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Apostila Penal Desistência Voluntária, Arrependimento Eficaz e Arrependimento posterior

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Desistência voluntária e arrependimento eficaz
1ºAspectos Gerais
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de
prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados. 
O art. 15 trata da chamada tentativa qualificada (ou
abandonada), possuindo duas espécies: desistência voluntária (1ª
parte) e arrependimento eficaz ou resipiscência (2ª parte).
Trata-se do que FRANZ VON LISZT chama de "ponte de
ouro". O agente está diante de um fato cujo resultado material é
perfeitamente alcançável, mas, até que ocorra a consumação, abre-
se a possibilidade (ponte de ouro) para que o agente retorne à
situação de licitude, seja desistindo de prosseguir na execução,
seja atuando positivamente no intuito de impedir a ocorrência do
resultado.
A tentativa qualificada é causa de exclusão da tipicidade ou
punibilidade?
1ª Corrente: trata-se de causa de exclusão da tipicidade. O
abandono exclui a norma de extensão (Miguel Reale Júnior).
2ª Corrente: trata-se de causa de exclusão da punibilidade.
Apesar de ter havido uma tentativa pretérita, o abandono dispensa
a punição da tentativa, por razões de política criminal (Zaffaroni).
É a corrente que prevalece.
2º Desistência voluntária
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Na desistência voluntária, o agente, voluntariamente, abandona
seu intento durante a realização dos atos executórios. Aqui, do
ponto de vista objetivo, ainda havia para o agente alguma margem
para prosseguir na ação.
a) Elementos
1º O início da execução.
2º Não consumação por circunstância inerentes à vontade do
agente. Aqui, a desistência voluntária diferencia-se da tentativa
simples (Art. 14, II, CP), porque nessa, a consumação não ocorre
por circunstância alheias à vontade do agente.
3º O agente pode prosseguir, mas não quer. Na tentativa simples, o
agente que prosseguir, mas não pode.
A desistência deve ser voluntária, não espontânea. Voluntária é a
desistência sugerida e assimilada, subjetiva e prontamente, pelo
agente. Assim, a desistência voluntária admite influência
externa. A desistência espontânea, ao contrário, não admite
interferência externa.
b) Consequências (para ambos os institutos)
O agente não responde pela tentativa, mas pelos atos já
praticados (Ex: o agente, querendo matar, lesiona um terceiro
com a faca. Contudo, desiste de prossegui. Em vez de responder
por tentativa de homicídio, vai responder pela lesão corporal).
.
3º Arrependimento eficaz
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No arrependimento eficaz, após serem esgotados todos os atos de
execução, o agente se arrepende, passando, nesse momento, a
buscar o impedimento do evento (Ex: depois de atirar contra a
vítima, o agente se arrepende e a salva).
O arrependimento deve ser eficaz, é dizer, o resultado deve ser
evitado. Se o arrependimento for ineficaz, haverá circunstância
atenuante da pena.
Os crimes formais e de mera conduta admitem
arrependimento eficaz?
Não, porque se consumam no momento da conduta. O
arrependimento eficaz só é possível nos crimes materiais.
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Arrependimento Posterior 
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços. 
1º Introdução
O arrependimento posterior é chamado "ponte de prata" por
Franz Von Liszt, porque, ao contrário da desistência voluntária e
de arrependimento eficaz, o agente não retoma à situação de
licitude e, portanto, não é beneficiado pela extinção da
punibilidade, mas tão somente pela redução da pena em virtude
de sua iniciativa de reparar o dano causado por sua conduta
2º Elementos ou requisitos
a) crimes praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa.
A doutrina admite o benefício do arrependimento posterior nos
crimes violentos culposos.
A violência não pode ser praticada contra a pessoa. Assim, os
crimes violentos contra a coisa permitem o benefício.
É possível o arrependimento posterior no crime de roubo?
Boa parte da doutrina (Ex: Flávio Monteiro de Barros e Rogério
Sanches) entende que sim, desde que ele tenha sido praticado com
violência imprópria (aquele praticado por qualquer outro meio,
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sem violência ou grave ameaça, como, por exemplo, boa noite
Cinderela ou hipnose).
Para Flávio Monteiro de Barros: “no tocante à chamada violência
imprópria, através da qual o agente reduz a vítima à
impossibilidade de resistência, sem contudo empregar força física
ou grave ameaça, entendemos que não deve ser excluída do raio
de incidência do art. 16 do CP. O dispositivo em análise fala em
“violência ou grave ameaça”. Se quisesse excluir a violência
imprópria, a expressão usada seria “violência, grave ameaça ou
redução, por qualquer meio, da capacidade de resistência da
vítima”. Uma ligeira interpretação lógico-sistemática dos arts.
146 e 157 do CP não permite outra conclusão. Sobremais, como
diz um velho princípio hermenêutica, 'onde a lei não distingue, ao
intérprete não é lícito distinguir'. Se, por exemplo, o agente
narcotiza a bebida da vítima, oferecendo-lhe uma fruta
'contaminada, pondo-a para dormir, aproveitando-se para, logo em
seguida, subtrair-lhe a carteira, haverá delito de roubo, diante do
emprego da violência imprópria. Nesse caso, porém, o agente,
vindo a reparar o dano, pode beneficiar-se do art. 16 do Código
Penal. Já num roubo com violência física ou grave ameaça torna-
se inadmissível a aplicação deste artigo”.
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O tema, contudo, não é pacífico. Alguns doutrinadores afirmam
que a violência imprópria não deixa de ser uma violência contra a
pessoa.
Se a vítima não aceita a reparação do dano, impede-se o
arrependimento posterior?
Segundo a doutrina (Rogério Sanches), como o artigo 16 do
Código Penal não elencou como requisito para o reconhecimento
do arrependimento posterior a aceitação da vítima, entende-se que
basta a voluntariedade do autor na reparação para ser reconhecido
o benefício. Caso a vítima não aceite a reparação, o infrator deverá
restituir o bem à autoridade policial ou, em último caso, depositá-
lo em juízo. 
b) Reparação do dano ou restituição da coisa
A reparação do dando ou a restituição da coisa deve ser voluntária
(ainda que não espontânea) e integral.
Se a vítima concorda com a reparação parcial, é dizer, se dar por
satisfeita com isso, abrindo mão do restante, a jurisprudência
admite a aplicação do benefício.
Por fim, o STJ tem entendido que, para seja possível aplicar a
causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do CP é
indispensável que o crime praticado seja patrimonial ou
possua efeitos patrimoniais (REsp 1.561.276/BA).
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Não se aplica o arrependimento posterior em homicídio
culposo na direção de veículo: Não se aplica o instituto do
arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o homicídio culposo
na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que
tenha sido realizada composição civil entre o autor do crime a
família da vítima.
O arrependimento posterior exige a reparação do dano e isso é
impossível no caso do homicídio (REsp 1.561.276/BA).
c) Até o recebimento da denúncia ou queixa
Se a reparação ocorrer após o recebimento da inicial, é causa de
circunstância atenuante da pena, não de arrependimento.
O arrependimento posterior se comunica entre os coautores do
delito?
Para a doutrina majoritária, a reparaçãointegral feita por um dos
acusados aproveita a todos os demais concorrentes do crime,
tratando-se de circunstância de caráter objetivo (portanto,
comunicável). Nesse sentido, também entende o STJ (REsp
1.187.976-SP).
Qual o crime praticado sem violência ou grave ameaça, mas
que não se aplica o art. 16, mesmo que o agente repare o dano
antes do recebimento da denúncia?
Estelionato, na modalidade cheque sem fundos, porque há uma
súmula mais benéfica ao réu, que manda o juiz extinguir a pena.
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STF – Súmula 554: O pagamento de cheque emitido sem
provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao
prosseguimento da ação penal. 
Interpretando essa súmula de modo contrário, é certo que o
pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia é causa
de extinção da punibilidade.
Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada
para aprofundamento do tema:
– Código Penal para Concursos – Rogério Sanches Cunha.
- Manual de Direito Penal – Parte Geral - Rogério Sanches
Cunha
– Dizer o Direito (http://www.dizerodireito.com.br)
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	Se a vítima não aceita a reparação do dano, impede-se o arrependimento posterior?

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