Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Curso Ênfase © 2019 EXECUÇÃO PENAL – FELIPE ALMEIDA AULA16 - AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA (PERMISSÃO DE SAÍDA - SAÍDA T EMPORÁRIA) 1. AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA A Lei de Execução Penal (LEP) trata do instituto da autorização de saída, que consiste em hipóteses em que o preso poderá sair do complexo prisional para realizar determinadas atividades. Essa autorização é considerada como gênero, possuindo duas espécies: (i) permissão de saída, prevista nos arts. 120 e 121, e (ii) saída temporária, disciplinada nos arts. 122 e seguintes. 1.1 PERMISSÃO DE SAÍDA A lei de execução penal disciplina, em seus artigos 120 e 121, o instituto da permissão de saída. A permissão de saída é o instituto que consiste na autorização para os presos do regime fechado ou semiaberto sair temporariamente do complexo prisional, mediante escolta, em razão do (i) falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão ou para (ii) necessidade de tratamento médico: Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos: I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão; II - necessidade de tratamento médico [§2º do art. 14]. Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso. Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à finalidade da saída. (LEP) Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. § 1º (Vetado). § 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. Execução Penal – Felipe Almeida Aula16 - Autorizações de Saída (Perm issão de Saída - Saída Temporária) 2 Curso Ênfase © 2019 § 3o Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré- natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido. (LEP) Observa-se que os destinatários da permissão de saída são os presos condenados que estão no regime fechado ou semiaberto, e os presos provisórios (cautelares) que estão aguardando recolhidos o julgamento da ação penal, não abarcando os presos do regime aberto, em vista que os presos que ainda cumprem pena em casas de albergado permanecem recolhidos apenas oito horas por dia, não havendo a necessidade de permissão de saída, uma vez que já podem sair das unidades todos os dias. A autoridade competente para conceder a permissão de saída é o diretor do estabelecimento prisional, conforme previsto no parágrafo único do art. 120 e § 2º do art. 14, consiste em um ato administrativo devidamente fundamentado, não necessitando de decisão judicial. AT ENÇÃO: o professor sinaliza que diversos autores consideram que o direito de execução penal ainda possui uma natureza mista/híbrida, com a coexistência de atos jurisdicionais e administrativos. Na hipótese do artigo 120, parágrafo único, a doutrina justifica a posição da natureza ser híbrida, uma vez que o diretor do estabelecimento prisional (autoridade administrativa) é a autoridade competente para conceder a permissão de saída. É imprescindível que na permissão de saída haja a denominada vigilância direta, ou seja, a escolta. A exigência da escolta é o maior inviabilizador da autorização do trabalho externo de presos em regime fechado. Da mesma forma, inviabiliza a concessão da permissão de saída, na medida em que as administrações penitenciárias, em sua maioria, possuem número reduzido de agentes para que possa haver a segurança do estabelecimento prisional e das pessoas que exercem sua atividade laborativa. Conforme art. 121, não há tempo máximo ou mínimo de duração da saída, devendo ser o necessário para cumprir a finalidade com a qual foi concedida, seja para atendimento médico, acompanhamento de atividades fúnebres ou visita à familiar gravemente doente. 1.2 SAÍDA T EMPORÁRIA Execução Penal – Felipe Almeida Aula16 - Autorizações de Saída (Perm issão de Saída - Saída Temporária) 3 Curso Ênfase © 2019 A saída temporária consiste em uma espécie do gênero autorização de saída, porém jamais pode ser confundida com a permissão de saída, em vista que enquanto esta é ato administrativo, a saída temporária corresponde a um direito execucional, ou seja, a um direito público subjetivo do apenado. Logo, apenas poderá ser concedida pela autoridade judicial. Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: I - visita à família; Hipótese mais comum, uma vez que apenas é exigida a existência de família. Existe uma controvérsia nos tribunais superiores com relação a expressão "família", se esta corresponderia apenas a unidade familiar composta de ascendente, descendente e colateral até o terceiro grau ou se poderia ser considerado também outros vínculos não-parentais do condenado. É sabido que no sistema penitenciário, diversos encarcerados não recebem visita de seus familiares, seja por não possuírem ou por terem sido abandonados em razão do crime cometido, recebendo visitas tão somente de pessoas consideradas amigas, ou seja, de pessoas que não integram o núcleo familiar definido no Código Civil. Portanto, por vezes, cria-se laços de amizade que se estendem durante o cumprimento de pena, como por exemplo, a visita de missionários religiosos aos condenados por crimes violentos ou delitos sexuais. Muitos tribunais estaduais afastam a possibilidade de considerar como família, por exemplo, pessoas amigas que prestem assistência material ao condenado, entendendo que a lei autorizou tão somente a família, não pessoas amigas. Entretanto, o informativo de jusrisprudência nº 472 do STJ trata do caso de um sujeito condenado a 30 anos de reclusão por estupro seguido de morte que foi abandonado pela família e, por aproximadamente 10 anos recebia apenas a visita de um missionário religioso. Quando o condenado progrediu para o regime intermediário, postulou autorização de saída temporária para visitar o missionário religioso, sendo negado pela vara de execuções penais e mantida a negativa pelo tribunal de origem. Execução Penal – Felipe Almeida Aula16 - Autorizações de Saída (Perm issão de Saída - Saída Temporária) 4 Curso Ênfase © 2019 Contudo, com a impetração de habeas corpus junto ao STJ, este decidiu no informativo que não poderia a expressão "família" ser interpretada na literalidade, em vista que a autorização de saída temporária é um dos direitos que mais se aproxima dos objetivos da execução penal que é a prevenção especial positiva, objetivando a harmônica integração social do condenado e internado, isto é, reviver ou estreitar laços familiares que não ficam adstritos ao núcleo familiar. II - frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; Saída temporária para fins de estudo, exigindo-se a matrícula. III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. Corresponde ao trabalho externo ou extramuros, sendo direito do preso que cumpre pena em regime semiaberto sair para trabalhar todos os dias e retornar no horário de repouso noturno. Parágrafo único. A ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelocondenado, quando assim determinar o juiz da execução. (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010) Não se exige a vigilância direta na saída temporária, muito embora a lei de execução penal autorize a utilização de equipamento de monitoração eletrônica. Na prática, a maioria dos Estados não utilizam o aparato de vigilância indireta nas autorizações de saídas temporárias, destinando-se apenas às prisões domiciliares. Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos: Somente através do exercício da jurisdição será concedida a saída temporária. I - comportamento adequado; O bom comportamento carcerário é requisito comum a todos os direitos da execução. II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, Execução Penal – Felipe Almeida Aula16 - Autorizações de Saída (Perm issão de Saída - Saída Temporária) 5 Curso Ênfase © 2019 e 1/4 (um quarto), se reincidente; Há nesse inciso o mesmo requisito objetivo da progressão ordinária prevista no artigo 112. A efeito de exemplo, se o sujeito condenado ao regime fechado cumpre 1/6 da pena por se tratar de delito comum e alcança o regime intermediário/semiaberto através progressão de regime, não precisará cumprir mais outro 1/6 da pena para postular a autorização de saída temporária, em vista que caso houvesse essa exigência, já poderia o condenado progredir para o regime aberto, o que não faria sentido, portanto. SÚMULA 40 -STJ PARA OBTENÇÃO DOS BENEFÍCIOS DE SAÍDA TEMPORÁRIA E TRABALHO EXTERNO, CONSIDERA-SE O TEMPO DE CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME FECHADO. Dessa forma, o cumprimento de 1/6 pelo indivíduo para progredir para o regime semiaberto já supre o lapso exigido na lei para que possa postular a autorização de saída temporária. No entanto, se o indivíduo é reincidente, cumpre 1/6 da pena e alcança o regime intermediário, precisará esperar o implemento de 1/4 da pena para postular tal autorização, conforme artigo 123. O STJ, trabalhando com própria inteligência da Súmula nº 40, entende que as condenações em regime inicial semiaberto não necessitam do lapso de 1/6 da pena para que o condenado primário possa postular a autorização de saída temporária. Ressalta-se que, em relação a saída temporária, não há cálculos diferenciados para delitos hediondos ou equiparados, sendo analisado apenas a primariedade ou reincidência do condenado para sua postulação. III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. A autorização de saída temporária é um dos direitos que mais se aproxima dos objetivos da pena, que corresponde à efetivação das decisões criminais e a harmônica integração do condenado e do internado. Observa-se na jurisprudência a tendência de que nos delitos mais graves, hediondos ou com penas muito longas, como latrocínio, homicídio, extorsão mediante sequestro, são negadas as autorizações de saída temporárias, por se distanciar o lapso Execução Penal – Felipe Almeida Aula16 - Autorizações de Saída (Perm issão de Saída - Saída Temporária) 6 Curso Ênfase © 2019 temporal para a progressão de regime ou demais benefícios que o condenado possa fazer jus no direito da execução. Nesses casos concretos, entende-se que as autorizações de saída não seriam compatíveis com os objetivos da pena. No entanto, há controvérsias sobre o assunto. Na doutrina, diversos autores se posicionam contra esses entendimentos jurisprudenciais, afirmando que há ofensa ao princípio da legalidade (analogia in malam parte), não havendo nenhum obstáculo legal para a concessão do direito de saída temporária para condenados com penas altas ou por crimes hediondos. As autorizações de saída são noticiadas comumente pela mídia como sendo indulto de natal ou são consideradas "saidões".
Compartilhar