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1ª Edição |Maio| 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Roger Valentim Abdala Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Coordenação Geral Nelson Boni Professor Responsável Roger Valentim Abdala Coordenadora Peda- gógica de Curso- EAD Roseli Leal Coordenação de Projetos Leandro Lousada Revisão Ortográfica Vanessa Almeida Projeto Gráfico, Dia- gramação e Capa Ana Flávia Marcheti 1º Edição: Maio de 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 A135e Abdala, Roger Valentim.. Ergonomia. / Roger Valentim Abdala – São Paulo : Know How, 2013. 00p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 1. Ergonomia. 2. Ergonomia física. 3. Ergonomia cognitiva. 4. Ergonomia organizacional. I. Título. CDD – 620.82 Unidade 3 Ergonomia cognitiva 3.1 Sensação e percepção 3.2 Memória 3.3 Tomada de decisão 3.4 Modelos cognitivos 3.5 Carga Mental 3.6 Erro humano Gabarito Referências .5 .39 .43 SUMÁRIO Unidade 3 3. ERGONOMIA COGNITIVA A ergonomia cognitiva contempla os processos mentais dos trabalhadores em situação de trabalho. Os itens mais importantes neste tipo de ergono- mia são: a percepção, a memória, o raciocínio e as respostas motoras, a relação das interações entre pessoas e outros componentes de um sistema, etc. Os temas centrais são a carga mental de trabalho, a tomada de decisão, a interação homem-máquina, a confiabilidade e o estresse (IEA, 2000). A Ergonomia Cognitiva é uma especialidade da Ergonomia - ciência do trabalho que estuda as repercussões da organização e dos processos de tra- balho (ambientes, artefatos, métodos) sobre o con- forto, segurança, saúde e na eficácia do trabalho. É uma disciplina científica que tem por obje- tivo descrever e explicar os aspectos cognitivos da relação entre a ação humana e os elementos físicos e materiais do ambiente, mediados pelo uso de artefa- tos (CRUZ, 2006). Para iniciar nosso estudo sobre a ergonomia cognitiva vamos definir o termo cognição. Segundo Cruz (2001), cognição é um termo psicológico que designa o processo de conhecer a realidade, ou mais especificamente, a capacidade humana para adqui- rir, manter e utilizar informações, conhecimentos ou aprendizagens. É a partir dos processos cognitivos que o ser humano adquire e produz conhecimentos. Os processos cognitivos básicos são: • Ater-se a estímulos ambientais • Perceber propriedades ou características desses es- tímulos e as relações entre eles • Tomar decisões com base em conhecimentos e ra- ciocínios derivados dessas percepções • Executar ações coordenadas de ativação, manuten- ção e controle de comportamentos (regulações) Para tais usam-se a memória, a atenção e cons- ciência, o reconhecimento de padrões, a resolução de problemas e a tomada de decisões. O trabalhador, portanto captam as informações através dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, ol- fato, cinestesia e propriocepção) e tentam interpretar e organizar estas informações para então tomar suas decisões. E o que é a percepção? Percepção é um conjunto de processos pelos quais recebemos, reco- nhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais (ABRAHÃO et al 2009). 3.1 Sensação e percepção Segundo Iida (2005), sensação é o processo bio- lógico de captação de energia ambiental e a percepção é o resultado do processamento do estímulo senso- rial, dando-lhe um significado, ou seja, os estímulos recebidos são organizados e integrados para que seja significativo para o indivíduo. A memória faz parte deste processo de significância das sensações. Ainda segundo o autor a sensação é um fenô- meno biológico, ao passo que a percepção envolve um processamento, ou seja, para que ocorra necessi- ta que o indivíduo compare a informação com outra previamente armazenada na memória, ou seja, de- pende de suas experiências e de fatores individuais, como por exemplo, a personalidade, o nível de aten- ção e as expectativas (IIDA, 2005). A percepção pode ser alterada pelo nosso co- nhecimento, por nossa motivação, pelo estado emo- cional e por outras condições fisiológicas. Estes es- tados influenciam a sensibilidade dos objetos como também as propriedades percebidas neles. Os estágios da percepção são a pré-atenção e a atenção. Na pré-atenção há a percepção de “algo” diferente no ambiente e são identificadas caracterís- ticas globais do objeto. Já na atenção há a focalização dos sentidos em aspectos interessantes do objeto ou estímulo e o reconhecimento das informações. “ Saiba mais Sensação X Percepção Letras impressas em um papel são convertidas em sensações pelas células fotossensíveis dos olhos. Es- ses estímulos são conduzidos pelo nervo óptico até o lobo occipital do cérebro. Neste local são decodi- ficados através da atuação da memória. A percepção das letras está ligada à identificação de suas formas e o seu reconhecimento, em comparação com um padrão armazenado na memória. Uma pessoa analfabeta não possui esta memória e, por isso, não consegue fazer esta decodificação, ou seja, não consegue transformar alguns traços do papel em significados. Outro exemplo ocorre com usuários de computadores que não reconhecem os ícones presentes em interfaces de programas, desta forma, em alguns casos, estes usuários não conse- guem decifrar o significado desses ícones e, então, há um bloqueio da percepção. (Texto extraído de “Ergonomia – Projeto e Produção” de au- toria de Itiro Iida, 2ª. Edição p. 259). . A manutenção da atenção é modulada pelos se- guintes fatores: • Fator fisiológico - depende das condições neuroló- gicas e da situação física de trabalho; • Fator motivacional - depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse; • Concentração - depende do grau de solicitação e de atuação do estímulo. Para o estudo da percepção, memória e tomada de decisões a ergonomia faz uso dos conhecimentos das ciências cognitivas. A diferença está nas especifici- dades da ergonomia, que faz o uso destas disciplinas com o foco do indivíduo no ambiente de trabalho. As ciências cognitivas distinguem cinco gran- des áreas, as quais são: a psicologia cognitiva, a inte- ligência artificial, a linguística cognitiva, as neuroci- ências e a filosofia da mente (LEPLAT & MONT- MOLLIN, in FALZON, 2007). Na Figura 20 podemos identificar que os estí- mulos provenientes do meio ambiente apresentam uma série de características que são captadas pelos nossos sentidos, neste caso a visão. Tais informações captadas pela visão são transformadas em estímulos eletroquímicos, transmitidos dos olhos para as regi- ões de processamento do cérebro e interpretadas, organizadas, armazenadas e evocadas. Neste proces- so são utilizados a memória, a categorização, aten- ção, resolução de problemas e processos decisórios, que servem de base para a ação do indivíduo. Fica, portanto, claro que a rosa da figura é apenas uma rosa após a informação sensorial é traduzida pelo sistema nervoso central, mas especificadamente no córtex cerebral. Podemos resumir os assuntos abordados neste subitem da seguinte maneira: a sensação é um fe- nômeno essencialmente biológico enquanto que a percepção envolve processamento, reconhecimento de uma informação, comparação (memória). Vimos que a percepção também depende de experiências anteriores do indivíduo, bem como de fatores indivi- duais, tais como: a personalidade, o nível de atençãoe as expectativas do indivíduo. Desta maneira, as atividades cognitivas são constituídas por conceitos ou símbolos. É sobre esses símbolos que reagimos ao meio ambiente ou agimos sobre ele, modificando-o e nos modificando nesse processo. 3.2 Memória Como a memória humana é parte importante para que estímulos sensoriais se transformem em per- cepções, ou seja, que tenham significância ao indiví- duo, o estudo da memória é importante para estudio- sos em ergonomia. Além disso, veremos que a memó- ria serve também de base para a tomada de decisões. “ Saiba mais Diferenças entre MCD e MLD A MCD relaciona-se mais com os aspectos formais do que aqueles conceituais da informação. Ela tende a confundir palavras que têm sons semelhantes en- tre si (ex.: tom, bom, som, são), mas não as palavras diferentes que têm significados semelhantes (ex.: ne- gro, preto, escuro). Na MLD o inverso acontece, ou seja, se relaciona mais com os aspectos semânticos ou conceituais, podendo se confundir informações de conceitos parecidos (ex.: diagrama / gráfico). Por exemplo, pode-se confundir Pedro com João, porque são irmãos ou porque ambos têm a mesma profissão (Texto extraído de Ergonomia Projeto e Produção – Itiro Iida, 2005, p. 261). A memória é um conceito que expressa uma condição de reflexo ou “estocagem” das represen- tações e dos conhecimentos. Através da memória é possível utilizar as capacidades mnésicas como uma competência cognitiva essencial à organização e fun- cionamento do pensamento e da linguagem. Dentre os processos cognitivos, a memória é o processo pelo qual as experiências levam à alteração do comportamento. Através da memória é possível que o indivíduo tenha capacidade de reter, recuperar, armazenar e evocar informações disponíveis, gerar novas ideias e, finalmente, a memória ajuda na toma- da de decisões. No processo de memorização, as informações ambientais são captadas, interpretadas, filtradas e ar- mazenadas em 03 níveis de processamento: 1. Registro sensorial - sensação/percepção; 2. A memória de curta duração (MCD) 3. A memória de longa duração (MLD) • A Memória de Curta Duração (MCD), também cha- mada de memória de trabalho, designa o conjunto dos processos que permitem conservar uma informação durante o tempo necessário para a execução de uma ação. Por exemplo, é utilizada quando alguém dita o número de um telefone: este número é retido na memória, podendo ser transcrito no papel e, se esse processo demorar mais de 30 segundos, não seremos mais capazes de lembrá-lo (IIDA, 2005). A MCD ou de trabalho tem capacidade de esto- cagem limitada. O número de unidades retidas, assim como o seu tempo de conservação, depende, por um lado, da significação das unidades a memorizar e, por outro lado, de uma atividade de auto-repetição que permite conservar as informações. É uma memória específica à realização de uma tarefa particular, ela tem uma duração de vida transitória ligada à duração desta tarefa. A Memória de Longa Duração (MLD) designa o conjunto dos processos que permitem conservar o conjunto de acontecimentos e conhecimentos que uma pessoa acumulou ao longo da sua vida. A MLD tem caráter associativo, ou seja, as novas informa- ções são melhor fixadas quando se conectam com a rede neural já existente no cérebro (IIDA, 2005). A Tabela 1 ilustra as diferenças entre a Memó- ria de Curta Duração (MCD) e a Memória de Longa Duração (MLD): Há ainda autores que classificam em 05 ti- pos as memórias: • Memória declarativa; • Memória imediata; • Memória de curta duração; • Memória de longa duração; • Memória de procedimento. Memória declarativa refere-se à retenção de ex- periências sobre fatos e eventos do passado. Ela tem a capacidade de verbalizar um fato. Memória imediata é a memória que dura de frações a poucos segundos, como por exemplo, ca- pacidade de repetir imediatamente um número de telefone que é dito, estes fatos são, após um tempo, completamente esquecidos. Memória de curto prazo tem duração de algu- mas horas e existe a formação de traços de memória, por exemplo, a capacidade de lembrar-se do que se vestiu no dia anterior, ou com quem se encontrou. Memória de longa duração é a memória com duração de meses a anos, como por exemplo, a capa- cidade de aprendizado de uma nova língua. Memória de procedimento é revelada quando a experiência facilita o desempenho numa tarefa que não requer evocação consciente ou intencional daquela ex- periência, ou seja, é a capacidade de reter e processar informações que não podem ser verbalizadas, como tocar um instrumento ou andar de bicicleta. 3.3 Tomada de decisão Segundo Iida (2005) a decisão é a escolha de uma entre diversas alternativas, cursos de ação ou opções possíveis. A tomada de decisões é uma das atividades cognitivas mais comuns no ser humano. De maneira resumida pode-se dizer que a tomada de decisões consiste na seleção entre escolhas e oportu- nidades possíveis. É uma abordagem sistemática de um conjun- to de processos mentais usados para determinar com firmeza o melhor curso de ação em resposta a um dado conjunto de circunstâncias. O processo de tomada de decisões faz uso tanto da memória de curta duração quanto da memória de longa duração. A principal causa da dificuldade de tomar decisões complexas está na capacidade limitada da memória de curta duração, desta maneira, algumas opções podem ser esquecidas ou omitidas. Esta limitação é responsável por grande parte dos acidentes ocorri- dos por falha humana. Aspectos cognitivos (pensa- mentos) e afetivos (sentimentos) estão relacionados à tomada de decisão no contexto da ocorrência de acidentes de trabalho. É comum que trabalhadores tenham que ser obrigados a tomar decisões sem conhecer todas as alternativas possíveis, ou seja, erros e acidentes po- dem acabar ocorrendo como resultado de uma de- cisão tomada de forma incorreta, ou quando opta por uma alternativa na qual o resultado não será o esperado pelo indivíduo (Iida, 2005). Há vários fatores que influenciam a tomada de decisões. As perguntas à seguir servem para que ponderemos sobre alguns deles: • ...há intervenção de fatores externos? • ...há pressões no trabalho? • ...há restrições tecnológicas? • ...há restrições de tempo? • ...a comunicação é insuficiente? • ... há motivação no trabalho? As classes de tomada de decisões são: • Rotina; • Estratégica; • Operacional; • Emergência. Alguns condicionantes para a tomada de deci- sões são: • Aspectos cognitivos: o Percepção; o Atenção; o Memória; o Tomada de decisão; • Estados mentais: o Desejo; o Motivação; o Crenças; o Valores. As consequências de uma decisão são os resul- tados, os quais são associados a uma significância ou um valor subjetivo de utilidade. Como cada indivíduo possui seus valores e motivações, as pessoas tomam decisões diferentes mesmo estando na mesma situa- ção. Os modelos mais recentes de análise de um pro- cesso decisório consideram 03 etapas, as quais são: coleta de informações, avaliação e seleção (Iida, 2005). A coleta de informações no sentido que em que é importante que antes da tomada de decisões as pessoas busquem informações. Quanto melhor a qualidade destas informações é mais provável que da mesma maneira as decisões sejam de melhor qua- lidade. Quando as informações não são completas ou são de difícil interpretação as decisões podem ser tomadas em suposições ou probabilidades. O con- trário, ou seja, o excesso de informações também dificulta uma tomada de decisão de qualidade. Se o indivíduo tiver condições de filtrar as informações,a chance de utilizar aquelas que são relevantes para a tomada de decisões pode contribuir para a qualidade das mesmas num processo decisório. Existem, ainda, indivíduos que possuem uma visão parcial do problema e tomam decisões de su- botimização das informações, o que também contri- bui para que decisões sejam tomadas sem uma base de análise adequada. A avaliação ocorre quando as informações re- cebidas pelo indivíduo são úteis para avaliar uma si- tuação, comparando-as com experiências e conheci- mentos prévios do indivíduo (Iida, 2005). Quando o indivíduo coleta estas informações e as processa é necessário que esta interpretação do seu significado componha um modelo cognitivo. Quanto mais fidedigno este modelo cognitivo es- tiver em relação à realidade, maior será o grau de acertos no que se refere à tomada de decisão. Além disso, o modelo mental servirá de base para prever a evolução futura do ambiente, desta forma, o proces- so decisório deve se adaptar a dinâmica do trabalho. A seleção das opções é a última etapa do pro- cesso decisório. Uma vez escolhida uma opção, é im- portante descrevê-la minuciosamente e providenciar condições compatíveis para implementá-la. Para tal, há necessidade de definições de atribuições de res- ponsabilidades e provisão de recursos (Iida, 2005). 3.4 Modelos cognitivos A investigação dos níveis de marco teórico de referência, como o estudado anteriormente (sistema sensório-motor, percepção e processamento das in- formações) é sustentada pela psicologia cognitiva. Nos últimos 40 anos, o estudo dos processos cogni- tivos humanos tem proporcionado teorias explicati- vas e dados empíricos que nos permitem conhecer como as pessoas sentem, percebem e armazenam in- formações, e, por outro lado, como a recuperam e a utilizam para a tomada de decisões (CAÑAS, 2000). Os modelos cognitivos que serão propostos tentam explicar a interação de uma pessoa com um artefato. Em geral, este é o esquema de processa- mento de informações tal como hoje é utilizado em psicologia cognitiva. O modelo ilustrado na Figura 21 considera que o ser humano possui um sistema cognitivo compos- to por sistemas sensoriais encarregados de extrair as informações do ambiente. Estas informações são analisadas pelos processos perceptivos e armazena- das pela memória, para poder ser recuperada e utili- zada anteriormente. Em ergonomia cognitiva este modelo de siste- ma cognitivo humano está presente de uma ou outra maneira, ou seja, em todas as investigações. Deve-se ressaltar que a investigação não está dirigida a por a prova hipóteses sobre o modelo cognitivo, e sim de tratar de utilizá-lo para explicar a interação entre uma pessoa e um artefato. Por isso, os modelos de ergono- mia cognitiva consideram ser fundamental conhecer quais são as atividades que uma pessoa realiza, assim como estabelecer princípios baseados nos conheci- mentos da psicologia cognitiva que podem ser aplica- dos no desenho de interfaces (CAÑAS, 2000). Agora que estudamos sobre a sensação, percep- ção, memória, atenção, processamento das informa- ções e tomada de decisão, iremos analisar as figu- ras a seguir, as quais ilustram exemplos de modelos cognitivos explicativos (de Gagné e de Richard) para processos mentais. Verifica-se que as entradas ocorrem no sistema sensorial humano (visão, audição, tato, paladar, ol- fato, propriocepção, cinestesia), estes estímulos são processados cognitivamente e em seguida tem-se uma resposta, a qual pode ser um simples pensa- mento até uma resposta motora. Segundo Cruz (2006) as estratégias cognitivas são empregadas para resolver problemas que depen- dem dos seguintes condicionantes cognitivos: • Representações - construídas em relação à situ- ação presente; • Conhecimentos - adquiridos ao longo da vida; • Raciocínios - empregados por juízos previamente validados (pautas de raciocínio). 3.5 Carga Mental A carga mental é um termo utilizado quando referirmos uma porção de recursos de processamen- to que uma pessoa necessita para realizar uma tarefa. Se os recursos que uma tarefa requer são excessivos para a execução, como consequência, o trabalhador será afetado, podendo causar erros, estresse e outras consequências nocivas a ele. A carga mental de uma tarefa é um fator impor- tante a se levar em conta quando uma pessoa tem que realizar várias tarefas simultaneamente. Nesta situa- ção, os recursos de processamento devem dividir-se entre as tarefas e podem se produzir efeitos de inter- ferência. Por esta razão, durante o desenho de interfa- ces, é necessário conhecer os recursos atencionais que cada tarefa requer e desenhá-las de tal maneira que não se produzam fenômenos de interferência. Wickens (1992) propôs um modelo para expli- car como os recursos de processamento são distri- buídos em várias tarefas que se realizam simultane- amente. Este modelo defende que os recursos que uma tarefa requer dependem de três características ou dimensões de uma tarefa. Em primeiro lugar, uma tarefa pode requerer que se dediquem recursos ao sistema de maneira perceptível ao processador central ou ao sistema de resposta. Em segundo lu- gar, as tarefas podem requerer que a pessoa processe diferentes tipos de informação em diferentes códi- gos, verbal ou espacial. Finalmente, a informação processada em uma tarefa pode ser apresentada e requerida da pessoa em duas modalidades, auditiva ou visual. Dentre os métodos de construção de medidas de cargas de trabalho, como por exemplo, o NASA TLX, é importante que o método leve em conside- ração os seguintes aspectos: • Caracterizar dimensões (física, sensório-atencional, perceptiva, temporal, afetiva-emocional, cognitiva- -reacional), e: • Decompor comportamentos que expressam per- cepções sobre as condições psicológicas para res- ponder as exigências do trabalho. • Dimensão Física: o Carregar peso; o Fazer força com as mãos; o Deslocar-se a pé; o Trabalhar parado numa só posição; o Mudar de postura para acomodar-se melhor. • Dimensão Sensória–Atencional o Diferenciar estímulos visuais; o Diferenciar sons; o Diferenciar cheiros; o Diferenciar vibrações; o Orientar-se no espaço de trabalho; o Prestar atenção em diferentes estímulos visuais; o Prestar atenção em diferentes estímulos auditivos; o Manter-se concentrado. • Dimensão Perceptiva o Identificar problemas mecânicos nos equipa- mentos durante o trabalho; o Intervir em conflitos no trabalho; o Identificar problemas na maneira de executar o trabalho; o Discriminar informações em código; o Identificar riscos à segurança pessoal; o Identificar riscos a outras pessoas. • Dimensão Temporal o Trabalhar sem controle do tempo de execução; o Trabalhar com ritmo imposto por máquinas ou equipamentos; o Trabalhar com prazos e metas para cumprir; o Trabalhar sob controle de terceiros (che- fes, supervisores); • Dimensão Afetiva-Emocional o Identificar-se com o trabalho; o Dedicar-se o maior tempo possível ao trabalho; o Ser reconhecido pelo trabalho que faz; o Manter-se no emprego; o Sentir-se seguro na realização das tarefas de trabalho; o Sentir-se capaz para realizar as tarefas no trabalho; o Controlar o sentimento de frustração no trabalho; o Controlar a ansiedade no trabalho. • Dimensão Cognitiva-Reacional o Memorizar informações; o Usar informações memorizadas recentemente; o Usar informações memorizadas não recentemente; o Calcular; o Falar; o Usar código para se expressar verbalmente ou por escrito; o Responder com movimentos corporais (bra- ços, pernas); o Tomar decisões frequentemente; o Tomar decisões rapidamente; o Resolver problemas que possamocorrer du- rante o trabalho; o Avaliar diferentes alternativas para fazer o trabalho; o Aprender tarefas novas no trabalho; o Evitar riscos no trabalho. Uma das principais formas de análise do tra- balho consiste em caracterizar as relações entre as exigências no trabalho (metas, tarefas, meios de exe- cução, tempo, etc.) e as competências geradas ou de- mandadas por essas exigências (aptidões, interesses, graus de engajamento, habilidades). 3.6 Erro humano O erro humano está relacionado com a confiabi- lidade. Ele difere da falha humana da seguinte maneira: • Erro: o Ação ou efeito de errar; o Qualquer desacerto, praticado por desconhe- cimento, inaptidão ou ignorância. • Falha: o Ausência de alguma coisa sem a qual não se julga perfeita pessoa ou coisa; o Defeito; o Falta; o Equívoco. Segundo Reason (1997), o erro humano é a fa- lha das ações planejadas para atingir determinado objetivo desejado, sem a intervenção de algum even- to inesperado. Observação: a menção ao inesperado é importante, pois exclui a sorte. O erro humano pode ser classificado em 03 níveis: • Nível da habilidade (skill-based - SBB): o Condução de tarefas rotineiras de modo automático. o Este é o modo em que as pessoas costumam trabalhar na maior parte do tempo; • Nível das regras (rule-based - RBB): o Aplicação de rotinas memorizadas ou escritas de modo consciente, com o propósito de verificar se a solução é ou não adequada; • Nível do conhecimento (knowledge-based - KBB): o É um nível em que as pessoas entram relu- tantemente, só em último caso, em situações novas, nas quais não se aplicam nem a rotina, nem as regras. A prevenção de erros em sistemas complexos consiste em prever o erro humano e violações exi- gindo que se entenda a relação entre 03 fatores: • O ambiente que levou ao erro; • As características dos eventos que podem promo- ver um comportamento adverso; • A tendência que o ser humano tem de cometer erros e violações. O “erro humano” vem sendo a explicação para as falhas dos sistemas porque, geralmente, o julga- mento é social. A frequência do erro pode ser redu- zida através do equilíbrio entre demanda da tarefa e capacidade humana (GUIMARÃES, 2011). Na visão da engenharia, automatizar todas as funções que são tecnicamente viáveis de serem con- troladas por sistemas automáticos seria uma saída para a redução de erros humanos. Entretanto, esta tese possui o ponto fraco de que continuariam pro- blemas na confiabilidade dos controladores destes sistemas automatizados, pois estes sistemas reque- rem monitoramento do operador que, em algumas situações, deve assumir o controle. Entretanto, as habilidades manuais se deterioram quando não são utilizadas regularmente. Essas habilidades cognitivas, como tomada de decisão, solução de problemas, necessitam ser pra- ticadas regularmente para manter o conhecimento na memória. Os melhores métodos para se desenvolver a ca- pacidade cognitiva são através da experiência e não através de métodos tradicionais de ensino de sala de aula. Não existem pessoas à prova de falhas, ou seja, todos nós falhamos (muito ou pouco) no cumpri- mento de uma tarefa (Pallerosi, 2008). A confiabilidade humana pode ser definida como a probabilidade de que uma pessoa não falhe no cumprimento de uma tarefa quando exigida, em um determinado período de tempo, em condições ambientais apropriadas e com recursos disponíveis para executá-la (Pallerosi, 2008). Outra definição de confiabilidade humana é a probabilidade que um trabalho ou tarefa será com- pletada com sucesso pelo indivíduo em qualquer es- tágio operacional do sistema dentro de um tempo mínimo requerido (Meister, 1966). As principais variáveis que influenciam a con- fiabilidade humana são: • Perfil psicológico; • Capacidade física; • Capacidade cognitiva; • Capacidade de aprendizado; • Competências; • Habilidades; • Experiências; • Motivações; • Confiança. Exercícios 11) Quais são os processos cognitivos básicos? 2) A manutenção da atenção é modulada por alguns fatores. Quais são eles? 3) Quais os 05 tipos de memórias? 4) Quais as classes de tomada de decisões? 5) O que carga mental? Exercícios 1) O que é ergonomia organizacional? 2) Quais os sintomas do estresse? 3) Cite algumas causas de estresse: 4) Defina e explique o que é uma “estrutura formal” de uma organização? 5) Defina, explique e cite exemplo de alargamento e enriquecimento do trabalho. Gabarito Unidade 3 1. Os processos cognitivos básicos são: ater-se a es- tímulos ambientais, perceber propriedades ou carac- terísticas desses estímulos e as relações entre eles, tomar decisões com base em conhecimentos e racio- cínios derivados dessas percepções, executar ações coordenadas de ativação, manutenção e controle de comportamentos (regulações). 2. fator fisiológico (depende das condições neuroló- gicas e da situação física de trabalho), fator motiva- cional (depende da forma como o estímulo se apre- senta e provoca interesse) e concentração (depende do grau de solicitação e de atuação do estímulo). 3. memória declarativa; memória imediata; memória de curta duração; memória de longa duração; me- mória de procedimento. 4. rotina; estratégica; operacional e de emergência. 5. A carga mental é um termo utilizado quando re- ferirmos uma porção de recursos de processamento que uma pessoa necessita para realizar uma tarefa. Ela representa o conjunto de esforços desenvolvi- dos para atender às exigências das tarefas. Esse con- ceito abrange os esforços físicos, os cognitivos e os psicoafetivos (emocionais). REFERÊNCIAS AMADIO, A. (1996). Fundamentos Biomecânicos para a Análise do Movimento Humano. Edição da Universidade de São Paulo. São Paulo. ALBERTON, Anete. Uma Metodologia Para Auxi- liar No Gerenciamento De Riscos E Na Seleção De Alternativas De Investimentos Em Segurança. Pro- grama de Pós-Graduação em Engenharia de Produ- ção. Mestrado. Ano de defesa 1996. UFSC. ASSOCIATION FRANÇAISE DE NORMALI- SATION – AFNOR. Ergonomie. 2 ed. Paris: 1.986. 211 p. ANDERSSON B.J.G, e SVENSSON H. O, ODEN, A. Quantitative studies of back loads in lifting. Spi- ne, 1.976. CASTRO, S. (1976). Anatomia Fundamental. Mc- Graw-Hill. São Paulo. CENTRO NACIONAL DE CONDICIONES DE TRABAJO (ESPANHA). NTP 477: Levantamiento manual de cargas: ecuación Del NIOSH. Redacto- ras: SilviaNogareda Cuixart y Mª del Mar Canosa Bravo[s.d]. 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