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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 610-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 
 Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos Municípios. 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. 
 Súmula 591-STJ. 
 Súmula 592-STJ. 
 
DIREITO CIVIL 
DÍVIDA DE JOGO 
 É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de jogo contraídas no exterior. 
 
POSSE 
 Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço contratado. 
 
COMPRA E VENDA 
 Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao abatimento do preço. 
 
SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO 
 A separação judicial continua existindo no ordenamento jurídico mesmo após a EC 66/2010. 
 
TESTAMENTO 
 Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha 
sido feito o registro da condição de cego no instrumento. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PLANO DE SAÚDE 
 Plano de saúde pode exigir dos médicos que indiquem a CID nas requisições de exames. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
SOCIEDADES 
 Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do dividendo, não terá direito de receber os 
lucros da companhia. 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção monetária até a data do pedido de 
recuperação judicial mesmo que a sentença diga de forma diversa. 
 O fato da empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação de sentença arbitral estrangeira. 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA 
 Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite Resp sob a alegação de que o mérito do 
acórdão impugnado está em sintonia com o entendimento do STJ. 
 
EXECUÇÃO FISCAL 
 Alienante do imóvel continua responsável pelos débitos tributários cujo fato gerador ocorreram antes da alienação. 
 
DIREITO PENAL 
FALSIDADE IDEOLÓGICA 
 Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica. 
 
LEI DE DROGAS 
 Súmula 587-STJ. 
 
LEI MARIA DA PENHA 
 Súmula 588-STJ. 
 Súmula 589-STJ. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
TRIBUNAL DO JÚRI 
 Documento ou objeto somente pode ser lido ou exibido no júri se a parte adversa tiver sido cientificada de sua 
juntada com até 3 dias úteis de antecedência. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMPOSTO DE RENDA 
 Súmula 590-STJ. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 
 A verba relativa a “quebra de caixa” possui natureza salarial e sobre ela incide contribuição previdenciária. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 
Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos Municípios 
 
Atenção! Advocacia Pública 
Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em juízo 
direitos e interesses das pessoas jurídicas de direito público. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/6/2017 (Info 610). 
 
Imagine a seguinte situação: 
FUNDEF significa Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do 
Magistério e vigorou de 1997 a 2006. Foi uma forma encontrada pelo governo para destinar mais recursos 
para a educação, vinculando a arrecadação de alguns impostos para investimentos no ensino fundamental. 
A União também deveria participar do FUNDEF aplicando recursos para complementar os valores 
aplicados pelos Estados e Municípios. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Diversos Municípios ingressaram com ações contra a União alegando que o valor repassado pelo ente 
federal por aluno ficou abaixo daquilo que a legislação determinava. 
Até aí, tudo bem. Estas ações tramitam (ou tramitaram) normalmente. 
O ponto interessante que eu gostaria de chamar a atenção foi o seguinte: a Associação dos Municípios e 
Prefeitos do Estado do Ceará – APRECE, com o objetivo de facilitar a situação para os Municípios cearenses, 
decidiu ingressar, como representante processual, com ação contra a União, objetivando a condenação 
desta à complementação dos valores do FUNDEF. Em outras palavras, a referida associação falou: meus 
associados (Municípios) foram prejudicados pelos repasses da União abaixo do valor previsto na lei. Logo, 
eu quero a condenação da União a pagar os valores corretos em favor de cada um dos Municípios 
prejudicados. 
 
Este pedido pode ser conhecido? A referida associação possui legitimidade para defender, em juízo, os 
direitos dos Municípios associados? 
NÃO. 
Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em juízo direitos e 
interesses das pessoas jurídicas de direito público. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/6/2017 (Info 610). 
 
A ação foi proposta pela associação como representante processual 
Em primeiro lugar, deve-se deixar claro que a associação ingressou em juízo como representante 
processual dos Municípios (e não como substituto processual). Isso porque, segundo o STF (RE 573232), o 
art. 5º, XXI, da CF/88 traz hipótese de representação processual: 
Art. 5º (...) 
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para 
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; 
 
No caso concreto, inclusive, havia termo de adesão assinado pelos Prefeitos dos Municípios concordando 
com a propositura a ação, o que configura a autorização exigida pelo art. 5º, XXI, da CF/88. 
 
Quem representa os Municípios em juízo 
A representação judicial dos Municípios, ativa e passivamente, deve ser exercida por seu Prefeito ou 
Procurador, conforme previsto no art. 75, III, do CPC/2015: 
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: 
(...) 
III - o Município, por seu prefeito ou procurador; 
 
Portanto, não é possível que essa regra expressa seja alterada para que a representação se faça por 
associação de municípios. 
 
A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito privado, haja vista que 
se submete às normas de direito público. Assim sendo, não se pode admitir que haja uma delegação para 
que uma pessoa jurídica de direito privado (associação) possa tutelar interesses de pessoa jurídica de 
direito público (Município). 
 
Em qualquer tipo de ação, permitir que os Municípios sejam representados por associações equivaleria a 
autorizar que eles dispusessem de uma série de privilégios materiais e processuais estabelecidos pela lei 
em seu favor. E, como esses privilégios visam a tutelar o interesse público, não há como os Munícipios 
disporem deles ajuizando suas ações por meio de associações, pois o interesse público é indisponível. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
 
Existem outros precedentes do STJ no mesmo sentido: 
A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito privado, haja vista que 
se submete às normas de direito público. Assim sendo, insuscetível de renúncia ou de delegação a pessoa 
jurídicade direito privado, tutelar interesse de pessoa jurídica de direito público sob forma de substituição 
processual. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1446813/CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/11/2014. 
 
 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Validade da prova emprestada 
 
Súmula 591-STJ: É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, 
desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a 
ampla defesa. 
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017. 
 
Prova emprestada 
Em regra, a prova que será utilizada pelas partes e pelo juiz no processo é produzida dentro do próprio 
processo. 
É possível, no entanto, que uma prova que foi produzida em um processo seja levada (“transportada”) 
para ser utilizada em outro processo. A isso a doutrina chama de “prova emprestada”. 
“Prova emprestada é a prova de um fato, produzida em um processo, seja por documentos, testemunhas, 
confissão, depoimento pessoal ou exame pericial, que é trasladada para outro processo sob a forma 
documental.” (DIDIER JR. Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. 
Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 52). 
 
Quais são os fundamentos que justificam a aceitação da prova emprestada? 
• Princípio da economia processual; e 
• Princípio da busca da verdade possível, uma vez que nem sempre será possível produzir a prova 
novamente. 
 
“A utilização de prova já produzida em outro processo responde aos anseios de economia processual, 
dispensando a produção de prova já existente, e também da busca da verdade possível, em especial 
quando é impossível produzir novamente a prova.” (NEVES, Daniel Assumpção. Manual de Direito 
Processual Civil. São Paulo: Método, 2013, p. 430). 
 
A prova emprestada ingressa no processo com que natureza? 
A prova que veio de outro processo entra no processo atual como “prova documental”, 
independentemente da natureza que ela tinha no processo originário. 
Ex.1: foi colhido o depoimento de uma testemunha no processo 1. Trata-se de prova testemunhal. Se essa 
inquirição for “emprestada” (trasladada) para o processo 2, ela ingressará no feito como prova 
documental (e não mais como prova testemunhal). 
Ex.2: a perícia realizada no processo 1, se for emprestada para o processo 2, ingressará como prova 
documental (e não mais como prova pericial). 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente 
produzida em processo criminal? 
SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são firmes no sentido de que é admitida a utilização no processo 
administrativo de “prova emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que autorizada 
pelo juízo criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa (STJ. 1ª Seção. MS 17.472/DF, Rel. Min. 
Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/6/2012). 
Obs: apesar de ser menos comum, em tese, também é possível emprestar para o processo administrativo 
provas produzidas em uma ação cível. 
 
Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha transitado em 
julgado? 
SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente 
produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida no processo criminal não 
repercute na instância administrativa, tendo em vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 
2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/4/2013. Info 521). 
 
É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a 
interceptação telefônica produzida em ação penal? 
SIM, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das 
demais exigências contidas na Lei nº 9.296/1996 (STJ. 3ª Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, 
julgado em 26/9/2012). 
Ex.: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu captar 
conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato relacionado com suas 
atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito, o MPF oferece denúncia contra 
esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura processo administrativo disciplinar. 
 
O STF também decidiu no mesmo sentido afirmando que: 
A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo criminal pode ser 
utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. 
Assim, é possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em 
processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo disciplinar. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Excesso de prazo para conclusão 
 
Súmula 592-STJ: O excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar 
só causa nulidade se houver demonstração de prejuízo à defesa. 
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017. 
 
Processo administrativo disciplinar 
O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto nos arts. 143 
a 182 da Lei nº 8.112/90. 
O processo administrativo disciplinar (em sentido amplo) divide-se em: 
• sindicância; 
• processo administrativo disciplinar propriamente dito (PAD). 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
 
Fases do PAD 
O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: 
I — instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; 
II — inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; 
III — julgamento. 
 
Prazo de duração do PAD 
No âmbito federal, o prazo de duração do PAD é de 60 dias, prorrogáveis por mais 60 dias, até a elaboração 
do relatório. Nesse sentido: 
Art. 152. O prazo para a conclusão do processo disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, 
contados da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por 
igual prazo, quando as circunstâncias o exigirem. 
Depois disso, a autoridade julgadora terá 20 dias para proferir sua decisão (art. 167). 
 
Excesso de prazo 
Tanto o STJ como o STF entendem que o excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo 
disciplinar não gera, por si só, qualquer nulidade no feito. 
O excesso de prazo só tem a força de invalidar o processo administrativo se ficar comprovado que houve 
fundado e evidenciado prejuízo à defesa do servidor. 
Se não há prejuízo, não há razão para se declarar a nulidade do processo. É a aplicação do princípio do pas 
de nullité sans grief (não há nulidade sem prejuízo). 
No âmbito federal, a Lei nº 8.112/91 é expressa nesse sentido: 
Art. 169 (...) 
§ 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do processo. 
Obs: a súmula 592 aplica-se não apenas para processos administrativos disciplinares de servidores 
públicos federais, mas também para servidores estaduais e municipais. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
DÍVIDA DE JOGO 
É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de jogo contraídas no exterior 
 
Importante!!! 
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassinoque funciona legalmente no 
exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a 
soberania nacional. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João gosta muito de cassinos a fim de participar de torneios de poker e foi passar o fim de semana em Las 
Vegas (EUA), como faz frequentemente. 
Por ser cliente assíduo do hotel, João possui um privilégio por meio do qual adquire as fichas para o cassino 
com a obrigação de pagar depois. Isso é chamado de “marker”, créditos concedidos ao jogador, que recebe 
a antecipação dos valores em forma de fichas e assina uma espécie de promissória. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
João pegou o equivalente a 500 mil dólares em fichas, assinando as respectivas promissórias. 
Depois de dois dias jogando, o brasileiro perdeu tudo. 
Ele voltou para o Brasil sem pagar pelas fichas que adquiriu. 
O cassino ingressou, então, com ação de cobrança na vara cível de São Paulo, local onde mora o réu, 
pedindo o pagamento de quase R$ 2 milhões, valor atualizado do débito. 
João contestou a ação alegando que o pedido é juridicamente impossível considerando que o 
ordenamento brasileiro proíbe a cobrança de dívidas de jogo. 
 
O argumento do réu foi acolhido pelo STJ? A ação deve ser julgada extinta sem resolução do mérito pela 
impossibilidade jurídica do pedido? 
NÃO. 
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é 
juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610). 
 
O jogo explorado por cassinos é proibido pela legislação brasileira, sendo, no entanto, lícito em diversos 
estados americanos, como é o caso de Nevada, onde se situa Las Vegas. 
A questão a ser debatida, então, diz respeito à possibilidade de cobrança judicial de dívida de jogo 
contraída por um brasileiro em um cassino que funciona legalmente no exterior. O STJ entendeu que é 
possível. Vamos entender com calma. 
 
Dívidas de jogo contraídas no Brasil são inexigíveis 
O art. 814 do Código Civil preconiza: 
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a 
quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou 
interdito. 
 
Em caso de obrigação constituída no exterior aplica-se o art. 9º da LINDB 
Ocorre que a obrigação foi constituída nos EUA. Dessa forma, deve-se aplicar a legislação estadunidense, 
conforme prevê o art. 9º, caput, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): 
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. 
 
Assim, a lei material aplicável ao caso é a norte-americana, mais especificamente a do Estado de Nevada. 
 
Para obrigação constituída no exterior poder ser exigida em nosso país, deve-se respeitar a soberania 
nacional, a ordem pública e os bons costumes 
Vale ressaltar que a lei estrangeira somente pode produzir eficácia jurídica no Brasil se não ofenderem a 
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Em outras palavras, mesmo tendo a obrigação 
se constituído no exterior, esta obrigação somente será exigível em nosso país se não violar estes valores. 
Isso é o que estabelece o art. 17 da LINDB: 
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não 
terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons 
costumes. 
 
Dessa feita, a possibilidade (ou não) de cobrança de dívida de jogo contraída no exterior está diretamente 
relacionada com os valores mencionados no referido art. 17. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
A pergunta que surge, então, é a seguinte: cobrar dívida de jogo contraída no exterior viola a soberania 
nacional, ordem pública e bons costumes? 
NÃO. Vejamos. 
 
Soberania nacional 
A cobrança de dívida de jogo ocorrida no exterior não ofende a soberania nacional. Ora, a concessão de 
validade a negócio jurídico realizado no estrangeiro não retira o poder do Brasil em relação ao seu 
território nem cria nenhuma forma de dependência ou subordinação a outros Estados soberanos. 
 
Ordem pública 
A ordem pública é conceito mutável, relacionado com a moral e com a ordem jurídica vigente em dado 
momento histórico. Não se trata de uma noção rígida, mas de um critério que deve ser revisto conforme 
a evolução da sociedade. 
Existem atualmente no Brasil diversos jogos de azar legalizados, os quais em nada se diferenciam dos jogos 
estimulados nos cassinos. 
Não há, portanto, uma absoluta incompatibilidade entre a lei do Estado de Nevada, que autoriza os 
cassinos supervisionados pelo Estado, com a ordem jurídica vigente no Brasil. 
Vale ressaltar que o Brasil pune como contravenção penal a exploração de jogos não legalizados (art. 50). 
Ocorre que os cassinos no Estado de Nevada são jogos legalizados, de forma que não se enquadram na Lei 
de Contravenções Penais. 
 
Bons costumes 
O meio social e o ordenamento jurídico brasileiros não consideram atentatórios aos bons costumes os 
jogos de azar. Isso se mostra pelo fato de que diversos deles são autorizados no Brasil, como loterias, 
raspadinhas, sorteios e corridas de cavalo. 
Além disso, o próprio art. 814 do CC, em sua parte final, afirma que não se pode recobrar a quantia que 
voluntariamente se pagou a título de dívida de jogo ou aposta. Ora, se fosse contrário aos bons costumes, 
não haveria essa regra de irrepetibilidade. 
 
Dessa forma, cobrar dívida de jogo contraída no exterior não viola a soberania nacional, ordem pública e 
bons costumes. 
 
Enriquecimento sem causa 
Além disso, permitir a cobrança, no Brasil, de dívida de jogo contraída no exterior é uma medida que está 
de acordo com o art. 884 do Código Civil, que proíbe expressamente o enriquecimento sem causa. 
Aquele que visita país estrangeiro, usufrui de sua hospitalidade e contrai livremente obrigações lícitas não 
pode retornar a seu país de origem buscando a impunidade civil. 
Se não fosse permitido que o cassino cobrasse a dívida aqui no Brasil, haveria lesão à boa-fé de terceiro, 
bem como o enriquecimento sem causa do devedor. 
Conclui-se, portanto, que o pedido é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons 
costumes e a soberania brasileira. Ademais, deve ser aplicada, no que respeita ao direito material, a lei 
americana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
COMPRA E VENDA 
Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao abatimento do preço 
 
O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de terraço na cobertura 
de imóvel objeto de negócio jurídico de compra e venda – que garante o seu uso de acordo com a 
destinação e impede a diminuição do valor –, afasta o pleito de abatimento do preço. 
João comprou apartamento no último andar do edifício, estando previsto no contrato que ele 
poderia fazer construções na cobertura. Por ter comprado a cobertura, ele pagou 25% a mais. 
Ocorreque, depois que o prédio ficou pronto, João não pode realizar nenhuma construção na 
cobertura porque isso foi negado pelo Município sob o argumento de que o prédio já teria 
alcançado o limite máximo de altura previsto para aquela localidade. Diante disso, João 
ajuizou ação de abatimento de preço contra a construtora. Três anos após o ajuizamento, 
houve uma mudança nas regras municipais e o limite de altura dos prédios naquela localidade 
aumentou. Com isso, passou a ser permitido que ele construísse na cobertura. João não terá 
mais direito ao abatimento do preço. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.478.254-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/8/2017 (Info 610). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João comprou da construtora, na planta, um apartamento no último andar de um edifício residencial. 
Como se tratava do último pavimento, o projeto idealizado e o contrato assinado autorizavam que João 
tivesse o uso, gozo e fruição da “laje” do edifício. Assim, ele teria direito de colocar uma churrasqueira, 
cadeiras de sol, um bar, entre outras coisas que desejasse. 
Por ter comprado a cobertura, João pagou 25% a mais do preço dos demais apartamentos. 
Ocorre que, depois que o prédio ficou pronto, João não pode realizar nenhuma construção na cobertura 
porque isso foi negado pelo Município sob o argumento de que o prédio já teria alcançado o limite máximo 
de altura (gabarito) previsto pelas regras urbanísticas para aquela localidade. 
Diante desse fato, João ajuizou ação de abatimento de preço contra a construtora alegando que pagou a 
mais para ter direito de uso, gozo e fruição da cobertura, mas que isso lhe foi negado por falta de estudo 
da incorporadora, que não analisou corretamente as regras municipais de urbanismo. 
Assim, o autor argumentou que houve vício redibitório (popularmente conhecido como “vício oculto”), o 
que acaba por diminuir o valor do bem. 
Três anos após o ajuizamento da ação, houve uma mudança nas regras municipais e o limite de altura dos 
prédios naquela localidade aumentou. Com isso, passou a ser permitido que João construísse em sua 
cobertura. 
Mesmo assim, João continuou cobrando o abatimento do preço sob o argumento de que a construtora, 
na época do contrato, vendeu o que não podia e ela não pode ser beneficiada por uma autorização 
excepcional que só se efetivou por conta exclusiva de uma legislação extraordinária superveniente, o que 
configura enriquecimento ilícito. 
 
Neste caso concreto, João terá direito ao abatimento do preço? Deverá haver o abatimento do preço do 
imóvel que, apesar de vendido com direito de uso, gozo e fruição da área de “laje” na cobertura, tal 
direito só veio realmente a existir após autorização legislativa anos depois da compra? 
NÃO. Como houve a regularização do problema, João não terá mais direito ao abatimento do preço. 
Segundo decidiu o STJ: 
O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de terraço na cobertura de 
imóvel objeto de negócio jurídico de compra e venda – que garante o seu uso de acordo com a 
destinação e impede a diminuição do valor –, afasta o pleito de abatimento do preço. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.478.254-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/8/2017 (Info 610). 
 
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Vamos entender a fundamentação do julgado. 
 
Direito real de laje 
Recentemente, a Lei nº 13.465/2017, alterando o Código Civil, criou o chamado “direito real de laje” (art. 
1.225, XIII, do CC). 
O direito real de laje consiste na possibilidade de o proprietário de uma construção-base ceder a superfície 
superior ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade distinta daquela 
originalmente construída sobre o solo (novo art. 1.510-A do CC). 
Em outras palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática: alguém tem um imóvel 
(uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel (a "laje") ou mesmo a parte de baixo 
(subsolo) para que lá ela construa outra edificação autônoma em relação à construção que já tinha sido 
feita pelo proprietário. 
A laje é unidade imobiliária autônoma, devendo ser considerada como célula habitacional distinta (isolada) 
da construção-base, possuindo, inclusive, matrícula própria. 
O objetivo da lei foi o de regulamentar realidade social muito comum nas cidades brasileiras, conferindo, 
de alguma forma, dignidade à situação de inúmeras famílias carentes que vivem alijadas de uma proteção 
específica, dando maior concretude ao direito constitucional à moradia (art. 6º, da CF/88). 
Criou-se, assim, um direito real sobre coisa alheia, na qual se reconheceu a proteção sobre aquela 
extensão - superfície sobreposta ou pavimento inferior - da construção original, conferindo destinação 
socioeconômica à referida construção. 
 
No caso concreto, João tinha direito real de laje? 
NÃO. Apesar de algumas vezes ter se falado acima em “laje”, a situação de João não se enquadra no 
“direito real de laje” do art. 1.510-A do CC. 
Aqui estamos falando da compra de uma unidade ideal (apartamento) de um edifício que inclui também 
o terraço. Nesse caso, a área construída na cobertura é como se fosse uma espécie de acessão/benfeitoria, 
de titularidade única, com o mesmo número de matrícula, sem desdobramento da propriedade, não se 
tratando de unidade autônoma. A cobertura não tem, por isso mesmo, matrícula própria, ao contrário do 
direito real de laje. 
 
No final das contas, o consumidor ficou com o imóvel na forma como ele o adquiriu 
Não há direito ao abatimento do preço porque o consumidor acabou recebendo o seu imóvel nos exatos 
moldes em que fora pactuado. 
Apesar de realmente ter havido um vício oculto inicial, a coisa acabou por não ficar nem imprópria para o 
consumo, nem teve o seu valor diminuído, justamente em razão da sanatória posterior, que permitiu a 
construção do gabarito nos termos em que contratado. 
Assim, realmente, perde fundamento o pedido de abatimento considerando que a coisa não perdeu seu 
valor, já que foi recebida em sua totalidade. 
 
Mas João ficou três anos sem poder construir na cobertura... 
O que o STJ afirmou é que ele não tem direito ao abatimento do preço, ou seja, a redução daquilo que 
pagou. No entanto, é possível que ele pleiteie e receba indenização pelos danos materiais decorrentes do 
período em que acabou ficando impedido de exercer seu direito de uso, gozo e fruição da laje. 
 
 
 
 
 
 
 
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POSSE 
Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço contratado 
 
Importante!!! 
Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode 
reter o bem por falta de pagamento do serviço. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017 (Info 610). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O carro de João estava apresentando problema na injeção eletrônica. 
Em virtude disso, João deixou o veículo para conserto na oficina mecânica “Boa Peça”. 
Após três dias, Luiz, gerente da oficina, liga para o proprietário avisando que o automóvel estava pronto. 
João foi pegar o carro, mas disse para Luiz que gostaria de pagar pelo conserto somente no mês seguinte, 
considerando que no momento estava sem dinheiro. 
Luiz não concordou com a proposta e afirmou que somente devolveria o veículo após o pagamento do 
serviço. Enquanto isso, ele permaneceria na oficina.Luiz poderia ter feito isso? É possível reter o veículo na oficina até que haja o pagamento do serviço? 
NÃO. 
Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode reter o 
bem por falta de pagamento do serviço. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017 (Info 610). 
 
O direito de retenção encontra-se previsto no art. 1.219 do Código Civil: 
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, 
bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem 
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias 
e úteis. 
 
O direito de retenção é uma das raras hipóteses de autotutela permitidas no ordenamento jurídico pátrio, 
em que o particular pode exercer pessoalmente a tutela de seus interesses, sem a necessidade da 
intervenção do Estado-Juiz. 
Por se tratar de medida excepcionalíssima, o direito de retenção somente pode ser exercido nos estritos 
termos da lei. 
Pela simples leitura do art. 1.219, percebe-se que o direito de retenção somente pode ser exercido pelo 
possuidor de boa-fé. 
No caso concreto, a oficina mecânica em nenhum momento exerceu a posse do bem. É incontroverso que 
o veículo foi deixado na empresa pelo proprietário somente para a realização de reparos. Isso não conferiu 
posse à oficina, pois esta jamais poderia exercer poderes inerentes à propriedade do bem, relativos à sua 
fruição ou mesmo inerentes ao referido direito real (propriedade), nos termos do art. 1.196 do Código 
Civil. 
Dessa forma, a oficina teve somente a detenção do bem, que ficou sob sua custódia por determinação e 
liberalidade do proprietário, que, em princípio, teria anuído com a realização do serviço. 
Assim, a posse do veículo não foi transferida para a oficina, que jamais a exerceu em nome próprio, mas 
sim em nome de outrem, cumprindo determinações do proprietário do bem, numa espécie de vínculo de 
subordinação. 
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Em suma, a oficina não poderia exercer o direito de retenção sob a alegação da realização de benfeitoria 
no veículo, pois, nos termos do art. 1.219 do Código Civil, tal providência é permitida ao possuidor de boa-
fé, mas não ao mero detentor do bem. 
 
Qual a ação judicial que deverá ser proposta pelo proprietário do carro? 
Ação de reintegração de posse. 
 
Qual a ação judicial que deverá ser proposta pela oficina? 
Ação de cobrança. 
 
 
 
SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO 
A separação judicial continua existindo no ordenamento jurídico mesmo após a EC 66/2010 
 
Importante!!! 
A EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que trata da 
separação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604). 
 
EC 66/2010 
A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”), alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88, 
suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de separação de fato no divórcio. 
A EC 66/2010 retirou do texto da CF/88 a referência expressa à existência de separação judicial. Compare 
as duas redações: 
 
Antes da EC 66/2010 DEPOIS da EC 66/2010 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo 
divórcio, após prévia separação judicial por mais 
de um ano nos casos expressos em lei, ou 
comprovada separação de fato por mais de dois 
anos. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo 
divórcio. 
 
Apesar de a CF/88 ter expurgado de seu texto o termo “separação judicial”, o art. 1.571, III, do CC (que 
menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente revogado. Em outras palavras, o 
constituinte reformador tirou da Constituição a separação, mas ela ainda continua presente no Código 
Civil. Diante disso, surgiram duas correntes: 
 
O Direito brasileiro ainda admite a existência da separação? 
SIM NÃO 
Uma primeira corrente defende que a separação 
judicial continua a ser possível para aqueles que 
assim desejam. 
Os autores filiados a essa posição afirmam que 
existem pessoas que, por razões religiosas ou 
filosóficas, não admitem o divórcio e, assim, 
querem ficar apenas “separadas”, mas não 
“divorciadas”. 
Sustenta que o art. 1.571, III, do CC, mesmo 
não tendo sido alterado expressamente, foi 
revogado pela EC 66/2010 (não recepção). 
Logo, não é mais possível que haja separação 
judicial, mas apenas o divórcio. 
 
 
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Outro argumento é o de que a separação seria uma 
alternativa interessante para os casais que não 
descartam a possibilidade de reatarem, 
considerando que se estiverem apenas separados 
poderão restabelecer, a todo tempo, a sociedade 
conjugal. Ao contrário, se estiverem divorciados e 
desejarem se reconciliar, teriam que casar 
novamente, o que seria mais burocrático. 
Na V Jornada de Direito Civil foi aprovado um 
enunciado adotando a 1ª corrente: 
Enunciado 514: Art. 1.571. A Emenda Constitucional 
n. 66/2010 não extinguiu o instituto da separação 
judicial e extrajudicial. 
Essa segunda posição era defendida por 
inúmeros doutrinadores, como Paulo Lôbo, 
Rodrigo da Cunha Pereira, Pablo Stolze, Maria 
Berenice Dias, Flávio Tartuce, Cristiano Chaves 
e Nelson Rosenvald. 
 
Qual foi a posição adotada pelo STJ? 
A 1ª corrente. Decidiu o STJ: 
A EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que trata da separação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604). 
 
Principais argumentos invocados para esta conclusão: 
 Analisando a literalidade do art. 226, § 6º, percebe-se que a única alteração promovida pela EC 
66/2010 foi a supressão do requisito temporal para divórcio, bem como do sistema bifásico, para que 
o casamento seja dissolvido pelo divórcio. Ocorreu, portanto, facilitação ao divórcio (e não a abolição 
da separação judicial). 
 O texto constitucional dispõe que o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. Isso significa 
que a CF conferiu uma faculdade aos cônjuges, não significando, contudo, que tenha extinguido a 
possibilidade de separação judicial. 
 Se o divórcio é permitido sem qualquer restrição, forçoso concluir que também é possível a separação 
judicial considerando que, quem pode o mais, pode o menos também. 
 Entender que a alteração promovida pela EC 66/2010 suprimiu a existência da separação extrajudicial 
ou judicial levaria à interpretação de que qualquer assunto que não fosse mais tratado no texto 
constitucional por desconstitucionalização estaria extinto, o que seria um absurdo. 
 Não ocorreu a revogação tácita da legislação infraconstitucional que versa sobre a separação, dado 
que a EC 66/2010 não tratou em momento algum sobre a separação, bem como não dispôs sobre 
matéria com ela incompatível. 
 O novo CPC (Lei nº 13.105/2015) manteve em diversos dispositivos referências ao instituto da separação 
judicial, inclusive regulando-o no capítulo que trata das ações de família, demonstrando, de forma 
indiscutível, que a mens legis foi a de manter a figura da separação no ordenamento jurídicopátrio. 
 
Considerando que o divórcio e a separação ainda coexistem no ordenamento jurídico, qual é a diferença 
entre eles? 
Separação (judicial ou extrajudicial) Divórcio 
A separação é modalidade de extinção da 
sociedade conjugal, pondo fim aos deveres de 
coabitação e fidelidade, bem como ao regime de 
bens (art. 1.571, III, do Código Civil) sem, no 
entanto, dissolver o casamento. 
É forma de dissolução do vínculo conjugal e 
extingue o próprio vínculo conjugal, pondo termo 
ao casamento, refletindo diretamente sobre o 
estado civil da pessoa e permitindo que os ex-
cônjuges celebrem novo casamento, o que não 
ocorre com a separação. 
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A separação é uma medida temporária e de 
escolha pessoal dos envolvidos, que podem optar, 
a qualquer tempo, por restabelecer a sociedade 
conjugal ou pela sua conversão definitiva em 
divórcio. 
O divórcio é, em tese, definitivo. Caso as pessoas 
divorciadas desejem ficar novamente juntas, 
precisam se casar novamente. 
 
 
 
 
TESTAMENTO 
Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras 
e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento 
 
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito 
por pessoa cega. Exige-se: 
a) que o testamento seja público; 
a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma); 
b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. 
Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um 
testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve 
apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. 
Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da condição de cego do 
testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade. 
O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda 
leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua 
nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610). 
 
Testamento. Conceito e características 
Testamento é um... 
- negócio jurídico 
- unilateral (traz obrigações somente para quem elabora), 
- solene (deve obedecer formalidades previstas em lei, 
- personalíssimo (ato elaborado exclusivamente pelo testador) e 
- revogável, 
- por meio do qual o testador, 
- observada a legislação vigente, 
- determina quem irá ficar com seu patrimônio depois que ele vier a falecer, 
- podendo ainda prever outras regras de caráter não patrimonial. 
 
Espécies 
Quanto à forma, os testamentos podem ser classificados em ordinários e especiais: 
ORDINÁRIOS (COMUNS, VULGARES) 
São aqueles elaborados em condições normais, 
isto é, sem qualquer situação que possa implicar 
vício na vontade. 
ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS) 
São aqueles elaborados em situação de 
anormalidade. 
Espécies de testamento ordinário: 
a) testamento público; 
b) testamento cerrado (místico); 
c) testamento particular (hológrafo). 
Espécies de testamento extraordinário: 
a) testamento marítimo; 
b) testamento aeronáutico; 
c) testamento militar. 
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Testamento público 
O testamento público (também chamado de aberto) é aquele no qual o testador faz as suas declarações 
de última vontade perante o tabelião de notas (ou seu substituto legal) ou o agente consular, na presença 
de duas testemunhas, devendo a autoridade lavrar (redigir) o testamento e registrá-lo em livro próprio. 
 
Requisitos (art. 1.864) 
São requisitos essenciais do testamento público: 
1) o testamento deve ser escrito pelo tabelião (ou por seu substituto legal) em seu livro de notas, de 
acordo com as declarações do testador. O testador pode servir-se de minuta, notas ou apontamentos. Em 
outras palavras, o testador pode levar as suas declarações por escrito (levar uma “cola”) e com base nesse 
texto ir declarando para o testador. 
Obs1: o art. 18 da LINDB autoriza que as autoridades consulares brasileiras, fora do território nacional, 
celebrem testamento público. 
Obs2: o testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela 
inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as 
páginas pelo testador, se mais de uma. 
 
2) depois que o tabelião terminar de lavrar (escrever) o instrumento, ele deverá ser lido em voz alta pelo 
tabelião para o testador e para as duas testemunhas, a um só tempo. O testador poderá também preferir 
ler ele próprio em voz alta na presença das testemunhas e do oficial do tabelionato. 
 
3) depois da leitura, o instrumento deverá ser assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião. 
 
4) Se o testador não souber assinar (ex: analfabeto) ou não puder (ex: sofre de alguma doença que o 
impede), quem assinará pelo testador será uma das testemunhas instrumentárias (art. 1.865). 
 
O indivíduo que for SURDO pode fazer testamento público? 
SIM. O indivíduo inteiramente surdo pode fazer testamento público. Neste caso, como ele não poderá 
ouvir a leitura feita pelo tabelião, o próprio testador surdo é quem irá ler o seu testamento. 
Se ele não souber ler, ou seja, for surdo e analfabeto, ele irá designar (escolher) alguém para ler em seu 
lugar, presentes as testemunhas (art. 1.866). 
 
O indivíduo que for CEGO pode fazer testamento público? 
SIM. Na verdade, a única modalidade de testamento que o cego pode fazer é o testamento público. Em 
outras palavras, se uma pessoa for cega e quiser fazer testamento, este obrigatoriamente terá que ser 
público. 
Caso o cego faça um testamento público, a lei exige que este testamento seja lido para ele, em voz alta, 
duas vezes, uma pelo tabelião (ou seu substituto legal) e a outra por uma das testemunhas, designada 
pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento (art. 1.867). 
 
Cego fez testamento público, mas houve apenas uma leitura e não se declarou que o testador era cego 
O Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega: 
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, 
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo 
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento. 
 
Desse modo, exige-se: 
a) duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma); 
b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 
Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público. 
O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta 
pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção 
no corpo do documento da condição de cego do testador. 
Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade,mantendo válidas as declarações do testador. 
O testamento deve ser mantido, mesmo que descumprida alguma formalidade, desde que esteja 
demonstrado que o instrumento reproduz a manifestação de vontade do testador. Isso porque as 
formalidades foram pensadas pelo legislador com uma única finalidade: garantir a vontade do testador. 
Se esta foi garantida, cumpriu-se a finalidade da norma. 
O testamento possui três pressupostos que são essenciais (indispensáveis): 
a) capacidade do testador; 
b) respeito aos limites do que o testador poderia; 
c) lídima declaração de vontade. 
 
Estando presentes esses três pressupostos básicos, entende-se que a ausência de umas das outras 
formalidades exigidas por lei, pode e deve ser superada com o objetivo de se preservar a vontade do 
testador. 
 
Em suma: 
O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e 
expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a 
higidez da manifestação de vontade do testador. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610). 
 
Cumprimento do testamento 
Quando há o falecimento do testador, é necessário que o testamento público seja levado a juízo para que 
seja determinado o seu registro e cumprimento. Este procedimento é previsto no art. 736 do CPC/2015: 
Art. 736. Qualquer interessado, exibindo o traslado ou a certidão de testamento público, poderá 
requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento, observando-se, no que couber, o disposto nos 
parágrafos do art. 735. 
 
Qual é o juízo competente para o cumprimento do testamento? 
O juízo competente para o inventário. Quanto à competência territorial, será competente o foro do 
domicílio do autor da herança (falecido), nos termos do art. 48 do CPC: 
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a 
partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou 
anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito 
tenha ocorrido no estrangeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PLANO DE SAÚDE 
Plano de saúde pode exigir dos médicos que indiquem a CID nas requisições de exames 
 
Não é abusiva a exigência de indicação da CID (Classificação Internacional de Doenças), como 
condição de deferimento, nas requisições de exames e serviços oferecidos pelas prestadoras 
de plano de saúde, bem como para o pagamento de honorários médicos. 
A exigência de menção da CID nas requisições de exames e demais serviços de saúde decorre 
do fato de que as operadoras de planos de saúde estão obrigadas a prestar apenas os serviços 
previstos no contrato. Logo, é importante essa informação para que os pagamentos e as 
requisições de exames não se voltem para tratamentos que ultrapassem as obrigações 
contratuais do plano de saúde. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.055-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 22/8/2017 (Info 610). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O plano de saúde “ACEM” exige dos médicos conveniados que, ao atender os pacientes, coloquem na guia 
de pagamento a CID (Classificação Internacional de Doenças) identificada. Se não houver essa informação, 
o plano não libera o pagamento dos honorários médicos. 
Além disso, o plano igualmente exige que o médico, ao requisitar algum exame ou serviço (ex: fisioterapia), 
também indique a CID. Sem isso, o exame ou serviço não é autorizado. 
O Ministério Público entendeu que essas exigências eram abusivas e, por isso, ajuizou ação civil pública 
contra o plano de saúde pedindo que o réu fosse condenado a “se abster, permanentemente, de exigir o 
preenchimento da CID como condição para realização de exames e pagamento de honorários médicos”. 
Segundo argumentou o Parquet, a exigência do preenchimento da CID para a realização de exames e para 
o pagamento de honorários médicos não encontra amparo legal e constitui obstáculo indevido à utilização 
do plano contratado pelo beneficiário, especialmente tendo em vista que os exames servem, justamente, 
para facilitar a elaboração de diagnósticos. 
 
A tese do MP foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. O STJ entendeu que: 
Não é abusiva a exigência de indicação da CID (Classificação Internacional de Doenças), como condição 
de deferimento, nas requisições de exames e serviços oferecidos pelas prestadoras de plano de saúde, 
bem como para o pagamento de honorários médicos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.055-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 22/8/2017 (Info 610). 
 
O que é a CID? 
CID é a denominação comumente dada à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados com a Saúde, confeccionada pela Organização Mundial de Saúde, tendo a importante função 
de codificar a classificação de doenças e sintomas e sendo uma ferramenta de diagnósticos padrão para 
epidemiologia, gestão de saúde e propósitos clínicos, incluindo a análise da situação geral de saúde dos 
grupos populacionais. 
 
CID é necessária para que o plano verifique se a doença possui cobertura contratual 
A exigência de menção da CID nas requisições de exames e demais serviços de saúde decorre do fato de 
que as operadoras de planos de saúde estão obrigadas a prestar apenas os serviços previstos no contrato. 
Logo, é importante essa informação para que os pagamentos e as requisições de exames não se voltem 
para tratamentos que ultrapassem as obrigações contratuais do plano de saúde. Isso porque o contrato 
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de plano de saúde “pode limitar as doenças a serem cobertas”, conforme já decidiu o STJ. 4ª Turma. AgRg 
no Ag 1355252/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2014. 
 
Cooperação do usuário do plano de saúde 
Deve haver um regime de cooperação entre os planos e os usuários com base na boa-fé objetiva. A boa-
fé nas relações privadas é uma via de mão dupla, sendo exigida não apenas do fornecedor como também 
do consumidor. Assim é plenamente razoável que o consumidor/paciente também seja obrigado a 
fornecer as informações necessárias para uma correta prestação dos serviços pelo plano. 
Assim como se exige do fornecedor a clara e destacada discriminação de procedimentos que não estejam 
cobertos pelo plano contratado, há de se exigir do consumidor também que preste informações relevantes 
e necessárias para o cumprimento da obrigação. 
Nesse panorama, em face da possibilidade de as requisições de exames voltarem-se a tratamentos que 
desbordem o plano-referência e os termos do contrato, o condicionamento da informação da CID nas 
requisições de serviços de saúde não se revela abusivo, tampouco representa ofensa aos princípios 
fundamentais consumeristas. 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
SOCIEDADES 
Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do dividendo, 
não terá direito de receber os lucros da companhia 
 
Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o 
exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação 
de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. 
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76. 
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015, ele 
vendeu suas ações. Em abril/2015,a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou 
pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2014). Este 
indivíduo não terá direito ao pagamento porque na data do ato de declaração do dividendo 
(data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade empresária “AMBET S.A.”. 
Em fevereiro de 2015, João vendeu suas ações. 
Em abril de 2015, a “AMBET S.A.” realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos acionistas da 
companhia os dividendos apurados no ano anterior (2014). 
Um parêntese: dividendo é o valor recebido pelo acionista como participação pelos lucros que a 
companhia obteve. Quanto maior o número de ações que o acionista possui, maior será o valor dos 
dividendos que irá receber. 
Os acionistas da companhia foram pagos, mas João não recebeu nada a título de dividendos. 
Diante disso, João ajuizou “ação de cobrança de dividendos” em face da “AMBET S.A.” pedindo o 
pagamento dos dividendos relativos ao ano de 2014. 
O autor argumentou que alienou suas ações somente em janeiro de 2015, tendo, portanto, sido acionista 
da companhia durante todo o ano de 2014. 
 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
O pedido de João foi acolhido pelo STJ? Ele terá direito de receber os dividendos? 
NÃO. 
Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o exercício 
financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de suas ações, em 
data anterior ao ato de declaração do benefício. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610). 
 
A solução para essa controvérsia encontra-se no caput do art. 205 da Lei nº 6.404/76, que preconiza: 
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações nominativas à pessoa que, na data do ato de 
declaração do dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária da ação. 
 
O autor vendeu suas ações em fevereiro de 2015. O ato de declaração do dividendo ocorreu em abril de 
2015 (data em que foi realizada a Assembleia Geral Ordinária). Neste momento, o autor já não mais fazia 
parte do quadro de acionistas da Companhia. Logo, ele realmente não tinha mais direito aos dividendos. 
O simples fato de o autor possuir as ações no período do exercício a que correspondem os dividendos, 
não faz com que ele tenha direito aos dividendos considerando que existe regra expressa no art. 205 
exigindo que a pessoa esteja inscrita como proprietária ou usufrutuária na data do ato de declaração do 
dividendo. 
 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção monetária até a 
data do pedido de recuperação judicial mesmo que a sentença diga de forma diversa 
 
O credor deverá apresentar ao administrador judicial da falência o valor do seu crédito, 
atualizado com juros e correção monetária. Vale ressaltar que o termo final da incidência dos 
juros e correção monetária é a data do pedido de recuperação judicial, nos termos do art. 9º, 
II, da Lei nº 11.101/2005. 
Assim, mesmo que a sentença condenatória transitada em julgado tenha determinado que os 
juros e correção monetária iriam incidir até a data do efetivo pagamento, quando este crédito 
for habilitado na recuperação judicial ele será atualizado até a data do pedido de recuperação 
judicial. Segundo o STJ decidiu, isso não ofende a coisa julgada. Nesse sentido: 
Não ofende a coisa julgada a decisão de habilitação de crédito que limita a incidência de juros 
de mora e correção monetária, delineados em sentença condenatória de reparação civil, até a 
data do pedido de recuperação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.662.793-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/8/2017 (Info 610). 
 
Recuperação judicial 
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a 
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, 
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. 
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado 
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. 
 
Fases da recuperação 
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases: 
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; 
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. 
 
Habilitação dos créditos 
Depois que a recuperação judicial é decretada ocorre a habilitação dos créditos que deverão ser pagos 
pela empresa recuperanda. 
Assim, as pessoas que tiverem créditos para receber da empresa em recuperação deverão apresentá-los 
ao administrador judicial, na forma do art. 9º da Lei nº 11.101/2005. 
A verificação dos créditos será realizada, então, primeiro pelo administrador judicial, com base nos livros 
contábeis e nos documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem 
apresentados pelos credores. A partir desse trabalho inicial, confecciona-se um edital cujo teor pode ser 
alterado por novas habilitações ou divergências quanto aos créditos ali relacionados. 
 
Valor do crédito atualizado 
O credor deverá apresentar ao administrador judicial da falência o valor do seu crédito, atualizado com 
juros e correção monetária, nos termos do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005: 
Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, desta Lei deverá 
conter: 
(...) 
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação 
judicial, sua origem e classificação; 
 
Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a data do pedido de 
recuperação judicial. 
Isso significa dizer que todos os créditos serão necessariamente atualizados até a data do pedido de 
recuperação judicial. A partir de então, poderá o plano deliberar modificação das condições originalmente 
contratadas, impedindo a fluência de juros e correção monetária após o requerimento de recuperação 
judicial. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João ajuizou ação de indenização contra a empresa “AZZ”, tendo a sentença condenado a ré a pagar R$ 
100 mil ao autor. No dispositivo da sentença, constou o comando de que deveriam incidir juros e correção 
monetária até a data do efetivo pagamento. Houve trânsito em julgado. 
Antes que João requeresse o cumprimento de sentença, a empresa “AZZ” formulou pedido de 
recuperação judicial. 
Diante disso, João teve que habilitar o seu crédito no juízo da recuperação judicial. 
O juiz proferiu decisão interlocutória determinando a inclusão do crédito de João no quadro geral de 
credores, com atualização dos valores até 15 de julho de 2016 (data do pedido de recuperação judicial), 
na forma do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005. 
João não concordou e interpôs agravo de instrumento alegando que, uma vez que a sentença transitada 
em julgado determinou expressamente os critérios de correção monetária e juros de mora, nãodeve o 
juízo em que se processa a recuperação judicial alterar esses parâmetros, sob pena de violação da coisa 
julgada. Em outras palavras, João afirmou o seguinte: a sentença transitada em julgado determinou a 
incidência de juros e correção até a data do pagamento e isso foi violado pela decisão do juízo da 
recuperação, que limitou os juros e correção monetária para uma data anterior. 
 
O STJ concordou com a tese de João? 
NÃO. 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Não ofende a coisa julgada a decisão de habilitação de crédito que limita a incidência de juros de mora 
e correção monetária, delineados em sentença condenatória de reparação civil, até a data do pedido de 
recuperação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.662.793-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/8/2017 (Info 610). 
 
O art. 9º, II, da Lei de Falências afirma expressamente que a atualização do valor do crédito habilitado 
deverá ocorrer até a data do pedido de recuperação judicial. 
Todos os créditos devem ser tratados de maneira igualitária, sejam eles fundados em título judicial ou 
extrajudicial, sempre com vistas à formação harmoniosa do quadro geral de credores e sua desejável 
realização prática a viabilizar o soerguimento da empresa. Assim, todos os créditos deverão respeitar a 
regra do art. 9º, II. 
Além disso, o art. 49, §2º, da Lei de Falências estabelece que “as obrigações anteriores à recuperação 
judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz 
respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial.” 
Em habilitação de créditos na recuperação judicial, aceitar a incidência de juros de mora e correção 
monetária em data posterior ao pedido da recuperação judicial implica negativa de vigência ao art. 9º, II, 
da Lei de Falências. Esse entendimento não representa violação da coisa julgada, significando apenas que 
está sendo feito um “exercício de interpretação normativa própria da matriz axiológica que norteia o 
instituto da recuperação judicial” (Min. Nancy Andrighi). 
Deve-se lembrar, por fim, que o art. 59 da Lei de Falências dispõe que “o plano de recuperação judicial 
implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos”. 
A novação do crédito, oriundo de sentença condenatória por reparação civil, permite o ajuste do cálculo 
da dívida na recuperação, sem que isso implique violação da coisa julgada, pois a execução seguirá as 
condições pactuadas na novação e não na obrigação extinta. 
 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial 
não obsta a homologação de sentença arbitral estrangeira 
 
O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação de 
sentença arbitral estrangeira. 
No caso, empresa brasileira foi condenada, em sentença arbitral proferida na Suíça, a pagar 
determinada quantia a empresa estrangeira. A credora pediu a homologação desta sentença 
no STJ. A empresa brasileira encontra-se em processo de recuperação judicial no Brasil. Isso, 
contudo, não impede que o STJ homologue esta sentença estrangeira. Depois, a credora terá 
que habilitar este crédito no juízo da recuperação. 
STJ. Corte Especial. SEC 14.408-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/6/2017 (Info 610). 
 
Em que consiste a arbitragem 
Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que 
a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. 
Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual 
o conflito é resolvido por um terceiro. 
 
Regulamentação 
A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei nº 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC 
versando sobre o tema. 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Convenção de arbitragem 
As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de 
arbitragem (art. 3º). 
Convenção de arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies: 
• a cláusula compromissória e 
• o compromisso arbitral. 
 
Em que consiste a cláusula compromissória: 
A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... 
- uma cláusula prevista no contrato, 
- de forma prévia e abstrata, 
- por meio da qual as partes estipulam que 
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato 
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). 
 
Exemplo: 
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste 
contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil 
brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de 
Arbitragem)." 
 
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei nº 9.307/96: 
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato 
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal 
contrato. 
 
É possível alegar a parcialidade de um árbitro? 
SIM. Os árbitros, assim como os juízes togados, possuem o dever de imparcialidade, estando isso expresso 
na Lei nº 9.307/96: 
Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as partes ou 
com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os casos de 
impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no que couber, os mesmos deveres e 
responsabilidades, conforme previsto no Código de Processo Civil. 
§ 1º As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação 
da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e 
independência. 
(...) 
 
A Lei prevê, inclusive, um procedimento para a arguição de suspeição ou impedimento do árbitro: 
Art. 20. A parte que pretender arguir questões relativas à competência, suspeição ou impedimento 
do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de 
arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição 
da arbitragem. 
§ 1º Acolhida a arguição de suspeição ou impedimento, será o árbitro substituído nos termos do 
art. 16 desta Lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal arbitral, bem como a 
nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, serão as partes remetidas ao órgão 
do Poder Judiciário competente para julgar a causa. 
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
§ 2º Não sendo acolhida a arguição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo de 
vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual 
propositura da demanda de que trata o art. 33 desta Lei. 
 
Qual é a exigência para que uma sentença arbitral estrangeira produza efeitos no Brasil? 
Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à 
homologação do Superior Tribunal de Justiça (art. 35 da Lei nº 9.307/96). 
Essa homologação segue o mesmo procedimento adotado para homologaçãodas demais sentenças 
estrangeiras. 
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: 
A empresa alemã “Thy” e a empresa brasileira “Conti” celebraram um contrato empresarial, que previa 
uma cláusula arbitral. 
Houve um desentendimento comercial entre elas e, diante disso, foi instaurado procedimento arbitral na 
“Câmara de Comércio Internacional – ICC”, na Suíça. 
A ICC proferiu sentença arbitral dando razão à “Thy” e condenando a empresa “Conti” a pagar 720 mil 
dólares. 
A empresa “Thy” ingressou, então, com pedido de homologação de sentença arbitral estrangeira aqui no 
Brasil, no STJ. 
Após ser citada, a empresa “Conti” pediu o indeferimento da homologação da sentença estrangeira sob o 
argumento de que ela se encontra em processo de recuperação judicial. 
Assim, afirma que: 
• com o deferimento do pedido de recuperação, iniciou-se o período de suspensão de ações e execuções; 
• os bens da recuperanda devem estar liberados ao Juízo da recuperação, o único competente para decidir 
sobre atos constritivos de seu patrimônio; 
• o crédito constituído na sentença arbitral estrangeira está sujeito à recuperação judicial, devendo ser 
habilitado naqueles autos pelo próprio credor. 
 
Os argumentos da empresa “Thy” foram acolhidos pelo STJ? 
NÃO. 
O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação de sentença arbitral 
estrangeira. 
STJ. Corte Especial. SEC 14.408-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/6/2017 (Info 610). 
 
O processo de homologação de sentença estrangeira tem natureza constitutiva e tem por objetivo conferir 
eficácia jurídica, no Brasil, a um provimento jurisdicional alienígena (“sentença estrangeira”). Isso é feito 
a fim de permitir que a decisão possa vir a ser executada em nosso país. 
Dessa forma, a homologação é um pressuposto lógico da execução da decisão estrangeira, não se 
confundindo com o próprio processo de execução, o qual será instaurado posteriormente, se for o caso. 
Em outras palavras, homologação de sentença estrangeira não é execução do crédito. Trata-se de 
providência necessária para, no futuro, o credor pedir a execução do crédito. 
Em virtude disso, o simples fato de a empresa estar em recuperação judicial não faz com que seja proibida 
a homologação da sentença estrangeira porque não haverá, ainda, qualquer ato de constrição do 
patrimônio do devedor. Por essa razão, o processo de homologação de sentença estrangeira em face da 
empresa recuperanda não atrapalha o princípio da preservação da empresa, que é o grande objetivo da 
recuperação judicial. 
 
Não se aplica, no caso, a suspensão de que trata o art. 6º, § 4º da Lei nº 11.101/2005 (Na recuperação 
judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo 
improrrogável de 180 dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-
 Informativo 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, 
independentemente de pronunciamento judicial)? 
NÃO. Não se aplica o art. 6º, § 4º, da Lei de Falências como óbice à homologação da sentença arbitral, 
uma vez que se está em fase antecedente à execução, apenas emprestando eficácia jurídica ao provimento 
homologando. Logo, o pedido de homologação não se enquadra no conceito de “ações” ou “execuções” 
de que trata o art. 6º, § 4º. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA 
Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite Resp sob a alegação de 
que o mérito do acórdão impugnado está em sintonia com o entendimento do STJ 
 
Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite recurso especial com 
base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o acórdão impugnado estaria em sintonia 
com o entendimento firmado por esta Corte Superior. 
STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/8/2017 (Info 610). 
 
Embargos de divergência 
Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 1.043 e 1.044 do CPC/2015, bem como nos 
regimentos internos do STF e do STJ. 
Este recurso possui dois objetivos: 
1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado; 
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões conflitantes. 
Só cabem os embargos de divergência contra decisão de: 
• órgão fracionário do STJ (turma ou seção) em julgamento de Recurso especial; 
• órgão fracionário do STF (turma) em julgamento de Recurso extraordinário. 
 
A decisão do órgão fracionário do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de qualquer 
outro órgão do mesmo tribunal (STJ). 
A decisão do órgão fracionário do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de qualquer 
outro órgão do mesmo tribunal (STF). 
 
Veja a redação do CPC: 
Art. 1.043. É embargável o acórdão de órgão fracionário que: 
I - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro 
órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito; 
(...) 
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro 
órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do 
recurso, embora tenha apreciado a controvérsia; 
 
Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão recorrido e um 
acórdão paradigma do mesmo Tribunal provando que o acórdão recorrido foi divergente do acórdão 
paradigma. 
 
 
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Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, servidor público federal, ingressou com ação pedindo o pagamento da gratificação “X”. 
O Juiz Federal e, depois, o TRF1 entenderam que João não teria direito à referida gratificação. 
Contra o acórdão do TRF1, João interpôs recurso especial, com fundamento no art. 105, III, da CF/88, 
alegando que a conclusão do TRF1 se mostra divergente da interpretação dada por outros Tribunais: 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais 
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a 
decisão recorrida: 
(...) 
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. 
 
Decisão monocrática 
Chegando o processo no STJ, foi sorteado um Ministro Relator e este, monocraticamente, negou 
seguimento ao Resp alegando que o pleito do recorrente era manifestamente contrário à jurisprudência 
do STJ. A decisão monocrática foi baseada Súmula 83 do STJ: 
Súmula 83-STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se 
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida. 
 
Decisão da 1ª Turma do STJ 
Contra a decisão monocrática, João interpôs agravo interno. 
A 1ª Turma do STJ negou provimento ao agravo interno e manteve a decisão monocrática dizendo que o 
mérito do acórdão impugnado estava em sintonia com o entendimento do STJ. 
 
Embargos de divergência 
Contra o acórdão da 1ª Turma do STJ, João apresentou embargos de divergência argumentando que a 2ª 
Turma do STJ entende que é devida a gratificação X para os servidores públicos federais. 
A União apresentou contrarrazões dizendo que os embargos de divergência não deveriam ser conhecidos, 
aplicando-se o raciocínio contido na súmula

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