o resultado de uma evoluçãodesenvolvida, no mundo de cultura romano germânica a partir de longo período no qual o sistema processual era encardo como mero capítulo do direito privado, sem autonomia” (Fase sincrética).
“Passou por uma riquíssima fase de descoberta de conceitos e construção de estruturas bem ordenadas, mas ainda sem a consciência de um comprometimento com a necessidade de direcionar o processo a resultados substancialmente justos” (Fase autonomista ou conceitual que tem como marco inicial o ano de 1868).
“E só em tempos muito recentes, a partir de meados do século XX, começou a prevalecer a perspectiva teleológica do processo, superado o tecnicismo reinante por um século” (Fase instrumentalista ou teleológica).
Há de se analisar a finalidade e utilidade do processo para que este propicie um processo civil de resultados.
Não é possível em absoluto abandonar por completo as formalidades processuais ou ignorar os conceitos básicos e as técnicas que estruturam o processo sob pena de se negar ao jurisdicionado o direito de obter um processo justo.
A técnica e a formalidade dos mecanismos processuais devem ser analisados no confronto com as grandes matrizes político constitucionais a que estão filiados os institutos e normas, sob pena de se incorrer num formalismo desprovido de conotação axiológica.
O formalismo valorativo :As formas processuais repercutem diretamente na delimitação dos poderes, faculdades e deveres dos sujeitos processuais na coordenação de suas atividades na ordenação do procedimento e na organização do processo. “O fenômeno oferece duas facetas: no plano normativo, impõe uma equilibrada distribuição de poderes entre as partes sob pena de tornar-se o contraditório uma sombra vã no plano do fato, ou seja, no desenvolvimento concreto do procedimento, reclama o exercício de poderes pelo sujeito, de modo a que sempre fique garantido o exercício de poderes do outro.”
A teoria de Liebman: questionamentos e soluções aventados na doutrina pátria.
A ação consiste portanto no direito ao exercício da tutela jurisdicional.
A ação é per se e também um direito subjetivo ao lado do direito subjetivo material. 
Predomina desde o código de processo civil de 1939, em doutrina, a teoria do direito abstrato de ação, observadas algumas variantes. 
A existência da ação se submete à verificação de determinadas condições, sem as quais não há função jurisdicional. Somente há exercício da função jurisdicional quando o juiz se pronuncia sobre o mérito, isto é, quando profere sentença de procedência ou improcedência do pedido do autor.
Ao se verificar o direito de ação a determinada realidade fático-jurídica, há uma restrição à abstratividade absoluta.
Se aceita a ação como direito completamente abstrato, desvinculado radicalmente da matéria correspondente ao mérito do processo, evidentemente, é de se aceitar que em qualquer hipótese, desde que provocada através de estímulo da apresentação da inicial veiculadora de um pedido determinado, a atuação da jurisdição, o direito de ação atuou em sua plenitude independente da apreciação de tal pedido. Por outro lado, se a apreciação do mérito é essencial a um exercício regular do direito de ação, óbvio será que tal direito não se dinamizou tanto assim que poderá ser reiterado.
Ainda assim, a submissão do direito de ação à verificação da existência de interesse de agir, legitimação para a causa e possibilidade jurídica do pedido não desnatura o caráter abstrato da teoria e apreço, porquanto como registra Dinamarco “são abstratistas todas as teorias para as quais a ação se considere existente ainda quando inexistente o direito subjetivo material afirmado (ou seja, abstraindo-se da existência deste), e esta independência entre o direito de ação e a existência do direito material (procedência do pedido) é uma constante na obra de Liebman.
Uma das dificuldades enfrentadas pelos estudiosos na adoção desta teoria consiste na caracterização do direito exercido quando não se verifica uma dessas condições.
O direito abstrato de ação existe dado que diversas constituições são expressas mesmo a respeito deste tipo de acesso ao judiciário. O artigo 5º, XXXV da CF de 1988 consagra o autêntico direito abstrato de agir.
Seria o direito de ação um direito cívico, incondicionado por dizer respeito ao próprio direito de peticionar e ter acesso aos órgãos jurisdicionais. 
O direito de ação verdadeiramente objeto do processo civil é aquele idôneo e apto a provocar o desenvolvimento da atividade jurisdicional até ou tendente para a sentença de mérito.
Ao afirmar que o objetivo da ação é a obtenção da prestação jurisdicional – seja ela favorável ou não – a tese de Liebman abraçada pelo ordenamento pátrio refere-se a esta perspectiva técnico processual que não despreza em momento algum o direito do autor de simplesmente invocar a tutela jurisdicional e de receber uma resposta do Estado.
O direito constitucional de ação terá sido exercido porquanto o autor terá invocado a prestação jurisdicional e o Estado ainda que não a tenha concedido terá se manifestado acerca da invocação do autor. No sentido técnico processual entretanto não terá havido exercício do direito de ação ou pelo menos não terá havido exercício regular ou legítimo do direito de ação.
Na teoria do abuso de direito, em casos de carência de ação o que falta é o exercício regular desse direito.
Não se poderá dizer que o proferir da decisão processual não consista em exercício de atividade jurisdicional.
Em todo caso, remanesce a dúvida sobre a existência ou não de atividade jurisdicional já que o autor não fazia jus a u provimento de mérito.
Na hipótese de carência de ação “ non c’è vero esercizio dela giurisdizione, ma soltanto uso dele sue forme”. 
Uma vez insistente o provimento de mérito a definitividade que é característica essencial da jurisdição pode não vir a ser alcançada (e conforme a letra do código de processo civil não é alcançada) pela sentença de carência de ação.
Ainda assim objetamos que o fato de a definitividade inerente ao provimento de mérito não ter sido alcançada não retira a natureza jurisdicional da atividade exercida pelo órgão judicial no decorrer do processo. Essa atividade exercida pode não ter cumprido plenamente sua função seu objetivo – o que é coisa diversa. Porém se a proteção jurisdicional tutela jurisdicional definitiva acerca do mérito não foi concedida em favor do autor ou do reu nem por isso se pode dizer que não houve atividade voltada a este fim é dizer atividade jurisdicional.
Se constatada a ausência de direito ao exercício da ação pelo autor ou para alguns verificando o exercício irregular desse direito por falta das condições da ação não de pôde alcançar o resultado final esperado na jurisdição nem por isso terá deixado de haver atividade jurisdicional. Pode não ter sido concedida tutela jurisdicional, porquanto a função da jurisdição não se fez perfeita e acabada. Mas a atividade desenvolvida pelo estado até o momento da sentença de carência de ação é indubitavelmente jurisdicional porquanto voltada para esse fim, só que com um resultado anômalo.
Diversamente do que vimo defendendo, Liebman arte do pressuposto de que é a ação que movimenta a jurisdição e definindo a ação como um direito abstrato que para existir tem que ter condições (possibilidade jurídica, interesse de agir e legitimatio ad causam) desde que faltando uma só condição não haverá ação. Não havendo ação conclui necessariamente não poder haver atividade jurisdicional.
O direito de ação tem antes e além da perspectiva técnico processual uma perspectiva constitucional, cívica assumida.
Diante de tal direito uti civis não ocorra atividade jurisdicional.
Não há dúvida de que inexistentes as condições da ação e assim não havendo ação não pode o juiz decidir sobre o mérito. Proferirá no entanto uma decisão estruturalmente similar à sentença de mérito, onde justificará a inviabilidade de decisão de mérito. Ambas esta sentença e a de mérito são decorrência de atividade jurisdicional.
A distinção entre as condiçõesda ação e o mérito (este que é o próprio objeto litigioso) tem como uma de suas premissas a teoria da asserção. É que a análise das condições da ação é feia de forma hipotética e abstrata, de forma que não se confunde com a efetiva verificação dos fatos subjacentes à causa. Pela teoria da asserção a verificação das condições da ação é procedida mediante análise dos fatos afirmados pelo autor (in statu assertionis).
Esse juízo hipotético de acolhabilidade não é suficiente para cumprir os desígnios de economia processual e prevenção do abuso do direito de demandar, ínsitos à criação das condições da ação. 
Asserção não é suficiente para conferir ao autor o direito de ação sob pena de autolegitimação. 
A afirmação da situação fático-jurídica apta hipoteticamente ao acolhimento do pedido e de provas capazes e evidenciar a possibilidade concreta desse acolhimento e de que a iniciativa do autor não submete o reu a um ônus de plano manifestamente abusivo de defender-se de uma demanda inviável. 
O exame a respeito das condições da ação deve ser feito de forma abstrata consoante as afirmações do autor e também com base ao menos nos documentos que acompanham a inicial.
Condições da ação e méritos: novas facetas de uma velha questão
O artigo 268 do cpc foi ao mesmo passo coerente com uma virão radical da teoria abstrata da ação segundo a qual ao há definitividade (coisa julgada material) nu provimento judicial que não seja o de mérito e incoerente com os princípios da economia e instrumentalidade do processo em face dos quais não há como ser explicada a possibilidade de repropositura sucessiva e indefinidamente da mesma ação quando for insanável o vício que tenha ensejado a carência decretada anteriormente.
Relativamente às condições da ação, dificilmente o vício apresentado poderia ser sanado numa nova ação.
Uma vez que extinto o processo por ausência de uma das condições da ação poderá o autor intententá-la de novo neste sentido é expresso nosso código em seu art. 268. Aqui a identidade com a teoria do direito concreto revela-se mais forte. A ação de que trata o artigo 168 é evidentemente outra e não a mesma "ação".
A impossibilidade de renovação da causa em idênticos ermos após a decretação de carência de ação ou extinção sem resolução de mérito em razão de outro vício é assente na jurisprudência do STJ, o que, sem dúvida revela um avanço da jurisprudência ao interpretar o art. 268 do cpc.
Reconhecida claramente apenas a litigância de má-fé deve ser decotada da pena a parte que extrapola o comando do art 18 caput do cpc. Assim a multa imposta deve ficar adstrita ao patamar de 1% sobre o valor da causa.
A bem da verdade , independentemente da condição da ação que tenha ensejado a sentença de carência, a interpretação meramente literal do disposto no art. 268 o cpc viabilizaria sempre a repropositura da mesma ação o que se afigura inconcebível.
NO caso da ilegitimidade todavia onde é clara a impossibilidade de sanar o vício sem modificação do elemento subjetivo da causa é ainda mais patente a impossibilidade de aplicação do art 168 do pc ainda que com a ressalva preconizada por parte do stj no sentido de se corrigir o defeito que ocasionou a primeira extinção do processo.
AA sentença de carência de ação produz em casos de ilegitimidade efeito substancial acerca das questões de direito material analisadas para o fim de se reconhecer a ilegitimidade.
Tal sentença deve tornar-se imutável quanto à decretação de legitimidade gerando a impossibilidade de o autor voltar a postular a tutela jurisdicional para aquela situação da vida em relação à qual ele já foi declarado estranho, já que afinal de contas um pequeno aspecto da relação material foi solucionado.
A decretação de ilegitimidade encerra juízo de mérito para o autor porque se terá afirmado que o direito para ele não pode existir.
Ora o mérito corresponde à pretensão não satisfeita espontaneamente trazida pelo autor do plano material mediante a demanda e sobre que incide a decisão do juiz. É pois a res in judicium deducta o objeto litigioso concretamente analisado à luz de cognição exauriente.
Aquele que seria ou que virá a ser o legitimado justamente por ser terceiro em relação a esse processo não será afetado por aquilo que nele se haja decidido.
Tentamos dissociar a ilegitimidade (ordinária) do mérito: a questão da repropositura.
No caso de haver cumulação subjetiva de ações obviamente que a análise do mérito será parcial em relação ao processo como um todo que prosseguirá quanto as demais lides quanto aquela ação específica em que houve decretação de ilegitimidade terá havido resolução total do mérito pois a ide terá sido totalmente resolvida.
De fato, se o código de processo civil alude à inexistência de resolução de mérito e se o artigo 168 autoriza a repropositura da ação após o trânsito em julgado da sentença que decreta a ilegitimidade que o autor precedentemente considerado ilegítimo pelo Poder judiciário venha a propor idêntica ação.
Em casos de ilegitimidade não nos afigura suficiente interpretar o art 268 com a ressalva de que a repropositura depende da correção do vício que maculou a ação anterior por duas razões. Em primeiro lugar porque intuitivamente sanar o vício da ilegitimidade dignificaria modificar o polo passivo ou ativo da ação e em tal hipótese não haveria que se falar em repropositura.
A sentença que decreta a ilegitimidade não é sentença de mérito nem produz coisa julgada material.
Todas essas lacunas provenientes da disciplina legal das sentenças que decretam a legitimidade ad causam são perceptíveis no plano doutrinário e jurisprudencial de onde surgem diversas soluções às questões que acabamos de expor. 
Pela inexistência de análise de mérito a ação poderá ser reproposta indefinidamente pela interpretação literal do art. 268 do CPC pois a coisa julgada será meramente formal.
De outro lado desprezando-se a literalidade do art 267 caput e inciso VI e do art 268 do cpc tem-se numa perspectiva teleológica e sistemática do ordenamento a inadmissibilidade da reprodução pura e simples da ação extinta anteriormente pois se terá operado a coisa julgada material. E neste caso serão diversas as possibilidades de impugnação e desconstituição da sentença.
O projeto de Lei do Senado 166/2010 e a possibilidade de repropositura das ações extintas por carência: uma questão para reflexão.
A possibilidade de renovação da ação especificamente nos casos em que tenha sido anteriormente reconhecida a ilegitimidade ou a falta de interesse processual sob a condição de que se corrijam os vícios que ocasionaram a sentença de carência de ação.
Art. 473 – A sentença sem resolução de mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação. 
§1º - No caso de ilegitimidade ou falta de interesse processual a propositura da nova ação depende da correção do vício.
(proposta aprovada no senado de modificação para este texto).
Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução do mérito por carência de ação não há coisa julgada material, mas apenas coisa julgada formal – a qual em regra inviabiliza somente a discussão da controvérsia no mesmo processo não em outro.

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