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HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 1 2ª Fase OAB – Constitucional Prof. Ricardo S. Baronovsky Twitter: prof_rsanchez Instagram @ricardobaronovsky 2ª Fase OAB - Constitucional PARTES: I – IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL; II – PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL; III – MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO; e IV – FENÔMENOS CONSTITUCIONAIS LIGADOS À INTERPRETAÇÃO. 2 I – IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL Nasce do Neoconstitucionalismo / pós-positivismo; Decorre da Constitucionalização do Direito; Traz o Princípio da Força Normativa da Constituição; Permite compreender o teor da norma constitucional; Permite resolver o conflito entre normas constitucionais; Muito utilizada na jurisprudência do STF. 3 2ª Fase OAB - Constitucional II – PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 1) Princípio da Unidade da Constituição: Prega que a Constituição deve ser interpretada em sua globalidade (como um todo) e não isoladamente, de modo a afastar as antinomias (contradições de normas) aparentes. EXEMPLO1: Art. 215, “caput” (livre manifestação cultural) X Art. 225, § 1º, VII, ambos da CF/88 (proteção à fauna/crueldade animal). EXEMPLO2: Art. 5º, X (sigilo bancário) X Art. 145, § 1º, ambos da CF/88 (poder de investigação da Administração Tributária). 2) Princípio da Força Normativa e da Máxima Efetividade: A solução de conflitos deve buscar, sobretudo, a máxima efetividade das normas constitucionais. Ou seja, não há “letra morta” na Constituição. EXEMPLO1: Criação do Mandado de Injunção na CF/88. EXEMPLO2: Art. 37, VII, CF/88 (greve pelo servidor público). 4 3) Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade: São Princípios Gerais do Direito que tutelam a ideia da justiça, temperança, bom-senso, prudência, proibição de excessos. “Não se abatem pardais com canhões” (OAB/2005). EXEMPLO1: Limitação de idade em concursos públicos. EXEMPLO2: Restrição de tatuados em concursos públicos (exceto, se violar valores constitucionais, segundo o STF). 4) Princípio do Efeito Integrador: Visa favorecer a unidade/coesão/harmonia Política e Social do Estado Constitucional. Tutela, assim, a Unidade Constitucional (Princípio “mais específico” que o Princípio da Unidade da Constituição). EXEMPLO: Livro antissemita: gera o conflito da proteção da liberdade de pensamento X proibição do racismo e preservação do pacto federativo. 5 5) Princípio da Justeza ou da Conformidade Funcional: Recomenda que os julgadores não invertam (ou seja, observem fielmente) o esquema de Organização-Funcional da Constituição. Simplesmente: o julgador não pode mudar, por conta própria, o Sistema de Repartição das Competências Constitucionais. Princípio importante para o Controle de Constitucionalidade em face eventuais usurpações de competência (preservação do pacto federativo). EXEMPLO: SV n.º 38 (“Compete aos Municípios fixar o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais”). Exceção = Súmula 19, STJ (“A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União”). Exceção da Exceção = Compete aos Municípios legislar sobre serviços de comodidade bancário (ex.: tempo máximo de fila de espera no banco). 6 6) Princípio da Concordância Prática ou Harmonização: Os bens constitucionalmente tutelados devem coexistir harmoniosamente (devem ser apaziguados). Não existe hierarquia entre bens jurídicos constitucionais; um não poderá excluir o outro. *Critérios para aplicação do Princípio da Proporcionalidade (ou “da Proibição de Excessos”): a) Adequação (meio idôneo para buscar o objetivo); b) Necessidade (menor lesividade possível; imprescindibilidade dessa restrição) e c) Proporcionalidade em sentido estrito (equação para verificar se o meio utilizado é proporcional ao fim almejado). EXEMPLO1: Aborto dos Anencefálicos (ADPF 45). EXEMPLO2: Debate sobre o Aborto dos nascituros com Microcefalia? 7 2ª Fase OAB - Constitucional III – MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO 1) Métodos Jurídicos Clássicos: a) Interpretação Gramatical: É aquela que se preocupa exclusivamente com a análise literal da norma. EXEMPLO: Art. 18, § 1º, CF/88 (“Brasília é a Capital Federal”). b) Interpretação Sistemática: Parte-se para uma análise global (analisa-se mais de uma norma) para se alcançar o verdadeiro sentido da norma. EXEMPLO: Direito à saúde da Gestante + Dignidade da Pessoa Humana da Gestante = ADPF 54. c) Interpretação Teleológica: Analisa a finalidade da norma. EXEMPLO: Faculdade do voto para analfabetos (art. 14, § 1º, II, “a”, CF/88), que visa garantir a Universalidade do voto. 8 d) Interpretação Histórica: Analisa a norma jurídica no seu nascedouro – os debates e justificativas do processo legislativo. EXEMPLO: Art. 5º, XII, CF/88: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal” (Qual dos quatro sigilos deste artigo é passível de interceptação?). e) Interpretação Evolutiva: Representa a Mutação Constitucional. Alteração da interpretação da norma, sem alteração do texto (“estrutura física”) da norma. EXEMPLO: Art. 5º, XII, CF/88 (E o sigilo telemático?). 9 2) Métodos Jurídicos Modernos: a) Método Tópico-Problemático: O intérprete parte do caso concreto (específico) para a norma (geral) e a partir daquele se buscará uma justificativa na Constituição. “Pensamento Tópico” (a partir de vários casos concretos). A Constituição é um sistema aberto de princípios e regras. EXEMPLO: Analise de vários fetos anencefálicos = ADPF 54. b) Método Hermenêutico Concretizador: O intérprete faz o caminho oposto, parte da norma (geral) para o caso concreto (geral). O intérprete possui uma pré-compreensão da norma e a partir dela analisará os casos concretos. Supre as lacunas legais. EXEMPLO1: A partir da Dignidade da Pessoa Humana parte-se para a análise das diversas violações aos direitos humanos. EXEMPLO2: A partir do art. 230 parte-se para a análise da situação do idoso em risco. 10 c) Método Normativo-Estruturante: Exalta que há uma dissonância/divergência entre o Texto normativo e a realidade social. De modo bem simples: todas as normas constitucionais devem nascer de uma realidade social e não o contrário. “A realidade sobe pelo elevador e o Ordenamento a acompanha pela escada”. (Eros Grau). EXEMPLO1: Contexto pré-1988 que ensejou a elaboração de uma Constituição mais garantista e Redemocratizou o Estado. EXEMPLO2: Argumento de defesa do Uber (nova realidade). EXEMPLO3: No Futuro: Corrupção, Crise Hídrica, Segurança Pública. d) Método Científico-Espiritual: A análise da norma não se restringe a textualidade dela, devendo haver análise da realidade social e da evolução temporal de seu contexto. EXEMPLO: Art. 5º, XII, CF/88 (E o sigilo telemático?). e) Método da Comparação Constitucional: Analisa a norma à luz da comparação com os vários Ordenamentos Jurídicos estrangeiros. EXEMPLO: Maioridade Penal no mundo - Japão: 21 anos/EUA: 12 anos. Aproxima-se do chamado “Tranconstitucionalismo”. 11 IV – FENÔMENOS CONSTITUCIONAIS LIGADOS À INTERPRETAÇÃO 1) MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL: Visa analisar o verdadeiro sentido da norma perante à realidade e à evolução social. Altera-se a interpretação, sem alterar o texto (“estrutura física”) da norma. EXEMPLO1: Mutação do art. 226, § 3º, CF/88 (ADI 4277/DF). EXEMPLO2: Mutação do art. 5º, LXVII, CF/88 (depositário infiel). A Mutação Constitucional apresenta duas “espécies”: a) Interpretação Conforme (a Constituição): Diante de normas plurissignificativasou polissêmicas (são aquelas que possuem mais de uma interpretação) deve o intérprete optar pela exegese que mais se aproxime da Constituição. EXEMPLO: ADPF 187 (Marcha da Maconha) X art. 287 CP. b) Inconstitucionalidade Parcial sem Redução de Texto: Condena determinada interpretação, por afrontar à Constituição. Parecida com a anterior (mas não igual), assume uma dimensão “negativa” (desde que...). EXEMPLO: Aborto Anencefálico (ADPF 54) – “Declarar inconstitucional a interpretação que tipifica o aborto anencefálico. 12 2) RECEPÇÃO CONSTITUCIONAL: São as normas infraconstitucionais anteriores à Constituição que são incompatíveis materialmente com ela e, portanto, são revogadas (ou “não recepcionadas”). EXEMPLO: Artigos 594 e 595 do CPP (deserção da Apelação afrontava o princípio constitucional da Presunção de Inocência – Art. 5º, LVII, CF/88). *E se for formalmente inconstitucional com à Constituição Anterior? 3) INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE: (NÃO EXISTE NO BRASIL): Ocorreria no caso da norma infraconstitucional anterior à nova Constituição estar em confronto com esta. A “inconstitucionalidade” de uma norma somente poderia ser aferida para as normas POSTERIORES à nova Constituição (ADI). Para o STF: as normas infraconstitucionais anteriores ou são “recepcionadas” ou “não recepcionadas/revogadas” (ADPF). EXEMPLO: Sem exemplos. Fenômeno não aceito pela doutrina. 13 4) REPRISTINAÇÃO: (Em regra, NÃO EXISTE): Seria a “ressuscitação” da norma revogada, em razão da lei revogadora ter sido revogada (art. 2º, § 3º, LINDB). ≠ “efeito repristinatório”. EXEMPLO1: CF de 1946 previa “A” foi revogada pela CF de 1967. A CF de 1988 ao revogar a CF de 1967 não restabelecerá automaticamente “A”, salvo se o fizer expressamente. EXEMPLO2: Efeito Repristinatório (presente no Controle de Constitucionalidade, salvo se ocorrer a “eficácia repristinatória indesejada” – STF/2016). 5) DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO: (NÃO EXISTE NO BRASIL): Fenômeno que determinaria a recepção das normas constitucionais anteriores como normas infraconstitucionais, desde que compatíveis com a nova Constituição. Em verdade, a Constituição vigente ab-roga (revoga totalmente) a Constituição anterior. EXEMPLO: Sem exemplos. Fenômeno não aceito pela doutrina.14 6) INCONSTITUCIONALIDADE POR “ARRASTAMENTO”/ “ATRAÇÃO”: Determina automaticamente a inconstitucionalidade da norma (“acessória”) que for dependente da norma (“principal”) declarada inconstitucional. EXEMPLO: Uma norma penal em branco é declarada inconstitucional. Logo, uma portaria que a “complementasse” seria inconstitucional também. 7) INCONSTITUCIONALIDADE “EM TRÂNSITO”/LEI AINDA CONSTITUCIONAL: A lei será constitucional por determinado tempo, enquanto não verificado determinado fenômeno previsto pelo constituinte originário. EXEMPLO1: Prazo em dobro para a Defensoria Pública. EXEMPLO2: Possibilidade do MP ajuizar ação civil “ex delicto”. (Ambos “durarão” enquanto a Defensoria Pública não for instituída eficazmente). 15 8) INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL: Trata-se da lei formalmente constitucional, que poderá ser materialmente constitucional ou inconstitucional de acordo com o caso concreto. EXEMPLO: Norma que proíbe Tutela Antecipada contra a Fazenda Pública será constitucional quando se debater questões meramente financeiras, mas será inconstitucional quando envolver à vida do jurisdicionado (ex.: fornecimento de medicamento). 9) PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE: O STF pode, no controle concentrado, declarar inconstitucional apenas uma palavra ou apenas uma expressão da norma, diferentemente do que ocorre com o veto presidencial, que deverá se ater ao texto integral da norma (art. 66, § 2º, CF). EXEMPLO: Art. 7º, § 2º, Estatuto da OAB – STF julgou inconstitucional apenas a imunidade do advogado por desacato, mantendo a imunidade dele quanto à injúria e difamação (ADI 1127-8/DF). 16 10) INCONSTITUCIONALIDADE “CHAPADA”/ “DESVAIRADA”: Trata-se da inconstitucionalidade flagrante, evidente, manifesta. EXEMPLO: Lei Processual que proíba apresentação de Defesa em um Processo Judicial (violação flagrante ao contraditório e à ampla defesa). 17
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