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ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL -------------------------------------------------------------- EXECUÇÃO PENAL SEMANA 11 SINOPSE DE ESTUDO #SouPlenus #MagistraturaMeEspera #TôDentro 2 MAGISTRATURA ESTADUAL SUMÁRIO Capítulo 1 – AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA ............................................................................................ 3 1.1. PERMISSÕES DE SAÍDA .............................................................................................................. 3 1.2. SAÍDAS TEMPORÁRIAS ............................................................................................................... 5 3 MAGISTRATURA ESTADUAL Capítulo 1 – AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA A autorização de saída é gênero, do qual são espécies a permissão de saída (art. 120 e 121 da LEP) e a saída temporária (art. 122 a 125 da LEP). Trata-se de direito do preso e tem por escopo o restabelecimento gradual do contra- to com os familiares e o mundo exterior, visando a reintegração social. 1.1. PERMISSÕES DE SAÍDA A permissão de saída funda-se em razões humanitárias e visa permitir que o ree- ducando, que cumpra pena no regime fechado ou semiaberto, bem como o preso provisório, saia do estabelecimento prisional, mediantes escolta, nas hipóteses legais, previstas de forma taxativa. Será concedida pelo diretor do estabelecimento pelo tempo necessário para o cum- primento da finalidade para a qual foi concedida. A Lei de Execução Penal prevê, em seu art. 120, as hipóteses de permissão de saída: Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou se- miaberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos: I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão; II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14). Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso. A hipótese do inciso I é destinada ao acontecimento do evento morte ou do evento doença grave, desde que estas sejam devidamente comprovadas. Também há de se comprovar a relação familiar, através de certidão de nascimento, casamento, ou através de outro meio de prova, incluindo neste termo as uniões estáveis. A previsão do inciso II trata de situação em que o estabelecimento penal não está aparelhado para prover a assistência médica necessária ao preso, impondo-se que seja ela prestada em outro local. Por conseguinte, não será concedida a permissão de saída se houver no estabeleci- mento estrutura adequada ao tratamento do preso. 4 MAGISTRATURA ESTADUAL O benefício da permissão de saída é destinado aos apenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto, bem como aos presos provisórios. Para os presos do regime aberto não há previsão legal da concessão do benefício. Este benefício, ressalte-se, não constitui direito subjetivo do reeducando, devendo ser avaliada a situação concreta, de acordo com a pertinência e a razoabilidade da concessão. Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. SAÍDA TEMPORÁRIA. VISITAÇÃO PE- RIÓDICA AO LAR. NECESSIDADE DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS ELENCADOS NO ART. 123 DA LEP. ADEQUAÇÃO AO REGIME SEMIABERTO NÃO AFERIDA. COMPATIBILIDADE DA BENESSE COM OS OBJETIVOS DA PENA. MAIORES INCURSÕES QUE DEMANDARIAM REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-COMPROBATÓRIO. ORDEM DENEGADA. I. O ingres- so no regime prisional semiaberto é apenas um pressuposto que pode, eventualmente, legitimar a concessão de autorizações de saídas em qualquer de suas modalidades - permissão de saída ou saída temporá- ria - sem, contudo, caracterizar um direito subjetivo do reeducando à obtenção de alguma dessas benesses, devendo o juízo das execuções criminais avaliar, em cada caso concreto, a pertinência e a razoabilida- de em deferir a pretensão. II. Hipótese em que o Magistrado de 1º grau ponderou que a concessão do benefício da visitação periódica ao lar, naquela ocasião, não se coadunava com o objetivo da pena, devendo o pleito ser reavaliado posteriormente, em decisão proferida há menos de 05 meses da progressão do apenado ao regime semiaberto. III. Benefício que somente pode ser concedido desde que configuradas as condições específicas previstas na legislação da regência, de ordem subjetiva e ob- jetiva, que devem ser detidamente sopesadas pelo Juízo das Execuções, levando-se em consideração, igualmente, a gravidade dos delitos prati- cados e a pena restante a ser cumprida (Precedente). IV. A análise mais aprofundada do tema demandaria aprofundado exame do conjunto fá- tico-probatório dos autos, peculiar ao processo de conhecimento, inviá- vel em sede de habeas corpus, remédio jurídico-processual, de índole constitucional, que tem como escopo resguardar a liberdade de locomo- ção contra ilegalidade ou abuso de poder, marcado por cognição sumá- ria e rito célere. V. Ordem denegada, nos termos do voto do Relator. (STJ, Habeas Corpus 170197/RJ, DJ 20.06.2012) O benefício tem natureza administrativa, sendo concedido pelo diretor do estabele- cimento em que se encontra recolhido o preso, conforme parágrafo único, do art. 120, da Lei de 5 MAGISTRATURA ESTADUAL Execução Penal. Não obstante, o benefício poderá ser pleiteado ao juízo da execução, caso seja nega- do ilegalmente pela via administrativa. Por fim, prevê o art. 121 da Lei de Execução Penal: Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá a dura- ção necessária à finalidade da saída. Nesse sentido, confira-se Rogério Sanches: “Tem como características: 1) existência de escolta policial; 2) inexis- tência de prazo predeterminado. O diretor do estabelecimento deverá avaliar o tempo estritamente necessário para o preso ficar fora do esta- belecimento, com base na finalidade de sua saída”. 1.2. SAÍDAS TEMPORÁRIAS A saída temporária é outra espécie das autorizações de saída, sendo concedida aos reeducandos em regime semiaberto. As saídas temporárias visam a reintegração do apenado a sociedade, através do re- torno gradual do preso ao convívio social. O objetivo do benefício é o fortalecimento de valores éticos-sociais, estreitamento de laços familiares e sociais, em busca da ressocialização. As hipóteses nas quais são permitidas a saída temporária estão previstas no art. 122 da Lei de Execução Penal: Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto po- derão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: I - visita à família; II - frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instru- ção do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; III - participação em atividades que concorram para o retorno ao conví- vio social. Parágrafo único. A ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução. 6 MAGISTRATURA ESTADUAL Prevê o inciso I autorização para saída temporária com a finalidade de visitar pessoa da família, não sendo a hipótese restrita ao cônjuge, ascendentes, descendentes, mas restando aberta a todos entes familiares, bastando que com eles o apenado mantenha laços de afeto. A hipótese do inciso II concilia-se com regras constitucionais que asseguram o direito à educação para todos, conforme preceitua o art. 205 da Constituição da República: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Já o inciso III visa consagrar o real objetivo do benefício, qual seja,a integração do apenado ao convívio social. Nas saídas temporárias, os beneficiados não se condicionam à vigilância direta ou escolta. No entanto, poderá haver o monitoramento eletrônico, conforme parágrafo único, do art. 122, e art. 146-B, ambos da Lei de Execução Penal. Apesar de a lei se referir apenas a concessão do benefício, aos presos do regime se- miaberto, há entendimento pela possibilidade de concessão do benefício aos presos do regime aberto, tendo em vista que não há motivos para excluir de sua concessão aqueles indivíduos que se encontram em regime mais benéfico e, por consequência, mais condizente com o obje- tivo do instituto. Diferentemente, os presos do regime fechado não têm direito ao benefício, haja vista total incompatibilidade entre os institutos. Acerca do tema, vejamos entendimento do Superior Tribunal de Justiça: HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DA PENA. PROGRESSÃO. LATROCÍNIO. RE- GIME SEMIABERTO INDEFERIDO. LAUDO DESFAVORÁVEL EM INSPEÇÃO TÉCNICA. COMPROVADA AUSÊNCIA DE MÉRITO. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. BENESSE INCOMPATÍVEL COM O REGIME FECHADO. ILEGALIDADE NÃO CONFIGURADA. ORDEM DENEGADA. 1. O art. 112 da Lei de Execução Pe- nal, alterado pela Lei n. 10.792/2003, estabelece que o sentenciado que cumprir 1/6 da pena no regime mais severo e apresentar bom compor- tamento carcerário, atestado pelo Diretor do estabelecimento prisional, terá direito à progressão de regime. 2. A prescindibilidade de sujeição do apenado à inspeção técnica pode ser afastada em decisão que evi- 7 MAGISTRATURA ESTADUAL dencie, com amparo nas peculiaridades do caso concreto, a necessidade de uma melhor análise quanto ao preenchimento do requisito subjetivo pelo sentenciado. 3. No caso dos autos, as instâncias ordinárias funda- mentaram com base em parecer técnico desfavorável o não atendimento ao requisito subjetivo, o que obsta o abrandamento do sistema prisional pretendido. 4. Mantido o modo fechado, mostra-se inviável o atendi- mento do pleito referente às saídas temporárias, visto que tal benefí- cio é incompatível com o regime mais severo, a teor do art. 122 da LEP. Precedente. 5. Ordem denegada. (STJ - HC: 114088 RS 2008/0186375-1, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 04/05/2010, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/06/2010) Acerca da autorização para a saída temporária, determina o art. 123 da Lei de Execu- ção Penal: Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da exe- cução, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos: I - comportamento adequado; II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. Conforme expressa previsão do caput do artigo supramencionado, a autorização será concedida pelo juiz da execução, mediante ato motivado, não podendo ser deferido de forma automática. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a Administração Penitenciária. Com efeito, o legislador instituiu requisitos a serem observados pelo juiz da execução quando da análise de concessão do benefício: o comportamento adequado; o cumprimento mínimo de 1/6 da pena, se o condenado for primário, e 1/4, se reincidente; e a compatibilidade do benefício com o objetivo da pena. O comportamento adequado é o requisito subjetivo. Deve ser aferido a partir de in- formações prestadas pela administração penitenciária, com base no comportamento do ape- nado. O requisito previsto pelo inciso II, do art. 123 da Lei de Execução Penal, é o requisito objetivo, constituindo o lapso temporal que o apenado deve se submeter antes de pleitear o benefício. 8 MAGISTRATURA ESTADUAL Note-se que, encontrando-se o apenado no regime semiaberto, ainda que o requisito objetivo tenha sido cumprido em outro regime, este poderá pleitear o benefício. De acordo com a jurisprudência, o requisito temporal de cumprimento mínimo de 1/6 da pena, previsto no art. 123, II, da Lei de Execução Penal, para efeito de concessão de be- nefícios próprios ao regime prisional semiaberto, não se aplica aos que nele ingressarem pela progressão de regime, porquanto já cumprido no regime anterior fechado, que deve ser com- putado. STJ, Súmula 40: “Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena no re- gime fechado.” Ressalte-se que o simples fato de o condenado que cumpria pena no regime fechado ter ido para o regime semiaberto não significa que, automaticamente, ele terá direito ao benefí- cio da saída temporária. Isso porque o juiz deverá analisar se ele preenche os demais requisitos do art. 123 da LEP (STJ. 6ª Turma. RHC 49.812/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julga- do em 06/11/2014). O requisito do inciso III requer averiguar se o condenado está apto a ser reinserido na sociedade. Busca-se investigar se, de acordo com as características do condenado, este poderá ter chances de ser reintegrado à sociedade. Acerca do prazo que o benefício deve ser limitado, estabelece o art. 124, da Lei de Execução Penal: Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano. Em brilhante síntese, confira-se Rogério Sanches: “As autorizações de saída temporária para visita à família e para partici- pação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige tal intervalo”. Discute-se se há possibilidade de considerar os dias totais que podem ser concedi- dos ao beneficiário como limite a ser observado, ainda que ultrapasse as 5 vezes que o apenado poderá obter o benefício conforme a lei. 9 MAGISTRATURA ESTADUAL Como regra, no total, o preso poderá obter até 5 (cinco) autorizações de saída tempo- rária por ano, não podendo exceder cada uma dela a 7 (sete) dias. Quando se tratar de saída temporária para estudo, o prazo será o necessário para o exercício da atividade discente. Atenção ao que vem decidindo a jurisprudência sobre o tema: As autorizações de saída temporária para visita à família e para partici- pação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo pre- visto no art. 124, § 3º, da LEP. STJ. 3ª Seção. REsp 1544036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 590). A contagem do prazo do benefício de saída temporária de preso é feita em dias e não em horas. O apenado pedia que o prazo para a saída tem- porária fosse computado em horas. Segundo alegou, ele só é liberado do presídio às 12 horas do primeiro dia do benefício, o que lhe é prejudicial, já que assim ele perde algumas horas e, na prática, usufrui de apenas 6 dias e meio. A 2ª Turma do STF entendeu que, na esfera penal, a conta- gem do prazo é feita em dias (art. 10 do CP), não sendo possível fazê-la em horas. CP/Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. STF. 2ª Turma. HC 130883/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/5/2016 (Info 828). Respeitado o limite anual de 35 dias, estabelecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a concessão de maior númerode autorizações de curta duração (STJ. 3ª Seção. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julga- do em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 590). Parte da doutrina, incluindo Renato Marcão, filia-se ao entendimento de que não po- derá haver a compensação de dias. Assim, se o apenado gozou uma saída de três dias, e outras quatro de 7 dias, não lhe assistirá o direito a outras autorizações, tendo em vista o limite de 5 autorizações por ano. Outra corrente afirma a possibilidade de se considerar a limitação das saídas em dias, ainda que ultrapasse o limite de 5 autorizações de saída por ano. 10 MAGISTRATURA ESTADUAL Este último entendimento tem sido o adotado nos tribunais, compreendendo-se que a melhor leitura do artigo é no sentido de que não existe nenhum óbice ao uso do saldo de dias remanescentes para a concessão de novos benefícios, conforme decisão do Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL Nº 1.176.264 - RJ (2010/0008856-4) RELATORA: MI- NISTRA LAURITA VAZ RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RECORRIDO: M DA S M (PRESA) ADVOGADO : ELISON TEIXEIRA DE SOUZA - DEFENSOR PÚBLICO E OUTROS RECURSO ESPE- CIAL REPETITIVO. EXECUÇÃO PENAL. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. LIMITAÇÃO DA QUANTIDADE DE DIAS. PROCESSAMENTO NOS TERMOS DO ART. 543- C DO CPC E DA RESOLUÇÃO Nº 08/STJ. DECISÃO Vistos etc. Trata-se de re- curso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitu- cional, em face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça daquela Unidade Federativa. O Juízo da Vara de Execuções Penais do Estado do Rio de Janeiro deferiu pedido de saídas temporárias de M DA S M, esta- belecendo-as em duas vezes por mês, de modo a não embaraçar even- tual atividade laborativa, bem como por ocasião do seu aniversário, do dia das mães e dos pais, da Páscoa e das festas do final do ano (Natal e Ano Novo), até o limite de 35 (trinta e cinco) saídas anuais, nos termos do art. 124 da Lei de Execuções Penais. Irresignado, o Parquet interpôs agravo em execução, sustentando a cassação da decisão agravada, por- quanto foram deferidas saídas em número superior às cinco anuais pre- vistas na Lei de Execuções Penais, ressaltando o fato de o apenado ser condenado pela prática de crime hediondo. Apontou ainda a possibili- dade de pernoite do apenado já na primeira noite. O Tribunal de origem, por unanimidade, negou provimento ao recurso ministerial nos seguin- tes termos: “AGRAVO EM EXECUÇÃO. VISITAS PERIÓDICAS À FAMÍLIA. DISCIPLINA JUDICIAL PRÉVIA. QUANTIDADE DAS SAÍDAS E TOTALIDADE DE DIAS ANUAIS. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNANIMIDA- DE.É legalmente possível que o juiz estabeleça um regramento prévio para as visitas periódicas do preso à sua família, desde que respeitado o total anual de dias. A modalidade, além de evitar o emperramento do processo de execução com a multiplicidade de pedidos para cada saída, formulados por diversos condenados, possibilita um retorno gradual da pessoa ao seu meio familiar e social, sem acarretar, inclusive, maior im- pacto financeiro aos seus. E, o que também é importante, fortalece os vínculos que deve haver entre a administração penitenciária e o juízo da execução, porque convoca a direção do estabelecimento à maior fiscali- zação das saídas do preso. Recurso conhecido e não provido. Unanimi- dade. (fls. 43) Irresignado, o Ministério Público local interpôs o presente 11 MAGISTRATURA ESTADUAL recurso especial, alegando que o acórdão recorrido violou o art.1244, caput, da Lei de Execuções Penais, bem como dissenso jurisprudencial, ao manter decisão que concedeu à reeducanda duas saídas ao mês, já com a devida autorização, uma vez que o mencionado dispositivo legal [...] limita as saídas ao máximo de TRINTA E CINCO DIAS e não, saídas POR ANO. (fl. 53). Por fim, requer a cassação do acórdão recorrido, para que sejam limitadas as saídas temporárias ao máximo de 07 dias, em até 05 vezes por ano. Foram apresentadas as contrarrazões (fls. 89/99). Diante da multiplicidade de recursos especiais que veiculam a matéria, o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com fulcro na Resolução n.0808/STJ, de 00808/2008, admitiu o presente re- curso especial como representativo da controvérsia e o encaminhou a esta Corte, tendo sido distribuído à minha relatoria, por prevenção ao REsp n.º 1099230/RJ, que trata do mesmo tema. É o relatório. Decido. Nos termos do art 2.º.º§ 2.º.º, da Resolução n.0808/2008 desta Corte e 543-C§ 2.º.º, do Código de Processo Civil, submeto o julgamento deste recurso especial à Terceira Seção, determinando, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a suspensão dos recursos nos quais a con- trovérsia esteja estabelecida e seja a questão central objeto dos recur- sos. Comunique-se, com o envio de cópias desta decisão, aos eminentes Ministros da Terceira Seção e ao ilustre Presidente do Tribunal de ori- gem, conforme o disposto no art. 2.º. º§ 2.º.º, da Resolução n.º 08/2008, suspendendo-se, ainda, o julgamento dos recursos especiais sobre o tema, a mim distribuídos. Após, abra-se vista dos autos ao Ministério Público Federal pelo prazo de quinze dias, nos termos dos arts 543-C-C§ 5.º.º, do CPC e 3.º, inciso II, da Resolução/STJ n.º 08/2008. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 14 de outubro de 2010. MINISTRA LAURITA VAZ Relatora. (STJ - REsp: 1176264, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Publicação: DJ 08/11/2010). Destaque-se, ainda quanto aos prazos, que, na hipótese de concessão do benefício em virtude de frequência em curso profissionalizante, de instrução de ensino médio ou supe- rior, não se aplica a restrição do limite de dias do benefício, nem a restrição de intervalo mínimo entre os benefícios, conforme art. 124, § 2° e 3°, da Lei de Execução Penal. A autorização de saída temporária é ato de competência privativa do juiz da execu- ção (arts. 66, IV, e 123 da LEP), devendo a decisão ser motivadas, com a prévia oitiva do Ministé- rio Público e administração penitenciária. STJ, Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da exe- cução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional. 12 MAGISTRATURA ESTADUAL O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo das Execuções, não se lhe permitindo delegar à autoridade prisional a escolha das datas específicas nas quais o apenado irá usufruir os benefícios (STJ. 3ª Seção. REsp 1544036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 590). “Primeira tese: É recomendável que cada autorização de saída temporá- ria do preso seja precedida de decisão judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por deficiência exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do apenado e no esco- po ressocializador da pena, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de fixação de calendário anual de saídas temporárias por ato judicial único, observadas as hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP. Segunda tese: O calendário prévio das saídas temporá- rias deverá ser fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo das Execuções, não se lhe permitindo delegar à autoridade prisional a escolha das datas es- pecíficas nas quais o apenado irá usufruir os benefícios. (STJ. 3ª Seção. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 590)”1. Ademais, o legislador estabeleceu condições que, obrigatoriamente devem ser ob- servados pelo beneficiado, nos termos do art. 124, § 1°, da Lei de Execução Penal: Art. 124 (...) § 1° Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições, entre outras que entendercompatíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do condenado: I - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo do benefício; II - recolhimento à residência visitada, no período noturno; III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres. Não obstante a presença dessas condições legais, poderá o magistrado, de acordo com o caso concreto, estabelecer outras condições compatíveis, sendo essas as condições judi- ciais ou facultativas. Tais condições, seja legal ou judicial, são de observância obrigatória por parte dos beneficiados, sob pena de revogação do benefício, e reconhecimento de prática de falta grave. A revogação do benefício se dá nos termos do art. 125 da Lei de Execução Penal: 1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Competência do juiz da execução para fixação do calendário prévio de saídas temporárias. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/ detalhes/971eb27c6345932b82b70414028d7183>. Acesso em: 15/04/2018. 13 MAGISTRATURA ESTADUAL Art. 125. O benefício será automaticamente revogado quando o conde- nado praticar fato definido como crime doloso, for punido por falta gra- ve, desatender as condições impostas na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso. Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no processo penal, do cancelamento da punição discipli- nar ou da demonstração do merecimento do condenado. Além das hipóteses de revogação acima destacadas pelo art. 125, caput, também poderá ocorrer a revogação do benefício da saída temporária em caso de violação injustificada e comprovada dos deveres relativos à monitoração eletrônica, conforme expressa previsão do art. 146-C, parágrafo único, inciso II, da Lei de Execução Penal. Verifica-se que a revogação ocorre automaticamente quando constatada a ocorrên- cia de quatro situações, quais sejam: prática de fato definido como crime doloso; punição por falta grave; desatendimento as condições impostas na autorização; baixo grau de aproveita- mento do curso. Saliente-se que a revogação automática poderá ser ordenada de ofício pelo juiz da execução. Tal prática é legal, não violando o princípio da presunção de inocência, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO QUALIFICADO. EXECUÇÃO. SAÍDA TEMPORÁ- RIA. VISITA PERIÓDICA AO LAR. NÃO RETORNO AO SISTEMA PRISIONAL. REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO POR MAU COMPORTAMENTO. POSSIBILIDA- DE. ORDEM DENEGADA. I. Alegação de submissão do paciente a cons- trangimento ilegal, por ter sido revogado o benefício da visita periódica ao lar anteriormente deferido. II. O Juízo das Execuções pode invocar a evasão do apenado do sistema prisional como motivação idônea para revogar o benefício da visita periódica ao lar, independentemente do exaurimento do procedimento administrativo disciplinar, pois eviden- ciado o seu propósito de se furtar ao cumprimento da pena, demons- trando não possuir bom comportamento, requisito subjetivo exigido para o deferimento do favor legal. III. Ordem denegada. (STJ - HC: 33683 RJ 2004/0017624-2, Relator: Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento: 21/06/2005, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 01/07/2005 p. 571) Por fim, merece atenção o parágrafo único do art. 125 da Lei de Execução Penal, o qual prevê a possibilidade de recuperação do direito à saída temporária, ainda que praticada alguma das condutas revogadoras. 14 MAGISTRATURA ESTADUAL Esta recuperação equivale a uma nova autorização de saída temporária, e ocorrerá, nos termos da lei: se o condenado que teve o benefício revogado por prática de crime doloso for absolvido no processo penal; se o condenado que praticou falta grave e teve esta punição disciplinar cancelada por decisão administrativa ou disciplinar; se demonstrar o mérito do con- denado. Note-se que a nova autorização de saída mediante a recuperação do direito está con- dicionada a prévia oitiva do Ministério Público e da Administração Penitenciária, devendo a decisão judicial ser devidamente motivada. Além disso, não se exige que o condenado cumpra mais 1/6 de pena se primário, ou 1/4, se reincidente, para a obtenção de nova saída. Rogério Sanches traz importante tabela comparativa entre as hipóteses de autoriza- ção de saída: Autorização de Saída Permissão de Saída Saída Temporária Beneficiários Condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios Condenados que cumprem pena em regime semiaberto, desde que: a) apresentem comportamento adequado b) cumprimento mínimo de um sex- to da pena, se o condenado for pri- mário, e um quarto, se reincidente (deverá ser computado o tempo de duração no regime fechado - Sú- mula 40 do STJ) c) compatibilidade do benefício com os objetivos da pena Hipóteses I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascenden- te, descendente ou irmão; II - necessidade de tratamento mé- dico (abrange odontológico de ur- gência). I - visita à família; II - frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do segundo grau ou su- perior, na comarca do Juízo da Exe- cução; III - participação em atividades que concorram para o retorno ao conví- vio social. 15 MAGISTRATURA ESTADUAL Características Existência de escolta policial - VIGI- LÂNCIA DIRETA Não há escolta. A ausência de vigi- lância direta não impede a utiliza- ção de equipamento de monito- ração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execu- ção (parágrafo único do art. 122) - VIGILÂNCIA INDIRETA. 0 juiz imporá ao beneficiário, entre outras, as seguintes condições: 1 - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado duran- te o gozo do benefício II - recolhimento à residência visita- da, no período noturno III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres Prazo Inexistência de prazo predetermi- nado (a duração será a necessária à finalidade da saída) - art. 121 Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instru- ção de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das ativida- des discentes. Nos demais casos, a autorização de saída será concedi- da por prazo não superior a 7 dias, podendo ser renovado por mais 4 vezes durante o ano, com prazo mí- nimo de 45 dias entre uma e outra. Autoridade Competente A autoridade que concede é a ad- ministrativa (diretor do estabeleci- mento), podendo o juiz suprir a or- dem, quando negada ilegalmente. Quem concede o presente benefí- cio é o Juiz, depois de ouvido o Mi- nistério Público e a Administração Penitenciária (atestar bom compor- tamento). Revogação A lei não prevê hipóteses de revo-gação O benefício pode ser revogado (art. 125 da LEP). 16 MAGISTRATURA ESTADUAL COMO ESTE ASSUNTO É COBRADO EM PROVA: QUESTÃO 01 Ano: 2011/ Banca: FCC/ Órgão: TJ-PE/ Prova: Juiz Podem obter autorização para saída temporária os a) condenados que cumpram pena em regime semiaberto. b) presos provisórios e os condenados que cumpram pena em regime fechado ou semiaberto. c) presos provisórios e os condenados que cumpram pena em regime semiaberto. d) condenados que cumpram pena em regime fechado ou semiaberto. e) presos provisórios e os condenados que cumpram pena em regime aberto. QUESTÃO 02 Ano: 2014/ Banca: FCC/ Órgão: MPE-PE/ Prova: Promotor de Justiça No tocante às autorizações de saída, pode-se assegurar que a) a autorização de saída temporária será concedida por ato motivado do juiz da execução, ouvida unicamente a administração penitenciária. b) apenas os condenadosque cumprem pena no regime fechado poderão obter permissão para sair do estabelecimento em virtude de falecimento ou doença grave do cônjuge, compa- nheira, ascendente, descendente ou irmão. c) indevida a determinação de utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo con- denado durante saída temporária, possível apenas como medida cautelar diversa da prisão. d) apenas os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão obter autoriza- ção para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, para visita à família. e) os presos provisórios não poderão obter permissão de saída do estabelecimento. GABARITO: 1- A; 2 – D.
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