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1 – Conceitos acerca de Equações Diferenciais: Os problemas de engenharia são, usualmente, governados por uma Equação Diferencial (ED). Estas Equações de Governo envolvem derivadas� das grandezas de interesse (variáveis dependentes) com respeito às variáveis independentes. A natureza da equação diferencial de governo depende do número de variáveis independentes – quando houver uma única variável independente, tem-se uma Equação Diferencial Ordinária (EDO); quando houver mais de uma variável independente, tem-se uma Equação Diferencial Parcial (EDP). � Observação: Existem diversas notações para representar derivadas; no entanto, todas elas são equivalentes. A seguir, têm-se alguns exemplos. Para tal, considere uma função f qualquer (variável dependente) que pode ser função de uma ou mais variáveis independentes. � Para )(xff = : xd fd ou f ′ ou x f , representam a derivada total (pois f é função de uma única variável) de f com respeito à variável independente x. Esta derivada é chamada, com ressalvas, de gradiente de f . � Para ),( txff = : x f ∂ ∂ ou f ′ ou x f , representam a derivada parcial (pois f é função de duas variáveis) de f com respeito à variável independente x, enquanto: t f ∂ ∂ ou f& ou t f , representam a derivada parcial de f com respeito à variável independente t. Esta derivada é chamada de taxa de f . As grandezas físicas, no caso mais geral, podem apresentar variação no tempo ( t ) e no espaço (x, y, z). Poblemas que possuem apenas variação temporal são chamados Problemas Dinâmicos; problemas que possuem apenas variação espacial são ditos Problemas em Regime Permanente ou Problemas Estáticos e problemas que apresentam variação no tempo e no espaço são chamados de Problemas em Regime Transiente ou Problemas com Variação Espaço-temporal. Exemplos: � Vibração de um sistema discreto, sem amortecimento, com forçamento, com 1 Grau de Liberdade� (GDL). Este é um problema dinâmico governado por uma EDO de segunda ordem, cuja variável (dependente) de interesse é o deslocamento (u) que é função apenas da variável independente tempo (t); portanto: )( tuu = . Equação de governo: )(2 2 tFuk td ud m =+ ou )( tFukum =+&& ou )(, tFukum tt =+ � Observação: Grau de liberdade é um conceito usual em Dinâmica e diz respeito ao número mínimo de coordenadas necessárias para descrever o movimento de uma partícula, corpo ou meio contínuo. Lembrando que, para o caso mais geral, um corpo rígido pode sofrer translação e rotação em três direções mutuamente ortogonais; portanto, seis é o número máximo de GDL’s por corpo. O conceito de grau de liberdade pode ser estendido para outras grandezas, além daquelas relacionadas ao movimento como, por exemplo, temperatura, pressão, entre outras. � Condução de calor unidimensional em uma barra com propriedades físicas e geométricas constantes em regime permanente, submetida a uma fonte de calor externa. Este é um problema em regime permanente governado por uma EDO de segunda ordem, cuja variável (dependente) de interesse é a temperatura (T ) que é função apenas da variável independente posição (x); portanto: )(xTT = . Equação de governo: )(2 2 xQ xd Tdk =− ou )(xQTk =′′− ou )(, xQTk xx =− � Equação da continuidade para um escoamento bi-dimensional de um fluido compressível em regime transiente. Este é um problema governado por uma EDP de primeira ordem, cujas variáveis (dependentes) de interesse são a velocidade ( v ) e a densidade ( ρ ) que são funções das variáveis independentes tempo ( t ) e posição (x, y); portanto: ),,( tyxvv = e ),,( tyxρρ = . Equação de governo: 0= ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ y v x v y v x v t yx yx ρ ρρρ ou ( ) 0,,,,, =++++ yyxxyyxxt vvvv ρρρρ 1.1 – Condições Iniciais e de Contorno: Ao se resolver as equações diferenciais de governo (sejam EDO’s ou EDP’s), haverá constantes a serem determinadas. O número de constantes depende da ordem da derivada em relação a cada uma das variáveis independentes. Para a determinação destas constantes, são necessárias informações complementares a respeito do problema. O tipo de informação, por sua vez, depende da variável independente. Problemas com variação temporal requerem Condição Inicial (ci), enquanto problemas com variação espacial requerem Condição de Contorno (cc). O número de ci’s e de cc’s é igual ao valor da ordem da mais alta derivada em relação à respectiva variável. Exemplo: � Condução de calor unidimensional em regime transiente em uma barra com propriedades físicas e geométricas constantes ao longo de seu comprimento m10=L , sem fonte de calor externa: Governado pela seguinte EDP: t T x T ∂ ∂ = ∂ ∂ 2 2 2α ou TT &=′′2α ou txx TT ,,2 =α Esta EDP possui derivada de segunda ordem na variável posição (x) e derivada de primeira ordem na variável tempo ( t ). Portanto, este problema requer duas condições de contorno e uma condição inicial. As cc’s devem valer para qualquer instante de tempo ( t ) para dois pontos (x) tomados no contorno do volume de controle (para este problema: 0=x e Lx = ). Por exemplo: K283),0( =tT e K293),( =tLT . Isto significa que, para qualquer instante de tempo ( t ), a temperatura da face 0=x da barra estará a K283=T e, analogamente, a temperatura da face Lx = da barra estará a K293=T . Estas cc’s foram tomadas como exemplo. cc’s de outra natureza serão discutidas posteriormente. A ci deve fornecer a prescrição de temperatura de todos os pontos (x) da barra no instante de tempo 0=t , ou seja: )()0,( xfxT = . A título de exemplo, considere que, inicialmente, a barra esteja submetida a uma distribuição de temperatura quadrática dada por: 28311)( 2 ++−= xxxf , conforme a Figura 1. x x = 0 T = 283 K x = L T = 293 K Figura 1 – Distribuição de temperatura na barra no instante de tempo 0=t (condição inicial). Note que, as temperaturas K283=T e K293=T das respectivas faces 0=x e Lx = foram respeitadas, mesmo para 0=t . Ou seja, as ci’s prescritas devem, obrigatoriamente, obedecer às cc’s. 1.1.1 – Condições Iniciais: Conforme já ressaltado, em problemas onde há variação temporal, é necessário estabelecer condições iniciais, ou seja, fornecer informações a respeito da(s) variável(is) de estado� (variáveis dependentes) no instante inicial ( 0=t ). Nas ED’s que governam problemas dinâmicos, as variáveis de estado, de uma forma geral, apresentam apenas derivadas de primeira e/ou de segunda ordem em relação ao tempo (usualmente chamadas de taxa). � Observação: Variáveis de estado são aquelas necessárias para se determinar plenamente o estado termodinâmico de qualquer processo ou movimento a que um meio contínuo (sólido ou fluido) esteja submetido, em uma dada posição, em um dado instante de tempo. Vale lembrar que há variáveis de estado que não constituem graus de liberdade do sistema, como no caso de derivadas dos GDL’s. Desta forma, quando houver derivadas de primeira ordem, a(s) variável(is) de estado é/são o(s) próprio(s) GDL(’s). Já em problemas onde houver derivadas de ordens superiores, haverá mais de uma variável de estado – o(s) próprio(s) GDL(’s) e a(s) sua(s) derivada(s). Estes dois tipos de variáveis de estado são classificados em Variáveis Primárias e Variáveis Secundárias, respectivamente. O número de variáveis primárias depende do número de GDL’s, enquanto o número de variáveis secundárias, depende da ordem da equação diferencial.Exemplo: � Vibração de um sistema discreto amortecido com 1 GDL sem forçamento: Governado pela seguinte EDO: 02 2 =++ uk td ud c td ud m ou 0=++ ukucum &&& É possível reescrever esta EDO de segunda ordem como um sistema acoplado com duas EDO’s de primeira ordem. Para tanto, considere a seguinte troca de variável: == == = yxu yxu xu &&&&& && deslocamento velocidade aceleração Sendo assim, reescreve-se: −−= = y m c x m ky yx & & Explicitando o problema em função de EDO’s apenas de primeira ordem, identificam-se, claramente, as variáveis de estado do problema, a saber: )( tx e )( ty – deslocamento e velocidade, respectivamente. Com isso, são necessárias duas ci’s (mesmo valor da derivada de mais alta ordem na EDO original) dadas através da prescrição do deslocamento e da velocidade em 0=t : 0)0()0( xxu == e 0)0()0( vyu ==& . Note que, apesar de haver duas variáveis de estado ( x e y ou u e u& ), há apenas um GDL ( x ou u ). 1.1.2 – Condições de Contorno: As condições de contorno, diferentemente das condições iniciais, não são meramente arbitradas, pois precisam respeitar determinados requisitos físicos específicos de cada problema. Além disso, o tipo de condição de contorno pode trazer uma complexidade extra à solução do problema (tanto para a obtenção da solução analítica – caso exista, como para a formulação de soluções numéricas aproximadas). Exemplo: � Flexão de uma viga tipo Bernoulli-Euler com propriedades físicas e geométricas constantes ao longo de seu comprimento submetida a um carregamento distribuído f (x) por unidade de comprimento (x): Governado pela seguinte EDP: )(4 4 xf xd wdIE = ou )('''' xfwIE = ou )(xfwIE vi = ou )(, xfwIE xxxx = Este problema apresenta quatro variáveis de estado – duas variáveis primárias e duas variáveis secundárias de acordo com o Quadro 1: Quadro 1 – Relação das diversas grandezas do problema com a deflexão da viga ( )xw . Grandeza Definição e Unidade no SI Classificação ( )xw Deslocamento transversal ou Deflexão (m)* ( ) xd wd x =ψ Deslocamento angular ou Declividade (rad)* Grandezas Primárias ( ) 2 2 xd wdIExM = Momento Fletor (N.m)* ( ) 3 3 xd wdIExV = Esforço Cortante (N)* Grandezas Secundárias ( ) 4 4 xd wdIExf = Carregamento por Unidade de Comprimento (N/m)* Equação de Governo * Unidades das grandezas no Sistema Internacional (SI) de unidades. Cabe destacar que, durante a formulação deste problema físico, ao considerar um elemento infinitesimal da viga, adotam-se, inicialmente, dois graus de liberdade – a saber: a deflexão ( )xw e a declividade ( )xψ . A hipótese de pequenos deslocamentos/deformações adotadas pela teoria de Bernoulli-Euler permite relacionar estas grandezas, eliminando um grau de liberdade do equacionamento e combinando as duas equações de governo do problema (cada uma delas de segunda ordem) em uma única equação (de quarta ordem). Sendo assim, após a manipulação algébrica das equações de governo originais, têm-se duas variáveis primárias: ( )xw e ( )xψ ; enquanto ( )xM e ( )xV são variáveis secundárias. Para maiores detalhes, consulte: Timoshenko, S. & Goodier, J.N., “Theory of Elasticity”, Editora McGraw-Hill, 2a Edição, 1951. 1.2 – Classificação das Equações Diferenciais de acordo com o Problema Físico: 1.2.1 – Classificação de EDO’s: Os problemas físicos onde a variável dependente é função de apenas uma variável independente dão origem a EDO’s. Neste ponto, abrem-se duas possibilidades: a variável independente pode ser o tempo ( t ) ou a posição ( x ). No primeiro caso, onde se tem variação temporal, tem-se um Problema de Valor Inicial (PVI); enquanto, no segundo caso, onde há variação de posição, tem-se um Problema de Valor Contorno (PVC). Para um PVI, devem-se atribuir condições iniciais na variável primária (obrigatoriamente) e em cada uma das variáveis secundárias subsequentes (ou seja derivadas da variável primária) até aquela de ordem (n-1), onde n é a ordem da EDO (rever o exemplo da Seção 1.1.1) Já para um PVC, não existe uma regra formal. Na verdade, os requisitos físicos do problema podem exigir cc’s somente na variável primária, somente na variável secundária, ou ainda, envolvendo ambas as variáveis. Sendo assim, é possível classificar os problemas conforme a seguir. 1o Caso: cc's somente na variável primária: Esta classe de problemas é conhecida como Primeiro Problema de Valor de Contorno (primeiro PVC) ou Problema de Dirichlet. Exemplo: � Condução de calor unidimensional em uma barra de comprimento L, com propriedades físicas e geométricas constantes em regime permanente, sem fonte de calor externa, com diferentes temperaturas prescritas em ambas as extremidades: Equação de governo: 02 2 =− xd Tdk ou 0=′′− Tk ou 0, =− xx Tk Este é um PVC de segunda ordem e requer, portanto, duas cc’s definidas conforme o enunciado da seguinte forma: 1a cc: Temperatura T1 prescrita na face à esquerda (x = 0): 1)0( TT = ou 1 0 TT x = = 2a cc: Temperatura T2 prescrita na face à direita (x = L): 2)( TLT = ou 2TT Lx = = Note que ambas as cc’s foram estabelecidas na variável primária temperatura (T ), caracterizando o problema como primeiro PVC (ou Problema de Dirichlet). 2o Caso: cc's somente na variável secundária: Esta classe de problemas é conhecida como Segundo Problema de Valor de Contorno ou (segundo PVC) ou Problema de Neumann. Exemplo: � Deformação axial de uma barra elástica linear isotrópica de comprimento L, com propriedades físicas e geométricas constantes ao longo de seu comprimento, com forçamento externo, livre em ambas as extremidades: Equação de governo: )(2 2 xf xd udAE −= ou )(xfuAE −=′′ ou )(, xfuAE xx −= Este também é um PVC de segunda ordem e as duas cc’s requeridas pelo enunciado prevêem: 1a cc: Força axial nula na extremidade livre à esquerda (x = 0): 0)0( =′uAE ou 0 0 = =x xd udAE 2a cc: Força axial nula na extremidade livre à direita (x = L): 0)( =′ LuAE ou 0= = Lxxd udAE Note que ambas as cc’s foram estabelecidas na variável secundária força xd udAExF =)( , caracterizando o problema como segundo PVC (Problema de Neumann). 3o Caso: cc's em ambas as variáveis (primária e secundária): Esta classe de problemas é conhecida como Problema Misto ou Problema de Robin. Exemplo: � Flexão de uma viga tipo Bernoulli-Euler com propriedades físicas e geométricas constantes ao longo de seu comprimento, livre de forças externas, engastada na extremidade x = 0 e livre na extremidade x = L. Equação de governo: 04 4 = xd wdIE ou 0'''' =wIE ou 0=viwIE ou 0, = xxxx wIE O problema, agora, é um PVC de quarta ordem e as quatro cc’s requeridas pelo enunciado prevêem: 1a cc: Deflexão nula no engaste (x = 0): 0)0( =w ou 00 ==xw 2a cc: Declividade nula no engaste (x = 0): 0)()( =′= LwLψ ou 0 0 0 == = = x x xd wdψ 3a cc: Momento nulo na extremidade livre (x = L): 0)()( =′′= LwIELM ou 02 2 == = = Lx Lx xd wdIEM 4a cc: Esforço cortante nulo na extremidade livre (x = L): 0)()( =′′′= LwIELV ou 03 3 == = = Lx Lx xd wdIEV
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