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AULA (1) TÓPICOS ESSENCIAIS EM PRODUÇÃO E OPERAÇÕES Profª Rosinda Angela da Silva 02 CONVERSA INICIAL A gestão eficiente da área de produção e operações deve fazer parte da estratégia organizacional, pois se o processo produtivo é ineficiente e o atendimento ao cliente está precário, é porque algo não anda bem nessas áreas. Devido a essa relevância, essa aula foi construída a partir de alguns temas essenciais propostos por diversos autores e já conhecidos dos estudantes de Administração. A proposta dessa aula será discutir tais temas de uma maneira mais restrita, então não serão apresentados os conceitos desde o início da produção científica e sim, trazendo um viés mais prático e aplicado dos conceitos. Caros estudantes, sejam bem-vindos a aula “tópicos essenciais em produção e operações”. CONTEXTUALIZANDO Um país desenvolvido tem em sua essência, a industrialização. Isso ocorre porque quando industrializamos matérias primas in natura, estamos agregando valor e oferecendo mais facilidades ao cliente. Por exemplo, se produzimos e vendemos soja tal qual a colhemos no campo, não agregamos valor, pois estamos vendendo uma commodity, certo? Mas quando industrializamos e comercializamos produtos prontos para o consumo, agregamos valor e ainda criamos uma extensa cadeia produtiva, tais como: indústria de máquinas e equipamentos para essa industrialização, embalagens, insumos produtivos de diversas naturezas, manutenção industrial, indústria de serviços de suporte à indústria como metrologia, laboratório, segurança e limpeza, alimentação, transporte, armazenagem, entre muitos outros segmentos. E isso faz com que a economia gire de forma mais abrangente, agregando valor para toda a nação. Mas, fazer com que toda essa cadeia se mantenha organizada e fluindo continuamente, é um desafio, mas como Administrador, é preciso estar preparado. E por onde começar? Ter visão holística de como ocorrem as operações dentro e fora da empresa, conhecer os índices de produtividade, identificar os gargalos, avaliar o conhecimento da equipe e, claro, ter uma estratégia que combine com os valores da empresa. Esses são apenas alguns elementos necessários para se tornar um Administrador eficiente, sabemos que tem muito mais competências a serem desenvolvidas. Mas, nesse momento, restringiremos somente ao estudo dos sistemas produtivos e de operações de serviços. 03 TEMA 1 – LOCALIZAÇÃO DE EMPRESAS A decisão do local onde uma empresa será instalada é de grande importância para os empreendedores porque envolve a consideração de inúmeros detalhes específicos para cada segmento. Isso é verdadeiro porque os fatores de decisão para a escolha do local de uma indústria são diferentes daqueles considerados na localização de um varejo, de uma prestadora de serviços, centro de distribuição ou armazenagem. As particularidades inerentes a cada processo exigem dos empreendedores análises críticas de cada fator porque em alguns casos, o trade-off pode ser alto. No caso da localização da empresa, o trade-off pode ser compreendido como o “preço” a ser pago para ter um fator considerado essencial para o negócio, em detrimento de outro. Vamos entender isso melhor? Exemplo: uma empresa quer abrir uma filial em determinado país porque os custos de produção são baixos o que traria uma vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes que disputam por preço. No entanto, ao avaliar outros fatores, também importantes, identifica-se que a mão de obra daquele local ainda não está capacitada para o tipo de negócio. Então, a empresa verifica as possibilidades para atuar nesse local, que pode ser: transferir mão de obra qualificada de outras plantas (processo de expatriação) que tem certo custo ou capacitar a mão de obra local. Um dos possíveis trade-offs desse caso: se levar mão de obra já qualificada de outra planta terá custo mais elevado, mas poderá iniciar a produção imediatamente, mantendo o padrão já estabelecido pela empresa. Se a opção for qualificar a mão de obra local, poderá ser mais barato, porém o processo será mais demorado e precisará de mais tempo para iniciar a produção com a qualidade que a empresa está habituada. Observa-se assim que o trade-off considerado impactará diretamente na decisão que o empreendedor tomará. 1.1 Fatores críticos para escolha Vamos conhecer alguns fatores críticos de escolha de localização de empresas, para indústria, comércio, serviço e logística: Indústria: disponibilidade de água, energia elétrica, mão de obra qualificada, fontes de matérias primas, custos dos terrenos, custos dos transportes, facilidades logísticas, desenvolvimento local, impacto ambiental no local, serviços de manutenção industrial e suporte, benefícios locais, receptividade 04 da população local (pense que nem todo a indústria é bem-vinda em determinadas regiões). Esses elementos influenciam diretamente no custo da operação de uma indústria, uma vez que, na maioria dos casos, uma indústria não se situa geograficamente próximo do seu público consumidor. Isso ocorre porque o custo de uma operação industrial, então cada elemento deve ser analisado criticamente, os custos apurados e comparados antes da tomada de decisão. Comércio: para esse tipo de negócio, estar próximo do cliente é importante, mas é necessário pensar nos atrativos que o local oferece. No caso das grandes cadeias varejistas como: Hipermercados (Extra, Carrefour, Wal-Mart) e Lojas de Departamentos (Havan, Casas Bahia, Magazine Luiza, Ricardo Eletro, Leroy Merlin, Lojas Renner, C&A, Riachuelo, Lojas Pernambucanas e muitas outras) e Alimentos: McDonald’s, Habib’s, Burger King, Subway, Madero, necessitam estar onde seu cliente está. Mas, além disso, esse tipo de negócio precisa oferecer algumas facilidades aos seus clientes como: grandes estacionamentos, facilidades de acesso, grandes lojas com muitos produtos disponíveis, local seguro, facilidade logística para o colaborador chegar ao trabalho e desenvolvimento da região. É fato que essas grandes empresas querem sediar suas plantas físicas (isso porque a maior parte deles praticam também o e- commerce) onde a população tenha condições de consumir. Serviço: nesse caso existem duas situações que precisam ser analisadas: 1 – O cliente participará do processo: nessa configuração o empreendedor terá que analisar se o local pretendido é de fácil acesso, tem estacionamento, é seguro e se está próximo de seu público alvo. Este último elemento (estar próximo do seu público alvo) é importante porque, principalmente nos grandes centros urbanos, os consumidores não costumam consumir alguns tipos de serviços (lavanderias, pet shops, hospitais, academias de ginástica, lava car, chaveiros e muitos outros) que ficam distantes de suas casas ou trabalhos, a não ser que esse serviço seja uma especialidade que possui apenas uma unidade de atendimento na cidade. O que faz sentido devido ao custo do deslocamento (tempo e combustível). 2 – O cliente não participará do processo: serviços como consultoria, imobiliárias, empresas de terceirizações de serviços (telefonia e internet, segurança patrimonial, limpeza e conservação, entre outros) os elementos analisados serão mais voltados para as necessidades da empresa. Considerará custos, condições de acesso para os colaboradores, desenvolvimento da região. 05 Logística: uma localização logística está mais voltada as questões de armazenagem e distribuiçãode produtos. alguns fatores de impacto são: proximidade das instalações de transporte, custos de transporte de saída e chegada, espaço suficiente para construção de grandes barracões. Para esse tipo de negócio é importante estar próximo dos mercados consumidores para facilitar as entregas e coletas de mercadorias. Na atualidade muitas empresas estão trabalhando com o conceito de hub, onde certa quantidade de estoque é despachada das fábricas e mantido nesses locais para atender as demandas dos clientes de forma mais rápida e eficiente. 1.2 Análise qualitativa Os fatores citados são considerados qualitativos e para compreender como são analisados, vamos conhecer uma metodologia simples chamada de: ponderação de fatores qualitativos. Fonte: Adaptado do modelo de Martins & Laugeni (2006) p. 44 Nesse método, a equipe responsável pela escolha da localização atribui pesos para os elementos mais importantes para o negócio. Com o levantamento em mãos, o peso determinado para cada elemento é multiplicado pela nota alcançada pelo local. 1.3 Análise quantitativa: Por mais que os elementos qualitativos sejam relevantes para a escolha da localização eles são considerados de apoio a decisão. O que realmente faz a diferença são os elementos quantitativos, os quais podem ser levantados através de algumas metodologias como método do centro da gravidade e método dos momentos. 1.3.1 Método do Centro da Gravidade: 06 Segundo Martins e Laugeni (2006) p. 41 “no modelo do centro da gravidade procura-se avaliar o local de menor custo para a instalação da empresa, considerando o fornecimento de matérias-primas e os mercados consumidores”. Segundo esse modelo a localização horizontal (LH) e a localização vertical (LV) são calculadas conforme modelo dos autores o qual será apresentado a seguir, a partir da seguinte premissa: Em determinada rede, MP é um ponto de fornecimento de matéria prima e PA é um ponto de consumo de produtos acabados. Fonte: Adaptado de Martins & Laugeni (2006) pp. 41-42 Para identificar o ponto favorável para a localização, os cálculos realizados são os seguintes: Localização Horizontal (LH) = (200 x 3 x 100 + 400 x 2 x 200 + ... + 250 x 4 x 100 + 50 x 3 x 100) (200 x 3 + 400 x 2 + 300 x 2 + 150 x 4 + ... + 250 x 4 + 50 x 3) Localização Vertical (LV) = (200 x 3 x 500 + 400 x 2 x 400 + ... + 250 x 4 x 300 + 50 x 3 x 100) (200 x 3 + 400 x 2 + 300 x 2 + 150 x 4 + ... + 250 x 4 + 50 x 3) (LH) = 1.400.000/4.900 = 285,7 (LV) =1.845.000/4.900 = 376,50 A resposta para o exemplo será o ponto x encontrado pelas duas coordenadas acima, nas imediações da localização PA3 e MP2. 1.3.2 Método dos momentos Segundo Martins & Laugeni (2006) pp. 42-43 “o método dos momentos é similar ao centro da gravidade, com a seguinte especificidade “a ponderação de um determinado centro (cidade) contra os demais centros existentes em uma 07 determinada região geográfica. Para cada centro, calcula-se o momento que as demais cidades possuem”. M = (custo unitário de transporte x quantidade x distância) O centro que tiver a menor soma de momentos será o escolhido. Os autores trazem o seguinte exemplo: uma região está sendo avaliada para sediar a planta de uma nova indústria e para isso, quatro cidades estão sendo consideradas: A, B, C e D. Considerando que os demais fatores não favorecem nenhuma delas, o foco será determinar o menor custo de transporte. As premissas são: o custo unitário de transporte é o mesmo para qualquer tipo de carga transportada e é independe da origem ou do destino e representa $2,00 por tonelada por quilômetro transportado. ($2,00/t.km) Fonte: Adaptado de Martins & Laugeni (2006) p. 42 Cálculo dos momentos: A: $ 2,00 x 3t x 100km + 2 x 5 x 400 + 2 x 5 x 200 = $ 6.600,00 B: 2 x 10 x 100 + 2 x 5 x 300 + 2 x 5 x 150 = $ 6.500,00 C: 2 x 10 x 400 + 2 x 3 x 300 + 2 x 5 x 450 = $ 14.300,00 D: 2 x 10 x 200 + 2 x 5 x 150 + 2 x 5 x 450 = $ 9.400,00 Nesse caso, a menor soma de momentos corresponde à cidade B, a qual será a escolhida. 1.3.3 Método do Ponto de Equilíbrio (também chamado de custo / volume / lucro) Outro modelo que pode ser utilizado para levantar dados quantitativos para escolher a localização adequada para uma empresa é o método do ponto de equilíbrio que compara diferentes locais, em funções dos custos totais de operações (custos fixos + custos variáveis). 08 Vamos conhecer um exemplo proposto por Martins & Laugeni (2006) pp. 43-44: A partir dos dados de três prováveis locais para sediar uma empresa, vamos identificar a melhor solução: Para resolver essa situação é preciso construir um gráfico e plotar as retas dos custos totais para cada localidade. O primeiro ponto de cada reta de custo é calculado para Q=0, e é o próprio custo fixo de cada localizada. Já o custo total para uma quantidade = 20.000, será: Na cidade A (em $1.000,00) = 120 + (64 x 20) = $ 1.400,00 Na cidade B (em $1.000,00) = 300 + (25 x 20) = $ 800,00 Na cidade C (em $1.000,00) = 400 + (15 x 20) = $ 700,00 O cálculo dos pontos de intersecção das retas, tem-se: Intersecção entre A e B: 120 + (64 x Q) = 300 + (25 x Q) e Q = 4.615 unid. Intersecção entre B e C: 300 + (25 x Q) + 400 + (15 x Q) e Q = 10.000 unid. Isso significa dizer que, para uma produção até 4.615 unidades, a melhor localização é A; entre 4.615 e 10.000 unidades, a melhor localização é B; e acima de 10.000 unidades, a melhor localização é C. 09 TEMA 2 – LAYOUT E SISTEMAS DE PRODUÇÃO O layout é tema de grande importância para uma empresa porque impacta diretamente na produtividade e eficiência das operações. No estudo do layout de uma indústria por exemplo, temos três elementos essenciais que devem ser considerados: as pessoas, os produtos e os equipamentos de movimentação. Já em uma empresa varejista ou comercial, o foco será na exposição de mercadorias e na circulação de pessoas; e para uma empresa de serviço (público, por exemplo) necessitamos avaliar a lógica do atendimento e a circulação de grande volume de usuários. 2.1 Tipos básicos do Layouts Os tipos básicos de arranjos são: por produto, por processo e posição fixa. As explicações a seguir tem como referência Moreira (2008) pp. 240-242: Arranjo físico por produto (linear): requer uma sequência linear de operações para fabricar o produto ou prestar um serviço. Cada centro de trabalho se torna responsável por uma parte especializada do produto ou serviço. suas principais características aso: produtos altamente padronizados; pouco ou nenhuma diversificação; produzidos em grande quantidade e de forma contínua; fluxo da produção é previsível; possibilita boa automatização; os investimentos em capital são altos, devido a necessidade de equipamento de alta capacidade de produção. Fonte: https://www.lean.org.br/artigos_detalhes.aspx?artigo=48 Arranjo físico por processo (funcional): “Nesse modelo de layout, todos os processos e os equipamentos do mesmo tipo estão na mesma área, operações ou montagem semelhantes são agrupadas na mesma área” (Martins & Laugeni (2006) p. 139. Principais características são: é adaptável para uma linha variada de produtos ou prestações de serviços; cada produto passa pelos centros de 010 trabalho necessários, formando uma rede de fluxos, os equipamentos são flexíveis e os custos fixos são menores que o arranjo físico produto. Moreira, 2008, pp.241-242.) Fonte: http://www.revistaespacios.com/a15v36n21/15362123.htmlArranjo físico por posição fixa: é propício para a fabricação (montagem) de produtos de grandes dimensões. Nesse caso os recursos como pessoas, materiais, equipamentos, ferramentas e outros se deslocam até o local exato da produção. Principais características: baixa produção, alta variedade, dependendo do projeto, é necessária uma equipe interdisciplinar, ou seja, pessoas capacitadas em diversas áreas do conhecimento. São produtos que demoram para ficar prontos e geralmente são customizados exatamente conforme as necessidades do cliente, como um navio, uma residência, um viaduto, uma ponte suspensa, uma grande turbina, ou outro. Fonte: https://www.bizjournals.com/kansascity/news/2017/02/14/faa- boeing-falsified-records-production-errors.html Arranjo físico celular: “Consiste em arranjar em um só lugar (a célula) as máquinas diferentes que possam fabricar o produto inteiro. O material se desloca por dentro da célula buscando os processos necessários”. (Martins & Laugeni (2006) p. 139. Ainda segundo os autores, suas principais características são: 011 relativa flexibilidade quanto ao tamanho dos lotes por produto; elevado nível de qualidade e produtividade, reduz o transporte de material e estoques dentro da fábrica. A equipe é responsável pelo produto como um todo o que traz satisfação pelo trabalho. Fonte: http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1999 2.2 Tipos de Sistemas de Produção Decidir qual o sistema de produção mais adequado para uma indústria é complexo porque segundo Slack (2009) p. 135 “cada tipo de processo em manufatura implica uma forma diferente de organizar as atividades das operações com diferentes características de volume e variedade”. Vamos discutir algumas características de cada sistema: Produção por projeto (pouco volume, alta variedade): lidam com produtos discretos, usualmente bastante customizados. Ex: construção civil, produção de filmes, perfuração de poços de petróleo, entre outros. (SLACK, 2009, p. 135). A produção do bem só iniciará depois que se esgotarem todas as dúvidas do cliente e dos projetistas pois geralmente o produto é único e demora para ficar pronto. Produção por jobbing (pouco volume, média variedade): sistema similar a produção por projeto, mas produz itens de dimensões menores e dessa forma, os recursos produtivos podem ser compartilhados com outros produtos também. Mas, também apresenta baixo volume de produção, alta variedade e alta customização. Ex: confecção sob encomenda, produtos gráficos como cartões de visita, ingressos para eventos, ferramentas e equipamentos (de médio porte) específicas para um cliente, entre outros. 012 Produção por lote (médio volume, média variedade): a produção por lotes, assim como no jobbing, compartilha recursos, mas necessita ser um pouco mais repetitivo para ganhar em escala. Slack (2009) p. 136 explica que “cada vez que um processo em lotes produz um produto, é produzido mais do que um produto, dessa forma cada parte da operação tem períodos que está se repetindo, pelo menos enquanto o lote (ou batelada) está sendo processado”. Ex: medicamentos, confecções, calçados, alimentos como massas secas, biscoitos, entre outros. Produção em massa (alto volume, pequena variedade): esse sistema produz grandes quantidades do mesmo produto para justificar os altos investimentos em máquinas, equipamentos e automatização. As operações são previsíveis e repetitivas. Ex: automóveis, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, móveis seriados, entre outros. Produção contínua (alto volume, pouquíssima ou nenhuma variedade): esse tipo de produção exige grandes volumes produtivos (mais que processo em massa) porque sua infraestrutura é projetada para produção ininterrupta. É possível produzir durante as 24 horas do dia, 7 dias na semana. O investimento é alto, mas a disponibilidade para produção, se utilizada com altos índices, amortiza rapidamente o investimento. É possível produzir apenas 1 item de cada vez. Ex: refinarias petroquímicas, instalações de eletricidade, fábricas de papel, siderúrgicas, entre outros. Fonte: https://sites.google.com/site/gestaodaproducao2017/home/arranjo-fisico 013 TEMA 3 – CAPACIDADE PRODUTIVA Outra importante decisão que os gestores precisam tomar está relacionada a capacidade produtiva. A definição da capacidade deve considerar a demanda prevista para o item, bem como a infraestrutura disponível para produzir o bem ou atender o cliente e pode ser definida por hora, dia, semana, entre outros. A capacidade pode ser mensurada por unidade produtiva (máquina, equipamento, atendimento) ou a capacidade global da empresa. É importante ter isso claro porque a capacidade de um setor, não representa a capacidade da empresa toda. Um exemplo simples de verificar a capacidade produtiva de um setor, é proposto por Moreira (2008) p. 137 “se, em determinado departamento de montagem de uma empresa, houver cinco empregados, cada qual trabalhando oito horas diárias, realizando a montagem de um componente à razão de 20 montagens por hora e por empregado, a capacidade do departamento, expressa em número de montagens do componente por dia, será: Para calcular a capacidade total da empresa é preciso verificar cada departamento e avaliar se há algum gargalo (setor que produz menos) e decidir o que fazer para acelerar o gargalo. 3.1 Avaliação econômica de alternativa de capacidade (análise custo-volume ou análise do ponto de equilíbrio) É comum os gestores se depararem com a necessidade de avaliar a relação entre as receitas, os custos e os volumes de produção. Nesse caso são avaliados os custos fixos (independem da quantidade produzida como aluguel, custos de depreciações, mão de obra indireta, entre outros) e os custos variáveis (exatamente porque variam com a quantidade produzida como matéria prima, mão de obra direta, manutenção das instalações fabris, entre outros. Também são chamados de custos diretos). Para isso necessitamos de algumas equações: CT = CF + q x CVu R = q x PV PE = q = CF/PV-CVu q=L+CF / PV-CVu Onde: 5 empregados x 8h/dia x 20 montagens/hora por empregado = 800 montagens/dia 014 CT = custo total associado à produção de q unidades do produto CF = custo fixo total (independente de q) CVu = custo variável (direto) unitário, ou seja, o custo para se fazer uma unidade, levando em conta apenas os custos diretos sobre o produto. R = receita total associada à produção e venda de q unidades PV = preço de venda unitário PE = ponto de equilíbrio (valor q da produção tal que exista a igualdade entre os custos totais e receita total, ou seja, a produção para a qual o lucro é zero). Ex: Uma planta industrial apresenta custos fixos de R$1 milhão mensais e custos diretos médios de produção da ordem de R$150,00 por unidade produzida. O custo médio refere-se a uma linha de produtos semelhantes, cuja composição deverá permanecer aproximadamente constante. O preço médio de venda do produto pode ser assumido como R$190,00 a unidade. Determinar: a) O ponto de equilíbrio sobre a planta b) A produção necessária para proporcionar um lucro mensal de R$160 mil. Solução: a) Para o ponto de equilíbrio: CF = 1.000.000 CVu = 150 PV= 190 Aplicando a equação, PE = q = CF/PV-CVu, temos: q= 1000.000/ 190-150 = 25.000 unidades b) Para produção que gere lucrode R$160 mil, aplicaremos a equação q=L+CF / PV-CVu q=160.000 + 1.000.000 / 190-150 = 29.000 unidades Nesse exemplo, a empresa sabe que a partir de 25mil unidades, passará a ter lucro, mas para obter o lucro determinado de 160mil terá que instalar capacidade para produzir 29 mil. 3.2 Estrutura do produto (Árvore do produto ou item explodido) E para saber quanto de cada insumo é necessário para produzir determinada quantidade de produtos, a empresa necessita ter a estrutura do produto montada corretamente. Na estrutura do produto são elencados todos os insumos necessários para produção ou montagem de algum produto, conforme a seguir: 015 Fonte: http://jcoelhologistica.blogspot.com/2010/05/ Então, cada vez que o setor de PPCP (Planejamento, Programação e Controle de Produção) programar a produção de um lote de 1000 unidades do produto, o sistema acessará a informação da estrutura do produto e gerará a lista de materiais necessários para a montagem do produto. 3.3 PMP (Plano Mestre de Produção) O Plano Mestre de Produção (PMP) tem a função de conectar o planejamento estratégico da empresa com as atividades operacionais da produção. Segundo Tubino (2009) p, 51 “em termos de prazos, o PMP exerce duas funções básicas: (1) análise e validação da capacidade de médio prazo do sistema produtivo em atender à demanda futura, que desmembra a estratégia de produção em táticas de uso para o sistema produtivo montado; (2) identifica as quantidades de produtos acabados que deverão ser produzidas de forma a iniciar o processo de programação da produção. Em linhas gerais podemos compreender o papel do PMP da seguinte maneira: a alta direção de uma fábrica sinaliza que pretende vender 50.000 unidades do produto X no próximo ano. Com essa informação o gestor da produção desenha um plano para o próximo ano considerando as semanas úteis (ou até mesmo dias úteis) que terá nesse período para programar sua produção 016 e antecipar a matéria prima, a verificação da capacidade produtiva disponível, a manutenção preventiva da fábrica, entre outras informações. Mas como o “próximo ano” é considerado longo prazo para produção, o gestor do PPCP, desmembrará esse plano em semestres, meses, quinzenas e semanas (considerando feriados, dias pontes e sazonalidades). Com esses horizontes menores, tem-se mais flexibilidade e facilita o acompanhamento, até porque as decisões mais críticas, já foram tomadas. Exemplo de um PMP conceitual O PMP é gerado em sistema informatizado porque a quantidade de dados necessários para sua confecção é grande, além disso é complexo porque envolve muitas variáveis internas e externas à organização. 3.3 MRP (Material Requirement Planning) Para dar suporte a gestão dos estoques na fábrica, o MRP (Material Requirement Planning) – Planejamento dos recursos materiais, o qual é um software que auxilia o gestor do PPCP a criar a lista líquida de materiais a serem produzidos, montados ou comprados. A seguir, um modelo conceitual do funcionamento do MRP: Fonte: http://cronosquality.com/sp2.html 017 O software utiliza como base de informações a estrutura do produto (item explodido ou árvore do produto) para identificar quais itens precisam ser programados e calcula as quantidades de acordo com a informação que foi inserida no software. TEMA 4 – PRODUÇÃO LEAN A filosofia Lean é compreendida na atualidade como uma forma de produzir bens e serviços de forma otimizada tanto para a empresa como para o cliente. Em relação a empresa o Lean trouxe uma verdadeira revolução na maneira com que as empresas passaram a realizar suas atividades internas buscando implementar um fluxo contínuo nos processos e evitando todo e qualquer desperdício. Já para o cliente, a adoção da filosofia Lean pelas empresas resultou em produtos e serviços padronizados e atendimentos ágeis e com valor agregado. Implementar a filosofia Lean não é uma tarefa simples porque exige mudanças drásticas principalmente em empresas que ainda não conhecem os princípios que suportam a filosofia. O primeiro desafio é o “pensamento Lean” porque exigirá mudança de postura e a criação de uma nova cultura organizacional, e isso, com certeza, não é tarefa fácil, porque uma empresa é constituída de pessoas, com suas verdades, seu jeito de ser e de trabalhar. A partir dos apontamentos de Rodrigues (2014) pp. 11-16, em linhas gerais, esses princípios são: 1. Valor: é o que atende plenamente a necessidade e expectativas do cliente em relação ao produto ou serviço. é definido pelo cliente e criado pela organização. Quando a empresa identifica corretamente o que cria valor para o cliente, identifica também o que “não cria valor” e isso deve ser eliminado para economizar recursos. Assim, a empresa foca naquilo que faz diferença para seu cliente. 2. Cadeia de valor: é formada por todas as atividades, setores e empresas envolvidas no atendimento as necessidades do cliente. A cadeia de valor deve ser conhecida e controlada pela empresa focal (aquela que desenvolve a atividade principal que cliente efetivamente). Como as empresas que participam da cadeia (fornecedores, distribuidores, varejistas) possuem suas próprias cadeias de valores, é um desafio para a empresa focal mapear todos os processos. 018 3. Fluxo da cadeia de valor: Para facilitar o mapeamento da cadeia de valor, as empresas focais buscam identificar como ocorre o fluxo da cadeia e o desenham para visualizar o processo como um todo e trabalhar com as emrpesas mais representativas para manter a criação de valor por toda a extensão da cadeia. 4. Produção puxada: nesse modelo, a produção só inicia a partir de um pedido de um cliente. Para que isso funcione adequadamente é preciso planejar detalhadamente todas as unidades do sistema produtivo e balancear a demanda dos diversos clientes puxados. Nem todas as empresas conseguem trabalhar com essa metodologia, porque depende do tipo do produto fabricado. 5. Busca da perfeição: nesse caso, o foco está na melhoria contínua em todas as atividades e processos. Buscar a perfeição significa na prática atender o cliente de forma que o mesmo visualize o valor agregado da qualidade e agilidade entregue a ele. Na filosofia Lean, cliente pode ser interno ou externo. Para que seja possível implementar Lean em uma organização um trabalho de conscientização e educação corporativa deve ser realizado com todos, desde a alta direção até a área operacional, que podem ser nas linhas de produção e nos atendimentos aos clientes. Para isso, inúmeras ferramentas e metodologias estão disponíveis no mercado para viabilizar esse intento, como 5s, Kaizen, Jidoka, Just In Time (JIT), Tempo Takt, Heijunka, entre outros. TEMA 5 – GESTÃO DE SERVIÇOS A gestão de serviços se tornou uma necessidade para as organizações devido a representatividade que esse segmento tem na economia. Quanto mais mudanças temos no estilo de vida da população, quanto mais tecnologia temos envolvida em produtos e serviços, quanto mais tempo temos para dedicar à recreação e lazer, mais serviços necessitaremos. O crescimento da demanda por prestadores de serviços é diretamente proporcional a necessidade de melhorar o atendimento ao cliente, bem como oferecer espaços adequados para que os clientes percebam valor no serviço ofertado. Em relação ao desafio que as empresas têm para demonstrar valor ao cliente, observe ográfico a seguir para compreender essa dimensão: 019 Fonte: http://blog.ecomm.com.br/2017/12/01/a-importancia-atendimento/ A melhoria do atendimento é um desafio para as empresas desse segmento e cada vez percebe-se a necessidade de qualificar os colaboradores para que os índices melhorem. Mas como os clientes percebem valor no serviço prestado? A empresa precisa manter uniformidade de conhecimento na linha de frente e retaguarda. Como linha de frente, compreende-se os colaboradores que efetivamente atendem ao cliente (garçom, caixa do banco, atendente da panificadora, o frentista do posto, o atendente do serviço público, a recepcionista, o vendedor da loja, o colaborador do caixa do supermercado, entre outros) e a retaguarda, que são os colaboradores que executam as atividades internas (os bastidores) e que dão suporte ao atendimento ao cliente. Isso porque o mais que se percebe é a inconsistência das informações entre esses dois elementos (linha de frente (front office) e a retaguarda (back room). Observe o modelo conceitual proposto por Gianesi & Corrêa Fonte: Gianesi & Corrêa (2007) p. 42 020 Para melhorar esse processo, as empresas devem utilizar ferramentas e metodologias direcionadas para serviços, uma vez que o processo é distinto da qualidade de produtos. Dentre essas, é possível citar o questionário ServQual, que é composto por 22 perguntas em 5 temáticas avaliadas pelos clientes. Gianesi & Corrêa, p. 90, apresentam de forma simplificada essas temáticas: Confiabilidade: habilidade de prestar o serviço de forma confiável, precisa e consistente. Responsividade: a disposição de prestar o serviço prontamente e auxiliar os clientes. Confiança: conhecimento (competência) e cortesia dos funcionários e sua habilidade de transmitir confiança, segurança e credibilidade. Empatia: o fornecimento de atenção individualizada aos clientes, facilidade de contato (acesso) e comunicação. Tangíveis: a aparência das instalações físicas, dos equipamentos, dos funcionários e dos materiais de comunicação. E para saber por onde começar a melhorar os autores sugerem critérios de avaliação da qualidade em serviços, conforme figura a seguir: Fonte: Gianesi & Corrêa (2007) p. 91 Cada empresa deve identificar quais são os critérios que são exigidos por seu público alvo, pois sabemos que cada grupo de clientes apresenta necessidades diferentes e diante disso, suas percepções em relação a qualidade também diferem. Na prática, uma boa dose de bom senso é o que deve prevalecer nas tomadas de decisões no que tange ao atendimento com excelência ao cliente, e isso serve tanto para qualidade em serviço, como para produto. FINALIZANDO A proposta dessa aula foi apresentar e/ou relembrar alguns importantes conceitos que estudamos nas disciplinas que envolvem, produção, sistemas produtivos ou gestão de operações e serviços. 021 Os temas que tratados aqui, como: localização de empresas, o qual foi apresentado como o começo de tudo e devem ser analisados inúmeros elementos qualitativos e quantitativos antes da decisão final. depois disso, entramos na fábrica e discutimos sobre o layout, os sistemas de produção e a capacidade produtiva, temas esses que são cruciais para melhorar a produtividade de uma fábrica. Resgatamos também alguns pontos da produção Lean e finalizamos com a gestão dos serviços e que fatores os clientes consideram ao avaliar a qualidade de serviços. Diante disso, concluímos que atingimos nosso objetivo inicial de rever alguns pontos essenciais (mas, muito longe de serem os únicos) sobre essa importante atividade que é a gestão da produção, das operações e dos recursos produtivos de uma organização. REFERÊNCIAS GIANESI, I. G. N.; CORRÊA, H. L. Administração estratégica de serviços: operações para a satisfação do cliente. São Paulo: Atlas, 2007. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2006. MOREIRA, D. A. Administração da produção e operações. São Paulo: Cengage Learning, 2008. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. Atlas, 2009. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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