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1 Carlos Renato Nogueira Mestre em neurofarmacologia (UFC) DOENÇA DE PARKINSON Diagnóstico e Tratamento 2 Um ensaio sobre a Paralisia Agitante Londres, 1817 • “Enfermidade caracterizada pela presença de movimentos tremulantes involuntários, diminuição da força muscular, tendência à inclinação do tronco para frente e alteração da marcha. Os sentidos e o intelecto são preservados.” James Parkinson 3 Doença de Parkinson Epidemiologia • Geral//, pctes. > 50 anos. Antes de 20 anos é rara (Parkinson Juvenil). Mais comum em homens. • Prevalência = 1 a 3 % da população > 65anos. • Incidência = 20 por 100.000 habitantes/ano. • Maior prevalência = América do Norte e Europa • Associações com vida rural, ingestão de água de poço, cultivo de vegetais, exposição a polpa de madeira e pesticidas (carece de fontes). 4 Anatomia Básica da D.P. • A habilidade em produzir movimento depende de um circuito motor complexo que envolve a subst. negra, os gânglios da base, núcleo subtalâmico, tálamo e o córtex cerebelar. Dopamina é o principal neurotransmissor desse circuito. • Na DP a produção de Dopamina está reduzida. • Há degeneração dos neurônios dopaminérgicos no tronco encefálico, principalmente, na sustância negra e no locus ceruleus. • Sintomas aparecem quando a subst. negra já perdeu 60% dos neurônios dopaminérgicos e o conteúdo de Dopamina é 80% inferior ao normal. 5 6 7 Anatomia Básica da D.P. Neuropatologia • Os neurônios sobreviventes, na substância negra e no locus ceruleus, contêm inclusões citoplasmáticas eosinofílicas conhecidas como Corpos de Lewy - a característica patológica da doença. 8 ETIOLOGIA DA DOENÇA DE PARKINSON • Genética ? • Toxinas exógenas ? • Toxinas endógenas ? • Estresse oxidativo ? I D I O P Á T I C A 9 SINAIS E SINTOMAS DA DOENÇA DE PARKINSON • Tremor em repouso • Rigidez • Bradicinesia - Hipocinesia • Postura fletida para frente • Perda dos reflexos posturais • Fenômeno de parada = “freezing” • Demência – Estágio Avançado. 10 TREMOR 70% casos • Pode estar presente em um ou mais membros. • É comum nos lábios, queixo e língua. • Geralmente, assimétrico. 4 a 5 ciclos/segundo • Ocorre, tipicamente, quando o membro está em repouso. Desaparece à ação, ressurgindo quando os membros mantêm uma postura. • Movimentos de “Contar dinheiro” • Amplitude aumenta em períodos de estresse ou quando pede-se ao paciente que realize alguma tarefa cognitiva • Desaparece durante o sono. 11 12 RIGIDEZ • Aumento do tônus muscular quando o examinador move os membros, o pescoço ou o tronco do paciente (movimentos passivos). • A rigidez é igual em todas as direções. 13 BRADICINESIA • Lentidão de movimentos, dificuldade em iniciar movimentos. • A face perde a expressão espontânea = Facies em máscara ou congelada - não traduz o estado emocional do paciente. • Diminuição do piscar. Facies em pomada. • Diminuição da movimentação espontânea = perda da gesticulação, tendência a ficar sentado, imóvel. • Rigidez cérea (como se fosse de cera). • A voz torna-se baixa (hipofonia), com um tom monótono. 14 BRADICINESIA • A bradicinesia da mão dominante leva a uma escrita lenta e com letra pequena (micrografia), dificuldade em fazer barba, escovar dentes, pentear o cabelo, abotoar roupas, maquiar, etc. • O andar é lento, com passos mais curtos e tendência a arrastar os pés. O balanço dos braços diminui. • Bradicinesia do tronco = Dificuldade em levantar-se de uma cadeira baixa, sair de automóveis e virar-se na cama. A bradicinesia é interpretada, erroneamente, pelos pacientes como fraqueza. 15 BRADICINESIA • A saliva escorre pelos cantos da boca devido à incapacidade para deglutir. ( Não há produção excessiva de saliva). • A deglutição pode alterar-se com o avanço da doença . Engasgos e aspirações são preocupações freqüentes. • Dissinergia óculo-cefálica = O doente ao dirigir os olhos para um determinado lado não acompanha com a cabeça o movimento dos olhos. É a característica mais limitante da doença. 16 POSTURA FLETIDA • A rigidez parkinsoniana confere ao doente uma atitude característica: Cabeça em ligeira flexão, tronco ligeiramente inclinado para frente, flexão moderada da perna sobre a coxa e do antebraço sobre o braço. 17 Cabeça em ligeira flexão, tronco inclinado para frente. 18 Como é feito o diagnóstico da D.P ? • Anamnese + exame neurológico. – Assimetria no início dos sintomas. – Presença de tremor de repouso. – Boa resposta à terapia dopaminérgica. • Não há exames de sangue que façam o diagnóstico. • RNM de encéfalo, nada revela de anormal. 19 Como é feito o diagnóstico da D.P. ? • PET Scan ( Tomografia por emissão de positron com flurodopa) – Índice útil da função dopaminérgica do corpo estriado. – Cara e de acesso restrito. • SPECT (Tomografia computadorizada com emissão de fóton único, que utiliza radio- isótopos que ligam-se ao transportador da Dopamina nos terminais nigroestriatais). 20 Como é feito o diagnóstico da D.P. ? • POSSÍVEL = Se uma das características estiver presente: Tremor, rigidez ou bradicinesia. • PROVÁVEL = Se duas das características estiverem presentes (tremor, rigidez, bradicinesia ou instabili - dade postural) . • DEFINITIVO = Se três das características estiverem presentes. 21 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Traumatismo Craniano • Lutadores de boxe podem desenvolver a síndrome demência + parkinsonismo + sinais piramidais e cerebelares. “Demência pugilística” • Concussões múltiplas podem causar Lesão Axonal Difusa secundárias às forças de aceleração-desaceleração. 22 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Parkinsonismo Vascular • Pacientes acometidos por infartos cerebrais múltiplos podem vir a sofrer uma progressão paulatina dos sintomas. • Acinesia e rigidez, sem tremor. • Só apresentam parkinsonismo quando estão em pé, andando. Sentados / deitados = motricidade normal. • Evidências clínicas de um AVC. • Uma TCC ou RNM encéfalo deve ser solicitada para a confirmação da doença. 23 TRATAMENTO DA D.P. • Visa o controle dos sintomas, porque nenhum tratamento farmacológico ou cirúrgico impede a progressão da doença. • A doença evolui de forma lenta. Demência pode ocorrer após longos anos. •Maioria se dá bem com a medicação por 4 a 6 anos. • A Levodopa é o tratamento gold standard ( É um precursor da Dopamina ; aumenta a concentração de Dopamina na corpo estriado). 24 I.M.A.O. • Inibidores da Monoamino Oxidase ( MAO = Responsável pelo catabolismo da Dopamina, no cérebro) • Selegilina (Niar®, Jumexil®, Deprilan®) 5 mg 2x/dia • Efeito dura 3 a 4 meses após interrupção da droga. • Retardam a degeneração neuronal, tornando mais lenta a progressão da doença. • inibe o metabolismo oxidativo da Levodopa e pode reduzir o estresse oxidativo e a formação de radicais livres. 25 • Retardam a degeneração neuronal, tornando mais lenta a progressão da doença. • Selegilina (Niar®, Jumexil®, Deprilan®) = IMAO, inibe o metabolismo oxidativo da Levodopa e pode reduzir o estresse oxidativo e a formação de radicais livres. 26 I.M.A.O. Medicamentos que devem ser evitados com os IMAO: • Inibidores da recaptação de serotonina (Citalopram, Fluoxetina, Paroxetina e Sertralina) • Antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos (maproptilina) • Opiáceos • Triptofano (Forten® ) SÍNDROME SEROTONINÉRGICA:Confusão, agitação, rigidez, hiperreflexia, tremores, mioclonias, febre, náuseas, diarréia, coma, rabdomiólise e morte . 27 Levodopa • Eficaz na redução da bradicinesia e da rigidez. • Efeito altamente variável sobre o tremor. • Complicações a longo prazo (4 a 8 anos) em 50% dos casos: – Flutuações motoras (deterioração fim de dose = degeneração neuronal diminui a capacidade de armazenar dopamina derivada da levodopa ) “On e off” – Discinesias (movimentos anormais involuntários) 28 Levodopa • Precursor da Dopamina = muitas náuseas e vômitos. • A administração concomitante de Inibidores de Decarboxilase Periférica (Carbidopa ou Benzerazida), reduz a decomposição periférica de Levodopa e permite que mais Levodopa cruze a barreira hematoencefálica Diminui a incidência de náuseas e vômitos. – Levodopa/carbidopa (Sinemet®, Cronomet®) – Levodopa/benzerazida (Prolopa®, Parkidopa®) • Iniciar 1/4 comp 2x/dia e aumentar a cada semana. 29 Domperidona • Antidopaminérgico periférico = Antagonista dos receptores dopaminérgicos, que não penetra no SNC. • É usado para evitar as náuseas da Levodopa e dos agonistas da Dopamina • Domperidona = Motilium® 30 Agonistas da Dopamina • Estimulam diretamente os receptores pós-sinápticos da Dopamina no corpo estriado. • Como coadjuvante da Levodopa. • Torna-se ineficaz como monoterapia dentro de, no máximo, 3 anos deve-se adicionar Levodopa. – Bromocriptina (Parlodel®) - 2,5 mg a 40 mg/dia – Pergolida (Celance®, Pergolide®) - 0,25 mg 3x/dia – Pramipexol (Sifrol®) -0,25mg a 4,5 mg/dia caros 31 OPÇÕES TERAPÊUTICAS Terapia Sintomática As medicações dopaminérgicas ( preparações com Levodopa e Agonistas da Dopamina ) não devem ser interrompidas abruptamente. SÍNDROME NEUROLÉPTICA MALIGNA 32 Liberador de Dopamina • Antiviral - demonstrou melhorar sintomas da DP em pctes. tratados para gripe asiática, na década de 60. • Aumenta a liberação de Dopamina ( bloqueia a recaptação de Dopamina nos terminais pré-sinápticos). • Adia o uso da Levodopa ou age como adjuvante. • Amantadina (Mantidan®) - 100 mg , 2 x/dia • Contra-indicada nas doenças renais (excr. urinária) 33 Anticolinérgicos • São eficazes na redução dos tremores. • Mínimos benefícios para rigidez e bradicinesia. • Uso limitado pelos efeitos colaterais = Confusão mental, alucinações, retenção urinária e taquicardia • Contra-indicações: Glaucoma e hipertrofia prostática • Efeitos colaterais : Secura na boca, constipação e borramento visual. • Triexifenidil = Artane® - 2 a 8 mg/dia • Biperideno = Akineton® - 2 mg, 3 a 4 x/dia 34 Inibidores da C.O.M.T. • COMT = Catecol-O-metiltransferase = Uma das principais enzimas responsáveis pelo metabolismo da Levodopa e da Dopamina. • Inibem o metabolismo periférico da Levodopa, aumentando sua disponibilidade central. • Efeito colateral tardio (4 a 12 semanas) = diarréia • Risco de lesão hepática (10 a 100 vezes maior) • Entacapone = Contam® • Tolcapone = Tasmar® Muito caros Anticolinesterásicos Anticolinesterásicos e antagonistas glutamatérgicos podem ser utilizados quando o quadro demencial se iniciar. (Rivastigmina (Exelon), Neostigmina) 35 36 OPÇÕES TERAPÊUTICAS Terapia Restauradora Transplante Fetal • Visam substituir os neurônios perdidos = Implante de tecido embrionário. • Células geneticamente criadas, células dopaminérgicas de animais e células de outras partes do corpo estão sendo desenvolvidas para transplante, com possíveis efeitos restauradores. • São cirurgias experimentais. Futuro 37 OPÇÕES TERAPÊUTICAS Cirurgia Extereotáxica • Comum nos anos 50 quando não havia terapia adequada (levodopa). Retomada na década de 80. • Candidatos: Pacientes refratários ao tratamento clínico, com incapacidade funcional. • Demência é contra-indicação formal. • Técnicas: – Neuroestimulação (marcapasso cerebral) – Cirurgia lesiva (destruição de um alvo para modificar sua função). Mortalidade = 1% • Talamotomia (tremor) • Palidotomias (bradicinesia, discinesias e rigidez)
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