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www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras DIREITO ADMINISTRATIVO Capítulo do Livro On Line®: INTERVENÇÃO DO ESTADO SOBRE A PROPRIEDADE PRIVADA 1. Intervenção sobre a propriedade privada: 1.1. Generalidades: - Todo o direito administrativo é baseado no princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. Trata-se de princípio implícito e basilar do direito administrativo; - O Estado pode interver na propriedade privada quando for para o interesse da coletividade; - Função Social da propriedade privada; Art. 5º e 170 CF; a propriedade privada tem que cumprir a sua função social; - Art. 5º, XXII, CRFB - Art. 5º, XXIII, CRFB - Art. 170, II, CRFB - Art. 170, III, CRFB - Art. 1.228,CC 1.1.1. Intervenção sobre o domínio econômico e sobre a propriedade privada - Intervenção sobre o domínio econômico – Legislação específica: Lei Delegada nº 4/62; Lei 8.884/94; Lei 9.021/95, Lei 9.781/99; Lei 12.529/11 1.1.2. Competência legislativa www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 2 1.1.3. Espécies ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO RESTRITIVAS: limitação administrativa, requisição, ocupação temporária, tombamento e servidão administrativa (restringe o direito de propriedade); ESPÉCIE DE INTERVENÇÃO SUPRESSIVA: Desapropriação (toma a propriedade do particular); 1.2. Espécies: - Limitação Administrativa - Requisição - Ocupação Temporária - Tombamento - Servidão Administrativa - Desapropriação 1.3. Características de cada espécie de intervenção do Estado: a) Limitação Administrativa: espécie de intervenção marcada por um caráter geral e NÃO individualizado; justamente pelo caráter geral a limitação administrativa NÃO gera direito a indenização; ex: altura máxima de prédios (gabaritos), rodízio de veículos, obrigação de colocar extintor em veículos, espaços entre construções, preempção (preferência do Município sobre a aquisição do bem – conforme art. 25 do Estatuto da Cidade); afeta o caráter absoluto da propriedade e está intimamente ligada ao poder de polícia do Estado; www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 3 OBS: a limitação administrativa, justamente pelo seu caráter genérico NÃO dá direito a indenização; - obrigações negativas - obrigações positivas - ART. 182, PARÁGRAFO 4º DA CRFB - obrigações de suportar (permissivas – pati) - ART. 25, DA LEI 10.257/01 - ART. 36, DA LEI 10.250/01 Recuo obrigatório x realinhamento b) Requisição: é marcada por envolver situações emergenciais e de calamidade pública; incidem sobre bens móveis, imóveis e semoventes e, também sobre serviços particulares; DÁ direito à indenização (porque atinge um bem especifico / individualizado) posterior em caso de dano; ex: enchentes, acidentes, terremotos, requisição de serviços de ambulância e transporte marítimo; - Art. 5º, XXV, CRFB - Art. 1228, parágrafo 3º, CC Prescrição - Art. 10, Parágrafo único do Dec-lei 3.365/41 c) Ocupação Temporária: incide sobre imóveis vizinhos a obras públicos para viabilizar a sua execução; ex: escavações arqueológicas (conceito amplo de obras públicas), www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 4 perfuração de poços; é uma intervenção especifica e DÁ direito à indenização posterior em caso de dano (caráter específico / individualizado); OBS: para efeito dessa intervenção, serão amplos os conceitos de vizinho e obra pública; NÃO incide sobre bens móveis; - Art. 36, Dec-lei 3.365/41 Prescrição - Art. 10, Parágrafo único do Dec-lei 3.365/41 d) Tombamento: é uma espécie de INTERVENÇÃO, que visa proteção do patrimônio histórico, cultural e artístico NACIONAL; o tombamento é aspecto de soberania do Estado; incide sobre bens móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos, e como regra, NÃO gera direito à indenização; o tombamento se realiza através de órgãos públicos ou entidades da administração pública indireta; OBS: um bem tombado pode ser vendido, mas quem compra recebe com os efeitos do tombamento; um bem tombado pode ser gravado = ônus reais = penhor, anticrese e hipoteca (Art. 1225 CC); - Arts. 215 e 216, da CRFB - Decreto-lei 25/37 d.1) O tombamento opera efeitos (arts. 11 a 22, do Dl 25/37); os efeitos são para o proprietário, para a entidade (IPHAN- nível Federal) que está tombando, e também opera efeitos aos vizinhos; - Efeitos aos proprietários dever de manutenção / conservação e não poder alterar o bem; em caso de alienação onerosa / gravosa, inclusive venda, o proprietário deve oferecer a preferência do bem ao poder público (União, Estados, DF e Municípios), sob pena de nulidade do negocio jurídico (o terceiro não terá boa fé, porque o bem tombado é registrado em cartório); o proprietário deve pedir a autorização prévia do poder público www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 5 quando pretender retirar o bem do país; o proprietário pode gravar o bem com ônus reais (penhor / hipoteca / anticrese – Art.1225 CC/02); - Efeitos à entidade tombadora - IPHAN a entidade tem o dever subsidiário de conservação da coisa (o dever primário é do proprietário); dever de fiscalização; - Efeitos aos Vizinhos os vizinhos ao bem tombado sofrem uma servidão administrativa envolvendo a denominada “área de entorno” (entorno da área do tombamento não pode ter nada que tire a visibilidade); o objetivo dessa servidão é manter a visibilidade e o destaque do bem tombado; d.2) Espécies de tombamento (classificação): i – Tombamento Geral ou Individual: geral quando atinge ao mesmo tempo vários bens, ex: pelourinho, Olinda, Ouro Preto; individual quando atinge um único bem, ex: elevador Lacerda, Cristo Redentor, casa de Santos Drummond, Basílica do Senhor do Bonfim; ii – Tombamento Provisório ou Definitivo: provisório é quando a entidade tem duvidas sobre o valor histórico do bem; definitivo quando a entidade já tem certeza do valor histórico do bem; OBS: o tombamento definitivo é inscrito no cartório de imóveis; - Art. 13, do Dl 25/37 iii – Tombamento De Ofício, Voluntário ou Compulsório: tombamento de ofício quando atinge bens públicos; OBS: para efeitos de tombamentos de bens públicos NÃO é obrigatória a observância da hierarquia política e NÃO precisa de lei; voluntario ou compulsório quando atinge bens particulares e se realiza mediante processo administrativo; voluntario quando o proprietário pede, solicita ou aceita o tombamento; www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 6 compulsório quando o proprietário resiste ao tombamento (é o mais comum / porque o bem tombado reduz o valor do bem, não pode modificar a coisa); - Arts. 5º, 7º e 8º, do Dl 25/37 - Art. 5º, LIV e LV, da CRFB OBS: Embora o tombamento NÃO tem direito à indenização, o proprietário pode ser indenizado quando em razão dessa intervenção houver uma brusca e excessiva desvalorização do bem; nessa hipótese, configura-se DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA; Daí porque a desapropriação indireta é um fato administrativo ILEGAL, que dá direito a indenização; e) Servidão Administrativa: representa uma espécie de intervençãodo Estado, caracterizada como direito real sobre a coisa alheia; tem caráter perpetuo, não é obrigacional, incide sobre a coisa, e a coisa dominante é SEMPRE um serviço público; servidão = serviço = direito real; pode ser instituída através de lei, de contrato ou por sentença judicial; quando imposta por lei NÃO dá direito a indenização; quando imposta por contrato ou sentença DÁ direito a indenização; daí porque a servidão NÃO é autoexecutória; ex: servidão de transmissão de energia elétrica, servidão de dutos de combustíveis e de gás; na servidão administrativa a “res dominans” é SEMPRE um serviço público, e a coisa serviente é a propriedade do particular; ex: altura máxima de prédios próxima a pistas de pouso; - Art. 40, Dec-lei 3.365/41 Formas de instituição e a questão do direito à indenização - Súmula 56/STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros compensatórios pela limitação de uso da propriedade. www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 7 A QUESTÃO RELACIONADA À DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA: quando o poder público toma um bem, sem observar um regular processo de desapropriação. (EXTRAÍDAS DO NOSSO LIVRO DE DIREITO MATERIAL E QUESTÕES: “MANUAL PRÁTICO DE DIREITO ADMINISTRATIVO”) ®: PEÇA PROFISSIONAL (OAB/RJ – 2007.1) O município do Rio de Janeiro ocupou terreno urbano não-edificado e, nele, construiu, instalou e pôs em funcionamento uma escola pública. Passados dois anos, os herdeiros do falecido proprietário do terreno intentam propor medida judicial contra o município. Na qualidade de advogado dos referidos herdeiros, elabore, de forma fundamentada, a petição inicial da medida judicial cabível a essa situação hipotética. PEÇA PROFISSIONAL (OAB/NE – 2007.1) O imóvel de Antônio foi ocupado, em 19 de janeiro de 1988, pelo estado X, que o utilizou como espaço para feira de exposição permanente. Mais de 500 pontos de venda foram licitados e adquiridos pelos feirantes. A referida feira já está em funcionamento há mais de 10 anos. Em dezembro de 2006, Antônio procurou o escritório de advocacia, com a intenção de ser reintegrado no imóvel esbulhado ou ser indenizado. Como advogado responsável pela defesa dos interesses de Antônio, redija peça profissional que contemple a medida judicial mais adequada e célere ao caso. Para tanto, aborde, em seu texto, necessariamente e de forma fundamentada de acordo com os precedentes jurisprudenciais dos tribunais superiores, os aspectos apresentados a seguir. Aspectos formais: < órgão judicial competente; < medida judicial mais apropriada; < outros aspectos formais; < outros aspectos materiais: a) prescrição; b) juros moratórios; c) juros compensatórios; d) honorários advocatícios, e, e) pedidos finais. f) Desapropriação: espécie de intervenção que resulta no perdimento da propriedade pelo particular; constitui modo originário de aquisição; incide sobre bens móveis ou imóveis, ou seja, incide sobre quaisquer bens de valor patrimonial; pode ser corpóreo ou incorpóreo; a desapropriação NÃO incide sobre moeda corrente (dinheiro) e sobre os direitos www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 8 personalíssimos (ex: vida, honra, intimidade); a desapropriação se divide em dois grandes grupos: f.1) Desapropriação com caráter sancionatório: quando a desapropriação tem caráter de sanção, ela corresponde a uma penalidade ao proprietário, que deixou de cumprir a função social da propriedade privada; daí porque, ele NÃO terá a indenização ou está indenização será paga através de títulos (ou da dívida pública ou dívida agrária / moeda pobre); existem três espécies de desapropriação sancionatória: a) Desapropriação Urbana: competência exclusiva dos Municípios, só quem pode desapropriar nesse contexto é o Município; o pagamento da indenização é através de títulos da dívida pública, com prazo de resgate até 10 anos; a emissão desses títulos deve ser autorizada pelo Senado Federal (porque o endividamento é da União); OBS: o não cumprimento da função social da propriedade urbana, entretanto não resulta na imediata desapropriação, isto porque o Município deve obedecer a um determinado iter (passo a passo) composto de duas medidas antecedentes; o primeiro passo é a notificação para a edificação (construção) ou o parcelamento compulsório; o segundo passo é a imposição do IPTU progressivo no tempo (prazo de cinco anos / ano a ano o Município irá aumentar o IPTU até cinco anos, forçando ao proprietário a cumprir a função social); terceiro passo é a desapropriação sancionatória; e ainda assim, o Município tem que dispor de plano diretor (PDDU) e, além disso, uma lei específica para a área (na prática essa desapropriação é uma “lenda”); b) Desapropriação Rural: competência exclusiva da União; é realizada através do INCRA; a indenização é através de títulos da dívida agrária, no prazo de até 20 anos; carência de 02 anos; OBS: Se no imóvel tiver benfeitorias úteis ou necessárias, estas serão indenizadas de forma prévia e em dinheiro, de modo que, as benfeitorias voluptuárias e a terra nua (sem benfeitoria) são indenizadas através de TDA (títulos da dívida agrária); www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 9 OBS: NÃO é passiveis dessa desapropriação a pequena ou média propriedade rural (a não ser que tenha MAIS de uma), e também NÃO atinge a propriedade produtiva (que atinge a função social); OBS: Incorre nesse tipo de desapropriação a utilização de mão de obra análoga a escrava; c) Desapropriação Confiscatória: constitui a modalidade MAIS grave de desapropriação em razão da plantação ILEGAL de substâncias psicotrópicas; ex: maconha; nessa hipótese o proprietário perde o bem SEM qualquer indenização; o confisco se estende também para todos os bens vinculados ao tráfico de entorpecentes; ex: balança de precisão, avião; a terra deve ser utilizada para o assentamento de colonos, para plantação de gêneros alimentícios, e os demais bens serão leiloados e o produto (dinheiro) será revertido para o aparelhamento da polícia federal, e para programas de recuperação de dependentes químicos; f.2. Desapropriação Sem caráter sancionatório (pode ser uma desapropriação por utilidade / necessidade pública ou interesse social); competência é concorrente(União / Estados, DF / Municípios); - Podem ser: a) Desapropriação por Utilidade ou necessidade pública; b) Desapropriação por Interesse social; - Pontos Comuns: - Considerando que essas desapropriações não tem caráter sancionatório, o pagamento da indenização será feito de forma justa, prévia e em dinheiro; www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 10 - A competência para efetivar essas desapropriações é concorrente entre a União, Estados, DF e Municípios; O Município pode desapropriar uma propriedade rural? Em regra sim! Não pode apenas se se tratar de caráter sancionatório (para reforma agrágia, por interesse social); OBS: Quando a Administração Pública desapropria um bem e fica para ela mesma, é de utilidade pública; quando desapropria e transfere para terceiros é interesse social (ex: desapropria para construir uma escola); - A desapropriação SEM caráter sancionatório atinge também os bens públicos; Condições para desapropriarbens públicos: a) Lei autorizativa b) Observância da hierarquia política; OBS: O tombamento também incide sobre bens públicos, mas não precisa de lei e nem de hierarquia política, basta um ofício; - Ambas perfazem mediante um processo administrativo, composto de duas fases: 1ª) Fase declaratória: - O poder público declara o motivo (causa) + finalidade da desapropriação; declara o bem de utilidade pública (própria administração) ou de interesse social (servir a terceiros); - A fase declaratória é da competência EXCLUSIVA das pessoas políticas (União, Estados, DF e Municípios); - Corresponde ao exercício do poder de polícia do Estado que, como eu sei, é absolutamente INDELEGÁVEL; www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 11 - Essa declaração pode ser feita pelo poder Executivo (decreto expropriatório/ ato exclusivo do Chefe do Poder) ou Legislativo (mediante lei, cabendo ao Executivo os atos subsequentes da desapropriação – lei de efeitos concretos); - Objetivo: nessa fase o poder público fixa o estado do bem; “congela” o bem para fazer a avaliação; conclui com um preço a ser oferecido ao proprietário; - Prazo de 05 anos, quando se tratar de utilidade pública; - Prazo de 02 anos, quando se tratar de interesse social; 2ª) Fase executória: - É a fase de promoção da desapropriação; - Essa fase pode ser resolver de duas maneiras, ou de forma amigável, que chamamos de acordo; ou de pela via judicial (quando o proprietário não aceita o preço oferecido pela administração / ação); - Daí porque a desapropriação NÃO é autoexecutória; - A fase executória por sua vez, pode ser DELEGADA, a pessoa integrante da administração pública indireta (Autarquia / Fundação Pública / EP e SEM), assim como podem ser delegadas às concessionárias e as permissionárias de serviços públicos (delegatárias de serviços); - A fase executória corresponde a um ato material ligado ao exercício ao poder de polícia; o poder de polícia é indelegável, mas pode haver a delegação de ATOS MATERIAIS ligados ao poder de polícia; ex. de ato material: pessoa que conserta o radar; - Na ação judicial de desapropriação é cabível o pedido de imissão provisória na posse do imóvel, mediante dois requisitos: i) deposito prévio da quantia; valor que ele acha justo; ii) alegação de urgência; www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 12 OBS: uma vez presente os dois requisitos, o juiz é obrigado a conceder o pedido de imissão provisória da posse; o STF declarou constitucional esse pedido; - No processo judicial a contestação somente pode versar sobre VÍCIO DO PROCESSO EXPROPRIATÓRIO (judicial ou administrativo) ou IMPUGNAR A OFERTA DO PREÇO; isto porque, não cabe ao juiz avaliar se se trata ou não de caso de utilidade público ou interesse social, já que não cabe ao judiciário adentrar no mérito do ato administrativo; Conceitos fundamentais: 1) Destinação: é a finalidade, o fim, da desapropriação; sentido teleológico da desapropriação; ex: Administração Pública desapropria um imóvel para a utilidade pública, para construção de uma escola pública; 2) Tredestinação: é quando há DESVIO do destino; tredestinar = desviar; a tredestinação pode ser lícita ou ilícita; tredestinação lícita = há um desvio de finalidade, porém ainda atende o interesse público, ex: desapropria para a construção de uma escola, mas no lugar da escola, a Administração constrói um hospital houve desvio, mas ainda atende o interesse coletivo; OBS: a tredestinação LÍCITA Não gera qualquer consequência jurídica; trédestinação ilícita = há o desvio de finalidade + violação ao interesse público, ex: (STF) Administração desapropria para a construção de uma escola, mas ao invés disso, constrói uma borracharia houve um desvio de finalidade, atendendo ao interesse particular; OBS: a tredestinação ILÍCITA gera uma retrocessão; a não efetivação da finalidade também é caso de tredestinação; 3) Retrocessão: é a consequência da tredestinação ilícita; uma parte da doutrina entende que é uma retrocessão de natureza real (rés; coisa), e nesse caso o proprietário pode reivindicar a coisa de volta; outra parte entende que é uma retrocessão de natureza obrigacional (pessoal), dando direito a uma indenização (ressarcimento / perdas e danos); www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 13 NA PROVA é preferível o entendimento de natureza pessoal se se tratar de peça profissional. Em se tratando de questão discursiva, prefira defender tratar-se de instituto de natureza REAL (entendimento do STF e STJ), a não ser que o próprio enunciado dê conta de fatos que impossibilitem a reivindicação da coisa, como, por exemplo, já ter sido ou esta sendo realizada uma obra pública no local, de modo que não caberá a ação reivindicatória, mas apenas a ação de ressarcimento. Nesse contexto é o que dispõe o art. 35 do Dl 3365/41; 4) Direito de extensão: é o direito que o proprietário tem de postular (exigir) que a desapropriação alcance todo o imóvel, quando lhe sobejar (restar) uma parte mínima, sem qualquer valor econômico; OBS: Quando a desapropriação é feita para parcelamento popular, NÃO pode haver tredestinação (não se admite), e, portanto, não haverá retrocessão; 10. Correlação entre normas e dispositivos legais pertinentes ao tema: ASSUNTO NORMAS CONSTITUCIONAIS NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS INTERVENÇÃO DO ESTADO: DESAPROPRIAÇÃO INTERVENÇÃO DO ESTADO (OUTRAS) . 5º, XXII e XXIII . 5º, XXIV . 182 e 183 . 184 a 186 . 243 . 5º, XXII . 5º, XXIII . 5º, XXV . Dec. 3.365/41 . lei 4.132/62 . Dec. 1.075/70 . lei 10.257/01 . lei 8.629/93 . LC 76/93 . Art. 1.228, §§ 4º e 5º, do CC . lei 8.257/91 . Dec. 25/37 . 1228, CC www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 14 . 22, 24 e 30 . 170, II . 170, III . 215 . 216 . Lei 10.257/01 (arts. 5º; 25; 36) . Dec-lei 3.365/41 (arts. 10; 36; 40) 11. Aspectos jurisprudenciais: STF – Vinculantes STF – Comuns 23; 157; 164; 218; 345; 378; 416; 476; 561; 617; 618; 652; 668 STJ 12; 56; 67; 69; 70; 102; 113; 114; 119; 131; 141; 354; 408 12. Questões sobre o tema (EXTRAÍDAS DO NOSSO LIVRO DE DIREITO MATERIAL E QUESTÕES: “MANUAL PRÁTICO DE DIREITO ADMINISTRATIVO”) ®: www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 15 OAB – 2006.1 QUESTÃO 3 O prefeito de um município brasileiro, a pedido da população, resolveu ampliar uma avenida da cidade. Ocorre que, na trajetória da ampliação da avenida, existem dois imóveis de propriedade particular, e seus proprietários se recusam a vendê-los. Diante dessa situação hipotética, redija um texto dissertativo, com as devidas justificativas e fundamentação legal, em que indique o que o município deve fazer para conseguir a propriedade desses imóveis e, assim, ampliar a avenida. Extensão máxima: 60 linhas MODELO DE RESPOSTA: Consoante ensina a doutrina especializada, o Direito Administrativo assenta-se no princípiobasilar da supremacia do interesse público sobre os interesses dos particulares, através do qual fica autorizado ao Estado a adoção de medidas interventivas na propriedade particular para a satisfação dos interesses da coletividade. No caso em tela, pretende o chefe do poder executivo municipal efetivar a ampliação da avenida da cidade, atendendo, destarte, aos anseios da população local, encontrando, contudo, ao seu intento, dois imóveis de propriedade particular, cujos proprietários recusam-se a vendê-los. Considerando, assim, a supremacia do interesse público sobre o interesse privado, cabe ao prefeito efetivar a desapropriação dos referidos imóveis por utilidade pública, dentre outros, na forma do art. 5º., “i”, do Decreto-Lei 3.365/41, in verbis: “Consideram-se casos de utilidade pública: ... i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou logradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou ampliação de distritos industriais;” Entretanto, cumpre ao expropriante a observância de todos os requisitos legais para a efetivação da desapropriação, notadamente a edição de decreto declarando a utilidade pública inerentes aos imóveis, assim como o pagamento de uma indenização justa, prévia e em dinheiro, conforme determinam os arts. 1º e 32 do www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 16 mencionado Decreto-Lei, assim como o art. 5º, XXIV, da Constituição Federal, literis: “XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;” OAB/NE/ 2006.3 Questão 5 O prefeito de um município pretende criar um espaço público de lazer e área verde no centro da cidade. No entanto, nesse local existem diversos imóveis residenciais. – A propósito dessa situação-problema, redija um texto dissertativo acerca da possibilidade ou não de se instituir a figura da preempção e que aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: < conceito; < notificação; < modo de instituição; < descumprimento. < prazo para exercício; PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL – DIREITO ADMINISTRATIVO – QUESTÃO 5 Quesito avaliado Faixa de Valores Atendiment o ao Quesito 1 Apresentação, estrutura textual e correção gramatical Fundamentação e consistência A preempção ou direito de preferência do Município encontra-se previsto no Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), arts. 25 a 27,que prevê o conceito, prazo de notificação, modo de instituição e descumprimento. Domínio do raciocínio jurídico (adequação da resposta ao problema; técnica profissional demonstrada; capacidade de interpretação e de exposição) 0,00 a 1,00 UnB / CESPE – OAB – Exame de Ordem 2007.1 Questão 5 O imóvel de Maria foi desapropriado para nele se construir uma www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 17 escola. Passados 5 anos da efetiva transferência da propriedade, o referido imóvel foi cedido a uma borracharia. Diante disso, Maria pretende reaver o imóvel. – Considerando-se esse caso hipotético, qual o instituto que autoriza o retorno do imóvel à Maria, o prazo de sua utilização e a natureza jurídica e qual o termo inicial do prazo prescricional? COMENTÁRIOS O caso em tela, em que o Poder Público deixou de dar a destinação prevista na desapropriação do imóvel, caracteriza a hipótese de “tredestinação ilícita”, dando ensejo à aplicação da retrocessão. A retrocessão, para muitos, caracteriza instituto de natureza pessoal, cabendo ao proprietário postular o recebimento de indenização pela perda do bem nas situações em que a Administração não tenha dado a destinação explicitada necessariamente no ato expropriatório, transferindo a um particular a propriedade do bem. Esse entendimento encontra guarida na norma do art, 35 do Decreto-Lei 3.365/41, que determina: “Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.” Não obstante, prevalece na jurisprudência do STF e STJ que a retrocessão tem natureza de direito real, sendo certo, ainda, que a hipótese retratada no enunciado acima foi extraída EXATAMENTE de um caso concreto, apreciado pelo STJ quando do julgamento do REsp 623511 / RJ (Relator Ministro LUIZ FUX, Primeira Turma, j. em 19/05/2005, DJ 06/06/2005 p. 186), nos seguintes termos: “DIREITO ADMINISTRATIVO - RECURSO ESPECIAL - RETROCESSÃO - DESVIO DE FINALIDADE PÚBLICA DE BEM DESAPROPRIADO - CONDENAÇÃO DO MUNICÍPIO À DEVOLUÇÃO DO BEM MEDIANTE O RESSARCIMENTO DA INDENIZAÇÃO RECEBIDA PELA EXPROPRIADA. 1 - Acórdão fundado na exegese do art. 35 do Decreto 3365 revela inequívoca natureza infraconstitucional, mercê da análise da influência do Código Civil no desate da lide. 2. A retrocessão é um instituto através do qual ao expropriado é lícito pleitear as conseqüências pelo fato de o imóvel não ter sido utilizado para os fins declarados na desapropriação. Nessas hipóteses, a lei permite que a parte, que foi despojada do seu direito de propriedade, possa reivindicá-lo e, diante da impossibilidade de fazê-lo (ad impossibilia nemo tenetur), subjaz-lhe a ação de perdas e danos. 3 - A retrocessão é um direito real do ex-proprietário de reaver o bem expropriado, mas não preposto a finalidade pública (Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 18 17ª edição, pg. 784). 4 - A jurisprudência desta Corte considera a retrocessão uma ação de natureza real (STJ: REsp nº 570.483/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Franciulli Netto, DJU de 30/06/2004). 5 - Outrossim, o Supremo Tribunal Federal também assentou a natureza real da retrocessão: “DESAPROPRIAÇÃO - Retrocessão - Prescrição - Direito de natureza real - Aplicação do prazo previsto no art. 177 do CC e não do quinquenal do De. 20.910/32 - Termo inicial - Fluência a partir da data da transferência do imóvel ao domínio particular, e não da desistência pelo Poder expropriante.” (STF, ERE 104.591/RS, Rel. Min. Djaci Falcão, DJU 10/04/87) 6 - Consagrado no Código Civil, o direito de vindicar a coisa, ou as conseqüentes perdas e danos, forçoso concluir que a lei civil considera esse direito real, tendo em vista que é um sucedâneo do direito à reivindicação em razão da subtração da propriedade e do desvio de finalidade na ação expropriatória. 7- O Supremo Tribunal Federal concluiu que: “Desapropriação. Retrocessão. Alienação do imóvel. Responsabilidade solidária. Perdas e danos. Código Civil, art. 1150 - Transitado em julgado o reconhecimento da impossibilidade de retrocessão do imóvel por já incorporado ao patrimônio público e cedido a terceiros, razoável é o entendimento, em consonância com doutrina e jurisprudência, do cabimento de perdas e danos ao expropriados – Recursos extraordinários não conhecidos.” (STF - RE nº 99.571/ES, Rel. Min. Rafael Mayer, DJU de 02/12/83). 8 - In casu, depreende-se dos autos que não foi dada ao imóvel a finalidade prevista no decreto expropriatório, porquanto a propriedade FORA CEDIDA A TERCEIRO PARA EXPLORAÇÃO DEBORRACHARIA. 9 - Reconhecendo o v. acórdão recorrido que houve desvio de finalidade na desapropriação, porquanto não foi dada ao imóvel a destinação motivadora do decreto expropriatório, determinou que o imóvel retornasse ao domínio das apelantes, ora recorridas, que em contrapartida devem restituir o valor da indenização recebida, devidamente corrigido e com a incidência de juros moratórios, retroativos à data do seu recebimento. 10 – É aplicável in casu o artigo 177 do CCB/16 que estabelece ser de 10 anos o prazo prescricional para as ações de natureza real. 11 - A mesma exegese foi emprestada pelo e. Supremo Tribunal Federal: “Retrocessão. Aplica- se-lhe o prazo de prescrição de dez anos, previsto no art. 177 do Código Civil e não o quinquenal, estabelecido pelo Decreto nº 20.910-32. (...)” (STF - RE nº 104.591/RS, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJU de 16/05/86). 12 - O artigo 1.572 do Código Civil de 1916 dispõe que “aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”, sendo certo que a regra é reiterada no Código Civil de 2002 que preceitua “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. 13 - Sob essa ótica, mister concluir que os referidos dispositivos refletem o direito de saisine que prevê a transmissão automática dos direitos que compõem o patrimônio da herança aos sucessores com toda a propriedade, a posse, os direitos reais e os pessoais. Assim, a posse e a propriedade, com a morte, transmitem-se aos herdeiros, e, a fortiori, a indenização também. Nesse contexto, conclui-se que os herdeiros, tanto pelo direito de saisine, bem como pela natureza real da retrocessão, têm legitimatio ad causam para ajuizar a ação. 14 - É cediço na doutrina que o Poder Público não deve desapropriar imóveis sem lhes destinar qualquer finalidade pública ou interesse social, exigência constitucional para legitimar a desapropriação. Com efeito, “não pode haver expropriação por interesse privado de pessoa física ou organização particular” (Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, p. 576). www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 19 15 - O e. STJ através da pena do Exmº Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros no julgamento do REsp 412.634/RJ, afirmou que a obrigação de retroceder “homenageia a moralidade administrativa, pois evita que o Administrador – abusando da desapropriação – locuplete-se ilicitamente às custas do proprietário. Não fosse o dever de retroceder, o saudável instituto da desapropriação pode servir de instrumentos a perseguições políticas e, ainda ao enriquecimento particular dos eventuais detentores do Poder” (EDREsp 412.634/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 09.06.2003). 16 - Recurso especial a que se nega provimento.”. Ou seja, prazo prescricional de dez anos, contados a partir da data da transferência do imóvel ao domínio particular por se tratar de ação de natureza real. Registre-se, finalmente, que esse entendimento vem sendo ratificado pelo Colendo STJ, conforme julgamento mais recente, relativo ao REsp 868655 / MG. OAB/CESPE – DIVERSAS REGIÕES/ 2007.2 – gabarito com padrões de respostas fornecidos pelo próprio CESPE Questão 5 Indira possui um terreno vazio de 5.000 m² no centro de determinado município. Esse imóvel não vem sendo utilizado de acordo com a política urbanística da cidade, prevista no plano diretor. O prefeito pretende conferir a esse terreno uma finalidade de interesse social e econômico, de acordo com o plano diretor do município, mas não tem recursos para promover a imediata desapropriação. – A propósito dessa situação hipotética, redija um texto que explicite, de forma fundamentada, com base na Constituição Federal, quais providências necessárias e cabíveis podem ser tomadas pelo prefeito. PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL – DIREITO ADMINISTRATIVO – QUESTÃO 5 Quesito avaliado Faixa de Valores Atendimento ao Quesito 1 Apresentação, estrutura textual e correção gramatical Fundamentação e consistência - As providências cabíveis a serem tomadas pelo prefeito estão arroladas no art. 182, § 4° da Constituição 0,00 a 1,00 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 20 Federal. Desapropriação urbanística de caráter sancionatório. Requisitos: Plano Diretor. Lei Municipal, e a observância do iter, consistente na: notificação para edificação ou parcelamento compulsório; IPTU progressivo, para, somente depois, proceder-se à desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública. Domínio do raciocínio jurídico (adequação da resposta ao problema; técnica profissional demonstrada; capacidade de interpretação e de exposição) OAB/CESPE – DIVERSAS REGIÕES/ 2007.3 – gabarito com padrões de respostas fornecidos pelo próprio CESPE Questão 1 O novo prefeito de um município com cerca de um milhão de habitantes, preocupado com o problema do déficit habitacional ali existente, decidiu implementar, pelo sistema de mutirões, um arrojado programa de construção de casas para famílias de baixa renda. Para tanto, efetuou a desapropriação de uma área de 3.000.000 m2 que pertencia a uma indústria de laticínios e cuja proprietár ia não a ut i l izava economicamente. Concluído o processo de desapropriação, o primeiro mandatário municipal, construiu, no local, um grande mercado popular. – Nessa situação, seria nula a desapropriação, por desvio de finalidade? Justifique a sua resposta. PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL – DIREITO ADMINISTRATIVO – QUESTÃO 1 Quesito avaliado Faixa de valores Atendimento ao quesito 1. Correção gramatical (acentuação, grafia, pontuação) 2. Fundamentação e consistência 2.1. Definição legal de desvio de finalidade 2.2. Há desvio de finalidade (art. 5º, §3º do DL nº 3365/41, alterado pela Lei nº 9785/99). Ao imóvel desapropriado para implantação de parcelamento popular não se dará outra utilização e nem caberá 0,00 a 1,00 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 21 retrocessão. Anulação da desapropriação por desvio de finalidade. 3. Domínio do raciocínio jurídico (adequação da resposta ao problema; técnica profissional e desenvolvimento da r e d a ç ã o ) OAB/CESPE – DIVERSAS REGIÕES/ 2008.2 – gabarito com padrão de resposta oficial-Cespe Questão 3 Visando à construção de casas populares, determinado município promoveu a desapropriação, por interesse social, de bem imóvel pertencente a um particular. Três anos depois do decreto expropriatório, após avaliar a inconveniência da utilização do bem no propósito que inicialmente tinha em mente, o poder público resolveu doá-lo a uma empresa privada que se comprometera a implantar uma indústria na sede do município. A justificativa para a doação do imóvel foi o impacto positivo que a implantação da indústria causaria na economia local, com o oferecimento de dezenas de empregos e a elevação da renda do município. – Considerando a situação hipotética apresentada, responda, de forma fundamentada, às seguintes perguntas. < O município tem competência para promover a desapropriação por interesse social? < A conduta da autoridade municipal – a doação a particular do bem desapropriado após três anos de sua expropriação – está de acordo com a lei? PROVA PRÁTICO-PROFISSIONALDIREITO ADMINISTRATIVO – QUESTÃO 3 Quesito avaliado Faixa de Valores Atendimento ao Quesito 1 Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens, paragrafação); correção gramatical (acentuação, grafia, morfossintaxe) 0,00 a 0,20 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 22 2 Fundamentação e consistência 2.1 Competência do município para promover a desapropriação por interesse social (art. 2.º, Decreto-lei n.º 3.365/1941) 0,00 a 0,20 2.2 Ilegalidade da doação, a particular, de bem desapropriado por interesse social; nos termos do art. 4º da Lei n.º 4.132/1962, os bens desapropriados só podem ser objeto de “venda” ou “locação” a quem estiver em condições de dar-lhes a destinação social prevista 0,00 a 0,20 2.3 Caducidade do decreto expropriatório: de acordo com o art. 3.º da Lei n.º 4.132/1962, no caso da desapropriação por interesse social, o prazo é de dois anos 0,00 a 0,20 3 Domínio do raciocínio jurídico (adequação da resposta ao problema; técnica profissional demonstrada; capacidade de interpretação e exposição) 0,00 a 0,20 OAB 2009.1 – Padrão de resposta oficial-Cespe Questão 2 O poder público municipal, por meio de decreto, desapropriou imóvel de Paulo e Maria, para implantar, no local, um posto de assistência médica. A expropriação foi amigável, tendo sido o bem devidamente integrado ao patrimônio público municipal. Não obstante a motivação prevista no ato expropriatório, que era a de utilidade pública, o município alterou a destinação atribuída ao bem para edificar, no local, uma escola pública. Nessa situação hipotética, ocorreu tredestinação ilícita? Paulo e Maria têm direito à retrocessão? Fundamente suas respostas, mencionando a definição do instituto da retrocessão e sua(s) hipótese(s) de cabimento. DISCURSIVA – DIREITO ADMINISTRATIVO – QUESTÃO 2 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 23 Quesito avaliado Faixa de Valores Atendiment o ao Quesito 1 Apresentação, estrutura textual e correção gramatical 0,00 a 0,20 2 Fundamentação e consistência 2.01 Conhecimento acerca da tredestinação lícita (0,10) e da ilícita (0,10) 0,00 a 0,20 2.02 Definição do instituto da retrocessão (0,10) e hipótese de cabimento (0,10) 0,00 a 0,20 2.03 Inexistência de direito à retrocessão 0,00 a 0,20 3 Domínio do raciocínio jurídico (adequação da resposta ao problema; técnica profissional demonstrada; capacidade de interpretação e exposição) 0,00 a 0,20 OAB 2009.1 – Padrão de resposta oficial-Cespe Questão 5 A União intentou, por interesse social, para fins de reforma agrária, ação de desapropriação parcial contra Carlos, proprietário rural, tendo a área remanescente da propriedade, cujo valor era inferior ao da parte desapropriada, ficado, segundo Carlos, substancialmente prejudicada quanto à possibilidade de exploração econômica. Nessa situação hipotética, dado o caráter sumário do procedimento e considerando-se que a petição inicial tenha atendido aos requisitos do Código de Processo Civil, com oferta de preço e instrução com os documentos indispensáveis à propositura da ação, o que Carlos poderia requerer em seu favor, ao contestar a ação, para evitar permanecer com a parte inútil de suas terras? Fundamente sua resposta e cite o dispositivo legal mais recente pertinente ao caso. DISCURSIVA – DIREITO ADMINISTRATIVO – QUESTÃO 5 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 24 Quesito avaliado Faixa de Valores Atendiment o ao Quesito 1 Apresentação, estrutura textual e correção gramatical 0,00 a 0,20 2 Fundamentação e consistência 2.01 Requerimento de direito de extensão 0,00 a 0,40 2.02 Fundamentação com base no art. 4.º da Lei Complementar n.o 76/1993 0,00 a 0,20 3 Domínio do raciocínio jurídico (adequação da resposta ao problema; técnica profissional demonstrada; capacidade de interpretação e exposição) 0,00 a 0,20 1 OAB 2009.3 – Padrões de resposta oficial-Cespe Questão 2 José, proprietário de imóvel onde nasceu e viveu poeta de renome nacional, pretende aliená-lo a Lucas, que lhe ofereceu a melhor proposta. Entretanto, nos termos do plano diretor do município onde se localiza o imóvel, este deveria ser utilizado como museu da cidade, razão pela qual o município pretende adquiri-lo. – Em face dessa situação hipotética, na condição de parecerista do município, indique a providência a ser tomada para que o município adquira o referido imóvel, caso não seja viável a realização de desapropriação. PARDÃO DE RESPOSTA Poderá o município utilizar-se do direito de preempção, de acordo com o previsto no inciso VIII do art. 26 da Lei n.º 10.257/2001. No entanto, deverá haver lei 1. Conforme súmula 85 do STJ. www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 25 municipal que, baseada no plano diretor do município, identifique o imóvel que será objeto da preempção, conforme determinação do parágrafo único do mesmo dispo- sitivo. Assim dispõe a Lei nº 10.257/2001: “Art. 25. O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares. § 1.º Lei municipal, baseada no plano diretor, delimitará as áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará prazo de vigência, não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após o decurso do prazo inicial de vigência. Art. 26. O direito de preempção será exercido sempre que o Poder Público necessitar de áreas para: (...) VIII – proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico. Parágrafo único. A lei municipal prevista no § 1.º do art. 25 desta Lei deverá enquadrar cada área em que incidirá o direito de preempção em uma ou mais das finalidades enumeradas por este artigo.” OAB 2009.3 (Prova anulada pelo CESPE. comentários abaixo dos autores) Questão 1 A administração pública estadual, a fim de efetuar a construção de uma estrada ocupou, sem indenização prévia, uma área privada, pertencente a João, assumindo sua posse efetiva, sem observância de qualquer tipo de processo ou procedimento, tendo sido dada a referida propriedade a destinação publica pretendida pela administração. – Nessa situação hipotética, João pode reivindicar a posse da propriedade? Que medida judicial pode ele ajuizar? Justifique ambas as respostas. COMENTÁRIOS: No caso em questão, incorreu, a Administração, em ato ilícito denominado “desapropriação indireta”. Embora a ilegalidade da conduta, não pode, o particular (João) reivindicar a posse da propriedade, conforme reza o art. 35 do Decreto Lei 3.365/41. Caberia a João, assim, a propositura de uma ação ordinária buscando a reparação, www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 26 frente ao Estado, pelo prejuízo (perdas e danos) que lhe foram causados. Vale registrar, entretanto, que a jurisprudência pátria tem assentado o entendimento de que a tredestinação tem natureza de direito real, conforme se depreende do julgado abaixocolacionado, relativo ao REsp 623511 / RJ (Relator Ministro LUIZ FUX, Primeira Turma, j. em 19/05/2005, DJ 06/06/2005 p. 186): “DIREITO ADMINISTRATIVO - RECURSO ESPECIAL - RETROCESSÃO - DESVIO DE FINALIDADE PÚBLICA DE BEM DESAPROPRIADO - CONDENAÇÃO DO MUNICÍPIO À DEVOLUÇÃO DO BEM MEDIANTE O RESSARCIMENTO DA INDENIZAÇÃO RECEBIDA PELA EXPROPRIADA. 1 - Acórdão fundado na exegese do art. 35 do Decreto 3365 revela inequívoca natureza infraconstitucional, mercê da análise da influência do Código Civil no desate da lide. 2. A retrocessão é um instituto através do qual ao expropriado é lícito pleitear as conseqüências pelo fato de o imóvel não ter sido utilizado para os fins declarados na desapropriação. Nessas hipóteses, a lei permite que a parte, que foi despojada do seu direito de propriedade, possa reivindicá-lo e, diante da impossibilidade de fazê-lo (ad impossibilia nemo tenetur), subjaz-lhe a ação de perdas e danos. 3 - A retrocessão é um direito real do ex-proprietário de reaver o bem expropriado, mas não preposto a finalidade pública (Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, 17ª edição, pg. 784). 4 - A jurisprudência desta Corte considera a retrocessão uma ação de natureza real (STJ: REsp nº 570.483/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Franciulli Netto, DJU de 30/06/2004). 5 - Outrossim, o Supremo Tribunal Federal também assentou a natureza real da retrocessão: “DESAPROPRIAÇÃO - Retrocessão - Prescrição - Direito de natureza real - Aplicação do prazo previsto no art. 177 do CC e não do quinquenal do De. 20.910/32 - Termo inicial - Fluência a partir da data da transferência do imóvel ao domínio particular, e não da desistência pelo Poder expropriante.” (STF, ERE 104.591/RS, Rel. Min. Djaci Falcão, DJU 10/04/87) 6 - Consagrado no Código Civil, o direito de vindicar a coisa, ou as conseqüentes perdas e danos, forçoso concluir que a lei civil considera esse direito real, tendo em vista que é um sucedâneo do direito à reivindicação em razão da subtração da propriedade e do desvio de finalidade na ação expropriatória. 7- O Supremo Tribunal Federal concluiu que: “Desapropriação. Retrocessão. Alienação do imóvel. Responsabilidade solidária. Perdas e danos. Código Civil, art. 1150 - Transitado em julgado o reconhecimento da impossibilidade de retrocessão do imóvel por já incorporado ao patrimônio público e cedido a terceiros, razoável é o entendimento, em consonância com doutrina e jurisprudência, do cabimento de perdas e danos ao expropriados – Recursos extraordinários não conhecidos.” (STF - RE nº 99.571/ES, Rel. Min. Rafael Mayer, DJU de 02/12/83). 8 - In casu, depreende-se dos autos que não foi dada ao imóvel a finalidade prevista no decreto expropriatório, porquanto a propriedade FORA CEDIDA A TERCEIRO PARA EXPLORAÇÃO DE BORRACHARIA. 9 - Reconhecendo o v. acórdão recorrido que houve desvio de finalidade na desapropriação, porquanto não foi dada ao imóvel a destinação motivadora do decreto expropriatório, determinou que o imóvel retornasse ao domínio das apelantes, ora recorridas, que em contrapartida devem restituir o valor da indenização recebida, devidamente corrigido e com a incidência de juros moratórios, retroativos à data do seu recebimento. 10 – É aplicável in casu o artigo 177 do CCB/16 que estabelece ser de 10 anos o prazo www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 27 prescricional para as ações de natureza real. 11 - A mesma exegese foi emprestada pelo e. Supremo Tribunal Federal: “Retrocessão. Aplica- se-lhe o prazo de prescrição de dez anos, previsto no art. 177 do Código Civil e não o quinquenal, estabelecido pelo Decreto nº 20.910-32. (...)” (STF - RE nº 104.591/RS, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJU de 16/05/86). 12 - O artigo 1.572 do Código Civil de 1916 dispõe que “aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”, sendo certo que a regra é reiterada no Código Civil de 2002 que preceitua “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. 13 - Sob essa ótica, mister concluir que os referidos dispositivos refletem o direito de saisine que prevê a transmissão automática dos direitos que compõem o patrimônio da herança aos sucessores com toda a propriedade, a posse, os direitos reais e os pessoais. Assim, a posse e a propriedade, com a morte, transmitem-se aos herdeiros, e, a fortiori, a indenização também. Nesse contexto, conclui-se que os herdeiros, tanto pelo direito de saisine, bem como pela natureza real da retrocessão, têm legitimatio ad causam para ajuizar a ação. 14 - É cediço na doutrina que o Poder Público não deve desapropriar imóveis sem lhes destinar qualquer finalidade pública ou interesse social, exigência constitucional para legitimar a desapropriação. Com efeito, “não pode haver expropriação por interesse privado de pessoa física ou organização particular” (Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, p. 576). 15 - O e. STJ através da pena do Exmº Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros no julgamento do REsp 412.634/RJ, afirmou que a obrigação de retroceder “homenageia a moralidade administrativa, pois evita que o Administrador – abusando da desapropriação – locuplete-se ilicitamente às custas do proprietário. Não fosse o dever de retroceder, o saudável instituto da desapropriação pode servir de instrumentos a perseguições políticas e, ainda ao enriquecimento particular dos eventuais detentores do Poder” (EDREsp 412.634/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 09.06.2003). 16 - Recurso especial a que se nega provimento.”. Ou seja, em questões discursivas, como vimos acima, a tese da natureza de direito real à tredestinação deve ser igualmente aceita, ante o respaldo jurisprudencial acima. OAB 2009.3 (Prova anulada pelo CESPE. comentários abaixo dos autores) Questão 4 A Administração em caráter geral, impôs a proprietários indeterminados obrigações negativas, com fim de condicionar as propriedades ao atendimento da função social, sem que, com isso, lhes tenha causado prejuízos individualizados. - Em face dessa situação hipotética, responda de forma fundamentada, se incide responsabilidade civil do estado gerador de dever indenizatório a favor dos referidos www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 28 proprietários. COMENTÁRIOS Nessa situação, a determinação de obrigações negativas (não fazer) em caráter geral configura a hipótese de uma das espécies de intervenção do Estado na propriedade privada, denominada “limitação administrativa”. Estas imposições, marcadas pela aplicação do princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, não dão ensejo à responsabilidade civil do estado, não incidindo, destarte, direito a indenização em favor dos proprietários. OAB/CESPE 2010.1 – gabarito com padrão de resposta oficial- Cespe Questão 2 Jorge, que é proprietário de um único imóvel — uma pequena propriedade rural —, pretende anular decreto presidencial que declarou ser a referida propriedade de interesse social p a r a f i n s d e r e f o r m a a g r á r i a . – Nessa situação hipotética, que medida pode ser ajuizada por Jorge, para pleitear a anulação do citado decreto? Justifique sua resposta e indique o órgão do Poder Judiciário competente para o julgamento da medida, bem como exponha o argumento principal para a pretensão de Jorge. PADRÃO DE RESPOSTA Trata-se de ato administrativode efeitos concretos, e não, um ato regulamentar. Por esse motivo, poderá o proprietário do imóvel impetrar mandado de segurança junto ao STF, contra o presidente da República, visando à anulação do decreto (CF, art. 102, I, d). O argumento fundamental é o de que a propriedade rural não poderia ser objeto de desapropriação para fins de reforma agrária já que é considerada pequena www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 29 propriedade rural e o seu proprietário não possui outro imóvel rural, de acordo com o art. 185 da CF. Exame de Ordem 2010.3 – Fundação Getúlio Vargas Questão 1 O Poder Executivo municipal da cidade X resolve, após longos debates públicos com representantes de associações de moradores, editar um decreto de desapropriação de uma determinada área urbana, a fim de atender às exigências antigas da comunidade local dos Pontinhos, que ansiava pela construção de um hospital público na região. Entretanto, outra comunidade de moradores do mesmo município X, localizada a 10 km da primeira comunidade acima citada e denominada Matinhos, resolve ajuizar mandado de segurança coletivo contra o ato (decreto expropriatório) praticado pelo Prefeito. A comunidade de Matinhos é devidamente representada pela respectiva associação de moradores, constituída há pelo menos cinco anos e em funcionamento. A ação judicial coletiva objetiva, em sede liminar e de forma definitiva, sob pena de multa, a decretação de nulidade do decreto de desapropriação e a determinação de que o hospital seja imediatamente construído na localidade de Matinhos. Argumenta a associação, ora autora da ação coletiva, que em sua campanha política o Prefeito prometeu a construção de um hospital na localidade de Matinhos e que, por razões de conveniência e oportunidade, o Poder Executivo municipal não deveria construir o hospital na localidade de Pontinhos, pois lá já existe um hospital público federal em funcionamento, enquanto na localidade de Matinhos não há qualquer hospital. Diante da situação acima narrada e ao considerar que o decreto de desapropriação foi editado de forma válida e legal, sem qualquer vício de legalidade, explicite a possibilidade ou não de: a) anulação do ato administrativo de desapropriação pelo Poder Judiciário; (Valor: 0,6) b) determinação judicial de que o Prefeito deva construir o www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 30 hospital na região de Matinhos. (Valor: 0,4) ESPELHO O princípio da autotutela administrativa que se encontra consagrado por força de reiterada jurisprudência, pela Súmula nº 473 do Supremo Tribunal Federal, impõe à Administração Pública o poder/dever de anular os atos ilegais ou revogá-los, por motivo de oportunidade e conveniência, em ambos os casos, respeitados os direitos adquiridos. Esse enunciado, entretanto, não afasta a apreciação do Poder Judiciário, ou seja, o controle judicial dos atos praticados pela Administração Pública que, hoje, ante ao avanço das decisões judiciais e da doutrina do direito público permite que seja realizado à luz não só da adequação do ato aos ditames legais e jurídicos (princípios) – controle de legalidade ou de juridicidade –, como também permite ao Juiz a análise e o controle dos atos discricionários. Os atos discricionários, segundo a melhor e atual doutrina do direito administrativo, devem pautar a sua edição em determinados critérios eleitos que serão analisados pelo Poder Judiciário, quais sejam: 1) se o ato praticado atendeu ao princípio da razoabilidade (se foi necessário e se os meios foram proporcionais aos fins pretendidos e executados); 2) se o ato atendeu aos motivos que determinaram a sua edição ou se apenas atendeu a interesses privados e secundários (teoria dos motivos determinantes); 3) e se o ato atendeu às finalidades da lei, em última análise, se o ato atendeu aos interesses públicos reais, sem qualquer desvio de poder. Por fim, importa ressaltar que o Poder Judiciário não pode substituir o administrador. Dessa forma, quando da anulação do ato discricionário, não cabe ao Juiz determinar a prática do ato, mas sim devolver ao administrador público essa decisão que deverá ser fundamentada e exposta, segundo novos critérios de oportunidade e conveniência, respeitados os motivos determinantes, a razoabilidade e a finalidade (interesse público). Em relação à correção, levou-se em conta o seguinte critério de pontuação: Item Pontuação Identificação do ato administrativo (decreto de desapropriação) como ato discricionário. 0 / 0,3 Possibilidade do controle judicial dos atos por meio de uma ponderação de razoabilidade – dimensão da legalidade – de atingimento dos motivos determinantes, bem como a sua finalidade pública 0 / 0,3 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 31 real. Impossibilidade de o Poder Judiciário determinar a prática do ato (construção do hospital). 0 / 0,4 COMENTÁRIOS: Embora seja possível o controle judicial sobre a discricionariedade administrativa (no que tange à observância dos critérios legais e dos princípios integrantes do regime jurídico administrativo), de acordo com o enunciado da questão não há vício de validade no ato, logo não há que se falar em anulação do ato administrativo pelo Poder Judiciário. Quanto à possibilidade de determinação judicial de que o Prefeito deva construir o hospital na região de Matinhos vale considerar que não compete ao judiciário adentrar no mérito do ato administrativo, como na hipótese, cuja atuação da administração pública afigura-se tipicamente discricionária. A despeito do conhecido entendimento doutrinário nesse sentido, no que tange à desapropriação, há a previsão expressa no art. 9º do Decreto-Lei 3.365/41: “Art. 9º ao poder judiciário é vedado no processo de desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de utilidade pública.” Exame de Ordem 2010.3 – Fundação Getúlio Vargas Questão 5 Suponha que chegue ao conhecimento de um Ministro de Estado que Mévio, proprietário de uma fazenda na região central do país, vem utilizando sua propriedade para o cultivo ilegal de plantas psicotrópicas. Diante dessa notícia, a União Federal decide desapropriar as terras de Mévio. Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. a) É juridicamente possível que a União Federal promova a desapropriação sem pagar a Mévio qualquer indenização? www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 32 (Valor: 0,3) b) Qual seria a destinação do bem desapropriado? (Valor: 0,4) c) Poderia o Estado da Federação em que estivessem situadas as glebas desapropriá-las para fins de reforma agrária? (Valor: 0,3) ESPELHO A questão deve ser analisada à luz das normas dos artigos 243 e 184 da CRFB. Em relação ao item a, é possível a desapropriação sem pagamento de indenização, eis que essa é a hipótese de expropriação constitucional estabelecida no artigo 243 da CRFB, em que não haverá o pagamento de indenização. Entretanto, o próprio dispositivo constitucional estabelece que as glebas desapropriadas devem ser destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos.Por sua vez, quanto ao item b, a competência para a desapropriação para fins de reforma agrária, com pagamento de indenização em títulos da dívida agrária, é da União Federal (artigo 184 CRFB) e, portanto, não poderia ser exercida pelo Estado- membro. Não há impedimento, porém, para o Estado declarar de interesse social e desapropriar o bem, desde que mediante prévia e justa indenização em dinheiro (observância da regra geral prevista no artigo 5º, inciso XXIV, CRFB). Em relação à correção, levou-se em conta o seguinte critério de pontuação: Item Pontuação Desapropriação-sanção prevista no artigo 243 CRFB – sem indenização 0 / 0,3 Necessidade de observância da destinação constitucional (assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos) 0 / 0,4 Não poderia desapropriar mediante indenização em títulos da dívida agrária – competência da União 0 / 0,15 www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 33 Federal (artigo 184, CRFB) Poderia desapropriar para fins de interesse social, observando a regra geral da prévia e justa indenização em dinheiro (artigo 5º, inciso XXIV, CRFB). 0 / 0,15 A resposta às duas primeiras perguntas (“a” e “b”) estão claramente previstas no caput do art. 243 da CF: “Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e ESPECIFICAMENTE DESTINADAS AO ASSENTAMENTO DE COLONOS, PARA O CULTIVO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E MEDICAMENTOSOS, SEM QUALQUER INDENIZAÇÃO AO PROPRIETÁRIO E SEM PREJUÍZO DE OUTRAS SANÇÕES PREVISTAS EM LEI.” Não poderia o Estado realizar a desapropriação uma vez que tal modalidade (desapropriação, por interesse social, para fins de reforma agrária) é de competência e x c l u s i v a d a U n i ã o , c o n f o r m e n o r m a d o a r t . 1 8 4 d a C F : “Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.” Discordamos, com as devidas vênias, com o indicativo previsto no gabarito da respeitável Instituição no sentido de que seria possível o Estado promover a desapropriação por interesse social. Isto porque, não obstante detenha essa competência (em sentido genérico e não para fins de reforma agrária), a cobrança desse quesito se realizou, conforme previsto no seu próprio enunciado, “Com base no relatado acima...”, ou seja, de acordo com as circunstâncias retratadas no problema apresentado não há margem de cabimento dessa medida. IV EXAME DE ORDEM UNIFICADO – 2011.1 – FGV (Fundação Getúlio Vargas) Questão 1 No curso de uma inundação e do aumento elevado das águas dos rios em determinada cidade no interior do Brasil, em razão do expressivo aumento do índice pluviométrico em apenas dois dias de chuvas torrenciais, o Pode Público municipal ocupou www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 34 durante o período de 10 (dez) dias a propriedade de uma fazenda particular com o objetivo de instalar, de forma provisória, a sede da Prefeitura, do Fórum e da Delegacia de Polícia, que foram completamente inundadas pelas chuvas. Diante da hipótese acima narrada, identifique e explicite o instituto de direito administrativo de que se utilizou o Poder Público municipal, indicando a respectiva base legal. (Valor 1,25). Comentários Trata-se de modalidade de intervenção do Estado sobre a propriedade privada denominada “requisição administrativa”, que consiste em medida de caráter geral incidente sobre bens determinados em situações emergenciais, como retratado na questão acima, que envolve enchentes em um determinado município no interior do Brasil. Essa espécie de intervenção restritiva tem caráter auto-executório, decorrente do exercício do poder de polícia do Estado exercido com base nos princípios da supremacia do interesse público sobre o interesse privado e da indisponibilidade do interesse público, gerando direito a indenização apenas em caso de dano, o que não ficou demonstrado na situação apresentada. Sua base legal é o art. 5º, XXV, da CRFB. Espelho O examinando deve indicar que se trata do instituto da ocupação temporária de bens privados ou da requisição, tal como prevê o artigo 5º, XXV, da CRFB. A ocupação temporária de bens privados consiste no apossamento, mediante ato administrativo unilateral, de bem privado para uso temporário, em caso de iminente perigo público, com o dever de restituição no mais breve espaço de tempo e eventual pagamento de indenização pelos danos produzidos. Deve o examinando explicitar que se trata de instrumento de exceção e que exige a configuração de uma situação emergencial. E, mais, que a ocupação independe da concordância do particular e que se configura instituto temporário, a ser exercido por meio de ato administrativo. Distribuição dos pontos Item Pontuação www.cursocejus.com.br – josearas@ig.com.br – Twitter: @josearas – Facebook: ProfessorJoseAras 35 Identificação do instituto de direito público – ocupação temporária OU requisição 0 / 0,6 Explicitação do instituto (0,35) e do fundamento constitucional – art. 5º, XXV, da CRFB OU art. 1228, §3º, do CC (0,3) 0 / 0,3 / 0,35 / 0,65 13. Questões extra sobre o tema . Explique o que significa “direito de extensão” . Explique em que consiste a “desapropriação judicial” . Explique o que significa “operações urbanas consorciadas” . Conceitue, resumidamente, limitação administrativa, requisição, ocupação temporária e servidão administrativa. . Em que consiste a servidão administrativa imposta em razão do tombamento para os bens situados na sua área de entorno?
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