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MBA em Gestão de Recursos Humanos Modelos de Aprendizagem e Competências Tema: Integração entre aprendizagem e competências Prof. Me. Bruno Luiz Américo MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 2 Olá, seja bem-vindo! Antes de qualquer outra coisa, assista ao vídeo a seguir para conhecer os conteúdos que serão abordados nesta aula. Introdução Até agora nós estudamos modelos de aprendizagem organizacional e modelos de competências nas organizações. Ambas terminologias e sua importância foram estudadas. Por um lado, nós examinamos o processo de aprendizagem organizacional e aprendizagem e cultura nas organizações, por outro, estudamos o desenvolvimento de competências. Nesta aula, integraremos o estudo da aprendizagem organizacional e das competências organizacionais. Integrando Aprendizagem Organizacional e Competências Organizacionais: Origem Para que serve uma estratégia organizacional? O que influencia o processo de construção da estratégia organizacional? De acordo com Barney (1991) e Porter (1985), as estratégias empresariais são preparadas para assegurar vantagem competitiva. A origem do conceito de “vantagem competitiva” pode ser encontrado na teoria econômica, segundo a qual a estrutura organizacional pode determinar o desempenho de uma empresa/indústria. Com base na teoria econômica é possível afirmar que cada mercado tem uma característica própria e, portanto, uma estratégia organizacional deve respeitar essas características. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 3 Assim, para a teoria econômica, as condições ambientais e as características setoriais podem ser assumidas como responsáveis por moldar a estratégia empresarial. Conforme vimos na aula sobre aprendizagem e cultura organizacional, não é possível desconsiderar o contexto externo ou as condições ambientais. Isso não significa que apenas as condições ambientais e as características setoriais moldam uma estratégia organizacional. Os estudos sobre aprendizagem e competências organizacionais permitiram superar a visão puramente economicista das corporações. Dessa maneira, é correto afirmar que uma estratégia organizacional pode ser influenciada por características setoriais e por condições ambientais. Mas também é importante considerar que uma estratégia organizacional é elaborada com base em conhecimentos, habilidades e atitudes, por indivíduos e grupos, bem como por processos de aprendizagem. Com base no contexto da teoria econômica, uma estratégia organizacional é elaborada visando à inserção de um produto/serviço em um determinado mercado. Deve, assim sendo, compreender uma tática para dar resposta às mudanças ambientais e para alinhar as forças da empresa às oportunidades externas. Ruas (2001) sugere que a maneira pela qual uma empresa fomenta e desenvolve seus recursos e habilidades pode determinar suas estratégias futuras. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 4 Uma vez que compreendemos o que é uma estratégia organizacional e quais são os processos responsáveis por moldar sua construção, podemos afirmar que a estratégia organizacional é a única fonte de vantagem competitiva? Uma estratégia organizacional formada a partir de elementos externos e que incorpora conhecimentos, habilidades e atitudes diversas é fonte de vantagem competitiva, é verdade. Entretanto, compreende-se que a vantagem competitiva deriva do conhecimento único que cada organização cria, compartilha e internaliza (SPENCER, 1993). Assim, se uma organização tem como estratégia organizacional produzir e entregar camas de qualidade, a vantagem competitiva dessa empresa pode vir da realização de auditorias frequentes na linha de produção, para garantir a qualidade do produto entregue, ou, por exemplo, da promoção de encontros entre vendedores e da formação contínua da equipe de vendas, para conseguir vender camas de qualidade. Seguindo o um último exemplo, essa empresa pode investir em marketing, com o objetivo de que os clientes realmente percebam as camas produzidas como um produto com diferencial e qualidade. Vantagem competitiva é a superioridade que uma empresa tem em relação ao seu concorrente, em função de diferentes estratégias adotadas: posicionamento estratégico, VBR, AO e competências dinâmicas. O conceito da vantagem competitiva surgiu em oposição ao conceito da vantagem comparativa, cunhado por David Ricardo, que afirma que as transações econômicas entre duas partes podem proporcionar ganhos mútuos, desde que as partes tenham diferentes custos de produção para os bens transacionados. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 5 De acordo com Ruas (2001), o elo entre a aprendizagem organizacional e as competências essenciais foi estabelecido no trabalho de Fiol e Hamel (1991), quando foi introduzido o conceito de “competência essencial” – que é uma das competências organizacionais –, que se desenvolve com base na aprendizagem organizacional. É dessa forma que se torna possível integrar os estudos da aprendizagem organizacional e das competências organizacionais. Assista ao vídeo a seguir para entender melhor aquilo que foi discutido até aqui. Competências Essenciais Conforme visto anteriormente, o discurso das competências emerge a partir de uma evolução da “visão baseada em recursos” (VBR). Com base em uma VBR – tangíveis e intangíveis – as competências essenciais podem ser consideradas como responsáveis pela formação de uma base para a vantagem competitiva organizacional. Base que dá suporte para a implantação bem sucedida de uma estratégia organizacional. Desse modo, podemos inferir que uma organização, com a finalidade de cumprir sua estratégia organizacional, precisa desenvolver competências essenciais, ou seja, vantagem competitiva resulta da estratégia organizacional, mas também das competências essenciais particulares de cada empresa. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 6 As competências essenciais podem ser criadas, exploradas, adquiridas, alavancadas, internalizadas e sustentadas por organizações para criar produtos e serviços e, ainda, para abrir novos mercados. As competências essenciais – que geram impacto sobre a estratégia, diz respeito à sobrevivência e evolução organizacional – são desenvolvidas com base na aprendizagem organizacional. A integração da aprendizagem e competências organizacionais se descreverá adiante, ainda nesta aula. É importante notar que é extremamente difícil para um competidor imitar uma competência essencial, já que elas são desenvolvidas com base em processos de aprendizagem. Sendo assim, é necessário que a competência essencial, que é a base para o desenvolvimento de uma vantagem competitiva, seja: Única; Difícil de imitar; Sustentável; Flexível e passível de ser aplicado em diferentes situações; Diferente e/ou superior aos concorrentes. Com o vídeo a seguir você compreenderá melhor o que significa uma competência essencial, assista. <https://www.youtube.com/watch?v=e4y_LX4G04Y> MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizageme Competência | Integração entre aprendizagem e competências 7 Aprendizagem Organizacional É verdade que já estudamos em aulas anteriores a aprendizagem organizacional (conceitos, perspectivas, objetivos, processos de organização e aprendizagem, desafios emergentes para a área, aplicabilidade e memória organizacional), mas agora vamos dedicar especial atenção ao processo pelo qual a aprendizagem organizacional se traduz em uma competência essencial, ou seja, o processo pelo qual a aprendizagem é utilizada e transformada nas organizações em recursos, conhecimentos, habilidades e atitudes específicas. Uma organização deve mudar constantemente de forma a estimular a construção de um cenário favorável à constituição de vantagens competitivas sustentáveis, por meio de processos de aprendizagem organizacional que levem à construção de competências essenciais. Dougherty (1992) e Miles e Snow (1978) afirmam que mudanças enriquecem a habilidade de inovar das empresas. Não é interessante para uma empresa apenas promover a repetição de comportamentos passados – estratégias, promoções, campanhas –, o que é facilmente imitável. O interessante é produzir especialização para ajudar a introduzir recursos específicos, particulares e únicos, que são de difícil imitação pelos concorrentes: inovação em produtos e processos, novas campanhas de promoção e marketing e abertura de novos mercados. A aprendizagem organizacional isolada não se traduz em uma competência essencial. Ao contrário, a empresa deve utilizar e converter seus esforços de aprendizagem em recursos e habilidades específicos. A aprendizagem organizacional pode ser utilizada, por exemplo, para influenciar os resultados comportamentais, para criar novos insights e, também, uma consciência coletiva na organização. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 8 Vale ressaltar que a especialização significativa pode produzir a expertise, o que oferece vantagens competitivas, assim como pode delimitar oportunidades futuras ao estreitar as alternativas estratégicas da organização. Pesquisas realizadas sugerem que os padrões de aprendizagem de nível mais elevado, que resultam em especialização, dependem de três fatores críticos: 1. Informação e base de conhecimento da empresa: a transferência e a recuperação de informação ajudam as empresas a adquirir conhecimento tácito e universal. Essas bases de conhecimento auxiliam o entendimento, a definição e a solução de problemas complexos de maneira exclusiva e, assim, contribuem para o desenvolvimento de competências essenciais; 2. Experimentação e redefinição de descobertas: a experimentação contribui para o desenvolvimento de competências essenciais mediante melhoria contínua (esforços de aperfeiçoamento de menor escala) e a criação de novas descobertas (esforços de maior escala); 3. Rotinas dinâmicas e criação de habilidades: o desenvolvimento de rotinas dinâmicas produz as habilidades específicas da empresa para a geração das competências essenciais que promovem a definição e a solução de problemas complexos e a retenção de tais insights. Aprendizagem que resulta em especialização exige algum tipo de mudança. Assim, frente a um evento inesperado em um ambiente turbulento, uma empresa pode reagir ou proagir para se adaptar. Trata-se de um processo de aprendizagem – reativo ou proativo – que exige mudança da organização. Com os diversos estímulos do ambiente, ressalta-se a importância de as empresas estarem continuamente aprendendo e desenvolvendo suas competências essenciais para atingir ou manter um estado de equilíbrio. Empresas com capacidade de aprender constantemente, quando capazes de transformar a aprendizagem em competências essenciais dinâmicas, têm maior probabilidade de superar as descontinuidades e MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 9 desequilíbrios, tirando proveito do caos criativo na descoberta de novas formas de tecnologia, produtos e/ou processos. Assista ao vídeo a seguir e conheça melhor as competências essenciais e a aprendizagem organizacional. Integrando Aprendizagem Organizacional e Competências Organizacionais Conforme já estudamos, a aprendizagem organizacional constitui uma ferramenta de gestão contemporânea. Não existe um conceito definitivo para a aprendizagem organizacional, tão pouco há uma espécie de “receita de bolo” que permita implantar esse modelo de gestão com facilidade. Mesmo assim, inúmeros práticos utilizam a gestão baseada em processos de aprendizagem organizacional e competências organizacionais para criar uma cultura do conhecimento, e para apropriar conhecimento – criado, adquirido e compartilhado – em suas organizações. Em uma economia de mercado baseada no conhecimento, uma corporação – frente a um evento inesperado, crise ou mudança – deve ter a habilidade de reagir rapidamente. Quanto maior a competência que a organização tiver para aprender, mais ágil poderá responder às demandas do mercado. Uma empresa é, portanto, muito mais do que uma estrutura, do que um organograma, do que um conjunto burocrático, ela é formada de processos de aprendizagem. Organizações são espaços privilegiados para desenvolvimento de competências. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 10 Aprender é, portanto, uma competência. O resultado da aprendizagem organizacional é o próprio conhecimento, ou melhor, uma competência. Conhecimentos, habilidades e atitudes possibilitam à organização aplicar novos conhecimentos, recombinar antigos conhecimentos e identificar oportunidades, visando a um melhor desempenho organizacional. O processo de aprendizagem organizacional deve ser compreendido como aquisição, criação e, principalmente, utilização, compartilhamento e internalização de novos conhecimentos. O processo de aprendizagem organizacional também possibilita que velhos conhecimentos sejam recombinados e utilizados para obter vantagem competitiva. A questão da aprendizagem no âmbito das organizações, compreendido como uma competência, permite o desenvolvimento organizacional, formar gestores e fazer com que as organizações sobrevivam e se expandam com o passar do tempo. Aprendizagem Organizacional e Competências Organizacionais: Aplicabilidade De acordo com Ruas (2001), processos de aprendizagem que levam ao desenvolvimento de competências organizacionais, possibilitaram o sucesso de experiências exitosas na história da administração, como é o caso do sistema Toyota e da abordagem sociotécnica da planta Kalmar, da Volvo. A gestão sociotécnica foi implantada pela Volvo na década de 1970 em algumas fábricas localizadas na Suécia, nas quais a gestão de pessoas diferia do predominante à época. A planta e os procedimentos da fábrica foram planejados em conjunto com os sindicatos e voltados para a satisfação do trabalhador. Assista ao vídeo e conheça melhor o assunto. <http://www.youtube.com/watch?v=aI7ornrCKnM> luz_a Realce MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 11 O modelo de trabalho da Volvo, da planta Kalmar, bem como o modelo de produção Toyota (“produção enxuta” ou “lean manufecturing”) que o seguiu, são modelos organizacionais participativos. Modelos participativos são diferentes dos modelos mecanicistas que outrora dominavam o mercado,como é o caso dos sistemas Fordista e Taylorista. Os modelos participativos representaram, na época, a criação de um novo conhecimento que foi muito além do processamento de dados e informações. Apoiado em Nonaka (1997), é possível afirmar que os modelos Volvo e Toyota, bem como os modelos Kanban (Sistema de Controle da Produção e dos Inventários), Kaizen (melhoria contínua) e Poka-yoke (dispositivo à prova de erros, destinado a evitar a ocorrência de defeitos) que seguiram, dependem de palpites dos usuários e da intuição dos colaboradores, ou seja, de insights que foram testados e usados na implantação desses novos corpos de conhecimento no dia a dia organizacional. Esses novos conhecimentos – modelos de gestão europeus, americanos e japoneses, em sua maioria – atravessaram os muros das industrias automotivas e, hoje em dia, são utilizados por atacadistas, varejistas, indústrias diversas e até por prestadores de serviço. Nesse cenário, os trabalhadores são multifuncionais e muito cobrados, tendo que trabalhar buscando agregar valor a serviços e produtos, evitar desperdícios, e manter contato com clientes, colaboradores e fornecedores, melhorando processos. Os trabalhadores, os A crise do petróleo e a consequente recessão do mercado automotivo – com baixa de 30% na venda de carros grandes (1989 e 1992) – levaram ao insucesso as fábricas de Kalmar e Uddevalla. Além disso, os japoneses surgiram com o sucesso da “produção enxuta”. Em 1992, foram fechadas as fábricas de Uddevalla e Kalmar. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 12 grupos e a organização estão, portanto, envolvidos em processos de aprendizagem e desenvolvimento de competências. Enfim, é em meio a esse mundo de exigências, desafios e possibilidades, que a questão das competências individuais, grupais e organizacionais começa a ser abordada em paralelo com os processos de aprendizagem organizacional. O modelo de gestão por competências é, portanto, dinâmico. A aprendizagem organizacional, quando compreendida processualmente – como atividade que envolve conflito, relações de poder e o ambiente externo – dá suporte ao modelo de gestão por competências. Assista ao vídeo a seguir para entender melhor a aplicabilidade da integração da aprendizagem organizacional e das competências organizacionais. Síntese Assista ao vídeo a seguir, que apresenta uma síntese dos assuntos que estudamos nesta aula. Até a próxima! MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 13 1. O que assegura uma vantagem competitiva a uma organização? a. A estratégia organizacional. b. O conhecimento que cada organização cria, compartilha e internaliza, bem como o posicionamento estratégico, VBR, AO e as competências dinâmicas. c. Os recursos organizacionais. d. Trabalhadores altamente qualificados. 2. Por que é importante integrar aprendizagem organizacional e competências organizacionais? a. Trata-se de dois corpos de conhecimentos únicos e que não são passíveis de integração. b. É importante integrar aprendizagem organizacional e competências organizacionais para que uma organização desenvolva competências essenciais. c. É importante integrar aprendizagem organizacional e competências organizacionais para que uma organização desenvolva capacidades dinâmicas. d. Aprender no âmbito das organizações é uma competência. É importante que haja integração, pois aprender constantemente permite o desenvolvimento organizacional, formar gestores e fazer com que as organizações sobrevivam e se expandam com o passar do tempo. Aprendizagem organizacional e competências organizacionais podem, e devem, ser integradas. MBA em Gestão de RH | Modelos de Aprendizagem e Competência | Integração entre aprendizagem e competências 14 Referências BARNEY, J. B. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, 17, p.99-120, 1991. DOUGHERTY, D. Interpretive barriers to successful product innovations in large firms. Organ. Sci., v.3(2), p.179-202, 1992. FIOL, C. M. Managing culture as a competitive resource: an identity-based view of sustainable competitive advantage. Journal of Management, 1991. HAMEL, G. Competition for competence and inter-partner learning within international strategic alliances. Strategic Management Journal, v.12 (Summer), 1991. MILES, R. E., SNOW, C. C. Organizational strategy: structure and process. New York: Mc Graw Hill, 1978. NONAKA, I. Criação de conhecimento na empresa. RODRIGUES, A. B., CELESTE, P. M. (trad.). Rio de Janeiro: Campus, 1997. PORTER, M. Competitive advantage: creating and sustaining superior performance. New York, The Free Press, 1985. RUAS, R. Desenvolvimento de competências gerenciais e contribuição da aprendizagem organizacional. In: FLEURY, M. T. L., OLIVEIRA JUNIOR, M. M. (Orgs.). Gestão estratégica do conhecimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas, 2001. SPENCER JUNIOR, L. M., SPENCER, S. M. Competence at work: models for superior performance. New York: John Wiley & Sons, 1993.
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