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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 609-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
IMUNIDADE PARLAMENTAR 
 Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não merece ser estuprada" deve 
pagar indenização por danos morais. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONTROLE DE ATOS ADMINISTRATIVOS 
 Judiciário pode determinar que Estado implemente plantão em Delegacia de Atendimento ao adolescente infrator. 
 
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 
 MP pode instaurar inquérito civil para apurar ato de improbidade praticado por magistrado e solicitar seu 
depoimento pessoal. 
 
DIREITO CIVIL 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 Ofensas proferidas por Rita Lee contra policiais militares em show geraram dano moral in re ipsa. 
 Responsabilidade civil por abandono material do pai em relação ao filho. 
 
UNIÃO ESTÁVEL 
 Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa 
mortis do cônjuge. 
 O casal não é obrigado a formular pedido extrajudicial antes de ingressar com ação judicial pedindo a conversão da 
união estável em casamento. 
 Partilha dos direitos de concessão de uso para fins de moradia de imóvel público. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
DIREITOS AUTORAIS 
 Termo inicial do prazo prescricional para reparação civil decorrente de plágio. 
 
FALÊNCIA 
 A incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve ocorrer até a data em que a sentença 
é prolatada. 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
ATO INFRACIONAL 
 Judiciário pode determinar que Estado implemente plantão em Delegacia de Atendimento ao adolescente infrator. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO 
 Conceito de documento comum do art. 844, II, do CPC/1913. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PENAL 
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
 Não é possível a execução provisória de penas restritivas de direito. 
 
LESÃO CORPORAL 
 Lesão corporal contra irmão configura o § 9º do art. 129 do CP não importando onde a agressão tenha ocorrido. 
 
LEI DE DROGAS 
 O interrogatório, na Lei de Drogas, é o último ato da instrução. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COLABORAÇÃO PREMIADA 
 Descumprimento de colaboração premiada não justifica, por si só, prisão preventiva. 
 
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA 
 Não é possível a execução provisória de penas restritivas de direito. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
IMUNIDADE PARLAMENTAR 
Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada 
"não merece ser estuprada" deve pagar indenização por danos morais 
 
O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a também Deputada Federal Maria 
do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada por ser muito ruim, muito feia, não faz meu 
gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria estuprá-la porque ela não merece". 
O STJ entendeu que a conduta do parlamentar não está abrangido pela imunidade 
parlamentar e que, portanto, ele deveria ser condenado a pagar indenização por danos morais 
em favor da Deputada. Decidiu o Tribunal: 
As opiniões ofensivas proferidas por deputados federais e veiculadas por meio da imprensa, em 
manifestações que não guardam nenhuma relação com o exercício do mandato, não estão 
abarcadas pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88 e são aptas a gerar dano moral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.310-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 609). 
 
A situação analisada, com adaptações, foi a seguinte: 
O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), durante uma discussão no plenário da Câmara, afirmou que 
a também Deputada Federal, Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada”. 
No dia seguinte, em entrevista concedida em seu gabinete ao jornal "Zero Hora", Bolsonaro reiterou as 
declarações, dizendo que Maria do Rosário “não merece ser estuprada por ser muito ruim, muito feia, não 
faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria estuprá-la porque ela não merece". 
 
Ação de indenização 
Maria do Rosário ingressou, então, com ação de indenização por danos morais contra Bolsonaro. 
 
Defesa do Deputado 
A defesa argumentou que o parlamentar não poderia ser responsabilizado civilmente por suas palavras 
em razão da imunidade parlamentar material prevista no art. 53 da CF/88: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas 
opiniões, palavras e votos. 
 
A questão chegou até o STJ. O que decidiu o Tribunal a respeito da indenização? Bolsonaro foi 
condenado a indenizar Maria do Rosário? 
SIM. O STJ determinou que Bolsonaro pague a Maria do Rosário R$ 10 mil a título de indenização por 
danos morais. 
 
Imunidade parlamentar 
A imunidade não é um privilégio pessoal dos parlamentares. Trata-se de uma garantia dos parlamentares 
para o desempenho de suas funções. 
Uma das funções típicas do Poder Legislativo é a de fiscalizar. Para isso, é indispensável a existência da 
imunidade a fim de que o Deputado ou Senador tenha independência para bem desempenhar esse papel. 
Por esse motivo, as imunidades parlamentares são, inclusive, irrenunciáveis. 
 
Imunidade parlamentar não é absoluta e está ligada ao exercício das funções 
Apesar da sua importância, a imunidade parlamentar material não pode ser considerada absoluta. 
A inviolabilidade parlamentar deve ser limitada em razão da colisão com outros princípios igualmente 
assegurados pela Constituição. 
O limite da imunidade parlamentar é a própria atuação do congressista no exercício de seu mandato. 
Dessa feita, a imunidade material é inaplicável a situações que não tenham relação com o exercício do 
mandato. Em outras palavras, manifestações que não guardam nenhuma relação com a função de 
representante legislativo não são abrangidas pela imunidade parlamentar. 
Para que as manifestações do parlamentar possam ser consideradas como exercício do mandato, devem 
conter um teor minimamente político, ou seja, devem estar relacionadas com fatos que estejam sob o 
debate público, sob a investigação dos órgãos estatais ou, ainda, que seja de interesse da sociedade e do 
eleitorado. 
No caso concreto, o STJ considerou que as manifestações de Bolsonaro a respeito de Maria do Rosário 
não tinham nenhuma relação com a atividade parlamentar de ambos e, portanto, não deveria incidir a 
imunidade prevista no art. 53 da CF/88. 
 
Existe uma posição jurisprudencial no sentido de que as declarações proferidas pelo parlamentar dentro 
do Congresso Nacional seriam sempre protegidas pela imunidade parlamentar ainda que as palavras 
não tivessem relação com o exercício do mandato. Esse entendimento existe mesmo? 
SIM. Há diversos julgados do STF afirmando que a imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88) é 
absoluta quando as afirmações do Deputado ou Senador sobre qualquer assunto ocorrem dentro do 
Congresso Nacional. 
A situação poderia ser assim resumida: 
 Ofensas feitas DENTRO do Parlamento: a imunidade é absoluta. O parlamentar é imune mesmo que a 
manifestação não tenha relação direta com o exercício de seu mandato. 
 Ofensas feitas FORA do Parlamento: a imunidade é relativa. Para que o parlamentar seja imune, é 
necessário que a manifestação feita tenha relação com o exercício do seu mandato. 
 
Veja um precedentedo STF neste sentido: 
“A palavra 'inviolabilidade' significa intocabilidade, intangibilidade do parlamentar quanto ao 
cometimento de crime ou contravenção. Tal inviolabilidade é de natureza material e decorre da função 
parlamentar, porque em jogo a representatividade do povo. (...) 
Assim, é de se distinguir as situações em que as supostas ofensas são proferidas dentro e fora do Parlamento. 
Somente nessas últimas ofensas irrogadas fora do Parlamento é de se perquirir da chamada 'conexão com 
o exercício do mandato ou com a condição parlamentar' (Inq 390 e 1.710). Para os pronunciamentos feitos 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
no interior das Casas Legislativas não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o 
mandato, dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. Em tal seara, caberá à própria Casa a que 
pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa prerrogativa. No caso, o discurso 
se deu no plenário da Assembleia Legislativa, estando, portanto, abarcado pela inviolabilidade. Por outro 
lado, as entrevistas concedidas à imprensa pelo acusado restringiram-se a resumir e comentar a citada 
manifestação da tribuna, consistindo, por isso, em mera extensão da imunidade material.” (STF. Plenário. 
Inq 1.958, Rel. p/ o ac. Min. Ayres Britto, julgado em 29/10/2003). 
No mesmo sentido: STF. 1ª Turma. RE 463671 AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 19/06/2007. 
 
Este entendimento não poderia ser aplicado ao caso concreto, considerando que as palavras e a 
entrevista foram dadas dentro das dependências da Câmara dos Deputados? 
Ocorre que no dia seguinte o Deputado deu uma entrevista na qual reafirmou as palavras. Portanto, neste 
momento, a imunidade não é absoluta. 
 
Mas a entrevista foi dada dentro do gabinete no Deputado... 
Mesmo assim. O fato de o parlamentar estar em seu gabinete no momento em que concedeu a entrevista 
é um fato meramente acidental, de menor importância. Isso porque não foi ali (no gabinete) que as 
ofensas se tornaram públicas. Elas se tornaram públicas por meio da imprensa e da internet, quando a 
entrevista foi veiculada. 
Dessa forma, tratando-se de declarações prestadas em entrevista concedida a veículo de grande 
circulação não incide o entendimento de que a imunidade material seria absoluta. É necessário avaliar, 
portanto, se as palavras proferidas estavam ou não relacionadas com a função parlamentar. E, como no 
caso concreto não estavam, ele não estará protegido pela imunidade material do art. 53 da CF/88. 
 
Em suma, o STJ decidiu que: 
As opiniões ofensivas proferidas por deputados federais e veiculadas por meio da imprensa, em 
manifestações que não guardam nenhuma relação com o exercício do mandato, não estão abarcadas 
pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88 e são aptas a gerar dano moral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.310-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 609). 
 
Sobre o tema, vale ressaltar que o STF já recebeu denúncia e queixa-crime contra Bolsonaro pelo mesmo 
fato. Para maiores informações, veja: STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, 
julgados em 21/6/2016 (Info 831). 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONTROLE DE ATOS ADMINISTRATIVOS 
Judiciário pode determinar que Estado implemente plantão em 
Delegacia de Atendimento ao adolescente infrator 
 
A decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do plantão de 24 
horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude não constitui abuso 
de poder, tampouco extrapola o controle do mérito administrativo pelo Poder Judiciário. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/6/2017 (Info 609). 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul acabou com o plantão de 24 horas que existia na Delegacia 
Especializada de Atendimento à Infância e Juventude, na cidade de Campo Grande/MS. 
O Ministério Público ingressou com ação civil pública pedindo o restabelecimento do plantão a fim de 
permitir que todo adolescente apreendido em flagrante de ato infracional seja ouvido e atendido, 
independentemente do dia e horário. 
A Fazenda Pública alegou que o remanejamento de Delegados de Polícia, principalmente no regime de 
plantão, é uma decisão ligada à conveniência e oportunidade administrativas, não cabendo a intervenção 
do Judiciário na formulação de políticas públicas. 
 
O pedido do MP foi acolhido pelo STJ? 
SIM. 
 
Ordenamento jurídico determina a proteção da criança e do adolescente 
O art. 227 da CF/88 dispõe ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão. 
Essa imposição é reforçada, no plano infraconstitucional, pelos arts. 4º, 18 e 125 da Lei nº 8.069/90 (ECA), 
ressaltando sempre a imprescindibilidade de proteção e amparo especializado à criança e adolescente, 
evidenciando a importância do bem jurídico aqui tutelado - a proteção ao menor, ainda que na condição 
de infrator. 
 
Discricionariedade administrativa não é absoluta 
O controle dos atos discricionários pelo Poder Judiciário deve ser visto com extrema cautela, para não 
servir de subterfúgio para substituir uma escolha legítima da autoridade competente. 
Assim, não cabe ao magistrado declarar ilegal um ato discricionário tão só por discordar dos valores morais 
invocados pela Administração, quando ambos são válidos e admissíveis perante a sociedade. 
Tomando-se esse cuidado, deve-se lembrar que a discricionariedade administrativa não é absoluta e seus 
abusos podem e devem ser submetidos à apreciação do Poder Judiciário, a quem cabe o controle de sua 
legalidade, bem como dos motivos e da finalidade dos atos praticados sob o seu manto. 
 
Estabelecimentos adequados para adolescentes infratores 
O art. 172 do ECA preconiza: 
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado 
à autoridade policial competente. 
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em 
se tratando de ato infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição da 
repartição especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará 
o adulto à repartição policial própria. 
 
A doutrina, ao interpretar esse dispositivo, afirma que é extremamente importante a existência de 
Delegacias especializadas no atendimento do adolescente infrator. 
A especialização policial nestes casos é, inclusive, uma imposição das Regras Mínimas das Nações Unidas 
para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (conhecidas como “Regras de Beijing”) e que 
foram incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 99.710/90. Confira: 
12. Especialização policial 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
12.1 Para melhor desempenhode suas funções, os policiais que tratem frequentemente ou de 
maneira exclusiva com jovens ou que se dediquem fundamentalmente à prevenção da 
delinquência de jovens receberão instrução e capacitação especial. Nas grandes cidades, haverá 
contingentes especiais de polícia com essa finalidade. 
 
Conduta contrária à CF/88, à lei e ao tratado internacional 
Assim, o STJ considerou que, ao não se oferecer plantão 24 horas na Delegacia especializada de apuração 
dos atos infracionais, houve violação à CF/88, ao art. 172 do ECA e também ao item 12.1 das Regras de 
Beijing considerando que, fora do horário de funcionamento da Delegacia, os jovens infratores serão 
submetidos às unidades policiais comuns, onde estarão expostos ao contato com presos maiores de idade. 
A decisão governamental de encerrar o plantão na Delegacia não é uma escolha aceitável do Estado sob 
os aspectos moral e ético, representando induvidosa preterição de uma prioridade imposta pela 
Constituição Federal, além de conduta contrária à lei e ao tratado internacional, constituindo, portanto, 
hipótese na qual se admite que o Poder Judiciário intervenha legitimamente no caso mesmo em se 
tratando de um ato discricionário. 
A jurisprudência do STF entende que o Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que 
a Administração Pública adote medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos 
como essenciais, sem que isso configure violação do princípio da separação de Poderes (STF. 1ª Turma. 
ARE 886710 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 03/11/2015). 
 
Em suma: 
A decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do plantão de 24 horas em 
Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude não constitui abuso de poder, 
tampouco extrapola o controle do mérito administrativo pelo Poder Judiciário. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/6/2017 (Info 609). 
 
Comando 
Ante o exposto, o STJ deu provimento ao recurso especial interposto pelo MP e determinou que o Estado 
do Mato Grosso do Sul implementasse, no prazo máximo de 120 dias, o regime de plantão de 24 horas na 
Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude de Campo Grande/MS, sob pena de multa 
diária de R$ 10 mil. 
 
 
 
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 
MP pode instaurar inquérito civil para apurar ato de improbidade 
praticado por magistrado e solicitar seu depoimento pessoal 
 
Importante!!! 
É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato 
ímprobo atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar 
na Corregedoria do Tribunal acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições 
da Corregedoria pelo órgão ministerial investigante. 
A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil 
instaurado pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o 
disposto no art. 33, IV, da LC nº 35/79 (LOMAN). 
STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio 
Kukina, julgado em 7/3/2017 (Info 609). 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
O Procurador da República instaurou um inquérito civil para apurar suposto ato de improbidade 
administrativa que teria sido praticado por um Juiz Federal. 
O Procurador que conduzia a investigação encaminhou uma "solicitação" ao Juiz investigado para que 
este, respeitada a sua conveniência, informasse dia, hora e local para que prestasse depoimento nos autos 
do inquérito civil a respeito dos fatos que estavam sendo apurados. 
O magistrado alegou dois argumentos que iremos analisar se são ou não pertinentes: 
1) A instauração do referido inquérito civil seria ilegal, tendo em vista que os fatos investigados já estão 
sendo apurados pela Corregedoria do TRF, órgão que detém a competência para conduzir a investigação 
contra juízes. Assim, o Ministério Público estaria usurpando as funções da Corregedoria, em violação ao 
parágrafo único do art. 33 da LC 35/79 (Lei Orgânica da Magistratura – LOMAN): 
Art. 33 (...) 
Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte 
do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou 
órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação. 
 
2) A referida notificação também seria ilegal considerando que teria violado o art. 33, IV, da LOMAN, que prevê: 
Art. 33. São prerrogativas do magistrado: 
(...) 
IV - não estar sujeito a notificação ou a intimação para comparecimento, salvo se expedida por 
autoridade judicial; 
 
Primeira pergunta: é possível que o Ministério Público instaure inquérito civil para apurar suposto ato 
de improbidade administrativa praticado por um magistrado mesmo que a Corregedoria do Tribunal já 
esteja conduzindo investigação sobre os mesmos fatos? 
SIM. 
É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato ímprobo 
atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na Corregedoria do 
Tribunal acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da Corregedoria pelo órgão 
ministerial investigante. 
STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio Kukina, 
julgado em 7/3/2017 (Info 609). 
 
Não há incompatibilidade porque o Ministério Público instaura o inquérito civil para apurar possível prática de 
improbidade e a Corregedoria deflagra o procedimento para investigar e impor eventual sanção disciplinar. 
Vale ressaltar, inclusive, que o art. 12 da Lei nº 8.429/92, ao listar o rol de sanções aplicáveis ao agente 
ímprobo, preconiza, de modo expresso, que tais penalidades serão impostas “independentemente das 
sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica”. 
 
Segunda pergunta: há ilegalidade no fato de o MP expedir notificação para que o magistrado preste 
depoimento pessoal nos autos de inquérito civil? Essa prática viola o art. 33, IV, da LOMAN? 
NÃO. 
A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil instaurado 
pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o disposto no art. 33, IV, 
da LC nº 35/79 (LOMAN). 
STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio Kukina, 
julgado em 7/3/2017 (Info 609). 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
 
O magistrado estava sendo investigado nos autos do inquérito civil presidido pelo Procurador da 
República. Este não poderia concluir a investigação sem dar oportunidade para que o magistrado, se assim 
desejasse, oferecesse sua versão dos fatos. 
Logo, ao se expedir solicitação para que o magistrado prestasse depoimento pessoal, o membro do MP 
quis, tão somente, garantir o direito do investigado de se defender. Não se pode conceber que, 
supostamente com o objetivo de preservar uma prerrogativa funcional (receber convocação somente 
através de outra autoridade judicial), acabe-se, em verdade, por suprimir do magistrado a faculdade de 
participar do processo no qual está sendo investigado. 
Vale ressaltar que o magistrado não tinha o dever de atender à solicitação do MP e assim, se quisesse, 
poderia simplesmente recusar o chamado.Deve-se, portanto, compatibilizar as garantias trazidas na LOMAN com a responsabilidade institucional do 
Parquet de oferecer ao investigado a possibilidade de dar a sua versão dos fatos apurados. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
Ofensas proferidas por Rita Lee contra policiais militares em show geraram dano moral in re ipsa 
 
As ofensas generalizadas proferidas por cantora contra policias militares que realizavam a 
segurança do show atingem, de forma individualizada, cada um dos integrantes da corporação 
que estavam de serviço no evento e caracterizam dano moral in re ipsa, devendo a artista 
indenizar cada um dos policiais que trabalhavam no local. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.524-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Durante um show realizado em Aracajú (SE), a cantora Rita Lee interrompeu a apresentação e passou a 
insultar os policiais militares que faziam a segurança do evento por considerar que eles estariam sendo 
truculentos com o público ao revistá-los em busca de drogas. 
A cantora, no palco, falou o seguinte aos policiais: 
“Seus cachorros! Coitados dos cachorros. Cafajestes! Vocês estão fazendo de propósito. Eu sou do tempo 
da ditadura, se pensa que eu tenho medo, p..! Venha aqui! Eu sou mulher. Mulher, queridos! Sou mãe, 
tive três filhos, tenho uma neta, 67 anos, que que vocês vão fazer? É isso que vocês querem? Chamar a 
atenção? Eles querem chamar a atenção, querem cantar? É horrível! Eu tenho paranoia com esse tipo de 
coisa, por que isso? Por quê? Eu queria saber. Cadê? Cadê por escrito que vocês têm que fazer isso? 
Cavalaria aqui não, filho. De cavalo. Cavalo é um bicho delicado. Que isso? Não. Eu não vou esperar, esse 
show é meu, as pessoas estão esperando eu cantar. Não é a gracinha de vocês. Seus f... da p.... Agora 
venha aqui me prender”. 
 
Ação de indenização por danos morais 
Os policiais militares que trabalhavam no evento ingressaram, então, com ação de indenização por danos 
morais contra a cantora. 
A ré defendeu-se afirmando que suas palavras foram ditas de forma genérica e foram motivadas pela 
arbitrariedade praticada pelos próprios policiais militares em frente ao palco, que agiram com truculência 
e de forma abusiva, enquanto procuravam substâncias entorpecentes com a plateia. 
 
 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
A questão chegou até o STJ? O Tribunal entendeu que os policiais têm direito à indenização? 
SIM. Os militares estavam ali em exercício legítimo da atividade de policiamento ostensivo e preservação 
da ordem pública, próprias das atividades da Polícia Militar. Assim, a repressão de uma conduta ilegal (uso 
de drogas) não pode ser taxada como abusiva. 
A atitude da cantora de se contrapor ao trabalho da polícia proferindo injúrias contra todos os militares 
presentes ao show mostra-se como uma conduta antijurídica, primeiro pilar necessário para a 
caracterização do dano moral indenizável. 
Além disso, houve outros atos ilícitos por parte da cantora que passou a proferir injúrias contra os policiais. 
O fato de as críticas terem sido generalizadas não ajuda a cantora nem serve para melhorar a sua situação. 
Ao contrário, a partir do momento em que xingou todos os integrantes do policiamento que trabalhavam 
no evento, ela atingiu a cada um de forma individualizada, porque foram pessoalmente ofendidos no 
exercício de suas funções. 
O dano, neste caso, decorre da própria injúria proferida pela cantora sendo considerado como dano moral 
in re ipsa. 
 
Em suma: 
As ofensas generalizadas proferidas por cantora contra policias militares que realizavam a segurança do 
show atingem, de forma individualizada, cada um dos integrantes da corporação que estavam de serviço 
no evento e caracterizam dano moral in re ipsa, devendo a artista indenizar cada um dos policiais que 
trabalhavam no local. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.524-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
Responsabilidade civil por abandono material do pai em relação ao filho 
 
Importante!!! 
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos 
morais, passíveis de compensação pecuniária. 
O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de prestar 
assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência 
e causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito 
civil, nos termos do art. 186 do Código Civil. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria viviam em união estável e tiveram um filho, Lucas. 
Quando a criança completou cinco anos de idade, João decidiu separar-se de Maria e saiu de casa. 
A partir daí nunca mais visitou o filho nem contribuiu para as despesas do garoto. 
Vale ressaltar que João possui outros filhos que ajuda financeiramente. 
O descaso do pai para com o filho está devidamente demonstrado tanto pelas testemunhas como pelos 
relatórios do Conselho Tutelar que comprovam que Lucas vive em situação de praticamente miséria e que 
as poucas vezes que o pai contribuiu foi em virtude de execução de alimentos quando ameaçado de prisão. 
 
A questão jurídica envolvendo esse caso é a seguinte: em tese, é possível a condenação de João a pagar 
indenização por danos morais a Lucas, seu filho, em razão do seu abandono material? É possível a 
condenação em danos morais do pai que deixa de prestar assistência material ao filho? 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
SIM. 
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho gera danos morais, 
passíveis de compensação pecuniária. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609). 
 
O dever de convivência familiar, compreendendo a obrigação dos pais de prestar auxílio afetivo, moral e 
psíquico aos filhos, além de assistência material, é direito fundamental da criança e do adolescente. 
O descumprimento voluntário do dever de prestar assistência MATERIAL, direito fundamental da criança 
e do adolescente, afeta a integridade física, moral, intelectual e psicológica do filho, em prejuízo do 
desenvolvimento sadio de sua personalidade e atenta contra a sua dignidade, configurando ilícito civil e, 
portanto, os danos morais e materiais causados são passíveis de compensação pecuniária. 
 
No julgado acima (REsp 1.087.561-RS) adotou-se a responsabilidade civil por abandono AFETIVO? O pai 
foi condenado a indenizar pelo fato de não ter dado afeto ao seu filho? 
NÃO. No julgado acima explicado o Min. Rel. Raul Araújo, assim como a Min. Maria Isabel Gallotti, 
deixaram claro que são contrários à tese da responsabilidade civil por abandono afetivo. 
Afirmou-se que a falta de afeto, por si só, não constitui ato ilícito. 
“A convivência e o afeto devem corresponder a sentimentos naturais, espontâneos, genuínos, com todas 
as características positivas e negativas de cada indivíduo e de cada família. Não é - nem deve ser - o 
cumprimento de dever jurídico, imposto pelo Estado, sob pena de punição (ou indenização punitiva).” 
(Min. Maria Isabel Gallotti) 
Assim, no REsp 1.087.561-RS, o STJ concedeu a indenização por danos morais em razão do pai não ter 
dado amparo MATERIAL ao filho. 
 
A partir desse julgado pode-se dizer que qualqueratraso na pensão alimentícia ou descumprimento do 
dever de alimentar gera dano moral? 
NÃO. No caso concreto, não houve um “mero descumprimento episódico de obrigação alimentar, mas de 
hipótese em que a reiterada falta de assistência material foi de tal ordem que revelou ter o autor sido 
vítima de humilhações, situações que o levaram ao ridículo, privações que prejudicaram o seu 
desenvolvimento, caracterizando o tratamento cruel e degradante ao qual ficou submetido em 
decorrência da conduta omissiva do genitor, que tinha, na época dessas ocorrências, conhecimento da 
situação de penúria e plenas condições de suprir suas necessidades.” (Min. Maria Isabel Gallotti). 
 
Existe algum julgado do STJ reconhecendo a responsabilidade civil por abandono afetivo? 
SIM. Há um precedente da 3ª Turma: 
O abandono AFETIVO decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento 
suficiente para caracterizar dano moral compensável. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.159.242-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012. 
 
 
 
UNIÃO ESTÁVEL 
Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas 
as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge 
 
O STF fixou a seguinte tese: 
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre 
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 
1.829 do Código Civil. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). 
 
O STJ acompanhou o entendimento do Supremo e também decidiu de forma similar: 
É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo 
ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/6/2017 (Info 609). 
 
Sucessão legítima 
Sucessão legítima é a transmissão do patrimônio do falecido para os seus herdeiros, segundo uma ordem, 
que é chamada de ordem de vocação hereditária, sendo prevista no art. 1.829 do Código Civil. 
 
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido deixou descendentes? Ex: João, casado com Maria, 
morreu e deixou dois filhos (Pedro e Tiago). Maria terá direito à herança? 
O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). 
Assim, se a pessoa morrer e for casada, em regra, seu cônjuge terá direito à herança. 
Vale ressaltar, no entanto, que, se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá 
não ter direito à herança, a depender do regime de bens. 
A regra está no art. 1.829, I, do CC: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o 
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, 
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado 
bens particulares; 
 
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O 
que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu 
primazia (preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o 
cônjuge, a depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os 
descendentes. Vejamos: 
1) Situações em que o cônjuge herda em 
concorrência com os descendentes 
2) Situações em que o cônjuge não herda em 
concorrência com os descendentes 
 Regime da comunhão parcial de bens, se 
existirem bens particulares do falecido. 
 Regime da separação convencional de bens (é 
aquela que decorre de pacto antenupcial). 
 
 Regime da comunhão parcial de bens, se não 
havia bens particulares do falecido. 
 Regime da separação legal (obrigatória) de bens 
(é aquela prevista no art. 1.641 do CC). 
 Regime da comunhão universal de bens. 
 
Voltando ao exemplo: 
João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos Pedro e Tiago. 
Se, por exemplo, Maria era casada com João sob o regime da separação convencional de bens, ela terá 
direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança deixada pelo marido. 
Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá 
direito à herança. Neste caso, ela será meeira, mas não herdeira. 
Se os consortes são casados no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, 
seu cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente 
ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança. 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser 
meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos 
excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.” 
 
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido não deixou descendentes, mas deixou ascendentes? Ex: 
João, casado com Maria, morre sem deixar filhos ou netos, mas deixou pai e mãe. Como será feita a 
divisão da herança? 
Neste caso, o cônjuge sobrevivente herdará em concorrência com os ascendentes. Logo, em nosso 
exemplo, Maria receberá 1/3 da herança, o pai de João 1/3 e a mãe o 1/3 restante. 
Vale ressaltar que aqui não importa qual era o regime de bens do casal. 
 
E se o falecido morreu sem deixar descendentes e ascendentes, o cônjuge terá direito à herança? Ex: 
João, casado com Maria, morreu sem deixar filhos, netos, nem pais ou avós. 
SIM. Nesta hipótese Maria terá direito à integralidade da herança. 
 
Regras da sucessão do cônjuge 
Essas regras acima explicadas envolvendo a sucessão causa mortis do cônjuge estão previstas no art. 1.829 
do Código Civil: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o 
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, 
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado 
bens particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais. 
 
E o companheiro do falecido (união estável), tem direito à herança? O que o Código Civil previu sobre o tema? 
O Código Civil de 2002 trouxe as regras sobre a sucessão do companheiro no art. 1.790: 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens 
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída 
ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a 
cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. 
 
Ao se comparar este art. 1.790 com o art. 1.829 do CC veremos que o legislador trouxe regras muito mais 
desvantajosas para o companheiro do que para o cônjugedo falecido. 
Um exemplo ilustra bem essa diferença de tratamento: pelo art. 1.790 do CC, se o falecido deixar a 
companheira e um tio, por exemplo, esse tio iria herdar 2/3 da herança e a companheira apenas 1/3. 
 
Tese da inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC 
Diversos doutrinadores de Direito Civil sempre defenderam que o art. 1.790 do CC seria inconstitucional. 
Isso porque a Constituição Federal protege a união estável como entidade familiar (art. 226, § 3º). Dessa 
forma, não existe uma superioridade do casamento sobre a união estável, devendo os dois institutos 
serem equiparados. 
 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Essa tese foi acolhida pelo STF? O art. 1.790 do CC, que trata sobre a sucessão do companheiro, é 
inconstitucional? 
SIM. O STF entendeu que o art. 1.790 do Código Civil de 2002 é inconstitucional. 
 
Mudanças na noção tradicional de família 
O regime sucessório sempre buscou proteger a família do falecido. 
A noção tradicional de família esteve ligada durante muito tempo à ideia de casamento. 
Vale ressaltar, no entanto, que esse modelo passou a sofrer alterações, principalmente durante a segunda 
metade do século XX, quando o laço formal do matrimônio passou a ser substituído pela afetividade e por 
um projeto de vida em comum. 
 
CF/88 protege diferentes modalidades de família 
A CF/88 prevê não apenas a família decorrente do casamento (família matrimonial), sendo protegidas 
outras modalidades de família. 
Uma das espécies de família protegidas pela Constituição é a família derivada da união estável, seja ela 
hetero ou homoafetiva. Isso está expresso no § 3º do art. 226 do Texto Constitucional: 
Art. 226 (...) 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher 
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
 
Código Civil de 2002 regrediu no tratamento do tema 
O legislador, cumprindo a vontade constituinte, editou duas leis ordinárias que equiparavam os regimes 
jurídicos sucessórios do casamento e da união estável (Lei nº 8.971/94 e Lei 9.278/96). 
O Código Civil de 2002, no entanto, regrediu no tratamento do tema e “desequiparou”, para fins de 
sucessão, o casamento e a união estável, fazendo com que o(a) companheiro(a) do falecido tivesse uma 
proteção bem menor do que aquela que é conferida ao cônjuge. 
Dessa forma, o CC-2002 promoveu verdadeiro retrocesso, criando uma hierarquização entre as famílias, 
o que não é admitido pela Constituição, que trata todas as famílias com o mesmo grau de valia, respeito 
e consideração. 
 
Princípios constitucionais violados 
Dessa forma, o art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola: 
 o princípio da igualdade; 
 a dignidade da pessoa humana; 
 o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à proteção deficiente) e 
 o princípio da vedação ao retrocesso. 
 
Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de companheiro? Quais 
as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da união estável morra? 
O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo tratamento conferido ao casamento. Logo, 
em caso de sucessão causa mortis do companheiro, deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão 
causa mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. 
 
O STF apreciou o tema em sede de recurso extraordinário submetido à repercussão geral e fixou a 
seguinte tese: 
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre 
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 
1.829 do Código Civil. 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, 
Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). 
 
Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou companheiro(a)”. 
Como consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser considerado herdeiro necessário. 
 
O STJ acompanhou o entendimento do STF e também decidiu da mesma forma: 
É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser 
aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/6/2017 (Info 609). 
 
 
 
UNIÃO ESTÁVEL 
O casal não é obrigado a formular pedido extrajudicial antes de ingressar com ação judicial 
pedindo a conversão da união estável em casamento 
 
Importante!!! 
O art. 8º da Lei nº 9.278/96 prevê a possibilidade de que a conversão da união estável em 
casamento seja feita pela via extrajudicial. No entanto, este dispositivo não impõe a 
obrigatoriedade de que se formule o pedido de conversão na via administrativa antes de se 
ingressar com a ação judicial. 
O art. 8º da Lei nº 9.278/96 deve ser interpretado como sendo uma faculdade das partes. Dessa 
forma, o ordenamento jurídico oferece duas opções ao casal: 
a) pode fazer a conversão extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou 
b) pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do CC. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.937-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/8/2017 (Info 609). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria vivem em união estável. 
Depois de alguns anos eles resolvem fazer a conversão desta união estável em casamento. 
Para isso, contrataram um advogado e ajuizaram, na vara de família, ação de conversão de união estável 
em casamento. 
O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito alegando falta de interesse de agir (art. 485, VI, do 
CPC/2015). Isso porque, segundo o magistrado, o casal, antes de ingressar com a ação judicial, deveria ter 
formulado pedido extrajudicial de conversão da união estável em casamento. Somente se esse pedido 
fosse indevidamente negado é que eles teriam interesse processual de ingressar com ação judicial pedindo 
a referida conversão. 
O argumento do magistrado foi, portanto, o seguinte: ora, se é possível que a conversão seja feita 
extrajudicialmente, não há interesse de agir para a propositura de ação judicial. 
Veja a redação do art. 8º da Lei nº 9.278/96, que autoriza a conversão pela via administrativa (extrajudicial): 
Art. 8º Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da 
união estável em casamento, por requerimento ao Oficial do Registro Civil da Circunscrição de seu 
domicílio. 
 
O argumento do magistrado foi corroborado pelo STJ? 
NÃO. 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Para o STJ, o art. 8º da Lei nº 9.278/96 deve ser interpretado em conjunto com o art. 226 § 3º da 
Constituição Federal, que estabelece os objetivos e princípios que deverão pautar o processo de conversão 
de união estável em casamento e levando em consideração o art. 1.726 do Código Civil, que também trata 
do tema no âmbito infraconstitucional. 
O art. 226, § 3º da CF/88 prevê que a lei deverá facilitar a conversão da união estável em casamento. 
Logo, o art. 8º da Lei nº 9.278/96 deve ser interpretado como sendo uma faculdade daspartes, uma opção 
a mais. Dessa forma, o ordenamento jurídico oferece duas opções ao casal: 
1) pode fazer a conversão extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou 
2) pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do CC: 
Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos 
companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. 
 
Ademais, o entendimento de que os artigos não criam a obrigatoriedade de formulação pela via 
administrativa harmoniza-se, ainda, como o art. 5º, XXXV, da CF/88, que prevê a inafastabilidade 
jurisdicional e a acessibilidade à justiça. 
 
Em suma: 
O art. 8º da Lei nº 9.278/96 prevê a possibilidade de que a conversão da união estável em casamento 
seja feita pela via extrajudicial. No entanto, este dispositivo não impõe a obrigatoriedade de que se 
formule o pedido de conversão na via administrativa antes de se ingressar com a ação judicial. 
O art. 8º da Lei nº 9.278/96 deve ser interpretado como sendo uma faculdade das partes. Dessa forma, 
o ordenamento jurídico oferece duas opções ao casal: 
a) pode fazer a conversão extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou 
b) pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do CC. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.937-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/8/2017 (Info 609). 
 
 
 
UNIÃO ESTÁVEL 
Partilha dos direitos de concessão de uso para fins de moradia de imóvel público 
 
Na dissolução de união estável, é possível a partilha dos direitos de concessão de uso para 
moradia de imóvel público. 
Ex: João e Maria viviam em união estável. No curso dessa união eles passaram a residir em uma 
casa pertencente ao Governo do Distrito Federal sobre o qual receberam a concessão de uso 
para fins de moradia. Depois de algum tempo decidem por fim à relação. Deverá haver uma 
partilha sobre os direitos relacionados com a concessão de uso. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.494.302-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/6/2017 (Info 609). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria viviam em união estável. 
No curso dessa união eles passaram a residir em uma casa pertencente ao Governo do Distrito Federal 
sobre o qual receberam a concessão de uso para fins de moradia. 
Depois de 17 anos convivendo juntos, João e Maria decidem por fim à relação. 
Para tanto, João ingressa com ação de reconhecimento e dissolução de união estável. 
 
 
 
 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Se duas pessoas estão vivendo em união estável, a lei prevê regras para disciplinar o patrimônio desse casal? 
SIM. O Código Civil estabelece que, na união estável, as relações patrimoniais entre o casal obedecem às 
regras do regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725). Em outras palavras, é como se as pessoas que 
vivem em união estável estivessem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens. 
 
Como funciona o regime da comunhão parcial? 
O regime da comunhão parcial é tratado pelos arts. 1.658 a 1.666 do CC. 
Nessa espécie de regime, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, 
com exceção dos casos previstos no Código Civil. 
Dito de outro modo, os bens adquiridos durante a união passam a ser de ambos os cônjuges, salvo em 
algumas situações que o Código Civil determina a incomunicabilidade. Veja o que diz a Lei: 
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na 
constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. 
 
O art. 1.660 lista bens que, se adquiridos durante o casamento, pertencem ao casal: 
Art. 1.660. Entram na comunhão: 
I — os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de 
um dos cônjuges; 
II — os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; 
III — os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; 
IV — as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; 
V — os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do 
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. 
 
O art. 1.659, por sua vez, elenca aquilo que é excluído da comunhão: 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I — os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do 
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; 
II — os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares; 
III — as obrigações anteriores ao casamento; 
IV — as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; 
V — os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
VI — os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
VII — as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
 
Situação da casa 
João, que havia saído do lar, pediu para ter direito à metade da casa onde viviam. 
Maria argumentou que não há que se falar em divisão da casa considerando que se trata de bem público 
que não está na sua esfera de disponibilidade, pois ela é mera detentora da concessão precária (não 
definitiva) e personalíssima oferecida pelo Governo para a habitação de pessoas carentes. 
 
João terá algum direito sobre a casa? É possível a partilha dos direitos relacionados com a concessão de 
uso de imóvel público decorrente de programa habitacional voltado à população de baixa renda? 
SIM. 
 
 
 
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Concessão de uso especial para fins de moradia 
Pela concessão de uso, a Administração Pública outorga o uso privativo de determinado bem público ao 
particular. 
A concessão de uso especial para fins de moradia foi prevista inicialmente pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 
10.257/2001, art. 4º, V, h), como uma espécie do gênero “concessão de uso”. 
Foi uma forma pensada pelo legislador para regularizar áreas públicas que eram ocupadas por possuidores 
de baixa renda e por suas famílias. 
A fim de detalhar melhor como funcionaria a concessão de uso para fins de moradia, o Presidente da 
República editou a MP 2.220/2001 regulamentando o instituto e prevendo, em seu art. 1º: 
Art. 1º Aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente 
e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área 
urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial 
para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou 
concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. 
 
A concessão de uso especial para fins de moradia é um ato administrativo vinculado, ou seja, preenchidos 
os requisitos, o titular possui direito subjetivo à concessão. 
Vale ressaltar que essa espécie de concessão possui uma única finalidade: a moradia do concessionário e 
sua família. Em caso de desvirtuamento, haverá a perda da concessão (art. 8º). 
 
Características dessa espécie de concessão 
a) gratuita (art. 1º, § 1º); 
b) de simples uso (e não de exploração), já que o beneficiário só pode utilizar o bem para fins de moradia, 
sob pena de extinção da concessão (art. 8º, I); 
c) perpétua (o direito subsiste enquanto o concessionário respeitar a sua finalidade); 
d) de utilidade privada, considerando que o uso se faz em seu interesse e no de sua família; 
e) obrigatória, porque o PoderPúblico não pode indeferir a concessão se o particular preencher os requisitos; 
f) autônoma, porque não vinculada a qualquer outra modalidade de concessão; 
g) transferível, porque o direito de concessão de uso especial para fins de moradia pode ser transferível 
por ato inter vivos ou causa mortis (art. 7º). 
Nesse sentido: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Concessão de uso especial para fins de moradia. In Estatuto 
da Cidade, Adilson Abreu Dallari e Sergio Ferraz (coords). São Paulo: Malheiros, 2014, p. 167. 
Quanto à sua natureza jurídica, trata-se de direito real sobre coisa alheia, oponível erga omnes, nos termos 
do art. 1.225, XI, do Código Civil: 
Art. 1.225. São direitos reais: 
(...) 
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; 
 
Expressão econômica 
A concessão de uso de bens destinados a programas habitacionais, apesar de não se alterar a titularidade 
do imóvel e ser concedida, em regra, de forma graciosa, possui expressão econômica. 
O beneficiário da concessão goza, de alguma forma, de um benefício econômico. 
No caso concreto, foi concedido ao casal o direito de morar em um imóvel (público) e, por conseguinte, 
eles ficaram livres do ônus de ter que comprar ou alugar uma casa. Isso geral um ganho patrimonial 
extremamente relevante. 
Assim, o STJ reconheceu que os direitos sobre a concessão de uso deveriam ser divididos entre o ex-casal. 
Na dissolução de união estável, é possível a partilha dos direitos de concessão de uso para moradia de 
imóvel público. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.494.302-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/6/2017 (Info 609). 
 
E como fazer isso na prática? 
O STJ afirmou que a melhor forma de se efetivar a meação deveria ser decidida pelo juiz de 1ª instância, 
existindo algumas alternativas, dentre elas: 
a) convocar a entidade cedente (Governo do DF) para dividir a concessão; 
b) autorizar a alienação judicial da concessão; 
c) permitir que um dos dois permaneça na casa e que pague ao outro uma indenização proporcional por 
estar utilizando o bem de forma exclusiva. 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
DIREITOS AUTORAIS 
Termo inicial do prazo prescricional para reparação civil decorrente de plágio 
 
O termo inicial da pretensão de ressarcimento nas hipóteses de plágio se dá quando o autor 
originário tem comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua extensão, não 
servindo a data da publicação da obra plagiária, por si só, como presunção de conhecimento 
do dano. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.746-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/6/2017 (Info 609). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2008, João lançou um livro na editora “X” tratando sobre o tema “acesso à justiça”. 
Em 2010, Pedro publicou uma obra pela editora “Y” versando sobre o mesmo assunto. 
Em 2015, João foi alertado por um dos seus alunos que o livro de Pedro era uma cópia (“plágio”) da sua 
obra lançada em 2008. 
João comprou o livro de Pedro e constatou que realmente se tratava de plágio. 
Diante disso, em 2016, João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra Pedro e a 
editora “Y”. 
Pedro contestou a demanda arguindo a ocorrência da prescrição considerando que o seu livro foi 
publicado em 2010 e a ação de ressarcimento ajuizada em 2016. 
 
Qual é o prazo prescricional neste caso? 
3 anos, nos termos do art. 206, § 3º, V, do Código Civil: 
Art. 206. Prescreve: 
(...) 
§ 3º Em três anos: 
(...) 
V - a pretensão de reparação civil; 
 
O Código Civil não prevê um prazo prescricional específico para a violação de direitos do autor, de sorte 
que deve ser aplicado o art. 206, § 3º, V, dispositivo de caráter amplo, em que se inclui a reparação dos 
danos suportados pelo autor de obra intelectual. 
 
A partir de quando começou a contar o prazo prescricional? Qual é o termo inicial do prazo prescricional 
para reparação civil decorrente de plágio? 
O termo inicial é a data em que o autor originário toma conhecimento de que sua obra foi plagiada. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
Mas isso não gera insegurança jurídica? O ideal não seria considerar a data em que a obra plagiadora 
foi publicada? 
O STJ prestigiou, neste caso, a defesa e a reparação do direito do autor lesado. Isso porque o plágio tem 
como um dos seus elementos caracterizadores a dissimulação. Em outras palavras, o plágio é feito de forma 
enrustida justamente para não ser descoberto ou para que isso, se um dia o for, demore a acontecer. 
Assim, o plágio é uma lesão de difícil constatação, muitas vezes não sendo identificado senão após a leitura 
e análise da integralidade da obra. 
Por essa razão, se fosse considerado como termo inicial a data da publicação, o autor plagiado, para poder 
defender seu direito, teria que acompanhar todos os demais livros que fossem lançados e que tratassem 
sobre o mesmo assunto e, além disso, teria que lê-los na íntegra para tentar identificar se ocorreu plágio. 
Isso faria com que a defesa de seu direito fosse praticamente impossível, especialmente se considerarmos 
que o prazo prescricional de 3 anos não é muito grande. 
Desse modo, o STJ entendeu que o termo inicial do prazo prescricional não é necessariamente o dia em 
que a obra plagiadora foi publicada, mas sim a data em que o autor copiado teve efetiva ciência do plágio. 
 
Em suma: 
O termo inicial da pretensão de ressarcimento nas hipóteses de plágio se dá quando o autor originário 
tem comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua extensão, não servindo a data da 
publicação da obra plagiária, por si só, como presunção de conhecimento do dano. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.746-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/6/2017 (Info 609). 
 
Uma última pergunta: foi correta a inclusão da editora no polo passivo da demanda? A editora que 
publicou a obra plagiária tem legitimidade passiva para figurar na ação de indenização proposta pelo 
autor originário? 
SIM. A editora, nos termos do art. 104 da Lei nº 9.610/98, pode ser considerada solidariamente 
responsável pela prática de plágio. Com efeito, o mencionado art. 104 estabelece que aquele que vender, 
expuser à venda, distribuir e/ou tiver em depósito obra reproduzida com fraude, com finalidade de obter 
lucro, condutas nas quais se insere a do editor, responderá solidariamente com o contrafator. 
 
 
 
FALÊNCIA 
A incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados 
deve ocorrer até a data em que a sentença é prolatada 
 
A Lei de Falências afirma que o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros 
e correção monetária que são calculados até a “data da decretação da falência”. 
Quando a lei fala em “decretação da falência” deve-se considerar a data em ela foi prolatada 
(não importando quando ocorreu a sua publicação). 
Assim, no processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os créditos 
habilitados deve ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data da prolação da 
sentença (e não sua publicação). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 
Conceito 
Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja 
recuperação mostra-se inviável. 
 
 Informativocomentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
 
Finalidade 
A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de 
que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a 
uma ordem de prioridade estabelecida na lei. 
 
Legislação aplicável 
Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei nº 11.101/2005. 
 
Procedimento 
I — PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR II — PROCESSO FALIMENTAR 
O procedimento pré-falimentar vai do pedido 
de falência até a sentença do juiz. 
Engloba, resumidamente, três atos principais: 
1) pedido de falência; 
2) resposta do devedor; 
3) sentença. 
 
Ao final desta fase, a sentença pode ser: 
• denegatória: o processo se extingue sem a 
instauração da falência; 
• declaratória: hipótese em que se iniciará o 
processo falimentar propriamente dito. 
O processo falimentar vai da sentença 
declaratória de falência até a sentença de 
encerramento. 
 
É no processo falimentar propriamente dito 
que ocorre a verificação e habilitação dos 
créditos e o pagamento dos credores. 
 
Habilitação dos créditos 
Depois que a falência é decretada ocorre a habilitação dos créditos que deverão ser pagos pelo falido. 
Assim, as pessoas que tiverem créditos para receber do falido deverão apresenta-los ao administrador 
judicial da falência na forma do art. 9º da Lei nº 11.101/2005. 
 
Valor do crédito atualizado 
O credor deverá apresentar ao administrador judicial da falência o valor do seu crédito, atualizado com 
juros e correção monetária, nos termos do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005: 
Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, desta Lei deverá 
conter: 
(...) 
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação 
judicial, sua origem e classificação; 
 
Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a “data da decretação da 
falência”, conforme prevê o art. 124 da Lei: 
Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, 
previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores 
subordinados. 
Parágrafo único. Excetuam-se desta disposição os juros das debêntures e dos créditos com 
garantia real, mas por eles responde, exclusivamente, o produto dos bens que constituem a 
garantia. 
 
 Informativo 
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Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Assim, o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e correção monetária que são 
calculados, contudo, até a data da decretação da falência. Após a decretação, em regra, não correm mais 
juros e correção monetária mesmo que o pagamento efetivo ainda demore para ser realizado. 
 
A falência é decretada por meio de sentença. A dúvida que surgiu, no entanto, foi a seguinte: quando a 
lei fala em “decretação da falência”, ela está se referindo à data em que a sentença foi prolatada ou à 
data em que ela foi publicada? Isso porque entre a data da prolação da sentença e a sua efetiva 
publicação pode ser que tenham decorridos alguns dias. Logo, essa diferença pode influenciar no cPnos 
juros e correção monetária. E aí, qual é o termo final: a data em que foi prolatada ou publicada? 
A data em que a sentença foi prolatada. 
No processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve 
ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data da prolação da sentença e não sua 
publicação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 
A lei falimentar não condicionou os efeitos da falência à publicação da sentença de quebra. 
Sérgio Campinho ensina que “os seus efeitos materiais são de imediato produzidos, a partir, portanto, da 
assinatura pelo juiz, dadas as consequências que de logo acarreta. A sua publicação no órgão oficial, além 
de servir à sua publicidade, tem por fim a produção de efeitos de ordem processual, como a contagem do 
prazo recursal e do prazo de habilitação dos credores.” (Falência e Recuperação de Empresa. 7ª ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2015, p. 311). 
 
 
 
ECA 
 
ATO INFRACIONAL 
Judiciário pode determinar que Estado implemente plantão em 
Delegacia de Atendimento ao adolescente infrator 
 
A decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do plantão de 24 
horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude não constitui abuso 
de poder, tampouco extrapola o controle do mérito administrativo pelo Poder Judiciário. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/6/2017 (Info 609). 
 
Veja comentários em Direito Administrativo. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO 
Conceito de documento comum do art. 844, II, do CPC/1913 
 
O conceito de documento comum, previsto no art. 844, II, do CPC/1973, não se limita àquele 
pertencente a ambas as partes, mas engloba também o documento sobre o qual elas têm 
interesse comum, independentemente de o solicitante ter participado de sua elaboração. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.581-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/8/2017 (Info 609). 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Exibição judicial 
O CPC/1973 disciplinava uma série de ações cautelares específicas, dentre elas o procedimento de 
exibição, previsto nos arts. 844 e 845: 
Art. 844. Tem lugar, como procedimento preparatório, a exibição judicial: 
I - de coisa móvel em poder de outrem e que o requerente repute sua ou tenha interesse em conhecer; 
II - de documento próprio ou comum, em poder de co-interessado, sócio, condômino, credor ou 
devedor; ou em poder de terceiro que o tenha em sua guarda, como inventariante, testamenteiro, 
depositário ou administrador de bens alheios; 
III - da escrituração comercial por inteiro, balanços e documentos de arquivo, nos casos expressos 
em lei. 
Art. 845. Observar-se-á, quanto ao procedimento, no que couber, o disposto nos arts. 355 a 363, 
e 381 e 382. 
 
Imagine agora a seguinte situação: 
A empresa 1 ajuizou ação de indenização contra a empresa 2. 
Vale ressaltar que a empresa 1 havia celebrado, com a empresa 3, contrato cedendo 10% do que ela iria 
conseguir obter de indenização no processo. 
Em outras palavras, a empresa 1 fez um contrato de cessão com a empresa 3 dizendo o seguinte: 10% do 
que eu conseguir no processo são seus. 
As empresas 1 e 2 fizeram um acordo no processo judicial, tendo a empresa 1 (autora) renunciado ao 
direito de ação, o que ocasionou a extinção do processo. 
Diante disso, a empresa 3 ingressou com ação cautelar de exibição de documentos pedindo que fosse 
exibido o termo de acordo firmado entre as empresas 1 e 2. O pedido foi formulado com base no art. 844, 
II, do CPC/1973: 
Art. 844. Tem lugar, como procedimento preparatório, a exibição judicial: 
(...) 
II - de documento próprio ou comum, em poder de co-interessado, sócio, condômino, credor ou 
devedor; ou em poder de terceiro que o tenha em sua guarda, como inventariante, testamenteiro, 
depositário ou administrador de bens alheios; 
 
O juiz extinguiu a ação cautelar afirmando que afirmando que o acordo celebrado entre as empresas 1 e 
2 não constitui “documento próprio do autor ou comum” às partes, de forma quenão se enquadraria no 
inciso II acima transcrito. 
 
Agiu corretamente o magistrado? 
NÃO. De fato, a autora (empresa 3) não participou da elaboração do documento cuja exibição pretende 
que lhe seja deferida. No entanto, o conceito de “documento comum” não se limita àquele pertencente a 
ambas as partes, mas engloba também o documento sobre o qual as partes têm interesse comum. 
“Documento comum não é, assim, apenas o que pertence indistintamente a ambas as partes, mas também 
o que se refere a uma situação que envolva ambas as partes , ou uma das partes e terceiro”. (THEODOR 
JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 605) 
 
Em suma: 
O conceito de documento comum, previsto no art. 844, II, do CPC/1973, não se limita àquele 
pertencente a ambas as partes, mas engloba também o documento sobre o qual elas têm interesse 
comum, independentemente de o solicitante ter participado de sua elaboração. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.581-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/8/2017 (Info 609). 
 
O CPC/2015 não repetiu esse dispositivo porque não mais tratou sobre procedimentos cautelares típicos 
(nominados). 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
 
 
DIREITO PENAL 
 
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
Não é possível a execução provisória de penas restritivas de direito 
 
Não é possível a execução da pena RESTRITIVA DE DIREITOS antes do trânsito em julgado da 
condenação. 
Assim, é cabível execução provisória de penas privativas de liberdade, mas não de penas 
restritivas de direito. 
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. 
Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). 
 
Veja comentários em Direito Processual Penal. 
 
 
 
LESÃO CORPORAL 
Lesão corporal contra irmão configura o § 9º do art. 129 do CP 
não importando onde a agressão tenha ocorrido 
 
Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal leve –, 
qualificada pela violência doméstica, tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no 
ambiente familiar. 
Ex: João agrediu fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham, causando-lhe 
lesão corporal leve. O agente deverá responder pelo art. 129, § 9º do CP. Sendo a lesão corporal 
praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, deverá incidir a 
qualificadora do § 9º não importando onde a agressão tenha ocorrido. 
STJ. 5ª Turma. RHC 50.026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 
Lesão corporal qualificada pela violência doméstica 
O crime de lesão corporal é previsto no art. 129 do Código Penal: 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
O § 9º do art. 129 prevê uma qualificadora caso a lesão corporal seja decorrente de violência doméstica: 
Violência Doméstica 
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou 
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340/06) 
 
Obs: vale ressaltar que a pena prevista no § 9º (3 meses a 3 anos) somente se aplica em caso de lesão 
corporal leve. Se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte, deverão ser aplicadas as penas dos §§ 
1º, 2º e 3º, respectivamente, com a causa de aumento do § 10 do art. 129. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Se um homem for vítima de lesão corporal decorrente de violência doméstica, incidirá esse § 9º do art. 
129? Esse dispositivo é aplicado tanto para vítimas mulheres como homens? 
SIM. 
A qualificadora prevista no § 9º do art. 129 do CP aplica-se também às lesões corporais cometidas contra 
HOMEM no âmbito das relações domésticas. 
STJ. 5ª Turma. RHC 27.622-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/8/2012. 
 
A ideia do legislador ao incluir o § 9º ao art. 129 do CP foi a de ter coibir a violência nas relações domésticas 
independentemente de a vítima ser mulher ou homem. Assim, não há irregularidade em aplicar a 
qualificadora de violência doméstica às lesões corporais contra homem. 
Mas, por favor, não confunda: a Lei Maria da Penha, seus institutos e regras, não se aplicam quando a 
vítima for homem. A Lei Maria da Penha somente se aplica para vítimas mulheres. 
 Qualificadora do § 9º do art. 129 do CP: pode ser aplicado quando a vítima for mulher ou homem; 
 Lei Maria da Penha: somente pode ser aplicada quando a vítima for mulher. 
 
Ex: filho empurrou seu pai que, com a queda, sofreu lesões corporais leves. Em tese, esse filho praticou o delito 
do art. 129, § 9º, do CP. Apesar disso, não se aplicará a Lei Maria da Penha neste caso porque a vítima é homem. 
 
Pode incidir a qualificadora do § 9º do art. 129 do CP mesmo que a lesão corporal tenha sido praticada 
fora do âmbito familiar (no ambiente de trabalho, p. ex.)? João agride fisicamente seu irmão na sede da 
empresa onde trabalham. João poderá responder pelo art. 129, § 9º do CP? 
SIM. Uma das formas de se praticar o crime do art. 129, § 9º do CP é simplesmente cometer lesão corporal 
contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro. Ocorrendo isso, configura-se o delito 
não importando onde a agressão tenha ocorrido. 
Assim, decidiu o STJ: 
Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal leve –, qualificada 
pela violência doméstica, tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. 
STJ. 5ª Turma. RHC 50.026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 
 
 
LEI DE DROGAS 
O interrogatório, na Lei de Drogas, é o último ato da instrução 
 
Importante!!! 
O art. 400 do CPP prevê que o interrogatório deverá ser realizado como último ato da 
instrução criminal. 
Essa regra deve ser aplicada: 
• nos processos penais militares; 
• nos processos penais eleitorais e 
• em todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (ex: lei de drogas). 
Essa tese acima exposta (interrogatório como último ato da instrução em todos os 
procedimentos penais) só se tornou obrigatória a partir da data de publicação da ata de 
julgamento do HC 127900/AM pelo STF, ou seja, do dia 11/03/2016 em diante. Os 
interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da lei de drogas até o dia 
10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido efetivados como o primeiro ato da instrução. 
STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816). 
STJ. 6ª Turma. HC 397382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3/8/2017 (Info 609). 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 609-STJ (13/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
 
A Lei nº 11.343/2006 tipifica os delitos envolvendo drogas. Além de prever os crimes, a referida Lei 
também traz o procedimento, ou seja, o rito que deverá ser observado pelo juiz. 
Desse modo, a Lei nº 11.343/2006 traz um procedimento especial que possui algumas diferenças em 
relação ao procedimento comum ordinário previsto no CPP. Uma das diferenças reside no momento em 
que é realizado

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