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Saída para o Brasil são os acordos bilaterais
O Brasil não deveria perder tempo com um bloco que não é importante nem prioritário para o país. A opinião é do professor titular de Economia Internacional da UFRJ, Reinaldo Gonçalves, ao se referir à polêmica em torno da criação da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA. O economista também não poupou críticas ao Mercosul, classificado por ele como um projeto moribundo, um exército de Brancaleone.
Em entrevista ao Globo Online, Gonçalves sustenta que a saída mais vantajosa para o Brasil, em termos de comércio exterior, seriam os acordos bilaterais - específicos e que preservam os interesses brasileiros -, a exemplo do que fazem China, Índia, Rússia e, inclusive, Estados Unidos.
GLOBO ONLINE - A criação da ALCA é fundamental?
REINALDO GONÇALVES - Não. E também não é para o governo americano. O próprio Bush não parece muito interessado. Na origem, a ALCA foi uma idéia do pai, George Bush, e chamava-se Iniciativa das Américas. Depois, andou meio esquecida e foi retomada pelo Clinton. Os americanos tratam o assunto no gênero colar o selo, ou seja, se colar, colou.
GLOBO ONLINE - O Brasil tem interesse no bloco?
REINALDO GONÇALVES - No Brasil, os principais defensores são grupos do setor privado. O próprio governo, no início, mostrava-se dividido em relação à ALCA, que era apoiada pela Fazenda, Indústria e Comércio Exterior, e Agricultura. Depois, o governo passou a exigir melhores condições de acesso ao mercado de produtos agrícolas.
GLOBO ONLINE - Não aderir à ALCA - ou ser o último a aderir - seria prejudicial para o Brasil?
REINALDO GONÇALVES - Esse é um argumento muito usado pelos defensores do bloco, mas que não tem fundamento. Os americanos têm priorizado acordos bilaterais com países da América Central e do Sul e acho que essa deveria ser a estratégia do Brasil: abandonar esquemas plurilaterais ou multilaterais e partir para acordos bilaterais.
GLOBO ONLINE - Qual a vantagem desse tipo de acordo?
REINALDO GONÇALVES - A vantagem é que em vez de termos uma agenda prêt-a-porter, definida em grande medida pelos Estados Unidos e tendo como [denominador] omum a geléia geral latino-americana e caribenha, teremos acordos específicos que atendem aos interesses brasileiros. E essa é uma tendência: até o fim deste ano, mais de 300 acordos bilaterais deverão ser registrados junto à OMC.
GLOBO ONLINE - E como proceder em relação à União Européia?
REINALDO GONÇALVES - O ideal seria podermos fazer acordos, por exemplo, com a Alemanha e com a França, o que não é possível porque toda a parte comercial do bloco está centralizadada em Bruxelas. Mas um acordo com a União Européia é possível e viável.
GLOBO ONLINE - Via MERCOSUL?
REINALDO GONÇALVES - Não; um acordo bilateral Brasil-UE. Eu, particularmente, sou um crítico do Mercosul, que considero um projeto moribundo; um exército de Brancaleone. Foi idéia do Collor; poderia ser boa, mas não tem sustentabilidade. As economias de seus membros são distintas, assim uma agenda bilateral do Brasil com a Argentina obrigatoriamente será diferente de uma agenda com o Paraguai e com o Uruguai e com os Estados Unidos.
GLOBO ONLINE - ALCA e MERCOSUL seriam, então, inviáveis?
REINALDO GONÇALVES - Sem dúvida, mas minha crítica é mais abrangente; está focada na área comercial da política externa brasileira. Precisamos fazer o que fazem China, Índia, Rússia, Chile, que é avançar com acordos bilaterais. Aliás, acho que, em relação aos Estados Unidos, em vez de esperarmos passivamente uma proposta bilateral, deveríamos sair na frente e apresentar ativamente uma proposta, abandonando de vez a ALCA.
GLOBO ONLINE - Os defensores da ALCA alegam que o Brasil poderia sair do bloco, caso as condições não fosse favoráveis. Mas insistem que estar na ALCA seria importante. O senhor concorda?
REINALDO GONÇALVES - Esse é um argumento falacioso porque, na realidade, o acordo é protegido pelo direito internacional público. Então, seria preciso denunciar esse acordo, como em um contrato de aluguel de uma casa. Mas isso tem um custo; é cobrada uma multa altíssima. Em Economia, é o que se chama de custo de saída – sunk cost. E isso sem contar que a saída do bloco poderia provocar uma espécie de retaliação, com a acusação de que o país não cumpre acordos. Ou seja, em termos de relação custo-benefício, a ALCA definitivamente não é favorável para o Brasil.
Fonte
PIZARRO, Rui. Saída para o Brasil são os acordos bilaterais. [S.l.:s.n.].
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