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Medidores Ultrassonico

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA 
PROGRAMA DE CURSOS DE EXTENSÃO 
 
PROMINP - PROGRAMA DE MOBILIZAÇÃO DA 
INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MEDIDORES 
ULTRA-SÔNICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO: ENGENHEIRO ELÉTRICO/INSTRUMENTAÇÃO 
DISCLIPLINA: MEDIDAS DE GRANDEZAS DINÂMICAS 
 
INSTRUTORA: Ms. KAREN L. GUILHERME PAULINO 
 
 
 
 
ALUNOS: GIOVANI PASETTI 
 JOÃO CARLOS CANDIDO DE JESUS 
 
 
 
 
AGOSTO 2007 
 
 
 
MEDIDORES ULTRA-SÔNICOS 
 
Medidores de vazão baseados na tecnologia de ultra-som foram desenvolvidos na 
segunda metade do século XX para fins industriais. O uso do ultra-som é 
relativamente antigo para inspeção não destrutiva, limpeza, localização e algumas 
outras aplicações. Para a medição de vazão, o ultra-som vem sendo aplicado desde 
os anos de 1960. Com um início dificultado por uma publicidade incorreta por parte de 
fabricantes inexperientes, a comercialização de bons medidores ultra-sônicos só se 
firmou 20 anos depois. 
 
Crescentemente esta técnica vem adquirindo grande importância na medição de 
vazão em industrias químicas e petroquímicas. Um dos motivos se deve ao fato de 
que a medição de vazão com ultra-som é feita sem a necessidade de qualquer 
obstrução mecânica do fluido. Desta forma, não há a criação de turbulência ou a perda 
de carga, causada pelos medidores de vazão como vortex, placas de orifício, turbina, 
entre outros. Além disso, possibilita a medição de vazão de fluidos altamente 
corrosivos, líquidos não condutores e líquidos viscosos. A Figura 1 ilustra um medidor 
ultra-sônico utilizado no meio industrial. 
 
 
Figura 1 – Medidor ultra-sônico intrusivo 
 
Assim como um feixe de luz, uma importante característica da onda de ultra-som, está 
no fato desta poder ser direcionada, estando também sujeita aos fenômenos de 
refração e reflexão. Superior a luz, o ultra-som se propaga em meios sólidos, líquidos 
e gasosos. Graças a estas características, que permitem a focalização e a penetração, 
os instrumentos ultra-sônicos podem medir a vazão de forma não intrusiva. Em outras 
palavras é possível medir a vazão amarrando os transdutores externamente a 
tubulação com uma cinta apropriada, como ilustra a Figura 2. Esta é uma 
característica única entre os medidores de vazão industriais. 
 
2
 
 
 
Figura 2 – Medidor ultra-sônico não intrusivo 
 
Além das vantagens já mencionadas, os medidores de vazão ultra-sônicos possuem 
ainda: 
 
• Precisão relativamente elevada (0,3% do fim de escala) 
• Maior extensão da faixa de medição com saída linear. 
• Apresentam garantia elevada, pois não possuem peças móveis em contato 
com o fluido, não estando sujeito ao desgaste mecânico. 
• Possibilita medição em tubos com diâmetros que vão de 1 a 60 polegadas. 
• A medição é essencialmente independente da temperatura, da densidade, da 
viscosidade e da pressão do fluido. 
 
Entre as desvantagens podemos citar: 
 
• Custo elevado na aplicação em tubos de pequenos diâmetros. 
 
O princípio de funcionamento do medidor de vazão ultra-sônico é fundamentado no 
princípio da propagação do som em um fluido. Desta forma, os pulsos sonoros são 
gerados e transmitidos no fluido por um transdutor piezoelétrico reversível, que 
transforma um sinal elétrico em uma freqüência de vibração mecânica e vice-versa. 
Quando um pulso ultra-sônico é dirigido a favor do fluxo, sua velocidade é adicionada 
à velocidade da corrente. Quando um pulso é dirigido contra o fluxo, sua velocidade é 
desacelerada pela velocidade da corrente. Baseado nessas informações é possível 
determinar a vazão de fluidos por ultra-som. 
 
Entre as muitas técnicas de medição de vazão por ultra-som, duas têm aplicações 
difundidas na instrumentação industrial: 
 
• O efeito Doppler 
• O tempo de trânsito 
 
Vejamos a seguir o princípio de funcionamento dos dois tipos de medidores 
mencionados. 
Medidores a efeito Doppler 
 
O efeito Doppler foi descoberto em 1842, sendo aplicado atualmente em sistemas de 
radares, sonares, estudos médicos e biológicos e na instrumentação industrial. A 
3
 
 
demonstração prática do efeito Doppler pode ser observada pela variação da 
percepção da freqüência de uma fonte sonora, devido ao afastamento ou a 
aproximação entre esta e o ponto de referência. 
 
Quando um transdutor (transmissor-receptor) emite uma onda sonora, parte deste 
sinal é refletido por um corpo referencial retornando para o transmissor-receptor. Se 
ambos estiverem imóveis, o sinal emitido e o sinal refletido, terão a mesma freqüência, 
como ilustra a Figura 3. Neste caso não ocorre o efeito Doppler. 
 
CORPO
f1f2
TRANSMISSOR
RECEPTOR
REFERENCIAL
Figura 3 – Exemplo de um sistema sem o efeito Doppler 
 
Por outro lado, se o corpo referencial se aproximar do transmissor-receptor, como 
ilustra a Figura 4, este irá interceptar e refletir antecipadamente as ondas emitidas. 
Estas ondas refletidas são captadas pelo próprio transmissor-receptor, porém com 
uma freqüência maior do que a emitida. Esta mudança de freqüência se deve ao efeito 
Doppler. 
 
Através da diferença da freqüência f2 (captada) e a freqüência f1 (emitida), é possível 
calcular a velocidade com que o receptor se aproxima do transmissor. Quanto maior 
for esta diferença, maior será a velocidade de aproximação. 
 
Este mesmo efeito também ocorre se o corpo referencial se distanciar do transmissor. 
No entanto, a freqüência captada será menor que a freqüência emitida. Desta forma, 
quanto maior o afastamento, maior será a diferença de freqüência, porém com sinal 
oposto à aproximação. 
 
4
 
 
RECEPTOR
TRANSMISSORREFERENCIAL
CORPO
 
 
 
f2f1
Figura 4 – Exemplo de um sistema com efeito Doppler 
 
Na aplicação industrial, o feixe ultra-sônico, transmitido e recepcionado por um 
elemento sensor, é orientado numa direção que forma um ângulo com o eixo da 
tubulação. Quando projetado, com uma freqüência constante, em um fluido não 
homogêneo, parte da energia acústica é refletida de volta para o elemento sensor, 
como ilustra a Figura 5. 
 
5
 
 
CORPO 
RECEPTOR
TRANSMISSOR
V
θ
ULTRA-SOM
REFLETOR
FLUXO
EMITIDO E
REFLETIDO
f1
f2
 
Figura 5 – Esquema de um medidor ultra-sônico a efeito Doppler 
 
Esta reflexão é causada por corpos refletores (partículas sólidas ou bolhas) que se 
deslocam à mesma velocidade que o fluxo, estando em movimento em relação ao 
elemento sensor. Esta freqüência do sinal refletido se difere do sinal transmitido de um 
certo desvio de freqüência, referido como desvio de freqüência Doppler. Este desvio 
de freqüência é diretamente proporcional à velocidade do fluido e conseqüentemente 
da vazão. A equação para o cálculo da velocidade pode ser observada na Equação 1. 
 
θcos..2
.
1f
Cf
V S
∆= Equação 1 
 
Onde: 
 
V é a velocidade média do fluido 
∆f é a diferença entre a freqüência transmitida e a recebida 
f1 é a freqüência de transmissão 
θ é o ângulo entre o transdutor e a tubulação 
CS é a velocidade do som no fluido 
 
Como a velocidade é uma função linear da diferença de freqüência, conhecendo-se o 
diâmetro interno da tubulação, é possível calcular a vazão volumétrica multiplicando-
se a velocidade pela área da seção transversal da tubulação. 
 
Em alguns casos, o transmissor e o receptor, presentes no elemento sensor, podem 
ser separados construtivamente com ilustra a Figura 6. O princípio de medição é o 
mesmo, com a diferença de que as freqüências transmitidas e recepcionadas serão 
emitidas e captadas, respectivamente, por elementos individualizados. 
 
6
 
 
FLUXOREFLETOR
ULTRA-SOM
θ
TRANSMISSOR
RECEPTOR
CORPO 
EMITIDO
REFLETIDO
ULTRA-SOM
f1
f2
V
 
Figura 6 – Esquema de um medidor ultra-sônico a efeitoDoppler (Transmissor e 
Receptor separados) 
 
O principio da medição por efeito Doppler é preferido quando se trata de fluidos com 
elevada concentração de impurezas. Isto porque, para que ocorra a reflexão do sinal, 
é necessária a presença de corpos refletores no fluido. A utilização deste método 
implica em uma concentração mínima de 5% dessas partículas ou bolhas dentro da 
corrente do fluido. Quando necessário, bolhas de ar podem ser criadas no fluido para 
fins de medição. É interessante ressaltar que alterações na concentração de partículas 
não exercem influência sobre o resultado da medição. 
 
Os equipamentos baseados nessa técnica não são adequados para medições que 
necessitam de muita precisão (variam de ± 2 a ± 5% da vazão medida), já que o feixe 
refletido depende da posição em que se encontra a concentração de partículas para a 
reflexão. Se as partículas estiverem perto do centro a velocidade é mais elevada e se 
estiverem próximas a parede da tubulação a velocidade é menor. 
 
Não há usualmente restrições para a vazão ou para os números de Reynolds1, exceto 
que a vazão deve ser suficientemente rápida para manter os sólidos em suspensão. 
 
Medidores por tempo de trânsito 
 
O medidor de vazão ultra-sônico por tempo de trânsito mede a vazão através da 
diferença de tempo de percurso de um feixe inclinado em relação às linhas de 
velocidade do fluxo. A medição baseia-se no fato de que a componente de velocidade 
do fluxo, irá se somar à velocidade do som se estiver a favor do fluxo, ou dela se 
subtrair se estiver contra o fluxo. Com a diferença de tempo de trânsito, na ida e na 
volta do feixe ultra-sônico, determina-se a velocidade do fluido, da qual infere-se a 
vazão volumétrica. 
 
Uma relação comparativa pode ser observada na travessia de um rio por um barco, 
como ilustra a Figura 7. No sentido da margem 1 para a margem 2, o barco conta com 
a velocidade imposta pelo motor, mais a velocidade resultante do fluxo do rio. No 
 
1 Número adimensional utilizado para determinar se o escoamento se processa em regime laminar ou 
turbulento. 
7
 
 
sentido oposto, o barco conta apenas com o motor, navegando contra a velocidade do 
rio. 
 
Velocidade do rio
Distância Longitudinal
Di
st
ân
cia
 tr
an
sv
er
sa
l
Margem 2
Margem 1
 
Figura 7 – Relação comparativa de medidor ultra-sônico e um rio 
 
Se não existisse correnteza o tempo para ir e voltar seria o mesmo. No entanto, devido 
ao fluxo do rio, o tempo entre as duas travessias é diferente. Desta forma, conclui-se 
que esta diferença de tempo é causada devido à velocidade de fluxo do rio. Assim, 
para se obter esta velocidade, basta conhecer o tempo de travessia na ida e na volta, 
e as distâncias longitudinal e transversal entre as duas margens do rio, como mostra a 
Equação 8. 
 
Nesta comparação o rio seria o meio de propagação do som, o barco seria o pulso de 
uma onda sonora e a velocidade imposta pelo motor seria a velocidade de propagação 
do som no meio. 
 
Analiticamente, o processo de medição pode ser explicado observando-se a Figura 8. 
 
FLUXO
ULTRA-SOM
α
VAB=CS+V.cosα
TRANSDUTOR B
VBA=CS-V.cosα
TRANSDUTOR A
V
L
d
 
Figura 8 – Esquema de um medidor ultra-sônico por tempo de trânsito. 
 
8
 
 
Considerando TAB o tempo que o ultra-som leva para percorrer a distância de A até B; 
TBA o tempo em sentido contrário; L a distância entre dois transdutores; d a distância 
entre as seções retas que passam pelos dois transdutores; V a velocidade média do 
fluido; VAB e VBA as velocidades médias do ultra-som no fluido ao longo do percurso L; 
θ o ângulo entre os transdutores e a tubulação; e CS a velocidade do som no meio. 
Têm-se assim as seguintes equações: 
 
αcos.VCV SAB += 
 
αcos.VCV SBA −= 
Equação 2 
 
Equação 3 
 
 
As Equações 2 e 3, podem ser reescritas em função de CS da seguinte forma: 
 
αcos.VVC ABS −= 
 
αcos.VVC BAS += 
Equação 4 
 
Equação 5 
 
 
Igualando as Equações 4 e 5, e isolando V, obtém-se: 
 
αcos.2
BAAB VVV −= Equação 6 
 
VBA
VAB
CS CS
V.cosα
V
V.
co
sα
V
VETOR VAB VETOR VBA
α
α
VETOR RESULTANTE V
VAB-VBA
VA
B-
VB
A=
2.
V.
co
sα
cosα2.V=
α
 
Figura 9 – Resultante vetorial da velocidade 
9
 
 
A Equação 6 expressa o módulo da resultante da velocidade do fluido (V) devido a 
soma vetorial das velocidades VAB, VBA e CS, como ilustra a Figura 9. Observa-se que 
o vetor CS se cancela na soma, provando que o cálculo da velocidade do fluido 
independe da velocidade do som no meio. Em outras palavras, a medição da 
velocidade independe do tipo de fluido que se está medindo. 
 
Sabendo-se que 
AB
AB T
LV = e que 
BA
BA T
LV = , a Equação 6 pode ser reescrita como: 
 
⎟⎟⎠
⎞
⎜⎜⎝
⎛ −=
BAAB TT
LV 11
cos.2 α Equação 7 
 
Considerando 
L
d=αcos conclui-se que: 
 
⎟⎟⎠
⎞
⎜⎜⎝
⎛ −=
BAAB TTd
LV 11
.2
2
 Equação 8 
 
Como L e d são conhecidos, é necessário apenas determinar o tempo de trânsito entre 
os transdutores. O primeiro passo para isso é a emissão de um sinal de ultra-som do 
transdutor A para o transdutor B e a conseqüente medição do tempo de passagem 
TAB. Assim que esse pulso é captado pelo transdutor B, ocorre a emissão de um sinal 
no sentido contrário, sendo então medido o tempo de passagem TBA. Desta forma, 
determina-se a velocidade do fluxo e conseqüentemente a vazão associada. 
 
Por sua maior precisão, esse tipo de medição é aconselhado quando o fluido não é 
uniformemente sujo ou quando é limpo. As precisões podem variar de ±0,3 a ±5% da 
vazão medida. 
 
Um dos fatores que interfere na precisão, está no fato da medição do tempo de 
trânsito ser executada no centro da tubulação. Neste ponto a velocidade do fluido é 
maior do que nas extremidades, próximas as paredes da tubulação. Para solucionar 
este problema, existem medidores multicorda, que apresentam diversos pares de 
transdutores dispostos em planos paralelos, como ilustra a Figura 10. Alguns 
medidores multicorda contam com até oito cordas, entretanto os mais comuns utilizam 
de duas a quatro cordas. 
 
 
Figura 10 – Medidor ultra-sônico de 3 cordas 
 
10
 
 
O medidor ultra-sônico por tempo de transito multicordas é o único instrumento de 
medição fiscal aprovado pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) capaz de medir 
tanto óleo como gás. Para este último, por ser um fluido compressível, a medição deve 
seguir as normas AGA 9 e ISO 12765. 
 
Os medidores por deslocamento positivo e por efeito Coriolis também são aprovados 
pela ANP, porém exclusivamente para óleo. Por outro lado, medidores com placa de 
orifício (AGA 3 e ISO 5167) e turbina (AGA 7 e ISO 9951) são aprovados 
exclusivamente para a medição de gás. Outros medidores como o magnético e o 
vortex, podem ser utilizados para medição fiscal desde que aprovados previamente. 
Referências Bibliográficas 
 
[1] Egídio Alberto Bega. Instrumentação Industrial. Editora Interciência, 2a 
edição, 2006. 
[2] Gerard J. Delmée. Manual de Medição de Vazão. Editora Edgard 
Blucher, 3a edição, 2003. 
[3] Gregory K. McMillan. Process / Industrial Instruments And Controls 
Handbook. Editora McGraw-Hill, 5a edição, 1999. 
[4] Maureen Aller. Measurement, Instrumentation, and Sensors Handbook 
CRCnetBASE 1999 CD-ROM. Editora CRC Press LLC, 1999 
[5] Walt Boyes. Instrumentation Reference Book. Butterworth Heinemann, 
Third Edition, 2003. 
[6] Omega Engineering. Flow & Level Measurement - Volume 4. 
http://www.omega.com. 
[7] Marco Antônio Ribeiro. Instrumentação. Tek Treinamento & 
Consultoria,12a edição, 2005. 
[8] Marco Antônio Ribeiro. Medição de Petróleo e Gás Natural. Tek 
Treinamento & Consultoria, 3a edição, 2003.[9] Ulisses Barcelos Viana. Instrumentação Básica II – Vazão, Temperatura 
e Analítica. Senai/CST, 1999. 
 
 
 
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http://www.portalinstrumentacao.xpg.com.br
 
 
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	Medidores por tempo de trânsito
	Referências Bibliográficas