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Guia de Estudos LIBRAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS – UFLA 
CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEAD 
 
 
 
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS 
 
GUIA DE ESTUDOS 
 
 
 
JOSIANE MARQUES DA COSTA 
 
 
 
 
LAVRAS/MG 
2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos 
da Biblioteca da UFLA 
 
 
 
Costa, Josiane Marques. 
 Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS: guia de estudos / 
Josiane Marques Costa. – Lavras: UFLA/CEAD, 2015. 
 61 p. : il. 
 
 Uma publicação do CEAD – Centro de Educação a 
Distância da Universidade Federal de Lavras 
 Bibliografia. 
 
 1. Professores - Formação. 2. Ensino aprendizagem. 3. 
Libras. I. Universidade Federal de Lavras. II. Título. 
 
 CDD – 419 
 
 
Governo Federal 
Presidente da República: Dilma Vana Rousseff 
Ministro da Educação: Aloizio Mercadante 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) 
Universidade Aberta do Brasil (UAB) 
 
Universidade Federal de Lavras 
Reitor: José Roberto Soares Scolforo 
Vice-Reitora: Édila Vilela Resende von Pinho 
 
Pró-Reitora de Graduação: Soraya Alvarenga Botelho 
 
Centro de Educação a Distância 
Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins 
Coordenadora Pedagógico: Warlley Ferreira Sahb 
Coordenador de Projetos: Cleber Carvalho de Castro 
Coordenadora de Apoio Técnico: Fernanda Barbosa Ferrari 
Coordenador de Tecnologia da Informação: André Pimenta Freire 
 
Departamento de Ciências Humanas 
Letras Inglês (modalidade à distância) 
Coordenadora do Curso: Mauricéia Silva de Paula Vieira 
Coordenadora de Tutoria: Marco Antônio Villarta Neder 
Revisor Textual: Sílvia Moriconi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação da Professora Responsável 
 
 
Josiane Costa é licenciada em Letras/Português pela 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 
Especialista em Produção de Material Didático para 
Diversidade pela Universidade Federal de Lavras e, 
Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas 
Estrangeiras pela Universidade Federal de Minas 
Gerais. Sua dissertação trata de questões referentes 
à compreensão e processamento de metáforas por 
surdos bilíngues do par linguístico Libras-Língua Portuguesa. Atuou como 
Professora de Português como Segunda Língua para Surdos no CAS - Centro 
de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com 
Surdez. Professora da disciplina de Noções Básicas de Libras, nos cursos de 
Pedagogia e Educação Física da Universidade Fumec. Atuou também como 
intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Faculdade Claretiano de Belo 
Horizonte e como tutora e professora auxiliar na distância da disciplina de 
Fundamentos de Libras, da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente 
é professora da Universidade Federal de Lavras - UFLA. Suas áreas de 
interesse estão voltadas para o ensino da Libras para ouvintes, ensino de 
português como segunda língua para surdos e produção de material didático 
para surdos. 
 
Lattes [http://lattes.cnpq.br/9871577760708451] 
5 
 
Sumário 
 
 
Apresentação da Professora Responsável .................................................... 4 
Apresentação .................................................................................................... 6 
Unidade I - Aprendendo uma Língua Espaço-Visual .................................... 9 
Unidade II - História da Educação de Surdos .............................................. 25 
Unidade III – Aspectos linguísticos da Libras: parâmetros ........................ 37 
Unidade IV - Educação de surdos ................................................................. 51 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
Apresentação 
 
 
Esse será o nosso Guia de Estudos para a disciplina de Língua Brasileira de 
Sinais – Libras. Ele foi elaborado com o intuito de apresentar noções básicas 
da Libras e da comunidade surda que utiliza essa língua. Desde a aprovação 
da “Lei da Libras” - Lei 10.436 de 24 de abril de 2002 e do Decreto 5626 de 22 
de dezembro de 2005, a Libras começou a ser amplamente difundida e a 
disciplina de Libras passou a ser obrigatória nos cursos de licenciatura. 
 
Talvez você esteja se perguntando: Mas porque estudar Libras? Qual o 
objetivo dessa disciplina? As respostas a esses questionamentos são simples. 
Devido ao movimento de inclusão, muitos alunos surdos passaram a serem 
incluídos nas escolas comuns e, com isso, surgiu a necessidade de formação 
dos docentes que atuam ou atuarão com surdos em suas salas de aula. Assim, 
o principal objetivo da disciplina de Libras, na formação de professores, é 
proporcionar ao futuro docente conhecimentos básicos sobre os conceitos 
linguísticos e gramaticais da Libras, bem como desenvolver habilidades 
comunicativas básicas em Libras e refletir sobre a comunidade surda e a 
educação de surdos. 
 
Com o intuito de atender aos objetivos da disciplina, faremos o seguinte 
percurso: na Unidade I, apresentarei alguns conceitos básicos e mitos sobre os 
surdos e sua língua, bem como a concepção de língua, linguagem e surdez. Já 
na Unidade II, compreenderemos, por meio de um breve histórico sobre a 
educação de surdos, as filosofias educacionais vivenciados pelos surdos em 
seu processo educacional e as visões clínica-terapêutica e sócio-antropológica 
da surdez. Na Unidade III, estudaremos alguns aspectos gramaticais da Libras, 
atentando-nos para os parâmetros e para os conceitos de simultaneidade, 
linearidade e iconicidade nas línguas de sinais. E por fim, na Unidade IV, 
7 
 
refletiremos sobre o ensino de português como segunda língua, bem como o 
cenário atual da educação de surdos. 
Desejo ótimas semanas de interações, discussão e aprendizagem! 
Como sabemos aprender segunda língua exige disciplina, compromisso e 
muita interação. Então, vamos lá! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://www.cchla.ufpb.br/libras/ 
 
Josiane Marques da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Prezado(a) Cursista, 
 
 
 Sejam bem-vindos à disciplina de “Língua Brasileira de Sinais – Libras”. 
Nesta disciplina, daremos os primeiros passos em direção à aprendizagem de 
uma nova língua, a Libras, língua da comunidade surda brasileira. 
 É sabido que aprender uma nova língua exige disciplina, estudo e 
dedicação. No caso da Libras, língua de modalidade espaço-visual, diferente 
das línguas orais com as quais estamos acostumados à lidar no cotidiano, 
precisaremos de bastante dedicação. 
 Como futuros professores da educação básica, certamente 
receberemos alunos surdos em nossas salas de aula e, essa disciplina, é uma 
oportunidade para conhecermos um pouco das especificidades dos alunos 
com os quais iremos atuar. Como docentes precisamos saber qual o nosso 
papel frente à educação de surdos, quais as melhores estratégias a serem 
utilizadas em sala de aula para que o aluno surdo tenha acesso ao ensino 
adequado, como se comportar diante do aluno surdo e várias outras questões 
relacionadas aos surdos, sua língua e seu processo de escolarização. 
 Nesse sentido, nosso objetivo é que você aprenda um pouco sobre a 
língua utilizada pelacomunidade surda, refletindo sobre sua cultura e os 
aspectos peculiares dessa língua. 
 Este guia de estudos será a base para a nossa disciplina. Nele você 
encontrará vários textos, livros e indicações de leitura para aprofundarmos 
nossos estudos sobre as especificidades da Libras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
Unidade I - Aprendendo uma Língua Espaço-
Visual 
 
 
 
 
 
Josiane Marques da Costa 
 
 
 
 
 
Recuso-me a ser considerada excepcional, 
deficiente. Não sou. Sou surda. Para mim, 
a língua de sinais corresponde à minha 
voz, meus olhos são meus ouvidos. 
Sinceramente nada me falta é a sociedade 
que me torna excepcional. 
(Laborrit 1994 apud Gesser 2009, p. 46). 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
1.1 O surdo e a língua de sinais 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.freebiepsd.com 
 
Falar sobre os surdos implica, necessariamente, discorrer sobre sua língua e 
sobre seu passado. É impossível entendermos o que é o ser surdo sem 
voltarmos nosso olhar para sua língua de sinais, assim como para seu histórico 
de lutas e reivindicações por seus direitos, enfim, por seu lugar na sociedade. 
 
Sendo assim, os diferentes estudos sobre essas facetas que compõem o 
sujeito surdo são reunidos sob a alcunha de Estudos Surdos. Skliar (1998) 
define os Estudos Surdos como um programa de pesquisa em educação, em 
que as identidades, as línguas, os projetos educacionais, a história, a arte, as 
comunidades e as culturas surdas são focalizadas e entendidas a partir da 
diferença e do reconhecimento político. Dentre esses estudos destacam-se as 
pesquisas sobre as línguas de sinais (LS) e, no caso dos surdos brasileiros, 
sobre a Libras – Língua de Sinais Brasileira. 
 
É importante explicitar que, por muitos anos, a LS foi considerada um tipo de 
linguagem desprovida de estrutura gramatical. Porém, a pesquisa considerada 
pioneira na área de Linguística das línguas de sinais, do americano Willian 
Stokoe, provou, na década de 1960, que as línguas de sinais eram línguas e 
não simplesmente mímica ou gestos (FERREIRA-BRITO, 1993). 
 
Foi somente em 1957, determinado, sobretudo, pelas ideias de 
Saussure, que Stokoe, professor do GallaudetCollege em 
Washington, levantou como hipótese que as línguas de sinais dos 
surdos poderiam ser consideradas "naturais" e, portanto, 
instrumento linguístico propriamente dito no sentido mais geral 
dado por Saussure (cf.: Behares, 1993; Rée, 1999). Assim, em 
1960, ele concluiu a primeira descrição de uma língua de sinais, 
mais especificamente, da American SignLanguage (ASL). Este 
estudo influenciou sobremaneira a educação dos surdos e tornou-
se a base para que outras pesquisas em distintos países fossem 
11 
 
desenvolvidas, e assim, a descrição linguística das diferentes 
línguas de sinais existentes realizada.” (LODI, 2004, p.2). 
 
 
No Brasil, onde existem duas línguas de sinais: a Libras (utilizada nos grandes 
centros urbanos) e a Urubu Kaapor (utilizada em uma comunidade indígena no 
interior do Maranhão), Quadros (2012) explica que os estudos linguísticos de 
Libras iniciaram-se na década de oitenta com os trabalhos de Lucinda Ferreira-
Brito. Posteriormente, na década de noventa, Felipe (1998), Karnopp (1994; 
1999) e Quadros (1997; 1999) ampliaram os estudos linguísticos da Libras. 
Assim, estudos na área da fonética, fonologia, morfologia, sintaxe e semântica 
desta língua foram fortalecidos. 
 
Mas por que a Libras é considerada uma língua natural? Ao longo deste 
capítulo, abordaremos os conceitos de língua e linguagem, a fim de entender 
porque a Libras é uma língua natural e não apenas uma linguagem. 
Refletiremos também sobre alguns mitos sobre os surdos e sua língua. 
 
 
1.2 Concepções de língua e linguagem 
 
 
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/funcoes-linguagem-1.htm 
 
 
12 
 
Segundo Fernandes (2003), os termos linguagem e língua são utilizados, 
frequentemente, como sinônimos. Em diversos contextos, o termo linguagem é 
utilizado de forma mais abrangente, genérica, abordando não apenas o seu 
próprio significado, mas também o significado de língua. Assim, nota-se uma 
confusão conceitual entre esses dois termos, que embora sejam indissociáveis, 
são diferentes. É de fundamental importância diferenciá-los para que possamos 
empregá-los corretamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A linguagem é um sistema de comunicação que abrange não apenas as 
línguas (português, francês, alemão, etc.), mas também outros sistemas como 
a linguagem musical, a linguagem animal, os sinais de trânsito, a música, entre 
outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Linguagem é um sistema de comunicação natural ou 
artificial, humano ou não (LYONS (1987 apud 
FERNANDES, 2003, p. 16). É a faculdade, a capacidade 
de estabelecer comunicação simbólica. 
 
Língua é um tipo de linguagem. Um sistema de 
abstrato de regras gramaticais, atualizado no discurso 
de falante. (FERNANDES, 2003). 
13 
 
Na literatura, é possível encontrar várias definições para o termo língua. No 
entanto, a maioria corrobora a ideia de que as línguas são naturais, próprias da 
espécie humana, já que estas são regidas por regras gramaticais estruturadas 
cognitivamente pelos falantes. Essas regras gramaticais, contudo, não se 
tratam das gramáticas impressas que estamos acostumados a pesquisar ou 
estudar, mas sim da gramática atualizada no discurso do falante. 
 
A língua parece ter lugar de destaque entre as demais linguagens, uma vez 
que estas são produzidas exclusivamente pelos seres humanos e por possuir 
diferentes níveis de organização: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1- Nível fonológico: refere-se à organização dos sons das palavras ou dos 
parâmetros das línguas de sinais; 
2- Nível morfológico: refere-se à estrutura e à formação das palavras ou sinais de 
uma língua; 
3- Nível semântico: refere-se ao significado das palavras e das sentenças; 
4- Nível sintático: refere-se às relações das palavras ou dos sinais numa 
sentença; 
5- Nível pragmático: refere-se ao uso que se faz da língua num determinado 
contexto. 
 
Fonte: BERNARDINO, E. L, SILVA, G. M., PASSOS, R. Língua e Linguagem. 
Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/63097509/LINGUA-E-LINGUAGEM-
Bernardino-Silva-e-Passos> Data do acesso: 12/02/2012 
14 
 
Fernandes (2003) propõe o seguinte esquema para melhor representar os 
conceitos de língua e linguagem: 
 
(Fonte: Fernandes, 2003, p. 17) 
 
 
 
1.3 Linguagem humana versus linguagem animal 
 
Diferente da linguagem humana, o sistema de comunicação ou linguagem 
estabelecida entre os animais serve apenas para comunicar, enviar uma 
mensagem. Quem nunca ouviu frases como: Meu cachorro é uma gracinha, só 
falta falar ou As formigas têm uma sincronia surpreendente, será que elas 
conversam entre si? Os animais produzem linguagem para se comunicar, no 
entanto, essa linguagem é apenas um tipo de mensagem que não provoca 
resposta, mas uma conduta diante de uma determinada experiência. 
 
Alguns cientistas que investigam a comunicação entre formigas descobriram, 
recentemente, que estas emitem diferentes sons que estão associados às 
mensagens que querem transmitir, como: a formação de filas, a identificação 
de formigas amigas ou inimigas, quando uma formiga obreira deixa rastro no 
caminho para voltar à colônia, dentre outros. Como podemos ver, a formiga 
não constrói uma mensagem a partir de outra, pois o conteúdo damensagem é 
único, tem apenas uma finalidade. 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://diariodebiologia.com/2008/06/por-que-as-formigas-seguem-a-mesma-trilha/ 
 
 
Por outro lado, a linguagem humana é dialógica e caracteriza-se por seu 
conteúdo ser ilimitado. Por meio da linguagem, o ser humano expressa seus 
sentimentos, intenções, comunica-se com os outros e interage com o mundo 
exterior. Dito de outro modo, a linguagem humana é um “sistema de signos 
simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e 
comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência” (BECHARA, 
2004). 
 
 
 
1.4 Libras como língua natural 
 
A Libras, assim como outras LS, é considerada a língua natural da comunidade 
surda brasileira, já que se desenvolveu através do contato surdo-surdo em 
diversos ambientes, principalmente nas escolas e nos espaços da comunidade 
surda (clubes, associações, federações etc.). Mas nem sempre foi assim. 
Devido à confusão conceitual dos termos língua e linguagem, as línguas de 
sinais foram vistas de forma equivocada, já que eram denominadas linguagem 
de sinais, linguagem gestual. 
 
Atualmente, vem crescendo consideravelmente a compreensão sobre a 
importância do desenvolvimento da linguagem para as pessoas surdas, 
16 
 
processo no qual tem papel fundamental as línguas de sinais (LS). Entretanto, 
ainda é possível ver fortes crenças acerca dessas línguas marcadas, por 
exemplo, pela ideia de que elas são destituídas de gramática, já que são 
apenas pantomimas ou mímicas e que as verdadeiras línguas seriam as orais. 
 
Assim, o não reconhecimento do status linguístico das línguas de sinais está 
diretamente ligado à compreensão de que elas são um sistema de códigos, 
que têm forma e significado igual para todos os surdos usuários das mesmas, 
independente do país e da cultura nos quais estejam inseridos. 
 
Na década de 60, a pesquisa do americano William Stokoe, professor no 
Gallaudet College, atual Gallaudet University, em Washington, foi considerada 
pioneira na área de Linguística das línguas de sinais e provou que estas eram 
línguas, e não simplesmente meios comunicativos constituídos por mímicas ou 
gestos (FERREIRA-BRITO, 1993). Impulsionado pelas concepções 
saussurianas, Stokoe levantou a hipótese segundo a qual tais línguas eram 
línguas "naturais". 
 
As línguas de sinais são, portanto, consideradas pela linguística como línguas 
naturais ou como um sistema linguístico legítimo, e não um problema do surdo 
ou uma patologia da linguagem. Stokoe (1960) percebeu e comprovou que as 
línguas de sinais atendiam a todos os critérios linguísticos de uma língua 
genuína (QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 30). 
 
Ao contrário do que muitos acreditam, as LS não são universais, tampouco são 
gestos ou mímicas. É preciso desfazer-se também da ideia de que as línguas 
de sinais se constituem apenas do chamado alfabeto manual. Os sinais das LS 
são equivalentes às palavras das línguas orais e aquelas possuem gramática 
própria e independente assim como estas. A seguir, estudaremos alguns mitos 
acerca dos surdos e da língua de sinais. 
 
 
 
17 
 
1.5 Mitos sobre os surdos e sua língua 
 
De acordo com Rech e Freitas (2006), mito pode ser entendido como uma 
imagem simplificada e ilusória de pessoa ou de acontecimento, elaborada ou 
aceita pelos grupos humanos, representando um significativo papel em 
comportamentos (RECH; FREITAS; 2006 p.62.). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
 
 
O surdo não é mudo, uma vez que se não possui nenhuma lesão ou 
comprometimento físico que o impeça de falar, ele só não fala por não ter 
feedback auditivo. Assim, se o surdo for exposto a um tratamento 
fonoaudiológico desenvolverá a fala. 
 
 
 
 
Fonte: www.libras.com.br 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
A língua de sinais não é universal, pois as línguas refletem a cultura, valores e 
necessidades das comunidades que a utilizam. Cada país tem a sua língua de 
sinais, como por exemplo, Libras – Língua Brasileira de Sinais, a ASL – 
American Sign Language, o Gestuno (Língua de Sinais Internacional), Língua 
de Sinais Urubu Kaapor e tantas outras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
 
Por muitos anos perdurou a ideia de que os surdos não conseguiam se 
comunicar, pois utilizavam mímicas, gestos desprovidos de estruturas 
gramaticais e linguagem. Como vimos anteriormente, Libras é considerada a 
19 
 
língua oficial da comunidade surda brasileira. Nesse sentido, essa língua 
possui estruturas gramaticais como fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e 
pragmática, assim como acontece nas línguas orais. Então, dizer que a forma 
de comunicação dos surdos não é uma linguagem é um mito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
 
Essa concepção, de que o surdo somente aprende por meio de material 
concreto, é falsa. Quando utilizamos a língua de sinais, podemos conversar 
sobre quaisquer assuntos e áreas de conhecimentos, como por exemplo: falar 
sobre política, moda, histórias, piadas, entre outros assuntos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
20 
 
O alfabeto manual não é Libras. Ele é utilizado apenas como um recurso ou 
como representação do sistema alfabético. Esse mito está ligado à crença de 
que as línguas de sinais são limitadas e que partem da representação da 
língua oral. É importante destacar que o alfabeto manual: 
tem uma função de na interação entre os usuários das línguas de 
sinais. Esse recurso é geralmente utilizado para representar: nomes 
próprios, de pessoas ou lugares, siglas e algum vocábulo não 
existente na língua de sinais que ainda não tenha sinais. (GESSER, 
2009, p.29) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
 
Os surdos não captam 100% do que é falado através da leitura labial. Alguns 
surdos que passaram por tratamentos com fonoaudiólogos “surdos oralizados” 
conseguem fazer leitura labial do que está sendo dito. No entanto, não é 
possível captar 100% do que é dito, já que muitas vezes a articulação orofacial 
de quem está falando não é adequada, ou, por exemplo, existem barreiras 
visuais como: um professor que está falando vira para escrever na lousa ou 
uma pessoa que possui bigode, dentre outros. 
 
 
 
21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado por COSTA, J. M 
 
 
O intérprete de Libras é geralmente ouvinte, bilíngue, falante da língua 
portuguesa e da Libras – Língua Brasileira de Sinais. Realiza traduções e 
interpretações Libras – Português – Libras. Comumente, considera-se um 
membro da comunidade surda. É possível, ainda, pessoas surdas serem 
intérpretes da Libras, haja vista que dependendo do nível de proficiência da 
oralização, bem como da língua portuguesa, esse sujeito pode versar textos da 
Libras para o Português e do Português para a Libras. Nesse sentido, para ser 
intérprete de Libras, é necessário ter uma formação específica, técnicas de 
tradução, conhecimento cultural do par linguístico a ser interpretado/traduzido. 
Não basta apenas saber Libras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22Algumas expressões importantes. 
 
• Aprimore seu vocabulário e, sempre que possível, utilize: 
[pessoa com deficiência, pessoa surda, língua de sinais, “os 
surdos”, “a comunidade surda”]. 
 
• Policie a si próprio e evite, sempre, dizer: [portador de 
necessidade especial, portador de deficiência, pessoa deficiente, 
deficiente, mudinho, surdo-mudo, surdinho, linguagem de sinais, 
“eles, os surdos”, “o grupo dos surdos”, “DA”]. 
 
 
 
 
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lendo um pouco mais... 
 
QUADROS, R. M. de & KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos 
lingüísticos. Porto Alegre, Artes Médicas, 2004. 
 
Mitos da língua de sinais na perspectiva de docentes da Universidade de Goiás. 
Disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br/revista/compar3.php 
 
GESSER, A. LIBRAS? Que língua é essa?:crenças e preconceitos em torno da 
línguade sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. 
 
RESENHA: GESSER, A. LIBRAS? Que língua é essa?:crenças e preconceitos em 
torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. 
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/v14n4a18.pdf 
 
24 
 
 
 
Como vimos, o alfabeto manual é um recurso utilizado para soletrar nomes 
próprios, cidades, etc. É importante destacar que cada língua de sinais possui 
o seu próprio alfabeto manual e numerais. Abaixo, temos o alfabeto manual e 
numerais utilizados na Libras: 
 
AFABETO MANUAL E NUMERAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.cbsurdos.org.br 
Praticando... 
25 
 
 
 
Unidade II - História da Educação de Surdos 
 
 
 
Josiane Marques da Costa 
 
 
 
 
A língua de sinais anula a deficiência e permite que os 
surdos constituam, então, uma comunidade linguística 
minoritária diferente e não um desvio da normalidade. 
(SKLIAR, 1998, p. 142). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
2.1 Um breve histórico sobre a surdez e a educação de surdos 
 
Ao falarmos de Estudos Surdos, nada mais coerente do que iniciarmos a 
discussão fazendo uma sucinta explanação da história da educação de surdos 
no mundo e no Brasil. 
 
Historicamente, por muitos anos, os surdos foram tratados como pessoas não 
educáveis e incapazes de se desenvolverem cognitivamente, visto que eles, 
por não adquirirem uma língua oral, não podiam pensar. Acreditava-se que o 
atraso na aquisição da linguagem ocasionava problemas no desenvolvimento 
cognitivo (cf. SACKS, 1998 [1989]; SKLIAR et.al., 1999; GOLDFELD, 2002). 
Devido ao preconceito em relação às línguas de modalidade espaço-visual, a 
Língua de Sinais era considerada um tipo de linguagem artificial, uma vez que 
se acreditava que elas eram mímicas e pantomimas destituídas de aspectos 
gramaticais e estruturais. 
 
Desde a Antiguidade, o infanticídio de crianças que apresentavam algum tipo 
de deficiência ou má-formação era prática comum. Os chineses, por exemplo, 
lançavam-nas ao mar e os Espartanos do alto de rochedos. Vê-se, por 
exemplo, a citação do grego Sêneca (4a.C – 65 d.C.) acerca dessa prática: 
 
Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se 
touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas 
para que as demais não sejam contaminadas; matamos os 
fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem 
defeituosos e monstruosos, afogamo-los; não devido ao 
ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das 
saudáveis (SÊNECA apud SILVA, 1986, p.128-129) 
 
 
Durante a Idade Média, as pessoas com deficiência eram consideradas um 
castigo de Deus a seus pais ou, ainda, eram encarados como bruxos e 
feiticeiros, por isso, eram separadas de suas famílias e viviam marginalizadas. 
 
A história da educação de surdos inicia-se, efetivamente, no século XVI. É 
creditado ao monge Pedro Ponce de León (1520 - 1584) o título de primeiro 
professor de surdos. León ensinava os surdos, filhos de nobres espanhóis, a 
27 
 
falar e a fazer uso da leitura labial. León também lhes ensinava os sinais 
monásticos1. Houve então o cruzamento dos sinais utilizados nos monastérios 
com a sinalização caseira e espontânea desenvolvida naturalmente pelos 
surdos. 
 
O século XVIII foi marcado pelas contribuições do educador alemão Samuel 
Heinicke e do Abade francês Charles-Michel de L'Épée.Heinicke (1727-1790). 
Heinicke tornou-se famoso pelo seu método de ensino que visava ensinar o 
surdo a falar e por criar a primeira instituição para educação de surdos da 
Alemanha em 1778. 
 
Já L’Epée (1712-1789), reconheceu que existia uma comunidade surda em 
Paris que fazia uso de uma língua gestual. Entretanto, para L’Epée tal língua 
era demasiadamente primitiva e, por esse motivo, ele próprio não fazia uso 
dela em suas aulas. Desse modo, ele desenvolveu um método que 
compreendia alguns sinais dessa língua gestual misturados a gestos que 
tinham como objetivo preencher as “lacunas” gramaticais dessa “língua sem 
gramática”. Inicia-se, então, o embate entre duas grandes vertentes da 
educação de surdos: a tentativa de ensinar o surdo a falar e a fazer uso da 
leitura labial (Oralismo) versus a utilização de gestos (sinais) na instrução das 
pessoas surdas. 
 
Em 1880, foi decidido, no Congresso de Milão2, que a educação oralista era 
preferível à utilização de gestos e/ou sinais. Portanto, ficou proibida a utilização 
das línguas de sinais na educação de surdos. 
 
 
 
 
 
1
 Dentre os votos feitos pelos monges das ordens beneditinas, alguns mosteiros adotavam também o voto 
de silêncio, o que fez com que as linguagens sinalizadas fossem incorporadas nas práticas monásticas 
(REILY, 2007). 
2
 O Congresso de Milão foi uma conferência internacional de educadores de surdos que aconteceu na 
cidade de Milão em 1880. É preciso destacar que neste congresso não houve a participação de pessoas 
surdas. 
28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Surdo-mudo 
 
 
A valorização das línguas de sinais só aconteceu efetivamente quase um 
século depois, quando em 1971 foi realizado em Paris o Congresso Mundial de 
Surdos. Nesse congresso, foram analisados os resultados de pesquisas sobre 
o Oralismo e também sobre a Comunicação Total 3 , que mostravam o 
insucesso de tais métodos na educação de surdos. 
 
No Brasil, a história da educação de surdos começa a tomar forma em 1857, 
com a fundação do Instituto dos Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de 
Educação de Surdos (INES). A pedido de D. Pedro II, o professor surdo Eduard 
Huet muda-se para o Brasil e funda o instituto. Inicialmente, era utilizada uma 
combinação de linguagem escrita, fala e sinais. Entretanto, a partir de 1911, o 
instituto passa a adotar puramente o oralismo. 
 
Na década de 70, é difundida a Comunicação Total no Brasil, por meio da 
educadora de surdos Ivete Vasconcelos. Já na década de 80, o bilinguismo 
 
 
3
 A filosofia educacional da Comunicação Total defende o uso de todos os meios que possam 
facilitar a comunicação, desde a fala sinalizada, passando por uma série de sistemas artificiais, 
até o uso da Língua de Sinais. A sua prática, enfim, enfatiza o uso da Língua de Sinais e a 
leitura orofacial. (CICCONE, 1990 apud MIRANDA, 2010) 
29 
 
começa a ser difundido com as pesquisasda linguista Lucinda Ferreira-Brito e 
da educadora Eulália Fernandes. 
 
A educação bilíngue [...] é uma proposta de ensino que 
preconiza o acesso a duas línguas no contexto escolar, 
considerando a língua de sinais como língua natural e 
partindo desse pressuposto para o ensino da língua escrita. 
A proposta bilíngüe busca resgatar o direito da pessoa 
surda de ser ensinada em sua língua, a língua de sinais, 
levando em consideração os aspectos sociais e culturais em 
que está inserida. (SALLES et al, 2002) 
 
 
Em 24 de abril de 2002, por meio da Lei nº 10.436, a Libras – Língua Brasileira 
de Sinais – é reconhecida como língua oficial da comunidade surda brasileira. 
Em 22 de dezembro de 2005, o Decreto nº 5.626 garante ao surdo, dentre 
outras medidas, o uso da Libras como meio de acesso à educação. 
 
 
 
2.2 Filosofias Educacionais 
 
A primeira filosofia educacional vivenciada pelos surdos foi o Oralismo, que foi 
imposto após o Congresso de Milão em 1880, pois acreditava-se que o 
Oralismo seria a melhor forma linguística e metodológica de aprendizagem 
para os surdos. O principal objetivo do Oralismo era a integração do surdo na 
comunidade ouvinte. Nessa filosofia, no processo de amadurecimento da 
linguagem e de ensino-aprendizagem do surdo, defende-se o uso exclusivo da 
linguagem oral para compreensão, expressão e para o desenvolvimento 
linguístico e cognitivo do surdo (LACERDA; MANTELATTO, 2000). 
 
Fundamentados no modelo behaviorista, os oralistas acreditavam que a língua 
é adquirida por meio da imitação de modelos, do contato com os falantes de 
línguas orais e da repetição de exercícios voltados para a aprendizagem dos 
sons e da estrutura dessa língua. 
 
30 
 
Posteriormente, foi adotada na educação de surdos a chamada Comunicação 
Total, que tem como principal objetivo a comunicação entre surdos e surdos, e 
entre surdos e ouvintes (GOLDEFELD, 2002). Essa abordagem educacional 
desenvolveu-se na década de 1970, devido à insatisfação de alguns 
educadores quanto aos resultados do Oralismo. Acreditava-se que a aquisição 
linguística do português seria mais eficaz caso fossem usadas várias formas de 
comunicação com os surdos, inclusive o uso simultâneo da Libras e da LP, o 
que se configurava como uma mescla das duas línguas. Porém, alguns 
problemas foram encontrados com a utilização de tal método, principalmente a 
aprendizagem fragmentada de ambas as línguas (BERNARDINO 2000; 
BOTELHO, 2005). É importante ressaltar que a realidade do fracasso escolar e 
os avanços das pesquisas em educação e linguística foram um dos fatores 
fundamentais para tornar insustentáveis as filosofias Oralista e Comunicação 
Total. 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://euvouaprenderlibras.blogspot.com.br/2012/08/toda-historia-tem-seus-o-que-nao.html 
 
 
A pesquisa pioneira de Stokoe, citada anteriormente, e outras, que se seguiram 
em todo mundo sobre diferentes LS, foram determinantes no desenvolvimento 
de uma nova abordagem na educação de surdos – a educação bilíngue. Soma-
se a isso a insatisfação dos próprios surdos que, na década de 1990, começam 
a se organizar mais efetivamente em movimentos sociais e reivindicar que sua 
língua fosse oficializada. 
 
A Educação Bilíngue, em expansão atualmente na educação de surdos, 
defende que o surdo adquira a Libras como (L1) e o português como L2. 
Goldfeld (2002) afirma que o conceito mais importante que a filosofia bilíngue 
traz é o de que os surdos formam uma comunidade, possuindo cultura e língua 
32 
 
próprias. Com isso, faz-se necessário ressaltar que é rejeitada a hipótese de 
que o surdo deve, obrigatoriamente, aprender a modalidade oral para se 
aproximar da dita “normalidade”. Nesse contexto, considera-se que a Libras é 
instrumento de mediação na relação do surdo com a língua escrita, o que traz 
implicações no processo de aprendizagem da leitura. 
 
 
 
2.3 Visões: clínica-terapêutica e socioantropológica 
 
Ao longo da história da educação de surdos, é possível constatar duas 
diferentes visões ou concepções sobre os surdos e sua língua: a visão clínica-
terapêutica e a visão socioantropológica. 
 
Na concepção clínica-terapêutica, a surdez é concebida como uma 
“deficiência”, ou seja, o surdo é visto com base em sua patologia, que deve ser 
tratada para conviver bem na comunidade de ouvintes. Essa concepção visa o 
tratamento da pessoa surda a partir de sua perda auditiva. Segundo Bernardino 
(2000), os níveis de decibéis podem ser os seguintes: 
 
Deficiência Auditiva Leve: perdas entre 20 e 40 dB (decibéis) 
Deficiência Auditiva Moderada:perdas entre 40 e 60 dB. 
Deficiência Auditiva Servera:perdas entre 60 e 80 dB. 
Deficiência Auditiva Profunda:perdas acima de 80 dB. 
 
33 
 
(BERNARDINO, 2000, p. 25) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A visão socioantropológica concebe o surdo como um sujeito que pode se 
desenvolver cognitivamente e socialmente, utilizando a língua de sinais. Nessa 
visão, o surdo não é visto como “doente”, mas sim como um sujeito, parte de 
uma minoria linguística, que faz uso de uma língua espaço visual. Além disso, 
a visão socioantropológica reconhece o surdo como falante de uma língua, com 
identidade linguística e cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alguns conceitos importantes... 
 
 Deficiente Auditivo: sujeito que se reconhece como uma pessoa que 
possui limitações físicas impostas pela deficiência. Muitas vezes 
denominado DA (deficiente auditivo), não é usuário da Libras – Língua 
Brasileira de Sinais – e, muitas vezes, a rejeita. Vive, prioritariamente, 
entre pessoas ouvintes e utiliza-se da comunicação oral, bem como da 
leitura labial. Ser deficiente Auditivo é viver uma condição na qual há a 
ausência da audição e na qual se busca alternativas médico-clínicas para 
suprir a falta da audição, tais como próteses auditivas, terapias 
fonoterápicas e implante coclear. 
 
 Surdo: sujeito que se reconhece surdo, usuário da Libras – Língua 
Brasileira de Sinais, e que, geralmente, está inserido na comunidade surda 
da cidade onde reside. Possui especificidades linguísticas, culturais e 
identitárias, as quais são oriundas do processo de desenvolvimento e 
aquisição de língua e linguagem pelo qual passou, o qual se sustenta em 
um modo de ver a realidade ancorada, prioritariamente, a partir da 
perspectiva visuo-espacial. Ser surdo, para esse sujeito, não é viver uma 
condição patológica, clínica, mas sim uma condição social, antropológica. 
 
35 
 
 
 
 
 
O sinal-nome é um sinal de identificação pessoal. É uma forma de nomearmos 
pessoas em língua de sinais, já que, como vimos anteriormente, essa língua é 
espaço-visual. Dessa maneira, quando nos referimos a uma pessoa, utilizamos 
o seu sinal de identificação, ao invés de utilizar a datilologia do seu nome. O 
sinal-nome está relacionado às características físicas marcantes de uma 
pessoa, como por exemplo, a forma de dividir o cabelo, a cor dos olhos, uma 
pinta no rosto, os óculos e etc. Somente o surdo pode “batizar” uma pessoa 
que faz parte da comunidade surda com um sinal, ou seja, ouvintes não podem 
designar sinal-nome. O interessante é que todo sinal-nome tem sua história. 
 
 
 
O que é um sinal-nome? 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lendo um pouco mais...GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva 
sociointeracionista. São Paulo: Plexus Editora, 2002. 
 
STROBEL, K. História da Educação de Surdos. Florianópolis, 2009. Disponível em 
http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDaEdu
cacaoDeSurdos/assets/258/TextoBase_HistoriaEducacaoSurdos.pdf 
 
LACERDA, C. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos 
surdos. Cad. CEDES vol.19 n.46 Campinas Sept. 1998. 
37 
 
 
Unidade III – Aspectos linguísticos da Libras: 
parâmetros 
 
 
 
Josiane Marques da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 Anos atrás éramos uma caixa de lápis, não um seres humanos, 
porque os pontos de vista médico e audiológico têm nos 
impedido de ser vistos em um contexto linguístico-cultural, 
rótulos arcaicos têm sido colados a nossa língua e literatura – 
alguns dos quais ainda existem neste dia e era (Ann Silver, 1999 
apud Gesser, 2009, p.55) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
3.1 O status linguístico das línguas de sinais 
 
Apesar de a consciência de que existe uma comunicação gestual utilizada 
pelos sujeitos surdos ter surgido no século XVIII, os primeiros estudos de 
cunho linguístico dessa comunicação tiveram início apenas no século XX. 
 
Antes de tudo, era necessário definir o verdadeiro status linguístico dessa 
comunicação. Seria esta meramente uma linguagem ou ainda uma 
protolinguagem 4 ? Seria esta comunicação dependente das línguas orais 
(Português, Inglês, Francês, etc) ou teriam estas uma gramática própria e 
independente? 
 
Essas perguntas foram inicialmente respondidas pelo linguista norte-americano 
William Stokoe. Ao publicar seu artigo, American Sign Language Structure 
(Estrutura da Língua de Sinais Americana), em 1960, Stokoe provou que a 
Língua de Sinais Americana (ASL) apresentava as mesmas propriedades 
universais das línguas naturais. Além disso, Stokoe (1960) demonstrou que as 
línguas de sinais eram línguas naturais das comunidades surdas, surgidas do 
contato surdo-surdo. 
 
Partindo do pressuposto de que as línguas de sinais compartilham as mesmas 
propriedades das línguas naturais, era preciso estudar então aquelas nos 
mesmos níveis em que estas são estudadas. Nesse sentido, era preciso 
analisar e descrever as línguas de sinais nos cinco níveis línguísticos básicos: 
fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e pragmática. 
 
O próprio Stokoe (1960) iniciou esses estudos ao descrever a fonologia das 
línguas de sinais. Assim como nas línguas orais, a fonologia preocupa-se com 
o fonema – menor unidade sonora e distintiva da língua -, nas línguas de sinais 
a fonologia se preocupa com as unidades mínimas que formam os sinais. 
 
 
4
Linguagem cujo uso é restrito ao âmbito doméstico e geralmente é compreendidaapenas pela família ou 
por pessoas que convivem entre si. Esse tipode comunicação não apresenta os cinco níveis listados acima 
[fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática] e, além disso, não é utilizadapor um povo como 
veículo corrente de comunicação (BERNARDINO et al). 
39 
 
 
Consequentemente, seguiram-se pesquisas as quais analisam os outros níveis 
de estudos: morfologia (ARONOFF et al, 2000; PADDEN, 1988; etc), semântica 
(MEIER, 1988a,1988b; ENGBERG-PEDERSEN, 1993), sintaxe (NEIDLE et al, 
2000; PADDEN, 1988; LIDDEL, 1980), pragmática (JOHNSTON & SCHEMBRI, 
2007). Dentre os pesquisadores brasileiros, destacam-se Quadros (1997, 
2004), Ferreira-Brito (1993, 1995), Fernandes (1989, 2003), Bernardino (2000), 
entre outros. 
 
No nosso Guia de Estudos, abordaremos apenas os aspectos fonológicos da 
Libras, atentando-nos para os parâmetros da Libras. 
 
 
 
3.2 Parâmetros da Libras 
 
A Libras é uma língua de modalidade espaço-visual cujo sistema comunicativo 
baseia-se em um número determinado de elementos os quais se movem num 
espaço delimitado e são regidos por práticas que estabelecem o modo como 
esses elementos serão combinados (QUADROS & KARNOPP, 2004), 
conforme veremos nas características gramaticais descritas abaixo. 
 
A fonologia nas LS tem por objetivo investigar os constituintes fonológicos que 
formam um determinado sinal. Quadros e Karnopp (2004) afirmam que os 
estudos fonológicos das LS têm duas importantes tarefas: a primeira é 
investigar a determinação das unidades mínimas que formam um sinal e a 
segunda é compreender as possíveis combinações entre essas unidades. 
 
Nas LS, assim como nas LO, os sinais também são constituídos e 
decompostos por unidades mínimas (que não carregam significado 
isoladamente), já que os parâmetros que formam um sinal podem alterar o seu 
significado por meio dos pares mínimos. São cinco, os parâmetros da Libras: (i) 
Configuração de Mão; (ii) Ponto de Articulação; (iii) Movimento; (iv) orientação 
da palma das mãos e (v) expressões faciais e corporais, também chamada de 
40 
 
expressões não-manuais. Abaixo, estudaremos os cinco parâmetros da Libras, 
acompanhados de exemplos em Libras. 
 
 
 
 
 
Observe o sinal abaixo: 
 
 
 
 
 
Sinal de FAMÍLIA em Libras. 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 1213 
 
 
Um exemplo do parâmetro CM pode ser demonstrado no sinal FAMÍLIA em 
que o formato da mão, para a construção do sinal, é produzido conforme 
explicitado abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: adaptado de www.cbsurdos.org.br 
1) CONFIGURAÇÃO DE MÃO (CM) é o formato que as 
mãos tomam para produzir um determinado sinal. 
41 
 
 
Segundo Ferreira-Brito (1995), a Libras teria 46 configurações de mãos, mas 
estudos recentes têm mostrado maior número de CM na produção dos sinais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Configuração de mão – FERREIRA-BRITO, 1995, p. 220) 
 
 
 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abaixo apresentaremos quatro sinais com ponto de articulação diferente, 
observe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sinal de DIFÍCIL em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 986 
 
 
 
 
 
 
 
Sinal de AMOR em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 352 
 
PONTO DE ARTICULAÇÃO (PA) é a parte do corpo onde 
será produzido o sinal. 
 
43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sinal de AMOR em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 1778 
 
 
 
 
Sinal de AMOR em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 462 
 
 
 
44 
 
Como vimos acima a respeito dos pontos de articulação dos sinais: DIFÍCIL, 
localiza-se na cabeça ou parte superior; AMOR, localiza-se na região do tórax 
ou parte média; NASCER, localiza-se na região da cintura ou parte inferior e 
AVIÃO, localiza-se no espaço neutro. De acordo Quadros e Karnopp (2004, p. 
57), o ponto de articulação é divido nas seguintes partes: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 57) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MOVIMENTO é aquele construído por um enunciador no 
espaço de produção do sinal e pode ser caracterizado 
“por envolver uma vasta rede de formas e direções, desde 
os movimentos internos das mãos, os movimentos do 
pulso e os movimentos direcionais do espaço”. 
(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 54). 
 
45 
 
Alguns sinais também possuem movimentos, conforme podemos ver nos 
exemplos abaixo: 
 
Sinal de BANDEIRAem Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 465 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sinal de TRABALHAR em Libras. 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 2392 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sinal de AMOR em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 1496 
46 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quadros e Karnopp (2004) afirmam que na Libras é possível identificar seis 
tipos de orientações, conforme explicitados abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 59) 
 
 
 
 
 
 
 
ORIENTAÇÃO da palma da mão é caracterizada pela 
direção que a palma da mão aponta ao produzir um 
determinado sinal. 
 
47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 60) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 60) 
 
 
48 
 
 
 
 
 
 
 
Segundo Quadros e Karnopp (2004), a expressão facial é um parâmetro que 
pode tanto diferenciar itens lexicais, quanto marcar construções sintáticas nas 
LS. Triste, feliz, raiva, dentre outros. Veja o exemplo abaixo. 
 
 
 
 
 
Sinal de TRISTE em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 2392 
 
 
É impossível produzir um sinal com apenas um dos parâmetros, já que este é 
formado simultaneamente, ou seja, mais de um parâmetro fará parte da 
formação de um sinal. Por exemplo, no sinal de triste, temos uma configuração 
de mão em Y, o ponto de articulação é no queixo e a expressão facial é de 
tristeza. O sinal TRISTE é formado por três parâmetros que ocorrem 
simultaneamente. 
 
 
 
EXPRESSÃO FACIAL OU NÃO MANUAIS são as marcas 
faciais ou corporais que podem diferenciar itens lexicais 
nas Línguas de Sinais. 
 
49 
 
3.3 Simultaneidade nas línguas de sinais 
 
Como vimos nos exemplos explicitados acima, os sinais são estruturados 
simultaneamente, ou seja, os parâmetros ocorrem ao mesmo tempo na 
construção de um sinal. Assim, enquanto nas línguas orais as estruturas são 
baseadas na linearidade, ou seja, as palavras são construídas 
sequencialmente, sílaba por sílaba, as LS são simultâneas. 
 
Em línguas de sinais, são utilizadas marcas não-manuais, como 
expressões fisionômicas e movimentos do pescoço, em sincronia com o 
movimento manual, enquanto em línguas orais, é utilizada a modulação 
do contorno melódico (entoação e intensidade) da cadeia linguística, em 
sincronia com os segmentos fônicos. (SALLES et al., 2003, p. 84) 
 
 
Ferreira-Brito (1993) aponta que a simultaneidade está diretamente ligada aos 
níveis fonológicos e morfológicos da Libras, consoante podemos ver no sinal 
de TRISTE, formado simultaneamente pela configuração de mão, ou a forma 
da mão é em ‘Y’ , pelo ponto de articulação, local onde o sinal está sendo 
produzido (no queixo) e a expressão facial que representa o sentimento de 
tristeza. 
 
 
 
 
 
Sinal de TRISTE em Libras 
Fonte: Capovilla, Raphael e Maurício, 2012, p. 2392 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Configuração de Mão em ‘Y’ 
Adaptado do Alfabeto Manual e os Numerais 
 
Esses são os cinco parâmetros da Libras. A seguir, apresentarei algumas 
referências para leitura e vídeos a serem assistidos, a fim de esclarecer ainda 
mais essa parte dos nossos estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Estudando um pouco mais... 
 
QUADROS, R. M.; KARNOPP. Língua de Sinais Brasileira: Estudos linguísticos. Porto 
Alegre: Artmed, 2004. 
FERREIRA BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo 
Brasileiro, 1993. 
 
Vídeo INES - Gramática da Libras - https://www.youtube.com/watch?v=kEp6fU4zVFI 
 
 
 
51 
 
 
 
 
Unidade IV - Educação de surdos 
 
 
 
 
Josiane Marques da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
Alunos que aprendem os conceitos 
acadêmicos e as habilidades de letramento 
em sua língua nativa podem mais pronta e 
rapidamente transferir aquelas habilidades 
para uma segunda língua, porque o 
conhecimento está embasado na língua e 
esquema que eles compreendem 
(CUMMINGS, 1979, 1981 apud LA BUE 
1995, p.207) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 
 
4.1 O ensino de português como segunda língua para surdos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.ifnmg.edu.br 
 
 
É sabido que o domínio de uma língua está intimamente relacionado com a 
possibilidade de participação social plena, uma vez que é por meio dela que 
nos comunicamos, temos acesso às informações, partilhamos visões de mundo 
e produzimos conhecimento. O bilinguismo traz grandes desafios para a 
contemporaneidade educacional dos surdos e um deles é o ensino de PL2 para 
surdos. Isso porque, embora os surdos tenham a Libras como primeira língua 
(L1) e como meio de comunicação e de interação, estes são sempre expostos 
à LP como instrumento de acesso à leitura e à escrita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porque a língua portuguesa é considerada a segunda língua dos surdos 
brasileiros? 
 
Leia: Ensino de Língua Portuguesa para surdos: caminhos para prática 
pedagógica. Pág. 54-63. 
(Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lpvol1.pdf) 
53 
 
 
 
 
 
 
 
 
A aprendizagem de uma língua é marcada não apenas por processos inerentes 
à estrutura linguística, mas também pela utilização da língua em diversos 
contextos de uso. Salles et. al (2003) explica que a aprendizagem da LP é de 
fundamental importância para os surdos, uma vez que lhes possibilitará o 
acesso à sociedade letrada e os levará ao conhecimento linguístico e social da 
LP por intermédio dos gêneros textuais que circulam socialmente. Nesse 
contexto, a falta de conhecimento em LP como instrumento de acesso ao 
mundo letrado limitará o conhecimento da leitura desse público, dificultando, 
assim, a compreensão de textos escritos convencionalmente nessa língua. 
 
 
No que diz respeito ao aprendiz-surdo, a situação em que se 
encontra possui características especiais: o português é para eles 
uma segunda língua, pois a língua de sinais é a sua primeira 
língua, só que o processo não é o de aquisição natural por meio 
de diálogos espontâneos, mas o de aprendizagem formal na 
escola. O modo de ensino/aprendizagem da língua portuguesa 
será, então, o português por escrito, ou seja, a compreensão e a 
produção escritas, considerando-se os efeitos da modalidade e o 
acesso a elas pelo surdo. (SALLES et al., 2003, p. 115). 
 
 
Dessa forma, o processo de aprendizagem da escrita e da leitura em PL2 por 
surdos dependerá, na maioria das vezes, do desenvolvimento da competência 
comunicativa em duas línguas de modalidades completamente diferentes: a 
Libras (língua espaço-visual) e a LP (língua oral-auditiva). 
 
Ao iniciar o processo de aprendizagem da leitura e escrita em L2, espera-se 
que o surdo tenha adquirido conhecimentos linguísticos, contextuais, 
estruturais e culturais de sua L1, já esses conhecimentos os auxiliarão no 
desenvolvimento de estratégias cognitivas que lhes possibilitem a transferência 
Quais os desafios do ensino de português como segunda língua para 
surdos? 
 
54 
 
de elementos de sua língua materna para compreender textos em L2 (cf. 
QUADROS, 1997; SALLES et al., 2003). 
 
Segundo Fernandes (1999), as dificuldades enfrentadas pelos surdos na 
aprendizagemda escrita e da leitura em LP estão relacionadas a vários fatores, 
tais como a própria modalidade entre as línguas e outras peculiaridades que 
envolvem características específicas da Libras/LP, por exemplo, a construção 
sintática, gramatical, prosódica e semântica. Além disso, questões como a 
metodologia aplicada ao ensino de PL2, a qualidade dos textos apresentados 
aos alunos surdos, a utilização da Libras nas aulas de leitura de textos e a 
reflexão dos diferentes aspectos entre a L1 e a L2 (cf. Silva, 2010) também 
podem dificultar a compreensão e aprendizagem da leitura por surdos. 
 
A leitura, tanto para falantes nativos quanto para aprendizes de L2, envolve 
diversos fatores que vão desde a interação do leitor com o texto ao 
processamento cognitivo que os leitores utilizam quando estão lendo. De 
acordo com Koda (1994), além do conhecimento enciclopédico, o leitor também 
processa informações linguísticas que perpassam pelos níveis ortográfico, 
sintático e semântico. Siqueira e Zimmer (2006) afirmam que o nível semântico 
 
 
está relacionado às propriedades do significado nas línguas. 
Sinonímia, antonímia, hiponímia, polissemia e homonímia são 
exemplos de relações de sentido contempladas nesse nível. 
(SIQUEIRA & ZIMMER, 2006, p. 34). 
 
No caso de sujeitos surdos, o processamento da leitura vai se diferenciar do de 
outros falantes de L2 devido às particularidades vivenciadas por aqueles, como 
a modalidade linguística, cultura e sua relação com aspectos visuais para 
construção do conhecimento. Chaves (2002), ao analisar os processos 
cognitivos que atuam na construção de inferências na leitura de textos em LP 
por surdos, à luz da Teoria da Relevância (SPERBER & WILSON, 1986), 
afirma que os surdos trabalham com a informação visual construída a partir da 
leitura do texto escrito na construção de inferências. 
 
55 
 
Segundo Botelho (2002, p. 62), muitos problemas enfrentados pelos surdos, ao 
ler textos em LP, estão associados à “pobreza de vocabulário”, pois, muitas 
vezes, eles “desconhecem palavras e expressões básicas e cotidianas da 
língua escrita”. Além disso, ao construir sentido, os surdos costumam parar nas 
palavras desconhecidas e apenas a leitura e compreensão dos demais itens 
lexicais “não resolve os problemas da interpretação e produção textual, pois 
mesmo quando conhecem as palavras [os surdos] não sabem considerar o 
contexto”. 
 
 
 
4.2 Inclusão Escolar ou Educação Bilíngue para os surdos? 
 
A educação bilíngue, em expansão atualmente na educação de surdos, 
defende que estes adquiram a Libras como primeira língua e o português como 
segunda língua e que o ensino de português como segunda língua seja 
adequado à sua especificidade linguística. Nesse sentido, a proposta bilíngue 
na educação de surdos rejeita a hipótese de que o surdo deve, 
obrigatoriamente, aprender a modalidade oral para se aproximar da dita 
‘normalidade’, bem como reafirma que os surdos formam uma comunidade, 
possuindo cultura e língua próprias. (cf. GOLDFELD, 2002; QUADROS, 1997). 
Além disso, na proposta do bilinguismo, a Libras é considerada o instrumento 
de mediação na relação do surdo com a língua escrita, o que traz implicações 
no processo de aprendizagem da leitura e da escrita em língua portuguesa. 
 
Entretanto, embora a LP sirva como instrumento para escrita e leitura dos 
surdos, pesquisas têm revelado que, com a inclusão de surdos no ensino 
regular (cf. FERNANDES, 1999; LACERDA, 2006; SILVA, 2008; LODI, 2013), 
as metodologias de ensino de PL2 têm sido as mesmas utilizadas no ensino de 
LP como língua materna para ouvintes e, com isso, os surdos têm apresentado 
rendimento na LP inferior aos alunos ouvintes. Então, se por um lado a 
inclusão dos surdos possibilitou a igualdade e o respeito à diferença, por outro, 
trouxe dificuldades para a elaboração de metodologias aplicadas ao ensino 
satisfatório de PL2 para surdos, na sala de aula inclusiva. 
56 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.3 O papel do intérprete educacional 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.surdosol.com.br 
 
 
 
 
Leia: 
 
Educação bilíngue para surdos e inclusão segundo a Política Nacional de 
Educação Especial e o Decreto nº 5.626/05 
 
Disponível em (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
97022013000100004) 
 
57 
 
 
 
 
 
 
 
O intérprete é aquele que, geralmente, é ouvinte, bilíngue, falante da língua 
portuguesa e da Libras – Língua Brasileira de Sinais. Realiza traduções e 
interpretações Libras – Português – Libras. Comumente, considera-se um 
membro da comunidade surda. É possível, ainda, pessoas surdas serem 
intérpretes da Libras, haja vista que dependendo do nível de proficiência da 
oralização, bem como da língua portuguesa, esse sujeito poder versar textos 
da Libras para o Português e do Português para a Libras. 
 
Para compreendermos o papel do intérprete de Libras, faremos a seguinte 
leitura: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quem é o tradutor e intérprete de língua de sinais? 
 
 
O tradutor e tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua 
Portuguesa (pág. 27-30). 
Disponível em (http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf) 
 
LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, 
professores e intérpretes sobre esta experiência. Cadernos CEDES, v.26, n. 
69, p. 163-184, maio/ago.2006. 
(Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v26n69/a04v2669) 
 
58 
 
 
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sociointeracionista. São Paulo: Plexus Editora, 2002. 
 
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Brasília, Brasília, 2001. 
 
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Alegre: Artmed, 1997. 
 
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Paulo: Ed. Plexus, 2000. 
 
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dezembro de 2000, DF, 2000. Distrito Federal, Brasília, 22 dez. 2005. 
 
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