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Introdução à Filosofia_LaSalle

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Filosofia: roteiros e textos seletos 
 
 
 
 
 
Prof. Sergio Salles 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Terceira versão, 2010 
 
2 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
a) Definições de Filosofia 
 
• Etimológica: Φιλοσοφία: philia + sophia = amizade à sabedoria 
• Aristotélica: “ciência das causas últimas de todas as coisas” 
o “Ciência” (episteme) x “Opinião” (doxa) 
o Causas últimas x causas próximas 
o Todas as coisas = máxima extensão (universalidade) 
 
b) As origens gregas da filosofia 
 
• Filosofia e mitologia 
o O mito é uma narrativa sagrada a respeito das relações dos 
homens com os deuses num tempo primordial. Caracteriza-se por 
ser uma narrativa simbólica de origem cultural fundada em 
crenças e na imaginação. 
o A filosofia é uma ciência (um saber racional) a respeito dos 
princípios de todas as coisas. 
• Filosofia e religião 
o Distinção entre religião pública e religião dos mistérios 
(esotérica); o papel do orfismo. 
• Condições sóciopolítico-econômicas 
o A especificidade da “polis” grega 
 
c) Divisão Histórica da Filosofia 
 
Filosofia Antiga (séc. VI a.C. – III d.C.) 
Filosofia Medieval (séc.VI – XV d. C.) 
Filosofia Moderna (séc. XVI – XIX d. C.) 
Filosofia Contemporânea (séc. XX – XXI d. C.) 
 
d) Divisão Sistemática da Filosofia 
 
FILOSOFIA PURA 
Especulativa Metafísica e 
Teodicéia/Teologia 
Filosófica 
Cosmologia 
Filosófica ou 
Filosofia da 
Natureza 
Psicologia 
Filosófica 
Gnosiologia 
ou Teoria do 
Conhecimento 
Prática Ética Lógica Estética 
 
FILOSOFIA APLICADA 
Ciência Filosofia da Ciência 
Direito Filosofia do Direito 
Educação Filosofia da Educação 
Religião Filosofia da Religião 
Política Filosofia Política 
Matemática Filosofia da Matemática 
Psicologia Filosofia da Mente ou da Psicologia 
3 
 
A FILOSOFIA ANTIGA 
 
I. Os Filósofos Pré-Socráticos 
 
1.1. Divisão das Escolas 
 
A primeira divisão das escolas pré-socráticas encontra-se em Aristóteles (Metafísica 
I, 4). Mais tarde, retoma-a Diógenes Laércio (I, 14-15) que, como o Filósofo, distingue 
a Escola Jônica da Escola Italiana ou Pitagórica. A partir dessa primeira divisão, pode-
se propor a seguinte: 
 
FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS 
Escola Jônica Ásia Menor 
Escola de Mileto: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, 
Anaxímenes de Mileto 
Xenófanes de Colófon 
Heráclito de Éfeso 
Escola 
Pitagórica ou 
Itálica 
Magna 
Grécia Pitágoras de Samos (Jônia) 
Escola Eleata 
(ou Eleática) 
Magna 
Grécia Parmênides de Eléia, Melisso de Samos e Zenão de Eléia 
Escola 
Atomista Trácia Leucipo, Demócrito de Abdera 
Outros Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazómena 
 
1.2. Mapa da Grécia 
 
 
 
 
4 
 
1.3.Resumo das Escolas Naturalistas 
 
a) Escola Jônica 
• Tales de Mileto (ca. 624-547 a.C.): arché = água 
• Anaximandro de Mileto (ca. 610-547 a.C.): arché = aipéron 
(indeterminado) 
• Anaxímenes de Mileto (ca. 585-625 a.C.): arché = ar 
• Heráclito de Éfeso (ca. 504-570 a.C.): arché = fogo 
• Xenófanes de Colofón (ca. 570-528 a.C.): arché = terra 
 
b) Escola Pitagórica 
• Pitágoras de Samos (ca. 530-496 a.C.): arché = números 
 
c) Escola Eleata 
• Parmênides de Eléia (ca. 539-469 a.C.): arché = ser 
 
d) Escola Atomista 
• Demócrito de Abdera (ca. 460-370 a.C.): arché = átomos 
 
e) Outros 
• Empédocles de Agrigento (ca. 495-430 a.C.): arché = quatro elementos 
(terra, ar, fogo, água) 
• Anaxágoras de Clazómena (ca. 500-428 a.C.): arché = espírito (nous) 
 
1.4. A Escola Jônica 
 
O naturalismo da Escola Jônica evidencia-se pelas respostas dadas à questão do 
princípio (arché) de todas as coisas. Esse princípio, também chamado de causa (aitia), 
encontra-se na própria natureza material (physis). Por essa razão, são chamados por 
Aristóteles (Metafísica I, 2) de físicos ou fisiólogos. É importante destacar certos 
elementos teóricos comuns à Escola Jônica além do naturalismo: 
 
• A concepção de que a realidade natural pode ser explicada racionalmente a 
partir da regularidade dos fenômenos segundo o princípio da causalidade. Em 
outros termos, o cosmos (kosmos) possui leis universais que podem ser 
conhecidas racionalmente pelo homem. Aliás, o termo “kosmos”, em grego, 
está intrinsecamente vinculado à concepção de uma realidade ordenada, 
harmônica e, portanto, bela, contrária ao caos (kaos). 
• Essa concepção da realidade cósmica como acessível à razão humana é 
expressa pelo termo logos, que significa o discurso racional em oposição ao 
mito (mythos), ou seja, a narrativa poética e simbólica. 
• O pressuposto de que a causa primeira de todas as coisas é incausada. Isso dará 
origem ao princípio teórico segundo o qual não é possível regredir ao infinito 
na busca das causas primeiras, ou seja, há de haver uma causa primeiríssima e 
universal de todas as coisas. 
5 
 
• A compreensão da causa primeira da physis como imanente à mesma. Isso dará 
origem à tese segundo a qual tudo o que é material e corpóreo tem sua origem 
numa matéria (num elemento) primordial que não é transcendente ao próprio 
cosmos, mas sim intrínseca(o) ao mesmo. 
 
1.5. A Escola Italiana 
 
 A Escola Italiana, fundada por Pitágoras, introduz duas novas interpretações da 
realidade que influenciarão a história da filosofia: 1) a concepção da imortalidade e da 
transmigração (metempsicose) da alma; 2) a explicação da realidade natural através da 
matemática uma vez que entendem o número como princípio constitutivo do cosmos. O 
pitagorismo nasce como uma espécie de fraternidade ou ordem religiosa cujas doutrinas 
secretas eram ensinadas somente aos iniciados. Um dos principais testemunhos textuais 
da doutrina dos pitagóricos é a Metafísica de Aristóteles (I, 5): 
 
“Os assim chamados pitagóricos (...) por primeiro se aplicaram às 
matemáticas, fazendo-as progredir e, nutridos por elas, acreditaram que os 
princípios delas eram os princípios de todos os seres. E dado que nas 
matemáticas os números são, por sua natureza, os primeiros princípios, e 
dado que justamente nos números, mais do que no fogo e na terra e na água, 
eles achavam que viam muitas semelhanças com as coisas que são e que se 
geram – por exemplo, consideravam que determinada propriedade dos 
números era a justiça, outra a alma e o intelecto, outra ainda o momento e o 
ponto oportuno, e, em poucas palavras, de modo semelhante para todas as 
outras coisas -; e além disso, por verem que as notas e os acordes musicais 
consistiam em números; e, finalmente, porque todas as outras coisas em 
toda a realidade lhes pareciam feitas à imagem dos números porque os 
números tinham a primazia na totalidade da realidade, pensaram que os 
elementos dos números eram elementos de todas as coisas, e que a 
totalidade do céu era harmonia e número.” (ARISTÓTELES. Metafísica, I, 
5). 
 
É também na Metafísica que encontramos a informação de que outros pitagóricos 
sustentaram a existência de dez princípios, apresentados numa série de contrários: 1) 
limitado(determinado)-ilimitado(indeterminado); 2) ímpar-par; 3) um-múltiplo; 4) 
direito-esquerdo; 5) macho-fême; 6) repouso-movimento; 7) reto-curvo; 8) luz-trevas; 
9) bom-mau; 10) quadrado-retângulo. Nessa descrição, os números são constituídos 
pelo limitado e pelo ilimitado. Mas, a distinção entre par e ímpar, bem como a distinção 
entre os demais elementos de cada par da série só é possível pela prevalência de um dos 
dois elementos que iniciam a série. Em outros termos, nos números pares prevalece o 
indeterminado (ápeiron), enquanto nos ímpares, o determinado. 
 
1.6. A Escola Eleata 
 
Parmênides é o fundador da escola eleática conhecida também como imobilista e 
monista. Tanto o imobilismo quanto o monismo surgem como teorias contrárias às 
defendidas por Heráclito de Héfeso.Em seu poema filosófico, intitulado “Sobre a 
Natureza” (Peri Physios), descreve os caminhos (odos, significa caminho ou via) que, 
sendo opostos entre si, devem ser escolhidos pelo filósofo na sua busca pela verdade 
(alétheia). O critério dessa escolha verdadeira é essencialmente a razão (logos) que 
6 
 
reconhece numa única via a realidade verdadeira que se manifesta, se desvela, se 
descobre no ser (einai). Com efeito, “só o ser é, o não-ser nada é”. É ainda de 
Parmênides a belíssima passagem que diz: “ainda que dele (do ser) me afaste, para lá 
sempre retornarei”. 
Outro caminho que é impraticável filosoficamente, porque contraditório, seria 
aquele que quer pensar o não-ser. Esse é o caminho das opiniões (doxai) que pensam o 
ser e o não-ser – via trilhada por Heráclito. Com sua crítica aos que pensam a via do ser 
misturada à do não-ser, Parmênides introduz, pela primeira vez na filosofia, a dualidade 
de ser e aparecer, entre realidade e aparência/fenômeno, ao mesmo tempo que exige do 
filósofo a atenção não às coisas sujeitas ao movimento (kínesis), mas ao ser (einai). Em 
nome do ser, Parmênides nega a realidade do não-ser e, concomitantemente, a realidade 
e consistência da natureza (physis) enquanto sujeita ao movimento (kínesis). Pode-se 
dizer que toda a metafísica ocidental nasce no poema de Parmênides que, em prol da 
verdade (alétheia) do ser (enai), negou a realidade do devir (kínesis) e da natureza 
(physis). 
 
 
 
PARMÊNIDES 
 
Via Metáforas Conceitos Efeitos 
Da verdade Sol, dia e luz Ser, realidade, imutável, 
simples, ingerado, incorrup-
tível, uno e eterno. 
Persuasão (peithó), certeza 
Da falsidade Noite, treva, esque-
cimento 
Não-ser, aparência, mutável, 
gerável, corruptível, múltiplo e 
temporal. 
Opinião (dóxa), dúvida 
 
Dos discípulos de Parmênides, destacam-se dois: Melisso de Samos e Zenão de 
Eléia. É do primeiro o seguinte fragmento: “que é não pode ter começo, pois se tivesse 
começo deveria provir do que é ou do que não é; mas não pode ter vindo do que é, 
porque o que é já é, também não pode ter vindo do que não é, porque o que não é não é, 
e não pode vir a ser”. É do segundo os célebres paradoxos que resultam da aceitação da 
realidade do movimento (tese mobilista), a saber: 1) do movimento ou da dicotomia; 2) 
de Aquiles e da tartaruga; 3) da flecha; 4) do estádio. Para Aristóteles, se Parmênides 
deu origem à lógica, coube a Zenão dar origem à dialética, ou seja, o raciocinar por 
meio de teses propostas pelo oponente, ou seja, raciocinar partindo das opiniões 
(endoxas) dos adversários a fim de refutá-los. Essa refutação ocorre pela dedução das 
consequências contraditórias das teses opostas (contrárias), dando origem ao famoso 
raciocínio por redução ao absurdo (reductio ad absurdum). 
 
 
Mobilistas x Imobilistas 
 
Imobilistas 
(Parmênides) 
O que é é e não 
pode deixar de 
ser. 
O que não é 
não é e não 
pode vir a ser. 
Há identidade 
entre ser e 
pensar. 
Mobilistas 
(Heráclito) 
O que é pode 
deixar de ser. 
O que não é 
pode vir a ser. 
Não há 
identidade entre 
ser e pensar. 
7 
 
1.7. Os Sofistas 
 
Por “sofista”, entende-se o “sábio” (sophos). O primeiro dentre os sofistas foi 
Protágoras de Abdera (ca. 491/81-410 a.C.), que se dedicou às questões relativas ao ser 
humano, mais do que à natureza (physis), dando início ao período humanista da filosofia 
antiga. O movimento sofístico surge em meio à crise da aristocracia ateniense e a 
progressiva ascensão do poder do demos (o povo), da democracia. É nesse contexto que 
surge a necessidade do cidadão adquirir as virtudes políticas, ensinadas pelos sofistas, 
mestres itinerantes. 
 Em suas Antilogias, Protágoras desenvolve um método para opor a todo logos o seu 
antilogos, reforçando o exercício argumentativo em caráter relativo. Sua filosofia é 
expressa em famoso fragmento: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são 
enquanto são e das que não são enquanto não são”. Esse fragmento a respeito do 
homem-medida (homo mensura) foi classicamente identificado como a origem do 
humanismo e do relativismo. É esse relativismo que encontramos nas Antilogias, obra 
que para cada questão ou coisa contrapõem-se dois raciocínios ou opiniões. Em suma, 
trata-se de ensinar a argumenta por meio de raciocínios formulados com a intenção de 
contradizer outros. Por isso, diz-se que ensinava a tornar mais forte os mais fracos 
argumentos. 
O principal discípulo de Protágoras foi Górgias de Leontinos (ca. 484-400), que, em 
sua obra Sobre a natureza ou sobre o não-ser, afirma que: “Nada existe que possa ser 
conhecido; se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado, se pudesse ser 
comunicado, não poderia ser compreendido”. Em suma: 1) O ser não é; 2) Se o ser 
fosse, não seria cognoscível; 3) Se fosse cognoscível, não seria comunicável. Ao 
abandonar o caminho do ser e da verdade absoluta (via de Parmênides), Górgias 
defendeu o caminho das opiniões (doxa), dando ênfase ao poder da fala, do discurso 
persuasivo (sofística), em detrimento do demonstrativo (lógica). 
 
 
II. Sócrates (470-399 a.C.) 
Com Sócrates, nasce aquela filosofia que dará seus principais frutos nas obras de 
Platão e Aristóteles. Condenado em 399 a.C., acusado de impiedade e corrupção da 
juventude, seu julgamento e morte marcam decisivamente o jovem Platão, dentre outros 
discípulos. Embora nada tenha escrito, o pensamento de Sócrates foi registrado pelos 
discípulos, em particular por Platão. De acordo com seu testemunho, Sócrates 
privilegiou o conhecimento de si (em conformidade com a máxima délfica, “conhece-te 
a ti mesmo”) e entendeu a filosofia como uma arte de gerar novas idéias. Em relação ao 
primeiro aspecto, defendeu que o homem é a sua alma (psyché) e essa é imortal. 
“Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não 
ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar do corpo, 
nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais do que da 
alma, de modo que ela se torne ótima e virtuosíssima (...)” (Platão. 
Apologia de Sócrates) 
O método filosófico adotado por Sócrates é conhecido como maiêutica 
(literalmente, arte de parir) e consiste nas seguintes etapas: 1) A refutação (elenchos) 
das falsas e presunçosas opiniões – parte destrutiva do método (pars destruens); 2) A 
8 
 
geração de novas idéias a partir da consciência de que: “Só sei que nada sei” – parte 
construtiva do método. Essa última sentença constitue o coração da filosofia socrática, 
também conhecida como “douta ignorância”. A maiêutica também é marcada pelo estilo 
dialógico e irônico (ironia significa etimologicamente simulação). 
A ética socrática é marcadamente intelectualista, ou seja, entende a virtude (areté) 
como a busca da perfeição daquilo que é próprio da natureza humana, ou seja, a sua 
racionalidade. Além disso, entende que para que a ação seja boa moralmente é 
necessário e suficiente o conhecimento do bem. A felicidade, assim, não advém das 
coisas externas, mas de uma ordenação e uma harmonia interior, chamada de felicidade 
(eudaimonia), alcançada pelo homem virtuoso. 
 
“Mas também vós, ó juízes, deveis ter boa esperança em relação à morte, e 
considerar esta única verdade: que não é possível haver algum mal para um 
homem de bem, nem durante sua vida, nem depois da morte, que os deuses não 
se interessam do que a ele concerne; e que, por isso mesmo, o que hoje 
aconteceu, no que a mim concerne, não é devido ao acaso, mas é a prova de que 
para mim era melhor morrer agora e ser libertado das coisas deste mundo. Eis 
também a razão por que a divina voz não me dissuadiu, e por que, de minha 
parte, não estou zangado com aqueles cujos votos me condenaram, nem contra 
meus acusadores. Não foi com esse pensamento, entretanto, que eles votaram 
contra mim, que meacusaram, pois acreditavam causar-me um mal. Por isto é 
justo que sejam censurados. Mas tudo o que lhes peço é o seguinte: Quando os 
meus filhinhos ficarem adultos, puni-os, é cidadãos, atormentai-os do mesmo 
modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer que eles cuidam mais das 
riquezas ou de outras coisas do que da virtude. E ,se acreditarem ser qualquer 
coisa não sendo nada, reprovai-os, como eu a vós: não vos preocupeis com 
aquilo que não lhes é devido. E, se fizerdes isso, terei de vós o que é justo, eu e 
os meus filhos. Mas, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. 
Mas, quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para deus.” (Platão. 
Apologia de Sócrates, 30) 
 
III. Platão (428-347) 
 
a) Biografia 
 
Nascido em Atenas, em 428 a.C., no início da Guerra do Peloponeso, foi Aristócles 
(apelidado de Platão) discípulo de Crátilo (por sua vez, discípulo de Heráclito) e, 
enfim, de Sócrates. Depois da morte desse último e de diversas viagens, fundou a 
Academia em 387 a.C. em cujo pórtico podia-se ler: “Aqui não entre quem não 
souber geometria”. 
 
b) Obras 
 
As obras de Platão apresentam-se como “diálogos”, nos quais o protagonista é, em 
geral, Sócrates que, com seus interlocutores, procura estabelecer “o que é”, ou 
9 
 
melhor, procura sobretudo a causa formal/essencial do que é. Os diálogos podem 
ser assim divididos: 
 
• Diálogos socráticos (depois de 399 a.C.): Apologia de Sócrates, Íon (Sobre a 
Ilíada), Hípias menor (Sobre a falsidade), Laques (Sobre a coragem), Carmides 
(Sobre a moderação), Criton (Sobre o dever), República (Livro I), Hípias maior 
(Sobre a beleza), Eutífron (Sobre a piedade) e Lisis (Sobre a amizade). 
• Diálogos intermediários (389-388 a.C., primeira viagem à Sicília): Protágoras 
(Sobre os sofistas), Górgias (Sobre a retórica), Menexeno (Oração fúnebre), 
Eutidemo, O Banquete (Sobre o amor), Fédon (Sobre a morte e a alma), Ménon 
(Sobre a virtude), República (Sobre a justiça), Fedro (Sobre a alma). 
• Diálogos da maturidade: Crátilo (Sobre os nomes e as idéias), Teeteto (Sobre o 
conhecimento), Parmênides (Sobre as formas), O Sofista (Sobre o ser), O Político 
(Sobre a monarquia), Filebo (Sobre o prazer). 
• Últimos Diálogos: Timeu (Sobre a natureza), Críticas (Sobre Atlântida), As Leis, 
Epinomis (Sobre o filósofo). 
 
c) A “segunda navegação” e a descoberta das Formas/Idéias 
 
As obras de Platão manifestam uma preocupação inicial de caráter ético, seguida 
das especulações sobre a natureza e suas causas. Entretanto, a sua originalidade 
filosófica reside na fundação da metafísica ou ontologia, ou seja, na descoberta da 
realidade supra-sensível (das Formas ou Idéias), transcendente à matéria. Essa 
descoberta, chamada por Platão de “segunda navegação”, rompe definitivamente 
com o naturalismo dos pré-socráticos. 
 
A divisão da realidade em material-sensível e imaterial-inteligível leva à 
reformulação das categorias filosóficas da tradição pré-socrática, ao mesmo tempo 
que procura resolver o impasse entre Heráclito e Parmênides acerca do ser e do 
devir. No livro VI da República, Platão expõe essa divisão da realidade à luz dos 
objetos e dos modos de conhecimento humano. A descrição da progressiva 
ascensão do conhecimento humano das imagens sensíveis às idéias inteligíveis, 
pode ser visualizada nos seguintes esquemas: 
 
Objetos do Conhecimento Modos do 
Conhecimento 
Mundo 
Inteligível 
 
Formas/Idéias 
Separadas (Bem 
em si) 
Intuição Intelectual 
(Nóesis) 
Ciência (Epistéme) 
Objetos 
Matemáticos 
Raciocínos dedutíveis 
(Diánoia) 
Mundo 
Sensível 
 
Coisas Crença (Pístis) e 
opinião (Dóxa) 
Imagens Imaginação (Eikasía) 
 
 
 
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A teoria platônica das Formas ou Idéias responde, assim, às questões socráticas 
relativas à esssência do que é e, ao mesmo tempo, procura evitar o paradoxo do ser 
e do não-ser presente na filosofia pré-socrática. As Formas ou Idéias separadas da 
matéria são as essências estáveis, imutáveis, eternas e perfeitas. A Forma ou Idéia 
da Beleza é a essência da Beleza, é a Beleza em si, causa formal de tudo o que tem 
a beleza recebida e participada. Por essa razão, tudo o que não é em si mesmo a sua 
própria essência, recebeu por participação a forma ou essência da Forma ou Idéia 
separada da matéria. 
 
A título de síntese doutrinal da metafísica platônica, podemos dizer que: 
 
1. Platão intuiu a existência das perfeições transcendentes, universais, imateriais, 
simples e absolutamente separadas da matéria. 
2. Platão duplicou a realidade e, com ela, o mundo: o primeiro, no qual há tudo o 
que é é em si mesmo e por si mesmo perfeito, pleno, imutável e eterno; o segundo, 
no qual tudo o que é é por participação. 
3. Platão defendeu uma relação entre o mundo visível e o mundo inteligível por 
meio da teoria da participação e da imitação. 
 
d) A dialética erótica no Banquete (Symposium) 
 
Dentre os mais célebres diálogos de Platão, encontra-se o Banquete (Symposium), 
que trata do amor (eros). Os personagens que fazem o elogio do amor são: Fedro, 
Pausânias, Erixímaco, Aristófanes e Ágaton. Após as diversas representações do 
amor (amor pederástico, amor celeste x amor terrestre, amor cósmico, amor das 
almas gêmeas (anteriormente andróginas)), é Sócrates quem conduz a reflexão 
sobre eros à luz das palavras da sacerdotisa Diotima. Nas palavras dessa, o amor é 
imperfeito por ser falta, carência de beleza, de eternidade, de sabedoria. Assim, o 
amor, que é desejo de uma perfeição da qual se carece, eleva o amante 
dialeticamente do desejo do que é belo em outro ao que é Belo em si mesmo. 
 
e) A República e o ideal pedagógico 
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A República de Platão é a exposição filosófica do que é uma polis estruturada em 
torno das virtudes, em particular, da Justiça. No primeiro livro, defende-se que todo 
homem só atinge a felicidade realizando a função (os atos) que lhe é própria. No 
segundo livro, à luz da alegoria do anel de Giges, Platão introduz a distinção entre o 
que parece ser e o que é justo, dado a possibilidade de um homem parecer justo sem 
sê-lo realmente. É descrita a gênese da cidade a partir das necessidades dos 
cidadãos e da divisão do trabalho. Como é a unidade da cidade que mantém a sua 
força e sua integridade, cada uma das suas partes ou cada um dos grupos de 
cidadãos deve estar à serviço de uma virtude principal a fim de que todos 
concorram, em suas atividades e funções, para o bem comum. Em suma, a justiça 
realiza-se na cidade em que cada cidadão foi educado para realizar virtuosamente a 
função que lhe é própria. Assim, os governantes devem ser educados na sabedoria, 
os guardiões na coragem e os trabalhadores na temperança. A justiça, enfim, é a 
virtude pela qual cada faculdade (da alma) atende ao que deve, seja no governar 
seja no ser governada. 
 
 
 
 
 
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IV. ARISTÓTELES (384-322 a.C.) 
 
I. Vida 
 
384 a.C. – Nasce em Estagira (atualmente, Stavros), filho de Festis e Nicômaco, que 
pertencia à corporação dos Asclepíades, ou seja, professava a arte da medicina. 
ca. 367 – 347 a.C. – Enviado por Próxeno, seu protetor após se tornar órfão, a Atenas. 
Ingresso e frequência à Academia platônica (367-347 a.C.). Os vinte anos passados em 
Atenas corresponde exatamente à segunda viagem de Platão à Sicília até à morte deste. 
366 – 364 a.C. – Eudoxo lidera a Academia e influencia Aristóteles. 
ca. 348 a.C. – Morte de Platão. Aristóteles viaja à Mitilene. 
ca. 343/42 – 340 – Predecessor de Alexandre Magno, nesta época com 13 anos, filho de 
Filipe da Macedônia. 
ca. 340 – Alexandre torna-se regente do reino da Macedônia. Retorno de Aristóteles à 
Estagira. 
335 – 323 a.C. – Retorno à Atenas. Fundação do Liceu, em homenagem a Apolo Lício, 
num ginásio público, em cuja proximidade havia um edifício e um jardim (um 
“passeio”), que deunome de peripatéticos aos seus alunos (peripatos significa passeio) 
que costumavam aprender com o mestre que lecionava passeando. 
323 a.C. – Morte de Alexandre Magno e exílio de Aristóteles para evitar que os 
atenienses cometessem “um novo crime contra a filosofia”. Refúgio em Cálcis, na ilha 
de Eubeia. 
322 a.C. – Morte do Filósofo. 
 
 
 
 
13 
 
 
II. A sabedoria 
 
O primeiro livro da Metafísica esclarece o significado de “sabedoria” para 
Aristóteles. Aqui, a sabedoria é concebida como ciência primeira porque investiga as 
causas primeiras de todas as coisas. Deve-se recordar que, para Aristóteles, as causas 
primeiras são primeiras na ordem do ser, mas são últimas na ordem do conhecer. 
Antes, porém, de determinar a tarefa da sabedoria, Aristóteles caracteriza-a como 
parte fundamental e necessária de uma tendência essencial (natural) do homem, a busca 
pelo saber. Tal tendência radica-se na própria natureza humana que tem no saber sua 
finalidade, sua perfeição. Além disso, a mesma se manifesta nas operações próprias dos 
animais que da sensação alcançam a memória, da memória a experiência e, desta última, 
a arte e a ciência. Deve-se ressaltar aqui a máxima aristotélica segundo a qual a arte e a 
ciência no homem tem seu princípio (sua origem) na experiência. Não obstante, a arte e 
a ciência diferem da experiência enquanto esta última dirige-se ao particular, já aquelas 
voltam-se para o universal. Entretanto, na ação (no ato) a arte aproxima-se mais da 
experiência porque almeja uma ação em particular (p.ex., a arte de curar Sócrates). 
Daqui resulta o seguinte: aquele que possui a arte (ciência do universal) e carece de 
experiência é menos eficaz na ação do que aquele que possui a arte aliada à experiência. 
Ao comentar o primeiro livro da Metafísica, Tomás de Aquino observa que: “As 
pessoas são tanto mais sábias quanto mais se aproximam do conhecimento das 
causas. Assim é que o que tem experiência é mais sábio do que o que tem o sentido 
sem a experiência, o artífice é mais sábio do que aquele que tem apenas a experiência 
e, entre as artes e ciências, as especulativas são mais ciências do que as ativas. 
Portanto, aquela ciência que é simplesmente sabedoria é acerca das causas.” (Tomás 
de Aquino. In Metaphysicam, I) 
 
III. A Física 
 
3.1.Introdução 
Trata-se de uma obra acroamática ou esotérica, composta por seu autor em sua 
segunda estada em Atenas (ca. 335-323 a.C.). Estratura-se em oito livros, os quais 
poderiam ser assim descritos: I. Os princípios dos entes naturais; II. A natureza e as 
causas; III. O movimento e o infinito; IV. As medidas do ente móvel (lugar, vácuo e 
tempo); V. O movimento e suas espécies; VI. O movimento e suas partes; VII. A 
comparação dos movimentos e a existência do primeiro movente imóvel; VIII. A 
eternidade do movimento. Existência e natureza do primeiro movente imóvel. 
De acordo com o “prefácio” do primeiro livro, “é próprio da ciência da natureza 
procura definir, antes de tudo, o que se refere aos princípios” (Física, I, 1, 184a 14-16). 
Essa busca dos princípios segue a seguinte ordem: das realidades mais conhecidas por 
nós (phainómena) às coisas mais conhecidas por si ou por natureza. Em suma, 
Aristóteles adota na Física sempre a consideração do que é mais evidente na 
experiência a fim de alcançar o que é mais evidente na ordem dos princípios. Os 
phainómena englobam, portanto, os dados da experiência (o que é manifesto para nós 
pelos sentidos), assim como as opiniões dos filósofos (o que lhes foi manifesto). 
3.2.A análise aristotélica do movimento 
Como dito anteriormente, Aristóteles investiga na Física os primeiros princípios da 
natureza em sua realidade sensível. No primeiro livro, apresenta as diversas 
14 
 
contribuições dos filósofos anteriores, a fim de retomar suas aporias dando-lhes nova 
resolução. Desde já, o Estagirita revela o seu método filosófico particular que poderia 
ser via de regra descrito como se segue: 
1. Problema 
2. Exposição e análise das opiniões dos filósofos e de suas aporias 
3. Tese do autor 
4. Argumentos em favor da tese 
5. Objeções à tese 
6. Resposta às objeções 
Dos oito livros da Física, Aristóteles dedica seis ao estudo do ente móvel. Isso se 
deve ao fato de que o movimento é o que há de mais manifesto em toda a realidade 
sensível. Das soluções filosóficas apresentadas até então, destacam-se a de Heráclito e 
Parmênides. Com efeito, a aporia entre esses autores pode ser assim resumida: 
1. O que é na medida em que é não muda (Parmênides) 
2. O que muda na medida em que muda não é (Heráclito) 
Aristóteles procura superar as oposições doutrinais dos pré-socráticos acerca do ser 
e do devir com a descoberta da ente em potência. Com efeito, os pré-socráticos 
divergiam sobre o movimento na medida em que o concebiam como passagem do não-
ser ao ser e vice-versa. Para Aristóteles, o movimento consiste, em verdade, na 
passagem do ente em potência ao ente em ato. Isso significa que o movimento 
pressupõe uma capacidade real de um ente em realizar uma ação (potência ativa) ou em 
receber uma perfeição (potência passiva). 
Dito ainda de outro modo, só há movimento se houver a realização (a atualização) 
de uma capacidade, de uma perfeição devida ao que é em potência. Daqui resulta a sua 
definição do movimento como “ato do ente em potência enquanto está em potência” 
(Física, III, 1, 201a), ou ainda, “ato do móvel enquanto é móvel” (Física, III, 2, 202a). 
Ao comentar a definição aristotélica, observa Tomás de Aquino: “o movimento é um 
ato imperfeito do imperfeito” (In Met. XI, 9, 2305). 
 
ANÁLISE DO MOVIMENTO 
 
Espécies Descrição Elementos Princípios 
 
Movimento (kínesis 
> motus) 
1) Quantidade 
(aumento e 
diminuição) 
2) Qualidade (alteração) 
3) Local (locomoção) 
Sujeito 
(princípio material/potencial) 
Ente em si = 
substância 
Termo a quo (privação) Ente 
(substância) em 
potência 
Termo ad quem (forma nova) Ente 
(substância) em 
ato 
Mudança (metabolé 
> mutatio) 
1) Geração 
2) Corrupção 
Sujeito 
(princípio material/potencial) 
Matéria-prima 
Termo a quo (privação) Substância1 
Termo ad quem (forma nova) Substância2 
 
O quadro acima evidencia que, em sentido próprio, o movimento pressupõe a 
existênica de: 1) sujeito; 2) forma; 3) privação. O sujeito é aquele no qual se realiza o 
movimento e, portanto, indica o princípio material ou receptivo. A forma e a privação 
15 
 
indicam a oposição (não-identidade) entre o denominado termo a quo (“ponto de 
partida”) e o termo ad quem (“ponto de chegada”). Em esquema: 
 
Não-Forma (não-ato) Forma (ato) 
----------------------------  ----------------- 
Sujeito (em potência) Sujeito (em ato) 
 
 
No movimento (acidental), a oposição é sempre contrária posto que é o mesmo ente, 
a mesma substância que está no termo a quo e no termo ad quem. O movimento da 
substância não implica, portanto, a perda de sua identidade essencial, pois move-se ou é 
movida segundo o lugar (locomoção), a quantidade (aumento ou diminuição) ou a 
qualidade (alteração). Essa passagem pressupõe a existência de um termo médio; é 
sucessiva, divisível ao infinito, gradual, contínua e temporal. 
Na mudança (substancial), a oposição será contraditória já que não é o mesmo ente, 
a mesma substância que está no termo a quo e no termo ad quem. A mudança de uma 
substância em outra diferente essencialmente só ocorre na geração e na corrupção. Essa 
passagem não pressupõe a existência de um termo médio; é imediata, indivisível, 
repentina, brusca, instantânea. 
 
 
V. HELENISMO: ESTOICISMO E EPICURISMO 
 
I. Introdução 
As novas condições impostas ao mundo grego primeiro pelos macedônios e depois 
pelos romanos tornam impossível a participação do indivíduo no governo da polis. 
O conhecimento deixa de serpreparação para vida política, passando a se ocupar da 
busca da felicidade individual. O problema ético torna-se, assim, o centro da 
especulação. Trata-se de uma ética do bem individual, da serenidade ou 
tranqüilidade interior, independentemente das circunstâncias. O bem não é mais 
aquele metafísico de que falava Platão, mas sim o que é bom para cada indivíduo. 
Para tanto, desenvolve-se no helenismo uma filosofia prática (ética) que depende 
essencialmente da filosofia da natureza (física) ou de uma suspensão da própria 
filosofia teorética (pirronismo). 
 
II. Epicuro e o epicurismo 
Epicuro (341 a.C. – 270 a.C.,) nascido em Atenas ou em Samos, teria estudado 
platonismo com Pânfilo. Mas, foi através de um atomista, Nausífanes de Teo, que 
conheceu a doutrina de Demócrito. Foi professor de gramática e filosofia. A partir 
de 306 a.C., adquiriu uma casa em Atenas, onde instaura uma escola que será 
conhecida como o “Jardim de Epicuro”, a morada da serenidade e do prazer. 
Epicuro é descrito por Lucrécio com as seguintes palavras: “Foi um deus, sim, um 
deus, aquele que primeiro descobriu esta maneira de viver que agora se chama 
sabedoria, aquele que por sua arte nos fez escapar de tais tempestades e de tais 
noites, para colocar nossa vida numa morada tão calma e tão luminosa”. 
Epicuro e os epicuristas dividem a filosofia em três partes: 
1. A Lógica: ciência que distingue o verdadeiro do falso 
2. A Física: ciência da realidade natural na qual se insere o homem 
16 
 
3. Ética: ciência prática que busca a felicidade 
Em relação à teoria do conhecimento, Epicuro desenvolve uma forma de empirismo 
que sustenta o conhecimento humano na repetição das experiências, que dão origem 
às antecipações (prolepsis), que fixam a experiência em conceitos. As prolepsis são 
em si mesmas verdadeiras pois apenas registram o que o homem recebeu pelas 
experiências. 
Em física, Epicuro adotou uma postura atomista, mas introduziu o clinamen 
(“desvio”) para explicar o desvio e o choque entre os átomos, ou seja, a presença do 
“arbítrio” e do imponderável no jogo de forças meramente mecânico. Com efeito, há 
um ser, o homem, que pela sua liberdade altera os rumos de sua vida ou, pelo 
menos, altera a sua atitude interior diante dos acontecimentos necessários da vida. A 
doutrina do clinamen explica, assim, como num universo regido pelo fatalismo e 
pelo mecanismo, o homem mantém-se livre e com autonomia de vontade. 
Em relação à ética, Epicuro procurou libertar o homem de tudo o que o impede de 
alcançar a felicidade, a saber: o medo dos deuses e o temor da morte. A existência 
dos deuses não deve perturbar os homens, pois aqueles não se ocupam conosco. 
Somente o sábio cultua desinteressadamente os deuses. Como os deuses 
desconhecem o mundo imperfeito dos homens, o culto interessado de nada nos 
serve. Por seu turno, a morte não deve levar ao temor já que é apenas a dissolução 
do aglomerado de átomos que nos formam. 
O não-temor dos deuses e da morte é prérequesito para a felicidade, mas não é 
suficiente. É necessário ainda que o homem se liberte da ânsia incontrolada por 
prazeres e do pesar pelas dores. O prazer deve consistir na ataraxia (ausência de 
perturbação) e na aponia (ausência de dor). 
III. O ecletismo de Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) 
 
IV. O estoicismo 
 
A escola estóica foi fundada por Zenão de Cício (336-224 a.C.) e continuada por 
Cleanto de Assos (331-232 a.C.) e Crisipo de Solis (280-210 a.C.). 
Em física, os estóicos defendiam que tudo o que é corpóreo possui coesão de 
suas partes graças ao pneuma. Inclusive o universo é concebido como possuindo uma 
alma, que responderia pelo logos do cosmos. A razão universal (logos) penetra todas as 
coisas e a tudo comanda. O incorpóreo é, assim, identificado com o vazio. Governada 
pelo logos a realidade natural guia-se por leis cósmicas que o homem não deve 
desrespeitar. Daí que o homem deve encontrar-se com o seu próprio logos e, por meio 
deste, com o logos universal/cósmico. Esse acordo é o que os estóicos chamam de 
virtude, entendida como o contrário das paixões. 
Em ética, portanto, os estóicos defendem a resignação da alma ante os fatos 
inelutáveis da vida, tão defendida por Lucius Annaeus Seneca, que defendeu a filosofia 
como arte da vida, uma medicina dos males da alma e uma pedagogia para as virtudes 
morais e políticas. Se para os estóicos anteriores, o logos identifica-se com as leis 
cósmicas, em Sêneca ganha caráter de um deus pessoal, sábio, previdente e vigilante. 
Dois outros representantes do estoicismo merecem especial atenção: Epicteto (c. 50-
130) e Marco Aurélio (121-180 d.C.). 
 
17 
 
SELEÇÃO DE TEXTOS 
 
 
Sobre Tales de Mileto 
 
“Entre os que afirmam um único princípio móvel — por Aristóteles chamados 
propriamente de físicos — , uns consideram-no LIMITADO, assim, Tales de Mileto, 
filho de Examias e Hipo — que parece ter sido ateu. Dizem que a água é o princípio. As 
aparências sensíveis os conduziram a esta conclusão; porque aquilo que é quente 
necessita de umidade para viver, e o que é morto seca, e todos os germes são úmidos, e 
todo alimento é cheio de suco; ora, é natural que cada coisa se nutra daquilo de que 
provém; a água é o princípio da natureza úmida, que mantém todas as coisas; e assim 
concluíram que a água é o princípio de tudo e declararam que a terra repousa sobre a 
água.” (SIMPLÍCIO, Física, 23, 21) 
 
“Na sua maior parte, os primeiros filósofos pensaram que os princípios, sob a forma da 
matéria, foram os únicos princípios de todas as coisas: pois a fonte original de todas as 
coisas que existem, aquela a partir do qual uma coisa é primeiro originada e na qual, por 
fim, é destruída, a substância que persiste, mas se modifica nas suas qualidades, essa, 
afirmam eles, é o elemento e o primeiro princípio das coisas que existem, e por essa 
razão consideram que não há geração ou morte absolutas, com base no fato de uma tal 
natureza ser sempre preservada... pois deve haver alguma substância natural, uma ou 
mais do que uma, de que provêm as outras coisas, enquanto ela é preservada. Contudo, 
sobre o número e a forma desta espécie de princípio nem todos estão de acordo; mas 
Tales, o fundador desse tipo de filosofia, diz que é a água (e por consequência declarou 
que a terra está sobre a água), tendo talvez formulado esta suposição por ver que o 
alimento de todas as coisas é úmido e que o próprio calor provém dele e vive graças a 
ele (aquilo de que provém é o princípio de todas as coisas) — formulou a hipótese não 
só a partir disto, como ainda do fato de os germes de todas as coisas terem uma natureza 
úmida, sendo a água o princípio natural das coisas úmidas.” (ARISTÓTELES, 
Metafísica, A 3, 983 b 6) 
 
 
Sobre Anaximandro de Mileto 
 
“...uma outra natureza ápeiron, de que provêm todos os céus e mundos neles contidos. E 
a fonte da geração de todas as coisas que existem é aquela em que se verifica também a 
destruição “segundo a necessidade; pois pagam castigo e retribuição uns aos outros, 
pela sua injustiça, de acordo com o decreto do Tempo”, conforme ele se exprime nestes 
termos bastante poéticos.” (SIMPLÍCIO, Física, 24, 17 ) 
 
Heráclito 
 
“Eles não compreendem como o que está em desacordo consigo mesmo [ à letra: como 
o que estando separado se reúne consigo mesmo ] : há uma conexão de tensões opostas, 
como no caso do arco e da lira.” (Fragmento 51, HIPÓLITO, Ref. , IX, 9, 1) 
“O deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome [todos os contrários, é o 
que isto significa ]; passa por várias mudanças do mesmo modo que o fogo, quando 
misturado com especiarias, é designado segundo o aroma de cada uma delas.” 
(Fragmento 67, HIPÓLITO, Ref. , IX, 10, 8) 
18 
 
“A guerra é a origem de todas as coisas e de todas ela é soberana, e a uns ela apresenta-
os como deuses, a outros, como homens;de uns ela faz escravos, de outros, homens 
livres.” (Fragmento 53, HIPÓLITO, Ref. , IX, 9, 4) 
 
Sobre Pitágoras 
 
“Os assim chamados pitagóricos (...) por primeiro se aplicaram às matemáticas, 
fazendo-as progredir e, nutridos por elas, acreditaram que os princípios delas eram os 
princípios de todos os seres. E dado que nas matemáticas os números são, por sua 
natureza, os primeiros princípios, e dado que justamente nos números, mais do que no 
fogo e na terra e na água, eles achavam que viam muitas semelhanças com as coisas que 
são e que se geram – por exemplo, consideravam que determinada propriedade dos 
números era a justiça, outra a alma e o intelecto, outra ainda o momento e o ponto 
oportuno, e, em poucas palavras, de modo semelhante para todas as outras coisas -; e 
além disso, por verem que as notas e os acordes musicais consistiam em números; e, 
finalmente, porque todas as outras coisas em toda a realidade lhes pareciam feitas à 
imagem dos números porque os números tinham a primazia na totalidade da realidade, 
pensaram que os elementos dos números eram elementos de todas as coisas, e que a 
totalidade do céu era harmonia e número.” (ARISTÓTELES. Metafísica, I, 5). 
 
Parmênides 
 
“Vamos e dir-te-ei - e tu escuta e leva as minhas palavras. Os únicos caminhos da 
investigação em que se pode pensar: um, o caminho que é e não pode não ser, é a via da 
Persuasão, pois acompanha a Verdade; o outro, o que não é e é forçoso que não exista, 
esse, digo-te, é um caminho totalmente impensável. Pois não poderás conhecer o que 
não é (isso é impossível), nem declará-lo, pois a mesma coisa tanto pode ser pensada 
como pode existir. 
O que se pode dizer e pensar é forçoso que seja; pois lhe é possível ser, e não ao que 
nada é; isto te ordeno que medites. Este é o primeiro caminho de investigação do qual te 
afasto e logo daquele também, no qual vagueiam mortais que nada sabem, bicéfalos; 
pois a incapacidade lhes guia no peito a mente errante; eles são levados, surdos e cegos 
a um tempo, totalmente confundidos - multidões sem discernimento, persuadidas de que 
ser e não ser são a mesma coisa, apesar de não o serem, e para quem o caminho de todas 
as coisa é reversível.” (Fragmento 6, SIMPLÍCIO, Física, 117, 4.) 
 
Zenão de Eléia 
 
Os argumentos de Zenão sobre o movimento, que causam tanta perturbação aos que 
tentam resolver os problemas que eles apresentam, são os seguintes[...] O primeiro 
afirma a não existência do movimento com base em que aquilo que está em locomoção 
deve chegar ao meio do caminho antes de chegar à meta.[...] O segundo é o chamado 
(argumento) de Aquiles e reduz-se a isto: que, numa corrida, o corredor mais rápido 
nunca pode alcançar o mais lento, uma vez que o perseguidor deve primeiro atingir o 
ponto de onde partiu o perseguido, pelo que o mais lento deve ter sempre a dianteira.[...] 
O terceiro tem a finalidade de provar que a seta voadora está em repouso, consequência 
que decorre da hipótese de que o tempo é composto de momentos. (Aristóteles, Física) 
 
Demócrito de Abdera 
 
19 
 
Demócrito diz: “e é preciso que o homem aprenda segundo a regra seguinte: ele está 
afastado da realidade.” (Sexto Empírico, Contra os matemáticos) 
Há duas espécies de conhecimento, um genuíno, outro obscuro. Ao conhecimento 
obscuro, pertencem, no seu conjunto, vista, audição, olfato, paladar e tato. O 
conhecimento genuíno, porém, é muito diferente e esta separado desta...Quando o 
obscuro não pode ver com maior minúcia, nem ouvir, nem sentir cheiro e sabor, nem 
perceber pelo tato, mas é preciso procurar mais finamente, então apresenta-se o genuíno 
que possui um orgão de conhecimento mais fino. (Idem) 
Por convenção existe o doce e por convenção o amargo, por convenção o quente, por 
convenção o frio, por convenção a cor; na realidade, porém, átomos e vazio... Em 
realidade não conhecemos nada de preciso, mas em mudança, segundo a disposição do 
corpo e das coisas que nele penetram e chocam, ou lhe oferecem resistência, afluência 
dos átomos. (Ibidem) 
 
Sobre os Sofistas 
 
“Sócrates: (...) Disseste que conhecimento é sensação. 
Teeteto: Sim. 
Sócrates: Talvez tua definição de conhecimento não seja sem valor. É a mesma de 
Protágoras. Com outras palavras, ele dizia a mesma coisa. Afirmava que o homem é a 
medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são, enquanto não 
são. Certamente já leste isto. 
Teeteto: Sim, muitas vezes 
Sócrates: Não disse ele então, de certo modo, que as coisas são para mim conforme me 
parecem, tal como são para ti segundo te parecem? Pois tu és homem e eu também sou 
homem. 
Teeteto: É exatamente o que ele diz”. (PLATÃO. Teeteto, 151-152) 
 
 
Se todas as opiniões e todas as aparências são verdadeiras, segue-se, necessariamente, 
que cada uma é verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Já que ocorrem com freqüência 
opiniões contrárias entre os homens., e acreditamos que quem não pensa como nós se 
engana, por isto, necessariamente, existe e não existe, ao mesmo tempo, a mesma coisa. 
Admitido isto, deve admitir-se também que todas as opiniões são verdadeiras. Assim, 
quem mente e quem diz a verdade afirmam duas coisas contrárias; porém se as coisas 
são como afirma Protágoras, o que quem quer que seja diga que é, será verdade. 
 (ARISTÓTELES, Metafísica, IV, 5, 1009) 
 
 O princípio expresso por Protágoras, que afirmava que o homem é a medida de 
todas as coisas (...) não significa senão que o que parece a cada um é certo. Mas, se isto 
é verdade, segue-se daí que a mesma coisa é e não é, ao mesmo tempo, e que é má e boa 
ao mesmo tempo e, desta forma, reúne em si os opostos, porque é comum que uma 
coisa pareça bela para alguns e feia para outros, e deve valer como medida o que parece 
para cada um. 
 (ARISTÓTELES, Metafísica, XI, 6, 1062). 
 
 
 
Górgias de Leontine pertence ao número dos que negam um critério absoluto, mas não 
por razões idênticas às dos seguidores de Protágoras. Com efeito, em seu livro Do não-
20 
 
ser, ou seja, da natureza estabelece três princípios encadeados entre si: 1. que nada é; 2. 
ainda que existisse, seria inacessível ao homem; 
 3. que, ainda que fosse concebível, seria inexplicável e incomunicável ao próximo. 
(SEXTO EMPÍRICO, Adv. Mathem., VII, 65) 
 
 
Sócrates 
 
“Para testemunhar a minha ciência, se é uma ciência , e qual é ela, trar-vos-ei o deus 
de Delfos1. Conheceste Querofonte, decerto. Era meu amigo de infância e também 
amigo do partido do povo e seu companheiro naquele exílio de que voltou conosco. 
Sabeis o temperamento de Querofonte, quão tenaz nos seus empreendimentos. Ora, 
certa vez, indo a Delfos, arriscou esta consulta ao oráculo — repito, senhores; não vos 
amotineis — ele perguntou se havia alguém mais sábio que eu; respondeu a Pítia2 que 
não havia ninguém mais sábio. Para testemunhar isto, tendes aí o irmão dele, porque ele 
já morreu. 
 Examinai porque vos conto eu esse fato; é para explicar a procedência da 
calúnia. Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o 
deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem 
muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar declarando-me o mais sábio? 
Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei 
nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra o meu gosto, decidi-me por uma 
investigação que passo a expor. 
 Fui ter com um dos que passam por sábios, porquanto, se havia lugar era ali que, 
para rebater o oráculo, mostraria ao deus: “Eis aqui um mais sábio do que eu, quando tu 
disseste que eu o era!” Submeti a exame essa pessoa — é escusado dizer o seu nome; 
era um dos políticos. Eis, atenienses, a impressão que me ficou do exame e da conversa 
que tive com ele: achei que passava por sábio aos olhos de muita gente, inclusive aos 
seus próprios, mas não o era.Meti-me então, a explicar-lhe que supunha ser sábio, mas 
não o era. A conseqüência foi tornar-me odiado dele e de muitos dos circunstantes. 
 Ao retirar-me, ia concluindo de mim para comigo: “Mais sábio do que esse 
homem sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe 
saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, também pouco suponho saber. 
Parece que sou um nadinha mais sábio que ele, exatamente por não supor saber o que 
não sei.” Daí fui ter com outro, um dos que passam por ainda mais sábios,, e tive a 
mesmíssima impressão; também ali me tornei odiado dele e de muitos outros. 
 (...) Eu nunca fui mestre de ninguém, conquanto nunca me opusesse a moço ou 
velho que me quisesse ouvir no desempenho de minha tarefa. Tampouco falo se me 
pagam e se não me pagam não.; estou igualmente a disposição do rico e do pobre, para 
que me interroguem ou, se preferirem ser interrogados, para que ouçam o que digo. Se 
algum deles vira honesto ou não, não é justo que eu responda pelo que jamais prometi 
nem ensinei a ninguém. Quem afirmar que de mim aprendeu ou ouviu em particular 
alguma coisa que não todos os demais, estai certos de que não diz a verdade.” 
 (PLATÃO. Defesa de Sócrates. 21,33) 
 
 
 
1 Em Delfos havia um templo, onde Apolo dava oráculos, predizendo o futuro. A alusão é ao 
exílio sofrido pelos partidários da democracia, no ano 404 a.C., quando se instalou em Atenas a 
tirania dos Trinta. (N.T.) 
2Assim se chamava a sacerdotisa do templo de Delfos, que formulava os oráculos. (N.T.) 
21 
 
Platão 
 
a. A Alegoria da Caverna - República, VII ( 514a - 517d ) 
 
“Sócrates: Agora, imagina a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebe 
ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagina, pois, homens que vivem em 
uma espécie de morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz, 
em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, 
acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem 
voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que 
queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho 
que sobe. Imagina que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao 
tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual 
manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. 
Glauco: Entendo. 
Sócrates: Então, ao longo desse pequeno muro, imagina homens que carregam todo tipo 
de objetos fabricados, ultrapassando a altura do muro, estátuas de homens, figuras de 
animais, de pedra, madeira ou qualquer outro tipo de material. Provavelmente, entre os 
carregadores que desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam. 
Glauco: Estranha descrição e estranhos prisioneiros! 
Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, pensas que, na situação deles, eles 
tenham visto algo mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos, que o fogo 
projeta na parede da caverna à sua frente? 
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar 
com a cabeça imóvel? 
Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam? 
Glauco: É claro. 
Sócrates: Então, se eles pudessem conversar, não achas que, nomeando as sombras que 
vêem, pensariam nomear seres reais? 
Glauco: Evidentemente. 
Sócrates: E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante deles, quando um 
dos que passam ao longo do pequeno muro falasse, não achas que eles tomariam essa 
voz pela da sombra que desfila à sua frente? 
Glauco: Sim, por Zeus. 
Sócrates: Assim sendo, os homens que estão nessas condições não poderiam considerar 
nada como verdadeiro, a não ser as sombras dos objetos fabricados. 
Glauco: Não poderia ser de outra forma. 
Sócrates: Vê agora o que aconteceria se eles fossem libertados de suas correntes e 
curados de sua desrazão. Tudo não aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um 
desses homens fosse solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, 
a olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado 
e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas a sombra, anteriormente. Na 
tua opinião, o que ele poderia responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas 
sem consistência, que agora ele está mais perto da realidade, voltado para objetos mais 
reais, e que ele está vendo melhor? O que ele responderia se lhe designassem cada um 
dos objetos que desfilam, obrigando-o, com perguntas, a dizer o que são? Não pensas 
que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais 
verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? 
Glauco: Certamente, elas lhe pareceriam mais verdadeiras. 
22 
 
Sócrates: E se o forçassem a olhar para a própria luz, não pensas que os olhos lhe 
doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as 
considerava verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram? 
Glauco: Sem dúvida alguma. 
Sócrates: E se o tirassem de lá à força, se o fizessem subir o íngreme caminho 
montanhoso, se não o largassem até arrastá-lo para a luz do Sol, ele não sofreria e se 
irritaria ao ser assim empurrado para fora? E, chegando à luz, com os olhos ofuscados 
pelo seu brilho, não seria capaz de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora 
serem verdadeiros. 
Glauco: Ele não poderá vê-los, pelo menos nos primeiros momentos. 
Sócrates: É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas do alto. Primeiro, ele 
distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros 
objetos refletidas na água, depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a 
noite, ele poderá contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar a olhar para a luz 
dos astros e da Lua, mais facilmente que durante o dia para o Sol e para a luz do Sol. 
Glauco: Sem dúvida. 
Sócrates: Finalmente, ele poderá contemplar o Sol, não o seu reflexo nas águas ou em 
outra superfície lisa, mas o próprio Sol, no lugar do Sol, o Sol tal como ele é. 
Glauco: Certamente. 
Sócrates: Depois disso, ele poderá raciocinar a respeito do Sol, concluir que é ele que 
produz as estações e os anos, que ele governa tudo no mundo visível, e que ele é, de 
algum modo, a causa de tudo que ele e seus companheiros viam na caverna. 
Glauco: É indubitável que ele chegará a essa conclusão. 
Sócrates: Nesse momento, se ele se lembrar da sua primeira morada, da ciência que ali 
se possuía e de seus antigos companheiros, não achas que ele ficaria feliz com a 
mudança e teria pena deles? 
Glauco: Claro que sim. 
Sócrates: Quanto às honras e aos louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, 
quanto às recompensas cedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para 
discernir a passagem das sombras na parede e com uma memória mais fiel para se 
lembrar com exatidão daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem, as que 
vêm juntas, e que, por isso mesmo, era o mais hábil para conjecturar a que viria depois, 
achas que nosso homem teria inveja dele, que as honras e as confianças adquiridas entre 
os companheiros lhe dariam inveja? Ele não pensaria, antes, como o herói de Homero, 
que mais vale “viver como escravo de um lavrador” e suportar qualquer provação do 
que voltar a visão ilusória da caverna e viver como se vive lá? 
Glauco: Concordo contigo. Ele aceitaria qualquer provação para não viver como se vive 
lá. 
Sócrates: Reflete ainda nisto: supõe que esse homem volte à caverna e retome seu 
antigo lar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir 
diretamente do Sol? 
Glauco: Naturalmente. 
Sócrates: E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrasse em 
competição com os prisioneirosque continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda 
está confusa, quando seus olhos não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo 
curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os 
prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que 
não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los 
subir, acreditas que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam? 
Glauco: Sem dúvida alguma, eles o matariam. 
23 
 
Sócrates: E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que 
dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à 
estada na prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do Sol. Quanto à subida e à 
contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar 
inteligível, e não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus 
sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo caso, 
eis o que me aparece, tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível, 
aparece-me a idéia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver 
sem concluir que ela é a causa de tudo que há de reto e belo. No mundo visível, ela gera 
a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível, ela própria é a soberana que dispensa a 
verdade e a inteligência. Acrescento que é preciso vê-la se se quer comportar-se com 
sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública. 
Glauco: Tanto quanto sou capaz de compreender-te, concordo contigo. 
 
b. A Linha Dividida - República, Livro VI, 509-10 
 
Tome, por exemplo, uma linha seccionada em duas partes, que são segmentos iguais; 
seccione de novo cada um dos segmentos, tanto aquele do gênero visível como aquele 
do gênero inteligível. Assim, desde a consideração de uma relação recíproca de 
claridade e obscuridade, obterás, no visível, teu segundo segmento, as cópias. Por 
cópias entendo primeiramente as sombras, e em segundo lugar as imagens refletidas 
sobre a superfície da água ou sobre aquela dos corpos que ao mesmo tempo são 
compactos, lisos e luminosos. (...) Coloque agora sobre a segunda parte deste segmento 
os animais de nossa espécie, e em seu conjunto, tudo aquilo que se procria e que se 
fabrica. (...) Aceitarias falar da divisão do visível em relação à verdade e da não 
verdade? Assim como aquilo que é opinável está para aquilo que é cognoscível, de 
modo igual está a coisa para aquilo que a ela é semelhante. (...) Examine agora de que 
modo também a secção inteligível deverá, por sua vez, ser dividida. Em uma das 
secções do inteligível, a alma, tratando como cópias as coisas que anteriormente eram 
aquelas que se imitam, é obrigada, em sua investigação, a partir de hipóteses, a caminho 
não de um princípio, mas de um acabamento. Mas por outro lado, na outra secção, 
avançando de sua hipótese a um princípio an-hipotético, a alma, mesmo sem recorrer a 
estas coisas que na primeira secção chamavamos cópias, prossegue sua investigação 
com auxílio das naturezas essenciais, tomadas em si mesmas, e se movendo entre elas. 
 
c. Banquete 
 
"São esses então o casos de amor em que talvez, ó Sócrates, também tu pudesses ser 
iniciado, mas, quanto à sua perfeita contemplação, em vista da qual é que esses graus 
existem, quando se procede corretamente, não sei se serias capaz; em todo caso, eu te 
direi, continuou, e nenhum esforço pouparei; tenta então seguir-me se fores capaz: deve 
com efeito, começou ela, o que corretamente se encaminha a esse fim, começar quando 
jovem por dirigir-se aos belos corpos, e em primeiro lugar, se corretamente o dirige seu 
dirigente, deve ele amar um só corpo e então gerar belos discursos; depois deve ele 
compreender que a beleza em qualquer corpo é irmã da que está em qualquer outro, e 
que, se se deve procurar o belo na forma, muita tolice seria não considerar uma só e a 
mesma a beleza em todos os corpos; e depois de entender isso, deve ele fazer-se amante 
de todos os belos corpos e largar esse amor violento de um só, após desprezá-lo e 
considerá-lo mesquinho; depois disso a beleza que está nas almas deve ele considerar 
mais preciosa que a do corpo, de modo que, mesmo se alguém de uma alma gentil tenha 
24 
 
todavia um escasso encanto, contente-se ele, ame e se interesse, e produza e procure 
discursos tais que tornem melhores os jovens; para que então seja obrigado a 
contemplar o belo nos ofícios e nas leis, e a ver assim que todo ele tem um parentesco 
comum, e julgue enfim de pouca monta o belo no corpo; depois dos ofícios é para as 
ciências que é preciso transportá-lo, a fim de que veja também a beleza das ciências, e 
olhando para o belo já muito, sem mais amar como um doméstico a beleza individual de 
um criançola, de um homem ou de um só costume, não seja ele, nessa escravidão, 
miserável e um mesquinho discursador, mas voltado ao vasto oceano do belo e, 
contemplando-o, muitos discursos belos e magníficos ele produza, e reflexões, em 
inesgotável amor à sabedoria, até que aí robustecido e crescido contemple ele uma certa 
ciência, única, tal que o seu objeto é o belo seguinte. Tenta agora, disse-me ela, prestar-
me a máxima atenção possível. Aquele, pois, que até esse ponto tiver sido orientado 
para as coisas do amor, contemplando seguida a corretamente o que é belo, já chegando 
ao ápice dos graus do amor, súbito perceberá algo de maravilhosamente belo em sua 
natureza, aquilo mesmo, ó Sócrates, a que tendiam todas as penas anteriores, 
primeiramente sempre sendo, sem nascer nem perecer, sem crescer nem decrescer, e 
depois, não de um jeito belo e de outro feio, nem ora sim ora não, nem quanto a isso 
belo e quanto aquilo feio, nem aqui belo ali feio, como se a uns fosse belo e a outros 
feio; nem por outro lado aparecer-lhe-á o belo como um rosto ou mãos, nem como nada 
que o corpo tem consigo, nem como algum discurso ou alguma ciência, nem certamente 
como a existir em algo mais, como, por exemplo, em animal da terra ou do céi, ou em 
qualquer outra coisa; ao contrário, aparecer-lhe-á ele mesmo, por si mesmo, consigo 
mesmo, sendo sempre uniforme, enquanto tudo mais que é belo dele participa, de um 
modo tal que, enquanto nasce e perece tudo mais que é belo, em nada ele fica maior ou 
menor, nem nada sofre. Quando então alguém, subindo a partir do que aqui é belo, 
através do correto amor aos jovens, começa a contemplar aquele belo, quase que estaria 
a atingir o ponto final. Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente nos 
caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir: em começar do que aqui é belo e, 
em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para 
dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos 
ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada 
mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo. Nesse ponto da 
vida, meu caro Sócrates, continuou a estrangeira de Mantinéia, se é que em outro mais, 
poderia o homem viver, a contemplar o próprio belo. Se algum dia o vires, não é como 
ouro ou como roupa que ele te parecerá ser, ou como os belos jovens adolescentes, a 
cuja vista ficas agora aturdido e disposto, tu como outros muitos, contanto que vejam 
seus amados e sempre estejam com eles, a nem comer nem beber, se de algum modo 
fosse possível, mas a só contemplar e estar ao seu lado. Que pensamos então que 
aconteceria, disse ela, se a alguém ocorresse contemplar o próprio belo, nítido, puro, 
simples, e não repleto de carnes, humanas, de cores e outras muitas ninharias mortais, 
mas o próprio divino belo pudesse ele em sua forma única contemplar? Porventura 
pensas, disse, que é vida vã a de um homem a olhar naquela direção e aquele objeto, 
com aquilo com que deve, quandoo contempla e com ele convive? Ou não consideras, 
disse ela, que somente então, quando vir o belo com aquilo com que este pode ser visto, 
ocorrer-lhe-á produzir não sombras de virtude, porque não é em sombra que estará 
tocando, mas reais virtudes, porque é no real que estará tocando? 
 Eis o que me dizia Diotima, ó Fedro e demais presentes, e do que estou 
convencido; e porque estou convencido, tento convencer também os outros de que para 
essa aquisição, um colaborador da natureza humana melhor que o Amor não se 
encontraria facilmente. Eis porque eu afirmo que deve todo homem honrar o Amor, e 
25 
 
que eu próprio prezo o que lhe concerne e particularmente o cultivo, e aos outros exorto, 
e agora e sempre elogio o poder e a virilidade do Amor na medida em que sou capaz. 
Este discurso, ó Fedro, se queres, considera-o proferido como um encômio ao Amor; se 
não, o que quer que e como quer que te apraza chamá-lo, assim deves fazê-lo".3 
 
 
Aristóteles 
a. Substância e Ser 
 
O objeto de todas as investigações, tanto agora como outrora, a pergunta que sempre foi 
formulada e que coloca renovadas dificuldades, o que é o ser? vem a ser: o que é a 
substância (ousía)? (...) Daí que, para nós também, a tarefa mais importante, primeira e 
única é investigar o que é o ser neste sentido. (...) O termo substância se usa, se não em 
muitos, ao menos em quatro significados principais, pois tanto "o que é ser isto" (tò tí 
hén eínai), o universal e o gênero parecem ser a substância de cada coisa, sendo o 
sujeito (hypokeímenon) a quarta acepção. Sendo que sujeito é aquilo a respeito do qual 
todo o demais se predica, enquanto que ele mesmo jamais é predicado de outra coisa. 
 (Aristóteles, Metafísica. VII,1028.) 
 
b. As causas 
 
Conhecemos uma coisa quando conhecemos suas causas primeiras. Pois bem, há quatro 
tipos de causas: 1. a ousía (o que é ser isto) [causa formal] ; 2. a matéria [causa 
material]; 3. o princípio do movimento [causa eficiente ou motora] e, por último, 4. o 
fim ou o bem [causa final]. 
 (Aristóteles, Metafísica. III, 983) 
 
 
c. O método da problematização - Metafísica, 995a 23-995b 3. 
 
 Com vistas na ciência que vimos procurando, convém começar por uma 
enumeração dos assuntos que devem ser discutidos em primeiro lugar. Estes incluem 
não apenas as outras opiniões que foram emitidas sobre os primeiros princípios, mas 
também os pontos que porventura tenham passados despercebidos. Para os que desejam 
resolver dificuldades é vantajoso examiná-las ao fundo, pois o livre jogo do pensamento 
depende da prévia solução das dificuldades, e quem não conhece um nó não saberá 
desatá-lo. E a incerteza em que nos encontramos efetivamente está a indicar e existência 
de um nó. O pensamento, quando perplexo, assemelha-se a um homem amarrado, pois 
nem um nem outro pode avançar. Portanto, é preciso examinar de antemão, todas as 
dificuldades, tanto para os fins que apontamos como também porque aqueles que 
iniciam uma investigação sem haver especificado as dificuldades não sabem que 
caminho tomar; acresce que, sem isso, um homem nem sequer sabe se, em dado 
momento, encontrou ou não o que procurava; pois para a meta não é clara, mas sim para 
o que começou por discutir as dificuldades. E finalmente, quem ouviu os argumentos 
contrários, como partes numa ação judicial, está em melhores condições para julgar. 
 
d. Ética a Nicômaco 
 
 
3 PLATÃO. Banquete. São Paulo: Abril Cultural, 1972. 
26 
 
 A justiça política é em parte natural e em parte legal; são naturais as coisas que 
em todos os lugares tem a mesma força e não dependem de as aceitarmos ou não, e é 
legal aquilo que a princípio pode ser determinado indiferentemente de uma maneira ou 
de outra, mas depois de determinado já não é indiferente - por exemplo, que o resgate de 
um prisioneiro será uma mina, ou que deve ser sacrificado um bode e não duas ovelhas -
, além de todos os dispositivos legais promulgados com vistas a casos particulares - por 
exemplo, que devem ser feitos sacrifícios em honra de Brasidas -, e dispositivos legais 
constantes de decretos. Algumas pessoas pensam que toda justiça é deste tipo, porque 
aquilo que existe por natureza é imutável e tem a mesma forma em todos os lugares 
(como o fogo queima aqui e na Pérsia), ao passo que tais pessoas vêem mudanças no 
que é tido como justo. Isto, porém, não é verdadeiro de maneira irrestrita, mas apenas 
em certos sentidos; com os deuses, realmente, isto não é verdadeiro de modo algum, 
enquanto conosco, embora exista algo verdadeiro até por natureza, todos os dispositivos 
legais são mutáveis. Seja como for, existem uma justiça natural e uma justiça que não é 
natural. É possível ver claramente quais as coisas entre as que podem ser de outra 
maneira que são como são por natureza, e quais as que não são naturais, e sim legais e 
convencionais, embora ambas as formas sejam igualmente mutáveis. Em relação a todas 
as outras coisas se pode fazer a mesma distinção; com efeito, a mão direita é mais forte 
por natureza, mas é possível que qualquer pessoa se torne ambidestra. As coisas que são 
justas apenas por convenção e conveniência são como se fossem instrumentos para 
medição; de fato, as medidas para vinho e trigo não são iguais em toda parte, sendo 
maiores nos mercados atacadistas e menores nos varejistas. De maneira idêntica, as 
coisas que são justas não por natureza mas por decisões humanas não são as mesmas em 
todos os lugares, já que as constituições não são também as mesmas, embora haja 
apenas uma que em todos os lugares é melhor por natureza. 
 Cada uma das regras de justiça e das regras legais se relaciona com as ações da 
mesma forma que o universal se relaciona com seus casos particulares, pois as ações 
praticadas são muitas, enquanto cada regra ou lei é uma, já que é universal. 
 Há diferença entre uma ação injusta e o que é injusto, e entre uma ação justa e o 
que é justo. A natureza ou um dispositivo legal estabelece que uma ação é injusta; 
quando esta ação é praticada, há uma conduta injusta; até ser praticada, ela é somente o 
injusto. O mesmo se aplica a conduta justa (embora o termo em geral signifique 
propriamente “ação justa”, e “ato de justiça” se aplique à correção de um ato de 
injustiça). Examinaremos mais adiante as várias regras da justiça e da lei, 
enumeraremos suas várias espécies e as descreveremos, além de tratar das coisas com 
que elas se relacionam. 
 
	Ao comentar o primeiro livro da Metafísica, Tomás de Aquino observa que: “As pessoas são tanto mais sábias quanto mais se aproximam do conhecimento das causas. Assim é que o que tem experiência é mais sábio do que o que tem o sentido sem a experiência...

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