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Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital Autor: Alexandre Vastella Aula 07 20 de Julho de 2020 Aula 08 - Política Internacional - A política externa norte-americana e as relações com o Brasil Introdução ao PDF ................................................................................................................................. 1 Política externa norte-americana e relações com o Brasil .......................................................... 2 Breve retomada sobre americanismo e universalismo .............................................................................. 2 Os 5 “A”s na relação entre Brasil e Estados Unidos ................................................................................... 3 Histórico das relações bilaterais Brasil – Estados Unidos ............................................................. 5 Paradigma americanista – Aliança (1902 – 1945) e Alinhamento (1945 – 1960) ........................................ 5 Paradigma universalista – Autonomia (1960 – 1989) .............................................................................. 13 Paradigma universalista – Ajustamento (1989 – 2002) ........................................................................... 19 Paradigma universalista – Afirmação (2003 – dias atuais) ....................................................................... 22 INTRODUÇÃO AO PDF Estamos inaugurando nesta aula um novo módulo do curso de Política Internacional, dessa vez, focando nas relações bilaterais do Brasil. Nas primeiras aulas, estudamos os principais conceitos e paradigmas teóricos das relações internacionais. Depois, passamos para a evolução da política externa brasileira desde a Era Vargas até o governo Temer, etapa que finalizamos na última aula. A partir deste momento, nas próximas dez aulas, vamos entender como as relações bilaterais do Brasil evoluíram envolvendo não só as relações comerciais, mas também, relações em diversas esferas. Vamos entender não apenas o lugar que o Brasil ocupa dentro do panorama global, mas a posição que o Brasil adota perante os seus principais parceiros. Segue abaixo, nossa programação com mais detalhes: Relações bilaterais do Brasil – Aulas 08 até 17 – Relação do Brasil com seus principais parceiros Aula 8 - A política externa norte-americana e relações com o Brasil (aula de hoje) Aula 9 - A União Europeia e o Brasil: as relações do Brasil com o bloco europeu e com seus principais membros Aula 10 - A política externa argentina: a Argentina e o Brasil. Aula 11 - O Brasil e seu entorno regional: América do Sul e as Américas Aula 12 - O Brasil e a América do Sul Aula 13 - Relações do Brasil com a África Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 Aula 14 - Relações do Brasil com o Oriente Médio Aula 15 - Relações do Brasil com a Ásia e o Indo-Pacífico Aula 16 - Relações do Brasil com os BRICS Aula 17 - Relações do Brasil com Portugal e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Perceba que este módulo envolve uma grande quantidade de conteúdo. Vamos analisar, ponto a ponto, as principais parcerias do Brasil com o mundo. E para isso, precisamos entender que as relações bilaterais podem ser verticais ou horizontais: Tipos de relação bilateral Relações verticais Relações norte-sul Relações do Brasil com países desenvolvidos Relações assimétricas Relações horizontais Relações sul-sul Relações do Brasil com países subdesenvolvidos e emergentes Relações simétricas Dentro dessa perspectiva, as relações do Brasil com Estados Unidos e União Europeia, por exemplo, podem ser consideradas verticais. Já as relações do Brasil com Argentina, Índia e Oriente Médio, podem ser consideradas horizontais. Na aula de hoje, iniciando nosso módulo, vamos estudar as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos. No primeiro capítulo, vamos entender os fundamentos teóricos da política externa norte-americana e suas relações com o Brasil. No segundo, estudaremos o histórico destas relações, focando nos principais aspectos desde o Império até os dias atuais. POLÍTICA EXTERNA NORTE-AMERICANA E RELAÇÕES COM O BRASIL Breve retomada sobre americanismo e universalismo Embora a natureza dessa relação tivesse variado com o tempo, os Estados Unidos sempre foram grandes parceiros do Brasil, havendo um longo e sólido histórico de parcerias entre ambos os países. Atualmente, depois da China, os Estados Unidos ocupam o segundo lugar das exportações brasileiras. No entanto, enquanto as relações com a China são pautadas pela exportação de commodities – soja, grãos, minério de ferro –; para os Estados Unidos, também há a exportação de produtos industrializados, bens qualificados que já passaram por um processo de transformação industrial. A relação com os Estados Unidos é tão importante que durante grande parte do século XX – mais especificamente entre 1902 e 1961 – o Brasil manteve relações especiais com os norte-americanos, no paradigma conhecido como americanismo – que pode ser pragmático ou ideológico. Com o passar do tempo, com a busca de novas parcerias, a política externa brasileira tornou-se universalista. Vamos relembrar rapidamente estes paradigmas: Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 Americanismo Universalismo – também chamado de globalismo - Relações especiais com os Estados Unidos - Relações assimétricas entre Brasil-EUA - Estados Unidos como o centro das energias diplomáticas e apoio para inserção internacional do Brasil - Diversificação de parcerias - Autonomia da política externa - Pragmatismo nas relações internacionais independentemente da lógica da Guerra Fria. Americanismo pragmático Americanismo ideológico - Alinhamento aos Estados Unidos por motivos pragmáticos visando resultados práticos. - Busca de interesses nacionais. - Alinhamento ideológico aos Estados Unidos, sem necessariamente ter resultados práticos. - Busca de valores norte-americanos. Vale lembrar que o americanismo foi estabelecido por Barão de Rio Branco (1902 – 1910) não porque ele gostava dos Estados Unidos, mas porque era a melhor alternativa diante do cálculo de custo- benefício. O Barão havia morado na Europa e, portanto, acompanhado de perto as políticas imperialistas praticadas pelas potências europeias. Acreditava que este tipo de imperialismo representaria grande risco para a autonomia brasileira e por isso, via no americanismo um instrumento eficiente para promover o interesse nacional brasileiro. Naquela conjuntura, era melhor se alinhar aos Estados Unidos do que ao imperialismo europeu. Portanto, esse americanismo pragmático era orientado a resultados práticos e não à ideologia norte-americana. Já o americanismo ideológico, praticado principalmente por Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951) defendia os valores norte-americanos; tais como o republicanismo, a liberdade, o modelo constitucional norte-americano, entre outros. Pelo americanismo ideológico, independentemente da conjuntura internacional, estes valores seriam bons para o Brasil. A maioria dos analistas, no entanto, argumenta que este alinhamento automático não trouxe – ou trouxe muito pouca – recompensa ao Brasil. Com o esgotamento do americanismo, a partir de 1961, o presidente Jânio Quadros (1961 – 1961) inaugurou a Política Externa Independente (PEI), promovendo o universalismo, ou o globalismo. Ao invés dos Estados Unidos serem um parceiro especial, seriam apenas mais um entre os muitos parceiros que o Brasil faria. Esta política foi continuada por João Goulart e sobreviveu mesmo no regime militar e na redemocratização. Porém, mesmo com a políticauniversalista, os Estados Unidos continuaram sendo um parceiro essencial ao Brasil. Os 5 “A”s na relação entre Brasil e Estados Unidos Para Mônica Hirst, as relações bilaterais Brasil-Estados Unidos são marcadas por cinco momentos distintos: aliança (1902 – 1945); alinhamento (1945 – 1960); autonomia (1961 – 1989); ajustamento (1989 – 2002); afirmação (2002 – dias atuais). Como todas as fases começam com a letra “A”, Hirst fala Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 em “cinco As” que dão uma ideia panorâmica estrutural dos diferentes momentos desta relação. Inclusive, estes momentos definirão os itens de nossa aula. Conforme o quadro abaixo: Os 5 “A”s na relação entre Brasil e Estados Unidos (Mônica Hirst) Aliança “de fato” de 1902 a 1945 Uma aliança pressupõe benefícios mútuos para ambas as partes, ou seja, uma estratégia conjunta boa para todos. Entusiasta da Doutrina Monroe, Barão de Rio Branco estabeleceu uma aliança com os Estados Unidos, de fato uma aliança. Em meio a um cenário internacional marcado pelo imperialismo europeu, era necessário afastar a influência da Europa nos rumos políticos e econômicos do Brasil. Além disso, ambos acreditavam que havia mais coisas em comum entre Estados Unidos e Brasil do que com os países europeus. Durante a Segunda Guerra Mundial, Brasil e Estados Unidos lutaram no mesmo front, corroborando a ideia de aliança “de fato”. Alinhamento de 1945 a 1960 Após a Segunda Guerra Mundial, houve a fase do alinhamento. Essa mudança ocorreu porque os Estados Unidos se estabeleceram como grande potência mundial. Embora Brasil tivesse saído da guerra com um grande prestígio internacional, os Estados Unidos não estavam muito interessados em alianças com a América – vide fracassos do americanismo ideológico de Dutra, das negociações do período democrático de Vargas e da Operação Pan Americana de Juscelino Kubitscheck. Ao contrário do período anterior, os Estados Unidos se estabelecem como líderes da ordem mundial e, portanto, as alianças com o Brasil passam a ser mais assimétricas do que antes. Não há mais uma “aliança”, mas sim, um mero “alinhamento”. Autonomia 1961 a 1989 Após o estabelecimento da Política Externa Independente, o americanismo deu lugar ao universalismo, inaugurando a fase de autonomia. O Brasil não seria mais “alinhado” aos Estados Unidos, mas sim, buscaria seus interesses nacionais independentemente da lógica da Guerra Fria. Ao invés do “alinhamento” com os norte-americanos, o Brasil adotou uma postura pragmática voltada a resultados: se aproximou da África, da Ásia, e até mesmo da China e da União Soviética. Ajustamento de 1989 a 2002 Com o final da Guerra Fria e o estabelecimento do Estado Neoliberal, houve a fase de ajustamento. Neste período, conforme vimos na aula passada, não havia opção: a única alternativa político-econômica era a defendida pelos Estados Unidos; ou seja, a democracia e abertura econômica. Com o “fim da história”, qualquer opção fora disso seria inviável. Devido aos condicionantes externos, o Brasil fez um ajustamento à nova ordem mundial: ao Consenso de Washington, ao neoliberalismo, à globalização, ao multilateralismo, etc. Afirmação de 2002 aos dias Com a falência do Estado Neoliberal e o nascimento do Estado Logístico, o Brasil passou a se afirmar como parceiro que teria condições de dialogar de igual para igual Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 atuais com os Estados Unidos. O Brasil não iria mais fazer um ajustamento às políticas econômicas norte-americanas, mas sim, se afirmar para os Estados Unidos como um país de interesses próprios, preservando, portanto, a sua autonomia. Nesta fase, há um amadurecimento das relações Brasil-Estados Unidos. Resumindo, na fase de aliança (1902 – 1945), Brasil e Estados Unidos realmente estabelecem uma aliança para barrar a influência da Europa na América e também porque acreditavam em cooperações mútuas, inclusive chegando a combater juntos na Segunda Guerra Mundial. Após o conflito, quando os Estados Unidos se consolidaram como maior potência global, passaram a negligenciar a América Latina e a buscar seus interesses em outros locais do mundo. O que era uma “aliança” mútua passou a ser um simples alinhamento (1945 – 1960). Com a Política Externa Independente e o universalismo iniciado por Jânio Quadros, o Brasil não teria mais os Estados Unidos como parceiro principal, mas sim, seria somente um dos muitos parceiros; neste caso, o “alinhamento” deu lugar para a autonomia (1960 – 1989). Posteriormente, com o final da Guerra Fria, a vitória do capitalismo e o avanço do neoliberalismo, houve um ajustamento (1989 – 2002) do Estado brasileiro às demandas de Washington. Por fim, tentando retomar sua independência, o Brasil iniciou a fase de afirmação (2002 – dias atuais). Não seguiria mais as diretrizes de Washington, mas sim, passaria a dialogar com os Estados Unidos de igual para igual. No capítulo abaixo, vamos aprofundar estes cinco momentos distintos fazendo um histórico das relações bilaterais Brasil – Estados Unidos. HISTÓRICO DAS RELAÇÕES BILATERAIS BRASIL – ESTADOS UNIDOS Paradigma americanista – Aliança (1902 – 1945) e Alinhamento (1945 – 1960) Neste item, vamos estudar os antecedentes das relações bilaterais Brasil-Estados Unidos, focando principalmente no Império - Primeiro Reinado e Segundo Reinado – e no início da República, quando se destacou o Barão do Rio Branco. Para tal, veremos uma sequência de quadros explicativos. Na tentativa de minimizar a influência europeia na América, Brasil e EUA costuraram ótimas relações no período imperial. Na foto, D. Pedro II em visita aos Estados Unidos no centenário da independência norte-americana, em 1876. Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 Pela Doutrina Monroe, a Europa deixaria de influenciar o Brasil, que na chancelaria de Rio Branco, se alinhou aos Estados Unidos. No entanto, as relações eram boas desde o Império. Aliança de fato (1902 – 1945) – Reconhecimento da independência brasileira – Conceito da Doutrina Monroe: "América para os americanos" – Primeiro Reinado e o período da Regência: sem espaço para o aprofundamento das relações bilaterais – Segundo Reinado: amadurecimento das relações – Ministro dos EUA para o Brasil: William Trousdale – Marcha para o oeste completada. – Foco em Cuba, Panamá e Amazônia – Trousdale sugere ocupação do espaço amazônico e a abertura de seus rios para o comércio internacional – Recusa do Brasil gera desconforto mas confirma política de autonomia. Reconhecimento da independência brasileira Naquele período, os norte-americanos pregavam a Doutrina Monroe, expressa na frase “América para os americanos”. É por isso que quando o Brasil se tornou independente (1922) os Estados Unidos imediatamente reconheceram o novo governo; pois viam com bons olhos a aproximação das nações americanas e, além disso, queriam manter o continente fora da influência europeia. Embora o Brasil tenha demorado para conquistar sua independência, o processo de emancipação ocorreu de forma pacífica, sem envolver guerras nem conflitos. A economia do país foi mantida e junto com ela, o próprio sistema imperial. Na prática, não houve grandes rupturas. Vale destacar que na maior parte dos países da América da Sul, a independência foi precedida por conflitos e sucedida por sistemas republicanos, ao contrário do Brasil, portanto. Conceito da Doutrina Monroe: "América para os americanos" Em mensagem enviada ao Congresso em 1823, o presidente dosEstados Unidos James Monroe (1817 – 1825) lançou a Doutrina Monroe, que é fundamental para compreendermos este momento. Em seu discurso, o Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 presidente defendia que a América deveria servir aos americanos e não à influência europeia. Isso explica, em partes, o bom relacionamento com o Brasil. Primeiro Reinado e o período da Regência: sem espaço para o aprofundamento das relações bilaterais Durante o Primeiro Reinado com D. Pedro I e mesmo após o Período Regencial, não houve muito espaço para as relações bilaterais com os norte-americanos. Embora os Estados Unidos tivessem em ascensão, ainda não tinham se afirmado como grande potência. Neste período, o Brasil estava sob forte influência dos países ibéricos (Portugal e Espanha) e não dos Estados Unidos. Posteriormente, o Brasil aprofundou os laços com a Inglaterra e ainda manteve o foco diplomático na Europa. Por causa dessa predileção – que teve origens históricas com a própria colonização do país – as relações com o Estados Unidos foram muito tímidas neste período. Segundo Reinado: amadurecimento das relações No Segundo Reinado de D. Pedro II a predileção do Brasil com a Europa começou a mudar. Foi nesse período que as relações Brasil-Estados Unidos começaram a se concretizar, embora o Brasil ainda olhasse muito para a Inglaterra – até então, o país europeu era um de seus principais parceiros. Neste período, os Estados Unidos ainda não tinham consolidado sua posição como grande potência, mas estavam mais poderosos que no Primeiro Reinado. Deste modo, era interessante tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos iniciarem uma aliança. Ministro dos EUA para o Brasil: William Trousdale Foi neste momento de construção de relações ocorreu a nomeação de William Trousdale como Ministro dos Estados Unidos para o Brasil, o equivale a embaixador. Trousdale era um herói de guerra, portanto, um homem de bastante prestígio na sociedade americana. Embora não tenha sido o primeiro a ocupar o cargo, Trousdale foi importante porque foi justamente na sua gestão que a relação bilateral Brasil-Estados Unidos começou a ser construída; e também por conta de alguns contenciosos na Amazônia que veremos a seguir. Marcha para o oeste completada. Neste período, os Estados Unidos haviam completado a Marcha para o Oeste. Isso significa que o território norte-americano havia se expandido das treze colônias originais, estabelecidas na Costa Leste, para as terras a oeste até chegar na Califórnia (Costa Oeste). Essa expansão é muito retratada em filmes de faroeste: houve conflitos com populações nativas e aquisições (nem sempre pacíficas) de territórios mexicanos e franceses. Com a marcha concretizada, os Estados Unidos focaram sua expansão em três territórios: Cuba, Panamá e Amazônia. Foco em Cuba, Panamá e Amazônia Cuba era estratégica por conta da proximidade com a Flórida. O Panamá, por conta do futuro canal a ser construído. Já a Amazônia, por conta dos recursos naturais e da necessidade de povoamento dos Estados Unidos. Foi aí que houve um desentendimento com o Brasil. William Trousdale tentou convencer o imperador D. Pedro II de que enviar colonos norte-americanos para habitar a Amazônia seria vantajoso para ambos os países. Afinal, tratava-se de um grande espaço Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 desabitado com grande potencial a ser explorado. Segundo Trousdale, a população dos Estados Unidos tinha total condições de fazê-lo. Em contrapartida, os Estados Unidos garantiriam que o território amazônico ficaria protegido dos europeus. D. Pedro II rejeitou a proposta afirmando que isso violaria a soberania do Brasil na Amazônia. Apesar da negativa, Trousdale continuou insistindo. Desta vez, o embaixador abrandou a proposta sugerindo que a floresta pelo menos deveria ter seus rios abertos para a navegação e o comércio internacional. Trousdale sugere ocupação do espaço amazônico e a abertura de seus rios para o comércio internacional Mesmo com a insistência de Trousdale, D. Pedro II resistiu novamente, gerando um atrito com os Estados Unidos. É preciso lembrar que neste período, os Estados Unidos haviam conquistado territórios mexicanos, territórios franceses e tentado conquistar territórios canadenses. Sendo assim, o Brasil tinha receio que os Estados Unidos também conquistassem a Amazônia. Primeiramente, o Brasil foi contra o estabelecimento de colonos norte-americanos na Amazônia e, em um segundo momento, também foi contra a abertura da floresta para a navegação internacional. Houve uma resistência dupla, portanto. O governo brasileiro sugeriu à Trousdale que ambos os países mantivessem apenas relações bilaterais, sem envolver a ocupação da floresta amazônica. Recusa do Brasil gera desconforto mas confirma política de autonomia Se a recusa do Brasil perante às propostas de Trousdale provocou desconforto nas relações Brasil-Estados Unidos, por outro, reafirmou a autonomia brasileira. Vale lembrar que neste período, o Brasil mantinha alianças de mútuo interesse com os norte-americanos. Não havia um alinhamento automático: se não interessasse ao Brasil, nada feito. Aliança de fato (1902 – 1945) – Império e República William Trousdale (imagem) propôs livre navegação no Amazonas, mas D. Pedro II manteve a soberania do Brasil. Apesar dos contenciosos (questão Webb e divergências na Amazônia), D. Pedro II (imagem) tinha ótima imagem com os Estados Unidos. Primeira bandeira da República Brasileira e bandeira dos Estados Unidos. Qualquer semelhança não é mera coincidência. – Trousdale insiste propondo livre navegação do – 1889: Conferência Pan-Americana de Washington. Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 Rio Amazonas. Gera mal-estar nas relações. Império do Brasil age pragmaticamente Com o golpe republicano, a postura do Brasil na conferência muda radicalmente, de autonomia para a aquiescência – Questão Webb (James Webb) – Modelo republicano brasileiro imita os EUA (bandeira, símbolos, etc.) – 1876: Viagem de D. Pedro II Aos EUA - Exposição Universal da Filadélfia – 1890: Reconhecimento da República pelos EUA – 1891: Acordo Blaine-Mendonça – 1888: Escolha dos EUA como árbitro para a disputa de Palmas – 1893: Apoio dos EUA ao Governo Floriano durante a Revolta da Armada Trousdale insiste propondo livre navegação do Rio Amazonas. Gera mal-estar nas relações. Império do Brasil age pragmaticamente O Brasil acreditava que não era vantajoso abrir unilateralmente seus rios para a navegação internacional. D. Pedro II defendia um modelo que ele pudesse negociar essa navegação com os demais países da região, com os demais interessados, portanto. As recusas de D. Pedro II geraram um mal-estar nas relações do Brasil-Estados Unidos. No entanto, não levaram a nenhum conflito. Em pouco tempo, o clima de cooperação foi retomado. 1869: Questão Webb (James Webb) Mais tarde, em 1869, houve um novo contencioso na relação Brasil-Estados Unidos, este um pouco mais grave: a Questão Webb, que foi protagonizada pelo representante James Webb, homem que ocupava o mesmo cargo de William Trousdale. Webb acusava o Brasil de ter roubado cargas norte-americanas em seu território e pedia indenizações pelo fato. Queria que o Brasil se responsabilizasse pelo ocorrido e ressarcisse os donos dessas cargas. Ao invés de atender às reivindicações, o Brasil convenceu Washington substituir seu representante e Webb foi levado de volta aos Estados Unidos. Portanto, esse momento foi de grande desgaste nas relações Brasil-EstadosUnidos. 1876: Viagem de D. Pedro II Aos EUA - Exposição Universal da Filadélfia Em 1876, D. Pedro II viajou aos Estados Unidos para participar da Exposição Universal da Filadélfia. Na ocasião, o imperador causou uma impressão muito positiva para os estrangeiros. Foi considerada uma pessoa inteligente, educada e capaz de conversar sobre qualquer assunto: ciência, filosofia, invenções, etc. D. Pedro II também foi elogiado por ter uma postura simples, diferentemente dos reis e imperadores europeus, o que lhe garantiu mais pontos. Por meio dessa viagem, o Brasil ampliou seu soft-power, ampliando a visão positiva que os Estados Unidos tinham do Brasil. O imperador também fez amizades ilustres, como por exemplo, com Graham, Bell, inventor do telefone. Em decorrência disso, houve a instalação do primeiro aparelho telefônico no Brasil. Essas amizades ocorriam porque D. Pedro II tinha um vasto conhecimento enciclopédico e sabia dialogar Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 com várias áreas do conhecimento. 1888: Escolha dos EUA como árbitro para a disputa de Palmas Entre 1890 e 1895, ocorreu a Questão de Palmas, uma disputa territorial envolvendo parte do atual estado de Santa Catarina, mais especificamente a região de Chapecó. Na ocasião, a Argentina reivindicava esta área que segundo o Tratado de Madri, era do Brasil, gerando um contencioso entre ambos os países. Para resolver a situação, o Brasil escolheu os Estados Unidos como árbitro e o Barão de Rio Branco foi para Washington apresentar documentos e argumentos que pudessem sustentar a posição brasileira. Este fato reforça o que já comentamos: a importância de ter boas relações com os Estados Unidos. Não por acaso, o Brasil venceu a disputa e a área continuou sendo território brasileiro. 1889: Conferência Pan-Americana de Washington. Com o golpe republicano, a postura do Brasil na conferência muda radicalmente, de autonomia para a aquiescência As Conferências Pan-Americanas de Washington foram reuniões que ocorreram entre 1889 e 1954 com o objetivo de discutir o pan-americanismo e a união do continente. Mais tarde, foram substituídas pela OEA. Porém, neste momento, não é importante compreender a natureza desses eventos, mas sim, entender a mudança de postura do Brasil na transição do regime imperial para o republicano durante a conferência de 1889. No primeiro momento, representado pelo Conselheiro Lafayette Rodrigues, o Império brasileiro olhava para a conferência com bastante cautela. A ideia era preservar a autonomia do Brasil perante as propostas dos Estados Unidos. Havia, inclusive, a proposição de alternativas para que a houvesse certa simetria nas relações bilaterais. No segundo momento, representado pelo republicano Salvador de Mendonça, a República brasileira olhava para a conferência com uma visão mais aquiescente aos Estados Unidos. Isso significa que enquanto o Império tentava preservar a autonomia do Brasil, a República acatava com mais facilidade as decisões dos Estados Unidos. Tinha, portanto, uma visão mais passiva diante das demandas de Washington. Devemos lembrar que havia uma grande conexão ideológica entre os republicanos brasileiros e norte-americanos, o que favoreceu essa mudança de postura. Modelo republicano brasileiro imita os EUA (bandeira, símbolos, etc.) A conexão ideológica entre os republicanos dos dois países pode ser vista nos próprios símbolos da República brasileira, abertamente copiados dos Estados Unidos. A própria bandeira brasileira – que era diferente da atual – era bem parecida com a bandeira norte-americana. Além disso, a República brasileira também tentou criar heróis nacionais, algo parecido com os founding fathers americanos; tentando, portanto, aproximar o máximo possível os dois países. 1890: Reconhecimento da República pelos EUA Ao contrário do que ocorrera no reconhecimento da independência, os Estados Unidos demoram a reconhecer a Proclamação da República, o que ocorreu só no ano seguinte, em 1890. Essa demora ocorreu por conta de dois fatos: primeiramente, os Estados Unidos tinham ótimas relações com D. Pedro II. Tinham-no como homem de bem, inteligente e capacitado. Em segundo lugar, como a República havia sido fruto de um golpe, os Estados Unidos temiam que o Brasil se tornasse uma ditadura militar, o que não é Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 nada republicano. Apesar desse choque inicial, foi na República que a relação Brasil-Estados Unidos se aprofundou, também por conta do americanismo pragmático de Barão de Rio Branco. Neste período, inclusive, foi firmado o Acordo Blaine Mendonça (1891), que veremos a seguir. 1891: Acordo Blaine-Mendonça O Acordo Blaine-Mendonça (1891) tentou estabelecer uma série de vantagens comerciais recíprocas entre Estados Unidos e Brasil. O Brasil, na condição de grande produtor de açúcar, couro e tabaco, mas principalmente café (seu carro-chefe); inundaria o mercado norte-americano com estes produtos. Todavia, pouco tempo depois, os Estados Unidos deram as mesmas vantagens às Antilhas, os principais concorrentes do Brasil, sobretudo na produção de açúcar. Por causa disso, o Acordo Blaine-Mendonça não surtiu os efeitos esperados pelo Brasil. 1893: Apoio dos EUA ao Governo Floriano durante a Revolta da Armada Em 1893, o Governo Floriano Peixoto (1891 – 1894) sofreu uma tentativa de contra-golpe, uma insurgência por parte da armada da Marinha Imperial Brasileira, o que ficou conhecido como Revolta da Armada. Ao contrário do exército, que era simpático à República; a marinha era simpática à monarquia – ainda que algumas figuras não fossem. A marinha era formada por pessoas próximas à corte portuguesa, inclusive e, portanto, nutriam grande sentimento monárquico. Diante da confusão, os Estados Unidos apoiaram o governo Floriano e a ordem foi reestabelecida, mantendo a República até os dias atuais. A Região de Palmas abrange parte dos territórios de Santa Catarina e Paraná. Área foi reivindicada pela Argentina e arbitrada a favor do Brasil pelo presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland. Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 Barão de Rio Branco (acima) e Grover Cleveland (abaixo): Estados Unidos decidiram a favor do Brasil na Questão de Palmas, derrotando os anseios da Argentina. Aliança de fato (1902 – 1945) 1895: Decisão do Presidente Grover Cleveland a favor do Brasil na Questão de Palmas – Barão do Rio Branco: "Americanismo Pragmático" – Barão de Rio Branco: "Diplomacia de Prestígio" – Barão de Rio Branco: "Aliança não escrita" (unwritten alliance), de Bradford Burns – Visita do Secretário de Estado norte-americano Elihu Root, ao Brasil. Primeira viagem de um chanceler dos EUA ao exterior (RJ, 1906) – Pragmatismo do Barão: relações bilaterais com os EUA deveriam ser de mútuo interesse, com a obtenção de benefícios para ambos os países e não uma submissão. 1895: Decisão do Presidente Grover Cleveland a favor do Brasil na Questão de Palmas 1895: Decisão do Presidente Grover Cleveland a favor do Brasil na Questão de Palmas Conforme já mencionamos, o Brasil foi favorecido na Questão de Palmas, disputa territorial travada entre Brasil e Argentina por parte do estado de Santa Catarina. Na condição de árbitro, os Estados Unidos de Grover Cleveland (1885–1889 e 1893–1897) mantiveram o território com o Brasil. Barão do Rio Branco: "Americanismo Pragmático", "Diplomacia de Prestígio" e "Aliança não escrita” Neste período, Barão de Rio Branco (1902 – 1912) se tornou chanceler e promoveu grandes mudanças na políticaexterna brasileira. Veremos as três principais: I – Americanismo Pragmático Rio Branco defendia o americanismo pragmático. Isso significa que o Brasil se alinharia aos Estados Unidos; não por motivos ideológicos, mas sim, por conta de vantagens pragmáticas segundo o cálculo de custo- benefício. Entusiasta da Doutrina Monroe, o chanceler brasileiro não queria que a Europa tivesse influência no Brasil. Era necessário, portanto, resguardar o espaço das Américas. II – Diplomacia do Prestígio Complementando o americanismo pragmático, Rio Branco trabalhou para ampliar a visão positiva que os Estados Unidos possuíam do Brasil, o que ficou conhecido como diplomacia de prestígio. ] III – Aliança não escrita (unwriten alliance) Como o Brasil tinha grande prestígio junto aos EUA, a partir de um determinado momento, os acordos Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 passaram a ser firmados apenas com a palavra, sem nada escrito; demonstrando a confiança mútua entre as duas nações. Isso ficou conhecido como “aliança não escrita”; ou, nas palavras de Bradford Burns, “unwriten aliance”. Visita do Secretário de Estado norte-americano Elihu Root, ao Brasil. Primeira viagem de um chanceler dos EUA ao exterior (RJ, 1906) Em 1906, houve a visita do Secretário de Estado norte-americano Elihu Root ao Brasil. Esse evento foi particularmente importante porque foi primeira vez que um chanceler dos Estados Unidos viajou ao exterior; notem a importância que o Brasil tinha para os norte-americanos. Pragmatismo do Barão: relações bilaterais com os EUA deveriam ser de mútuo interesse, com a obtenção de benefícios para ambos os países e não uma submissão. Esse é um dos itens mais importantes dessa aula. Conforme apontou Mônica Hirst, neste período houve de fato, uma aliança verdadeira entre Estados Unidos e Brasil, pois ambos estavam buscando efetivamente seus interesses. O Brasil conseguia manter sua autonomia e seu pragmatismo. Um dos pontos mais importantes dessa aliança foi na Segunda Guerra Mundial, após o Brasil enviar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar ao lado dos norte-americanos. Com o final do conflito, o Brasil obteve grande prestígio internacional, inclusive sendo cotado pelos Estados Unidos para compor um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – ideia que encontrou oposição dos demais países. A partir de 1945, o abandono relativo dos Estados Unidos provocou uma série de frustrações no Brasil; contexto que culminaria no surgimento da Política Externa Independente e no consequente abandono ao americanismo. Entre 1902 e 1960, durante muito tempo, o Brasil manteve a estratégia do americanismo pragmático traçada por Rio Branco. Não por acaso, Barão do Rio Branco é considerado o patrono da diplomacia brasileira. É verdade que o Brasil sempre se relacionou com os Estados Unidos, mas foi durante a chancelaria de Rio Branco que essa relação amadureceu, solidificando o paradigma americanista. Paradigma universalista – Autonomia (1960 – 1989) Após a Segunda Guerra Mundial, a configuração do mundo mudou. Os Estados Unidos se consolidaram como grande potência e por conta da Guerra Fria, deixaram a América Latina de lado e passaram a lutar onde o risco do comunismo era mais latente, como por exemplo, no Vietnã e na Coreia do Norte. Por conta desse esquecimento, os governos posteriores encontraram pouco resultado no americanismo. Logo após a Segunda Guerra, Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951) promoveu o americanismo ideológico, promovendo um alinhamento sem recompensas com os Estados Unidos, encontrando poucos resultados práticos. Seu sucessor, Getúlio Vargas (1951 – 1954) – que já governava em seu mandato democrático – tentou aumentar o poder de barganha do Brasil promovendo o nacionalismo e o protecionismo, repetindo o poder de negociação que tinha durante a Segunda Guerra. A ideia era convencer os Estados Unidos a injetarem dinheiro no Brasil em troca da abertura do mercado, no entanto, também não funcionou. A última tentativa de aproximação veio como Juscelino Kubitscheck (1955 – 1960) que promoveu a Operação Pan Americana (OPA), uma proposta de Plano Marshall para a América Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 Latina copiada de Dutra. Como todas essas tentativas fracassaram, o americanismo se esgotou, tanto a vertente pragmática quanto a ideológica. Com o abandono dos Estados Unidos, o Brasil precisava de novos parceiros, precisava de uma Política Externa Independente dos norte-americanos, o que veio com o governo de Jânio Quadros (1961 – 1961) e se aprofundou no governo de João Goulart (1961 – 1964). A partir de 1961, após uma série de frustrações com o americanismo, o Brasil passou a ter autonomia para buscar outros parceiros além dos Estados Unidos. Na foto, presidente Figueiredo encontra Deng Xiaoping, líder da China comunista. Segundo Mônica Hirst, foi nesse período que a relação Brasil-Estados Unidos entrou na fase de autonomia (1961 – 1989) que durou até o neoliberalismo dos anos 1990, passando inclusive, pelo período militar. Com a política externa independente, o Brasil não deixou de negociar com os Estados Unidos, mas os norte-americanos deixaram de ser prioritários. Seguindo a lógica norte-sul – e não a lógica leste- oeste da Guerra Fria – o Brasil procurou parceiros no Leste Europeu, na África, na Ásia e em diversas partes do mundo, inclusive na China e na União Soviética. Manteve, portanto, autonomia em relação aos Estados Unidos e à Guerra Fria. Governos Castello Branco (1964 – 1967) & Lyndon Johnson (1963 – 1969) - Ênfase à segurança: "Círculos concêntricos Ocidentais" e "Passo fora da cadência" - Retorno do alinhamento sem recompensas - Favorecimento do capital estrangeiro - Participação efetiva de contingentes brasileiros na República Dominicana - Rompimento com Cuba em maio/1964 - Roberto Campos (Min. Planejamento) e Otávio Bulhões (Min. da Fazenda) - Vasco Leitão da Cunha (MRE) e Juraci Magalhães (MRE) Após o início do golpe militar, o Governo Castello Branco (1964 – 1967) foi prontamente reconhecido por Washington. Brasil voltou a se preocupar com a lógica da Guerra Fria e a segurança se tornou prioridade do novo governo sob a teoria dos círculos concêntricos. Devido a tensão do período, Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 houve uma pausa na política externa independente, mas mesmo assim, sob o “universalismo inevitável”. Isso significa que nem mesmo as intenções de Castello Branco frearam totalmente a autonomia recém-conquistada do Brasil. Mesmo com Castello querendo se alinhar aos Estados Unidos, o universalismo era inevitável. De um lado, há o alinhamento sem recompensas, de outro, permanece a lógica da autonomia. O Brasil voltou para a lógica da Guerra Fria se definindo como país ocidental, capitalista e pró- EUA. Houve, inclusive, o rompimento com Cuba e o envio de 1.100 homens para lutar contra o comunismo na República Dominicana. Houve o favorecimento do capital estrangeiro, criando condições macroeconômicas e microeconômicas mais favoráveis à atração de investimentos do exterior. Isso ocorre sobretudo por conta das reformas feitas pelo Otávio Bulhões (Ministro da Fazenda) e pelo Roberto Campos (Ministro do Planejamento). Os Ministros das Relações Exteriores eram Vasco Leitão da Cunha e Juracy Magalhães, os responsáveis por estas transformações na política externa do início do período militar. Neste período, Castello Branco procurou fazer uma “correção de rumos” na política externa, voltando ao americanismo tradicional. No entanto, conforme apontao professor Amado Cervo, na verdade houve um “passo fora da cadência”. Isso porque Castello não estava “corrigindo os rumos”, mas sim, dando um passo fora da já estabelecida tendência de universalismo. Ele não estava “corrigindo”, mas sim, dando um “passo fora”. Quem “corrigiu” o Brasil, guinando a política externa novamente ao universalismo, foi seu sucessor Costa e Silva (1967 – 1969) Governos Costa e Silva (1967 – 1969) & Lyndon Johnson (1963 – 1969) - “Diplomacia da prosperidade” (Brasil) - Retorno dos princípios da Política Externa Independente (PEI) - Recusa em assinar o TNP - Araújo Castro: "congelamento de poder mundial". - Aproximação com o Terceiro Mundo; liderança na II UNCTAD (1968) - Desenvolvimentismo: Delfim Netto como ministro - Rivalidade emergente – Brasil emergindo como potência Com o Governo Costa e Silva (1967 – 1969) ocorreu a verdadeira correção de rumos e a retomada da Política Externa Independente. Ainda pensando em Mônica Hirst, o novo governo manteve sua autonomia em relação aos Estados Unidos. Denunciando o “congelamento de poder mundial” (nas palavras do chanceler Araújo Castro), o Brasil se recusou a assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (1968). Também se aproximou do Terceiro Mundo e, junto com a Índia, liderou os países subdesenvolvidos na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) (1968). Reafirmou, portanto, sua política de autonomia em relação aos Estados Unidos. Ao contrário de Castello Branco que promoveu a abertura econômica ao capital estrangeiro, Costa e Silva – por meio do Ministro da Fazenda Delfim Netto – retomou o nacional-desenvolvimentismo; o intervencionismo econômico, portanto. Nas palavras do professor Paulo Augusto Vicentini, houve uma Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 rivalidade emergente com os Estados Unidos. Devido às pretensões do Brasil de ascender como grande potência – tendência aprofundada no governo Médici – os Estados Unidos passaram a desconfiar do Brasil. Essa rivalidade foi ainda mais acirrada devido a diferentes posições sobre comércio no âmbito do GATT, no qual Brasil e Estados Unidos divergiam sobre o nível de protecionismo que determinados produtos deveriam ter. Para complicar ainda mais, no Governo Médici (1969 – 1974) houve a ampliação do mar territorial do Brasil de 12 para 200 milhas, postura que gerou polêmica com o norte-americanos. Governos Médici (1969 – 1974) & Richard Nixon (1969 – 1974) - Crescimento exponencial na economia brasileira (milagre brasileiro) - Projeto Brasil-potência - Procuram-se relações satisfatórias com os EUA - Brasil apoia golpes militares na América do Sul: Pinochet (Chile), Bordaberry (Uruguai), Banzer (Bolívia); é bem visto pelos EUA. - Polêmica com os norte-americanos em relação ao mar territorial brasileiro aumentado de 12 para 200 milhas. No Governo Médici (1969 – 1974), o Brasil entrou definitivamente no milagre econômico, período de expressivo crescimento da indústria e do PIB; uma época de bastante otimismo, principalmente para a classe média emergente. Foi nesse contexto que Médici ambicionou o Projeto Brasil-Potência. Nesse contexto, o Brasil já não era mais um mero país subdesenvolvido, mas sim, uma potência em ascensão. Apesar dos inúmeros atritos, o Brasil procurou manter relações satisfatórias com os Estados Unidos; inclusive, houve alguns pontos de convergência, como por exemplo, o apoio a golpes militares na América do Sul. Como ambos os países queriam manter o comunismo afastado do continente, passaram a apoiar intervenções militares. Tratava-se, portanto, de uma questão de segurança nacional. No que diz respeito aos contenciosos, é importante destacar que o Brasil não estava indo contra os norte- americanos, mas somente mantendo sua autonomia. Após Médici, o Governo Geisel (1974 – 1979) implantou o Pragmatismo Responsável e Ecumênico, dando maior autonomia à política externa independente. Essa ampliação de autonomia pode ser exemplificada de várias formas. Neste período, por exemplo, o Brasil reconheceu o governo marxista do MPLA em Angola. Também apoiou o voto antissionista na ONU e instalou um escritório da OLP em Brasília, demonstrando clara aproximação ao mundo árabe; uma atitude necessária após a Crise do Petróleo. Do mesmo modo, afirmou Acordo Nuclear com a Alemanha (1975) e rompeu o acordo militar que tinha com os Estados Unidos desde 1952. Esse rompimento ocorreu em retaliação às críticas do governo Carter com a política de direitos humanos (ou falta de direitos humanos) praticada pelo governo militar brasileiro. Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 Governos Geisel (1974 – 1979) & Gerald Ford (1974 – 1977) – Jimmy Carter (1977 – 1981) - “Pragmatismo Responsável e Ecumênico" – maior autonomia - Reconhecimento do MPLA, governo marxista, em Angola - Aproximação ao movimento palestino (OLP) - Brasil apoia o voto anti-sionista na ONU - Acordo nuclear com a Alemanha (1975) - Pressões do governo Carter em relação aos direitos humanos - Rompimento do acordo militar de 1952, em 1977 Neste período, portanto, houve a consolidação definitiva da autonomia brasileira. Se na Política Externa Independente, a independência ficava apenas em nível retórico, com Geisel a PEI ganhou resultados práticos e definitivamente, saiu do papel. Importante ressaltar que para além das vontades de Geisel, essa autonomia foi facilitada pelo relaxamento da Guerra Fria ocorrido nos anos 1970, o que possibilitou maior margem de manobra do Brasil em busca de seus interesses. Governos Figueiredo (1979 – 1985) & Reagan (1981 – 1989) - "Universalismo" - O governo brasileiro rejeita o boicote às Olimpíadas de Moscou - Rejeita o embargo econômico à URSS imposto pelos EUA - Critica a intervenção norte-americana no Granada, em 1983 - Vale notar que era um período de grande tensão na Guerra Fria No Governo Figueiredo (1979 – 1985) o momento era bem diferente do milagre brasileiro. Ao invés de crescimento do PIB, o Brasil enfrentava uma grave crise econômica, principalmente por conta da incapacidade de lidar com a dívida externa e a inflação. No entanto, mesmo com o cenário ruim, Figueiredo conseguiu manter a independência e a autonomia do Brasil. Não por acaso, sua política externa foi chamada de “Universalismo”. Nesta época, os Estados Unidos intervieram em Granada, boicotaram as Olimpíadas de Moscou e promoveram um embargo econômico à União Soviética. O Brasil, que nesta época tinha acordos comerciais e científicos com os soviéticos, criticou abertamente essas três medidas norte-americanas. O Brasil, inclusive, se aproximou mais ainda da União Soviética, aumentando o fluxo comercial entre os dois países. Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 Apesar das dificuldades internas, a política externa de Figueiredo costuma ser elogiada pelos analistas. Isso porque ele conseguiu manter a política externa independente mesmo em momentos de crise. Vale ressaltar que nos anos 1980, o mundo estava passando por uma fase de grande tensão na Guerra Fria. Sendo assim, a aproximação com a União Soviética poderia ser arriscada. Mesmo assim, o Brasil manteve sua independência, postura mantida na redemocratização. Governos José Sarney & Ronald Reagan (1983 – 1989) - Encapsulamento de crises - Crises no comércio: patentes de medicamentos e lei de informática - Crítica à intervenção no Panamá - Brasil reata com Cuba e defende readmissão do país à OEA - Renovação de credenciais: avanços em direitos humanos, meio ambiente, não-proliferaçãonuclear e demais temas sensíveis. - Paulo Vizentini - desdramatização da agenda - Moratória da dívida externa (1989) Já no período democrático, o Governo Sarney (1985 – 1989) foi marcado pelo aprofundamento da crise econômica interna. Sarney, inclusive, decretou moratória da dívida, mas depois, em 1989, concordou em retomar as negociações. A crise era aprofundada pelo governo de Ronald Reagan, que ao fomentar investimentos nos Estados Unidos, provocou indiretamente a fuga de capitais do Brasil. No âmbito externo, o Brasil manteve sua independência com os Estados Unidos. Fez duras críticas, por exemplo, à intervenção norte-americana no Panamá e também reatou com Cuba, inimigo histórico dos Estados Unidos, defendendo sua readmissão à OEA. Além disso, houve problemas com a Lei da informática e com a patente de medicamentos norte-americanos. Nestes casos, o Brasil foi colocado em investigação por não praticar o livre comércio de forma justa e não respeitar as patentes dos Estados Unidos. Se durante o período Costa e Silva houve uma rivalidade emergente entre Brasil e Estados Unidos; neste período, houve a desdramatização da agenda – ambos os termos cunhados pelo professor Paulo Augusto Vicentini. Neste caso, “desdramatizar” significa basicamente reduzir conflitos. Vale lembrar que no governo Sarney, o Brasil estava preocupado em renovar suas credenciais no exterior e por isso, passou a se preocupar com direitos humanos, meio ambiente, democracia, desarmamento e outras questões caras à discussão internacional. É preciso entender que os norte-americanos tinham grande influência nesse período. Portanto, renovar as credenciais era estratégico para melhorar o relacionamento Brasil- Estados Unidos. Na década de 1980, após um período de relativa tranquilidade vivido nos anos 1970, a Guerra Fria voltou a um novo pico de tensão. Como Ronald Reagan havia se elegido com a promessa de acabar com a Guerra Fria, adotou uma série de medidas para derrotar a União Soviética. Medidas que obtiveram êxito levando à queda do Muro de Berlim (1989), ao Consenso de Washington (1989) e à falência da União Soviética (1991). Estes fatos inauguraram uma nova ordem mundial e alteraram o tom das relações Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 bilaterais Brasil-Estados Unidos da autonomia para o ajustamento – ainda pensando na periodização de Mônica Hirst. Na fase de ajustamento (1989 – 2002), ocorreu o que Amado Cervo chama de Estado Neoliberal ou Estado Normal. Nesta época, o Brasil precisou se ajustar para manter sua indústria e seu comércio competitivos em escala global. Era necessário, portanto, ajustar o país às novas demandas externas como o receituário do Consenso de Washington e a globalização. No entanto, é importante ressaltar que esse ajustamento não ocorreu em decorrência de alinhamento aos Estados Unidos, mas sim, pela própria necessidade do Brasil se ajustar ao cenário internacional. Simplesmente, mesmo que as relações Brasil-Estados Unidos não fossem boas, em um novo mundo globalizado, o Brasil não poderia se dar o luxo de ficar isolado. De qualquer jeito, precisaria sobreviver e ficar competitivo na nova ordem mundial. Portanto, é errado dizer que as medidas econômicas de Collor, Itamar e FHC se deram por conta de alinhamento com os Estados Unidos. Tomem cuidado com isso: não houve alinhamento, mas sim, ajustamento! Paradigma universalista – Ajustamento (1989 – 2002) Na década de 1990, ocorreu o que Amado Cervo chamou de “dança de paradigmas”. Logo no Governo Collor (1990 – 1992) houve a queda do Estado Desenvolvimentista e a chegada do Estado Neoliberal. No entanto, pouco tempo depois, no final do governo FHC, houve a queda do Estado Neoliberal e o fortalecimento do Estado Logístico, modelo que perdura até hoje. É preciso relembrar que foi uma década bastante movimentada, iniciando pelo fim da Guerra Fria e terminando com a falência do neoliberalismo. Nesse período, conforme já comentamos, as relações bilaterais Brasil-Estados Unidos saíram da fase de autonomia (1961 – 1989) para ajustamento (1989 – 2002).~ Governos Collor (1990 – 1992) & George H.W. Bush (1989 – 1993) – Dança de Paradigmas – Adesão aos regimes de direitos humanos e meio ambiente – Autonomia pela participação – 1990 -1992: "Abertura Comercial Unilateral" – Fechamento do local de testes nucleares na Serra do Cachimbo – "Encapsulamento de crises" Do ponto de vista interno, o Governo Collor ainda estava preocupado com problemas econômicos – tais como inflação e dívida; ou seja, com o encapsulamento de crises que se arrastava desde o governo Figueiredo. Uma das soluções propostas para melhorar a situação do país foi a abertura comercial unilateral, marcada principalmente pela redução drástica das tarifas de importação. Dando prosseguimento à estratégia de renovação de credenciais, o Governo Collor foi marcado pela adesão aos regimes de direitos humanos, meio ambiente e desarmamento e não proliferação. Se no governo militar, a autonomia brasileira se dava por certo isolamento no cenário internacional; na Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 redemocratização, a autonomia passou a ocorrer pela participação. Isso significa que, neste novo cenário, quanto mais participativo o Brasil fosse em regimes internacionais e fóruns multilaterais, maior seria sua autonomia. Na esteira desses acontecimentos, o Brasil abandonou sua bandeira terceiro- mundista: o sistema internacional, para a diplomacia brasileira, não seria mais compartimentado entre leste-oeste ou norte-sul, mas sim, algo coeso submetido às regras da globalização. No contexto externo, o Brasil havia renunciado ao projeto de Brasil-Potência, bem como ao seu programa nuclear. Para provar seu apoio ao desarmamento, o governo fechou o local de testes nucleares na Serra do Cachimbo. No governo posterior, de Itamar Franco, o Brasil também ratificou Tratado para a Proibição de Armas Nucleares na América Latina e o Caribe, popularmente conhecido como Tratado de Tlatelolco (texto de 1967 e ratificação brasileira em 1994). Vale relembrar que o Brasil não tomou essas decisões por alinhamento ideológico ao capitalismo norte-americano, mas sim porque naquele contexto, o multilateralismo e a abertura econômica eram as únicas formas de tornar o país competitivo e, portanto, inseri-lo na diplomacia internacional e nas cadeias globais de produção. Não havia um alinhamento Brasil-Estados Unidos, mas sim, uma coincidente convergência de interesses. Governos Itamar Franco (1992 – 1994) & George H.W. Bush (1989 – 1993) – Bill Clinton (1993 – 2001) – Ênfase à integração regional – SIVAM - apoio dos EUA – Lançamento do Plano Real – Ênfase no "eixo horizontal" da PEB: Brasil - América Latina – Protocolo de Ouro Preto (1994) - Personalidade Jurídica do Mercosul – ALCSA - Alternativa para a ALCA – Iniciativa Amazônica – I Cúpula das Américas (1994) - Miami: lançamento do projeto ALCA – Assinatura do Tratado de Tlatelolco (1994) Com o Governo Itamar (1992 – 1994) houve o aprofundamento da desdramatização da agenda, termo cunhado pelo professor Paulo Vizentini que corresponde a ideia de redução de conflitos. Neste caso, eventuais desencontros não poderiam contaminar a relação Brasil-Estados Unidos, ainda mais em um mundo no qual os norte-americanos haviam se estabelecido como potência hegemônica. Além disso, por causa do novo cenário globalizado, houve um foco na integração regional, tendência que se manteve nos governos posteriores de Fernando Henrique Cardoso. Neste período, o Brasil procurou enfatizar o eixo horizontal das relações internacionais, focando principalmente na América Latina e no Cone Sul.É desta época, por exemplo, o Tratado de Ouro Preto (1994) que Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 reconheceu personalidade jurídica ao Mercosul – bloco que havia sido previamente criado pelo Tratado de Assunção (1991). Foi nesse contexto de integração que foi realizada a I Cúpula das Américas (1994), ocasião no qual a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi lançada. No entanto, como a ALCA encontrou forte oposição dos países sul-americanos, o Brasil procurou estabelecer alternativas, das quais se destaca a Área de Livre-Comércio Sul-americana (ALCSA). Com o objetivo de aprofundar a cooperação entre os países amazônicos, o governo brasileiro também lançou a Iniciativa Amazônica (1992). Do ponto de vista interno, o Brasil lançou o Plano Real (1994), um plano de estabilização econômica que foi bem visto nos Estados Unidos. Outro fato deste período é o início do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), um projeto de monitoramento da floresta amazônica feito em parceria Brasil-Estados Unidos. Governos FHC (1994 – 2002) e Bill Clinton (1993 – 2001) – Marcado por boas relações com EUA – 4 tabuleiros de negociação – Mercosul, ALCA, OMC, EU – II Cúpula das Américas (1998, Santiago) – 1999: lançamento do Plano Colômbia – Carta Democrática Interamericana - 11 de setembro de 2001 – Adesão ao TNP, em 1998 – 11/09: solidariedade aos EUA: Celso Lafer convoca o TIAR – O presidente critica duramente o Plano Colômbia (2000) Com o final do governo Fernando Henrique Cardoso (1994 – 2002) ocorreu o final do ajustamento e o início do momento de afirmação nas relações bilaterais Brasil-Estados Unidos – no contexto interno, o fim do Estado Neoliberal e o início do Estado Logístico. Embora tenha se aprofundado com o governo Lula, o segundo mandato de FHC já é considerado um ensaio geral desse novo paradigma de afirmação. Do ponto de vista das relações bilaterais com Washington, destaca-se a busca por boas relações entre Brasil-Estados Unidos, aprofundando a já mencionada desdramatização da agenda. Também houve a busca por negociações nos quatro tabuleiros comerciais: Mercosul, ALCA, OMC e o tabuleiro birregional Mercosul-União Europeia. Deste modo, embora tivessem conquistado sua hegemonia global, os Estados Unidos eram somente mais um entre os muitos parceiros do Brasil. Em 1998, em Santiago, Chile, oocorreu a II Cúpula das Américas (a primeira, em 1994, havia lançado a fracassada ALCA). Nesta segunda cúpula, foi lançado o Plano Colômbia (1998) que tinha como finalidade combater o narcotráfico nos países andinos, principalmente Colômbia, mas também Bolívia e Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 Peru. No entanto, o governo de FHC foi muito crítico à presença de forças militares norte-americanas em território sul-americano, gerando um delicado contencioso com os Estados Unidos. Por outro lado, no mesmo ano, ainda em 1998, o Brasil agradou aos Estados Unidos aderindo ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (1968), consolidando definitivamente a renovação de credenciais e resolvendo um impasse de trinta anos que se arrastava desde o governo militar. Para Amado Cervo, o Brasil deveria ter negociado sua adesão ao TNP, tentando obter vantagens. Segundo o professor, a adesão brasileira foi uma concessão não negociada; em outras palavras, uma adesão somente para agradar, sem ganhar nada em troca. Uma falha, portanto. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, já no final do governo FHC, o Brasil não somente prestou solidariedade aos Estados Unidos, como também convocou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) e assinou a Carta Democrática Interamericana (2001). O TIAR estabelece que qualquer ataque a um determinado país significa um ataque a todos os países signatários, que neste caso, devem prestar “assistência recíproca”. Já a Carta Democrática Interamericana é um documento da OEA que basicamente reforça a necessidade de manter a democracia na América. Ambos os instrumentos foram utilizados para reforçar a posição solidária do Brasil à tragédia em Nova York. Paradigma universalista – Afirmação (2003 – dias atuais) Apesar das boas relações Brasil-Estados Unidos, a eleição de Lula foi de grande apreensão para os norte-americanos. Havia um temor de que com a vitória de Lula, o futuro presidente adotasse medidas simpáticas ao comunismo, pautas que ele havia defendido durante toda a sua trajetória política. Para amenizar esses receios, o então candidato escreveu a Carta aos Brasileiros, um documento que declarava a sua intenção de manter as políticas econômicas de FHC, como preservar os princípios macroeconômicos, honrar a dívida externa e deixar o capital privado agir no país; assegurando aos investidores que seu governo seria seguro. Com a eleição de Lula, no entanto, houve uma pequena fuga de capitais e um pequeno descontrole da inflação, políticas que rapidamente foram corrigidas por Antônio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central) por meio da elevação de juros. Apesar dos temores, o governo Lula foi marcado pela aplicação de medidas econômicas ortodoxas – em contraste ao seu passado político – ao crescimento econômico expressivo e à adoção de políticas sociais. Foi entre o final do Governo FHC e o início do Governo Lula (2003 – 2010) que, segundo Mônica Hirst, a fase de ajustamento (1989 – 2002) deu lugar à fase de afirmação (2003 –) nas relações bilaterais Brasil-Estados Unidos. Primeiramente, com a eleição de Lula, houve um esforço da diplomacia brasileira para convencer os Estados Unidos de que o presidente eleito não representava perigo. Muito pelo contrário, de que o Brasil seria um país simpático aos investimentos estrangeiros. Uma vez estabelecida a confiança, o governo Lula deu maior simetria às relações Brasil-Estados Unidos, relações tradicionalmente assimétricas por toda a República. Por essa nova perspectiva, o Brasil passou a se afirmar perante os norte-americanos como um país de interesses próprios, que não ia simplesmente se subordinar a Washington. Enquanto o Brasil tinha um governo de “esquerda”, os Estados Unidos tinham o governo de “direita” de George W. Bush (2001 – 2009); um presidente que teve que lidar com a Guerra ao Terror e a reconstrução dos valores americanos. Apesar disso, Brasil e Estados Unidos construíram uma relação Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 muito positiva com grande convergência entre Lula e Bush. Lula, inclusive, chegou a visitar os Estados Unidos em viagem oficial. Governos Luis Ignácio Lula da Silva (2003 – 2010) & George W. Bush (2001 – 2009) – Barack Obama (2009 - 2017) – Presidente eleito visita os EUA – ALCA heavy versus ALCA light – Brasil: acesso a mercados (EUA) (light) – EUA: investimentos / compras governamentais / serviços (heavy) – 2004: Reunião Extraordinária das Cúpulas das Américas (Monterrey) – 2005: IV Cúpula das Américas (Mar del Plata) – "ALCA Al carajo" (Chavez) – Copenhage (2009): Basic + – Segurança internacional: terrorismo – Diálogo estratégico – Condoleeza Rice Apesar de ter sido proposta em 1994, a ALCA ainda era muito discutida no início do século XXI. Conhecida como “ALCA Heavy”, a proposta original consistia na abertura econômica total das Américas, ideia que foi imediatamente rechaçada pelos países sul-americanos, incluindo o Brasil. Em segundo momento, surgiu uma proposta mais branda, batizada de “ALCA Light”. Por esse novo acordo, haveria uma abertura gradual, menos agressiva; e, além disso, países subdesenvolvidos teriam certas vantagens. No entanto, nenhumadas duas propostas foi aprovada. ALCA Heavy Abertura e integração comercial de toda a América, conforme inicialmente proposto. Alca Light Abertura gradual com reconhecimento de vantagens para os países em desenvolvimento. A Reunião Extraordinária da Cúpula das Américas (2004), realizada em Monterrey (México) ocorreu justamente para ajustar os impasses da ALCA e uma série de outros temas relacionados. No entanto, na IV Cúpula das Américas (Mar del Plata, Argentina, 2005), o projeto da ALCA foi enterrado de vez. Na ocasião, o presidente venezuelano Hugo Chavez proferiu a expressão “ALCA al carajo”, demonstrando claramente que não haveria concessão. Os demais presidentes latino-americanos endossaram o coro de Chavez, incluindo Nestor Kirchner (Argentina) e o próprio Lula (Brasil) e assim, o projeto da ALCA chegou definitivamente ao fim. No âmbito multilateral, destaca-se a formação do BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China), um grupo criado na COP-15 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas feita em 2009, Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 em Copenhague, Dinamarca. A ideia do grupo é atuar de forma combinada nas conferências climáticas da ONU, reconhecendo que países desenvolvidos e subdesenvolvidos possuiriam diferentes status. De certo modo, a criação do BASIC se opunha aos Estados Unidos e às demais potências, colocando o Brasil em posição delicada na geopolítica internacional. Apesar da boa relação Bush-Lula, houve atritos entre os dois países. Além da formação do BASIC, o Brasil criticava a Doutrina Bush, criticava a posição unilateral dos Estados Unidos na Guerra do Iraque; criticava inclusive, a atuação dos militares norte-americanos neste conflito. No entanto, estas divergências não prejudicavam a relação bilateral Brasil-Estados Unidos. Inclusive, a própria Secretária de Estado Condoleeza Rice enxergava o Brasil como um interlocutor necessário, cujo relacionamento deveria ser pautado pelo “diálogo estratégico”. O Brasil, não obstante as diferenças com os norte- americanos, tinha um status de país estratégico nesta relação: a importância do Brasil era tamanha que o próprio presidente Bush visitou o território brasileiro em 2007. Governos Luis Ignácio Lula da Silva (2003 – 2010) e Barack Obama (2009 - 2017) – Crise financeira: G20, G8 +5 – Exercícios militares: Brasil, Argentina e EUA – Reforma da ONU – Reativação do 4a Frota do US NAVY – Eleição de Barack Obama – Bases militares na Colômbia – receio do Brasil – O governo Obama percebe o Brasil como líder da América do Sul – Possibilidade compras brasileiras de caças americanos No final do governo FHC, motivado pela crise na Ásia, foi estabelecido o G-20, grupo dos 19 países mais ricos mais a União Europeia. Ainda no final dos anos 1990, também foi criado o G-7, grupo dos sete países mais ricos que passou a englobar a Rússia (G-7 + Rússia), país expulso em 2014 por conta da crise na Crimeia. Em resposta a estes agrupamentos, Brasil, Índia, África do Sul e China formaram o G-5, grupo composto apenas por países emergentes. Por meio do G-5 e de outros grupos – tais como IBAS, BASIC e BRICS –, o Brasil adotou a estratégia de priorização das relações sul-sul. Vale ressaltar, porém, que enquanto o G-7 tem viés mais econômico, o G-20 possui caráter mais técnico. Afinal, uma das propostas do G-20 é justamente promover o intercâmbio técnico entre países Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 desenvolvidos para os países subdesenvolvidos. Não por acaso, quem costuma representar os países nas reuniões do grupo eram ministros do planejamento, desenvolvimento e relações exteriores. Na final da década de 2000, os países desenvolvidos enfrentaram grande dificuldade econômica com a Crise do Subprime (2008). Os países emergentes, no entanto, estavam em crescimento. Enquanto Estados Unidos e União Europeia enfrentavam os problemas da crise, países como Brasil e China viviam amplo crescimento, uma situação parecida com o que ocorrera nos anos 1970. Naquela época, apesar dos Estados Unidos estarem passando por certo esgotamento, o Brasil estava vivendo sob o milagre econômico, duas situações distintas, portanto. Diante deste cenário de crescimento dos emergentes, cogitava-se expandir o G-7 e intensificar os diálogos no G-20. Por causa da crise de 2008, mudou-se o tom das reuniões do G-20. As reuniões, que outrora englobavam ministros, passaram a contar com presidentes e primeiros-ministros, aumentando o caráter político do grupo. Se antes, os países emergentes aceitavam de forma passiva as vontades dos desenvolvidos, passaram a ter uma postura de real negociação. Neste momento, paíes como Brasil, China e Índia tinham ganhado uma importância global maior até do que muitas nações do G-7. Isso evidencia a elevação de patamar do país marcada pela afirmação do Brasil perante aos Estados Unidos e aos demais países do eixo vertical. Foi nesse momento de prestígio que o Brasil defendeu a reforma da ONU, assunto que veremos em outras aulas. Nos Estados Unidos, há a eleição de Barack Obama (2009 – 2016), presidente que adotou boa perspectiva dos países emergentes. Desde o início, o governo de Obama apontou o Brasil como líder da América do Sul, aprofundando as relações estratégicas que já vinham desde a gestão Bush. Estas boas relações se estenderam para o campo militar, acarretando em medidas como: a realização de exercícios militares conjuntos entre Brasil, Argentina e Estados Unidos; a reativação da Quarta Frota do US Navy responsável pelo Atlântico Sul, que fora desativada desde 1950 e reativada em 2008; o estabelecimento de bases militares na Colômbia, para fim de combate ao narcotráfico; e, a possibilidade de compra de caças norte-americanos pelo governo brasileiro – apesar de no final, o Brasil ter acabado comprando caças suecos. Muito embora a reativação da Quarta Frota e a instalação de bases na Colômbia tenha causado receios no Brasil, neste período, as relações bilaterais Brasil-Estados Unidos estavam passando por um ótimo momento. De forma breve, veremos rapidamente quais foram as principais divergências e convergências nas relações Brasil-Estados Unidos desta fase de afirmação que iniciou no início do século XXI. Não aprofundaremos nos temas, mas fiquem tranquilos, pois eles serão tratados em outros momentos do curso. Afirmação (2003 – ) Principais divergências – Rodada Doha – Retaliação por parte do Brasil na OMC no que se refere ao subsídio de algodão – Brasil critica a não-ratificação do Protocolo de Kyoto – Defende o desarmamento e não-proliferação – Enfatiza ações multilaterais contra o narcotráfico Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 – Guerra do Iraque A Rodada Doha, que inicialmente havia prometido trazer grandes avanços ao comércio internacional, acabou tendo poucos progressos. Um dos motivos foi a divergência entre países emergentes e desenvolvidos sob a questão de protecionismos agrícolas e industriais. Ainda dentro da polêmica dos subsídios, houve retaliação por parte do Brasil na OMC por conta dos subsídios que os Estados Unidos fornecem aos produtores de algodão no país. Outro ponto de divergência foi a Guerra do Iraque. O Brasil criticou a ação unilateral dos Estados Unidos, que iniciou o conflito sem o aval da ONU. Também condenou a ação dos militares no país invadido. Ainda no âmbito da segurança, o Brasil criticou a demora das grandes potências em promover o desarmamento nuclear. Além disso, no que diz respeito ao narcotráfico, propôs uma solução multilateral ao invés da bilateralidadeColômbia-Estados Unidos. O Brasil também criticou a não-adesão dos Estados Unidos ao Protocolo de Kyoto – acordo que visa diminuir as emissões de gases do efeito estufa. Conforme já mencionamos, apesar das divergências, a relação Brasil-Estados Unidos foi muito positiva neste período. Seguem alguns fatos e convergências: Ajustamento (1989 – 2002) – Principais convergências – Aumento do comércio bilateral até a crise de 2009 – Os EUA continuam a ser o país com maior volume de investimento externo direto no Brasil, com estoque no valor de U$$ 116 bilhões até 2013 – Estoque de investimentos diretos brasileiros nos EUA cresceu de U$$ 7,3 bilhões em 2009 para U$$ 22,4 bilhões em 2014 – Os fluxos têm se tornado mais equitativos (em 2000, 1/47; em 2014, 1/3) – EUA: 2º parceiro comercial brasileiro – Entre 2010 e 2014, o intercâmbio comercial cresceu 33,8% (de U$$ 46,4 bi para U$$ 62 bi) – Exportações cresceram 40% e as importações, 29,4% – Saldo da balança comercial favorável aos EUA em todo o período (déficit brasileiro de 8 bilhões em 2014; 2,4 em 2015) – 2015: queda de 10,9% nas exportações e de 24,4% nas importações (62 > 50,5 bi) Neste momento, conforme havia sinalizado Condoleeza Rice, a relação Brasil-Estados Unidos estava amadurecendo cada vez mais; a exemplo da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH), coordenada pelo governo brasileiro e com tropas de ambos os países. Do ponto de vista econômico, havia um intercâmbio no âmbito dos combustíveis: enquanto o Brasil produz combustível com base na cana-de-açúcar, os Estados Unidos o fazem por meio do milho e outras fontes. Além disso, foi estabelecido o CEO/Forum, um fórum de cooperação de CEOs de empresas brasileiras e norte-americanas. Até a crise de 2008, os norte-americanos foram os maiores parceiros comerciais do Brasil. A partir de 2009, por conta dos efeitos da crise imobiliária, a China ultrapassou os Estados Unidos como principal parceiro do Brasil. No entanto, enquanto para os chineses exportamos basicamente Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 commodities; para os norte-americanos, também exportamos produtos industrializados. Embora o fluxo comercial tenha aumentado, existem diferenças qualitativas importantes que ainda mantém os Estados Unidos em posição estratégica para o Brasil. Não por acaso, os Estados Unidos continuam a ser o país com maior volume de investimento externo direto no Brasil, com estoque no valor de U$$ 116 bilhões até 2013. Principais parceiros comerciais do Brasil - 2018 1º - China 2º - EUA 3º - Argentina 4º - Alemanha 5º - Holanda O Brasil exporta commodities, especialmente soja e minério de ferro O Brasil exporta commodities, mas também exporta produtos industriais. O Brasil exporta automóveis e peças derivadas da indústria automotiva. O Brasil exporta commodities e produtos de baixo valor agregado. Holanda é o quinto maior por causa do Porto de Roterdã, a principal entrada de produtos brasileiros na UE. O Brasil importa produtos industriais chineses. O Brasil importa tecnologia e produtos industriais. O Brasil também importa automóveis e peças, além de trigo. O Brasil importa tecnologia e produtos de alto valor agregado. O Brasil importa muito pouco da Holanda. Levando em consideração o quadro acima, embora a China tenha tomado o primeiro lugar, as relações comerciais Brasil-Estados Unidos continuaram crescendo. O estoque de investimentos diretos brasileiros nos EUA cresceu de U$$ 7,3 bilhões em 2009 para U$$ 22,4 bilhões em 2014. Entre 2010 e 2014, o intercâmbio comercial cresceu 33,8% (de U$$ 46,4 bi para U$$ 62 bi). Do mesmo modo, o fluxo comercial tem se tornado mais equitativo: em comparação importação-exportação, em 2000, a relação era de 1 para 47; em 2014, era de 1 para 3. Nesse caso, as exportações cresceram 40% e as importações, 29,4%. Porém, o saldo da balança comercial foi favorável aos EUA em todo o período, não obstante a diminuição do déficit brasileiro de 8 bilhões de 2014 para 2,4 bilhões em 2015. Com a crise interna de 2015 no Brasil, houve uma queda de 10,9% nas exportações e de 24,4% nas importações; de 62 bilhões para 50,5 bilhões. Resumindo os dados, o comércio Brasil-Estados Unidos cresceu durante todo o século XXI, porém, a crise brasileira de 2015 provocou a diminuição dos fluxos. Neste momento de sinergia, o Brasil estava quase ganhando o status de parceiro estratégico dos Estados Unidos, a mesma posição que países como China e Índia têm. Inclusive, Barack Obama, em visita ao Brasil, em 2011, fez um discurso otimista no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Obama disse que o Brasil deveria ser um país respeitado e que via com bons olhos a sua inclusão no Conselho de Segurança da ONU, deixando caminho livre para o estabelecimento de uma parceria estratégica. Para formalizar esta nova fase, a presidente Dilma Rousseff visitaria os Estados Unidos em 2011. Porém, esta negociação foi interrompida pelas acusações de f de que Agência de Segurança Nacional (NSA) estaria espionando Dilma Rousseff. Reforçando novamente a postura de afirmação que o Brasil tinha com os Alexandre Vastella Aula 07 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 Estados Unidos, Dilma demonstrou de forma enfática o seu descontentamento e cancelou a visita ao país, de modo que essa oportunidade acabou sendo perdida. Durante o Governo Dilma, o Brasil estava quase formando uma parceira estratégica com os Estados Unidos, mas as revelações de espionagem de Snowden fizeram o Brasil abortar o processo. Além disso, por conta da crise doméstica de 2015, as relações diminuíram de intensidade. Nos últimos anos, mais especificamente a partir de 2015, houve a eclosão de crises econômicas e políticas em âmbito doméstico. E por isso, ocorreu o esfriamento das relações bilaterais Brasil-Estados Unidos; não por conta de problemas externos, mas sim, porque o Brasil passou a priorizar questões internas. Foi, e ainda está sendo, um período bastante conturbado; marcado, entre outros pontos, pelo impeachment de Dilma Rousseff, pelo governo impopular de Michel Temer, pelos sucessivos escândalos de corrupção e pelo fracasso em retomar o crescimento do país. É por isso que após os escândalos de Edward Snowden, as relações bilaterais Brasil-Estados Unidos ainda não voltaram ao patamar de parceria estratégica da época de Lula-Obama. Os Estados Unidos, por ora, enxergam o Brasil como um país demasiado preocupado em resolver problemas e por conta disso, menos atuante no cenário internacional. Embora o presidente Donald Trump (2016 – ) não veja a América Latina como prioridade, ele mantém bom diálogo com os países da região. Inclusive, vice-presidente Mike Pence visitou vários países, incluindo o Brasil. Originalmente, o Brasil não estava em seu roteiro; afinal, os Estados Unidos consideravam que o país estava ocupado demais com questões internas e por isso, não focaria em questões bilaterais. No entanto, a visita de Pence ao Brasil foi motivada pela crise na Venezuela, um assunto bastante delicado. Na ocasião, o vice-presidente propôs que os países sul-americanos impusessem sanções à Venezuela. O governo brasileiro ainda não decidiu sobre o assunto. Além da questão venezuela, outras propostas norte-americanas para a América Latina incluem a formação de um cinturão de defesa comercial para conter o avanço chinês no continente – pauta muito deliciada na Guerra Comercial que China e Estados Unidos vivem. No entanto, vários países da região, entre eles o Brasil, se beneficiam de forma muito nítida com o capital chinês exportando commodities e importando produtos industrializados. Por conta dessa dependência, ainda não está claro
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